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1 IESI - CURSOS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PÓS-GRADUAÇÃO METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA Site da imagem: edufescolar4.blogspot.com O LÚDICO NA EDUCAÇÃO FÍSICA UNAÍ-MG 2013 2 SUMÁRIO - PLANO DE ENSINO .............................................................. 3 I - O LÚDICO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR .................................. 5 - A dimensão do lúdico da educação Física Escolar .............................. 5 - O papel do lúdico no desenvolvimento psicomotor .............................. 9 - A educação Física Escolar e o lúdico na formação humana ............... 18 - A utilização de atividades lúdicas na educação física escolar e a formação da criança ............................................................................. 21 II – A PRÁTICA DO LÚDICO .................................................................... 25 - Lazer e Educação Física ..................................................................... 25 - Fazer conhecer, interpretar e apreciar: a dança no contexto da escola ................................................................................................... 32 - Aprender e ensinar educação física no ensino fundamental .............. 38 - Planejando as aulas de Educação Física ............................................ 45 III - ORIENTAÇÕES PARA O TRABALHO COM TEXTO ........................ 48 IV – TRABALHO DE FINAL DE MÓDULO ............................................... 49 3 PLANO DE ENSINO I- DADOS DE IDENTIFICAÇÃO INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL Instituto de Ensino Superior Intellectus CURSO Pós-graduação “Lato Sensu” – Especialização Metodologia do Ensino da Educação Física DISCIPLINA O Lúdico na Educação Física ANO LETIVO 2012 CARGA HORÁRIA 60h II- EMENTA A presente disciplina oferece ao especialista em Metodologia do Ensino da Educação Física um estudo aprofundado sobre a dimensão do lúdico na prática da educação física escolar focando os cinco pontos indicados por Macedo (1995), os PCN e outras estratégias necessárias ao bom desempenho do trabalho docente. III- OBJETIVOS 1- Objetivo Geral A partir do estudo do conteúdo promover a reflexão crítica sobre o papel do professor da Educação Física, quanto à utilização dos recursos lúdicos em suas aulas, bem como a identificação e a busca de solução para problemas relativos à sua atuação docente. IV- CONTEÚDO PROGRAMÁTICO I - O LÚDICO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR - A dimensão do lúdico da educação física escolar - O papel do lúdico no desenvolvimento psicomotor - A educação física escolar e o lúdico na formação humana - A utilização de atividades lúdicas na educação física escolar e a formação da criança II- A PRÁTICA DO LÚDICO - Lazer e educação física - Fazer conhecer, interpretar e apreciar: a dança no contexto da escolar - Aprender e ensinar educação física no ensino fundamental - Planejando as aulas de educação física II- ORIENTAÇÕES PARA O TRABALHO COM TEXTOS III- TRABALHO DE FINAL DE MÓDULO V- METODOLOGIA O processo de desenvolvimento da disciplina (preferencialmente) se dará por meio de aulas expositivas e dialogadas, pesquisas, leituras e debates em grupo, análise e discussão de textos, participação e apresentação de trabalhos individual e em grupo, produção de trabalhos em classe e extraclasse, visando uma maior apreensão do conteúdo trabalhado. 4 VI- AVALIAÇÃO 1- Avaliação O processo de avaliação deste módulo será desenvolvido através da prática dos exercícios indicados no final de cada unidade de estudo, bem como das atividades referentes ao “Final de Módulo” que encontram na última página deste. 2- Valoração As atividades/trabalho de “Final de Módulo” terão a notação de 0 a 10, sendo essa pontuação distribuída conforme as observações contidas no referido trabalho (que se encontra no final da apostila). VIII- BIBLIOGRAFIA 1- Bibliografia Básica BRASIL. Ministério de educação e cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares de educação física: ensino fundamental: 1ª à 4ª série. Brasília: MEC/SED, 1997. CATUNDA, Ricardo. Brincar, criar e vivenciar na escola. Rio de Janeiro: Sprint, 2005. CLARO, Edson. Método dança-educação física: uma reflexão sobre consciência corporal e profissional. São Paulo: Robe, 1995. FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. FRIEDMANN, A. A importância do brincar. Jornal diário na escola. Santo André/SP, 2003. GONÇALVES, Maria Cristina; PINTO, Roberto C. A.; TEUBER, Sílvia P. Aprendendo a educação física: da técnica aplicada ao movimento. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 1996. KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. LABAN, Rudolf von. Dança educativa moderna. São Paulo: Ícone, 1990. LANGER, Susanne K. Sentimento e forma. São Paulo: Perspectiva, 1980. LOMAKINE, Luciana. A construção cultural do corpo pela dança nos principais períodos de sua história. Revista de Educação Física da Cidade de São Paulo. São Paulo: Universidade Cidade de São Paulo, v. 3, n. 1, 2003. MACEDO, L. de (em co-autoria PETTY, A. L. S.; PASSOS, N. C.). Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005. MARINHO, H. R. B. et al. Pedagogia do movimento: o universo da ludicidade e psicomotricidade. 2. ed. Curitiba: Ibex, 2008. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. In: Dicionário interativo da Educação Brasileira - Educa Brasil. São Paulo: Midiamix, 2006. MURCIA, J. A. M. Aprendizagem através do jogo. In: GARÁFANO, V. V.; CAVEDA, J. L. C. (Org). O jogo no currículo da educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2005. Tradução: Valério Campos. (p. 59-88). 5 _______. Aprendizagem através do jogo. In: MURCIA, J. A. M.; GARCIA, P. L. R. (Org.). Do jogo ao esporte. Porto Alegre: Artmed, 2005. Tradução: Valério Campos. (p. 139-156). ________. Aprendizagem através do jogo. In: VALENZUELA, A. V. (Org.). O jogo no ensino fundamental. Porto Alegre: Artmed, 2005. Tradução: Valério Campos. (p. 89-108). NEGRINE, Airton. Ludicidade como Ciência. Santa Marli Pires dos Santos (Org.). Petrópolis: Vozes, 2001. ROBATTO, Lia. Dança em processo: a linguagem do indizível. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1994. SANTOS, S. M. P. A ludicidade como ciência. Petrópolis: Vozes, 2001. STOKOE, Patrícia. La danza atraves de Ias edades. Buenos Aires, 1980. VÁRIOS AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. VIANNA, Klauss; CARVALHO, Marco Antonio de. A dança. São Paulo: Siciliano, 2005. VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos pedagógicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Tradução: José Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. IX- ELABORAÇÃO Equipe Pedagógica do IESI Unaí/ MG/ agosto/ 2012 6 I- O LÚDICO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A DIMENSÃO DO LÚDICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Analisando a importância da prática da Educação Física nas atividades escolares tomamos como modelo os cinco indicadores apresentados por Lino de Macedo, para salientara dimensão lúdica presente nas principais atividades corporais oferecidas às crianças. Nossa hipótese, assim como a do autor, é a de que sabendo observar a presença – maior ou menor - do lúdico poderemos compreender resistências, desinteresses e toda a sorte de limitações que tornam, muitas vezes, as atividades de educação física sem sentido para as crianças. 1- Gerar Prazer Funcional O primeiro indicador citado por Lino de Macedo se refere ao prazer funcional, ou seja, as situações lúdicas oferecidas às crianças devem gerar prazer funcional, serem prazerosas em si mesmas, pois ninguém deve ser forçado a realizar algo que não queira. Na educação física este indicador se faz presente quando indagamos às crianças “vamos jogar?”. Nas turmas de alunos mais novos – educação infantil ou anos iniciais – com certa freqüência encontramos algumas crianças que em determinadas situações de jogos coletivos não se sentem à vontade para jogar. Apesar da peculiaridade de cada situação, podemos observar que ainda é bastante comum encontrarmos crianças pequenas num período egocêntrico, no qual o outro, no caso a regra que norteia e delimita a sua ação nos jogos coletivos, ainda não é relevante, ou seja, para essas crianças não há ainda muito sentido compartilhar suas ações com os demais. Nesse sentido, as situações planejadas para os jogos de educação física também buscaram oferecer momentos nos quais as regras tivessem uma menor ênfase e a fantasia, a exploração simbólica uma maior presença. Brincadeiras como acorda seu urso, na qual o professor vira um urso e corre atrás das crianças e estoura a boiada, na qual o pegador corre atrás dos colegas, que são bois, são alguns exemplos. Cabe ainda em relação a este indicador observar casos em que o desprazer é o elemento que caracteriza o jogo. Segundo Vygotsky, “há esforço e desprazer na busca do objeto de uma brincadeira”. Mas este desprazer só é suportável se existir uma função justificável, caso contrário, a criança não persiste. De acordo com Lino, isto nos ajuda a desfazer mal-entendidos de que lúdico significa necessariamente algo agradável, gostoso, na perspectiva daquele que realiza a atividade. Se fosse só assim, poderíamos, por exemplo, nos tornar “recreacionistas refém das crianças” ou condenados a praticar coisas engraçadas, mesmo que sem sentido. 2- Proporcionar Desafios / surpresas “A princípio qualquer atividade pode ser interessante. Isso depende do modo como é proposta. Depende do contexto, das pessoas, do seu sentido para nós”. Com isto 7 Lino nos remete a importância da qualidade das estratégias e dos dispositivos colocados em prática na educação física, a fim de facilitar e enriquecer, no aspecto motor, social, afetivo e cognitivo, a experiência lúdica de cada criança. As atividades de educação física inseridas através dos jogos olímpicos que a princípio poderiam proporcionar, se mal conduzidas, situações de competição, agressividade e frustração é um ótimo exemplo disto. Uma das formas possíveis de proporcionar desafio e surpresa e ao mesmo tempo promover a aprendizagem segundo Lino é oferecer às crianças situação-problema através dos jogos. Uma situação-problema quer dizer colocar um obstáculo ou enfrentar um obstáculo (como no contexto de jogos) cuja superação exige do sujeito alguma aprendizagem ou esforço. Algo só é obstáculo para alguém se implicar em alguma dificuldade, maior ou menor. Tais dificuldades pedem superação. Para isso algo é requerido: prestar mais atenção, repetir, considerar algo novo, encontrar alternativas. Para Lino, Lúdico neste sentido é equivalente à desafiador, que nos pega por sua surpresa, pelo gosto de repetir em outro contexto. Surpreendente quer dizer que não se controla todos os resultados. Surpreendente porque tem sentido de investigação, de curiosidade. De permissão para que a criança, no caso da educação física, realize suas ações, suas hipóteses no jogo. Neste sentido, as oficinas de percurso com bola e os jogos e brincadeiras com bolas proporcionaram muitos desafios e surpresas. Nas oficinas as crianças realizaram diversas investigações com os mais diferentes tipos de bola (borracha, peso, basquete, futsal, vôlei, handebol, tênis, jornal, plástico). Nos jogos e brincadeiras com bolas, muitas delas realizadas anteriormente sem este material, as crianças tiveram que se ajustar a esta nova condição, superar novos desafios, prestar mais atenção e, principalmente, encontrar alternativas. 3- Dispor ou criar possibilidades Para Macedo (1995), na perspectiva do sujeito as atividades devem ser necessárias e possíveis. Necessárias porque do ponto de vista afetivo não fazê-las produz algum desconforto, um sentimento de perda, porque não fazê-las acarreta um desejo ou demanda não satisfeito. Se pensarmos do ponto de vista motor, se uma atividade esportiva como basquete, vôlei ou handebol for necessário para um grupo de crianças ela tem que ser minimamente realizável. Obviamente o resultado das ações motoras não serão os mais satisfatórios frente a tarefa de jogar um esporte coletivo, mas se praticar esporte faz sentido para aquelas crianças, certamente devemos oferecer as melhores situações possíveis de aprendizagem. Neste ano nos deparamos com esta situação e procuramos através da realização de oficinas, pequenos jogos e observação dos esportes na escola, introduzir de forma lúdica e significativa o mundo dos esportes. 4- Ser simbólica A criança pequena, apesar de poucas vezes ser tratada desta forma, é um ser simbólico, ou seja, sua forma de se relacionar com o mundo é predominantemente pela via da imaginação, do sonho, da representação e do jogo simbólico. Portanto, a inclusão desta faixa etária ao ensino fundamental não pode se caracterizar pela 8 busca incessante da aquisição da linguagem escrita, dos conhecimentos científicos e de conteúdos lógicos matemáticos. Existe atualmente uma demanda enorme para que as crianças se alfabetizem cada vez mais cedo. E a brincadeira? E o faz de conta tão essencial na constituição da personalidade? Como ficam? Haverá também na educação física espaço para brincar ou logo introduziremos os movimentos necessários para a realização das atividades esportivas? A proposta realizada com circuito trouxe esta questão à tona diversas vezes, nos momentos em que as crianças assumiram papéis de bichos, guerreiros, heróis, tubarões; quando uma barra de equilíbrio se transformava numa ponte com jacarés embaixo ou ainda quando alguém entrava no cubo de madeira e ali permanecia fantasiando. 5- Ser Construtivo Por último, Lino aborda este indicador que tem como um dos aspectos o desafio de considerar algo, segundo diversos pontos de vista, dada sua natureza relacional e dialética. Ou seja, faz parte do lúdico um olhar atento, aberto, disponível para as muitas possibilidades de expressão de alguma coisa. O Lúdico combina com a idéia de errância, uma disponibilidade tão importante nos dias de hoje. A errância, segundo o autor, é uma forma curiosa, atenta, mas aberta, de explorar alguma coisa. Refere-se a uma dimensão construtiva porque implica uma relação múltipla, que ora considera um aspecto, ora considera outro. No entanto, esta errância não se faz de qualquer jeito, mas tem um objetivo, uma meta, que se cumpre, ainda que de forma errante. Sobre esta última ultima dimensão do lúdico, podemos observar que em situações de jogos e brincadeiras é comum as crianças realizarem diversos gestos, aparentemente desconexos, que aos poucos vão sendo percebidos e estruturados em seus corpos. Daí a importância de uma educação física voltada desde cedo para a construçãoda autonomia moral, social, afetiva e motora. A partir da observação dos indicadores lúdicos apresentados por Lino para as situações de ensino e aprendizagem, verifica-se o quanto o lúdico é uma característica marcante das atividades de educação física propostas para os primeiros anos escolares. O Prazer com o qual as crianças realizam as atividades, o quanto são desafiadas e surpreendidas nas suas conquistas motoras, o respeito ao espaço para a fantasia e o jogo simbólico tornam a educação física um momento intensamente aguardado. No entanto, a capacidade de interagir ludicamente, introduzindo elementos novos e variados nas atividades corporais, demanda um conhecimento específico da área, daí a importância de um especialista desde a educação infantil. (adapt. de Marcos Santos Mourão (Marcola) 9 REFERÊNCIA MACEDO, L. de (em co-autoria PETTY, A. L. S.; PASSOS, N. C.). Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005. ........................................................................................................................................ ATIVIDADES 1- Faça uma explanação resumida dos cinco indicadores apresentados por Lino de Macedo (2005) que salientam a dimensão lúdica e, de suma importância serem observados, na prática da educação física escolar. ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ 10 O PAPEL DO LUDICO NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR A atividade lúdica é tão antiga quanto os jogos, os brinquedos e as brincadeiras. Até mesmo nos tempos da Companhia de Jesus, de Inácio de Loyola, já se compreendia o jogo como exercício auxiliar de ensino, despertando o interesse para se aprender algo novo. Dessa forma, muitos profissionais devem aprender á diferenciar os tipos de jogos, não só como brincadeira, mas, como forma de aprendizado, dando o verdadeiro valor a esta importante ferramenta de ensino (KISHIMOTO, 2002). Lúdico, palavra do latim que significa brincar, e nela se incluem jogos, brinquedos e brincadeiras, bem como o comportamento de quem á pratica, transformando o indivíduo em um ser consciente. A atividade lúdica tem um papel fundamental na formação da criança, podendo ser utilizado como um rico recurso para as práticas pedagógicas (KISHIMOTO, 2002). A recreação também é uma atividade ligada a ludicidade. Ela proporciona ao individuo satisfação mesmo quando praticada ocasionalmente, atendendo as necessidades físicas, psíquicas e sociais do indivíduo. Alguns educadores são unânimes em afirmar que a educação encontra-se em crise, e também são unânimes em dizer que a ludicidade é uma estratégia viável para a educação. Muitos estudaram e constataram esta realidade, mas, poucos colocaram em prática, ou seja, é mais fácil induzir que a ludicidade é algo complexo (SANTOS, 2001). De acordo com Kishimoto (2002), a atividade lúdica atende ás necessidades do desenvolvimento, e não pode ser considerada como algo sem valor. Esta tem um papel importante á longo prazo na formação humana. Afirmar que a ludicidade é importante para a vida da criança é uma hipótese, colocá- la em prática é outra bem diferente. Somente aceitar a ludicidade nas aulas não quer dizer que se está tendo uma postura lúdico-pedagógica, muito pelo contrário, estão apenas provando o não conhecimento deste meio pedagógico. O lúdico nada mais é do que uma junção entre a teoria bem fundamentada e prática bem elaborada. Desta forma, entende-se que um bom professor é aquele que reflete sobre suas práticas pedagógicas, organizando suas abordagens metodológicas de acordo com as atividades lúdicas que são seu eixo na aprendizagem. Assim, o papel do professor é formar um aluno motivado e consciente que consegue entender a importância que este tipo de atividade trás para sua vida (MARINHO et al., 2007). Sendo que, o elemento ludicidade representa um eixo de grande importância no desenvolvimento da criança. A partir disso, esta começa a diferenciar o lúdico do não lúdico. E o professor de Educação Física neste momento tem papel principal no processo ensino aprendizagem do mesmo. 11 Onde a escola passa a ser uma disseminadora de conhecimentos e habilidades, e é nela que o aluno passa uma parte de seu tempo. Com isso, os alunos tendem a se soltarem mais nas aulas de Educação Física por ser um ambiente aberto e prazeroso. Não que as demais disciplinas não proporcionem prazer, entretanto, é durante estas aulas que as atividades lúdicas aparecem mais visivelmente, podendo ser utilizadas de inúmeras formas com a mesma finalidade desenvolver o indivíduo. 1- O brincar aliado à psicomotricidade O brinquedo, muitas vezes, é considerado apenas um objeto de satisfação para a criança, mas será que todo brinquedo é um objeto de satisfação? Vygotsky (1998) usa como exemplo uma criança pequena que usa uma chupeta. Ela não se sacia, mas se satisfaz através dela. Já uma criança em idade pré-escolar só se satisfaz com o que lhe interessa, e quando chega a outro estágio da idade já não se satisfaz com o brinquedo quando este lhe traz uma situação desfavorável. Assim, pode-se concluir, com esta observação de Vygotski, que o brinquedo não pode ser considerado um meio de satisfação e que nem toda satisfação está relacionada ao brinquedo, já que este pode ser utilizado de diversas formas em diferentes idades. Vários pesquisadores como Pellegrini, Smith e Ortega já constataram diretamente ou indiretamente a importância do brincar no desenvolvimento psicológico do aluno. Ao brincar, ele tema possibilidade de aprende tanto dentro quanto fora da escola. Mas este brincar não deve ser tratado como algo supérfluo, pois é através desta ação que o aluno pode desenvolver suas inúmeras habilidades bem como vivenciar novas possibilidades de conhecimento (KISHIMOTO, 2002). Uma mesma brincadeira pode tomar diferentes significados dependendo da idade do indivíduo que á pratica. Como este tipo de atividade é bem abrangente pode-se tomar significado tanto de cognitivas, sociais, motoras ou afetivas. Desta forma, pode-se entender o brincar com algo fundamental para o desenvolvimento de habilidades e destrezas dos alunos. De acordo com Fonseca (2008, p.392), Ao brincar, a criança envolve-se em uma atividade psicomotora extremamente complexa, não só enriquecendo a sua organização sensorial, como estruturando a sua organização perceptiva, cognitiva e neuronal, elaborando conjuntamente sua organização motora adaptativa. Desta forma, pode-se entender que os jogos e as brincadeiras contribuem de forma significativa para a vida da criança, fazendo com que ela se desenvolva de forma saudável e prazerosa. Através do jogo a criança se prepara para a vida, imitando a função social como processo de integração. O jogo toma um caráter livre, onde não há cobranças, obrigações, exigências, propósitos e fins. Apenas representa para criança um momento ao qual ela terá liberdade para criar sua realidade. Sendo assim, o jogo passa a ter uma enorme importância para o desenvolvimento de sua personalidade (FONSECA, 2008). 12 Aqui, entende-se que o brincar, mesmo que ilusório, ajuda a criança a compreender sua realidade, dando sentido ao que lhe cerca e sendo fonte de estímulo para a criação de seus pensamentos na idade infantil. Com o auxilio do brinquedo a criança passa a agir pelas fontes internas e não mais externas. Seus movimentos não se restringem apenas pelos objetos. Quando se tem um objeto como fonte principal, a criança fica atada á determinada situação. O brinquedo é, portanto, um importante instrumento de auxilio para a criança compreender o mundo e entender o ambiente e suas situações. De acordo com Vygotsky (1998, p.126), “no brinquedo, [...] os objetos perdem sua força determinadora”. A criança vê um determinado objeto, mas ao mesmo tempo não consegue relacioná-lo com a sua realidade. Sendo assim, a liberdade de ação não é adquirida no instante exato e sim ao longo de um processo de desenvolvimento. A conduta da criança é determinada pela ação. Ela se utiliza do brinquedo para conseguir entender e perceber o espaço e o ambiente em que está inserida. O ser humano tende por sua natureza a não analisar separadamente os objetos, isto é, analisa por um todo para isso fazer sentido em sua vida. A criança tem desejo pelo brinquedo e este tende a instigar a sua criatividade, proporcionando uma sensação de prazer, ou seja, o prazer pode ser definido pela satisfação que ela encontra no brinquedo. Portanto, pode-se dizer que o brinquedo é um ótimo estimulante para a criatividade do aluno, ajudando-o desde os desenvolvimentos mais básicos. O brinquedo pode ser utilizado de diferentes formas e significados, contribuindo diretamente para o desenvolvimento psicomotor da criança. A criança pensa somente em seu mundo e o jogo tem um significado muito sério para a mesma. Por isso, há necessidade de incentivar a imaginação das crianças através de jogos, tanto em casa quanto na escola. 2- O jogo e suas influências na Educação Física Escolar Com as várias mudanças que vêm ocorrendo durante as ultimas décadas, o processo educativo também passa por adequações em diferentes aspectos como: organização, espaço físico, currículo entre outros mais. A criança, antes considerada um adulto em forma de miniatura, passou a ser vista de outra forma e o processo educativo passou pelas mesmas transformações. Desta forma, a educação foi repensada e a organização dos currículos foi sendo feita de acordo com a necessidade das crianças (MARINHO et al., 2007). A atividade física já faz parte do ser humano, e este possui plena consciência dos benefícios que este tipo de atividade proporciona para o físico e o psíquico dos estudantes. Mas este tipo de atividade algumas vezes é distorcido no especializado setor educativo, o qual questiona os valores que esta tem para com a criança. O questionamento não se dá pelo lado positivo do esporte em si, mas, sim, pelos 13 valores antieducativos que o mesmo tem na formação da criança (MURCIA; GARCIA, 2005). Assim, o jogo passou a ser reconhecido como ferramenta didática, o qual ensina e, ao mesmo tempo, traz prazer, criatividade e inovação sobre as práticas pedagógicas aproximando a criança do brincar e aprender. O jogo desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da criança, pois é através dele que ela tem a possibilidade de vivenciar de forma divertida sua criatividade no imaginar (MARINHO et al., 2007). As aulas podem ser desenvolvidas sempre de forma prazerosa, instigante, desafiadora, propiciando que o processo de aprendizagem seja a cada dia mais interessante e que o aluno não se canse e/ou se desinteresse das aulas. Ao utilizar o jogo nas aulas de Educação Física, o professor deve ter claro quais os objetivos pretende atingir ao final de suas aulas. Freire (2002 apud MARINHO et al., 2007, p. 95) diz que “as relações entre jogo e educação, jogo e cultura, jogo e sociedade, jogo e processos de desenvolvimento da criança, jogo e vida são tecidas juntas”. Assim, entende-se que a ludicidade está fortemente presente na vida da criança, e é através dela que irá se desenvolver de forma ampla, em seu físico, psíquico, motor e social. Antes de o professor utilizar determinada ludicidade como ferramenta didática, este deve planejar e selecionar jogos que atendam os objetivos e conteúdos propostos para aquela determinada faixa etária. Aspectos como grau de dificuldade, interesse do aluno, caráter desafiador, número de participantes, espaço e material, sendo estes recursos indispensáveis para um bom decorrer de aula (MARINHO et al., 2007). No ensino fundamental os jogos esportivos estão focados no lado psicológico construtivista. Sendo baseados nos quatros princípios educativos que dão rumo ao modelo de ensino contemporâneo. De acordo com Gonzáles (1996 apud MURCIA; GARCIA, 2005, p. 145) os quatros princípios se baseiam em: “dosar de significado conteúdos e atividades, ensinar de forma que a aprendizagem faça sentido, ter significado para os praticantes e fomentar a comunicação e a interação em aula”. Penso que as atividades lúdicas revelam e apóiam o desenvolvimento do aluno. O professor precisa tomar conhecimento disso e não exercer uma pressão que ignore a fase do faz de conta, do brincar e dançar. Normalmente, são atribuídas responsabilidades muito precoces aos alunos e assumir as brincadeiras na escola é uma postura que pede muita reflexão aos educadores (FRIEDMANN, 2003). Desta forma, percebe-se que o jogo ajuda na evolução do aluno, desenvolvendo seu lado cognitivo, motor, físico, afetivo, além de facilitar a aquisição dos valores humanos em sua formação. É um excelente meio didático, sendo utilizado para se alcançar êxito no ambiente escolar. 14 Portanto, o conteúdo deve estar de acordo com o desenvolvimento e aprendizagem do aluno, formando uma seqüência lógica para que este possa aprender da melhor forma. O conteúdo deve estar estruturado de forma com que ele aprenda e coloque em pratica no seu dia a dia. Assumindo assim, a ideia de que este deve aprender do mais simples ao mais complexo, o que se pode verificar nas turmas de ensino fundamental onde iniciam emum ciclo e este segue aumentando gradativamente á sua complexidade perante os conteúdos (MURCIA; GARCIA, 2005). Desta forma, o jogo é um meio de ensino que engloba os três blocos curriculares: atitudinal, conceitual e procedimental. Sua atividade, de característica lúdica, possui um recurso metodológico pensado para obter informações, através das quais o aluno adquire atitudes, conceito e preceitos perante á sua vida. Desta forma o currículo se constitui em objetivos, conteúdos, métodos e critérios de avaliação (GARÓFANO; CAVEDA, 2005). Para que as atividades tenham sentido na vida do aluno, o professor deve conhecer o mesmo, juntamente com seus interesses e necessidades, para que a aula tome um caminho prazeroso. Somente assim, o aluno conseguirá relacionar o seu cotidiano com as atividades propostas em aula. Cada aluno é único e este aprende de acordo com suas necessidades. Desta forma, o papel do professor é proporcionar diferentes formas de jogo para que o aluno consiga solucionar as situações problemas do seu cotidiano. Utilizando sempre o diálogo como ferramenta principal do seu processo de aprendizagem crítica e social. Os alunos nesta faixa etária de (11 a 14 anos) devem entender que o jogo está ali para ajudá-lo e/ou auxiliá-lo, e que a competição deve ser sempre saudável não havendo nenhuma forma de preconceito perante os demais. Desta forma, o que se pretende trabalhar nesta idade é a cooperação, autonomia e sua criticidade. A Educação Física é um meio educativo que contribui para a socialização, autonomia, aprendizagem básica e expressiva, cognitiva, comunicativa e lúdica do movimento. As orientações metodológicas englobam os grupos de conceitos a serem transmitidos dentro do papel do professor e do aluno, além do planejamento metodológico e didático. O papel do professor nos jogos é o de ser animador, flexível, motivador, buscando o interesse do grupo da melhor forma. Assim, o professor deverá estimular o aluno a inventar e criar novos jogos, contribuindo para que todos sejam incluídos nas diversas situações lúdicas (GARÓFANO; CAVEDA, 2005). Através do jogo o aluno tende a aprender á tomar decisões, formulando conceitos através da compreensão que o contexto jogo fornece. Desta forma, é necessário conhecer o jogo esportivo e suas táticas a fim de extrair o máximo possível de proveito durante o jogo. Interligando assim, inteligência, domínio e habilidades que o próprio ambiente proporciona ao aluno durante as diferentes situações de jogo. A ludicidade pode ser praticada por todas as idades já que está inserida em todo o desenvolvimento humano. O lúdico deve fazer parte da vida do aluno e as escolas, como meio formador, devem entender primeiramente o valor que este tipo de 15 atividade proporciona, colocando-a como elemento fundamental em seu currículo pedagógico. Esta não pode mais ser pensada como algo apenas do currículo da Educação Física, devendo ser vista e trabalhada nas diferentes matérias como, matemática, português, ciências, entre outras. O resgate da ludicidade deve fazer parte da prática pedagógica escolar (FRIEDMANN, 2003) O brincar é fundamental para o desenvolvimento do aluno e a falta desta influenciará em sua idade adulta. Tem papel fundamental no seu desenvolvimento social, além de contribuir para a sua inteligência instigando-a criar, a imaginar e a vivenciar a situação criada. Brincar nada mais é do que uma fonte de aquisição de autonomia e equilíbrio emocional (VALENZUELA, 2005). Desta forma, ... brincar não é apenas coisa de crianças; ou melhor, sim, é coisa de crianças. O que acontece é que se acredita que ser criança é questão de uma determinada idade e, passada essa idade, quase todos “matam” a criança que têm dentro de si. Na realidade, uma boa maturidade deveria ser acompanhada de crescimento em outros aspectos, englobando o ser criança também (BONET, 1900 apud VALENZUELA, 2005, p. 90). Pode-se dizer que a brincadeira está diretamente ligada ao ser humano, e que esta é um importante instrumento de trabalho do professor já que ajuda no desenvolvimento de várias habilidades e capacidades da criança não só na sua infância como também em toda a sua vida. A ludicidade fica meio que atada quando a educação torna-se complexa e resistente perante á aceitação destas atividades no ambiente escolar, a brincadeira é um instrumento de prazer e aprendizagem sendo um instigante meio de formação e entretenimento para a criança (VICIANA; VALENZUELA, 2005). De acordo com Blández (2000 apud VALENZUELA, 2005, p. 92), [...] associa-se a “brincadeira” ás aulas de educação física porque nelas os alunos se “divertem”, enquanto na matemática, nas línguas etc., aprendem-se coisas “sérias” e “importantes”, em que não há espaço para o lúdico. O jogo pode ser usado em diferentes idades, entretanto, devem ter um objetivo diferenciado a cada período da vida já que crianças e adultos tendem a ter intenções diferentes. Através do jogo, o ser humano pode desenvolver-se em diferentes situações seja no meio afetivo, social, motor e/ou cognitivo, se preparando para ser um ser social (VALENZUELA, 2005). Portanto, os jogos e as brincadeiras devem ter uma natureza social que é necessária ao desenvolvimento integral do ser humano, sendo trabalhados como meio educativo para a satisfação dos jogadores e se acumulando em forma de aprendizado. Assim, cada um assimila á sua vida real e a guarda para um dia ser utilizada. Todavia, este tipo de brincadeira deve ter um objetivo claro para que não se torne negativo em suas condutas (VALENZUELA, 2005). 16 Assim, percebe-se que os jogos influenciam a vida da criança e devem ser trabalhados de forma clara através das aulas de educação física, não vendo o aluno como um executador da técnica e sim um aluno com sede movimentos. O professor deve trabalhar com a diversidade, sem excluir nenhum aluno de suas aulas, fazendo assim com que todos tomem gosto pela prática da atividade física tendo ou não habilidades para certos esportes já que a escola é um ambiente formador de pessoas conscientes e não um celeiro de atletas. Observa-se que o ser humano quando brinca dispõe de uma experiência vasta, podendo ir onde quiser através de sua imaginação. Esta amplia seu lado cognitivo não só de conhecimento, mais em nível de aprendizagem também. A ludicidade é universal e todos podem usufruir deste meio, pois não precisa ter bens, nem facilidades, é algo que pode ser feito por qualquer individuo e em qualquer lugar. Nesta pesquisa, observou-se que o ser humano tem necessidade de se movimentar e isto começa desde o seu nascer e se estende até a fase adulta. Hoje, a maioria das crianças não tem tempo para brincar, já que estão imersas em cursos e deveres impostos pelos pais, além de poucos espaços para a prática da atividade física, e é na escola e nas aulas de Educação Física que a criança tem a oportunidade de desenvolver seu lado lúdico, expressando-se de forma livre e sem cobrança levando-as sempre ao mesmo fim que é o prazer. Com o surgimento das novas tecnologias este passou a esquecer-se da sua cultura de ludicidade passando a ser um indivíduo sedentário e ou com pouco movimento. Desta forma, seu desenvolvimento e potencialidades se tornaram cada vez mais escassas durante sua vida. O educador deve sempre pensar em seu aluno bem como de onde ele vem e qual a sua realidade para que, ao planejar suas aulas, não o afaste seu aluno e sim o traga cada vez mais para sua proposta. Neste sentido, os jogos e brincadeiras são importantes ferramentas de socialização e bem estar. Deste modo, fica claro que cada vez mais crianças apresentam atrasos motores quando entram na escola, poisnão vivenciam estas atividades motoras na prática. O qual terá grande impacto quando estes chegarem á fase adulta. REFERÊNCIAS FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. FRIEDMANN, A. A importância do brincar. Jornal diário na escola. Santo André/SP, 2003. KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. MARINHO, H. R. B. et al. Pedagogia do movimento: o universo da ludicidade e psicomotricidade. 2. ed. Curitiba: Ibex, 2008. 17 MURCIA, J. A. M. Aprendizagem através do jogo. In: GARÁFANO, V. V.; CAVEDA, J. L. C. (Org). O jogo no currículo da educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2005. Tradução: Valério Campos. (p. 59-88). _______. Aprendizagem através do jogo. In: MURCIA, J. A. M.; GARCIA, P. L. R. (Org). Do jogo ao esporte. Porto Alegre: Artmed, 2005. Tradução: Valério Campos. (p. 139-156). ________. Aprendizagem através do jogo. In: VALENZUELA, A. V. (Org). O jogo no ensino fundamental. Porto Alegre: Artmed, 2005. Tradução: Valério Campos. (p. 89-108). SANTOS, S. M. P. A ludicidade como ciência. Petrópolis: Vozes, 2001. VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos pedagógicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Tradução: José Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. (Adap. de Lucinéia Darlyene Silveira. dkasmierczak@hotmail.com) EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/ ................................................................................................................................... ATIVIDADES 1- Esclareça como Fonseca (2008, p.392), vê o “brincar aliado à psicomotricidade”. ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ 2- Sobre o jogo e suas influências na Educação Física Escolar, elucide a fala de Freire (2002 apud MARINHO et al., 2007): “As relações entre jogo e educação, jogo e cultura, jogo e sociedade, jogo e processos de desenvolvimento da criança, jogo e vida são tecidas juntas”. ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ 18 A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O LÚDICO NA FORMAÇÃO HUMANA O lúdico é um estado de transcendência. ”Instante recheado de prazer e liberdade de tempo e espaço, que não encontra outro fim, senão a vivência do próprio instante” (CATUNDA, 2005). Esse contato só é possível de ser vivenciado pelos seres humanos, haja vista ser o lúdico, como sentimento, uma possibilidade exclusivamente humana. A busca de momentos agradáveis, do prazer, da alegria e do brincar acompanham o homem em toda sua evolução. No entanto, com as exigências das sociedades que foram se modernizando e assumindo um modelo de produção agressivo, o homo ludens foi perdendo suas características, e como uma pintura esquecida, foi se desgastando com o tempo. Mas se o lúdico é parte da natureza e da cultura humana, como podemos abrir mão desse sentimento? No princípio da vida, na infância, o brincar é socialmente aceitável. É no brincar que a criança concretiza suas experiências e utiliza o imaginário para desenvolver-se, e é por essas representações que ela se faz presente no mundo. Porém, na ânsia de antecipar o amadurecimento dos filhos para que se tornem competitivos na fase adulta, pais desavisados criam uma agenda recheada de compromissos para as crianças que deveriam ter mais tempo para o viver criança. Neste quadro, a Educação Física escolar exerce papel significativo no oferecimento de vivências lúdicas, capazes de despertar e desenvolver a partir da infância, o sentimento de prazer em participar de atividades corporais. Essas primeiras experiências sistematizadas, se vividas de forma a desencadear experiências positivas, em muito contribuirá para que o futuro adulto, relacione a prática de atividades físicas e esportivas a algo que trás benefícios, alegria e contentamento e por isso poderá incorporá-las ao seu estilo de vida. Para os adultos, um alerta de Negrine (2001), para quem a concepção de que o brincar está reservado às crianças nada mais é do que a perda da naturalidade humana, imposta pelo homem ao próprio homem, já que – a história nos diz – o adulto costumava dedicar muitas horas ao lazer. Existe, porém o professor de Educação Física escolar, um ator de significativa importância nessa cena. É ele que assume a responsabilidades em propagar o lúdico no ambiente social escola. É ele o orientador de alunos, pais e gestores, na condução de uma ação mais efetiva no sentido da formação humana. Oferece a oportunidade da vivência lúdica como um bem a ser adquirido por todos para uma melhor convivência. Ora, mas qual a importância que as pessoas na sociedade atual atribuem ao lúdico? Certamente não podemos ser ingênuos e com simplicidade, demonizar de forma 19 particularizada um ou outro de uma série de eventos que ocorrem na vida, como: as novas tecnologias, o trabalho, a falta de educação para o bom uso do tempo livre, a fome, a violência, a escola, o desrespeito à natureza, a precariedade dos equipamentos públicos, os modos de vida de consumo dos urbanos, atribuindo-lhes culpa por produzir um humano sem graça. Assim, levantamos algumas questões para reflexão: as pessoas têm reservado tempo e espaço para o brincar? Participam conjuntamente com a família e amigos de instantes de alegria e prazer em atividades lúdicas? Qual o lugar do lazer nas prioridades cotidianas? Você já reparou que nas atividades mais simples e que não custam nada, se concentram a maior parte das boas lembranças? Porque se corre tanto nabusca do acúmulo de bens e poder de consumo? Podemos categoricamente afirmar, que estamos diante de um novo paradigma para a formação humana. Um novo modelo, que efetivamente passa pela necessidade de um repensar o conceito de educação. Que passa por uma re-engenharia da escola. Que passa por professores que precisam ser mais valorizados, que sintam prazer e alegria ao ensinar, e que, assumam a responsabilidade devida com aquilo que representam. Mas que, acima de tudo, passa pelas relações familiares. De um jeito de ser família. De um crescer co-responsavelmente juntos. E assim mesmo, como um sonhador, um ser maravilhosamente utópico, pensar um mundo onde seja possível a aprendizagem do humano para o brincar, e entender que isso é ponte para uma vida feliz e saudável. REFERÊNCIAS CATUNDA, Ricardo. Brincar, criar e vivenciar na escola. Rio de Janeiro: Sprint, 2005. NEGRINE, Airton. Ludicidade como Ciência. Santa Marli Pires dos Santos (Org.). Petrópolis: Vozes, 2001. FONTE: FIEP- CE – Brasil Ricardo Catunda - Doutorando em Ciências da Educação – FMH.UTL – Lisboa, PT. Mestre em Educação em Saúde, Especialista em Psicomotricidade e Licenciado em Educação Física. Professor Assistente da Universidade Estadual do Ceará, Presidente da Comissão de Educação Física Escolar (CONFEF). 20 A UTILIZAÇÃO DE ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A FORMAÇÃO DA CRIANÇA Por meio de análise crítica da Educação Física desde o seu nascimento, pode-se observar que sendo ela uma prática pedagógica, suas tendências sempre surgem de necessidades sociais concretas, dando origem a diferentes entendimentos do que dela se conhece (COLETIVOS DE AUTORES, 1992). O momento atual caracteriza-se por uma Educação Física escolar fortemente voltada para a prática do "esporte", ou seja, para o treinamento esportivo. A influência do esporte competitivo no sistema escolar é muito grande, a ponto de caracterizar a Educação Física como um prolongamento da instituição esportiva, subordinando-a aos seus códigos de rendimento atlético, de comparação, de competição, de regulamentação rígida, de racionalização de meios e técnicas, etc. Importante salientar que o esporte escolar por sua vez, apresenta-se subordinando a valores impostos pela sociedade capitalista em que vivemos. Estes códigos e significados revestem o processo educativo por ele provocado e reproduz, inevitavelmente, as desigualdades sociais (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A prática sistemática do esporte faz com que a escola mantenha os padrões dominantes da sociedade, não dando espaço para que o aluno desenvolva o seu aspecto crítico como agente transformador da sociedade, nem o seu aspecto criativo, como ser que é capaz não somente de reprodução de jogos e movimentos, mas também capaz de criar diante de situações - problemas a ele apresentadas. A sociedade em que estamos inseridos sofre diversas mudanças, na qual conceitos e valores mudam constantemente. A indisciplina e a violência tornaram-se nos últimos anos, assuntos recorrentes nos meios de comunicação em massa. Surge inevitavelmente a seguinte questão: a exposição a formas de indisciplina e de violência faz com que as crianças tornem-se agressivas? Embora seja claro que a indisciplina e a violência como são apresentadas na televisão não é benéfica para as crianças, devemos ser cautelosos para não tornar a televisão um "bode expiatório" responsável pelos autoníveis de indisciplina e violência na sociedade. Quando nos voltamos às escolas da periferia, principalmente nas grandes cidades, percebemos que os alunos presenciam uma realidade bastante diversa, sem conseguir apreender dela conceitos e valores éticos e morais. O dia-a-dia da maioria dessas crianças é marcado por cenas de assaltos, espancamentos, mortes, roubos, brigas com armas brancas e de fogo, entre outras. Muitos dos alunos chegam a presenciar estes acontecimentos dentro de sua própria casa. Assim, em casa e/ou na vizinhança essas crianças são constantemente expostas a realidades fortemente marcadas pela indisciplina e pela violência. Não fazer uso desta indisciplina e violência, perpassa caminhos da educação como um todo, que deve ser implementado e assumido por todos aqueles que tem a educação como principio capaz de emancipar indivíduos. Fazer compreender esta verdade é com certeza o maior de todos os obstáculos que temos a frente. 21 A indisciplina e a violência tornaram-se categorias que necessitam serem discutidas afim de que se possa romper o processo reprodutivo na sociedade dada. O agir agressivo tornou-se cotidiano, a desumanidade passou a ser o ponto referencial da humanidade e a falta de tempo se fez emblema para o nada fazer. Nesse contexto, a Educação Física deve oportunizar a criança uma variada gama de experiências, não só esportivista como na maioria das vezes é trabalhada. Todas estas experiências deverão estar orientadas para o processo de conhecimento do mundo e formação pessoal e social, participando ativamente na construção de sua cidadania. Vê-se assim que "A Educação Física é um instrumento essencial para construir o ser humano que sonha o eterno e descontrai a violência" (DIAS 1996, p.19), ou seja, é por meio destas ações que se pode contribuir para a formação educativa dos indivíduos, possibilitando tornarem-se cidadãos integrados e participantes numa sociedade dada. Crianças quando expostas a experiências de indisciplina e violência estão inclinadas a autodesvalorização, ao baixo nível de confiança em si e nos outros. Sendo assim, torna-se necessário que ela adquira como referencias, exemplos positivos, ou seja, exemplos que possibilite refletir acerca do certo e do errado. A família, primeiro referencial da criança, deve trazer em suas bases fundamentais a confiança, a auto-estima e o senso de agregação, somados a ética e ao respeito. Valores que no atual momento apresentam-se escassos. Segundo Dias (1996, p.49), a principal causa de indisciplina e violência contra a criança encontra-se "no seio da família", ou seja, o principal lócus produtor e reprodutor da indisciplina e da violência parte do ambiente familiar. É preciso discutir e procurar soluções para os problemas coletivos almejando uma nova prática pedagógica na escola e fora dela, voltada para o "DESENVOLVIMENTO integral", e não apenas para o "ATENDIMENTO integral". Os atuais Parâmetros Curriculares Nacionais destacam "(...) a visão de que a constituição da sociedade é um processo histórico permanente permite compreender que estes limites são potencialmente transformáveis pela ação social. E aqui é possível pensar sobre a ação política dos educadores. A escola não muda a sociedade, mas pode, partilhando esse projeto com seguimentos sociais que assumem os princípios democráticos, articulando-se a eles, constituir-se não apenas como espaço de reprodução, mas também com espaço de transformação. (BRASIL, 1997, p.26)". Segundo Darido (2001, p9) a Tendência Interacionista Construtivista, objetiva a interação do sujeito com o mundo. Nesta concepção a aquisição do conhecimento é um processo construído pelo indivíduo durante toda a sua vida. Ainda segundo Darido (2001, p10) a principal vantagem desta abordagem é que ela possibilita uma maior integração com uma proposta pedagógica ampla e integrada da Educação Física Escolar. Deve-se resgatar a cultura (popular) de jogos e brincadeiras dos alunos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, incluindo as brincadeiras de rua, os jogos com regras, os brinquedos cantados dentre outros que compõem a vivência cultural dos alunos. Além de valorizar suas experiências, sua cultura, à22 proposta construtivista também tem o mérito de propor uma alternativa aos métodos diretivos, tão impregnados na prática da Educação Física. O aluno constrói o seu conhecimento a partir da interação com o meio, resolvendo problemas. "Na proposta construtivista o jogo enquanto conteúdo/estratégia tem papel privilegiado. É considerado o principal modo de ensinar, é um instrumento pedagógico, um meio de ensino, pois enquanto joga ou brinca a criança aprende. Sendo que este aprender deve ocorrer num ambiente lúdico e prazeroso para a criança". (DARIDO, 1999, p.23). A brincadeira e o jogo são situações em que a criança reflete, ordena, desorganiza, organiza novamente, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira. É também um espaço onde a criança pode expressar, de modo simbólico, suas fantasias, seus desejos, medos, sentimentos agressivos e os conhecimentos que vai construindo a partir das experiências que vive. Portanto, o jogo possibilita a percepção total da criança, em seus aspectos motores, afetivos, sociais e morais, revelando também muito das estruturas mentais sucessivas da criança. As próprias crianças podem estabelecer relações de troca, elas aprendem a lidar com regras observando que poderão algumas vezes ganhar e outras, perder. Para se desenvolver, a criança, precisa aprender com os outros, por meio de relações de troca e afeto, ampliando suas relações sociais, interações e formas de comunicação, pois, só assim poderá se sentir segura para expor suas dúvidas e curiosidades. Nesse processo, todo o conhecimento emerge de uma construção pessoal e social, na qual a criança tem um papel ativo compartilhado com o grupo. Desde o primeiro ano de escolarização, as brigas e as discussões surgem muito cedo entre as crianças, tanto no pátio da escola como dentro da sala de aula ou na quadra durante as aulas de Educação Física. Manifestações espontâneas da vontade de apropriar-se de um objeto ou um território, de impor seu projeto, são, com freqüência, a única maneira, embora arcaica, que a criança encontra para regular os seus conflitos. Essa violência é inerte as relações sociais e é inútil e perigoso negá-la. É preferível considera-la como resultado de múltiplas interações, manifestando-se em circunstâncias precisas, como: reação à violência do outro, do meio, como resposta a um estresse ou uma frustração, como desejo de impor-se em seu meio social (realidade que vive no dia a dia). Portanto devemos considera-la como modo de expressão e de comunicação, para que a própria criança seja capaz de situa-la em suas relações com os outros, trazendo respostas às interrogações que violência e indisciplina provocam. O jogo é uma forma de conhecimento produzido pelos homens desde os primórdios da humanidade, no qual o prazer (o lúdico) e o desafio estão presentes nessa prática social, em suas diferentes formas (jogos individuais, jogos coletivos, jogos com regras simples, jogos com regras mais complexas). O jogo é uma prática originalmente, comum a crianças e adultos, indistintamente, possibilitando a relação do indivíduo com o coletivo, com a comunidade a que pertence. É um fenômeno social, ou seja, é resultado de uma cultura, com seus costumes e tradições, por isso há diferenças na forma de jogar e o desconhecimento de determinados jogos por alguns grupos sociais. Eles são elaborados pelas pessoas de acordo coma as oportunidades sociais, costumes e tradições; assim como existe, também a incorporação de jogos de outras culturas. Aí, a importância de oportunizar ao nosso educando a apropriação 23 dos mais variados tipos de jogos e brincadeiras vivenciados pelos nossos antepassados, inserindo-o na memória coletiva da humanidade para que de posse desse conhecimento possa ele reelaborar novos jogos, ampliando esse riquíssimo acervo cultural, criando novas opções de lazer em seu cotidiano. Concluindo, a escola oferece inúmeras disciplinas que devem trabalhar o conhecimento humano acumulado até então, porém até o momento não consegue fazer com que educandos utilizem tais conhecimentos na vida, nem que faça relações. " O grande desafio é integrar o aluno, para fazê-lo, é necessário mais do que conhecimento, é preciso fazer um trabalho que desperte a responsabilidade, o comprometimento do aluno e de sua família" (TIBA, 1998, p.170). É através do jogo que a criança descobre um mundo novo, onde cria situações e resolve a seu modo, encontra novos significados e age conforme sua compreensão. No jogo a criança experimenta situações diferentes, testa sua percepção que o auxilia em outras atividades, este é o momento em que deixa ser levada pela brincadeira, incorporando-as e desenvolvendo habilidades que necessitam ser moldadas. A incorporação de diversas atividades através do brinquedo, faz com que a criança, comporte-se muito além do habitual de sua idade. As representações bem como as brincadeiras de faz de conta, são simbolismos de objetos e ações que fazem parte de aprendizagem, da construção do conhecimento. Os jogos, as brincadeiras, devem sempre dar condições para que todos os que pratiquem sintam prazer em estar fazendo uma atividade que lhes tragam o autodesenvolvimento e não uma oportunidade de destruir os outros, preponderantemente, estas atividades lúdicas favorecem a socialização, contribuindo ativamente à não violência e indisciplina, pois a participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, solidariedade, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidades, disciplina, iniciativa pessoal e coletiva. É jogando que se aprende o valor do grupo como força integradora pelo sentido da competição salutar e da colaboração consciente e espontânea, contribuindo assim na formação de um cidadão crítico e transformador do ambiente (sociedade) em que vive. Obs. Os autores, professores Ms.Gisely Rodrigues Brouco (gy_pr@yahoo.com.br) é aluna da UNESP e João Carlos Carvalho Queiroz (msjoca712@hotmail.com), ambos trabalhando no UNIANDRADE - Centro Universitário Campos de Andrade (PR). BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS BETTI, Mauro. Educação física e sociedade. São Paulo: Ática, 1991. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular Nacional para educação infantil. Brasília: MEC/SEF. 1998. 24 COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992. COSTA, Vera Lúcia M. Prática da educação física no 1º grau: reprodução ou perspectiva de transformação? São Paula: IBRASA, 1987. DARIDO, Suraya C. Educação física na escola: questões e reflexões. Araras, SP: Topázio, 1999. DARIDO, Suraya C. Os conteúdos da educação física escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. Niterói: Perspectivas em Ed. Física Escolar, v.2, n.1 (suplemento), 2001. DIAS, K. P. Educação física x violência. Rio de Janeiro: Sprint, 1996. FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1997. LIMA, Elvira S. Desenvolvimento e aprendizagem na escola: aspectos culturais, neurológicos e psicológicos. São Paulo: GEDIT, 1997. MONTAGEU, A. A natureza da agressividade humana. Rio de Janeiro: Zahar,1978. TIBA, Içami. Ensinar aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor - aluno em tempos de globalização. São Paulo: Gente, 1978. VELASCO, Cacilda. Brincar, o despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint, 1996. 25 LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA O ato de aprender a Educação Física não se limita apenas à execução mecânica do exercício motor, mas constitui-se em atividade relacionada ao cotidiano da criança, à ludicidade e ao lazer. Considerandoque a criança se apropria de noções de conhecimento à medida que age (cognição), observa e se relaciona com o mundo, é enfrentando desafios e na troca constante de informações com outras crianças e com os adultos que ela se desenvolve. Queremos garantir a afetividade no desenvolvimento infantil, para a busca da autoconfiança, livre expressão e iniciativa, além de ser um coadjuvante nos prováveis medos existentes. Portanto, faz-se necessário lembrar e valorizar junto à criança, uma auto-imagem positiva, pelo trabalho de aceitação e convivência com as inúmeras diferenças existentes, entre os mais variados grupos de suas relações sociais. O ato de aprender a Educação Física relaciona-se com o ensinar a Educação Física. Para isso, cabe ao professor ajudar a criança, criando situações que possam gerar desafios e desequilíbrios. Auxiliando-a na ação consciente, checando as hipóteses, sem jamais pretender substituir a sua verdade pela verdade do adulto. Aprender-ensinar a Educação Física passa por um ato dia lógico, em que aluno e professor traçam e criam metas compatíveis para objetivos comuns. 1-COMO DEVE SER ESTA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR? A infância é a idade lazer por excelência. O tempo totalmente liberado faz com que a criança desenvolva a especialidade de brincar com exceção, por exemplo, do período escolar ou dos trabalhos rurais. As tendências administrativas atuais, bem como a informatização de serviços, nos alertam para uma provável diminuição na jornada de trabalho, aumentando assim o tempo livre, ou seja, o tempo disponível para outras atividades que acreditamos, o ser humano ainda não está preparado a realizar, pois, praticamente passa os melhores anos de sua vida trabalhando. Concluímos, desta forma, que a função educativa do lazer, considerada muitas vezes uma atividade inconseqüente, é necessidade humana. O lazer por suas características: a espontaneidade, a ludicidade, a livre escolha e o caráter relativamente desinteressado, deve ser incorporado ao cotidiano da criança tornando-se um espaço privilegiado para a aquisição de informações e conhecimentos, enfim, para a vivência da cultura e constituindo-se em importante caminho para o crescimento pessoal e social do indivíduo. Voltando à Educação Física, consideramos um absurdo as obrigatoriedades impostas pela Escola, muitas vezes desvinculadas da realidade de vida da criança, 26 pois a mesma passa seis ou sete anos brincando e aproveitando-a em- total harmonia, interagindo com os outros, com a natureza e suas transformações. A proposta é promover e buscar a Educação para o Lazer, através da alegria e da brincadeira, considerando o vasto conhecimento da cultura infantil, repleta de significados, historicamente elaborado e muitas vezes ignorado pelas instituições de ensino. Superando barreiras e preconceitos, descobrindo habilidades e belezas, equilibrando eficiência e eficácia, enfim, vivenciando relações espaciais e temporais, estaremos favorecendo o autoconhecimento, sempre em busca da felicidade e cidadania. O Corpo A escola não pode negar como fato histórico a corporeidade humana, a infinidade de gestos, expressões, movimentos, que os seres humanos foram e são capazes de realizar, originando jogos, brincadeiras, danças, esportes, lutas, diferentes formas de ginástica e constituindo desta forma, o verdadeiro patrimônio lúdico da humanidade. O grande desafio da Educação Física é propiciar ao educando o conhecimento do seu corpo, usando-o como instrumento de expressão e satisfação de suas necessidades, respeitando suas experiências anteriores e dando-lhe condições de adquirir e criar novas formas de movimento. É importante relembrarmos citações de alguns autores sobre o movimento humano: Castellani entende como: ...se é o Movimento Humano aquele que nos diz respeito enquanto especificidade de nossa ação profissional, temos que ter claro ser ele, humano, social e culturalmente construído. Assim sendo, ao resgatarmos uma visão antropológica do movimento humano, passamos a percebê-lo em sua totalidade como resultante da interação de seus componentes biofisiológicos e sócio-culturais. Para Bracht: O movimento corporal ou movimento humano que é tema da Educação Física não é qualquer movimento, não é todo movimento. É o movimento humano com determinado significado/sentido, que por sua vez lhe é conferido pelo contexto histórico-cultural. A citação de Alves tenta explicar o projeto educacional em relação ao corpo do aluno, quando diz: O que está em jogo são duas maneiras diferentes de se ver o corpo: num caso, corpo que é simples meio e que é treinado para se transformar num instrumento de luta contra o espaço. Uma corrida é luta contra o tempo. Num outro, é o corpo reconciliado com o espaço e o tempo e que não deseja vencê-los mas apenas usufruí-Ios. Consideramos que o movimento humano só se concretiza através do corpo do homem. Este movimento integra uma totalidade e não somente o ato motor, mas toda e qualquer ação humana que vai, desde a expressão até o gesto mecânico. 27 Não é apenas o corpo que entra em movimento, mas é o homem todo que age e se movimenta. A Educação Física deve associar o corpo, a emoção, a consciência, a busca do prazer, fazendo o aluno sentir-se bem com o seu corpo no tempo e no espaço. Como pode este corpo sentir-se liberado, solto, fonte de prazer, em uma sociedade disciplinada, em relação ao corpo, que isola os seres humanos e os transforma em opostos? Este corpo conseguirá interferir na ordem estabelecida a partir do momento em que se apresentar como expressão de individualidade e ao mesmo tempo coletividade, em que se relaciona com o outro, respeitando-o e sendo respeitado, com espaço de liberdade e possibilidade de expressão. Entendemos que é necessário desenvolver uma concepção de Educação Física onde a atividade intelectual e a atividade corporal, ao invés de se confrontarem, se harmonizem, de forma a melhor integrarem o ser humano no seu relacionamento: eu - o outro - os objetos - o mundo. O professor de Educação Física é um agente transformador em potencial. Tomemos como exemplo a ansiedade e expectativa com que os alunos esperam pelas aulas. Cabe a ele, portanto, refletir conscientemente sobre a melhor maneira de utilizar-se desta motivação natural, para oferecer aos seus alunos reais possibilidades de aprendizagem. Os currículos escolares deverão ter seus conteúdos compatíveis com as experiências vividas pelo aluno, servindo como ponto de partida para aquisição de novos conhecimentos, mais elaborados. A sistematização destes conteúdos, que são representados pela Ginástica, Jogos, Esportes e Dança, deve considerar ainda as características de maturação, as diferenças individuais, as necessidades e interesses do aluno, sendo desenvolvidos, em um ambiente lúdico, onde a liberdade de expressão, a oportunidade de reflexão, discussão e questionamentos, o trabalho em equipe estejam garantidos, e que o aluno possa, através do movimento, se relacionar com o seu próprio corpo, com o outro e com o meio social. 1. Ginástica A ginástica, que por ser conceituada como “a arte de exercitar o corpo" traz em si uma movimentação corporal cuja construção se deu a partir das relações sociais, Hoje, na sociedade brasileira, encontramos diferentes focos de valorização do corpo: Corpo - máquina: força de trabalho e sua exercitação ainda é via adestramento; Corpo - atlético: busca a performance e o corpo belo (sociedade de consumo); Corpo – saudável: busca a atividade física, como forma compensatória à vida sedentária. 28 Contudoa ginástica, como meio da Educação Física, tem como objetivo principal, proporcionar ao aluno o conhecimento do seu próprio corpo, dos movimentos e dos seus limites. Através de atividades que permitam a expressão, a criação (ao invés de movimentos mecanizados e repetitivos), enfim, o corpo em movimento agindo em todas as suas possibilidades de expansão. Conteúdos Da Ginástica Movimentos Naturais ou Elementos Fundamentais em suas variadas formas, com e sem elementos. Ginástica Olímpica Rítmica Desportiva Ginástica com Elementos outras formas de Ginástica. 2. Jogos O jogo faz parte da vida do ser humano. O ato de jogar é tão antigo quanto à própria história do homem. O jogo é uma atividade livre, fundamentalmente lúdica, contendo regras não convencionais, de caráter competitivo, que possui como característica principal a espontaneidade e possibilita a expressão de vivências culturais de forma intensa e total. Na infância o jogo é essencial. Brincando e jogando, a criança reproduz suas vivências, transformando a realidade de acordo com seus interesses e desejos, de forma dinâmica e criativa. Os elementos do jogo, como o conjunto de regras, a competição, o tempo e o espaço em que ele ocorre... , colocam a criança em situações de adaptação e readaptação, que provocam diferentes atitudes comportamentais e, conseqüentemente, exigem que ela esteja constantemente desempenhando seu papel social de criança. Desta forma, o jogo não representa apenas as experiências vividas, mas prepara o indivíduo para o que está por vir, exercitando habilidades e principalmente estimulando o convívio social. Por tudo isso, ressaltamos o grande valor educativo do jogo e a importância de se trabalhar este conteúdo nas escolas, de forma comprometida com a formação física, intelectual, moral e social do aluno./ • Conteúdo dos Jogos: Jogos Motores; Jogos Sensoriais; Jogos Imitativos; 3. Esporte Elaborar um conceito de esporte não é tarefa fácil. Isto porque o termo esporte pode designar diferentes focos de interpretação, que podem por sua vez sugerir definições contraditórias: 29 a) aperfeiçoamento físico; b) meio de socialização; c) meio de desenvolver uma consciência coletiva; d) meio de comunicação e unidade nacional; e) busca de prazer; f) fim estético; g) como profissão; h) mercadoria; i) esporte pelo esporte com um fim em si mesmo. Considerando que o esporte surgiu da atração do homem pelo jogo, e que o princípio lúdico também se evidencia na sua prática, e surge principalmente quando existe a possibilidade da livre escolha, entendemos que deve ser vivenciado na escola de forma diversificada, oportunizando um amplo conhecimento das suas diferentes modalidades. Mesmo aquelas que não fazem parte do seu cotidiano. O Esporte como conteúdo é supervalorizado pelo profissional da área, no período escolar de 5ª a 8ª série, que na maioria das vezes nem se lembra de utilizar os demais conteúdos da Educação Física em suas aulas, ou seja, a Ginástica, a Dança e os Jogos. 4. Dança A dança é uma atividade que utiliza o corpo em movimento como um meio de expressão, comunicação e criação. O ritmo é um elemento fundamental presente em todas as formas de vida: no movimento humano, na natureza, no universo. O ser humano está constantemente se movimentando e todo movimento é rítmico. Na criança a necessidade de movimento é ainda maior, pois é especialmente através do desenvolvimento sensorial e motor que ela interpreta o mundo. A educação rítmica, através da Dança, que utiliza o movimento com música, constitui-se em conteúdo importante da Educação Física, pois contribui significativamente para o estímulo da livre expressão e criação, para o desenvolvimento rítmico - através do aperfeiçoamento dos movimentos naturais, para o favorecimento do contato social – além de proporcionar momentos de alegria e prazer. Conteúdos da Dança: Cantigas de Roda; Jogos Rítmicos; Danças Folclóricas: nacionais e internacionais; Danças de Salão; Danças Criativas. 30 BIBLIOGRAFIA ALVES, R. O corpo e as palavras. In. Conversando sobre o Corpo, p.42. BRACHT, W. Educação Física: A busca da autonomia Pedagógica, In. Revista da Fundação de Esporte é Turismo, 1 (2) p.p. 13. CASTELANNI, F. 0. L. Diretrizes gerais para o ensino de 2.° Grau. Núcleo Comum Educação Física (p. 5. Mimeografia). ................................................................................................................................... ATIVIDADES 1- Comente, concordando ou não, com a frase: “O ato de aprender a Educação Física relaciona-se com o ensinar a Educação Física”. ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ 31 FAZER CONHECER, INTERPRETAR E APRECIAR: A DANÇA NO CONTEXTO DA ESCOLA Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. (Paulo Freire, I996) O lugar da dança na escola é assegurado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (Secretaria de Educação Fundamental, 1997) e muito se tem discutido sobre sua importância no ambiente escolar, particularmente como conteúdo da Educação Física. Entretanto, o fato de a dança ter um lugar assegurado na escola pela Lei de Diretrizes e Bases (lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996) não significa, necessariamente, que ela esteja inserida em um contexto educacional. Ao contrário, a dança na escola costuma estar desvinculada de um processo de ensino- aprendizagem que deveria contar com a participação efetiva dos alunos, Ievando-os, entre outras coisas, à compreensão do corpo como construção cultural (LOMAKINE, 2003). No divertimento nos horários de intervalo, ora como elemento decorativo em algumas festas de comemoração de datas específicas. Geralmente, nessas ocasiões, o aluno simplesmente memoriza uma série de passos. E por que isso ocorre? Porque o aluno do curso de Educação Física, possivelmente futuro professor, conhece muito pouco a respeito de tudo o que se pode explorar em relação aos conteúdos específicos da dança. Este capítulo apresenta algumas orientações sobre como é possível trabalhar a dança na escola, mesmo sem o professor ser ou ter sido bailarino ou ter participado de aulas de dança, pois este ainda é o pensamento da maioria dos estudantes, quando se Ihes apresenta essa disciplina nos cursos de graduação. A Educação Física pode ser considerada uma área de conhecimento científico, quando enfatizada com atividade física, e uma prática pedagógica, quando se volta à promoção compreensão do conhecimento da cultura corporal e contribui para atingir fins educacionais. A dança também, como área de conhecimento específico dá ênfase à performance técnica; e como prática pedagógica, busca contribuir com o desenvolvimento do ser humano em seus aspectos motor, perceptivo-cognitivo e socioafetivo. Essa contribuição
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