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Língua Portuguesa / Aula 6 - Frase, oração e parágrafo
Coesão e coerência
(Sobre o comercial da Honda)
A intenção de um comercial é divulgar um serviço, uma marca, uma ideia, certo? 
Para fazer isso, podemos usar diferentes recursos – como na propaganda a que acabamos de assistir.
Você percebeu que o título da propaganda já bem sugestivo? 
Honda HR-V –
a revolução na sua garagem
Essa “revolução” que o novo Honda apresenta nos remete a cinco momentos distinto da história – simbolizados pelas imagens do comercial -, que mudaram o comportamento da sociedade. 
São eles: 
Nessa campanha, portanto, é linguagem não verbal que nos permite fazer tal associação – aquilo que dá sentido ao comercial e, consequentemente, torna-o coerente. 
Vamos entender melhor, a seguir, o conceito de coerência. 
Coerência e semântica do texto
A noção de texto envolve o conceito de coerência: a possibilidade de estabelecermos ou não sentido a uma sequência textual. 
Um simples “Oi” é um texto. Agora, imagina se disséssemos “jhvjmbnkjagygv”. Isso é apenas um amontoado de letras sem significado. 
Quando não seguimos a sintaxe da língua, não formamos um texto. 
Veja o exemplo a seguir:
Casa comprei grande rua lado ao eu uma na.
Eu comprei uma casa grande na rua ao lado.
Vejamos o que fazer para deixar nossos textos coerentes. 
Quando queremos comunicar nossas ideias, precisamos ser coerentes em todos os ambientes, sejam eles formais ou não. 
Imagina que você recebeu a seguinte mensagem por celular:
Já sabemos que usar as abreviações do internetês pode facilitar o envio da mensagem.
Mas CUIDADO: em alguns casos, esse uso é capaz de prejudicar a comunicação. 
Cabe a nós identificarmos em que momento é possível nos valermos dessa economia da linguagem. Afinal:
Haverá coerência se conseguirmos dar sentido ao texto – falado ou escrito. 
Agora que você entendeu a noção de coerência, vamos conversar, a seguir sobre coesão. 
Coesão - Antes de começarmos nossa discussão sobre a noção de coesão (um fenômeno que acontece dentro do texto, pois envolvem processos que relacionam seus elementos e organizam sua sequência textual - como vimos nessa notícia), leia a reportagem:
Príncipe William, Kate e filhos deixam palácio e seguem para casa de campo.
Você percebeu, através dos destaques em negrito no texto da reportagem, as estratégias usadas pelo redator para evitar repetição no texto?
Vejamos alguns termos que substituíram palavras e expressões:
	“Príncipe William e sua mulher” → “seus”, “casal”;
	
	
	“Princesa Charlotte” → “que”, “princesa”, “menina”, “sua”, “nova princesa”, “criança”;
	
	
	“Rainha Elizabeth II” → “que”.
	
	
Esses são os chamados mecanismos coesivos.
Conheça, a seguir, os tipos de coesão. 
Há dois tipos de coesão: A referencial e a sequencial. 
COESÃO REFERENCIAL: É utilizada quando retomamos aquilo de que falamos – o referente – através de mecanismos gramaticais. 
Um deles é a omissão da palavra ou elipse.
EX.: A menina saiu cedo de casa e (a menina) foi para o trabalho.
Nesse caso, o sujeito “a menina” pode ser omitido na segunda oração. 
Outro mecanismo de coesão referencial é a substituição de palavras, que pode ser feito através do uso de:
SINÔNIMOS: São aquelas palavras que possuem significados semelhante ao de outros vocábulos e que podem substituí-los sem prejuízo de sentido. 
EX. 1:  O automóvel estacionado na rampa para deficientes deverá ser retirado. Caso contrário, o carro será rebocado.
Nesse caso, o termo “automóvel” pode ser substituído por “carro” ou “veículo”.
EX. 2: Este é um caso curioso em que um vocábulo se tornou sinônimo de outro por seu uso em determinado contexto.
Em função do slogan de uma campanha publicitária, que ficou famoso no Brasil inteiro, a marca “Brastemp” transformou-se em sinônimo de qualidade e de eficiência para muitas pessoas.
Ex. 3:  A testemunha faltou com a verdade diante do juiz. (= mentiu).
O Brasil sofre com a falta de água. (= crise hídrica)
Nesse caso, o uso do eufemismo (figura de linguagem que se caracteriza por suavizar algumas expressões) em destaque é uma forma de sinonímia que nos remete aos termos e às expressões entre parênteses.
Atenção
O fato de uma palavra ser sinônimo de outra não significa que possa substituí-la em qualquer contexto. Veja um exemplo:
O menino é alto. ≠ O menino é elevado.
Nesse caso, os adjetivos “alto” e “elevado” não se equivalem, certo?
Veja alguns significados da palavra alto:
(latim altus, -a, -um) Adjetivo
1. Que tem maior altura que a ordinária. ≠ BAIXO
2. Elevado.
3. Excessivo.
4. Erguido.
5. Adiantado, tardio (ex.: altas horas).
6. Mais antigo. = REMOTO
7. Situado mais ao norte (ex.: Beira Alta).
8. Situado mais para o nascente (ex.: Alto Douro).
9. [...]
EXPRESSÕES EQUIVALENTES: Como vimos no texto anterior sobre o príncipe William e sua família, para evitar a repetição de palavras, podemos substituí-las por vocábulos ou expressões equivalentes. Veja o exemplo a seguir: 
“O rei Roberto Carlos comemorou a chegada dos seus 74 anos na noite deste sábado com um show em São Paulo. O cantor, que faz aniversário neste domingo, fez um concerto no Allianz Parque, o estádio do Palmeiras, com direito a bolo no palco e a queima de fogos. [...]”.
HIPÔNIMOS E HIPERÔNIMOS: Os hipônimos e hiperônimos estão relacionados aos significados das palavras.
HIPÔNIMOS: Do grego hyponymon: hypo = debaixo, inferior + onymon = nome.
HIPERÔNIMOS: Do grego hyperonymon: hyper = acima, sobre + onymon = nome.
Veja o exemplo a seguir:
Aquele Chevette está estacionado na rampa para deficientes.
O carro será rebocado.
Nesse caso, “O carro” é hiperônimo de “Aquele Chevette”, porque a marca está dentro do grupo maior de automóveis. “Aquele Chevette”, por sua vez, é hipônimo de “O carro”.
Sendo assim, temos:
	Hiperônimos
	Hipônimos
	ANIMAL
	Gato, cachorro, boi, urso
	FRUTA
	Maçã, laranja, banana, uva
	DOENÇA
	Gripe, pneumonia, dengue, sarampo
PRONOMES: Também podemos substituir as palavras por pronomes, como no exemplo a seguir:
O aluno ficou com dúvidas sobre o conceito.
Ele pediu uma nova explicação ao professor.
NUMERAIS: Outro recurso utilizado para as substituições de vocábulos são os numerais. Veja o exemplo a seguir:
O mural indica dois avisos:
o primeiro refere-se à matrícula
O segundo, (refere-se) à formatura
Nesse caso, há, inclusive, coesão referencial por elipse da forma verbal “refere-se”. Você notou?
COESÃO SEQUENCIAL: Como vimos, enquanto na coesão referencial, fazemos menção a termos dentro do texto, na sequencial, usamos mecanismos que possibilitam o desenvolvimento da sequência textual.
Alguns desses mecanismos que auxiliam a continuidade do texto são as expressões temporais – aquelas que permitem a progressão da informação.
Vejamos os exemplos a seguir: 
	Antes, ele acreditava que não tinha jeito.
Agora, ele está mais esperançoso.
Pela organização do tempo, “antes” acontece primeiro e “agora”, depois.
	
	
	O aluno sentou na cadeira, pegou a caneta e começou a prova.
Nesta sequência, há uma ordem de ações.
	
	
	Antes de ganhar o campeonato, o time havia se preparado por duas semanas.
Se o termo “antes” – que indica período passado – foi utilizado, o tempo verbal subsequente precisa estar no pretérito.
	
Operadores argumentativos e discursivos
Além das expressões temporais, na coesão sequencial, também utilizamos os operados argumentativos e discursivos: elementos responsáveis pela coesão entre as orações. Vamos explica-los através dos exemplos abaixo. Analise as frases e observe o significado que veiculam. 
Exemplo 1: A prova foi tão fácil que até o Joãozinho tirou nota boa.
Neste caso, provavelmente, você concluiu que Joãozinho não é bom aluno e que se beneficiou porque a prova foi fácil. 
Qual foi o elemento da sentença responsável por esse raciocínio?
O operador argumentativo “até”.
Exemplo 2: Os pais dele investiram tanto na educaçãodo filho que esperavam, no mínimo, que ele cursasse uma universidade.
Neste caso, entendemos que, em uma escala – “no mínimo” –, o filho estudaria em uma universidade. No entanto, os pais esperam mais dele, não é mesmo?
Exemplo 3: Ele é o melhor médico que conheço. Não somente tem boa formação, mas também gosta dos pacientes, é gentil e muito bem-humorado.
Neste caso, a união das expressões “não somente” e “, mas também” ajudou a somar as qualidades do médico, certo?
Aqui, os operadores argumentativos têm por objetivo juntar argumentos em favor de uma mesma conclusão.
Exemplo 4: Não temos mais tempo para falar sobre esse assunto. Além disso, Ana prometeu inserir o tema na apresentação dela.
Neste caso, a expressão “Além disso” introduz a ideia de acréscimo à argumentação. Esse operador argumentativo é, na verdade, decisivo e ajuda a encerrar o assunto.
Exemplo 5: Não se preocupe: o táxi chega daqui a 15 minutos. Portanto, você chegará ao aeroporto a tempo.
Neste caso, o operador argumentativo “Portanto” insere uma justificativa ao que foi dito.
Exemplo 6: Neste caso, o operador discursivo, “mas” tem a função de introduzir um argumento contrário à ideia que lhe é anterior, para enfatizar que a empresa SINAF é uma garantia de segurança de vida.
Exemplo 7: Neste caso, o operador discursivo “e ainda” (= e também) acrescenta uma ideia à outra: “assistir a um jogo do Brasil no camarote do mascote” e “ganhar milhares de mascotinhos”.
Exemplo 8: Neste caso, o operador discursivo “quando” indica tempo para compor o sentido da propaganda.
Coesão e coerência
Como vimos, quando escrevemos um texto, procuramos conduzir nossas ideias de forma coerente, de modo que quem as leia entenda nossa escrita.
Mas será que isso sempre acontece?
Para descobrir, analise a propaganda a seguir:
Como você percebeu, o texto publicitário inicia-se com a conjunção explicativa “porque”.
Em sua opinião, essa escolha tornou o anúncio incoerente?
A resposta é: NÃO! Sabe por quê?
Porque esse conectivo se relaciona com todas as imagens apresentadas na propaganda, que foi veiculada na mídia através de um comercial.
Aqui, a união das linguagens verbal e não verbal e nosso conhecimento de mundo permitem que estabeleçamos sentido para esse texto – ainda que ele seja introduzido por uma conjunção.
Veja outros exemplos da relação entre coesão e coerência no texto. 
Se já apendemos diversos mecanismos coesivos, escrever com coerência é tarefa fácil, certo? Bem, nem sempre. 
Vejamos os motivos através do exemplo a seguir:
“EMBORA ELE TENHA ESTUDADO MUITO, FOI REPOVADO NO CONCURSO”
Nessa sentença, foi usado o articulador concessivo “embora” – Aquele que expressa ideias contraditórias. Mas será que, nesse caso, era esse tipo de ideia que se queria exprimir? Se o indivíduo estudou muito, é natural que seja aprovado, não é mesmo?
Então, onde está o erro?
Simples: Deixamos de considerar que as expressões com as quais ligamos as ideias estabelecem significados, conduzem os sentidos das mensagens. Logo, o correto seria: 
Embora ele tenha estudado muito, NÃO foi aprovado no concurso.
Como vimos, a coerência é responsável pela construção do significado do texto. Por isso, quando falta algo, não conseguimos perceber a sequência linguística como um texto, certo?
Vamos analisar um exemplo proposto:
“João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Os mísseis também são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. De acordo com a teoria da relatividade, o espaço é curvo. A geometria rimaniana dá conta desse fenômeno”.
Você sentiu alguma dificuldade de entender esse texto? Provavelmente, sim. Apesar de conter recursos coesivos, esse fragmento é incoerente, pois não conseguimos estabelecer sentido para ele. 
Isso significa que, um texto pode apresentar mecanismos de coesão e, ainda assim, não possuir coerência. 
Mas será que o contrário é possível? Um texto sem mecanismos coesivos pode ser coerente? 
Analise o diálogo...
O texto é formado apenas por um grupo de palavras e não possui relações sintáticas. Nesse caso, ele pode fazer sentido e ser coerente?
Se você conhece o contexto da situação, sim. Aqui, Camila entendeu que houve um pedido para que ela atendesse ao telefone e informou que estava no banho.
Logo, é possível que um texto sem mecanismos coesivos seja coerente.
COERÊNCIA = sentido do texto;
COESÃO = organização das ideias no texto através de mecanismos.
Cuidados com o emprego da língua
Agora, conheça algumas estruturas que podem afetar a coesão e a coerência de seu texto:
- Ao invés de x em vez de: 
“Ao invés de” = ao contrário
“Em vez de” = em lugar de
Exemplos:
Ao invés de sair do lugar, a pessoa entrou no recinto.
Em vez de sair do lugar, a pessoa entrou no recinto.
(CORRETO - ideias opostas)
Em vez de ir ao cinema, fui à festa.
(CORRETO - ideia de substituição)
Ao invés de ir ao cinema, fui à festa.
(INCORRETO - ideias opostas)
- Muitas vezes x muitas das vezes 
A expressão correta é “muitas vezes”.
Exemplos:
Muitas vezes, somos obrigados a aceitar meias verdades.
- A princípio x em princípio
“A princípio” = inicialmente, em um primeiro momento
“Em princípio” = em tese, teoricamente”.
Exemplos:
A princípio, vamos aguardar o retorno dos professores para, depois, retomar as aulas.
Em princípio, todos os alunos terão direito a uma chance de melhorar seu desempenho na prova.
- Mesmo x igual
“Mesmo” = um só
“Igual” = outro
Exemplos:
Estou com o mesmo problema do ano passado.
(= um só problema que se repete)
Estou com um problema igual ao do ano passado.
(= outro problema com as mesmas características)
- Ter x haver 
“Ter” = indica posse
“Haver” = com sentido de “existir” - verbo impessoal, aquele que não admite sujeito e que não sofre flexão de plural.
Exemplos:
Eu tenho dois cachorros.
(= os cachorros têm um dono)
Há dois cachorros na sala.
(= os cachorros estão em determinado ambiente)
- Todo x todo o 
“Todo” = qualquer
“Todo o” = inteiro
Exemplos:
Ele é capaz de fazer todo trabalho.
(= qualquer trabalho)
Ele é capaz de fazer todo o trabalho.
(= o trabalho inteiro)
- Ao contrário de X Diferentemente
“Ao contrário” = ideias opostas
“Diferentemente” = ideias distintas
Exemplos:
Ao contrário de entrar à esquerda, o motorista resolveu entrar à direita.
Diferentemente do que eu disse, sairei cedo hoje.

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