Buscar

GONALVESLIMA.InterpretaesdoTotalitarismo 20170927155337

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski 
Interpretations of totalitarianism: Hannah Arendt and Friedrich-Brzezinski 
Acríssio Luiz Gonçalves 
Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Professor do 
Centro Universitário UNA. E-mail: acrissio@yahoo.com.br 
Andréa Moreira Lima 
Doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Professora 
do Centro Universitário UNA. E-mail: andrea.m.lima10@gmail.com 
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir duas diferentes leituras do 
fenômeno totalitário: a interpretação de Hannah Arendt, exposta na obra The Origins of 
Totalitarianism, de 1951, e a interpretação elaborada por Carl J. Friedrich e Zbigniew K. 
Brzezinski, na obra Totalitarian Dictatorship and Autocracy, de 1956. Embora as duas leituras 
apresentem pontos de contato, principalmente por considerarem o totalitarismo uma novidade em 
termos políticos, mostraremos que elas diferem, sobretudo em relação à descrição da finalidade 
desses movimentos de dominação política. 
PALAVRAS-CHAVE: totalitarismo; nazismo; fascismo; Hannah Arendt; Friedrich-Brzezinski 
ABSTRACT: The present paper aims to present and discuss two different readings of the 
totalitarian phenomenon: Hannah Arendt’s interpretation, as exposed in her 1951 work The 
Origins of Totalitarianism, and the interpretation elaborated by Carl J. Friedrich and Zbigniew K. 
Brzezinski, in their 1956 work entitled Totalitarian Dictatorship and Autocracy. Although both 
readings have intersections – especially the consideration of totalitarianism as something new in 
political terms – we will show that they differ, mainly regarding the description of the purposes of 
those movements of political domination. 
KEYWORDS: totalitarianism; Nazism; fascism; Hannah Arendt; Friedrich-Brzezinski 
 
1 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski 
Introdução 
Três experiências políticas, que tiveram origem após a Primeira Guerra Mundial, são 
comumente apontadas como as principais expressões do totalitarismo: o fascismo italiano (1922-
1945), o nazismo alemão (1933-1945) e o estalinismo russo (entre meados da década de 1920 e 
1953). Em que pese apresentarem diferenças substanciais, mormente em termos ideológicos1, 
estes regimes podem ser comparados entre si, especialmente por terem se constituído como 
antíteses do Estado de Direito. Isto se explica uma vez que, nestes regimes, as características 
fundamentais do Estado de Direito – entre as quais a separação dos poderes, o pluralismo político-
partidário, a existência de instituições representativas, as garantias constitucionais das liberdades 
fundamentais dos indivíduos – foram completamente negadas (TRAVERSO, 2001). 
Apesar do adjetivo “totalitário” ter sido forjado na década de 1920, por antifascistas 
italianos, como uma forma de referência e denúncia ao regime instaurado por Mussolini2, apenas 
a partir da Segunda Guerra Mundial a expressão se generaliza, passando a designar (em maior ou 
menor grau) os três regimes acima referidos (MORIN, 2005; TRAVERSO, 2005)3. 
Provavelmente, a popularização do termo, na década de 1950, seria decorrência da publicação de 
duas das mais completas interpretações sobre o fenômeno totalitário: a de Hannah Arendt, em The 
 
1 Uma reflexão aprofundada sobre a origem, a evolução e o conteúdo social dos diversos regimes reivindicados como 
totalitários revela diferenças muito profundas entre eles, principalmente entre o nazismo alemão e o stalinismo russo. 
Em primeiro lugar, existe uma diferença notável com relação à duração de ambos os regimes: o nazismo durou doze 
anos, de 1933 a 1945, conhecendo uma radicalização acumulativa até o seu desfecho, após o fim da II Guerra 
Mundial; o stalinismo soviético, por sua vez, durou mais de 30 anos e, ao contrário do nazismo, não encontrou o seu 
fim após o fracasso em uma guerra, mas devido a uma crise interna. Em segundo lugar, existe uma diferença patente 
na formação dos regimes: no caso do nazismo, um regime que se constitui por meio de uma alternância política 
legal; no caso do stalinismo, um regime que nasce de uma revolução política. Em terceiro lugar, também são distintas 
as ideologias que fomentam os dois regimes: no nazismo, uma concepção de mundo racista, fundada em uma visão 
nacionalista biologizada e, consequentemente, em culto à mitologia de superioridade alemã; no caso do regime 
stalinista, uma ideologia amparada em uma interpretação dogmática do marxismo. As diferenças ideológicas entre 
a Alemanha hitlerista e a Itália fascista, no entanto, diminuíram notavelmente a partir de 1938, quando da 
promulgação de leis raciais e antissemitas na Itália (TRAVERSO, 2005). 
2 Em 1932, em um ensaio da Enciclopédia Italiana, Benito Mussolini e Emilio Gentile afirmavam, abertamente, a 
natureza “totalitária” do regime fascista, entendido como um partido que governa, totalitariamente, uma nação. 
Enquanto o liberalismo coloca o Estado a serviço do indivíduo, o fascismo, diziam os autores, reafirma o Estado 
como a verdadeira realidade do indivíduo: “Tudo está no Estado; e nada humano ou espiritual existe, muito menos 
tem valor, fora do Estado. [...] Fora do estado não existem indivíduos nem grupos (partidos políticos, associações 
culturais, sindicatos, classes)” (MUSSOLINI & GENTILE, 1932). 
3 O conceito de “Estado totalitário” não se tornaria popular no nazismo, sendo uma exceção o uso desta expressão 
feita por intelectuais como Ernst Jünger e Carl Schmitt, os quais prefiguraram o advento de um “Estado total”, a 
partir do modelo italiano. Em oposição à noção de Estado “totalitário”, tornou-se popular, no nazismo alemão, a 
noção de Estado “racial” (TRAVERSO, 2005, p.101). 
2 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
Origins of Totalitarianism, de 1951, e a de Carl J. Friedrich e Zbigniew K. Brzezinski4, em 
Totalitarian Dictatorship and Autocracy, de 1956 (STOPPINO, 1998). Segundo Enzo Traverso 
(2001), por exemplo, dentre as publicações em língua inglesa, estas duas obras podem ser 
apontadas como os grandes clássicos sobre a temática totalitária. Em direção semelhante, Michael 
Geyer e Sheila Fitzpatrick (2009, p.4) se referem a Arendt e a Friedrich e Brzezinski como os 
“pensadores mestres da primeira geração do totalitarismo”. 
O objetivo do presente trabalho, portanto, é o de apresentar uma visão contrastante dessas 
duas interpretações do fenômeno totalitário, apontando aproximações e divergências iniciais. 
Embora a publicação da obra de Arendt tenha marcado a história e o processo de “canonização 
acadêmica” do conceito de totalitarismo (FUENTES, 2006, p.201), desconsideraremos a ordem 
cronológica de publicação das obras e apresentaremos, inicialmente, a interpretação oferecida por 
Friedrich e Brzezinski. 
Principais características dos regimes totalitários: a interpretação de Friedrich e Brzezinski 
(1956) 
Publicada, em 1956, pelos cientistas políticos de origem austríaca e polaca, Carl. J. 
Friedrich e Zbigniew K. Brzezinski, a obra Totalitarian Dictatorship and Autocracy 5 examina a 
anatomia dos regimes totalitários do século XX, buscando fixar os seus elementos constitutivos. 
Esse objetivo é apresentado pelos autores logo no prefácio da obra, quando afirmam a tentativa de 
“estabelecer uma teoriageral e descritiva dessa nova forma de governo”, esboçando “o modelo 
geral da ditadura totalitária” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], p.7)6. 
Seguindo a tradição de diferenciar os sistemas políticos, conforme o grau de subordinação 
de seus dirigentes à lei, Friedrich e Brzezinski definem autocracia como um sistema político no 
qual os governantes são insuficientemente submetidos aos regulamentos que orientam a vida da 
sociedade, em geral. Contudo, para os autores, o totalitarismo é uma nova forma de dominação 
política, historicamente única e sui generis. Num sentido amplo, eles dizem, “a ditadura totalitária 
é uma manifestação nova; nunca existiu nada que lhe fosse semelhante” (FRIEDRICH; 
BRZEZINSKI, 1965[1956], p.16). O totalitarismo se distingue das formas mais antigas de tirania 
 
4 Referida, aqui, como a interpretação de Friedrich-Brzezinski. 
5 Traduzida para a língua portuguesa com o título “Totalitarismo e Autocracia” (1965). Para fins de citação, 
consultaremos essa edição. As referências completas encontram-se disponíveis no final do texto. 
6 Conforme destaca Martin Kitchen (1985), apesar do uso do termo ditadura, a definição de totalitarismo, proposta 
por Friedrich e Brzezinski, tem a grande vantagem de distinguir o totalitarismo de outras formas ditatoriais, “de 
modo que o termo não perca todo o valor heurístico por ser aplicável a uma série infinita de estados de falta de 
liberdade” (KITCHEN, 1985, p.27). 
3 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
e despotismo devido aos métodos de dominação, que permitem o controle político total e, além 
disso, porque os regimes autocráticos do passado “não se aproximavam em crueldade das ditaduras 
totalitárias de nossa época” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], p.13). 
Friedrich e Brzezinski apontam seis características básicas comuns a todos os regimes 
totalitários7 – características estas que, segundo os autores, são encontradas nas obras de estudiosos 
das mais variadas procedências, a saber: (1) uma ideologia; (2) um partido único, tipicamente 
dirigido por um só homem; (3) uma polícia terrorista; (4) um monopólio de comunicações; (5) um 
monopólio de armamentos e (6) uma economia centralizada (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 
1965[1956], p.18). 
A primeira característica, a ideologia oficial, consiste em uma doutrina que “abrange 
todos os aspectos vitais da existência humana e que todos os membros da sociedade devem adotar, 
pelo menos passivamente” (FRIEDRICH; ZBIGNIEW, 1965[1956], p.22). Essa ideologia rejeita, 
radicalmente, a sociedade pré-existente, ao mesmo tempo em que apresenta uma proposta para a 
sua transformação, a partir de um novo ideal. As ideologias totalitárias conhecidas apoiam-se em 
“leis” inexoráveis, da história (no caso do stalinismo) ou da biologia (no caso do nazismo). 
A segunda característica trata da existência de um Partido único de massa, acima da 
máquina burocrática governamental, dirigido tipicamente por um “ditador” e organizado de modo 
fortemente hierárquico8. Embora composto por uma pequena parte da população total – 
geralmente, por cerca de 10 por cento desta –, o Partido “contém um núcleo ativista apaixonado e 
irrestritamente dedicado à ideologia e disposto a auxiliar de todos os modos a promoção de sua 
aceitação geral” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], p.19). O Partido, portanto, constitui-
se como o “esteio principal” do regime totalitário: “sem o apoio de seu Partido, o ditador seria 
inconcebível” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], p.42)9. 
 
7 Conforme destaca Peter Baehr (2005, p.2344), em Totalitarianism, publicado em 1954, Carl J. Friedrich apontou 
cinco elementos básicos dos regimes totalitários. Em 1956, em colaboração com Zbigniew K. Brzezinski, ele 
adicionou um sexto elemento à sua caracterização desses regimes. 
8 Conforme destacam Friedrich e Zbigniew, embora o conjunto de prosélitos de um líder totalitário seja chamado 
Partido, a palavra “partido” tem, nesse contexto, um uso bastante diferente daquele observado em contextos 
constitucionais: os movimentos totalitários não “aliciam” seus membros livremente; além disso, não existe 
democracia no interior de tais movimentos, pois os seus membros “estão sujeitos a uma direção autocrática em 
questões de política, e a um controle hierárquico em questões de liderança” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 
1965[1956], pp.31-2). 
9 Na Alemanha nazista, na Itália fascista e na Rússia stalinista, por exemplo, o líder dos regimes detinha poder absoluto 
sobre o Partido e a sociedade: “As evidências dos documentos mostram que Hitler e Mussolini eram os verdadeiros 
governantes de seus países. Suas opiniões eram decisivas e o poder que detinham era “absoluto”, em um grau talvez 
maior que nunca. [...] Quanto a Stalin, hoje dispomos de provas semelhantes” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 
1965[1956], p.23). 
 
4 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
Após tomar o poder, o movimento totalitário procura estender o seu controle a todos os 
âmbitos da sociedade; com isso, a palavra reforma torna-se “a palavra de ordem” e os movimentos 
de oposição a essa reforma são impedidos pela organização de “um terror total, que eventualmente 
atinge todos os cidadãos” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], p.122-3). Assim, a terceira 
característica definidora do totalitarismo diz respeito a um sistema de terrorismo policial que apoia 
e, ao mesmo tempo, controla o partido. Um terror que se dirige não apenas contra os “inimigos 
objetivos” do regime, mas também contra as classes arbitrariamente selecionadas da população. 
Conforme destacam os autores, o terror totalitário parece aumentar em violência à medida que o 
sistema totalitário se estabiliza. Inicialmente, quando do estabelecimento do regime, o terror 
dirige-se, unicamente, aos inimigos objetivos; posteriormente, contudo, o terror se volta contra 
parcelas mais abrangentes da população. Portanto, o terror comporia um aspecto crucial do 
totalitarismo moderno, justamente por seu carácter de penetração e continuidade. 
No período inicial após a tomada do poder, a maior energia da máquina de terror 
dirige-se contra os inimigos óbvios (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], 
p.12). 
Somente quando esses inimigos são destruídos é que a espada do regime se volta 
contra as massas; somente então é que o terror em massa se desenvolve 
gradualmente (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], p.128). 
A liquidação dos inimigos exige uma elaborada máquina terrorista e a potencialidade 
dessa máquina é amplificada pelo monopólio quase total, por parte do Partido, “[d]os meios de 
comunicação de massa, tais como a impressa, o rádio e o cinema” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 
1965[1956], p.19). Na sequência, o monopólio dos meios de comunicação de massa, o quarto 
aspecto básico dos regimes totalitários, constitui uma das características mais notáveis das 
ditaduras totalitárias. Esse monopólio confere extrema importância ao regime, por permitir a ampla 
difusão da propaganda totalitária (sua ideologia), a qual, por sua vez, serve para reforçar o terror, 
criando uma “população de milhões de pessoas que pensam e falam da mesma maneira” 
(FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], p.153). Adotando uma perspectiva bastante literal, a 
eficiência dessa prática terrorista está em seus efeitos de desumanização dos indivíduos, 
“privando-os de pensar e julgar independentemente” (FRIEDRICH;BRZEZINSKI, 1965[1956], 
p.111). 
Por relacionar-se essencialmente à ação, a propaganda visa fazer com que as pessoas 
façam ou não certas coisas. No contexto dos regimes totalitários, portanto, a propaganda visa 
manter no poder o Partido totalitário. Uma vez que o terror reforça o monopólio das comunicações 
de massa e, inversamente, adquire a sua qualidade onipresente justamente por ser difundido por 
meio de uma contínua repetição da propaganda totalitária oficial, essa ligação entre a propaganda 
5 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
e o terror é o que distingue os regimes totalitários “de todos os fenômenos semelhantes nos 
sistemas de governo não totalitários” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], p.101). Isso 
demonstra que a atmosfera peculiar da ditadura totalitária é composta por dois fenômenos 
intimamente relacionados: a propaganda e o terror. 
A quinta e a sexta características dos regimes totalitários, apontadas por Friedrich e 
Brzezinski, referem-se, respectivamente, ao monopólio quase total de todos os instrumentos do 
combate armado e ao controle centralizado de toda a economia através da coordenação 
burocrática de suas unidades produtivas. Conforme destaca Martin Kitchen (1985, p.27), a 
realização desses últimos aspectos depende, em grande parte, da existência de uma sociedade que 
se desenvolveu a partir de um elevado grau de proficiência técnica. 
Segundo Dominique Morin (2005), embora o modelo teórico proposto por Friedrich e 
Brzezinski forneça uma caracterização adequada dos regimes totalitários, ele não se presta à 
compreensão da dinâmica global do totalitarismo e, além disso, pouco auxilia na compreensão de 
suas origens. Conforme destaca Traverso (2001), essa suposta deficiência poderia ser explicada a 
partir do método e dos objetivos de pesquisa dos autores, que não estudaram os regimes totalitários 
“como formações históricas, mas como sistemas” (TRAVERSO, 2001, p.105, grifos do autor). De 
fato, ainda no prefácio da obra, Friedrich e Brzezinski afastam de seus objetivos a tentativa de 
explicar as causas do aparecimento dessa nova forma política. Ainda assim, uma análise político-
institucional do totalitarismo, tal como a apresentada por Friedrich e Brzezinski – que interpreta o 
fenômeno a partir de uma matriz estática, projetada para capturar o totalitarismo em seu estado 
mais extremo – pode ser substituída ou, no mínimo, confrontada com uma abordagem mais 
dinâmica, que enfatiza o movimento e a processualidade dos regimes totalitários (BRUNETEAU, 
2014; TRAVERSO, 2001). Esta, conforme veremos a seguir, estabelece a essência da 
interpretação apresentada por Hannah Arendt. 
Isolamento, ideologia e terror: o totalitarismo interpretado por Hannah Arendt (1951) 
Redigida entre os anos de 1945 e 1949 e publicada nos Estados Unidos, em 1951, a obra 
The Origins of Totalitarianism10, de Hannah Arendt, consiste em três partes: Antissemitismo, 
Imperialismo e Totalitarismo. Nesta obra, Arendt afirma a possibilidade de compreender o fato 
“de que fenômenos tão insignificantes e desprovidos de importância na política mundial como a 
 
10 Para fins de citação, consultaremos a tradução para língua portuguesa: As Origens do Totalitarismo (1998). 
6 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
questão judaica e o antissemitismo se transformaram em agente catalisador [...] da construção dos 
centros fabris de morte em massa” (ARENDT, 1998[1951], Prefácio, p.12). 
Ao contrário do que pode sugerir o título da obra, Arendt não tem por intenção descrever 
as “origens do totalitarismo”, no sentido de delimitar um conjunto de causas que teriam permitido 
a ocorrência do fenômeno totalitário ou que teriam permitido, consequentemente, a previsão de 
que tal fenômeno teria um lugar concreto na história da humanidade11. Conforme destaca Margaret 
Canovan (2000), “Arendt compreendia que um determinismo de tal tipo se encontra ausente dos 
assuntos humanos, que é a arena de novas ações e eventos imprevisíveis” (CANOVAN, 2000, 
p.30). 
Tal como Friedrich e Brzezinski (1956), Arendt (1951) compreende o totalitarismo como 
uma nova forma de dominação política, salientando o seu alto grau de penetração e mobilização 
da sociedade – algo sem precedentes, nos regimes políticos então conhecidos. Além disso, a 
interpretação de Arendt também identifica a ideologia e o terror como aspectos centrais dos 
regimes totalitários. Contudo, “essas similaridades gerais escondem mais coisas do que revelam”, 
pois, diante das diferentes expressões totalitárias do século XX, Arendt tem como foco principal 
o nazismo e, particularmente, o holocausto (CANOVAN, 2000, p.26). 
Ao contrário de Friedrich e Brzezinski (1956), que descrevem como totalitários o nazismo 
alemão, o stalinismo russo, o fascismo italiano, o regime comunista chinês e os regimes 
comunistas do Leste Europeu, Arendt (1951) considera como expressões do totalitarismo apenas 
a Alemanha hitlerista e a Rússia stalinista. De acordo com Nicos Poulantzas (1974), a distinção 
imposta por Arendt seria falsa e arbitrária e se basearia, unicamente, no número de vítimas de cada 
um desses regimes, o que a teria levado a afirmar que os regimes ditatoriais, perpetrados na Itália 
e em outros países europeus, teriam sido ditaduras não-totalitárias. Contudo, para além do número 
de vítimas em cada regime, a restrição de Arendt quanto à aplicação do conceito totalitarismo 
parece se pautar em dois pontos: primeiro, na constatação de que os regimes verdadeiramente 
totalitários visam ao estabelecimento de uma espécie de “domínio mundial”; segundo, porque tais 
regimes se utilizam da instituição dos campos de concentração para o exercício desse domínio 
totalitário. 
 
11 Esse ponto é enfatizado, pela própria Arendt, em um dos seus ensaios sobre o tema: “Escrevi não uma história do 
totalitarismo, e sim uma análise em termos históricos. [...] O livro não trata de fato das ‘origens’ do totalitarismo – 
como infelizmente anuncia o título –, mas apresenta uma exposição histórica dos elementos que se cristalizaram no 
totalitarismo” (ARENDT, 2008, pp.418-9). 
7 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
Arendt aponta a “conspiração totalitária contra o mundo não-totalitário”, ou, em outras 
palavras, “a pretensão do domínio mundial” (ARENDT, 1998[1951], p.487) como a principal 
aspiração dos regimes totalitários. 
A luta pelo domínio total de toda a população da terra, a eliminação de toda a 
realidade rival não-totalitária, eis a tônica dos regimes totalitários; se não lutarem 
pelo domínio global como objetivo último, correm o sério risco de perder todo o 
poder que porventura tenham conquistado (ARENDT, 1998[1951], p.442)12 
Hitler, por exemplo, visava à construção de um “império mundial ariano” (ARENDT, 
1998[1951], p.462). Mas, uma vez que, segundo sua leitura, esse domínio mundial parecia 
impossível à Itália fascista – e, além disso, longe das pretensões daquele regime –, Arendt não 
emprega o rótulo totalitarismo para se referir à ditadura fascista. 
Contudo, a visão de que a Itália fascista não teria condições materiais para o 
estabelecimento de um domínio mundial é alvo de controversas. Traverso(2001), por exemplo, 
afirma que, de fato, esse elemento de dominação mundial estava ausente das pretensões e do 
poderio da Itália fascista. Em direção oposta, Friedrich e Brzezinski notam que os fascistas 
italianos tentaram propagar a ideologia totalitária em outros países como, por exemplo, nos 
Estados Unidos. Além disso, eles afirmam que “as ditaduras fascistas [incluindo, sobre este rótulo, 
o nazismo alemão e o fascismo italiano] e comunista são basicamente iguais”, e que “o 
totalitarismo italiano foi, com muita frequência, interpretado erradamente como mera forma 
coercitiva”, enquanto que, na verdade, é clara a semelhança e a “ênfase na ideologia”, nos regimes 
desenvolvidos na Alemanha, Itália e Rússia (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], pp.15-21). 
Desse modo, talvez o segundo ponto destacado por Arendt explique – ou sustente –, de 
forma mais clara, a sua restrição na aplicação do termo totalitarismo, à Itália de Mussolini. 
Conforme destaca Calvet de Magalhães (2001), em seu “Projeto de pesquisa sobre os campos de 
concentração”13, redigido em 1948, Arendt já havia afirmado que o totalitarismo é um tipo de 
governo fundado nos campos de concentração. Arendt mantém esta posição em As Origens do 
Totalitarismo, onde afirma que “os campos de concentração são a instituição que caracteriza mais 
especificamente o governo totalitário” (ARENDT, 1998[1951], p.491). Por conseguinte, podemos 
concluir que, a partir dessa interpretação do totalitarismo - entendido como um regime que depende 
da existência da ameaça extrema do terror e, como consequência, da existência dos campos de 
 
12 Em uma aparente concordância teórica, Friedrich e Brzezinski afirmam que é “a vontade de conquistar o mundo 
que anima os sistemas totalitários” (FRIEDRICH; BRZEZINSKI, 1965[1956], pp.64-5). 
13 Hannah Arendt, “Projet de recherche sur les camps de concentration”, La nature du totalitarisme, Paris: Payot, 1990, 
pp. 171-178. 
8 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
concentração - Arendt restringe o uso do termo totalitarismo, utilizando-o, portanto, para se referir 
apenas aos regimes políticos que tiveram lugar na Alemanhã nazista e na Rússia stalinista. 
Conforme destaca Arendt, o fenômeno totalitário mostra que o inferno atroz “pode ser 
fabricado aqui na terra” (ARENDT, 1998[1951], p.497). Com esta afirmação, Arendt salienta que 
um sistema ou regime político é dito “total” somente em seu sentido negativo, isto é, pelo fato do 
partido governante não tolerar outros partidos, nem oposição, nem admitir a liberdade de opinião 
política. Isto é, nos regimes totalitários, toda a população é vista como potencialmente suspeita 
e/ou inimiga e a ameaça do terror é generalizada, atingindo, inclusive, aqueles “cidadãos 
inofensivos e carentes de opiniões políticas” (ARENDT, 1998[1951], p.471). 
O fim do sistema totalitário é destruir os direitos civis de toda a população [...]. 
E isso não se aplica apenas àquelas categorias especiais, como os criminosos, os 
oponentes políticos, os judeus, os homossexuais [...], mas a qualquer habitante do 
Estado totalitário” (ARENDT, 1998[1951], p. 502). 
Os movimentos totalitários se diferem de outros movimentos, por exigirem dos 
indivíduos lealdade total e incondicional. Uma vez que o poder ilimitado e a lealdade total apenas 
são alcançados “se literalmente todos os homens, sem exceção, forem totalmente dominados em 
todos os aspectos da vida” (ARENDT, 1998[1951], p.507), o movimento totalitário não se limita 
a restringir, ou a destruir, as capacidades políticas dos indivíduos, como fazem os regimes 
tirânicos, despóticos ou ditatoriais, mas tende, também, a cercear os indivíduos de todas as suas 
relações sociais e privadas. Assim, destaca Arendt, o movimento totalitário persegue “a 
transformação da própria natureza humana” (ARENDT, 1998[1951], p.492) e, para executar essa 
transformação, produz uma sociedade massificada totalmente predisposta às ideologias veiculadas 
pelo regime. 
De forma bastante literal, Arendt define uma ideologia como “a lógica de uma ideia”, isto 
é, como o funcionamento de uma teoria que se apresenta conhecedora de todos os mistérios do 
processo histórico, “de modo que o que quer que aconteça, acontece segundo a lógica de uma 
ideia” (ARENDT, 1998[1951], p.521). As massas são convencidas dessa ideologia por meio da 
propaganda; mais precisamente, tanto pelas ameaças diretas e crimes perpetrados contra os 
indivíduos, quanto “por insinuações indiretas, veladas e ameaçadoras”, seguidas de assassinato em 
massa contra todos aqueles que não derem ouvidos aos ensinamentos totalitários - tanto os 
“culpados”, quanto os “inocentes”. Nesse âmbito, diz Arendt, a mais eficaz ficção da propaganda 
nazista foi a história de uma conspiração mundial judaica, a qual teria possibilitado a execução de 
um plano de destruição dessa população. 
9 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
Se a ideologia constitui-se como o mais importante instrumento do totalitarismo (o seu 
princípio de ação), o terror constitui a sua essência. Isso significa, sobretudo, que o terror continua 
a ser empregado contra uma população já completamente subjugada, mesmo após a propaganda 
ter alcançado, com êxito, os seus objetivos de controle. Portanto, o terror deixa de ser meramente 
um modo de reprimir a oposição, embora ainda seja usado para tais fins. Ele serve para trazudir, 
na realidade, o mundo fictício da ideologia (STOPPINO, 1998). 
Essa tradução da ideologia para o mundo real se viabiliza pelos campos de concentrações 
– a intituição que, segundo Arendt, mais caracteriza os governos totalitários. O verdadeiro horror 
dos campos de concentração “reside no fato de que os internos, mesmo que consigam manter-se 
vivos, estão mais isolados do mundo dos vivos do que se tivessem morrido” (ARENDT, 
1998[1951], p.493). Esse horror, destaca Arendt, tem seu início desde o transporte para o 
confinamento nos campos e se finda apenas quando, para êxito do regime, os sujeitos têm a sua 
singularidade extirpada, ao serem destruídos todos os vestígios do que comumente chamamos de 
dignidade humana: 
As maneiras de lidar com essa singularidade da pessoa humana são muitas [...] 
Começam com as monstruosas condições dos transportes a caminho do campo, 
onde centenas de seres humanos amontoam-se num vagão de gado, 
completamente nus, colados uns aos outros, e são transportados de uma estação 
para outra, de desvio a desvio, dia após dia; continuam quando chegam ao campo: 
o choque bem organizado das primeiras horas, a raspagem dos cabelos, as 
grotescas roupas do campo; e terminam nas torturas inteiramente inimagináveis, 
dosadas de modo a não matar o corpo ou, pelo menos, não matá-lo rapidamente. 
O objetivo desses métodos, em qualquer caso, é manipular o corpo humano – 
com as suas infinitas possibilidades de dor – de forma a fazê-lo destruir a pessoa 
humana (ARENDT, 1998[1951], p.504). 
Desse modo, os campos de concentração servem não somente à criação de um contexto 
de radical isolamento da esfera política, mas, sobretudo, à promoção de uma insuperável solidão: 
um sentimento de não pertencimento ao mundo, que “é uma das mais radicais e desesperadas 
experiências que o ser humano pode ter” (ARENDT, 1998[1951], p.527)14. Promovido esse 
sentimento, diz Arendt, “nada resta senão horríveis marionetes com rostos de homem” [...], todos 
reagindocom perfeita previsibilidade, mesmo quando marcham para a morte” (ARENDT, 
1998[1951], p.506). 
 
14 Conforme esclarece Arendt, o isolamento seria uma reclusão na esfera política, enquanto que a solidão se refere à 
vida social (ou à vida humana, como um todo). Como se nota, isolamento e solidão seriam processos (ou 
sentimentos) bastante distintos: “Posso estar isolado – isto é, numa situação em que não posso agir porque não há 
ninguém para agir comigo – sem que esteja solitário; e posso estar solitário – isto é, numa situação em que, como 
pessoa, me sinto completamente abandonado por toda companhia humana – sem estar isolado” (ARENDT, 
1998[1951], p.527). 
10 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
Embora tenha começado a terceira parte de As Origens do Totalitarismo com uma 
suspeita perturbadora para qualquer modo de vida democrático, afirmando que pode ser um erro 
presumir que estejamos curados da ilusão totalitária, Arendt termina essa obra com uma conclusão 
um tanto surpreendente, tendo em vista o tom que animara todo o livro. Ao exaltar a “suprema 
capacidade” humana, a nossa liberdade, Arendt defende, de forma bastante esperançosa, a 
possibilidade de cada um de nós gestarmos, sempre, um novo começo (político) (ARENDT, 
1998[1951], p.531). Esta seria, talvez, a nossa maior garantia de enfrentamento a qualquer forma 
de vida política não democrática. 
Considerações Finais 
Arendt e Friedrich-Brzezinski compreenderam os regimes totalitários como imensamente 
assustadores e sem precedentes históricos. Ambas as interpretações apontam o totalitarismo como 
uma nova forma de dominação política, sobretudo por seu alto grau de penetração e de 
mobilização, algo sem precedentes nos regimes ditatoriais, ou despóticos, do passado. Esta seria a 
maior aproximação entre essas duas formas de pensar os regimes totalitários que assolaram o nosso 
último século. Além disso, ambas as interpretações concordam na identificação de três aspectos 
centrais do totalitarismo: uma ideologia oficial, um sistema de terror e um Partido único de massa. 
Nessa direção, as características incomuns às duas descrições (a política secreta acrescentada a 
este elenco por Arendt; os monopólios dos meios de comunicação e dos instrumentos de violência, 
bem como a centralidade econômica, listados por Friedrich-Brzezinski) podem ser consideradas 
como especificações posteriores, que não afetam a caracterização central desses regimes. 
Contudo, existem também diferenças notáveis nas duas interpretações. Primeiro, com 
relação ao escopo de aplicação do termo totalitarismo: Arendt, utilizando o conceito para se referir 
ao nazismo alemão e ao stalinismo russo; Friedrich e Brzezinski, por sua vez, identificando como 
totalitários também o regime fascista italiano, o regime comunista chinês e os regimes comunistas 
do Leste Europeu. Para além dessa diferença inicial, as duas interpretações apresentam, também, 
modos distintos de abordar o tema. Conforme destacamos, Friedrich e Brzezinski buscaram fixar 
os elementos constitutivos dos sistemas totalitários ou, como eles mesmos referem, o padrão de 
aspectos inter-relacionados da “síndrome totalitária”. Nesse sentido, eles não reconhecem nenhum 
fim essencial no Totalitarismo. Arendt, por sua vez, identifica como finalidade do totalitarismo – 
ou como garantia da dominação total – a transformação da natureza humana, a partir da tentativa 
de reduzir e limitar os serem humanos a um mero “feixe de reações” (ARENDT, 1998[1951], 
p.492). 
11 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
Apesar dessas diferenças notáveis, tanto Arendt quanto Friedrich e Brzezinski concordam 
que, em suas diferentes expressões, os regimes totalitários demonstraram a sua radical 
incompatibilidade com o político, por implicarem na eliminação da pluralidade de indivíduos e de 
formas de convívio no espaço público. 
Referências Bibliográficas 
ARENDT, Hannah; Compreender: formação, exílio e totalitarismo: ensaios (1930-1954). Belo 
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 490p. 
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 562p. 
(Original publicado em 1951). 
BAEHR, Peter. Totalitarianism. In: M. HOROWITZ (Ed.). New Dictionary of the History of 
Ideas, 6 volumes. N.Y.: Charles Scribner's Sons, 2005, pp.2343-2348. 
 BRUNETEAU, Bernard. Les vicissitudes scolaires d’une notion controversée: le(s) 
totalitarisme(s). Cahiers d’histoire. Revue d’histoire critique, 122, 2014, pp.91-99. 
CALVET DE MAGALHÃES, Theresa. A natureza do totalitarismo: o que é compreender o 
totalitarismo. In: AGUIAR, Odílio Alves (Org.). Origens do Totalitarismo - 50 Anos 
Depois. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001, pp.47-59. 
CANOVAN, Margaret. Arendt’s theory of totalitarianism: a reassessment. In: VILLA, Dana 
Richard. (Org.). The Cambridge Companion to Hannah Arendt. Cambridge, U.K.; New 
York: Cambridge University Press, 2000, pp.25-43. 
FRIEDRICH, Carl J. Totalitarianism: Proceedings of a Conference Held at the American 
Academy of Arts and Sciences, March 1953. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 
1954. 
FRIEDRICH, Carl J.; BRZEZINSKI, Zbigniew K. Totalitarian dictatorship and autocracy. 
2ed. rev. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1965. 439p. (Original publicado em 
1956). 
FRIEDRICH, Carl J.; BRZEZINSKI, Zbigniew K. Totalitarismo e autocracia. Tradução de 
Donaldson M. Garschagen. 3. ed. Rio de Janeiro: GRD, 1965. 298p. 
FUENTES, Juan Francisco. Totalitarismo, origen y evolución de un concepto clave. Revista de 
Estudios Políticos (Madrid), n.134, pp.195-218, 2006. 
GEYER, Michael; FITZPATRICK, Sheila. Introduction: After Totalitarianism – Stalinism and 
Nazism Compared. In: GEYER, Michael; FITZPATRICK, Sheila. (Eds.). Beyond 
Totalitarianism: Stalinism and Nazism Compared. Cambridge: Cambridge University 
Press, 2009, pp.1-40. 
KITCHEN, Martin. Fascism. Houndmills, Basingstoke, Hampshire, London: MACMILLAN 
PUBLISHERS LTD, 1985. 106p. (Original publicado em 1976). 
12 
 
 
GONÇALVES, A. C.; LIMA, A. M. Interpretações do totalitarismo: Hannah Arendt e Friedrich-Brzezinski. 
Clareira - Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017 (no Prelo). ISSN: 2359-1951. 
MORIN, Dominique. Gènese des totalitarismes ou les dérives de l’État moderne: la question 
wébérienne de la domination politique revisitée par Hannah Arendt. Aspects sociologiques, 
v.12, n.1, 2005, pp.59-93. 
MUSSOLINI, Benito; GENTILE, Giovanni. The Doctrine of Fascism. Translation of the 1932 
Enciclopedia Italiana essay "Doctrines" by Mussolini. Disponível em: 
http://www.worldfuturefund.org/wffmaster/Reading/Germany/mussolini.htm. Acesso em: 
10 de maio de 2016. 
POULANTZAS, Nicos. Fascism and Dictatorship: the third International and the Problem of 
Fascism. Thetford, Norfolk: Lowe & Brydone Printers Ltd, 1979. 366p. (Original publicado 
em 1974). 
STOPPINO, Mario. Totalitarismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, 
Gianfranco. (Eds.) Dicionário de política. 11.ed. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 
1998, pp.1247-1259. 
TRAVERSO, Enzo. El Totalitarismo. História de um debate. Buenos Aires: Eudeba, 2001. 
166p. 
TRAVERSO, Traverso. El Totalitarismo. Uso y abuso de un concepto. In: FORCADELL, Carlos; 
SABIO, Alberto (Eds.). Las Escalas del pasado, IV Congreso de Historia local de Aragon, 
Instituto de Estudios Altoaragoneses, 2005,pp.99-110.

Outros materiais