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TICS Semana 17 Luiza de Souza Nunes Quais as diferenças entre as Distrofias de Duchenne e Becker? Qual a etiologia? Qual paciente é mais acometido? Qual patologia é mais severa? As distrofias musculares são um grupo heterogêneo de desord ens genéticas caracterizadas pela degeneração progressiva do tecido muscular. A Distrofia muscular de Duchenne (DMD) é causada por mutações em um gene localizado no braço curto do cromossomo X, que codifica uma proteína chamada distrofina. A distrofina é uma grande proteína citoplasmática, que se localiza na superfície interior do sarcolema, ou membrana da fibra muscular. As moléculas de distrofina concentram-se sobre as bandas Z do músculo, onde formam uma forte ligação entre os filamentos de actina do aparelho contráctil intracelular e a matriz extracelular de tecido conjuntivo. Acredita-se que anomalias no complexo de proteínas associadas à distrofina comprometem a integridade do sarcolema, particularmente com contrações sustentadas. Este comprometimento da integridade pode ser responsável pela maior fragilidade observada em um músculo distrófico, pelo influxo excessivo de íons cálcio e pela liberação de enzimas musculares solúveis, como a creatinoquinase no soro. O processo degenerativo em casos de DMD consiste em necrose implacável das fibras musculares, acompanhada de um processo contínuo de reparo e regeneração e fibrose progressiva. O processo degenerativo, por fim, supera a capacidade regenerativa do músculo, causando a substituição gradual das fibras musculares por tecido conjuntivo fibrogorduroso. O estágio final da doença se caracteriza pela perda quase total das fibras musculares esqueléticas, com relativa preservação das fibras intrafusais dos fusos musculares. Outra forma de distrofia, a distrofia muscular de Becker, é ligada ao cromossomo X de maneira semelhante, porém se manifesta no final da infância ou começo da adolescência e tem um curso de progressão mais lento. A DMD é a distrofia muscular mais comum em crianças e afeta 1 a cada 3500 nascidos vivos. Usualmente, está presente no início da infância e associada a atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, caracterizando um dos primeiros sintomas percebido ainda pelos pais. A idade média do diagnóstico é na faixa dos quatro anos e dez meses, quando aparece a perda de força progressiva que se inicia em músculos proximais e passam para distais, bem como de membros inferiores para membros superiores. A criança começa a apresentar uma marcha com base alargada, dificuldade de locomover em terreno com desnível (rampas, escadas), correr, pular e tende a caminhar nas pontas dos pés. Um sinal clínico típico é a pseudohipertrofia de musculatura de panturrilhas. A progressão da doença é rápida e o indivíduo torna-se dependente de cadeira de rodas para locomoção por volta de doze anos de idade. A miocardiopatia nesses indivíduos se manifesta em idade média de 18 anos. Poucos indivíduos sobrevivem até a terceira década de vida devido a complicações cardíacas e respiratórias – tornando essa patologia mais severa. A distrofia de Becker trata-se de uma forma mais branda de distrofia muscular, cujos sintomas iniciam-se na segunda década de vida e são mais tênues, a qualidade de vida é melhor e os pacientes não perdem a marcha geralmente antes da terceira década de vida, pelo menos. Do ponto de vista histológico, a principal diferença é que a perda de distrofina é segmentar e os outros achados são todos mais discretos, como a necrose e a reação macrofágica. Além disso, as fibras hialinas são menos frequentes. TICS Semana 17 Luiza de Souza Nunes A distrofia muscular de Becker tem incidência de cerca de 10 vezes menor que a da distrofia muscular do tipo Duchenne, ocorrendo um caso a cada 30 mil nascimentos masculinos. Os sintomas e sinais da distrofia muscular do tipo Becker são semelhantes aos da distrofia de Duchenne, com quedas frequentes, dificuldade para subir escadas, correr, levantar do chão e hipertrofia das panturrilhas. O comprometimento muscular é simétrico com início pelos músculos da cintura pélvica (quadril e pernas), atingindo mais tarde os membros superiores, mas consideravelmente mais leves. O início de manifestação é mais tardio e a evolução clínica da doença, mais lenta. O quadro clínico deste tipo de distrofia apresenta uma variabilidade muito grande, podendo haver, em uma mesma família, indivíduos com diferentes graus de comprometimento muscular. Embora o acometimento muscular esquelético seja mais leve, a insuficiência cardíaca devido à miocardiopatia dilatada é a principal causa de morbimortalidade. A idade média de óbito desses pacientes por essa complicação é de 40 anos. Referências: • PORTH, C.M.; MATFIN, G. Fisiopatologia. 8ª ed. Guanabara Koogan, 2010 • Chaves ACX, Conceição ECG, Cunha MCB, Silva TM. Doenças neuromusculares: atuação da fisioterapia, guia teórico e prático. São Paulo: Roca; 2012
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