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HISTORIA DO DIREITO - Lei da Boa Razão de 18 de agosto de 1769

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Atividade de análise de fonte e ensaio acadêmico sobre: Lei da Boa Razão de 18 de agosto de 1769, executada pelo grupo de alunos abaixo qualificados como parte dos requisitos acadêmicos do Curso de História do Direito, das Instituições e do Pensamento Jurídico-Político IUF 216 da Professora Hanna Helena Sonkajärvi
Rio de Janeiro – Novembro de 2014
Alunos responsáveis pelas pesquisas e dissertações:
Alcimário Soares da Costa Júnior – 114183146
Isis Lucchesi Petereit – 114191872
Thaisa de Oliveira Santos – 113203799
SUMÁRIO:
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I Análise da fonte Lei da Boa Razão – Questionário 
II Ensaio da fonte Lei da Boa Razão 
Introdução 
Desenvolvimento 
Conclusão							 
Bibliografia							 
I – ANÁLISE DA FONTE – LEI DA BOA RAZÃO
1. Trata-se de qual tipo de fonte?
Lei, A Lei da Boa Razão de 18 de agosto de 1769, ancorada num ambiente iluminista e jusracionalista, buscou impor novos critérios de interpretação e integração das lacunas na lei das Ordenações Filipinas de 1603. Ao ser a Lei da Boa Razão, tenha a premissa de coibir e regular todas as questões e práticas que antes dela vinham sendo executadas.
2. Como a fonte foi transmitida?
A fonte foi transmitida a partir de uma carta decreto pelo monarca Dom José I a partir das ideias iluministas introduzidas por seu Secretaria de Estado Marques de Pombal, título dado pelo Monarca ao Senhor Sebastião José de Carvalho e Melo.
3. Qual é o estado físico da conservação da fonte?
Não é possível apresentar este aspecto visto não termos acesso ao documento original, somente as relatos e ensaios feitos sobre tal.
4. É possível determinar a autenticidade da fonte?
Sim, por ter sido um decreto lei, de uma fonte válida para, o promulgar e através dos relatos, artigos e ensaios feitos sobre a fonte apresentada, é possível determinar a sua autenticidade.
5. Quem/qual instancia é autor do texto?
O autor do Decreto Lei da Boa Razão pelo que constam os relatos é necessariamente o monarca Dom José I com auxílio de seu Secretaria de Estado Marques de Pombal. Em relação ao texto apresentado a nós como principal fonte de pesquisa é o pesquisador Antônio Delgado da Silva, qualificado como consta na bibliografia deste trabalho.
6. A quem o texto foi endereçado?
A Lei da Boa Razão promulgada foi endereça a todas as colônias sob o reinado de Portugal bem como para seu próprio território geográfico, bem como para com todos que detinham laços de conquista, navegação e comércio com a coroa portuguesa e para os seus operadores do Direito e todo o sistema jurídico e sociedade que em conformidade com os ideais racionais passavam a ser regulados por ela.
7. Quando e onde ele foi produzido?
Onde ela especificamente foi produzida é difícil de apresentar, pois para sua constituição demanda um fluxo de trabalho que não é possível distinguir entre seus escritos iniciais, debates e seções do sobre o tema. Podemos apresentar que a lei foi promulgada em 18 de agosto de 1769, no Palácio de Nossa Senhora da Ajuda tendo por chancelaria o Desembargador Doutor João Pacheco Pereira, tendo sido impressas cópias com o selo do reinado e remetidas aos tribunais, aos Magistrados e demais pessoas de interesse e conhecimento da questão. Foi registrada onde se registravam as leis a época e o original, seguiu para o Arquivo da Torre de Tombo Real.
8. Com qual intenção ele foi criado?
Com a intenção de coibir interpretações abusivas por parte de operadores do direito que se utilizavam do pluralismo jurídico apresentado até então, visto que visões muitas vezes dicotômicas estavam presentes por meio das interpretações das ordenações jurídicas ultrapassadas que haviam sido promulgadas em 1605 por Dom Manoel. Tinha a pretensão de coibir e regular os abusos ocorridos bem como trazer o poder monárquico novamente ao centro de decisão.
9. Qual é o conteúdo do texto?
Parágrafo 1 - Proíbe decisão judicial contra direito expresso, à época, as ordenações e as leis dos reinos e colônias dominados pelo poder monárquico de Portugal; Parágrafo 4 - Dá aos Assentos da Casa da Suplicação a autoridade máxima na interpretação do direito, enquanto jurisprudência, antecipação da súmula vinculante; Parágrafo 5 - Eleva os Assentos a categoria de leis, enquanto fonte normativa; Parágrafo 6 - Obriga os juízes recorrerem aos Assentos. Parágrafo 7 - Penaliza os advogados que se valem de interpretações enganosas maldosas e recursos meramente protelatórios; Parágrafo 8 - Confere competência máxima à Casa da Suplicação em Lisboa; Parágrafo 9 - Define o que é boa razão; Parágrafo 10 - Reforça as leis do reino com repulsa ao Direito Romano (Corpus Juris Civilis, de Justiniano); Parágrafo 11 - Confirma o rei como fonte interpretativa mais graduada; Parágrafo 12 - Proíbe o Direito Canônico no Tribunais Civis; Parágrafo13 - Proíbe o uso das glosas Medievais de Acúrsio e Bartholo e; Parágrafo 14- Manda observação dos costumes. 
10. Qual é a argumentação utilizada pelo autor?
Portugal passava por transformações na sua organização Estatal durante o reinado de Dom José I, a disputa burguesa e monarquia, onde por muitas vezes o déspota tinha seus poderes limitados e seus gastos controlados, ansiava por maior controle da sociedade, afastamento da dominação eclesiástica, superação do ensino escolástico e abertura aos ideais racionais através do iluminismo. Assim posto, a Lei de preâmbulo com forte presença do monarca com uso de verbos imperativos na primeira pessoa: mando, quero, faço. Acompanhado de catorze parágrafos e de sua parte final com ordens direcionadas para o comprimento de seu conteúdo per faz o caminho pretendido pelo monarca de regular a sociedade a sua vontade e de trazer novamente a tona, a presença de uma monarquia forte surgindo à figura em Portugal do déspota esclarecido.
11. Quais são as noções/definições utilizadas na fonte?
Com o crescente desejo pela razão e esclarecimento presente em boa parte da Europa introduzidas pelo pensamento iluminista, à percepção de atraso da sociedade portuguesa para com os países do mesmo território continental, a forte presença da Igreja no centro decisório e educacional, com um sistema jurídico plural propício a lacunas e interpretações abusivas por partes daquele que operavam o direito e o limitado poder monárquico. A coroa portuguesa percebeu o momento propício de mudar o rumo e reverter o processo, tudo isto como o esforço do Marques, assim as noções introduzidas naquela sociedade identificadas como revolução pombalina seguiram em: Organização racional da forma e do sistema jurídico e das instâncias de decisão, estipulando leis mais claras e diretas, organização dos processos e de todo o sistema, sanções e punições a manobras contra a boa razão, derrubada do pluralismo jurídico proibindo organizações das leis divergentes como direito romano, canônico, glosas medievais e ordenações ultrapassadas, educação jurídica voltada ao jusracionalismo e estipulando o monarca como instância superior para as decisões e processos em que as instâncias inferiores não tiverem condição de julgar. Por fim Que todos cumpram e guardem a Carta de Lei, criada pelo Rei, e que lhe façam dar mais observância sem embargo de outras quaisquer leis ou disposições que se oponham ao conteúdo. Sem embargo também de quaisquer opiniões de Doutores.
12. Qual foi o sentido dessas noções no contexto histórico em questão?
Com a forte atuação política do Marquês de Pombal, Portugal recebeu grande influência das correntes doutrinárias que estavam a construir a moldura político-jurídica da Europa moderna. Acreditando no poder da razão e na capacidade da lei para reformar a sociedade, surgiu a obra modernizadorade Pombal. A lei em questão surgiu durante a vigência das Ordenações Filipinas e se destaca com a mudança no sistema de fontes do direito português. A Lei da Boa Razão fez com que se abandonassem os textos de autoridade dos grandes juristas medievais. O que se buscava era o monopólio da edição do direito a favor da lei do soberano.
Com a forte atuação política do Marquês de Pombal, Portugal recebeu grande influência das correntes doutrinárias que estavam a construir a moldura político-jurídica da Europa moderna. Acreditando no poder da razão e na capacidade da lei para reformar a sociedade, surgiu a obra modernizadora de Pombal. A lei em questão surgiu durante a vigência das Ordenações Filipinas e se destaca com a mudança no sistema de fontes do direito português. A Lei da Boa Razão fez com que se abandonassem os textos de autoridade dos grandes juristas medievais. O que se buscava era o monopólio da edição do direito a favor da lei do soberano, sendo assim a Lei da Boa Razão foi o marco ou o traço inicial da introdução do estado absolutista português. Ela novou profundamente no Direito Português arcaico, percorrendo o rumo racionalista do humanismo. Rei e Razão agora as fontes do direito. No Direito Brasileiro proíbe o “non liquet”, exigindo soluções para todos os casos levados a juízo, ou seja, havendo lacuna ou omissão da lei o juiz decidirá de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito[1: “Non liquet” - expressão latina que significa “para mim, não está claro”. Esta alegação era feita pelosMagistrado, para justificar que não julgariam um determinado processo.]
II - ENSAIO DA FONTE – LEI DA BOA RAZÃO
1 - INTRODUÇÃO
Para, se fazer uma análise sobre a questão do pluralismo jurídico e os esforços que o Estado fazia para tentar reduzir esta pluralidade precisa-se em um primeiro momento entender de fato o que seria um pluralismo jurídico, quais os direitos que coexistiam, tal estes o direito comum, o direito canónico e os direitos dos reinos e a ambiguidade das ordens jurídicas. 
Vale ressalta que a visão medieval sobre o fundamento do direito era um dom gratuito de Deus, há uma flexibilidade jurídica e esta não sucedia apenas da pluralidade de ordens normativas, se tinha o direito como um meio termo entre o céu e o cotidiano, entre a religião e as normas jurídicas terrenas. Entender, por conseguinte a função e a estrutura do Estado em determinadas épocas. 
Os príncipes imitavam a graça de Deus, sendo vistos como os senhores da graça e tinham o poder de criar normas ou revogar as antigas, tornar normas existentes em normas ineficazes. Desta forma, a partir da leitura do texto “Lei da Boa Razão” de 1769, com a forte atuação política do Marquês de Pombal, Portugal que anteriormente usava o dogma eclesiástico, aderiu ao propósito do Renascimento que teve bastante influência das correntes doutrinarias que estava construindo um modelo político jurídico da Europa com o intuito de organizar a sociedade com normas que usasse a razão e não mais o teológico. Uma reforma na política, no social, cultural e econômico. 
A Lei da Boa Razão de 18 de agosto de 1769, ancorada num ambiente iluminista e jusracionalista, buscou impor novos critérios de interpretação e integração das lacunas na lei das Ordenações Filipinas de 1603.
2 - DESENVOLVIMENTO 
Ao ser promulgada em 18 de agosto de 1769, a Lei da Boa Razão, tenha a premissa de coibir e regular todas as questões e práticas que antes dela vinham sendo executadas. Sendo ela o mais importante documento legislativo português da época do Marques de Pombal, caracterizando assim suas ideias em relação à postura do Estado diante da aplicação do Direito.
A lei introduz a regulação ao processo judicial incluindo sanções aos advogados que de modo leviano e enganoso se utilizava das interpretações nos processos judicias da época. Em seu contexto, no tempo dos déspotas esclarecidos, Portugal passava por transformações na sua organização Estatal durante o reinado de Dom José I, sendo este a introduzir o Marques de Pombal como seu Secretário de Estado.
Consta a Lei de preâmbulo com forte presença do monarca com uso de verbos imperativos na primeira pessoa: mando, quero, faço. Acompanhado de mais catorze parágrafos e de sua parte final com ordens direcionadas para o comprimento de seu conteúdo. Seguindo a ordem:
A lei conta de um preâmbulo e introduz a regulação ao processo judicial incluindo sanções aos advogados que de modo leviano e enganoso se utilizavam das interpretações nos processos judicias da época. Contendo ainda catorze parágrafos com conteúdos relacionados ao processo judicial, as instâncias de decisão primária e superior, jurisprudência, as fontes normativas, penalizações as interpretações e manobras realizadas por advogados, repúdio ao direito romano. Proibição do direito canônico e as glosas medievais, define o que é boa razão e confirma o rei como fonte interpretativa superior. A partir da atuação politica do Marques de Pombal, grandes correntes doutrinárias passaram a influenciar Portugal, ou seja, o Estado Iluminista surgia com a organização político-jurídica advindo com a Europa Moderna, caracterizada pelo absolutismo político do monarca e pelas reformas política, social, cultural, econômica e religiosa, com o objetivo de reorganizar a sociedade em conformidade com normas racionais. 
Portugal que até então fechada no dogma eclesiástico da igreja, abnegada a tradição estabelecida da crença religiosa voltada para o servilismo, não havia até o momento experimentado o caminho do Renascimento, pois havia aderido à contrarreforma, deixando distância da modernidade científica e filosófica.
Marques de Pombal, sendo contrário às tradições e com pensamento laico, acreditando na razão e na lei para garantir as reformas necessária àquela sociedade, concebe para a reforma pombalina a Lei da Boa Razão, sendo o mais importante e transformador documento até então. Este documento, a lei, redefiniu a teoria das fontes do direito, como instrumento chave para a cultura jurídica brasileira do século XIX, com consequências ainda até a atualidade.
A introdução desta da Lei da Boa Razão, se deu durante a vigência das Ordenações Filipinas datada de 1603, objeto que até então regia o sistema de fontes do direito português que indicava que os conflitos deveriam ser julgados de acordo com as leis da época, ou seja, os atos dos príncipes e as Casa de Suplicação como tribunal de última instância.
Os casos que não eram previstos nestas ordenações, caso fossem matérias religiosas ou trouxesse discussão sobre pecado, eram analisadas pelo viés do Direito Canônico, casos contrários a este deveriam ter sua análise pelas leis imperiais, ou o direito romano. Não havendo possibilidades por estes viés ou na apresentação de lacunas, as glosas de Acúrsio ou as opiniões de Bártholo, comentadores do Corpus Iuris Civilis, que deveriam iluminar as questões. Por fim não havendo solução ao passar por todos estes vieses, deveria ser remetido ao rei que a partir de sua decisão se configurava como jurisprudência aos demais e semelhantes casos.
Este complicado e algumas vezes controversos fluxo do sistema e da ordenação de fontes do direito, o objeto principal de introdução da reforma apresentada por Pombal para ordenar os limites de aplicação subsidiaria do direito romano em Portugal, inclusive o deixando de lado para as questões e lacunas existentes e também a exclusão das visões apresentadas nos textos de Acúrsio e Bártholo. O conceito de “boa razão” que já era utilizado nas Ordenações Filipinas e até mesmo podendo ser observado no direito romano, ora minimizado, apresenta agora uma modificações significantes.
“... aquela boa razão, que consiste nos primitivos princípios, que contém verdades essenciais, intrínsecas, e inalteráveis, que a ética dos mesmos romanos havia estabelecido, e que os direitos divino e natural, formalizaram para servirem de regras morais e civis entre o cristianismo: ou aquela boa razão, que se funda nas outrasregras, que de universal consentimento estabeleceu o direito das gentes para a direção, e governo de todas as Nações civilizadas: ou aquela boa razão, que se estabelece nas leis políticas, econômicas, mercantis e marítimas que as mesmas nações cristãs têm promulgado com manifestas utilidades, do sossego público, do estabelecimento da reputação e do aumento dos cabedais dos povos, que com as disciplinas destas sábias, e proveitosas leis vivem felizes à sombra dos tronos, e debaixo dos auspícios dos seus respectivos monarcas, príncipes soberanos: sendo muito mais racionável, e muito mais coerente, que nestas interessantes matérias se recorra antes em casos de necessidade ao subsídio próximo das sobreditas leis das nações cristãs, iluminadas, e polidas, que com elas estão resplandecendo na boa, depurada, e sã jurisprudência; em muitas outras erudições úteis, e necessárias; e na felicidade; do que ir buscar sem boas razões, ou sem razão digna de atender-se, depois de mais de dezessete séculos o socorro às leis de uns gentios...". (MACIEL, 2008).[2: MACIEL, José Fábio Rodrigues. Jornal Carta Forense. 03 de junho de 2008.]
A reforma introduzida por Pombal fez presença na crítica do saber tradicional jurídico visando à organização através da lei formal agora positiva em detrimento ao livre decidir dos juízes bem como a separação do direito canônico, apresentando um ordenamento laico, reinterpretando o direito romano e introduzindo o racionalismo para a formação dos preceitos e conceitos jurídicos aos estudiosos do tema. 
O ensino jurídico até então arcaico e impregnado por questões morais religiosas passa a ser reformado pela Lei da Boa Razão, que ao rever e organizar todo sistema deixa de lado o direito canônico e os texto dos juristas medievais. O ensino jurídico passou a valorizar o jusracionalismo, focando no estudo das fontes. O que trouxe Portugal a partir das influencias iluministas, focando na renovação da ordem jurídica com o ordenamento racional do seu direito.
É possível perceber a partir da análise do texto principal que, a Lei da Boa Razão e dos textos complementares que a reforma introduzida pelo Marques de Pombal, foi o marco ou o traço inicial da introdução do estado absolutista português. Visto que no período o poder monárquico percebia redução pela ascensão da burguesia que a partir das tentativas de Portugal em se afastar e ter independência da Inglaterra, viu sua própria burguesia investir na manufatura e em estratégias mercantilista.
A nobreza percebia-se enquadrada no campo político com seus gastos com ostentação limitados, no meio religioso havia a época uma educação fortemente arraigada de princípios religiosos, majoritariamente o ensino era administrado pela Companhia de Jesus, Jesuítas que só com o seu banimento seria possível apresentar uma educação secularizada e regulamentada pelo rei em detrimento dos bispos.
No meio jurídico, aparecia à face mais visível das lutas de forças e concorrências à vontade e ao poder do monarca, podemos dizer que o pluralismo jurídico que se observava a época, por um lado era uma quebra de braço com o poder do rei e uma tentativa de o tê-lo diminuído ou limitado e por outro, a busca de ascensão de outras vozes que também se pretendiam como poder regulador na sociedade portuguesa.
A reação a partir da revolução pombalina trazia novamente os desejos do monarca para o centro das discussões e regulação da sociedade, dos seus funcionários e principalmente do seu sistema jurídico desde a formação dos bacharéis principalmente se apercebendo do ensino na Universidade de Coimbra, bem como na tentativa premente de enquadramento do corpo jurídico presente na sociedade os advogados, através das novas diretrizes da Lei da Boa Razão e do seu corpo jurídico das decisões. 
Assim sendo a analogia identificada como LEI por ter sido promulgada por uma instância válida, ou seja, com capacidade para propor e positivar a anterior proposta em lei efetiva, BOA por ter sido a favor dos poderes régios, monárquicos e absolutistas observados por Sebastião José de Carvalho e Melo o então elevado ao título de nobreza de Marques de Pombal e por fim, RAZÃO como sendo a razão do monarca ansioso em ter e ver seu poder, ora reduzido, sendo novamente soberano e absolutista na sociedade da época.
No Brasil, mesmo com a independência ocorrida em 1822, não se adotou prontamente a codificação civil. Ainda no início do século XX, o direito brasileiro era idêntico ao do século XVII (quando falar em direito brasileiro equivale a falar em direito português). Isto porque com a independência brasileira, promulgou-se na lei de 20 de outubro de 1823 que continuassem em vigor todas as Ordenações, leis e regimentos promulgados pelo rei de Portugal “enquanto se não organizar um novo código ou não forem especialmente alteradas”. Assim, houve um processo de continuidade da tradição jurídica portuguesa dos tempos coloniais por bastante tempo, tendo sido esta, marcada por uma vigência ininterrupta de um direito com marcas medievais. Mas é importante ressaltar que a aplicação do conteúdo da Lei da Boa Razão, auxiliada pelos novos estatutos universitários, gerou uma reforma através da incursão de uma nova mentalidade aos juristas. A cultura jurídica portuguesa (e, portanto, brasileira) foi renovada, já que tal aplicação proporcionou a criação de “assentos doutrinais” nos tribunais superiores de Portugal.
Assim, a partir de 1822 iniciou-se também um processo lento e gradual de rompimento com a velha legislação portuguesa, visto que em 1830 foi promulgado o código criminal, em 1850 o código comercial e tardiamente, em 1916, o código civil. Porém, observa-se que a ausência de rupturas radicais nesse período ajudou na diferenciação entre Brasil e Portugal. Enquanto a antiga colônia continuou aplicando a velha legislação herdada dos tempos coloniais, a antiga metrópole passou a sofrer uma forte influência do pensamento liberal. Pensamento liberal este, que no Brasil, de forma muito peculiar esteve atrelado sempre aos interesses da elite. Seja no que tange à escravidão africana, devido à coexistência desta com uma Monarquia Constitucional, seja no que tange à propriedade, sobretudo com a “Lei de Terras” de 1850 que transforma a propriedade rural em mercadoria de livre circulação. Diante disso, as intervenções legislativas provocaram uma segunda forma de atualização legislativa (além da representada pela Lei da Boa Razão), caracterizada por uma descontinuidade da tradição jurídica brasileira.
No séc. XIX iniciou-se um processo de codificação civil no Brasil, tenso sido o jurista Augusto Teixeira de Freitas o escolhido como codificador. Teixeira ressaltava que “as pobres disposições das Ordenações, continuam a recorrer às das disposições de direito romano (...) como até mesmo às disposições de direito canônico, apesar da proibição expressa da Lei da Boa Razão”. Diante disso, elaborou um “Esboço do código civil”, que posteriormente foi abandonado. Devido às diversas forças que atuavam na sociedade e aos seus divergentes interesses, atentando-se para o interesse das elites em manter as estruturas escravocratas da sociedade brasileira, ocorreram também outras tentativas de codificação da legislação civil no Brasil imperial, como as de Nabuco de Araújo (1872) e a de Felício dos Santos (1881), nenhuma delas tendo sido efetivada. 
3 CONCLUSÃO
A Lei da Boa Razão inovou profundamente no Direito Português arcaico, perfazendo o caminho de volta a corrente racionalista do humanismo. Rei e Razão serão as fontes do direito novamente em distinção ao pluralismo observado. Pluralismo jurídico este que consiste em diferentes complexos de normas, com legitimidades e conteúdos distintos, no mesmo espaço social, observados como: Ordens Jurídicas - Direito Comum: identificável com a doutrina da tradição romanística, escrita em latim; Direito Canónico: direito comum em matérias espirituais, obedecendo basicamente à mesma natureza formal; Direito dos reinos: representam a vontade do soberano e também do direitoestabelecido pelos tribunais do Reino.
O “despotismo esclarecido” iniciado com a revoluções pombalinas, fortemente influenciadas pelos pensamentos do iluminismo que trouxeram Portugal para o desenvolvimento e modernização, teve primordial intenção o processo de restauração e fortalecimento de organização principalmente do sistema jurídico complexo e pluralista vivido a época.
A sociedade portuguesa via-se presa a sistemas que ora permeavam as questões religiosas, outras vezes a leis e pensamentos arcaicos que restavam aos operadores do direito a utilização de artimanhas que resultavam em questões controversas e de difícil decisão pelo caminho jurídico apresentado, resultando a abusos e manobras com pouca ou nenhuma boa fé.
Pombal viu a necessidade de dar uma direção ao complexo sistema que seguia desde os escritos dos juristas medievais no sentido de preencher as lacunas encontradas com as glosas de Acúrsio ou as opiniões de Bártholo, comentadores do Corpus Iuris Civilis. 
Sistema Jurídico este que convivia com a vigência das Ordenações Filipinas (1603), que regia o sistema de fontes do direito português tendo seus conflitos julgados por atos dos príncipes e as Casas de Suplicação como tribunal de última instância, as matérias religiosas ou que trouxessem discussão sobre pecado, analisadas pelo viés do Direito Canônico, com grade intervenção da Igreja Católica, e por fim, os casos contrários tinham sua análise pelas leis imperiais, ou o direito romano. 
Este arcabouço jurídico dentre outras questões na sociedade portuguesa, apresentava o estigma da atraso culpabilizando a forte presença eclesiástica e escolástica arraigada nesta sociedade, no entanto as reforma pretendidas a partir da Lei da Boa Razão, ao mesmo tempo em que dava um tom de modernidade, trazia a tona um forte tempero tradições ao devolver ao monarca os poderes ora limitados, agora absolvidos e convertidos em absolutismo ou despotismo esclarecido.
A influencia do Iluminismo por outro lado, não faria Portugal deixar os ritos católicos de lado nem romper com a igreja no seio de sua sociedade, bem como o afastamento dos jesuítas faria com que toda a igreja fosse expulsa do país, somente poria cada instituição em seu devido lugar dando um tom de ruptura na organização social e deixando permanências nos assuntos religiosos, só que agora com o olhar mais próximo do déspota.
Na educação, a Universidade de Coimbra, criada pela igreja no século XIII por Dom João Diniz, mesmo sendo uma instituição mais temporal do que espiritual (ANTUNES,2011), mesmo não tendo sido difícil sua adaptação passa a ter uma visão jus racionalista para seu ensino no caminho laico proposto pela reforma, e a critica mais severa aos glosadores do Corpus Iuris Civilis, o que não seria uma novidade visto que outras escolas europeias já haviam abandonado este estudos e os criticavam mais severamente como a escola jurídica francesa do século XVI, fundada por Cujácio.[3: ANTUNES, Álvaro de Araújo. Pelo Rei, com Razão: comentários sobre as reformas pombalinas no campo jurídico. Rio de Janeiro: Revista IHGB, a 172 (452): 15-50, jul./set. 2011]
A introdução da Lei da Boa Razão, sendo responsável por significantes alterações no sistema jurídico português buscava, contudo o fortalecimento da figura do rei indicando que nenhuma decisão judicial poderia ferir o direito expresso nas ordenações do reino. Buscava-se que a lei fosse clara sem a necessidade de interpretação, buscando eliminar o advogado que agisse de forma leviana com raciocínio “frívolos”. 
Defendia, contudo a posição central do monarca e suas ordenações através da primazia das decisões advindas da Casa de Suplicação, mesmo no primeiro momento não conseguindo sepultar o direito romano que só foi calado com alvará expedido de 16 de janeiro de 1805, reduz a voz do direito canônico para as decisões judiciais. A lei da boa razão, apesar de repor mais poderes ao monarca, traz um visão do “direito vivo” positivo, claro e buscando a não necessidade de uma interpretação submissa ao pensamento e a esperteza de quem a faz, mais um sistema mais iluminado para o sistema, processo e decisões judicias para a sociedade a época e quiçá também influenciando outros sistemas até então.
4 BIBLIOGRAFIA
SILVA, Antônio Delgado da. Collecção da Legislação Portugueza dede a ultima compilação das Ordenações. Lisboa Typ. Maigrense 1825 a1830. Fol. 6 vols. (Legislation, by chronological ordem, between 1750 and 1820).
MACIEL, José Fábio Rodrigues. Jornal Carta Forense. 03 de junho de 2008.
ANTUNES, Álvaro de Araújo. Pelo Rei, com Razão: comentários sobre as reformas pombalinas no campo jurídico. Rio de Janeiro: Revista IHGB, a 172 (452): 15-50, jul./set. 2011.
WOLKMER, Antonio Carlos. CORREAS, Oscar. Pluralismo Jurídico e Crítica do Constitucionalismo na América Latina. Em Crítica Jurídica na América Latina. Centro de Estudios Jurídicos y Sociales Mispat. Universidade Federal de Santa Catarina. Aguascalientes/Florianópolis. 2013
CABRAL, Gustavo César Machado. A Lei da Boa Razão e as fontes do Direito: Investigações sobre as mudanças no Direito Português do Final do antigo regime. Publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010. Em http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/GCabral.pdf Acesso em 03/11/14.
FONSECA, Ricardo Marcelo. A Cultura Jurídica Brasileira e a Questão da Codificação Cicil no Século XIX. Em Universidade Federal do Paraná. Revista da Faculdade de Direito Vol. 44. 2006 Em http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/direito/article/view/9415/6507 Acesso em 03/11/14.

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