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Distrofias Musculares Marluce Lopes Basílio, M.Sc Introdução – As distrofias musculares (DM) são um grupo heterogêneo de alterações genéticas caracterizadas por comprometimento grave, progressivo e irreversível da musculatura esquelética devido a um defeito bioquímico intrínseco da célula muscular. – Partilham de características histológicas comuns, padrão “distrófico” , quando analisados na biópsia muscular, incluindo: • Variação no tamanho da fibra muscular • Degeneração e regeneração da fibra muscular • Substituição de tecido muscular por tecido conjuntivo-gorduroso Introdução – A distrofia muscular é uma das alterações genéticas mais comuns em todo o mundo. – De cada 2.000 nascidos vivos, um é portador de algum tipo de distrofia muscular. Introdução – Nos últimos anos, a expectativa de vida desses pacientes em países desenvolvidos passou de 20 a 25 anos para mais de 35 anos. – No Brasil, só a concessão dos BiPAPs – aparelhos não- invasivos de respiração artificial – aumentou a expectativa de vida dos afetados pela Distrofia de Duchenne entre 12 a 15 anos. – Já os afetados pelas formas mais brandas de distrofia podem ter uma vida praticamente normal se diagnosticados precocemente e tratados adequadamente. Introdução – Apesar das limitações físicas, a grande maioria dos afetados pelas distrofias musculares tem preservada sua capacidade intelectual. – A maioria dos jovens afetados frequenta escolas comuns e muitos chegam à universidade. Etiologia Grupo de patologias que afetam primariamente o músculo esquelético, especificamente a ligação entre o CITOESQUELETO e a MATRIZ EXTRACELULAR. Etiologia Grupo de patologias que afetam primariamente o músculo esquelético, especificamente a ligação entre o CITOESQUELETO e a MATRIZ EXTRACELULAR via complexo distrofina-glicoproteína. O Papel do Complexo Distrofina-Glicoproteínas Estrutural Ancora as fibras musculares a matrix extracelular Função Redistribuição do stress imposto localmente no sarcolema pela contração muscular ao longo de toda a membrana. Maior rigidez da fibra muscular Menor resistência a tensão O Papel do Complexo Distrofina-Glicoproteínas Estrutural Ancora as fibras musculares a matrix extracelular Função Redistribuição do stress imposto localmente no sarcolema pela contração muscular ao longo de toda a membrana. Aumento no stress local � lesão na membrana � ativa degradação celular Alterações no complexo Ciclos de degeneração regeneração Substituição de células musculares por gordura e tecido conectivo Distrofias Musculares Maior rigidez da fibra muscular Membrana plasmática da fibra muscular Distrofias Musculares - Apresentação Clínica Geral Perda de massa muscular Perda de força Primárias Contratura Deformidade Incapacidade Secundárias Disfunções progressivas Distrofias Musculares Grupo de patologias que afetam primariamente o músculo esquelético, especificamente a ligação entre o CITOESQUELETO e a MATRIZ EXTRACELULAR via complexo distrofina-glicoproteína. Alteração de diferentes estruturas neste complexo Diferentes formas de distrofia Distrofias Musculares - Classificação Base molecular não foi identificada para todos os tipos de distrofia Critérios: modo de herança, idade, progressão, localização do acometimento, mudanças morfolófgicas no músculo Ligada ao X Emery-Dreifus Becker Duchenne Autossômicas recessivas Congênita Distrofias de Cinturas Autossômicas dominantes Miotônica Congênita Fascio-escápulo-umeral Distrofia de Cintura Cardamone et al., 2008 Diagnóstico • HISTÓRIA FAMILIAR • DOSAGEM DE CREATINOFOSFOQUINASE – Normalmente elevada em grau variável nos tipos diferentes de distrofia muscular. • ESTUDO MOLECULAR – DNA – Ao analisar-se a molécula de DNA busca-se deleções ou outros erros genéticos responsáveis pela falta das proteínas que causam os diferentes tipos de distrofia. • BIÓPSIA MUSCULAR – Além da análise das alterações anatomopatológicas do músculo, estuda as proteínas do tecido muscular, por exemplo, no caso da Distrofia Muscular de Duchenne observa-se a ausência da proteína distrofina, enquanto que na forma Becker esta proteína, embora presente, encontra-se alterada em forma ou quantidade.É indicada nos casos que não apresentam deleção. • ESTUDO DO RNA – É indicado nos casos em que a mutação ocorre no próprio afetado – mutação de ponto. Nesses casos em que há dificuldade de localização do erro genético é utilizado o Teste da Proteína Truncada PTT que utiliza o RNA extraído dos linfócitos do sangue. Distrofia Muscular de Becker (DMB) • Doença genética causada por uma falha na produção da proteína específica do músculo, distrofina, assim como na distrofia muscular de Duchenne (DMD). • A deficiência desta proteína neste tipo de distrofia é parcial �o quadro clínico se manifesta mais suavemente. • Incidência: 1/30.000 nascimentos masculinos. – A DMB é 10 vezes menos frequente que a DMD. • Manifestação� geralmente entre os sete e dez anos de idade, – Sinais/sintomas: fraqueza e atrofia musculares simétricas e progressivas, inicialmente na cintura pélvica. Pseudo-hipertrofia do músculo da panturrilha. • A perda da capacidade de deambular � em geral, após os 16 anos – Permite sobrevida variável, inclusive com reprodução. • Em mais da metade dos portadores � comprometimento cardíaco associado (cardiomiopatia) – limitando/restrições e redução da qualidade de vida destes. Quantidade normal Estrutura anormal Distrofia Miotônica de Steinert (DMS) • É a forma mais comum na vida adulta. • Incidência: 1/8.000 a 10.000 nascimentos de ambos os sexos. • O quadro clínico inicia-se com miotonia caracterizado por dificuldade de relaxar o músculo após uma contração muscular vigorosa. – Exemplo: o portador segura fortemente um objeto e, no momento de soltá- lo, há dificuldade de abrir os dedos. • Mais tardiamente, apresenta fraqueza muscular, além do comprometimento de outros sistemas, como o visual, tegumentar, cardíaco e endócrino � pode causar catarata, calvície, cardiomiopatia, hipogonodismo e diabetes, respectivamente. • O envolvimento da musculatura esquelética é difuso com repercussão nos músculos das pernas, braços, pescoço e face. Distrofia Muscular do tipo Cinturas • Esta enfermidade tem caráter progressivo com grande variabilidade genética e acometendo ambos os sexos igualmente. • Incidência: 1/10.000 a 20.000 nascimentos de ambos os sexos • O quadro clínico é caracterizado por fraqueza e atrofia musculares com predomínio às cinturas pélvica e escapular. • O início das manifestações clínicas é variável, podendo ser já no primeiro ano de vida ou até na primeira década. • Grande variedade quanto ao grau de comprometimento motor desde um quadro mais severo, próximo ao quadro apresentado na DMD, quanto uma fraqueza leve sem prejuízo das atividades de vida diária (AVD). Distrofia Muscular Fácio-Escápulo-Umeral (FSH) • Se manifesta em qualquer época da vida, desde o início da infância até a vida adulta tardia, embora se manifeste mais freqüentemente na adolescência. • Incidência: 1/20.000 nascimentos de ambos os sexos. • É caracterizada por uma das formas mais benignas e o terceiro tipo mais frequente. • Este tipo de distrofia está associado ao comprometimento muscular proximal à cintura escapular (ombros e braços) e da musculatura facial, sendo este comprometimento leve e com evolução lenta da doença. • Características : – escápula alada (fraqueza dos m.m. estabilizadores da escápula) – dificuldade de fechar os olhos, abrir e fechar a boca, sorrir e assobiar. – Comprometimento do bícepse do trícipes poupando o deltóide e o antebraço na fase inicial dá ao membro superior a aparência do “braço do Popeye” • De forma geral, o comprometimento é leve e o portador apresentará uma vida normal, mesmo com gradativa repercussão nas AVD. Distrofia Muscular Congênita • Início intra-útero ou durante o primeiro ano de vida, causada pela deficiência da proteína específica chamada merosina. • Caracterizada por comprometimento muscular notado desde o nascimento, com hipotonia, atrofia e fraquezas musculares estacionárias ou com mínima progressão. Apresenta também retrações musculares progressivas e diminuição/ausência dos reflexos tendinosos. • A fraqueza predomina a porção próxima às cinturas escapular e pélvica, além do comprometimento dos músculos paravertebrais, cervicais, mastigatórios e faciais. • A prevalência dessa enfermidade de 1:60.000 ao nascimento e de 1:100.000 na população geral. • Atualmente há 4 entidades aceitas desse tipo de distrofia: – DMC clássica ou pura, onde não há comprometimento do sistema nervoso central e inteligência normal; – DMC tipo Fukuyama que apresenta deficiência mental e alteração no sistema nervoso central; – Síndrome Muscle Eye-Brain apresenta quadro muscular e mental graves e defeitos oculares; – Síndrome de Walker Walburg, com deficiência mental, alterações cerebrais e defeitos oculares. DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE Distrofias Musculares - Duchenne Doença recessiva ligada ao X Afeta 1 de cada 3600 meninos nascidos vivos Acontece por um defeito no gene localizado no braço curto do no cromossomo X Atinge principalmente meninos (99% dos casos) É importante ressaltar que em 2/3 dos casos a mutação é adquirida da mãe e, em 1/3, ocorre um erro genético, uma mutação nova quando a criança foi gerada. Distrofias Musculares - Duchenne Historia Natural: Até 5 anos – leve atraso no desenvolvimento Criança “desastrada”, desajeitada para correr e pular. Quedas frequentes, dificuldades para subir escadas, levantar-se do chão. Diagnóstico tipicamente aos 5 anos – habilidades motoras começam a divergir significativamente das de crianças típicas Rápida perda de força a partir dos 6 anos Cadeira de rodas < 13 anos; progressão das contraturas de MMII + novas contraturas de MMSS Complicações respiratórias, ortopédicas e cardiacas emergem Morte 19/20 anos – Aumento do volume das panturrilhas • substituição das fibras musculares já necrosadas, por fibrose, aliada a infiltração de tecido adiposo � pseudo- hipertrofia. Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional – Fraqueza muscular • Comprometimento simétrico • Musculatura proximal é afetada antes da distal tanto para MMII quanto para MMSS – MMII� comprometimento inicial da cintura pélvica – MMSS� comprometimento inicial da cintura escapular Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional • Fraqueza glúteos médio e mínimo�inclinação da pelve em apoio bipodal�alargamento da base de sutenção�marcha anserina Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional • Fraqueza de glúteo máximo � inclinação anterior da pelve�aumento da lordose lombar Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional • Fraqueza da musculatura extensora de tronco, quadris e joelhos�dificuldade de extensão do tronco� Sinal de Gowers (compensação) Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional Fraqueza muscular� Encurtamentos musculares � marcha na ponta dos pés Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional • Fraqueza dos m.m. estabilizadores da escápula � sinal de Meryon – representado pela elevação das escápulas quando a criança é segurada pelas axilas e “escorrega” das mão do examinador – Comprometimento do alcance Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional • Fraqueza progressiva de bíceps, braquirradial, tríceps � dificuldades para comer, pentear os cabelos, higiene oral. Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional • Deformidades ortopédicas � posições viciosas em várias articulações � escoliose • Alterações ósseas � desuso Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional • Escoliose � redução da função respiratória –↑escoliose : ↓ capacidade vital • Fraqueza progressiva� restrição ao leito�redução da função respiratória � complicações respiratórias Distrofias Musculares – Duchenne: Quadro clínico funcional Linha do tempo • https://www.youtube.com/watch?v=AkkCp1H SdTA Distrofias Musculares – Duchenne: Evolução da marcha Normal Estágio inicial Distrofias Musculares – Duchenne: Evolução da marcha Normal Estágio intermediário Distrofias Musculares – Duchenne: Evolução da marcha Normal Estágio intermediário Distrofias Musculares – Duchenne: Evolução da marcha Normal Estágio final Marcha trabalhosa, alto gasto energético (dobro da fase anterior) Distrofias Musculares – Duchenne: Evolução da marcha
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