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Escola Classica

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Introdução
Em meados do século XVIII na Europa, o Direito era um instrumento gerador de privilégios, que permitia aos juízes, julgar os homens de acordo com sua condição social. A reforma dessa situação iniciou na metade desse mesmo século.
As correntes iluministas e humanitárias que tiveram como principais representantes Voltaire, Montesquieu e Rousseau, fazem severas críticas aos excessos na legislação penal da época, propondo a individualização da pena, à proporcionalidade e diminuição da crueldade.
Beccaria foi o primeiro a apresentar um delineamento consistente e lógico sobre uma teoria de cunho penológico. Dos Delitos e das Penas, constituindo-se no mais autêntico percursor da Escola Clássica.
No século XIX, surgiram inúmeras correntes de pensamento estruturadas de forma sistemática, que foram denominadas Escolas Penais, definidas como “o corpo orgânico de concepções contrapostas sobre a legitimidade do direito de punir, sobre a natureza do delito e sobre o fim das sanções”. 
Escola Clássica
A denominação Escola Clássica foi dada pelos positivistas, com conotação pejorativa.
Os postulados consagrados pelo Iluminismo serviram de fundamento básico para a nova doutrina, que representou a humanização das Ciências Penais.
Desse movimento filosófico resultaram duas teorias, como fundamentos distintos: de um lado, o jusnaturalismo, de Grócio, com sua ideia de um Direito natural, superior e resultante da própria natureza humana, imutável e eterno; de outro lado, o contratualismo, de Rousseau, sistematizado por Ficthte, e sua concepção de que o Estado, e por extensão a ordem jurídica, resulta de um grande e livre acordo entre os homens, que cedem parte dos seus direitos no interesse da ordem e segurança comuns. Representavam na verdade doutrinas opostas. No entanto, coincidiam no fundamental: na existência de um sistema de normas jurídicas anterior e superior ao Estado, contestando, dessa forma, a legitimidade da tirania estatal. Propugnavam pela restauração da dignidade humana e o direito do cidadão perante o Estado, fundamentando ambas, dessa forma, o individualismo, que acabaria inspirando o surgimento da Escola Clássica.
A teoria clássica do Contrato Social fundamenta-se em três pressupostos básicos: 1) postula um consenso entre os homens racionais acerca da moralidade e da imutabilidade da atual distribuição de bens. Esse é um dos pontos que originam distintas posições em relação aos afãs reformadores e reabilitadores da pena privativa de liberdade; 2) todo comportamento ilegal produzido em uma sociedade produto de um contrato social é essencialmente patológico e irracional, comportamento típico de pessoas que, por seus defeitos pessoais, não podem celebrar contratos. Com efeito, dentro da teoria clássica, essa patologia harmoniza-se melhor com irremediável imposição de uma sanção. 3) os teóricos do contrato social tinham um conhecimento especial dos critérios para determinar a racionalidade ou irracionalidade de um ato. 
Apesar da evolução liberal da Escola Clássica, a teoria do Contrato Social representou um marco ideológico adequado para a proteção da burguesia nascente, insistindo, acima de tudo, em recompensar a atividade proveitosa e castigar a prejudicial. 
Enfim, a Escola Clássica, tal como se desenvolveu na Itália, distinguiu-se em dois grandes períodos: a) teórico-filosófico – sob a influência do Iluminismo, de cunho nitidamente utilitarista, pretendeu adotar um Direito Penal fundamentado na necessidade social. Este período que iniciou com Beccaria, foi representado por Filangieri, Romagnosi e Carmignani; b) ético-juridico – numa segunda fase, período em que a metafísica jusnaturalista passa a dominar o Direito Penal, acentua-se a exigência ética de retribuição, representada pela sanção penal. Foram os principais expoentes desta fase Pelegrino Rossi, Francesco Carrara e Pessina.
Os dois maiores expoentes desta escola foram Beccaria e Carrara, se o primeiro foi o percursor do Direito Penal liberal, o segundo foi o criador da dogmática penal. Mas Carrara é quem simboliza a expressão definitiva da Escola Clássica, eternizando sua identificação como “Escola Clássica de Carrara”.
Carrara enunciava os princípios fundamentais da sua escola, como sendo, os seguintes: 1) crime é um ente jurídico porque sua essência deve consistir necessariamente na violação de um direito. 2) livre-arbítrio como fundamento. A responsabilidade penal somente é admissível quando estiver embasada na culpa moral do cidadão. 3) a pena como meio de tutela jurídica e retribuição da culpa moral. Como o crime tem sua essência na violação do direito, deverá ter como razão fundamental a tutela jurídica ou defesa do direito. 4) princípio da reserva legal. Uma ação converte-se em crime somente quando se choca com uma lei.
No mesmo período surge na Alemanha uma corrente preocupada com os problemas penais que distinguia-se pelo rigor meticuloso com que analisava todos os aspectos e pela tendência filosófica investigatória. Essa tendência facilitou o engajamento da filosofia geral ou jurídica, ganhando a extraordinária contribuição de Kant e Hegel.
É comum entre os penalistas a afirmação de que com Feuerbach autor do Tratado de Direito Penal, nasce a moderna ciência do Direito Penal na Alemanha. Feuerbach jusfilósofo iniciou na filosofia e depois dedicou-se ao Direito Penal. Tendo inicialmente se filiado a Kant, com seu imperativo categórico, libertou-se depois, entendendo que a pena não é uma medida retributiva, mas preventiva, elaborando sua famosa teoria da coação psicológica. A execução da pena nada mais é do que a concretização da ameaça.
O código Baváro, elaborado por Paul Johann Alselm Ritter Feuerbach, opunha-se à concepção instituída na Constitutio Criminalis Carolina, e em virtude disso, representou um dos Códigos mais característicos do direito penal Alemão.
Depois de Feuerbach a doutrina penal alemã se divide-se em três direções: Kant, Hegel e a corrente histórica do Direito.
Kant, opondo-se ao Iluminismo, reagiu contra o utilitarismo e concebeu a pena como um imperativo categórico, numa autêntica retribuição ética.
Hegel reelaborou a retribuição é tica de Kant, transformando-a em retribuição jurídica. Como o crime é a negação do direito, a pena é a negação do crime. Nesses termos, as duas negações devem ser iguais, para que a segunda anule a primeira.
A corrente histórica, sem distanciar-se das posições anteriores, mantendo a preocupação pelo estudo especulativo do Direito Penal, enriquece-o com a investigação e a fundamentação dogmática. O advento do Código Penal alemão de 1871 fortaleceu a exegese e a dogmática. A orientação mais importante desse dogmatismo é a conservadora histórico-positiva. Nessa corrente situou-se um dos mais eruditos penalistas alemães, Karl Binding. Para Binding a pena é direito e dever do Estado, na aplicação da pena deve ser considerado o fato e não o delinquente; mas a pena deve ser proporcional à culpabilidade. 
Foram os clássicos, sob o comando do insuperável Carrara, que começaram a construir a elaboração do exame analítico do crime, distinguindo os seus vários componentes. Esse processo lógico-formal utilizado pelos clássicos foi o ponto de partida para toda a construção dogmática da Teoria Geral do Delito, com grande destaque para a vontade culpável. 
A pena era, para os clássicos, uma medida repressiva, aflitiva e pessoal, que se aplicava ao autor de um fato delituoso que tivesse agido com capacidade de querer e de entender. Preocupada em preservar a soberania da lei e afastar qualquer tipo de arbítrio, limitava duramente os poderes do juiz, quase o transformando em mero executor legislativo.
O histórico do Código Zanardelli, de 1889, adotou as ideias fundamentais da Escola Clássica, constituindo-se num verdadeiro marco de “típica expressão de uma concepção liberal moderna que reconhecia a livre realização dos direitos individuais, mas sabia também tutelar a autoridade do Estado”.
Conclusão:A Escola Clássica sustenta a igualdade fundamental de todos os indivíduos honestos ou criminosos, afirmando que, exceto nos casos evidentes de loucura, embriaguez, surdo-mudez, hipnotismo, etc., os que cometem delitos de qualquer espécie são como todos os outros homens dotados de inteligência e de sentimentos normais. O criminoso é um ser normalmente constituído e psicologicamente são, provido de ideias e sentimentos iguais ao de todos os outros homens.
Segundo Beccaria, o que realmente importa é ver o fato ilícito e o dano.
A pena surge como um justo castigo. O mal que se padece pelo mal que se fez, com vontade livre e inteligência normal.
A pena não surge em nome de uma condenação social ou uma resposta da sociedade, mas para a satisfação da própria justiça. A pena é um remédio contra o crime. Surge com dois poderes: Retributivo porque a pena é uma resposta da justiça a uma violação legal.
Preventivo, porque a pena inibe, intimida o homem.
Bibliografia:
www.smithedantas.com.br/texto/ev_dir_penal.pdf - acesso em 03/10/14.
http://jus.com.br/artigos/932/evolucao-historica-do-direito-penal#ixzz3FYX17ynE - acesso em 03/10/14.
http://www.giacomolli.com/artigoDetalhe.asp?AID=6 - acesso em 03/10/14.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_penal - acesso em 03/10/14.
CEZAR ROBERTO BITENCOURT, Tratado de Direito Penal,10ª edição 2006.

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