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GRADUAÇÃO
 2016.1
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DAS 
CARREIRAS JURÍDICAS PÚBLICAS
AUTOR: CARLOS ROBERTO DE C. JATAHY
Sumário
Organização da Justiça e das Carreiras Jurídicas Públicas
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DAS CARREIRAS JURÍDICAS PÚBLICAS ................................................................................ 3
AULAS 1 A 4: O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO. A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. A MAGISTRATURA NACIONAL. 
O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. ....................................................................................................... 6
AULAS 5 E 6: O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL .......................................................................................................... 39
AULAS 7 A 9: O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E A JUSTIÇA FEDERAL .......................................................................... 73
AULAS 10 A 12 — A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL ..................................................................................................... 103
AULA 13 A 15: AS JUSTIÇAS ESPECIAIS INDIVIDUALIZADAS ....................................................................................... 151
AULAS 16 A 18: O MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO ............................................................................................... 174
AULAS 19 A 21: A ADVOCACIA PÚBLICA E A DEFENSORIA PÚBLICA .............................................................................. 221
AULAS 22 E 23 — A POLÍCIA FEDERAL E A POLICIA CIVIL .......................................................................................... 236
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 3
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DAS CARREIRAS JURÍDICAS PÚBLICAS
INTRODUÇÃO
A Constituição da República, visando a evitar o arbítrio e o desrespeito 
aos direitos fundamentais do homem, previu a existência dos poderes cons-
tituídos do Estado, independentes e harmônicos entre si, repartindo entre 
eles as funções estatais e prevendo prerrogativas e imunidades para que bem 
pudessem exercê-las. Criou também mecanismos de controles recíprocos, 
sempre como garantia da perpetuidade do Estado Democrático de Direito.
É a célebre Separação de Poderes, esboçada pela primeira vez por Aristó-
teles em “Política”, detalhada, posteriormente, por John Locke, no “Segundo 
Tratado do Governo civil” e, finalmente, consagrada por Montesquieu no “O 
Espírito das Leis”.
O estudo de algumas dessas Instituições será o objeto de nossa disciplina 
eletiva, com ênfase na Organização Judiciária Brasileira e nos organismos 
estatais que ocupam lugar de relevo como atores na função constitucional de 
distribuição de Justiça.
Assim, analisaremos, tanto no aspecto orgânico como em alguns aspectos 
de índole processual, o Sistema da Justiça Brasileira, ou seja:
O Poder Judiciário;
O Ministério Público; e
as demais Instituições constitucionalmente incumbidas das funções essen-
ciais à Justiça, de natureza pública: a Advocacia Pública e a Defensoria Pública.
Veremos ainda a Polícia Federal e a Policia Civil, instituições, que vem 
chamando a atenção da sociedade e, por conseguinte, algumas funções priva-
tivas de Autoridade Policial.
Pensamos, ao elaborar a disciplina, nos alunos que pretendem ingressar 
nas Carreiras Jurídicas Públicas e que precisam estar preparados para os con-
cursos de ingresso em tais Instituições, cada vez mais disputados no meio 
jurídico contemporâneo.
O Poder Judiciário é um dos Três Poderes clássicos previstos na Cons-
tituição (Art. 2º), e tem como função a administração da Justiça e como 
verdadeiro mister a guarda da Constituição.
Não se consegue conceituar um Estado Democrático de Direito sem a 
existência de um Poder Judiciário, autônomo e independente, para o pleno 
exercício de suas funções. Daí as garantias que seus membros gozam, assegu-
radas pela própria Constituição, como a vitaliciedade, a inamovibilidade e a 
irredutibilidade de subsídios.
Já o Ministério Público, consagrado com novo perfil em nossa Constitui-
ção e situado fora da estrutura dos demais poderes da República, é instituição 
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 4
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a 
defesa da ordem jurídica, do regime democrático de Direito e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis (Artigo 127 da CF).
Para tanto, também lhe foi conferida uma estrutura organizacional pró-
pria, com autonomia, independência e garantias.
A Advocacia Pública, inserida constitucionalmente no novo texto mag-
no, é instituição que, diretamente ou por intermédio de órgão vinculado, 
representa a União; os Estados e o Distrito Federal; e os Municípios, judicial 
e extrajudicialmente, cabendo-lhe as atividades de consultoria e assessora-
mento jurídico do Poder Executivo.
A Defensoria Pública, prevista na Constituição Federal como institui-
ção essencial à função jurisdicional do Estado, está incumbida da orientação 
jurídica, da promoção dos direitos humanos e da defesa em todos os graus, 
judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral 
e gratuita, dos necessitados.
A Policia Federal e as Polícias Civis, que também possuem previsão 
constitucional, são destinadas a apurar as infrações penais e atuar como polí-
cia judiciária, na forma preconizada no Artigo 144 da CF, sendo dirigidas por 
delegados de polícia, privativamente bacharéis em direito.
O curso foi montado com base na constatação de que um bom profissional 
do direito necessariamente precisa conhecer as instituições estatais que inte-
gram o sistema de Justiça, a forma como operam, que funções institucionais 
desempenham e que competências lhes foram atribuídas pelo constituinte 
e pelo legislador. Pragmaticamente, também serão examinados tópicos que 
serão objeto de questionamento nos concursos de ingressos paras as aludidas 
carreiras.
Só assim, tendo o domínio desses conceitos técnicos, o futuro profissional 
poderá maximizar a utilização do sistema em todas as suas instâncias, for-
mando opinião e pensamento crítico para o aprimoramento e transformação 
das estruturas examinadas.
Procura-se, por meio da utilização de diferentes metodologias, uma abor-
dagem analítica e uma visão crítica como elementos permeadores de todo o 
curso. O objetivo é a interatividade dos alunos com o conteúdo apresentado 
e o caráter cooperativo que deve propiciar uma aproximação maior entre 
alunos e professor.
Como o programa incorpora conteúdos dos mais variados, como ciência 
política, direito constitucional, direito administrativo, teoria geral do proces-
so e organização judiciária, algumas aulas serão mais expositivas enquanto 
outras serão mais abertas a discussões. Em todos os momentos, porém, ire-
mos adotar uma postura de incentivo ao aluno no estabelecimento de links 
com assuntos correlatos.
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 5
Durante todo o curso, casos práticos serão apresentados, como forma de 
aproximar a teoria estudada com a realidade social em que vivemos, mediante 
debates, construções ideológicas e solução dos mesmos.
A Ciência do Direito, apesar de estudada de forma estratificada, requer 
uma visão global para ser potencialmente compreendida. O que se idealiza é 
uma interdisciplinaridade entre todos os ramos do Direito.
Durante o semestre, os alunos serão avaliados de acordo com os seguintes 
critérios:
— dois testes aplicados em sala de aula, abordando toda a matéria do cur-
so, um na metade e o outro ao final do semestre; e
— avaliações “pro bono”, que podem acrescentar pontos, tanto na P1 
como na P2 aos alunos selecionados ou voluntários para apresentações, aná-
lises de textos e discussões e debates sobre o conteúdo programático.
Encarem com prazer o desafio de conhecer aestrutura do Poder Judiciário 
e demais Carreiras Jurídicas Públicas!
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 6
AULAS 1 A 4: O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO. A ORGANIZAÇÃO 
JUDICIÁRIA. A MAGISTRATURA NACIONAL. O CONSELHO 
NACIONAL DE JUSTIÇA.
1) O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO.
Historicamente, o Poder Judiciário, apesar de estar no mesmo plano dos 
demais poderes, sempre teve uma menor participação nas decisões do Esta-
do, em comparação com o Executivo e o Legislativo. Isto porque, em muitos 
Estados da velha Europa, os juízes eram meros servos da nobreza, atuando 
como longa manus do soberano. Subordinado, não podia se desenvolver a 
contento.
A instauração do Estado de Direito (Estado Liberal, Constitucional) fez 
surgir a primeira geração de direitos (direitos de liberdade, direitos civis e 
políticos), fazendo nascer também a linguagem jurídica. Esta, por conter ter-
mos rebuscados e imprecisos (como, por exemplo, “boa fé” e “mulher hones-
ta”), provocou um distanciamento entre o Judiciário e o povo, intermediado 
pelos advogados, que falavam a linguagem acessível aos magistrados.
Acrescente-se ainda que no Estado liberal e absenteísta, as questões eram 
relativas às demandas individuais, em que somente se discutiam interesses 
particulares. Não havia repercussão social nas decisões do Judiciário, mas já 
havia uma maior participação do Judiciário nas questões diuturnas.
Com a instituição do Estado Social, em que o Ente Público passou a ser 
prestador de obrigações (direitos sociais), criando direitos que deveriam ser 
providos, a inércia do Estado obrigava o indivíduo a buscar a solução de seus 
conflitos no Judiciário. Decorre daí o aumento da demanda judicial e um 
conflito entre os poderes.
De fato, vamos assistir a conflitos entre o Executivo e o Judiciário na gran-
de depressão americana (quando a Suprema Corte quis interferir nas ações 
do presidente Roosevelt) e na criação da Justiça Constitucional, quando o 
Judiciário interfere na decisão do Parlamento, considerando uma lei incons-
titucional.
A par disto, vamos ver a sociedade industrial criar um novo tipo de con-
flito. O conflito meta-individual ou transindividual, com um número mui-
to grande de interessados na sua solução: as denominadas “class actions”. O 
Judiciário sai de uma posição secundária e subalterna para uma situação de 
protagonista, sendo capaz de produzir consequências profundas nas relações 
sociais, política e do cotidiano. O juiz, antes inerte, passa a adotar uma pos-
tura mais ativa, podendo, por exemplo, paralisar a construção de uma estrada 
que está afetando o equilíbrio ecológico em uma determinada região; obrigar 
o Estado ao fornecimento de medicamentos básicos aos hipossuficientes; de-
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 7
terminar a Administração Pública a contratar médicos e professores, visando 
a plena implementação de políticas sociais.
No Estado Democrático de Direito hoje existente, em que o Estado, o di-
reito e a sociedade assumem um compromisso com a Constituição, o Judici-
ário passa a ter uma importância maior, diante de seu maior ativismo judicial.
Consequentemente, surge a necessidade de um maior controle sobre o 
“Gigante adormecido”. Afinal, controle faz parte da teoria dos “checks and 
balances”.
A Constituição Brasileira de 1988, seguindo esta tendência mundial dos 
países democráticos, conferiu ao Poder Judiciário lugar de destaque, confian-
do-lhe a tutela de direitos subjetivos até mesmo contra o Poder Público e a 
função de efetivar os direitos e garantias individuais, abstratamente inscritos 
em seu texto.
O Poder Judiciário, consoante o artigo 2º da CF, possui a função precípua 
de julgar os conflitos de interesse que surgem na sociedade, fazendo aplicar a 
Lei e o Direito ao caso concreto. Deve, portanto, manter a paz social, impon-
do aos cidadãos o cumprimento das leis do país, intervindo, quando provo-
cado nos litígios existentes e solucionando os conflitos de interesse.
E como é feita essa pacificação? Mediante a atuação da vontade do direito 
objetivo que rege o caso concreto. Assim, duas pessoas em conflito num pro-
cesso judicial terão seus problemas solucionados por meio da aplicação da lei 
ao caso concreto. É o juiz exercendo a jurisdição.
Ressalve-se que a jurisdição é una. Como expressão do poder estatal, ela 
é eminentemente nacional e não comporta divisões. Porém, para uma distri-
buição racional do trabalho, é importante que se criem organismos distintos, 
para os quais serão destinadas determinadas espécies de causas. São diversos 
os critérios determinantes na distribuição dos processos: em razão da matéria, 
da qualidade da pessoa etc. É o Estado, fazendo a divisão das Justiças, com 
vistas à melhor atuação da função jurisdicional. Trata-se da denominada OR-
GANIZAÇÃO JUDICIÁRIA.
2) A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA
Com efeito, a Organização Judiciária tem como objetivo estabelecer nor-
mas sobre a constituição dos órgãos encarregados do exercício da jurisdição. 
Para análise da matéria, deve-se partir de três premissas básicas:
(a) A estrutura judiciária brasileira é definida basicamente pela Constitui-
ção, sendo o Capítulo III (Arts. 92 a 126) do título IV (Da Organização dos 
Poderes) da Carta Maior o texto básico para a compreensão e estudo do tema;
(b) O Poder Judiciário brasileiro, em razão da forma de Estado federativo 
adotado pelo texto constitucional, é dual. Com tal modelo, haverá um ramo 
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 8
da Justiça que é administrado e mantido pela União e outro ramo adminis-
trado pelos Estados-membros da Federação brasileira; e
(c) A noção de que a ordem judiciária constitucional se estabelece em 
graus de jurisdição.
De fato, a primeira premissa denota que para se conhecer a estrutura 
do Poder Judiciário brasileiro deve-se conhecer a Constituição Federal. Esta 
constatação é conseqüência da garantia do Juiz Natural, também conhecida 
como “Princípio da naturalidade do Juízo” (HC 73.801-MG, Celso Mello, 
DJU 27.06.1997), positivada no texto constitucional no Artigo 5º, LIII 
(“Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”). 
Esta expressão significa que o juiz natural ou a autoridade competente, no 
Brasil, é o órgão jurisdicional cujo poder derive de fontes constitucionais, de 
competência devidamente indicada pela Constituição Federal.
Assim, só é legítimo o juízo previsto pela Constituição e reconhecido por ela 
como natural, invalidando-se, em razão deste princípio, qualquer órgão jurisdi-
cional criado à margem da Carta Magna, também chamado de juízo de exceção 
(Art. 5º, XXXVII, da CF: “Não haverá Juízo ou Tribunal de exceção”). Nesta di-
mensão, o Artigo 92 da Constituição estabelece a estrutura do Poder Judiciário 
brasileiro, integrado por diversos órgãos, repudiando todos aqueles que ali não 
se encontrem como integrantes do Poder Judiciário, ainda que recebam a deno-
minação de juiz ou tribunal. Logo, não integram esta estrutura — e, portanto, 
não são órgãos do Poder Judiciário — o Tribunal Marítimo, os Tribunais de 
Contas, da União e dos Estados ( e dos municípios do Rio de Janeiro e de São 
Paulo) e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
A segunda premissa decorre do princípio do dualismo judiciário, por 
meio do qual convivem, no mesmo sistema, um Poder Judiciário organizado 
pela União e o Poder Judiciário organizado por cada Estado-membro da Fe-
deração. Há, portanto, em decorrência de tal premissa, o Poder Judiciário 
da União (também chamado por muitos de Federal) e diversos Poderes Ju-
diciários Estaduais, formando o Poder Judiciário Nacional.
A União organiza e mantém as Justiças Especializadas (ou, Especiais) do Tra-
balho, Eleitoral e Militar da União; e a Justiça Comum Federal e Comumdo 
Distrito Federal e Territórios. É de sua responsabilidade, também, o Supremo 
Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça. Por sua vez, cada Estado-mem-
bro organiza, de acordo com sua Constituição, o respectivo Poder Judiciário local 
(Art. 125 da Constituição Federal), composto da Justiça Comum Estadual e da 
Justiça Militar Estadual. Cabe ressaltar que as Justiças administradas pela União 
possuem sua estrutura definida na Constituição Federal, sendo sua organização 
judiciária definida em legislação federal. Já as Justiças Estaduais têm sua estrutura 
definida nas Constituições Estaduais, respeitadas as diretrizes fixadas na Consti-
tuição Federal (Art. 125, caput). Sua organização judiciária é fixada por meio de 
legislação estadual, em regra denominada Código de Organização Judiciária.
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 9
Finalmente, a terceira premissa, denominada princípio do duplo grau de 
jurisdição. Por tal princípio, toda causa que ingressa no Sistema Judiciário 
está sujeita a um duplo exame: o exame inicial, que é o julgamento originário 
da causa, e um exame posterior, que possui caráter revisional do primeiro jul-
gamento. Por este princípio, haverá a possibilidade de duas decisões válidas e 
completas num mesmo processo, emanadas por juízes diferentes, prevalecen-
do sempre a segunda sobre a primeira. Consoante decisão do STF, a formula-
ção do duplo grau de jurisdição exige que o exame inicial e o exame posterior, 
também chamado de reexame, sejam promovidos por órgãos jurisdicionais 
diversos. Neste teor: “Para corresponder à eficácia instrumental que lhe costuma 
ser atribuída, o duplo grau de jurisdição há de ser concebido, à moda clássica, 
com seus dois caracteres específicos: a possibilidade de um reexame integral da 
sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confiado a órgão diverso do que 
a proferiu e de hierarquia superior na ordem judiciária.”(ROHC nº 79.785-7/
RJ. Min.: Sepúlveda Pertence. DJU 22/11/2002).
Esta terceira premissa, denominada duplo grau de jurisdição, possui os 
seguintes fundamentos:
(a) Satisfazer o inconformismo do vencido. Há uma relação de auto-
ridade entre o juiz, que fala em nome do Estado, e a parte, como cidadão, 
que tem que se curvar às decisões da autoridade. Mas o inconformismo do 
vencido é um fator grave de intranqüilidade social. A finalidade da jurisdi-
ção é não só atuar a vontade da lei, como também pacificar os cidadãos para 
que eles voltem, encerrado o litígio, a viver harmoniosamente num instinto 
de solidariedade. A instituição do recurso visa atender a esse clamor, a essa 
revolta, a essa insatisfação do vencido, dando uma segunda oportunidade de 
obter uma decisão favorável e, portanto, contribuindo para que ao final dessa 
segunda decisão, mesmo que continue sendo desfavorável, voltem a viver 
pacificamente.
(b) Coibir o arbítrio do juiz. O juiz que sabe que sua decisão pode ser 
reformada pelo tribunal superior, sente-se vigiado, controlado e cede com 
menos freqüência à tentação do arbítrio. Já o juiz que sabe que sua decisão é 
irrecorrível, possui maior tendência ao arbítrio, até mesmo em busca de uma 
justiça melhor que a justiça da lei. Ele acaba vendo na irrecorribilidade, se 
não tiver um espírito crítico muito aguçado, um poder absoluto, fazendo a 
melhor justiça da sua consciência, que não é necessariamente a justiça da lei.
(c) Melhorar a qualidade das decisões. O juiz pode ter examinado mal 
a prova, ou a matéria ser muito complexa, ou ainda pode ter uma opinião 
jurídica que não é a melhor, não é aceita pelos tribunais superiores. Uma 
segunda oportunidade de julgamento dá ao tribunal de superior instância 
a oportunidade de examinar a causa com base na motivação do juiz de pri-
meiro grau e outros fundamentos, além daqueles expostos pelo juiz na sua 
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 10
decisão. Dois julgamentos aumentam a probabilidade de acerto da decisão. 
Neste contexto, percebe-se que temos, portanto, na terminologia brasileira, 
juízos, que são órgãos de primeiro grau, em regra monocráticos, ou seja, o 
julgamento é realizado por um único juiz, e temos também os tribunais, ór-
gãos de segundo grau, cujo julgamento, em regra, se dá de forma colegiada. 
São órgãos inferiores e superiores.
Observe o Organograma a seguir, que representa a Organização Judiciária 
brasileira, com fundamento em dispositivos da Constituição Federal:
 12 
ORGANOGRAMA DO PODER JUDICIÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
S.T.F. 
(art. 101 e 102) 
CNJ 
(art. 103-B) 
S.T.J. 
(art. 104 e 105 ) 
Justiça Estadual 
Tribunais de Justiça 
(art.125§1º e CEs) 
Turmas 
Recursais 
TJMilitar 
Justiça Federal 
Tribunais Regionais 
Federais 
(106, I, 107 e 108) 
Turma 
Recursal 
Justiça do Trabalho Justiça Eleitoral Justiça Militar 
TST 
(art. 111,I, e A) 
TSE 
(art. 118, I e 119) 
TRT’s 
(art.111, II e 115) 
TRE’s 
(art. 118, II e 120) 
Juízes do Trabalho 
(art.111,III e 114) 
Juízes e Juntas 
Eleitorais(118,III) 
(art. 118, III e IV) 
Juízes Militares 
(art. 122, II) 
STM 
(art. 122, I e 123) 
Justiça Comum Justiça Especial ou Especializada 
Juízes Federais 
(art. 106, II e 109) Juízes de Direito 
2ª Instância 
1ª Instância 
Tribunais Superiores 
Este organograma acompanhará nosso estudo, quando analisarmos cada 
um dos ramos da Organização Judiciária.
Após examiná-lo, responda?
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 11
EXISTE ENTRE OS JUÍZOS E OS TRIBUNAIS UMA HIERARQUIA?
A resposta é não. Há que se ressaltar que não existe entre eles 
qualquer hierarquia jurisdicional. Não há poder de mando dos ór-
gãos superiores aos inferiores no que tange aos julgamentos a serem 
realizados. O que há é um poder de revisão, dentro do princípio já 
examinado do duplo grau de jurisdição, mas cada juiz é livre para 
proferir a sua sentença.
Diferentemente, no plano administrativo, existe sim uma hierar-
quia. Isto porque, os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais são 
responsáveis pela administração da Justiça na sua área de atuação, ca-
bendo-lhes prover cargos, realizar concursos, aplicar penalidades etc.
Acima de todos os juízos e tribunais estão o Supremo Tribunal 
Federal e o Conselho Nacional de Justiça, com funções jurisdicionais 
e administrativas, compondo assim o Poder Judiciário nacional.
3) A MAGISTRATURA NACIONAL
A Magistratura é o conjunto de juízes que integram o Poder Judiciário.
Além das disposições constitucionais acima descritas, que organizam a es-
trutura da Justiça no Brasil, existe ainda a Lei Complementar nº 35, de 14 
de março de 1979, mais conhecida como LOMAN, que estrutura a carreira 
da magistratura nacional, estabelecendo as garantias, prerrogativas, deveres, 
direitos, vencimentos, vantagens, forma de ingresso, dentre outras coisas. É a 
Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Que apesar de ser anterior à CF, foi 
expressamente recepcionada, conforme já decidiu o STF:
“Até o advento da lei complementar prevista no art. 93, caput, da 
Constituição de 1988, o Estatuto da Magistratura será disciplinado 
pelo texto da LC 35/1979, que foi recebida pela Constituição.” (ADI 
1.985, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 3-3-2005, Plenário, DJ 
de 13-5-2005.) No mesmo sentido: ADI 2.580, Rel. Min. Carlos 
Velloso, julgamento em 26-9-2002, Plenário, DJ de 21-2-2003; AO 
185, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 17-6-2002, Plenário, DJ 
de 2-8-2002.
A magistratura é organizada em carreira. A investidura se dá por meio de 
concurso público, com a obrigatória participação da OAB, exigência inserida 
no Artigo 37, II da Constituição, para todos os cargos iniciais da magistratu-
ra nacional. Confira-se a decisão do STF:
ORgAnizAçãODA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 12
1 Revogou e consolidou a Res nº 75/CnJ
“Concurso para a magistratura: exigência constitucional de participação da 
Ordem dos Advogados do Brasil ‘em todas as suas fases’: consequente plausibi-
lidade da arguição de inconstitucionalidade das normas regulamentares do cer-
tame que: (a) confiaram exclusi vamente ao presidente do Tribunal de Justiça, 
com recurso para o Plenário deste, decidir sobre os requerimentos de inscrição; 
(b) predeterminaram as notas a conferir a cada cate goria de títulos: usurpação 
de atribuições da comissão, da qual há de participar a Ordem.” (ADI 2.210-
MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 28-9-2000, Plenário, DJ de 
24-5-2002.) No mesmo sentido: ADI 2.204-MC, Rel. Min. Sydney Sanches, 
julgamento em 8-11-2000, Plenário, DJ de 2-2-2001.
Já para o Supremo Tribunal Federal e Tribunais Superiores, a forma de 
investidura é diversa, como veremos nas próximas aulas.
Para concorrer ao cargo de magistrado, o candidato deverá preencher os 
seguintes requisitos:
Nacionalidade brasileira — aqui não existe distinção entre brasileiros 
natos ou naturalizados, sendo vedado somente o acesso aos estrangeiros.
Diploma de bacharel em Direito — curso de Direito em faculdade ofi-
cial ou reconhecida pelo Ministério da Educação.
Três anos de atividade jurídica — inovação trazida pela Emenda Constitu-
cional nº 45. A matéria é hoje regulamentada pelo CNJ, através da Resolução 
118, que alterou e consolidou a Resolução nº 75, norma reguladora anterior.
Como a expressão “atividade jurídica” não é muito precisa, logo após a pu-
blicação da Emenda, iniciou-se uma discussão a respeito de sua definição. A 
matéria hoje se encontra regulamentada pela citada Res. 118/2001, na forma 
que se coloca abaixo.
“Art. 59. Considera-se atividade jurídica, para os efeitos do art. 58, § 
1º, alínea “i”:
I — aquela exercida com exclusividade por bacharel em Direito;
II — o efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, mediante a 
participação anual mínima em 5 (cinco) atos privativos de advogado (Lei 
nº 8.906, 4 de julho de 1994, art. 1º) em causas ou questões distintas;
III — o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério 
superior, que exija a utilização preponderante de conhecimento jurídico;
IV — o exercício da função de conciliador junto a tribunais judiciais, 
juizados especiais, varas especiais, anexos de juizados especiais ou de varas 
judiciais, no mínimo por 16 (dezesseis) horas mensais e durante 1 (um) ano;
V — o exercício da atividade de mediação ou de arbitragem na com-
posição de litígios.
1. Revogou e consolidou a Res nº 
75/CnJ
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FGV DIREITO RIO 13
2 Resolução do CnJ nº 118/2010. www.
cnj.jus.br
§ 1º É vedada, para efeito de comprovação de atividade jurídica, a 
contagem do estágio acadêmico ou qualquer outra atividade anterior à 
obtenção do grau de bacharel em Direito.
§ 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativamente a 
cargos, empregos ou funções não privativos de bacharel em Direito será 
realizada mediante certidão circunstanciada, expedida pelo órgão compe-
tente, indicando as respectivas atribuições e a prática reiterada de atos que 
exijam a utilização preponderante de conhecimento jurídico, cabendo à 
Comissão de Concurso, em decisão fundamentada, analisar a validade do 
documento.”
4 — Regularidade no serviço militar
5 — Estar no gozo dos direitos políticos — comprovação por meio de 
certidão fornecida pela Justiça Eleitoral
6 — Integridade física e mental — demonstrada por meio de um exame 
psicotécnico, bem como por uma entrevista pessoal com a Banca Examina-
dora.
7 — Boa conduta social — o candidato deve ter conduta ilibada pe-
rante a sociedade, não podendo registrar antecedentes criminais que sejam 
incompatíveis com o exercício da função. Mas veja! Não se trata de qualquer 
antecedente. Para ser impeditivo ao cargo de juiz deve ser incompatível com 
as funções que um magistrado irá assumir. Assim, por exemplo, uma lesão 
corporal culposa no trânsito, em regra, não será causa impeditiva ao cargo.
No que se refere ao concurso de ingresso na carreira da magistratura, o 
CNJ uniformizou as regras em todos os ramos do Poder Judiciário nacional.2
A partir da nova Resolução, o concurso deverá ser realizado em cinco eta-
pas, ao contrário da antiga que previa apenas quatro fases.
Na primeira etapa, o candidato realizará uma prova objetiva seletiva, de 
caráter eliminatório e classificatório. Exclusivamente para a execução desta 
fase, os Tribunais poderão contratar os serviços de instituições especializadas.
Para a segunda etapa, também de caráter eliminatório e classificatório, 
o candidato deverá responder questões discursivas e elaborar uma sentença.
A terceira etapa é constituída de três fases de caráter apenas eliminatório: 
sindicância da vida pregressa e investigação social; exame de sanidade física e 
mental e, por último, exame psicotécnico.
Vencidas essas três etapas, o candidato deverá ser argüido através da prova 
oral (quarta etapa) pela Banca do Concurso. A fim de dar maior transparência 
e confiabilidade a esta fase, a Resolução determinou o registro em gravação de 
áudio ou por qualquer outro meio que possibilite a sua posterior reprodução.
Por fim, a quinta e última etapa, com a apresentação dos títulos que 
eventualmente o candidato possua, é meramente classificatória, chegando-se 
ao final do concurso com a classificação final. 2. Resolução do CnJ nº 118/2010. 
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FGV DIREITO RIO 14
3 Artigo 93, ii, e da Constituição Federal.
Assim, os juízes iniciam a carreira em cargos inferiores (Juiz substituto – 
Art 93-I da CF), com possibilidade de acesso a cargos mais elevados, segundo 
critérios de promoção, por antiguidade e merecimento, alternadamente, con-
forme dispõe o Artigo 93, II da CF. 
Para prosseguir na carreira, haverá promoções por antiguidade e por mere-
cimento, chegando ao segundo grau de jurisdição, quando passará a integrar 
o tribunal respectivo.
A aferição de merecimento se dará com base no desempenho, nos critérios 
objetivos de produtividade e presteza no exercício da função, bem como a 
freqüência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfei-
çoamento.
Exemplo disso foi a introdução pela EC nº 45 (Reforma do Judiciário), 
de um critério impeditivo de promoção do magistrado. Trata-se do juiz que 
injustificadamente retiver autos em seu poder além do prazo legal3.
Há, também, outra forma pela qual um profissional do Direito pode vir a 
integrar a magistratura. Por meio do instituto jurídico denominado “Quin-
to constitucional.” O quinto constitucional tem previsão na Constituição 
Federal e estabelece a forma de integração de advogados e membros do Mi-
nistério Público aos quadros dos tribunais estaduais (Art. 94 da CF) e federais 
(art. 107, I; 111-A, I; 115,I; 123, Parágrafo único, I e II da CF). Em regra, a 
partir de uma lista tríplice encaminhada pelo próprio Tribunal, o governador 
do estado ou o Presidente da República escolherá um de seus integrantes 
para nomeação, matéria que estudaremos mais profundamente no decorrer 
do curso.
4) A INDEPENDÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO E SUAS GARANTIAS
Como já estudado, o objetivo inicial da clássica separação das funções do 
Estado e distribuição entre órgãos autônomos e independentes tem como 
finalidade a proteção da liberdade individual, dos direitos fundamentais e do 
Estado Democrático de direito.
Para tanto, atribuiu-lhes um mecanismo de controles recíprocos, denomi-
nado freios e contrapesos (checks and balances).
A estes órgãos (Legislativo, Executivo, Judiciário) a Constituição Federal 
confiou parcela da autoridadesoberana do Estado, garantindo-lhes autono-
mia e independência.
O legislador constituinte, no intuito de preservar este mecanismo recípro-
co de controle e a perpetuidade do Estado democrático, previu, para o bom 
exercício das funções estatais, diversas prerrogativas, imunidades e garantias 
a seus agentes políticos.
3. Artigo 93, ii, e da Constituição 
Federal.
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FGV DIREITO RIO 15
4 Artigo 93, ii, c da Constituição Federal.
As garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário têm, assim, o 
condão de conferir à instituição a necessária independência para o exercício 
da jurisdição.
Podemos então dividir tais garantias, para melhor visualização e estudo, 
em garantias institucionais e garantias aos membros.
Ao Poder Judiciário como instituição, a Constituição assegura a prerroga-
tiva do autogoverno funcional. E em que consiste o autogoverno? Consiste 
na autonomia administrativa e financeira. É o exercício pelo Poder Judici-
ário de atividades normativas e administrativas de auto-organização e auto-
-regulamentação. Compreende ainda a autonomia financeira, consistente na 
prerrogativa de elaboração de proposta orçamentária e na gestão das dotações 
pelos próprios tribunais.
É o próprio Judiciário ainda quem organiza suas secretarias e serviços au-
xiliares, elege seus órgãos diretivos e elabora seus regimentos internos, con-
cede licenças, férias e afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores, 
dá provimento, por concurso público, aos cargos necessários à administração 
da Justiça etc.
Já as garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário dividem-se 
em garantias de independência e garantias de imparcialidade.
As primeiras se destinam a tutelar a independência do magistrado perante 
órgãos ou entidades estranhas ao Poder Judiciário ou até mesmo pertencentes 
à própria organização judiciária.
São elas: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, to-
das elas disciplinadas no Artigo 95 da Constituição.
A vitaliciedade é a impossibilidade de perda do cargo senão por sentença 
transitada em julgado, dentro de determinadas hipóteses previstas em lei.
Não é possível, portanto, após o vitaliciamento, a exoneração do magistra-
do de seu cargo por mero procedimento administrativo.
Sua aquisição se dá após o chamado estágio probatório, ou seja, após dois 
anos de efetivo exercício da carreira, mediante aprovação no concurso de 
provas e títulos.
Durante este período de prova, o magistrado deverá prestar conta de sua 
atuação por meio de relatórios periódicos, além das correições a que será 
submetido.
A Emenda Constitucional nº 45 acrescentou mais um requisito. Trata-se 
da necessária participação do magistrado em cursos oficial ou reconhecido 
por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados4.
A EC 45 permitiu, entretanto, que o CNJ possa quebrar a vitaliciedade 
do magistrado em procedimento próprio. Portanto, a única hipótese de um 
magistrado vitalício perder o cargo sem processo judicial é através de proce-
dimento determinado pelo CNJ.
4. Artigo 93, ii, c da Constituição 
Federal.
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FGV DIREITO RIO 16
5 O CnJ aprovou a Resolução 34, de abril 
de 2007, que regulamenta a atividade 
de magistério pelo Magistrado. Basica-
mente, veda ao magistrado o exercício 
de atividade de magistério ligada à 
gestão.
Confira-se decisão do STF:
“Poder Judiciário. CNJ. Competência. Magistratura. Magistrado vitalício. 
Cargo. Perda mediante decisão administrativa. Previsão em texto aprovado pela 
Câmara dos Deputados e constante do Projeto que resultou na EC 45/2004. 
Supressão pelo Senado Federal. Reapre ciação pela Câmara. Desnecessidade. Sub-
sistência do sentido normativo do texto residual aprovado e promulgado (art. 
103-B, § 4º, III). Expressão que, ademais, ofenderia o disposto no art. 95, I, 
parte final, da CF. Ofensa ao art. 60, § 2º, da CF. Não ocorrência. Arguição 
repelida. Precedentes. Não precisa ser reapreciada pela Câmara dos Deputados 
expressão suprimida pelo Senado Federal em texto de projeto que, na redação 
remanescente, aprovada de ambas as Casas do Congresso, não perdeu sentido 
normativo.” (ADI 3.367, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 13-4-2005, 
Plenário, DJ de 22-9-2006.)
A inamovibilidade, por sua vez, consiste na impossibilidade de se remo-
ver membro da instituição do órgão onde esteja lotado, sem a sua manifesta-
ção voluntária.
A inamovibilidade não sofre exceção sequer em caso de promoção, que 
não pode ocorrer sem a aquiescência do magistrado. Em caso de interesse 
público, porém, reconhecido pelo voto da maioria absoluta do Tribunal ou 
do Conselho Nacional de Justiça, dispensa-se essa anuência.
Por fim, a irredutibilidade de subsídios emerge da necessidade de se 
garantir ao juiz, para o bom desempenho de suas relevantes funções institu-
cionais, imunidade a eventuais retaliações dos governantes no que concerne 
à diminuição de sua remuneração.
Ressalte-se, porém, que tal garantia não é impeditiva da incidência de 
quaisquer tributos sobre os vencimentos dos juízes.
As garantias de imparcialidade são impedimentos constitucionais dos 
juízes que consistem em vedações que visam a dar-lhes melhores condições 
de imparcialidade, representando, assim, uma garantia para os litigantes.
O juiz é impedido, consoante o Artigo 95, parágrafo único da CF, de:
“I — exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun-
ção, salvo uma de magistério;5
II — receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participa-
ção em processo;
III — dedicar-se à atividade político-partidária.
IV — receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contri-
buições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalva-
das as exceções previstas em lei;
5. O CnJ aprovou a Resolução 34, 
de abril de 2007, que regulamenta a 
atividade de magistério pelo Magistra-
do. Basicamente, veda ao magistrado 
o exercício de atividade de magistério 
ligada à gestão.
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FGV DIREITO RIO 17
6 Artigo 95, parágrafo único da Consti-
tuição Federal.
7 Artigo 128, §6º da Constituição Fe-
deral.
8 TAVARES, André Ramos. Reforma do 
Judiciário no Brasil Pós-88. Saraiva, 
2005, p.86.
V — exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, 
antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposenta-
doria ou exoneração.6”
Este inciso V é mais uma inovação trazida pela Reforma do Judiciário — 
EC nº 45. Trata-se da quarentena, imposta aos juízes e membros do Minis-
tério Público7.
A finalidade da norma é preservar a imparcialidade-neutralidade dos juízes 
e tribunais nos quais o ex-juiz ou ex-promotor tenha atuado. O trabalho, 
como é sabido, cria laços de amizade e companheirismo entre colegas da pro-
fissão. Surge daí a necessidade de se evitar o tráfico de influência que poderia 
ocorrer nestes casos.
Parte dos estudiosos festeja a inovação, sendo um dos reclamos atendidos 
pelo constituinte derivado, como garantia de uma maior imparcialidade nas 
decisões do Poder Judiciário.
Outros, porém, criticam a forma como isto restou estipulado:
“A norma não se apresenta apta a inibir o exercício da advo-
cacia nos termos estipulados, vez que juízes e promotores poderão 
utilizar-se de outras pessoas para atuarem em seu nome. Ademais, 
não será pelo mero decurso do período de três anos (prazo temporal 
desacompanhado de qualquer outra exigência mais firme) que os 
possíveis laços de amizade e influência de um magistrado desapare-
cerão. Pelo contrário, o comum é que a mera passagem do tempo os 
fortaleça, se já existiam realmente. Se não existiam, o problema não 
se põe e a restrição é inadmissível. Assim, a medida não se mostra 
eficaz na prática.Há um pressuposto sinistro, além disso, de que juízes e promoto-
res, que até então eram responsáveis pela prestação da Justiça, no 
dia seguinte passariam a adotar atitudes imorais e desonestas, para 
atender a interesses pessoais escusos.
Por fim, impedir pura e simplesmente, o exercício da advocacia, 
por juízes ou promotores que se aposentaram ou foram exonerados, 
significa restringir direitos individuais, o que só tem sentido se for 
para salvaguardar o interesse público, o que não parece ser facil-
mente demonstrável no caso em tela.8”
A OAB deverá passar a averiguar e controlar o triênio na atribuição da 
carteira funcional aos ex-integrantes do Judiciário e Ministério Público.
Outro impedimento, previsto na LOMAN, veda ao magistrado se “ma-
nifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de 
julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou 
6. Artigo 95, parágrafo único da 
Constituição Federal.
7. Artigo 128, §6º da Constituição 
Federal.
8. TAVARES, André Ramos. Reforma 
do Judiciário no Brasil Pós-88. Saraiva, 
2005, p.86.
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FGV DIREITO RIO 18
9 Artigo 36, iii da Lei Complementar 
35/79.
sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou 
no exercício do magistério.9”
Veja o que decidiu o STF sobre o assunto:
“O magistrado é inviolável pelas opiniões que expressar ou pelo con-
teúdo das decisões que proferir, não podendo ser punido nem preju-
dicado em razão de tais pronunciamentos. É necessário, contudo, que 
esse discurso judiciário, manifestado no julgamento da causa, seja com-
patível com o usus fori e que, desprovido de intuito ofensivo, guarde, 
ainda, com o objeto do litígio, indissociável nexo de causalidade e de 
pertinência. A ratio subjacente à norma inscrita no art. 41 da Loman 
decorre da necessidade de proteger os magistrados no desempenho de 
sua atividade funcional, assegurando-lhes condições para o exercício 
independente da jurisdição. É que a independência judicial constitui 
exigência política destinada a conferir, ao magistrado, plena liberda-
de decisória no julgamento das causas a ele submetidas, em ordem a 
permitir-lhe o desempenho autônomo do officium judicis, sem o temor 
de sofrer, por efeito de sua prática profissional, abusivas instaurações de 
procedimentos penais ou civis.” (Inq 2.699-QO, Rel. Min. Celso de 
Mello, julgamento em 12-3-2009, Plenário, DJE de 8-5-2009.)
Acerca das vedações, destaque-se que o CNJ, através da Resolução n. 
10/2005, proibiu o exercício pelo magistrado de funções nos Tribunais de 
Justiça Desportiva e em Comissões Disciplinares. Visa-se com todas estas 
vedações obter a dedicação exclusiva do magistrado às suas funções constitu-
cionais. Veja decisão do STF sobre o tema:
“Mandado de segurança. Resolução 10/2005 do CNJ. Vedação ao 
exercício de funções, por parte dos magistrados, em tribunais de justi-
ça desportiva e suas comissões disciplina res. Estabelecimento de prazo 
para desligamento. Norma proibitiva de efeitos concretos.
1166.Inaplicabilidade da Súmula 266/STF. Impossibilidade de acu-
mulação do cargo de juiz com qualquer outro, exceto o de magistério. 
A proibição jurídica é sempre uma ordem, que há de ser cumprida sem 
que qualquer outro provimento administrativo tenha de ser praticado. 
O efeito proibitivo da conduta – acumulação do cargo de integrante do 
Poder Judiciário com outro, mesmo sendo este o da Justiça Desportiva 
– dá-se a partir da vigência da ordem e impede que o ato de acumula-
ção seja tolerado. A Resolução 10/2005, do CNJ, consubstancia nor-
ma proibitiva, que incide, direta e imediatamente, no patrimônio dos 
bens juridicamente tutelados dos magistrados que desempenham fun-
ções na Justiça Desportiva e é caracteri zada pela autoexecutoriedade, 
prescindindo da prática de qualquer outro ato administrativo para que 9. Artigo 36, iii da Lei Complemen-
tar 35/79.
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FGV DIREITO RIO 19
as suas determinações operem efeitos imediatos na condição jurídico-
-funcional dos impetrantes. Inaplicabilidade da Súmula 266 do STF. 
As vedações formais impostas constitucionalmente aos magistrados ob-
jetivam, de um lado, proteger o próprio Poder Judi ciário, de modo que 
seus integrantes sejam dotados de condições de total independência 
e, de outra parte, garantir que os juízes dediquem-se, integralmente, 
às funções inerentes ao cargo, proibindo que a dispersão com outras 
atividades deixe em menor valia e cuidado o desempenho da atividade 
jurisdicional, que é função essencial do Estado e direito funda mental 
do jurisdicionado. O art. 95, parágrafo único, I, da CR vinculou-se 
a uma proibição geral de acumulação do cargo de juiz com qualquer 
outro, de qualquer natureza ou feição, salvo uma de magistério.” (MS 
25.938, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24-4-2008, Plená-
rio, DJE de 12-9-2008.)
O quadro abaixo é elucidativo:
Garantias
Da instituição Autogoverno
— Autonomia funcional
— Autonomia administrativa
— Autonomia financeira
Dos membros
Garantias de
independência
— Vitaliciedade
— Inamovibilidade
— Irredutibilidade de subsídios
Garantias de 
imparcialidade 
(vedações)
— exercício de outro cargo ou função, salvo uma de 
magistério;
— recebimento de custas e participações em pro-
cessos;
— dedicar-se à atividade político-partidária;
— receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou 
contribuições de pessoas físicas, entidades públi-
cas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas 
em lei;
— exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual 
se afastou, antes de decorridos três anos do afasta-
mento do cargo por aposentadoria ou exoneração;
— manifestar-se, por qualquer meio de comunica-
ção, opinião sobre processo pendente de julga-
mento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo 
sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos 
judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras 
técnicas ou no exercício do magistério.
— exercer funções nos Tribunais de Justiça Desporti-
va e em Comissões Disciplinares
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FGV DIREITO RIO 20
Finalmente, cabe ressalvar que os magistrados, face ao regime jurídico es-
pecial que possuem, têm ainda prerrogativas e deveres previstos na LOMAN, 
onde se destacam:
Prerrogativas do Magistrado
“Art. 33 — São prerrogativas do magistrado:
I — ser ouvido como testemunha em dia, hora e local previamente ajus-
tados com a autoridade ou Juiz de instância igual ou inferior;
II — não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do órgão es-
pecial competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafian-
çável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação 
do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado (vetado);
III — ser recolhido a prisão especial, ou a sala especial de Estado-Maior, 
por ordem e à disposição do Tribunal ou do órgão especial competente, 
quando sujeito à prisão antes do julgamento final;
IV — não estar sujeito à notificação ou à intimação para compareci-
mento, salvo se expedida por autoridade judicial;
V — portar arma de defesa pessoal.
Parágrafo único — Quando, no curso de investigação, houver indício 
da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou 
militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial compe-
tente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
Deveres do Magistrado
“Art. 35 — São deveres do magistrado:
I — Cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exati-
dão, as disposições legais e os atos de ofício;
II — não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou des-
pachar;
III — determinar as providências necessáriaspara que os atos processu-
ais se realizem nos prazos legais;
IV — tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Pú-
blico, os advogados, as testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, 
e atender aos que o procurarem, a qualquer momento, quanto se trate de 
providência que reclame e possibilite solução de urgência.
V — residir na sede da Comarca salvo autorização do órgão disciplinar 
a que estiver subordinado;
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FGV DIREITO RIO 21
VI — comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a 
sessão, e não se ausentar injustificadamente antes de seu término;
VIl — exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especialmente 
no que se refere à cobrança de custas e emolumentos, embora não haja re-
clamação das partes;
VIII — manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.”
Todas estas garantias e deveres, que constituem uma “blindagem” para o exer-
cício pleno das atividades da magistratura, são imprescindíveis à democracia, à 
perpetuidade da separação dos poderes e ao respeito aos direitos fundamentais, 
configurando suas ausências, supressões ou mesmo reduções, obstáculos incons-
titucionais ao Poder Judiciário, no exercício do seu mister constitucional.
Em outubro de 2007, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal 
decidiu afetar ao Plenário o julgamento do recurso extraordinário em que se 
discute se o foro especial por prerrogativa de função estende-se ou não àque-
les que se aposentam em cargos cujos ocupantes ostentam tal prerrogativa.
“Juiz Aposentado: Vitaliciedade e Prerrogativa de Foro
A Turma, em questão de ordem, decidiu, por maioria, afetar ao Plenário 
julgamento de recurso extraordinário em que se discute se o foro especial por 
prerrogativa de função estende-se ou não àqueles que se aposentam em cargos 
cujos ocupantes ostentam tal prerrogativa. Trata-se, na espécie, de agravo de 
instrumento convertido em recurso extraordinário criminal interposto, por 
desembargador aposentado, contra decisão da Corte Especial do STJ que de-
clinara de sua competência, em ação penal contra ele instaurada, ao fun-
damento de que, em decorrência de sua aposentadoria, não teria direito à 
prerrogativa de foro pelo encerramento definitivo da função. O ora recorrente 
sustenta a incidência do art. 95, I, da CF, assegurador da vitaliciedade aos 
magistrados, sob a alegação de que esta somente poderia ser afastada por sen-
tença judicial transitada em julgado, na qual consignada a perda do cargo. 
Alega, ainda, que a correta leitura do art. 105, I, a, da CF, incluiria também 
os desembargadores aposentados, uma vez que interpretação diversa desse dis-
positivo o colocaria em situação inusitada, pois, o submeteria, na qualidade 
de ex-presidente e ex-corregedor-geral, a juiz que eventualmente tenha recebi-
do alguma sanção disciplinar. Por fim, pleiteia o reconhecimento da negativa 
de vigência aos artigos 5º, XXXV, LIV, LV, e § 2º e 93, IX, ambos da CF e, 
alternativamente, requer sejam tidos como transgredidos os artigos 94, I e 
105, I, da CF. Vencidos, quanto ao deslocamento, os Ministros Carlos Britto 
e Cármen Lúcia que, tendo em conta a existência de precedentes da Corte, 
consideravam que a matéria poderia ser decidida pela própria Turma. RE 
549560/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 23.10.2007. (RE-549560)”
Informativo nº 485 do STF — de 22 a 26 de outubro de 2007.
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FGV DIREITO RIO 22
Quanto aos Juízes de primeiro grau que são convocados pelos Tribunais de 
Justiça para exercer a função de desembargador, o Superior Tribunal de Jus-
tiça já decidiu que eles não possuem a prerrogativa de foro prevista no artigo 
105 da Constituição Federal. A prerrogativa é vinculada ao cargo e não ao 
eventual exercício da função em substituição:
“PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. JUÍZA DE 1º 
GRAU EM SUBSTITUIÇÃO NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AU-
SÊNCIA DE PRERROGATIVA DE FORO. AGRAVO IMPROVIDO.
1. Os Juízes de 1º grau em substituição nos Tribunais de Justiça não 
possuem a prerrogativa de foro assegurada pelo art. 105, inciso I, da Cons-
tituição da República.
2. Agravo regimental improvido.”
(AgRg na Representação nº 368 — BA (2007/0195172-5), Relator 
Ministro Arnaldo Esteves Lima. Acórdão publicado em 15/05/2008)
CASO DE SEDIMENTAÇÃO 1:
Magistrado tem que se explicar em CPI?
Após ter estudado bastante para seu concurso público, relembrando todo o 
material da graduação da FGV, você se encontra no exercício da magistratura 
federal. Recentemente, atuou em processo rumoroso, que lhe rendeu bastante tra-
balho, tendo proferido 20 laudas de decisão para o deferimento de liminar em 
favor da Empresa X, a qual litigava contra a Caixa Econômica Federal acerca de 
expressivo numerário que teria sido irregularmente utilizado por esta estatal com 
violação a direitos contratuais da Empresa X. Passados dois meses do deferimento 
da liminar, eis que surge uma correspondência do Senado Federal em seu gabi-
nete, convocando-o a “prestar esclarecimentos perante a Comissão Parlamentar 
de Inquérito dos Bingos”, tendo em vista ter você proferido decisão contra a CEF, 
em favor da Empresa X, ambas sob investigação da CPI. Está você obrigado a 
comparecer?Está obrigado a prestar esclarecimentos acerca de sua decisão? Em 
caso de respostas negativas, o que você poderia fazer?
Leitura obrigatória:
HC 86581/DF. Rel. Min. Ellen Gracie, 23/2/2006, disponível no sítio 
eletrônico do Supremo Tribunal Federal
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FGV DIREITO RIO 23
10 Disponíveis para consulta no link 
http://www.cnj.jus.br/relatorios
11 Um exemplo disso é a Emenda Cons-
titucional n. 50, que se originou da PEC 
347/96, e que o CnJ pediu, em seu re-
latório de 2005 a prioridade do Poder 
Legislativo para a sua aprovação (ver 
página 94 do relatório).
5) O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Após a análise sobre o Poder Judiciário e a necessidade de sua imparcia-
lidade e independência, convém tratarmos da legitimidade de um controle 
externo sobre suas atividades.
A Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, denomi-
nada Reforma do Judiciário, estabeleceu, como órgão do Poder Judiciário, o 
Conselho Nacional de Justiça. Trata-se da implementação do controle exter-
no da administração da Justiça em nosso ordenamento, como ocorre já de há 
muito tempo em alguns países da Europa.
Diversas motivações nortearam o Congresso Nacional. Uma delas, de 
grande apelo popular, dizia respeito à moralidade administrativa, sacrificada 
por atos de nepotismo, falta de concursos públicos para contratação de asses-
sores e abuso de poder encontráveis, em maior ou menor grau, na magistra-
tura estadual e federal.
As questões levantadas são tipicamente de administração da Justiça, en-
contrando no âmbito do Conselho recém criado um foro adequado para a 
sua discussão ampla.
Por isso, a competência do Conselho para o controle do cumprimento dos 
deveres funcionais de juízes. Está previsto ainda o controle da atuação admi-
nistrativa e financeira, com a conseqüente elaboração anual de relatório10, 
propondo as providências necessárias sobre a situação do Poder Judiciário no 
país e da prestação do serviço jurisdicional, sugerindo, inclusive, alterações 
nas legislações e na própria Constituição11. Controle de atuação administra-
tiva e financeira significam uma avaliação do serviço prestado. O sistema de 
Justiça e subsistemas que o integram são considerados atualmente não sim-
plesmente como o exercício de uma potestade pública, mas como serviços 
públicos, suscetíveis de serem organizados, dirigidos e avaliados da mesma 
maneira como podem sê-lo a saúde, a educação, o transporte etc. A transpa-
rência é essencial. Esta competência teve como motivação a necessidade de 
oEstado brasileiro oferecer às cidadãs e cidadãos do país uma administração 
de Justiça ágil, transparente e eficaz para a proteção dos direitos e reparação 
das violações.
Neste cenário, foi criado o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão 
integrante do Poder Judiciário brasileiro, com atuação em todo o territó-
rio nacional, instalado em 14 de junho de 2005, com sede em Brasília, e 
composto pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e mais 14 membros 
nomeados pelo presidente da República, depois de aprovada a escolha pela 
maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admiti-
da uma recondução. Em sua maioria (nove integrantes), o CNJ é composto 
por membros do próprio Poder Judiciário e pode ser dividido da seguinte 
forma:
10. Disponíveis para consulta no link 
http://www.cnj.jus.br/relatorios
11. Um exemplo disso é a Emenda 
Constitucional n. 50, que se originou da 
PEC 347/96, e que o CnJ pediu, em seu 
relatório de 2005 a prioridade do Poder 
Legislativo para a sua aprovação (ver 
página 94 do relatório).
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 24
(a) Membros do Judiciário (9):
— o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
— um ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respec-
tivo tribunal;
— um ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo res-
pectivo tribunal;
— um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo 
Tribunal Federal;
— um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
— um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribu-
nal de Justiça;
— um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
— um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal 
Superior do Trabalho;
— um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
(b) Membros das Funções essenciais à Justiça (4):
Ministério Público (2):
— um membro do Ministério Público da União, indicado pelo procu-
rador-geral da República;
— um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo pro-
curador-geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão 
competente de cada instituição estadual;
Advocacia (2):
— dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos 
Advogados do Brasil;
(c) Membros da sociedade escolhidos pelo Legislativo (2):
— dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indica-
dos um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
Cabe destacar que, com a alteração promovida pela Emenda Constitucional 
nº 61/2009, caberá ao Presidente do STF presidir o Conselho Nacional de 
Justiça e, nas suas ausências e impedimentos, caberá ao Vice-Presidente do STF.
Para o Supremo Tribunal Federal, “a existência, no Conselho de membros 
alheios ao corpo da magistratura, além de viabilizar a erradicação do corporati-
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 25
12 Ministro nelson Jobim, então Minis-
tro do STF, em artigo “Judiciário: Cons-
truindo um novo modelo; in “A reforma 
do Poder Judiciário no Estado do Rio de 
Janeiro. Fundação getúlio Vargas-Rio 
de Janeiro, 2005.
vismo, estende uma ponte entre o Judiciário e a sociedade, permitindo a oxigena-
ção da estrutura burocrática do Poder e a resposta a críticas severas” (STF — Ple-
no — ADIN nº 3.367/DF — Rel. Min. César Peluso, decisão: 13-4-2005).
Doutrina e jurisprudência muito divergiam a respeito da constitucionali-
dade da criação deste controle externo. A discussão passava principalmente 
por dois pontos: a independência dos poderes (Art. 2º da CF) e a vulneração 
das cláusulas pétreas (Art. 60,§ 4º da CF).
Pense, medite e responda:
Viola a criação do CNJ a independência entre os poderes e as cláusulas 
pétreas?
Até que ponto a criação desse órgão controlador não iria ferir a inde-
pendência dos poderes, tão preservada em nossa Constituição e que veio 
inclusive coberta pelo manto da imutabilidade das cláusulas pétreas?
Ocorre que, como é cediço, as estruturas do Poder — Legislativo, Execu-
tivo e Judiciário — vêm sofrendo um grande desgaste nas últimas décadas. 
Questões relevantes precisam ser discutidas para a reestruturação do Estado 
e dos poderes públicos. O Parlamento não mais, necessariamente, reflete a 
vontade popular, havendo necessidade de uma ampla reforma política, prin-
cipalmente no tocante ao sistema eleitoral.
No campo do Poder Executivo, problemas semelhantes se apresentam. A 
transformação do Estado Liberal para o Estado do Bem-Estar Social mudou 
completamente a relação Executivo — Sociedade. São as privatizações, as agên-
cias reguladoras, a ingerência cada vez maior do Estado na vida do particular...
Da mesma forma, é inegável também a crise no Judiciário brasileiro. O 
nosso Judiciário é considerado lento, ineficaz e caro. O Judiciário tornou-se 
protagonista de uma série de conflitos, mas não vem sendo capaz de dar as 
tão almejadas respostas à sociedade.
QUAIS AS CAUSAS PARA ESTA CRISE DO JUDICIÁRIO? 
Para o STF, as causas são muitas, mas especialmente:
— A criação dos Juizados Especiais na Justiça Estadual, em 1995, 
e na Justiça Federal, em 2002, que elevou significativamente o acesso 
à Justiça;
— A intensa judicialização das denominadas lesões de massa, 
como por exemplo, as questões decorrentes dos planos econômicos;
— O aumento da criminalidade organizada;
— O aumento do controle de constitucionalidade, tanto a nível 
concentrado quanto a nível difuso.12
12. Ministro nelson Jobim, então 
Ministro do STF, em artigo “Judiciário: 
Construindo um novo modelo; in “A 
reforma do Poder Judiciário no Estado 
do Rio de Janeiro. Fundação getúlio 
Vargas-Rio de Janeiro, 2005.
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 26
Uma das soluções encontradas para se acabar com a crise no Judiciário foi 
a sua Reforma, ocorrida em 2004, com a EC nº 45, que criou o então órgão 
de controle externo, denominado Conselho Nacional de Justiça.
Tal criação já foi objeto de Ação de Declaração de Inconstitucionalidade, 
ADIN nº 3367, julgada em abril de 2005, tendo como relator o ministro Ce-
zar Peluso, tendo sido reconhecida a constitucionalidade do Conselho Nacio-
nal de Justiça.
Trata-se de um órgão cuja natureza é meramente administrativa. Órgão 
interno do Poder Judiciário de controle administrativo, financeiro e disci-
plinar da magistratura. Não há infringência nas funções típicas do Judici-
ário. Preserva-se a imparcialidade e a independência do magistrado, apesar 
do mesmo passar a se submeter a um controle administrativo externo por 
parte do CNJ. Esta decisão inova não somente em relação ao CNJ, cuja 
constitucionalidade foi declarada, mas também reforça e centraliza na força 
do Supremo Tribunal Federal todo o ordenamento jurídico-constitucional 
brasileiro. Torna o STF não só a cúpula jurisdicional do Poder Judiciário 
brasileiro, como já tradicionalmente estabelecido, como também, a partir da 
EC nº 45/04, sua cúpula administrativa, financeira e disciplinar, pois todas 
as decisões do CNJ sobre o controle da atuação administrativa e financeira 
dos tribunais e sobre a atuação funcional dos magistrados serão passíveis de 
controle jurisdicional pelo STF, que fixará o último posicionamento. Leia a 
seguir o trecho da decisão acerca deste ponto:
“(...) 4. PODER JUDICIÁRIO. Conselho Nacional de Justiça. 
Órgão de natureza exclusivamente administrativa. Atribuições de 
controle da atividade administrativa, financeira e disciplinar da 
magistratura. Competência relativa apenas aos órgãos e juízes si-
tuados, hierarquicamente, abaixo do Supremo Tribunal Federal. 
Preeminência deste, como órgão máximo do Poder Judiciário, sobre 
o Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu controle jurisdi-
cional. Inteligência dos art. 102, caput, inc. I, letra “r”,e § 4º, da 
CF. O Conselho Nacional de Justiça não tem nenhuma competência 
sobre o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, sendo esse o ór-
gão máximo do Poder Judiciário nacional, a que aquele está sujeito. 
(...)”
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 27
Seria constitucional um Estado da Federação criar um órgão similar ao CNJ no 
âmbito estadual?
O Supremo Tribunal Federal também já teve a oportunidade de 
solucionar tal questão, na mesma ADIN, nos seguintes termos:
“(...) 3. PODER JUDICIÁRIO. Caráter nacional. Regime or-
gânico unitário. Controle administrativo, financeiro e discipli-
nar. Órgão interno ou externo. Conselho de Justiça. Criação por 
Estado membro. Inadmissibilidade. Falta de competência consti-
tucional. Os Estados membros carecem de competência constitu-
cional para instituir, como órgão interno ou externo do Judiciá-
rio, conselho destinado ao controle da atividade administrativa, 
financeira ou disciplinar da respectiva Justiça.(...)”
Como já ressaltado acima, a jurisdição é una. Como expressão do 
poder estatal, ela é eminentemente nacional e não comporta divi-
sões. Desta forma, como bem assinalou o STF, o Poder Judiciário é 
nacional e seu regime orgânico é unitário, não comportando a insti-
tuição de novos órgãos controladores em âmbito estadual.
Desta forma, três são os pontos caracterizadores do CNJ que afastam a 
possibilidade de declaração de sua inconstitucionalidade sob alegação de in-
terferência na separação de Poderes:
é órgão integrante do Poder Judiciário;
sua composição apresenta maioria absoluta de membros do Poder 
Judiciário;e
existe possibilidade de controle de seus atos pelo órgão da cúpula do Poder 
Judiciário, o Supremo Tribunal Federal.
Resta, portanto, agora, saber quais são as tão discutidas atribuições do 
CNJ.
A Constituição Federal trouxe, em seu Artigo 103-B, § 4º, um rol exem-
plificativo das mais importantes atribuições do CNJ. Passam elas pelo con-
trole da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumpri-
mento dos deveres funcionais dos juízes.
Veja uma decisão do STF acerca do tema:
“O CNJ, embora integrando a estrutura constitucional do Poder 
Judiciário como órgão interno de controle administrativo, financeiro 
e disciplinar da magistratura — excluídos, no entanto, do alcance de 
referida competência, o próprio STF e seus ministros (ADI 3.367/DF) 
—, qualifica-se como instituição de caráter eminentemente adminis-
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 28
trativo, não dispondo de atribuições funcionais que lhe permitam, quer 
colegialmente, quer mediante atuação monocrática de seus conselhei-
ros ou, ainda, do corregedor nacional de justiça, fiscalizar, reexaminar 
e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteúdo jurisdicional 
emanados de magistrados e tribunais em geral, razão pela qual se mos-
tra arbitrária e destituída de legitimidade jurídico-constitucional a de-
liberação do corregedor nacional de justiça que,
1419 Art. 103-B, § 4º, II agindo ultra vires, paralise a eficácia de de-
cisão que tenha concedido mandado de segurança.” (MS 28.611-MC-
-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 14-10-2010, Plená-
rio, DJE de 1º-4-2011.) No mesmo sentido: MS 28.598-MC-AgR, 
Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 14-10-2010, Plenário, DJE 
de 9-2-2011; MS 27.148-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento 
em 11-5-2011, Plenário, DJE de 25-5-2011.
Para uma maior aproximação do Conselho Nacional de Justiça com a 
sociedade, garantindo maior efetividade na sua atuação, a EC nº 45/2004 
previu ainda no Art. 103-B, §7º, a criação de Ouvidorias de Justiças, com 
competência para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado 
contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxi-
liares, representando diretamente ao CNJ.
Questão que tem encontrado grande divergência jurisprudencial e doutriná-
ria diz respeito aos limites do poder normativo do CNJ. A Reforma do Judiciá-
rio lhe conferiu a importante atribuição de zelar pela autonomia do Poder Judi-
ciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos 
regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências.
Há que se explicitar qual o real objetivo do constituinte ao conferir tal 
poder regulamentar ao CNJ. Seria um grande equívoco imaginar que a so-
ciedade tivesse conferido ao CNJ o poder de, mediante resoluções, substituir 
a vontade geral do povo, ou seja, substituir o Poder Legislativo. Da mes-
ma forma, seria errôneo o entendimento de que o CNJ poderia substituir o 
próprio Poder Judiciário, por meio de concessão de medidas liminares, por 
exemplo, de caráter jurisdicional. Não pode o CNJ romper com os princípios 
da reserva da lei e da reserva de jurisdição. O poder de expedir atos regulamen-
tares tem um objetivo específico, qual seja, o controle administrativo. Aliás, 
essa é a ratio essendi da criação do CNJ. Tratando-se de atos de fiscalização 
administrativa, apenas podem dizer respeito à situações concretas. Essa é a 
distinção. A matéria reservada à lei, geral e abstrata, diz respeito a previsão de 
comportamentos futuros. Já a matéria reservada aos atos regulamentares do 
CNJ diz respeito as diversas situações que surjam da atividade concreta dos 
juízes, exercendo o CNJ um controle destas. São dois os limites, portanto:
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 29
não pode expedir atos regulamentares com caráter geral de abstrato, em 
face da reserva de lei; e
não pode se ingerir nos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, 
face a cláusula de proibição de restrição a direitos e garantias fundamentais, 
que se sustenta na reserva de lei.
Desta forma, os atos regulamentadores do CNJ esbarram assim na im-
possibilidade de inovar e na impossibilidade de restringir direitos e garantias 
pessoais, funcionais e institucionais. Deve-se restringir, portanto, a emitir 
atos regulamentares de carárter fiscalizatório, porém, somente em sede ad-
ministrativa.
Pode o CNJ, por meio de um Procedimento Administrativo, anular concurso público 
para Juiz de Direito substituto? E mais, poderia fazê-lo ex officio?
Sim, tendo em vista a previsão contida nos artigos 91 e 93 do novo 
Regimento Interno do CNJ.
Art. 91. O controle dos atos administrativos praticados por mem-
bros ou órgãos do Poder Judiciário será exercido pelo Plenário do CNJ, 
de ofício ou mediante provocação, sempre que restarem contrariados 
os princípios estabelecidos no art. 37 da Constituição, especialmente 
os de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, 
sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União e dos 
Tribunais de Contas dos Estados.
Art. 93. A instauração de ofício do procedimento de controle admi-
nistrativo poderá ser determinada pelo Plenário, mediante proposição 
de Conselheiro, do Procurador-Geral da República ou do Presidente 
do Conselho Federal da OAB.
cargo público, tal exigência dependerá de expressa previsão legal, em 
razão do princípio da legalidade. Foi com base nestes dois artigos, que o 
Plenário do STF, por unanimidade de votos, negou o Mandado de Segurança 
26163-DF impetrado contra decisão do CNJ que anulou, de ofício, o VII 
Concurso Público para a Magistratura do Amapá.
Outra decisão importante do CNJ, a respeito do concurso público, foi a 
proferida no PCA (Procedimento de Controle Administrativo) nº 347 com 
relação ao concurso para ingresso na magistratura no Estado de São Paulo, 
que limitava a participação no certame somente àqueles que haviam comple-
tado 45 anos de idade no último dia da inscrição.
O Plenário do CNJ, por unanimidade, afastou tal dispositivo do edital de 
abertura do concurso por considerar que a limitação de idade não coadunaORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 30
com a interpretação sistêmica do ordenamento jurídico pátrio, além de repre-
sentar afronta aos princípios da isonomia, da razoabilidade e da legalidade.
Considerou-se a proibição constitucional de qualquer discriminação em ra-
zão da idade, notadamente no que se refere à inserção dos indivíduos no mer-
cado de trabalho. Sendo assim, a legislação ordinária ou os editais de concursos 
públicos só fixar limites etários para ingresso no serviço público quando a na-
tureza do cargo o exigir (art. 39, § 3º, CF). E que, ainda que possível em de-
terminados casos a estipulação de idade mínima ou máxima para ingresso em
Cumpre-nos ressaltar, porém, que o Supremo Tribunal Federal, apesar da 
criação do Conselho Nacional de Justiça como órgão integrante do Poder 
Judiciário Brasileiro, continua sendo a Corte máxima deste Poder, sendo o 
órgão legitimado para o julgamento de questões que envolvam decisões to-
madas pelo CNJ ou regulamentos por este expedidos.
DEBATES: ATIVISMO JUDICIAL E JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA.
JURISPRUDÊNCIA
Poder Judiciário
Art. 93, XI, da CF: Tribunal Pleno e Órgão Especial — 1
O Tribunal iniciou julgamento de liminar em mandado de segurança im-
petrado por desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 
— TJSP contra decisão do Conselho Nacional de Justiça — CNJ que defe-
rira, em parte, medida liminar em procedimento de controle administrativo 
— PCA para anular a expressão “a ser submetida à apreciação do Tribunal Ple-
no”, contida no art. 1º e todo o art. 5º da Portaria 7.348/2006 do Presiden-
te do TJSP, bem como para cassar todas as deliberações administrativas ou 
normativas do Tribunal Pleno que usurparam atribuições do Órgão Especial, 
em violação do Enunciado Administrativo 2 do CNJ e das Constituições Es-
tadual e Federal. Entendera o voto condutor da decisão do CNJ que, criado 
o Órgão Especial, passariam automaticamente para a sua competência todas 
as atribuições administrativas e jurisdicionais que eram do Pleno, exceto a 
eletiva. Na espécie, diante da extinção dos Tribunais de Alçada paulistas (EC 
45/2004, art. 4º), o Presidente do TJSP convocara o Plenário para deliberar 
sobre as competências a delegar ao seu Órgão Especial, haja vista o dispos-
to no novo inciso XI do art. 93 da CF, o que resultara no requerimento de 
instauração do aludido PCA, ao CNJ, por integrantes do Órgão Especial, 
visando manter a supremacia jurisdicional e administrativa deste (CF, art. 
93: “XI — nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, pode-
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 31
rá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e 
cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais 
delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por 
antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno;”).
MS 26411/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 22.3.2007. (MS-26411) — 
Informativo 460
Art. 93, XI, da CF: Tribunal Pleno e Órgão Especial — 2
Inicialmente, o Tribunal, por maioria, em questão de ordem, admitiu que o 
pedido liminar fosse submetido ao Pleno pelo relator. Vencido, no ponto, o Min. 
Marco Aurélio que considerava caber ao próprio relator definir a procedência ou 
não do pedido de concessão de liminar, tendo em conta o disposto na Lei 1.533/51 
e no Regimento Interno do STF, bem como o Enunciado da Súmula 622 do STF 
(“Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere 
liminar em mandado de segurança”). Em seguida, afirmou-se a legitimidade ati-
va dos impetrantes. Salientou-se estar diante de mandado de segurança utilizado 
como substitutivo do conflito de competências ou atribuições entre órgãos não 
personalizados de estatura constitucional, e citou-se jurisprudência da Corte no 
sentido de ser reconhecida a legitimação do titular de uma função pública para 
requerer segurança contra ato do detentor de outra tendente a obstar ou usurpar 
o exercício da integralidade de seus poderes ou competências (MS 21239/DF, 
DJU de 23.4.93; MS 20499/DF, DJU de 6.11.87). Asseverou-se ser improce-
dente, ademais, objeção acerca da legitimidade em virtude de a ordem ter sido 
impetrada por uma parcela de integrantes do Plenário do TJSP, e não por titular 
individual do direito-função vindicado. Considerou-se bastar a legitimá-los para 
impetração que, como desembargadores, participem do Plenário, cuja competên-
cia sustentam, e, nessa condição, se pretendam titulares do direito de voto nas suas 
deliberações respectivas, incidindo, no caso, o § 2º do art. 1º da Lei 1.533/51 
(“Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer delas 
poderá requerer o mandado de segurança”).
MS 26411/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 22.3.2007. (MS-26411)
Art. 93, XI, da CF: Tribunal Pleno e Órgão Especial — 3
Quanto à questão de mérito, o Min. Sepúlveda Pertence, relator, deferiu 
a liminar para suspender, até a decisão do mandado de segurança, a eficácia 
da decisão impugnada. Reputou densa a plausibilidade dos fundamentos do 
pedido de segurança, haja vista que a decisão do CNJ minimiza a inovação 
substancial do texto ditado pela EC 45/2004 para o inciso XI do art. 93 da 
CF. Ressaltou, de início, ser de importância decisiva a menção, nele contida, 
ao exercício de atribuições delegadas da competência do Tribunal Pleno, ine-
xistente nos textos anteriores concernentes à instituição do Órgão Especial 
— compulsória na EC 7/77 à Carta decaída, e facultada no texto original da 
ORgAnizAçãO DA JUSTiçA E DAS CARREiRAS JURíDiCAS PúBLiCAS
FGV DIREITO RIO 32
Constituição. Afirmou que a Constituição não delega competências, mas as 
confere aos órgãos que ela própria constitui, e que, por isso, a delegação in-
troduzida pela EC 45/2004 tem dois pressupostos sucessivos: primeiro, que 
o seu objeto seja da competência original do órgão delegante e, segundo, o 
ato deste que delega a outro o seu exercício. Assim, a Constituição nem ins-
titui, ela própria, o Órgão Especial nos grandes tribunais — diferentemente 
do que determinava a EC 7/77 —, nem lhe concede todas as atribuições 
jurisdicionais e administrativas do Tribunal Pleno, mas apenas faculta a este 
que, por meio de delegação, transfira o exercício dessas atribuições ao Órgão 
Especial que resolva instituir. Diante disso, concluiu caber ao Tribunal Pleno 
constituir ou manter o Órgão Especial e delegar-lhe parcial ou total mente 
suas atribuições com, pelo menos, uma única exceção, qual seja, o poder 
normativo de elaborar o regimento interno do tribunal e nele dispor sobre a 
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e admi-
nistrativos. Considerou, por fim, que, patente a relevância constitucional dos 
fundamentos da impetração, o risco de manter a eficácia do ato impugnado, 
até a decisão definitiva do mandamus, seria manifesto na eventualidade de 
ter-se um regimento votado pelo Órgão Especial, cuja invalidade seria de 
declaração provável, com todas as conseqüências que poderiam advir para o 
funcionamento o TJSP. Após, pediu vista o Min. Cezar Peluso.
MS 26411/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 22.3.2007. (MS-26411) — 
Informativo 460
ADI e Autonomia Financeira e Administrativa do Poder Judiciário
Por considerar caracterizada a ofensa à independência e harmonia dos Po-
deres e à autonomia administrativa e financeira do Poder Judiciário (CF, arti-
gos 2º, 96 e 99, respectivamente), o Tribunal julgou procedente pedido for-
mulado em ação direta ajuizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros 
— AMB para declarar a inconstitucionalidade da Lei alagoana 5.913/97, que 
cria a Central de Pagamentos de Salários do Estado de Alagoas — CPSAL, 
e inclui entre as responsabilidades desta a de “aferir,

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