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Resumo NP2

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Módulo 5:
 
Henri Wallon: vida e obra.
 
 
Henri Wallon estudou o desenvolvimento da criança e a seguir é apresentada uma síntese de sua história e os principais fatos que marcaram a construção de sua obra.
 
1879 – Nasceu em Paris, França, em 1879. Estudou medicina (psiquiatria), filosofia e psicologia. Membro de uma família de tradição universitária humanista, seu avô foi um grande historiador, discípulo de Michelet, introduziu a palavra “república” na Constituição de 1875. Jules Michelet (1798-1874) nasceu pouco após a Revolução Francesa, fato que marcou a transição da Idade Média para a Modernidade. Michelet tornou-se conhecido como o primeiro historiador a afirmar que não eram as grandes personalidades, e sim as massas, o único agente de transformação histórica.
1902 – Com 23 anos, formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior.
1908 – Formou-se em medicina. Viveu num período marcado por instabilidade social e turbulência política. As duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45), o avanço do fascismo no período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras para libertação das colônias na África atingiam a Europa, em especial, a França. Crises sociais e instabilidades políticas foram fundamentais para Wallon construir sua teoria pedagógica, pois serviram de estímulo para que ele organizasse suas ideias. Isso explica, em parte, a visão marxista que deu à sua obra e por que aderiu, no período anterior à Primeira Guerra, aos movimentos de esquerda e ao Partido Socialista.
1914 – Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), atuou como médico no exército francês, ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Ao lidar constantemente com ex-combatentes portadores de lesões cerebrais, reviu posições neurológicas que havia desenvolvido no trabalho com crianças deficientes.
1925 - Funda o Laboratório de Psicobiologia da Criança, destinado à pesquisa e ao atendimento de deficientes. Localizado perto de uma escola da periferia, dava acesso ao contexto social da criança. Publica sua tese de doutorado: A criança turbulenta. Inicia um período de intensa produção com livros voltados para a psicologia da criança.
1929 – É encarregado de conferências sobre a psicologia da criança como professor na Universidade de Sorbonne e em outras instituições de ensino superior.
1931 – Atuou como médico em instituições psiquiátricas e, nesse período, consolida-se seu interesse pela psicologia da criança. Viaja para Moscou e é convidado para integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o objetivo de aprofundarem o estudo do materialismo dialético e de examinarem as possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência. Neste grupo, o marxismo que se discutia não era o sistema de governo, mas a corrente filosófica.
1935 – Viaja para o Brasil.
1937 a 1949 – Lecionou psicologia e educação no Colégio de França (berço da psicologia francesa). Integrou a Sociedade Francesa de Pedagogia (1937 a 1962).
1939 a 1945 – França é ocupada pelos alemães (2ª Guerra Mundial). Atuou na resistência francesa, foi perseguido pela Gestapo (polícia nazista), viveu clandestinamente. Escreveu o livro Origens do pensamento na criança.
1944 / 1946 – Integra a Comissão do Ministério da Educação Nacional para reformulação do sistema de ensino francês. Torna-se vice-presidente do Grupo Francês de Educação Nova (1946 a 1962) — instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de 1946 até sua morte. Considerava uma relação recíproca entre psicologia e educação. Criticou o ensino tradicional, participando do Movimento da Escola Nova. “Reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. É a própria negação do ensino”. (Wallon, 2007)
 
Juntamente com o físico Langevin, coordenou a reforma do ensino francês, chamada Projeto Langevin-Wallon (série de propostas similares à nossa Lei de Diretrizes e Bases), tendo em vista toda uma mudança no sistema educacional francês. Uma das propostas do projeto, por exemplo, é a de que nenhum aluno deve ser reprovado numa avaliação escolar. “É a cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos para sua evolução.” (Wallon, 2007).
 
1948 – Cria e lança a revista ENFANCE. Este é um periódico que ainda hoje é utilizado como fonte de pesquisa por pesquisadores em psicologia do desenvolvimento. Ao longo de toda a vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças e, de acordo com seus pressupostos, o meio exerce influência fundamental sobre o desenvolvimento da pessoa humana, considerando o alimento cultural.
1962 – Morre em Paris, França, em 1962, aos 83 anos.
 
 Para realizar os estudos sobre o desenvolvimento infantil, Wallon utilizou um método de análise, tendo como base a psicologia genética, pois considerava que esta referencia era a mais adequada para estudar os processos pelos quais a criança passa da infância à idade adulta.
 Assim sendo, com base na psicologia genética e no materialismo histórico, elaborou um método próprio para realizar as investigações psicológicas: a análise genética comparativa multidimensional, que consiste em realizar diferentes comparações para compreender adequadamente o desenvolvimento humano. Sendo assim, compara a criança com patologias com a criança normal, a criança normal com o adulto normal adulto de hoje com civilizações primitivas; as crianças normais da mesma idade e idades diferentes; a criança com o animal. Ao fazer essas comparações Wallon analisa o desenvolvimento em suas várias determinações, orgânicas, neurofisiológicas, sociais e as relações entre esses fatores.
 
Assim sendo, destaca dois grandes pressupostos:
- A pessoa está continuamente em desenvolvimento.
- Em cada instante desse processo a pessoa é uma totalidade, um conjunto resultante da integração dos conjuntos motor, afetivo e cognitivo.
 
Assim sendo, o desenvolvimento humano é resultado das relações entre as dimensões motor, afetivo, cognitivo e os fatores determinantes – orgânicos e sociais.
O desenvolvimento psicológico é dividido em estágios (não rígidos, mas contínuos, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas) inicialmente biológicos, depois sociais. Não é possível definir um limite terminal para o desenvolvimento da inteligência, pois isso depende das condições oferecidas pelo meio. Os estágios do desenvolvimento segundo Wallon são: impulsivo-emocional (0 a 1 ano); sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos); personalismo (3 a 6 anos);    categorial (6 a 11 anos); puberdade e adolescência (11 anos em diante).
 
De acordo com Wallon, o desenvolvimento infantil é dinâmico – não há linearidade. Os fatores orgânicos (biológicos) determinam a sequência fixa dos estágios do desenvolvimento, que se tornam flexíveis pela influência dos fatores sociais (alimento cultural = linguagem e conhecimento). Em outras palavras, a gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social. Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo é centrada na psicogênese da pessoa completa, ou seja, em cada estágio temos uma pessoa inteira, completa e em transformação constante, a partir das dimensões afetiva, cognitiva e motora. (Mahoney, 2000)
 
O desenvolvimento é emocional (afetividade), cognitivo (inteligência) e motor (movimento), determinado por fatores orgânicos e sociais. Assim, há sempre a predominância funcional de uma dimensão do desenvolvimento em relação aos outros e em cada período, sendo que no final há uma integração funcional. Portanto, o desenvolvimento é pontuado por crises ou conflitos chamados de fatores dinamogênicos, que podem ser de natureza endógena / interna (maturação nervosa) e de natureza exógena / externa (cultural). A isso, Wallon chamou de lei de alternância funcional: ora o conflito é interno ora é externo, constituindo-se num motor propulsor ao desenvolvimento.
 
Períodos do desenvolvimento: Impulsivo emocional (0-1a); Personalismo (3-6a); Puberdade e adolescência (11 anos).- Fatores dinamogênicos è endógeno.
- Predominância funcional è afetivo (centrípeta).
 
Períodos do desenvolvimento: Sensório-motor e projetivo (1-3 a); Categorial (6-11a).
- Fatores dinamogênicos è exógeno.
- Predominância funcional è cognitivo (centrífuga).
 
No último estágio do desenvolvimento há a integração funcional em que não há mais a predominância de uma dimensão do desenvolvimento em relação à outra. Caso isso não aconteça, Wallon identifica uma série de problema, chamando de criança turbulenta.
 Módulo 6:
 
Psicogênese da Pessoa Completa
 
 
Assim como Piaget e Vygotsky, Henri Wallon buscou explicitar os fundamentos epistemológicos, objetivos e métodos que embasaram sua compreensão sobre o desenvolvimento humano, dialogando, para isso, com as principais correntes filosóficas do pensamento ocidental e questionando as contradições da psicologia de sua época.
 
Nesse sentido, opõem-se as concepções reducionistas (a concepção idealista e a concepção materialista mecanicista ou organicista) que limitam a compreensão do psiquismo humano a um ou outro termo da dualidade (inato-adquirido).
 
Propõe, então, o materialismo dialético como a única abordagem que permite a superação dos antagonismos que entravam a objetiva compreensão da realidade, na medida em que permite a coordenação de pontos de vista diversos, compreendendo a contradição como constitutiva do sujeito e do objeto.
 
Sendo assim, para Wallon, o estudo da realidade movediça e contraditória que é o homem e seu psiquismo beneficia-se enormemente do recurso ao materialismo dialético, perspectiva filosófica especialmente capaz de captar a realidade em suas permanentes mudanças e transformações, adotando-o como método de análise e fundamento epistemológico de sua teoria psicológica, uma psicologia dialética. (Galvão, 2002)
 
 
  
No Estágio impulsivo-emocional (0 a 1 ano) a predominância funcional é afetiva (relações afetivas) e o conflito é de natureza endógena (centrípeta). A afetividade é marcante nesse período, a criança nutre-se pelo olhar, pelo contato físico e se expressa por gestos, mímicas e posturas.
 
Essa é a etapa da formação do eu corporal, a criança está voltada à construção de si mesmo. No início há uma total indiferenciação eu - outro (simbiose), depois ocorre a diferenciação do espaço objetivo e subjetivo (recorte corporal), por exemplo, morder o próprio braço e não perceber que foi ela mesma.
 
O estágio está dividido em dois momentos:
Impulsivo (0 a 3 meses) - organismo puro; sua atividade se manifesta apenas por reflexos e movimentos impulsivos: exploração do corpo, movimentos bruscos, desordenados, existe uma simbiose fisiológica.
Emocional (3 a 12 meses) - construção de padrões emocionais de medo, alegria, raiva = formas de comunicação corporal; existe uma simbiose afetiva que caracteriza o início do psiquismo ou vida psíquica.
 
Aos seis meses inicia-se a atividade circular, ou seja, um gesto da criança cria um resultado auditivo e/ou visual e ela tentará reproduzi-lo, isso possibilitará a organização dos exercícios sensório motores e irá preparar a criança para o estágio seguinte. Piaget denomina tal ação de “reação circular”. Essa atividade circular pode ser observada em várias ações infantis: balbuciar, movimentar as pernas e os braços, morder objetos, pegar e deixar cair milhares de vezes um brinquedo etc.
  
A predominância funcional é cognitiva (relações cognitivas) e o conflito é de natureza exógena (centrífuga). Período marcado pela diferenciação do corpo físico (mas não psíquico).Esse período é marcado pela exploração sensório-motora do mundo físico (agarrar, segurar, sentar, marchar). Além disso, há o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem – o ato mental “projeta-se” em atos motores.
 
Portanto, é um estágio dividido em dois momentos:
Sensório-motor è inteligência prática: movimentos motores com o início da marcha acompanhado dos demais movimentos - agarrar, segurar, sentar, virar, rodar, pular.
Projetivo è inteligência simbólica: movimentos motores acompanhados de gestos e projeções. Aparecimento da linguagem. A criança necessita dos gestos para expressar seus pensamentos e, nesse sentido, o gesto precede a palavra e a criança é incapaz de imaginar sem representar gestualmente. O ato mental projeta-se em atos motores.
 
A atividade projetiva, por volta dos 2 e 3 anos, continua a aparecer nos jogos simbólicos e nas histórias infantis e abre caminho para outras formas de representação, uma vez que a ação motora organiza seu pensamento. Há vários movimentos projetivos nessa fase: imitação, simulacro, animismo e o uso da 3ª pessoa:
Imitação: atividade que relaciona o movimento de um modelo exterior e a representação. A criança reproduz modelos das pessoas e situações que a atraem.
Simulacro: pelos gestos, a criança simula uma situação de utilização de um objeto sem tê-lo de fato. Trata-se de um ato sem o objeto real, pois é um pensamento apoiado em gestos e serve de suporte a sua linguagem (faz de conta). O gesto torna presente o objeto.
Animismo: a criança atribui vida a alguma parte de seu corpo, tratando-a como se fosse uma pessoa.
Uso da 3ª pessoa: refere-se a sua pessoa pelo próprio nome ou usa a 3ª pessoa ao invés de utilizar o pronome “eu”, indicando uma indiferenciação do eu psíquico. Por exemplo: “Mariana” está triste, “ela” quer brincar, dê para “ela”.
 
Nessa etapa, há a integração do corpo, das sensações ao corpo visual (espelho). A criança somente irá perceber sua imagem projetada no espelho por volta dos dois anos (diferenciação do eu físico ou eu corporal). Antes disso, acredita que a imagem é de outra criança e tenta comunicar-se com ela, atribui-lhe existência, vida própria. Apresenta também diálogo consigo mesma representando vários personagens.
 
Módulo 7:
 
Personalismo
  
 
A predominância funcional é afetiva (relações afetivas) e o conflito é de natureza endógena (centrípeta). Período de formação da personalidade, marcado por conflitos e crises.Nessa fase, a afetividade que é simbólica incorpora os recursos intelectuais (principalmente a linguagem) e se exprime por palavras e ideias.
 
São características desse estágio: atividades de oposição; atividades de sedução (idade da graça); atividades de imitação; discriminação “eu e o outro”; uso da 1ª pessoa para referir-se a si mesmo: eu, meu, não; desaparecimento gradativo dos diálogos que tem consigo mesma.
 
Há a ocorrência de conflitos pessoais: oposição ao não eu (confrontos = ciúmes, tirania, agressividade). Disputa de brinquedos: desejo de propriedade conta mais do que o próprio objeto (sentimento de posse). Portanto, há a expulsão e a incorporação do outro, ou seja, movimentos complementares e alternantes no processo de formação do “eu”.
 
A predominância funcional é cognitiva (relações cognitivas) e o conflito é de natureza exógena (centrífuga). Período marcado pela exploração mental do mundo físico, mediante atividades de agrupamento, seriação, classificação, categorização (pensamento categorial). A afetividade é racional, os sentimentos são elaborados no plano mental.
 
Há a consolidação da função simbólica e a diferenciação da personalidade, que permitem progressos intelectuais e revelam o interesse da criança para o conhecimento. Período de razoável estabilidade se comparado com o estágio do personalismo. No transcorrer, desaparece o sincretismo, e a criança apresenta uma autodisciplina mental ou atenção que marca sua entrada na escola – idade escolar.
 
Esse estágio está dividido em dois momentos:
Pré-categorial (6 a 9 anos): sincretismo (pensamento confuso no qual os critérios afetivos prevalecem). O pensamento sincrético pode ser:
- tautologia – repetição de um termo várias vezes na frase;
- elisão – fala confusa, faltando trechos;
- fabulação – invenção de histórias para contar fatos;
- pensamento por pares – existência de um objeto ou situação apenas em seu pensamento, estando em relação a outro que lhe dê identidade; ex.: uma pessoa dormeporque sonha.
Categorial (9 a 12 anos): operações mentais e formação de categorias intelectuais que auxiliam na representação das coisas e na explicação do real. São exemplos de categorias intelectuais: identificar, analisar, definir, classificar, seriar.
  
 
A predominância funcional é afetiva (relações afetivas) e o conflito é de natureza endógena (centrípeta). Essa é a última e movimentada etapa que separa a criança do adulto que ela tende a ser. A crise pubertária rompe a tranquilidade da fase anterior: modificações hormonais e corporais levam às crises morais e existenciais. A afetividade é racional, os sentimentos são elaborados no plano mental.
 
Novamente ocorre o conflito eu – outro (do personalismo), agora mais cognitivo do que emocional. Há a exploração de si mesmo com uma identidade autônoma, mediante atividades de confronto, autoafirmação, questionamentos. Domínio de categorias cognitivas de maior nível de abstração com discriminação mais clara dos limites de sua autonomia e de sua dependência.
 
O estágio da puberdade e adolescência é também chamado de período da crise da puberdade, pois nele ocorrem modificações fisiológicas, corporais e psicológicas. Há o amadurecimento sexual, provocando na criança profundas transformações corporais acompanhadas de modificações psíquicas. O corpo da menina fica diferente do corpo do menino, crescem pelos, há a modificação da voz, crescimento dos seios e dos órgãos genitais, além do aumento acelerado na estatura. A menina apresenta a menarca e o menino a emissão de espermas (aquisição da função reprodutora).
           
O espelho é o grande rival: ao mesmo tempo em que se apresenta como companhia constante, proporcionando momentos de prazer, causa inquietação e angústia, pois, em função das mudanças corporais tão rápidas, o adolescente não se reconhece na imagem refletida e isso lhe proporciona mal-estar.
 
Nas palavras de Wallon (1975:218): “Assinalou-se o que foi denominado signo do espelho: tanto os rapazes como as moças têm necessidade de se examinar num espelho e observar as transformações do rosto, sentem-se mudar e ficam desorientados. Sente ainda mais essa mudança, essa desorientação perante eles mesmos, em relação a seu meio ambiente.”
 
Todas essas modificações geram uma ambivalência de atitudes e sentimentos, marcados principalmente pela crise em relação ao adulto (ambivalência afetiva). Por isso, tanto nessa fase como no personalismo, o adulto deve estar muito bem preparado para lidar com as situações e poder ajudar o jovem em desenvolvimento.
 
Módulo 8:
 
 
A questão da afetividade na teoria de Wallon.
  
 
Para Wallon a emoção é orgânica e social. É orgânica porque tem controle subcortical e tem repercussões tônicas. A emoção faz parte da vida orgânica e cognitiva. É através dela que o indivíduo se socializa. É pela comunicação afetiva que temos acesso ao mundo humano. “No primeiro ano de vida nutrir a inteligência é nutrir o afeto". Segundo o autor a emoção é social e epidêmica e a mãe é afetada pelo choro do bebê. A criança sobrevive graças à mobilização do outro pela emoção. Primeiramente a emoção é controlada pelo subcórtex. À medida que o córtex vai amadurecendo, vai ocorrendo à possibilidade de um controle maior. Em um primeiro momento a emoção é incontrolada, passando a controlar-se lentamente através da maturação e do processo social. Crianças muito impulsivas podem apresentar alguma lesão subcortical. Podem também, segundo o autor, apresentar um problema de "educação da emoção" - o que fazer com a emoção, emoção descontrolada.
A afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa: é também uma fase de desenvolvimento, a mais primitiva A história da construção da pessoa se dará por uma sucessão pendular de movimentos dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos - não paralelos, mas integrados. Isto significa que a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência. Com a linguagem surgem outras formas de vinculação afetiva, é uma forma cognitiva de vinculação afetiva. Wallon falava, então, em três momentos dessa afetividade: 1-afetividade emocional ou tônica, inicial. 2- Afetividade simbólica. 3- Afetividade categorial.
 
A construção da pessoa é uma autoconstrução. O vínculo afetivo supre a insuficiência da inteligência do início da vida, quando ainda não é possível a ação cooperativa que vem da articulação de pontos de vista bem diferenciados. O contágio afetivo cria os elos necessários à ação coletiva. Com o passar do tempo, a essa forma primitiva acrescenta-se outra e assim vai se construindo como sujeito.
 
  
Para Wallon, o estudo da criança não é um mero instrumento para a compreensão do psiquismo humano, mas também uma maneira de contribuir para a educação. Mais do que um estado provisório, considerava a infância como uma idade única e fecunda, cujo atendimento é tarefa da educação.
 
A preocupação pedagógica é presença forte na psicologia de Wallon, tanto nos escritos em que trata de questões mais propriamente psicológicas – que consiste a maioria – como naqueles em que discute assuntos específicos da pedagogia. (Galvão, 2002, p.12)
 
A fecundidade das contribuições da psicologia genética de Wallon para a educação deve-se à perspectiva global pela qual enfoca o desenvolvimento infantil, mas também à atitude teórica que adota. Utilizando o materialismo dialético como fundamento filosófico e como método de análise, as ideias de Wallon refletem uma incrível mobilidade de pensamento, capaz de resolver muitos impasses e contradições a que levam teorias baseadas numa lógica rígida e mecânica. Contrário a qualquer simplicação, enfrenta a complexidade do real, procurando compreendê-la e explicá-la por uma perspectiva dinâmica, multifacetada e extremamente original. (Galvão, 2002, p.12)
 
Ao tratar de temas como emoção, movimento, formação da personalidade, linguagem, pensamento e tantos outros, fornece valioso material para a adequação da prática pedagógica ao desenvolvimento da criança. Sendo assim, Wallon tratou de explicar em artigos, interessantes considerações acerca da educação, como a reforma da universidade, doutrinas sobre a Escola Nova, orientação profissional, o papel do psicólogo escolar, formação de professor, interação entre alunos e problemas de comportamentos.
 
  
Ao fornecer informações e explicações acerca das características da atividade da criança nas várias fases de seu desenvolvimento, a psicologia genética constitui-se numa valiosa ferramenta para a construção de uma prática em psicologia, especialmente aquela voltada à área escolar.
 
O psicólogo escolar é capaz, a partir desse referencial teórico, compreender o funcionamento da escola e os fatores que tornam a criança turbulenta, construindo uma série de estratégias que permitam a intervenção no próprio sistema educacional, em relação aos sujeitos constituídos e constituintes deste processo, diminuindo o encaminhamento a consultório clínico, muitas vezes não aceito pelos pais ou interrompido pela falta de compreensão sobre a real necessidade da criança em relação aos mesmos.
 
Sendo assim, o psicólogo walloniano auxilia na adequação dos objetivos e métodos pedagógicos às possiblidades e necessidades infantis, favorecendo uma prática de melhor qualidade, tanto em seus resultados como em seu processo. Em outras palavras, a teoria walloniana, como instrumento para a reflexão pedagógica, tanto dos pais como dos professores, mediadores pela ação do psicólogo, permite a construção de uma prática pedagógica que considera os planos afetivo, cognitivo e motor, promovendo o desenvolvimento em todos os sentidos.

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