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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ EME 412P – FENÔMENOS DE TRANSPORTE II – EXPERIMENTAL EXPERIÊNCIA DE REYNOLDS Prof. Rubenildo Vieira Andrade Caio Vinícius Santana Santos – 2016013246 Fernando Gil Rezende Braga – 2016004292 Luis Felipe Recchia - 2017000912 Paula Carbonari – 2016017067 ECI – Turma 03 Itajubá 2017 1. INTRODUÇÃO O escoamento de vários fluidos em dutos, de vários formatos, a várias velocidades é um problema prático na engenharia de fluidos. Sistemas de tubulações são encontrados em quase todos os projetos de engenharia, e por isso, foram e têm sito estudados extensivamente. Em 1883, o cientista Osborne Reynolds desenvolveu um estudo sobre o escoamento de fluidos em tubos no qual propôs uma classificação de acordo com a características e comportamento do fluido. Reynolds sugeriu que o escoamento pudesse ser classificado como laminar (Figura 1), transitório e turbulento (Figura 2). Figura 1- Escoamento laminar Fonte: White, 2011 Figura 2- Escoamento turbulento Fonte: White, 2011 Reynolds baseou essa classificação através de uma relação entre as forças inerciais e viscosas que atuam no fluido em um parâmetro adimensional, conhecido como número de Reynolds, dada por: 𝑅𝑒 = 𝜌𝑢𝐷 𝜇 (Equação 1) Onde: 𝜌 = Massa específica [Kg/m³]; 𝑢 = Velocidade média do fluido [m/s]; D = Diâmetro da tubulação [m]; 𝜇 -Viscosidade dinâmica ou absoluta [N s/m²]. Ainda assim, como a viscosidade cinemática (𝑣) é dada por: 𝑣 = 𝜇 𝜌 (Equação 2) O número de Reynolds através da Equação 2 pode ser escrito da seguinte forma: 𝑅𝑒 = 𝑢𝐷 𝑣 (Equação 3) Dessa maneira, para Moran 2003 as seguintes faixas de valores do número de Reynolds com sua respectiva classificação são mostradas abaixo: • 𝑅𝑒 < 2300: Escoamento Laminar, isto é, as partículas percorrem trajetórias paralelas; • 2300≤ 𝑅𝑒 ≤ 4000: Escoamento de transição; • 𝑅𝑒 > 4000: Escoamento turbulento. Essas faixas são representativas, podendo variar significativamente com a geometria do escoamento, rugosidade superficial e nível de flutuações na corrente de entrada. A grande maioria de nossas análises refere-se a escoamento laminar ou escoamento turbulento, e normalmente não se deve projetar uma condição de escoamento na região de transição (White, 2011). Além disso, vale ressaltar que o fator de atrito (f) - que é um dos parâmetros para determinação de perda de carga nos problemas de engenharia- também vária com o tipo de escoamento, sendo dependente do número de Reynolds, da rugosidade (𝜀) e diâmetro do tubo. Assim, esse fator de atrito pode ser determinado pelas seguintes equações: • Escoamento laminar e tubos lisos e/ou rugosos: 𝑓 = 64 𝑅𝑒 (Equação 4) • Escoamento do tipo turbulento para tubos lisos (ex: vidros): 𝑓 = 0,3164𝑅𝑒−0,25 (Equação 5) • Região de regime de transição: 𝑓 = (1,80 × log𝑅𝑒 − 1,5)−2 (Equação 6) • Região de regime turbulento (Equação de Colebrook): 1 √𝑓 = −log( 𝜀/𝐷 3,7 + 2,51 𝑅𝑒√𝑓 ) (Equação 7) Ressaltando que também esse fator de atrito pode ser obtido através do diagrama de Moody (em anexo ao final do relatório). Por fim, compreender o escoamento de um fluido é essencial para o entendimento da teoria vista em sala de aula e futuros projetos. Assim, o experimento teve como objetivo visualizar os tipos de escoamento (laminar, turbulento e de transição) de fluidos, no caso a água, e determinar o fator de atrito para cada tipo de escoamento. Além de visualizar pelo diagrama de Moody essas características. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Material utilizado O experimento foi realizado no laboratório de turbina a gás e gaseificação de biomassa. Para observar-se os tipos de escoamento utilizou-se um banco de ensaios (Figura 3), o qual é composto de um reservatório de água, ligado, por um tubo vertical transparente, a outro tubo de diâmetro menor para o escoamento de um filete de solução corante em torno do eixo do tubo. A válvula V1 controla a vazão de água, enquanto que a V2 controla a injeção do corante. Para determinar a vazão do fluido foram utilizadas duas provetas, uma de 250ml, de precisão 1,0ml e outra de 1000ml, de precisão 5,0ml (Figura 4) e um cronômetro, de precisão 0,05s (Figura 5). Para ser possível determinar a massa específica e a viscosidade do fluido mediu-se a temperatura com um termômetro de precisão 0,25°C (Figura 6). Figura 3: Banco de ensaios. Fonte: Adaptado de Sen, 2010 Figura 4: Provetas Fonte: Autoria própria Figura 5: Cronômetro Fonte: Autoria própria Figura 6: Termômetro Fonte: Autoria própria 2.2 Método aplicado O experimento consistiu em observar o corante atravessar o tubo transparente. Conforme a vazão aumentava, o regime de escoamento mudava (de linear passava para de transição e de transição para turbulento). Para determinar a vazão coletou-se um certo volume de água em um tempo cronometrado e utilizou a equação 8. O procedimento de determinar a vazão foi repetido 10 vezes. Com a massa específica, a viscosidade e a vazão da água calculou-se o fator de atrito. 3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Primeiramente abriu-se a válvula que controla a vazão da água. Depois de estabilizado, abriu-se a válvula que controla a injeção do corante (manganato de potássio e água). Em seguida, fez-se a coleta de um volume (V) arbitrário de água, cronometrando o tempo para o cálculo da vazão. Após a coleta de água mediu-se a temperatura do líquido para, posteriormente, através de uma tabela, determinar a viscosidade cinemática e dinâmica dele. Os resultados foram colocados na tabela 1. Durante o procedimento houve alteração da proveta. Até a quinta medição, utilizou-se a proveta de 250ml e a partir da sexta, utilizou-se a proveta de 1000ml, pois como a vazão aumentou, era preciso uma proveta que suportava maior volume para o proceder do experimento. Ressaltando que a vazão foi calculada pela seguinte fórmula: (Equação 8) Onde: Q = vazão [m³/s]; V = volume [m³]. t = tempo [s]. A propagação de erro para a vazão foi calculada através da seguinte fórmula: ( 𝜕𝑄 𝑄 ) 2 = ( 𝜕𝑉 𝑉 ) 2 + ( 𝜕𝑡 𝑇 ) 2 (Equação 9) Onde: 𝜕𝑄= Incerteza relacionada à vazão; 𝜕𝑉= Incerteza relacionada ao volume; 𝜕𝑡= Incerteza relacionada ao tempo. Tabela 1 – Dados de volume, tempo e cálculo da vazão. Ensaios V [10-6m³] Reservatório Tempo (±𝟎, 𝟎𝟓)𝒔 Temperatura (±𝟎, 𝟐𝟓) °C Q [10-6m³/s] 01 202 ± 1 32,43 17,5 6,23 ± 0,03 02 208 ± 1 19,59 17,0 10,62 ± 0,06 03 222 ± 1 9,86 16,5 22,51 ± 0,15 04 206 ± 1 7,76 16,5 26,55 ± 0,21 05 740 ± 5 9,07 16,5 81,59 ± 0,71 06 810 ± 5 8,40 16,5 96,43 ± 0,83 07 870 ± 5 7,97 16,5 109,16 ± 0,93 08 840 ± 5 6,85 16,5 122,63 ± 1,16 09 840 ± 5 6,15 16,5 136,58 ± 1,38 10 890 ± 5 6,02 16,5 147,84 ± 1,48 Com os dados da tabela 1, calculou-se velocidade, área do recipiente, viscosidade dinâmica e cinemática e o coeficiente de Reynolds. Os resultados foram colocados na tabela 4. Sendo que as viscosidades dinâmica e cinemática foram determinadas através da tabela 3, Propriedades físicas da água. Essa tabela apresenta valores de 10 em 10 ºC, então, foi necessário utilizar o método da interpolação (Equação 10) para chegar a um valor aproximado tanto da viscosidade dinâmica quantoda cinemática para a temperatura observada no experimento, para isso foi feito: (Equação 10) Em que: Tmenor: temperatura inferior mais próxima da observada em laboratório; Tmaior: temperatura superior mais próxima da observada em laboratório; To: temperatura observada em laboratório; Vmenor: viscosidade inferior mais próxima da requerida; Vmaior: viscosidade superior mais próxima da requerida; VR: viscosidade requerida. Tabela 3 - Propriedades físicas da água. Temperatura (°C) Massa específica 𝝆 (kg/m³) Peso específico 𝜸 (kN/m³) Viscosidade Dinâmica 𝝁 (N.s/m²) Viscosida de Cinemátic a 𝝑 (m²/s) 0 999,9 9 9,806 1,787 E - 3 1,787 E - 6 5 1000 9,807 1,519 E - 3 1,519 E - 6 10 999,7 9,804 1,307 E - 3 1,307 E - 6 20 998,2 9,789 1,002 E - 3 1,004 E - 6 30 995,7 9,765 7,975 E - 4 8,009 E - 7 40 992,2 9,731 6,529 E - 4 6,580 E - 7 50 988,1 9,690 5,468 E - 4 5,534 E - 7 60 983,2 9,642 4,665 E - 4 4,745 E - 7 70 977,8 9,589 4,042 E - 4 4,134 E - 7 80 971,8 9,530 3,547 E - 4 3,650 E - 7 90 965,3 9,467 3,147 E - 4 3,260 E - 7 100 958,4 9,399 3,818 E - 4 2,940 E - 7 Baseada nos dados do Handbook of Chemistry and Physics, 69ª Ed., CRC Press, 1988. Adaptado A velocidade foi calculada através da fórmula: 𝑄 = 𝑢 𝐴 (Equação 11) Onde: Q = vazão [m³/s]; 𝑢 = velocidade [m/s]; A = área [m²]. Como o recipiente era de formato cilíndrico com diâmetro igual a 36mm, a área foi determinada por: 𝐴 = 𝜋.𝑑2 4 (Equação 12) Onde: A = área [m²]; d = diâmetro [m]. Assim, a área foi de A = 1,02. 10-3 m2. A propagação de incerteza da velocidade foi calculada pela fórmula: ( 𝜕𝑢 𝑢 ) 2 = ( 𝜕𝑄 𝑄 ) 2 (Equação 13), Onde: 𝜕𝑢: Incerteza da velocidade; 𝑢: Velocidade; 𝜕𝑄: Incerteza da vazão; 𝑄: Vazão; Além disso, a propagação de incerteza do número de Reynolds foi calculada pela fórmula: ( 𝜕𝑅𝑒 𝑅𝑒 ) 2 = ( 𝜕𝜗 𝜗 ) 2 + ( 𝜕𝐷 𝐷 ) 2 +( 𝜕𝑢 𝑢 ) 2 (Equação 14), Onde: 𝜕𝑅𝑒: Incerteza do número de Reynolds; 𝑅𝑒: Número de Reynolds; 𝜕𝜗: Incerteza da viscosidade cinemática; 𝜗: Viscosidade cinemática; 𝜕𝐷: Incerteza do diâmetro; D: Diâmetro; 𝜕𝑢: Incerteza da velocidade; 𝑢: Velocidade; Com a velocidade, o diâmetro, a massa específica e a viscosidade dinâmica, pode-se calcular o coeficiente de Reynolds, através da equação 3 Tabela 4 – Viscosidade dinâmica e cinemática, coeficiente de Reynolds e classificação. Ensaios 𝒖 [10-3m/s] 𝝁 [103´Pa.s] 𝝑 [10-6m²/s] Re Tipos de Escoamento 01 6,34 ± 0,03 1,078 1,080 211,333 ± 1,096 Laminar 02 10,80 ± 0,06 1,094 1,095 355,068 ± 1,933 Laminar 03 22,90 ± 0,16 1,109 1,110 743,027 ± 5,040 Laminar 04 27,02 ± 0,22 1,109 1,110 876,324 ± 7,070 Laminar 05 83,05 ± 0,72 1,109 1,110 2693,513 ± 23,488 Transição 06 98,15 ± 0,84 1,109 1,110 3183,243 ± 27,297 Transição 07 111,11 ± 0,95 1,109 1,110 3603,567 ± 30,659 Transição 08 124,82 ± 1,18 1,109 1,110 4048,216 ± 38,129 Turbulento 09 139,02 ± 1,40 1,109 1,110 4508,756 ± 45,431 Turbulento 10 150,48 ± 1,51 1,109 1,110 4880,432 ± 48,937 Turbulento Com o coeficiente de Reynolds e o tipo de escoamento definido, pode-se calcular o coeficiente de atrito (f). O coeficiente de atrito para o escoamento laminar, transição e turbulento foram calculados, respectivamente pelas equações 4, 5 e 6. Os resultados foram colocados na tabela 5. Tabela 5 – Coeficiente de atrito. Ensaios Coef. de Atrito Tipo de escoamento 1 0,3028 Laminar 2 0,1802 Laminar 3 0,0861 Laminar 4 0,073 Laminar 5 0,0458 Transição 6 0,0433 Transição 7 0,0416 Transição 8 0,0397 Turbulento 9 0,0386 Turbulento 10 0,0379 Turbulento É possível também observar valores de coeficiente de atrito pelo diagrama de Moody na figura 7 abaixo. Figura 7 Diagrama de Moody (adaptado Munson, 2004) 4. Discussão dos resultados Com base nos resultados obtidos construiu-se dois gráficos, sendo o primeiro Número de Reynolds x Vazão e o segundo, Fator de Atrito x Número de Reynolds. Gráfico 1 Fonte: Autoria própria Gráfico 2 Fonte: Autoria própria 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 6,23 10,62 22,51 26,55 81,59 96,43 109,16 122,63 136,58 147,84 N ú m e ro d e R e y n o ld s ( R e ) Vazão (10^-6 m³/s) Reynolds x Vazão 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 211,3 355,1 743,0 876,3 2693,5 3183,2 3603,6 4048,2 4508,8 4880,4 F a to r d e A tr it o Número de Reynolds (Re) Fator de Atrito x Reynolds Com este experimento pode-se perceber a importância do número de Reynolds para análise do escoamento de fluidos, uma vez que reúne parâmetros que permitem comparar regimes de escoamento com diferentes fluidos, velocidades e em diferentes tubos. Analiticamente, através da colocação de um corante em um tubo por onde escoava água, percebeu-se como as partículas do fluido se movem no regime laminar, seguindo uma trajetória retilínea, transitório e turbulento, onde o corante rapidamente se mistura na água em movimento. Observou-se no gráfico que quanto maior era a vazão, maior era o número de Reynolds. Posteriormente, a partir dos dados quantitativos, obteve-se o número de Reynolds para cada um dos ensaios e de fato percebeu-se a correlação entre o observado com o uso do corante e os limites estabelecidos entre os regimes de escoamento. Por fim, foi possível calcular o fator de atrito para os regimes e, através do gráfico, notou-se que para altos números de Reynolds o fator de atrito é menor do que para escoamentos com baixa velocidade em regime laminar. Percebeu-se ainda que há uma descontinuidade quando ocorre a passagem do regime laminar para o de transição, em que o fator de atrito cresce, mas volta a cair conforme aumenta o número de Reynolds. Pode-se ressaltar ainda qu,e o diagrama de Moody resume todas as funções obtidas por diversos pesquisadores para relacionar o fator de atrito com a rugosidade e diâmetro do tubo e seu regime de escoamento, sendo de grande utilidade para as análises de mecânica dos fluidos. 5. Conclusão Durante o experimento observou-se o comportamento do filamento de corante no interior do tubo. Inicialmente ele se encontrava linear, conforme a vazão aumentava, o escoamento tornava-se turbulento. Após o cálculo do número de Reynolds, obteve-se resultados coerentes com os observados, os valores encontravam-se dentro da variação teórica de cada tipo de escoamento. Isso mostra que o ensaio realizado pode ser validado. Como em todo procedimento experimental, há erros, nesse caso, ocorreram possivelmente na medição de tempo (para determinar a vazão), na leitura do volume, no atrito do fluido contra a parede do tubo, etc. Contudo, não foram relevantes, já que não obteve-se erros grotescos, e o resultado foi satisfatório. Dado que, pelo cálculo do número de Reynolds, conseguiu-se classificar o tipo de escoamento do fluido, e o resultado foi coerente com o observado no ensaio. E, através da fórmula do fator de atrito de cada tipo de escoamento determinou-se seu valor, pode-se concluir que o ensaio foi bem sucedido. Nele foi possível aplicar vários conceitos como vazão, fórmula de Reynols, e fator de atrito, os quais são de suma importância para o aprendizado na disciplina de Fenômenos de Transporte. ReferênciasBibliográficas White, Frank M., Viscous Fluid Flow, / 3rd ed., New York: McGraw-Hill, 2005, ISBN 9780071244930
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