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DIREITO INDIANO (HINDU) – História do Direito Prof.: Léo Granthom 2017.02 A Índia apresenta dois sistemas: 1. HINDU (extra-oficial); 2. COMMON LAW ou ANGLO INDIAN LAW (oficial). A Índia foi colonizada pela Inglaterra, a partir do séc. XVIII onde foi estabelecido o sistema do common law, como nos EUA. Mas, extra-oficialmente, o povo indiano segue um outro sistema jurídico para resolver seus problemas, que é o sistema hindu. E o que é o Hinduísmo? Muitos dizem que é uma religião. Porém há controvérsias, pois para ser uma religião instituída é preciso que se conheçam os dogmas, as regras que são imutáveis, inquebráveis, que fundamentam a religião e a população seria obrigada a seguir tais dogmas para poder fazer parte daquela religião. No caso do hinduísmo é muito mais uma filosofia de vida, do que propriamente uma religião. Percebe-se que o direito Hindu não prevê sanção para o ser humano, porque cada um está livre, enquanto indivíduo, para fazer a coisa certa ou errada e, segundo prega a doutrina hindu, se você faz o errado, o maior prejudicado é você mesmo. Essa é a perspectiva. Então, o que acontece com o direito hindu, é que ele é na realidade um conjunto de regras e princípios que são recomendados a cada indivíduo, para segui-los. Esses princípios fazem com que o indivíduo construa um certo modo de vida que, para os hinduístas, é considerado o modo correto de viver. O indivíduo, como ser humano, tem que, desde a mais tenra infância, estar pronto para respeitar esse modo de vida e consequentemente viver, de forma correta. Não deve abrir espaço para o erro, tendo sempre que tentar viver de forma amena e calma, ou seja, de maneira pacífica. A pessoa é obrigada a seguir esses princípios, que vem de uma prática social. A primeira coisa que se deve entender é que o direito Hindu é muito mais entendido como um conjunto de regras para regulamentar o comportamento do homem, mas que cabe ao homem seguir ou não. Cada indivíduo toma uma postura e segue sua escolha. Essa é uma ideologia importante: a escolha. Logo, pode-se concluir que se o indivíduo pode escolher, então é pelo fato dele ser livre para isso. Uma segunda característica é a de que o direito Hindu fundamenta-se na crença de que cada ser humano é parte essencial no equilíbrio do Universo. A pessoa, enquanto indivíduo, ao agir de forma correta, viver direito e seguir as regras, está assim se preservando e ao mesmo tempo está preservando o ambiente e o mundo como um todo. Então quando se observa o direito Hindu, ao indivíduo é dada a escolha de segui-lo ou não, no entanto, é ensinado à pessoa, desde criança, que se ela não segue a regra, ela esta se prejudicando e prejudicando a humanidade inteira com o seu mau comportamento. Assim, sendo a pessoa educada desde criança, ela é livre para seguir ou não, mas se não seguir estará prejudicando a toda sociedade. Claro que, se a pessoa é educada desta forma, ao crescer e tornar-se adulto, será provavelmente, um indivíduo ordeiro (aquele que segue a ordem). Essa é a essência da segunda característica: O direito Hindu sendo baseado na crença, na ordem e na obediência. Ao indivíduo, desde pequeno, é ensinado que o certo é obedecer, o certo é seguir, embora ele tenha o poder de escolha nas mãos. A lei é muito importante para o lado ocidental do mundo, mas para o lado oriental há uma perspectiva cultural muito forte. A lei não toca nestas questões porque a sociedade recebe uma educação cultural de que, desde criança, se aprende que “o certo é o certo” e não se deve questionar essa afirmação. O princípio fundamental do direito Hindu é não matar onde essa é considerada uma atitude escandalosa, pois a pessoa poderá ficar eternamente sendo punida pelo crime cometido. Se o indivíduo sabe que tal atitude é errada, então ele não deveria fazer. E não é porque a common law lhe diz que é errado. Ele não faz porque aprendeu que não deve sequer tocar num ser humano e muito menos, matá-lo. Outra base do direito Hindu é o sistema de castas. Se eles acreditam que o indivíduo tem que ser educado, desde pequeno, baseado na ordem, o indivíduo nasce numa determinada classe social e morre nessa mesma classe (casta) social. E de nada vale inquirir e pedir mudança de casta social. Pelo contrário. A sociedade Indiana é bastante pacífica e não tem o costume de fazer reivindicações ou revoluções, pois tudo permanece do mesmo modo, dos tempos passados até os de hoje. Aprende-se que a ordem é muito importante. Essa ordem começa desde o dia em que o indivíduo nasce, sendo que tudo já está programado na vida dele. Logo, se ele nasceu numa determinada casta, não lhe cabe discutir isso, apenas lhe cabe aprender a tradição da sua casta social e seguir a tradição à risca. Caso o indivíduo siga o que foi determinado par ele, não terá problemas. Esse sistema de castas, oficialmente, não existe mais. A common law aboliu o sistema de castas na Índia e oficialmente, todos os cidadãos são iguais, homens e mulheres, ricos ou pobres. Pela Constituição Indiana, todos são iguais. O que o corre é que, como eles pouco se importam com a lei e a constituição, eles ainda seguem a doutrina Hinduísta, que diz que todos são diferentes. Então cada um, desde o seu nascimento, já tem sua vida programada. Há estatísticas de que existe cerca de 6.000 subcastas na Índia, então cada indivíduo tem, de fato, a sua situação programada e só lhe cabe seguir e obedecer, sem questionar. Assim, para todo tipo de situação há castas sociais. A doutrina Hindu está baseada em três princípios: O DHARMA= É o mais importante. É a ciência do justo, diferentemente do sentido de justiça. É o justo no sentido universal, ser justo na sua vida. P.ex.: Não tirar nada de ninguém, não matar, preservar a natureza... é o justo enquanto ser humano (sem referências jurídicas). O dharma ensina como cada ser humano deve ser justo na vida. O ARTHA = É a ciência do enriquecimento, do bom governo, pois os Indianos, segundo a tradição, acreditam que, se a pessoa nasceu pobre e miserável, não tem que roubar e matar para ascender socialmente e mudar de vida, mas nada impede que o indivíduo, de forma digna e ordeira, através de seu trabalho, enriqueça. Não é porque nasceu pobre que tem que morrer pobre, pois pela doutrina, o artha possibilita ao ser humano enriquecer. O KHAMA = É a ciência do prazer. O Hinduísmo prega que para o ser humano ser completo e obedecer à ordem cósmica, tem que obedecer aos princípios. Então, a pessoa tem que ser justa, tem que buscar uma vida próspera e buscar uma vida feliz e prazerosa, ter todo tipo de prazer na vida... boa vida, boa alimentação, vestimentas. Pra que o homem diga o direito, ele tem que ser um homem completo e ter tudo isso na sua vida. Na miséria, a pessoa tem que ser positiva e buscar o desenvolvimento. O sentido do dharma é o justo, sendo o mais importante na tradição Indiana. O dharma não separa o que é conduta jurídica do que é conduta social, semelhante ao Direito Ocidental. Para ser justo, o bom cidadão deve ter uma boa conduta jurídica e social, pois o dharma nãosepara o que é jurídico do que não é. O que importa e ser um cidadão completo e ter uma conduta correta na sua vida. O dharma abrange no seu conjunto a conduta dos homens, não distinguindo entre direitos religiosos e obrigações jurídicas. E onde se encontram os princípios de vida do Direito Indiano? Nos SASTRAS. Sastras são livros, que contém todo o conjunto de regras da doutrina Hinduísta. Tudo o que se precisa saber para ter uma boa conduta na vida, seja religiosa ou jurídica, está nos sastras. A maioria da população analfabeta não irá ler esse livro, pois ela aprende através da tradição, da educação que lhe é dada por seu ascendente. Os sastras contém um conjunto de regras, do que pode e o que não pode, mas o hinduísmo prevê que a pessoa tem liberdade de escolha. Nos sastras não se encontram sanções, e essa é sua grande diferença de outros direitos. Se a pessoa descumpriu ao sastras, o maior prejudicado será ela mesma, no sentido religioso do prejuízo, pois acreditam que a pessoa sofrerá sucessivas encarnações e se ela descumpre algo aqui na terra que o correto seria cumprir, a maior prejudicada será ela mesma, pois futuramente poderá voltar à Terra para quitar suas dívidas morais. Na prática, as questões jurídicas são regulamentadas por outro princípio que não é o do dharma (o justo), e sim o princípio do artha (ciência do bom governo). Cada aldeia tem seu governante e sua parte privilegiada que manda em todos. Esse governante nasceu naquela casta, tendo os seus auxiliares, que constituem uma Assembleia. Eles é quem tomam as decisões de cada caso jurídico ocorrido naquela aldeia, e dessa decisão pode vir uma sanção. Na hora de julgar, o governante pode se afastar do princípio maior que é o princípio do dharma, o princípio do justo. Porém não pode impor a pena de morte, pois pelo princípio maior, não se pode matar ninguém. A sanção varia de lugar para lugar, de cultura para cultura, porque cada aldeia vai ser diferente uma da outra, tendo costumes diferentes. Então as penas que são impostas, são de acordo com a cultura do lugar. O “Príncipe”, em conjunto com a assembleia, decide o veredicto (culpado ou inocente) e determina a sanção, sendo que esta existe mas não está prevista nos livros.
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