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Francos: Merovíngios e Carolíngios

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Aula 4 - Francos: Merovíngios e Carolíngios
A região dos Gálias configura um dos últimos espaços conquistados pelos romanos. Seus limites são os Pirineus, na Península Ibéria; os Alpes, no norte da Itália; e o rio Elba, a leste. Esta foi a região que deu notoriedade ao conquistador Júlio Cesar. No século V, ocorre uma grande migração dos Hunos, que foram contidos por uma associação de Francos e Visigodos no território das Gálias. Uma vez tendo a vitória sobre os Hunos, ocorrem uma série de acordos entre romanos e esses grupos que os apoiaram, que seriam, ente os chamados de bárbaros, os mais importantes e significativos. Temos uma batalha importante, na altura da cidade Voiullé. Nessa batalha, os visigodos se retiram e ocupam a península ibérica, e o domínio Franco se estende do norte das Gálias até o litoral do mar do norte. É nesse domínio que eles são dialogar diretamente com os nossos povos que estão chegando: chamam atenção os Alamanos, os Saxões, os Turíngios e mais tarde, Normandos e Lombardos.
Este espaço das Gálias foi dominado definitivamente no século VI pelos Francos (hoje, França, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Suíça, etc.). Com o domínio carolíngio, há uma expansão desse território. São territórios dominados para além de Danúbio e que vão colocar o império carolíngio na fronteira do próprio império bizantino, cerca de três séculos depois. Os francos não são um grupo único, são uma confederação de grupos que vai tender a se aproximar, seja pela organização política, normalmente em torno de conselhos de Anciãos, seja pela estrutura, muitas vezes de negociação, uma vez que negociam em grupo com o próprio Império Romano. Durante o século IV, já com uma estrutura de batalha, esses grupos unem colisões diferentes e, em torno de uma figura que é escolhida, se direcionam para a batalha. Esse grupos são aqueles que entendemos como Francos e em torno deles é que temos o espaço, o domínio Franco vivendo uma certa romanização, ou seja, uma influencia romana sobre a estrutura Franca. Quando os Francos combatem e vencem Átila, eles estavam sendo utilizados como exército romano. Era o próprio poder romano representado nas figuras de generais francos. Os Francos têm uma negociação, uma proximidade com os poderes romanos, estabelecidos nas Gálias, não na cidade de Roma.
Childerico, teoricamente, é o primeiro monarca da dinastia Merovíngia (conforme Gregório de Tours, que escreve a historia dos Francos e que é a principal fonte que temos sobre a organização desse povo). É um bispo que, apesar de ter origem hispana, está inserido no reino Franco e vê o estabelecimento do domínio de uma tradição franca. Se deixar em aberto, os Francos são bárbaros dominando a região onde se construiu um cuidadoso arcabouço para demonstrar que eles alcançaram a verdadeira fé, e então, passam a pertencer a civitas, aquilo que mais tarde entenderemos como ser civilizado. Se dá legitimidade ao poder, aquele reino existe e, tal qual o imperador romano, foi escolhido por Deus (Como Gregório de Tours escreve). Nessa época não podemos usar o termo “povo”, mas “aristocracia”, tanto de origem galo-romana presente anteriormente na região, como a aristocracia Franca, que dá uma liga para eles se organizarem. Quando o poder esta legitimado, tudo fica mais fácil. A mensagem chega pelos bispos à população mais simples. A religião é a do Gens, do grupo dos Francos (não povo). Gens Francorum é a hierarquia presente na organização franca, na qual havia um líder de uma região, e quem está em torno desse líder e da área que esse líder domina, o seguia, assim como restante do grupo. A partir do momento em que se tem a conversão, tem-se a clareza da mistura do grupo com a população local. O importante é a monarquia ser reconhecida. Temos claramente, uma organização franca, mas não temos a clareza de um reino Franco, como Gregório de Tours escreve em seu material. Ele vai caracterizar Childerico como um magisters-milito do próprio Império Romano, que vai ser sucedido por seu filho Clóvis, à frente do poder. E Clóvis vai ter o cuidado e vai ser marcado por estabelecer uma união político e militar dessa estruturação Franca. Teremos uma série de outras diferenças caindo frente ao governo de Clóvis. A vitória de Clóvis sobre os visigodos acaba sendo emblemática do poder militar do próprio Clóvis.
A partir de Clóvis, surge a preocupação em estabelecer uma série de leis de praticas de origem romana, para regular a vida social, tem-se uma aproximação muito clara com a Igreja. Ele não era seguidor de nenhuma linha cristã, ao inverso dos visigodos. Ele tem um momento simbólico que era, às vésperas da batalha contra os visigodos, fazer uma conversão pública. A conversão publica era ir até a cidade mais povoada, reunir os principais chefes militares e todos serem batizados publicamente. Isso não é um ato de fé, é um ato politico que dá a real possibilidade de fortalecimento da estrutura social local, um ato politico que nos permite entender que essa aproximação, essa busca em torno de Clóvis, faz com que a Igreja queira legitimar a figura do rei Franco. De bárbaro passa a se buscar uma origem, o primeiro grande rei medieval, que Clóvis defende ter origem divina. Dá-se um sentido à historia, transforma-se Clóvis em um rei legítimo, os Francos organizam um novo império Romano, menor, mas bem estruturado.
Clóvis, ao morrer, divide o reino entre seus quatro filhos. Não é possível imaginar uma sucessão política em que há divisões entre os sucessores, quebra-se a unidade. A busca de Clóvis sempre foi unir os Francos. Certamente, Tours apresenta fatos muito mais romanos do que os Francos, principalmente na sua estrutura. Tem uma série de práticas influenciadas pelo mundo romano, mas mantém também uma série de práticas e costumes localizados.
A primeira noção importante, antes da própria noção de partilha, é a relação de fidelidade “A relação é pessoal, uma vez jurado comigo, eu tenho responsabilidade com você e você tem responsabilidade comigo”. Não é uma relação de grupo, não é o reino, é uma série de conflitos, uma teia de relações. Os herdeiros se tornam senhores de uma determinada proporção, de um determinado palácio (moradia dos senhores, grandes centros, antigas áreas de dominus, senhores de terra. Espaço onde se tem, muitas vezes, o estacionamento de uma aristocracia, militar, de cobrança de impostos, uma área de pagamento) de um domínio. Falamos de um juramento de característica militar, uma partilha por regiões de domínio pela riqueza, não pelo tamanho territorial.
Quando se domina a Autrásia, mais ao norte, tem-se um território maior, por ser considerada uma região mais pobre do que o da Burgúndia, que é a mais próxima ao Mediterrâneo, o território é bem menor. Não há ideia de demarcação da fronteira, a não ser quando a fronteira é uma área rica. O monarca, no limite, é o senhor da Terra. Quando se organiza uma frente de batalha, muitas vezes a garantia com outro é de uma outra terra que será dominada e que vai ser dele. Quando o outro guerreia em nome dele, sabe que há um juramento que deve ser cumprido e, se o outro não voltar, seus herdeiros receberão. Essa noção é contraditória com o modelo de reino que a Igreja planta. O que se tem depois da chamada dinástica Merovingia, logo após Clóvis, são pelo menos três grandes reinos: Nêustria, Austrásia e Burgúndia. Três grandes reinos que muitas vezes entram em conflito, se aproximam e que, apesar de se reconhecerem como Francos, na prática, estão em plena disputa.
Com a chegada dos Francos, é preciso criar um diálogo entre o domínio militar e a população local, se não é impossível entender a criação de um governo. Os Francos, quando chegam, começam a se inserir dentro do modelo romano existente. As principais casas aristocratas francas vão ser grandes proprietários de terras, senhores de muitos homens com uma capacidade militar. Há vários desses centros, dentro do que é o reino Franco Clóvis consegue trazer para si essas múltiplas vertentes e, a partir das próprias vitoriasmilitares, garantir que novos grupos o apoiassem pela cessão de novas terras. Mas ainda que esses grupos francos o apoiassem, era o bispo que ia fazer a população local se aproximar. O bispo era alguém de alta hierarquia dentro daquela região, ele não vai ser ouvido por ser bispo, necessariamente, ele vai ser ouvido por ser um senhor de terras. Ele representa a autoridade regional, ele representa o diálogo com os grupos locais.
Quando falamos em legitimação, a partir do momento que temos essa aristocracia local, Franca, está sendo construída uma nova aliança, um novo modelo. Esse modelo será Franco-Galo ou Franco-Romano. O papel da Igreja nesse novo reino é ser o interlocutor para falar com o restante da população. O poder político vai ter que garantir a legitimidade da Igreja, para que o bispo seja reconhecido como autoridade e legitime o Rei, começando a conversar com a aristocracia. A Igreja representava não só a Igreja representava a elite local, e era responsável pelo diálogo com essas novas elites militares, para que se possa construir uma nova política, um novo reino fora do mundo romano. Esse regnum (diferente da noção de reino, nação ou estado. Tem relação com a construção de um grupo que se reconhece como pertencente e seguindo a mesma liderança, sem ter o claro estabelecimento de fronteiras.) vai ser uma mistura romana e franca. A relação principal está na fidelidade, na relação pessoal. Para resolver isso, a Igreja dá legitimidade ao juramento da fidelidade, que é feito na presença do bispo. 
A Igreja se apoia no poder local e esse poder, para aumentar sua legitimidade com a população local, se aproxima da Igreja. Esta, por sua vez, por conta da tradição romana, representa uma intelectual local muito forte, muito importante. É uma troca de legitimidade. Todo processo é vido, as tradições são misturadas, mais do que isso, a partir do momento em que a Igreja se torna um foco importante de poder ela não é só um poder local, ela começa a receber uma série de bispos francos naquele primeiro momento. Depois ela vem se tornando um conjunto homogêneo, nunca como uma homogeinidade total, mas bem próxima do que tinha anteriormente no império romano. Quando se estuda a formação do Islão, em especial o momento da sua expansão político-militar durante a dinastia dos Omídias, notamos que as principais áreas ocidentais de conquista estão no entorno do Mediterrâneo. Os territórios de tradição romana como Norte da Afríca, sul da Itália e parte da Península Ibérica são agora domínios islâmicos. Segundo Pirene, durante este período o mundo teria presenciado um processo de interiorização da política europeia e um abandono do Mediterrâneo. Neste sentido, por exemplo, o eixo de poder no mundo Franco teria abandonado a cidade de Arlés e Tolouse, passando a se concentrar em Paris. Não precisamos acreditar plenamente na proposição de que Pirene defende que este aspecto se dá pela impossibilidade de comercialização no Mediterrâneo, pois com um estudo um pouco mais aprofundado notamos que comércio europeu medieval mediterrâneo não foi extinto, continuou a ser feito tendo entre seus agentes mulçumanos, judeus e cristãos.
Lembrando do Contexto no Século VIII
Reino Visigodo ( foi dominado e vencido pelo Islão, tornando-se a partir de 711 parte do domínio Omíada. Ao Norte, região montanhosa, é organizado um reino cristão independente, conhecido como Reino das Astúrias. 
Reino Ostrogodo ( vencido por Justiniano ao sul e no século VII vê a chegada de um novo grupo que se estabelece ao norte, chamado de Lombardos. Estes, não romanizados e provenientes do norte da Europa, ocupam e estabelecem micro-reinos autônomos no norte da Península Itálica.
Reino Franco ( Nos discursos aparece como um reino, mas a forma de organizar o poder da dinastia merovíngia garante uma contínua fragmentação, ainda que na sua divisão entre reinos, todos trazem no discurso de afirmação o pertencimento a dinastia dos Merovíngios.
Ilhas Britânicas ( Temos a divisão do sul em reinos diversos, alguns de Anglos, outros de Saxões e mais ao norte reinos tidos como romanos. Tem uma relação, em especial entre os saxões, direta com o domínio merovíngio no norte da Europa.
A Reorganização Franca
Para entender os próximos eventos que marcaram os séculos VIII e IX, precisamos novamente visitar a Península Ibérica. A organização árabe-islâmica na península em cerca de 723, organiza um emirado (reino), que dentro das dinâmicas regionais começa a ter novas pretensões dentro do espaço europeu. Neste sentido, o emir de Córdoba começa a reunir tropas no Magreb (atual Marrocos), com objetivo de se lançar as terras além dos Pirineus (limite entre Península e o restante do continente). Lembremos que estamos na Idade Média, e não naquela idealizada. Não temos exércitos profissionais de monarcas, quando falamos em convocações nos referimos ao um pequeno corpo de especialistas e uma grande massa de camponeses que se apresentam para a guerra. Tal qual, não podemos falar em uma organização franca, não temos essa centralidade, de fato os Merovígios têm grande áreas de domínio, mas dependem dos chamados mordomos, os senhores ou administradores do castelo (não usa a imagem do castelo medieval, mas lembra que isso foi reformado, embelezado, eram casa mais simples que os castelos fortificados do século XI).
Afirmar que aos Merovíngios não tinham uma organização central não é afirmar, no entanto que não estavam envoltos no mesmo medo, e naquele momento o exército islâmico era um temor em especial para a região da Aquitânia, fronteiriça aos Pirineus. Para entender o momento podemos centrar nosso olhar para um importante grupo desta região. Uma família de mordomos, que é diretamente relacionada ao espaço da Nêustria, e que mais serão chamados de Carolíngios. Esse grupo primeiro terá uma série de desventuras, quando Pepino I e depois Carlos Martel serão acusados de traição, de não cumprirem seu papel como senhores do castelo. Condenados ao desterro, sua redenção surgirá quando são requisitados na região da Aquitânia para liderar os novos ataques do mundo islâmico organizados pelos supracitados califas de Córdoba. Neste combate, Carlos Martel assume a liderança dos mordomos da região e estabelecerá uma encarniçada resistência ao poderio árabe-islâmico.
Notamos que é uma batalha de cunho simbólico poderoso, não à toa, inverte as condições de disputa de poder no reino franco, passando os Merovíngios agora a serem constantemente contestados. O chefe militar vai tender a receber, a partir do momento em que vence uma importante disputa, uma aclamação, isso porque ele via reunir em torno dele um exército vitorioso e prestigiado, ele terá novos homens interessados em se juntar a ele. A partir do momento em que ele se torna o grande vitorioso, é aclamado Dominus, Senhor da Aquitânia, este é o marco inicial de uma dinastia carolíngia. O filho de Carlos Martel, Pepino III, ou o Breve, ao assumir o poder consegue criar um forte movimento de contestação aos monarcas de Austrásia e Neustria. Ele afirma os merovíngios como os verdadeiros traidores, porque não apoiaram a batalha que era considerada a mais difícil, contra o inimigo mais temido. Neste momento abre-se a possibilidade do questionamento do juramento de fidelidade. Pepino articula formas de seu poder ser reconhecido, chegando a ser considerado legítimo pelo bispo de Roma, uma das mais importantes aclamações naquele momento, como defensor da cristandade. Observação Importante: O Juramento de Fidelidade é uma das estruturas fundamentais na organização política dos reinos germânicos. Sua tradição estabelece a relação entre os homens, as tropas, o direito sobre as terras. Ele é a base para entender como um grupo ascende e despenca do poder. Ele é um dos fundamentos que nos permitirão entender o feudalismo no espaço europeu. Pepino, no sentido de buscar legitimação, vai ser coroado em Roma rei Franco e defensor da Cristandade, já indicando seu filho Carlomano, ou como é mais conhecido no Ocidente, CarlosMagno, como sucessor. 
Carlos Magno
Carlos Magno foi uma figura heroicizada. Não podemos perder isto de vista. Quando começarem a procurar na internet, vão aparecer os maiores feitos, um sujeito que será lido de uma maneira idealizada e parcial. Não é este o Carlos Magno que procuramos. Nosso trabalho não quer e não vai construir uma história positivista, então precisamos entender as relações de poder envoltas e as praticas relacionadas à organização e expansão da dinastia carolíngia. Carlos Magno é lido como o responsável por trazer o ultimo suspiro do Império Romano. Acontece que o Império Romano não morre, politicamente há sua desestruturação de longa data e ausência geopolítica desde o século V., mas como sempre lembramos, a História é marcada por continuidades e rupturas e a ideia do Império Romano permanecerá por muitos séculos mais. Cada um vive no seu próprio contexto, utiliza os elementos, as práticas e as estruturas do seu próprio tempo e, com Carlos Magno, não é diferente. A pergunta é outra, por que essa transformação em herói? Para conseguir responder a esta questão, precisamos estudar o seu contexto.
Voltando à tese de Hanry Pirene, só existe Carlos Magno por conta do domínio mediterrânico, pois possibilitou o crescimento de regiões que economicamente eram pouco representativas, mudando o eixo comercial das práticas marítimas, para os centros de escoamento pluviais. Este crescimento da aristocracia no noroeste francês associado aos constructos simbólicos após a vitória sobre os árabes teriam possibilitado uma poderosa expansão dos Carolíngios. Carlos Magno chega ao poder em busca do direito às terras estabelecido por seu pai. No entanto, chega com o discurso de que a Aquitânia teria um território mais amplo do que o representado, utilizando negações ao juramento de fidelidade aos merovíngios. São então iniciados constantes conflitos dentro do mundo Franco. Constituindo em torno de si um grupo de especialistas, busca estabelecer novos sistemas de proteção e organização social. Se aproxima da Igreja local, como seu protetor legítimo junto aos nobres. Seu principio de distribuição de parte das terras conquistadas a seus aliados cria um movimento de guerra intenso. O comércio se torna cada vez mais especializado, mantém a redução dos seus volumes. No entanto, em torno das antigas estradas romanas cresce um comércio de produtos especiais, lucrativo e que passa a ser prova de status. Mas um forte problema teria que ser enfrentado, a falta de ouro (o dinheiro tinha o seu valor em si, uma moeda valia o seu peso em ouro). Carlos Magno, para resolver esta questão, cria o padrão da moeda de prata nas casas de fundição e uma métrica entre as moedas de ouro e prata, uma vez que a primeira era ainda trocada em grandes transações. A prata passa a ser a referencia, facilitando as transações menores ligadas às cabeças de gado, vinho e outros produtos que circulavam entre os rios, primeiro o Reno e mais tarde o Danúbio.
Apesar da prata, a moeda continua sendo esculpida, ora com símbolos cristãos, ora com a imagem de Carlos Magno em modelo próximo ao romano. Essa representação na moeda é uma forma de reconhecimento, de afirmação do poder. Afinal, as casas de fundição dos metais e o cotidiano de parte dos grupos sociais estariam se relacionando diretamente com a figura do novo Rei. Falamos em criação, afirmação de uma corte quando chegamos aos carolíngios. Não que houvesse cargos importantes, figuras que pertenciam a uma aristocracia dos grupos tratados como bárbaros. Mas boa parte dos cargos em um primeiro momento ou repetem as praticas romanas, ou têm nomenclaturas que vão e vem. Com os carolíngios, nos aproximamos das figuras que entendemos como corte, não mais como alguém do segmento social geral, mas uma figura que terá um vocativo, e indumentárias especiais como os antigos romanos, mas ao mesmo tempo será definido pelas características militares do seu domínio. Passaram a ter uma educação diferenciada, utiliza e ostenta produtos diferenciados, não à toa cresce o comércio de pedras africanas, de seda chinesa e peles do norte da Europa.
Os Militus ou milites senhores de guerra, grupos de especialistas em batalha passam a ser conhecidos, ainda que lentamente, como cavaleiros, os grandes senhores de terra, responsáveis por produção e por grandes contingentes que garantem o funcionamento do reino. Funcionários de corte, senhores de terras menores, responsáveis por funções principalmente administrativas são os barões, duque é o senhor das fronteiras, das terras que precisam ser constantemente vigiadas; assim como Marquês é o sujeito que deverá vigiar as fronteiras com o Islão, chamados assim por ocuparem um conjunto de terras chamado de maneira idealizada como Marca Hispânica. Esse sistema valoriza o juramento de fidelidade como elemento de coesão, mas ganha traços próprios com a ideia dos Mici e Dominici. Quando a máquina de guerra estruturada no governo de Carlos Magno pretende uma nova conquista, como por exemplo revidar o ataque de Lombardos em territórios ao sul, e de quebra se reassociar à Igreja reafirmado o seu papel de protetor da cristandade no fim do século VII, chama-se alguém de outra região, também jurado com Carlos Magno, prometendo vantagens e terrar maiores em caso de vitória no novo território. Ao mesmo tempo, envia-se um clérigo com a função de estabelecer um bispado, sendo assim a região passa a ter duas referencias políticas, sendo que nenhum dos dois tem legitimidade imediata na nova terra, pois seu apoio passa por Carlos Magno. Conquistado, o sistema de governo passará pela relação dos novos territórios e o domínio carolíngio. Os grupos que se rendem e juram fidelidade a Carlos Magno passam a ser potenciais Missi-Dominici de outra região conquista.
Da Confederação Carolíngia ao Império Carolíngio
Mas como esta política monárquica salta para alcançar o status de Império? Para entender este momento precisamos tratar da relação entre Carlos Magno e o Papado Romano. Com a expansão do islão para o sul da Península Itálica desde o século VIII, o fim deste mesmo século reserva uma outra ameaça à igreja romana: Lombardos. Os Lombardos passam a assediar, constantemente, as terras da Igreja. Este grupo proveniente da atual Dinamarca vai dominar completamente a região dos Alpes na segunda metade do século VIII, vencendo o que restava de estruturas Ostrogodas. Uma vez estabelecidos, a expansão de Carlos Magno chega aos limites dos territórios Lombardos, sem no entanto, serem deflagrados grandes conflitos. Neste momento, uma série de cartas vão chegando ao domínio carolíngio, nomeando Carlos Magno como protetor da Cristandade e exigindo ações. Em meados de 798, os conflitos entre Carolíngios e Lombardos são deflagrados garantindo a conquista de parte do território da península itálica. Neste momento a Igreja saca uma poderosa falsificação: A Doação de Constantino. Este documento, muito presente na iconografia medieval, dizia entre outras coisas que Constantino havia deixado um testamento que garantiria a Igreja como seu principal beneficiário, herdando as terras do entorno de Roma, e aquela que teria o direito de coroar Carlos Magno. E Leão III já tinha seu escolhido: Carlos Magno.
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