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NOÇÕES DE DIREITO PENAL PARTE GERAL Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 2 LEI PENAL 1 – Conceito de Lei Penal: é a fonte imediata do Direito Penal, uma vez que, por expressa determinação constitucional, tem a si reservado, exclusivamente, o papel de criar infrações penais e lhes cominar as penas respectivas. 2 – Classificação: as leis penais apresenta diversas divisões. Podem ser: 2.1 – Incriminadoras: são as que criam crimes e cominam penas. Obs.: são conhecidas como tipos penais incriminadores e possuem a função de definir as infrações penais, proibindo ou impondo condutas, sob ameaça de pena. São as normas penais em sentido estrito, proibitivas ou mandamentais. Obs.2: Ao observarmos os tipos penais incriminadores, percebemos que existem duas espécies de preceitos: 1º - preceito primário – preceptum iuris – faz a descrição detalhada e perfeita de uma conduta que se procura proibir ou impor. 2º - preceito secundário – sanctio iuris – individualiza a pena e a cominando em abstrato. Obs.3: o criminoso na realidade não viola a lei penal, e sim a proposição que lhe prescreve o modelo de sua conduta, que é um preceito não escrito. Obs.4: ELEMENTOS QUE INTEGRAM O TIPO Os elementos que integram o tipo podem ser OBJETIVOS e SUBJETIVOS. Os ELEMENTOS OBJETIVOS descrevem a ação, o objeto da ação, o resultado (se for o caso), as circunstâncias externas do fato, a pessoa do autor e o sujeito passivo (se for o caso). O objetivo dos elementos subjetivos é fazer com que o agente tome conhecimento de todos os dados necessários à caracterização da infração penal. Os ELEMENTOS OBJETIVOS podem ser normativos ou descritivos. Elementos objetivos descritivos – têm a finalidade de traduzir o tipo penal, ou seja, evidenciar o que pode ser facilmente constatado pelo intérprete. Elementos objetivos normativos – são criados e traduzidos por uma norma ou que, para sua devida compreensão, carecem de valoração por parte do intérprete. Ex.: conceitos como mulher honesta, sem justa causa, decoro. Os ELEMENTOS SUBJETIVOS dizem respeito à vontade do agente. Quer dizer elemento anímico (ânimo). O dolo é, por excelência, o elemento subjetivo do tipo. Existe também a culpa e outros elementos explícitos no corpo do tipo penal. Ex.: artigo 159, do CP: Art. 159. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Obs.5: ELEMENTOS ESPECÍFICOS DOS TIPOS PENAIS São elementos encontrados em todos os tipos penais: - núcleo; - sujeito ativo; - sujeito passivo; - objeto material. a) NÚCLEO DO TIPO – é o verbo que descreve a conduta proibida pela lei penal. O núcleo será sempre verbo de ação, visto não poder uma pessoa ser incriminada por um estado ou por uma situação qualquer em que não concorra de forma ativa (positiva ou negativa / ação ou omissão). Tipos penais com um só verbo – tipos uni-nucleares; Tipos penais com mais de um verbo – tipos plurinucleares, ou crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado. b) SUJEITO ATIVO – é aquele que pode praticar a conduta delituosa descrita no tipo. Se qualquer um pode ser o sujeito ativo do crime, ou seja, se a conduta pode ser praticada por qualquer pessoa, o crime é tido como CRIME COMUM. Mas se somente um grupo de pessoas pode praticar o crime, dadas determinadas condições pessoais, o crime é tido como CRIME PRÓPRIO. Somente o homem, aqui entendido como pessoa humana, pode praticar delitos. Societas delinquere non potest. Mas e quanto à possibilidade de responsabilização da Pessoa Jurídica por crimes ambientais? O autor é contrário à ideia da responsabilização penal da pessoa jurídica, tendo em vista: - a impossibilidade de ser adaptar à teoria do crime, notadamente à análise dos elementos subjetivos da conduta típica; Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 3 - a desnecessidade de intervenção do Direito Penal, pois os outros ramos do Direito são ágeis e fortes o suficiente para inibir atividades nocivas por ela (pessoa jurídica) levadas a efeito. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA. c) SUJEITO PASSIVO – pode ser formal ou material. SUJEITO PASSIVO FORMAL – é sempre o Estado, que sofre danos toda vez que suas leis são desobedecidas. SUJEITO PASSIVO MATERIAL – é o titular do bem jurídico tutelado sobre o qual recai a conduta criminosa. Em alguns casos, pode ser o Estado. Ex.: crimes contra a Administração Pública. A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo de delitos, com algumas ressalvas, como o caso do crime de injúria, tendo em vista que a pessoa jurídica não possui o que a doutrina costuma chamar “honra subjetiva”. d) OBJETO MATERIAL – é a pessoa ou a coisa contra a qual recai a conduta delituosa do agente. Não é o mesmo que bem jurídico tutelado, que é de natureza subjetiva (vida, propriedade). O objeto material possui natureza objetiva (corpo humano, veículo automotor). Nem todos os tipos penais possuem objeto material, pois sua existência depende de uma alteração da realidade fática para a consumação do delito. Ex.: crimes formais ou de mera conduta. 2.2 – Não-incriminadoras: são as que não criam crimes nem cominam penas. Subdividem-se em: 2.2.1 – Permissivas justificantes: autorizam a prática de condutas típicas, ou seja, são as causas de exclusão da ilicitude. 2.2.2 – Permissivas exculpantes: estabelecem a não- culpabilidade do agente (excludentes de culpabilidade) ou ainda a impunidade de determinados delitos (escusas absolutórias ou extinção da punibilidade). 2.2.3 – Interpretativas: esclarecem o conteúdo e o significado de outras leis penais. Exemplos: arts. 150, § 4º (conceito de casa), e 327 (conceito de funcionário público para fins penais) do Código Penal. Art. 150, § 4º, do CP - A expressão "casa" compreende: I - qualquer compartimento habitado; II - aposento ocupado de habitação coletiva; III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. § 5º - Não se compreendem na expressão "casa": I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. Funcionário público Art. 327 do CP - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. 2.2.4 – De aplicação, finais ou complementares: delimitam o campo de validade das leis incriminadoras. Exemplos: arts. 2º e 5º do Código Penal. Lei penal no tempo Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Territorialidade Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direitointernacional, ao crime cometido no território nacional. 2.2.5 – Diretivas: são as que estabelecem os princípios de determinada matéria. Exemplo: princípio da reserva legal (Art. 1º do CP). Anterioridade da Lei Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 2.2.6 – Integrativas ou de extensão: são as que complementam a tipicidade no tocante ao nexo causal Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 4 nos crimes omissivos impróprios (art. 13, § 2º, CP), à tentativa (art. 14, II, CP) e à participação (art. 29, caput). Relevância da omissão Art. 13, § 2º, do CP - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Art. 14 do CP - Diz-se o crime: Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena de tentativa Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Art. 29 do CP - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. 2.3 – Completas ou perfeitas: apresentam todos os elementos da conduta criminosa. 2.4 – Incompletas ou imperfeitas: reservam a complementação da definição da conduta criminosa a uma outra lei, a um ato da Administração Pública (leis penais em branco) ou ao julgador (tipos penais abertos). Obs.: as leis penais em branco podem ser HOMOGÊNEAS ou HETEROGÊNEAS. Homogêneas: também conhecidas como leis penais em branco em sentido amplo ou homólogas – quando o seu complemento é oriundo da mesma fonte legislativa que editou a norma que necessita desse complemento. As homogêneas podem ser: homoviletina – quando a norma penal é complementada por outra norma penal. Ex.: art. 338 do CP, que é complementado pelo art. 5º, § 1º, do CP; heterovitelina – quando a norma penal é complementada por outra, de outro ramo do direito. Ex.: art. 237 do CP, que possui o complemento no Código Civil (pois fala quais são os impedimento para o casamento). Código Penal – Reingresso de estrangeiro expulso Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena. Código Penal – Art. 5º § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. Código Penal – Conhecimento prévio de impedimento Art. 237 do CP - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de três meses a um ano. Código Civil – Dos Impedimentos Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Heterogêneas: também conhecidas como leis penais em branco em sentido estrito ou heterólogas – quando o seu complemento é oriundo de fonte diversa daquela que a editou. Ex.: art. 28 da Lei de Drogas – Lei 11.343/2006, que possui seu complemento na portaria 344 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 5 Art. 28 da Lei de Drogas. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL – AULA 05 1 – Conceito: interpretação é a tarefa mental que procura estabelecer a vontade da lei, ou seja, o seu conteúdo e significado. Obrigatoriedade da interpretação. 2 – Classificação: pode a interpretação ser classificada: 2.1 – Quanto ao sujeito: autêntica, judicial ou doutrinária. 2.1.1 – Autêntica ou legislativa: é aquela de que se incumbe o próprio legislador, quando edita uma lei com o propósito de esclarecer o alcance e o significado de outra. Ex.: Causa, funcionário público. Tem eficácia retroativa (ex tunc). Pode ser contextual (no próprio corpo da lei a ser interpretada) ou posterior (surge ulteriormente). 2.1.2 – Judicial ou jurisprudencial: é a interpretação executada pelos membros do Poder Judiciário, na decisão dos litígios que lhes são submetidos. Tem força obrigatória em dois casos: no caso concreto e quando constituir súmula vinculante (CF, art. 103-A, e Lei 11.417/2006). Art. 103-A da Constituição Federal – CF. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso." 2.1.3 – Doutrinária ou científica: é a interpretação exercidapelos doutrinadores, escritores e articulistas, enfim, comentadores do texto legal. 2.3 – Quanto ao resultado: declaratória, extensiva e restritiva. 2.3.1 – Declaratória, declarativa ou estrita: e aquela que resulta da perfeita sintonia entre o texto da lei e a sua vontade. Nada resta a ser retirado ou acrescentado. 2.3.2 – Extensiva: é a que se destina a corrigir uma fórmula legal excessivamente estreita. A lei disse menos do que desejava. Ex.: art. 159 – cárcere privado. Extorsão mediante sequestro Art. 159 do CP - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. Sequestro e cárcere privado Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. 2.3.3 – Restritiva: é a que consiste na diminuição do alcance da lei, concluindo-se que a vontade, manifestada de forma ampla, não permite seja atribuído à sua letra todo o sentido que em tese poderia ter. A lei disse mais do desejava. 2.5 – Interpretação analógica. Interpretação analógica ou intra legem – É meio de interpretação. Na interpretação analógica, aplica-se a lei penal a casos análogos por expressa determinação legal. É Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 6 a que se verifica quando a lei contém em seu bojo uma fórmula casuística (um exemplo) seguida de uma fórmula genérica. Ex.: motivo torpe. Obs.: admite-se a interpretação analógica in malam partem. Obs.: ANALOGIA não é meio de interpretação. 1 – Conceito: Não se trata de interpretação da lei penal. Cuida-se, dessa forma, de integração ou colmatagem do ordenamento jurídico. A lei pode ter lacuna, mas não o ordenamento jurídico. Obs.2: No Direito Penal, somente pode ser utilizada em relação às leis não incriminadoras, em respeito ao princípio da reserva legal. 1.1 – Espécies: a analogia apresenta as seguintes espécies: 1.1.1 – Analogia in malam partem: é aquela pela qual aplica-se ao caso omisso um lei maléfica ao réu, disciplinadora de caso semelhante. Não é admitida em homenagem ao princípio da reserva legal. 1.1.2 – Analogia in bonam partem: é aquela pela qual se aplica ao caso omisso uma lei favorável ao réu, reguladora de caso semelhante. É possível no Direito Penal, exceto no que diz respeito às leis excepcionais, que não admitem analogia, justamente por seu caráter extraordinário. Ex.: Art. 218, CP – instigar. Corrupção de menores Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Obs.: por analogia abrange também a expressão instigar, pois, caso o contrário, o agente responderia por estupro de vulnerável em concurso com a pessoa que teria sua lascívia satisfeita. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL – AULA 05 1 – Princípios Constitucionais do Direito Penal. 1.1 – conceito: Normas de funcionam como alicerce do ordenamento jurídico, servindo de base para a interpretação, integração, conhecimento e aplicação das leis penais. 1.2 – Princípios Constitucionais Explícitos: 1.2.1 – Legalidade: Art. 1º, CP - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Art. 5º, XXXIX, CF - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Obs.: o princípio da legalidade abrange também as contravenções penais e não apenas o crime. Obs.2: o princípio da legalidade abrange ainda as medidas de segurança e não somente a pena. 1.2.2 – Reserva legal: somente lei ordinária e lei complementar podem criar crime e cominar pena. Obs.: A legalidade deve ser formal e material. a) Legalidade formal: diz respeito à obediência aos trâmites procedimentais, previstos pela Constituição, para que determinado diploma legal possa vir a fazer parte de nosso ordenamento jurídico. b) Legalidade material: devem ser obedecidas não somente as formas e procedimentos impostos pela Constituição, mas, também, e, principalmente, o seu conteúdo, respeitando-se suas proibições e imposições para a garantia de nossos direitos fundamentais por ela previstos. Aqui, adota-se não a mera legalidade, mas, sim, como preleciona Ferrajoli, um princípio de estrita legalidade. Obs.: União – competência privativa da União (Lei Geral) Obs.: Pelo princípio da reserva legal, exigência de determinação, no que se refere não só à descrição das condutas delitivas, mas também à fixação dos marcos penais (penas cominadas entre o mínimo e o máximo), é garantia de caráter absoluto, que justifica a escolha do Legislativo como único detentor do poder normativo em sede penal no assunto, por legitimação democrática, fazendo que o seu exercício não seja arbitrário. 1.2.2.1 – tratados? Somente possuem mandados de criminalização assim como as Emendas Constitucionais. 1.2.2.2 – Medida Provisória pode regular matérias penais? – não, por expressa previsão constitucional trazida pela EC nº 32 no art. 62, § 1º, I, “b”, da CF/88. Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 7 Art. 62 da CF. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I – relativa a: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; 1.2.3 Anterioridade: significa que uma lei penal incriminadora somente pode ser aplicada a um fato concreto, caso tenha tido origem antes da prática da conduta para a qual se destina (art. 5º, XXXIX, CF e art. 1º do CP). A lei penal produz efeitos a partir de sua entrada em vigor. Não pode retroagir, salvo se beneficiar o réu. É proibida a aplicação da lei penal inclusive aos fatos praticados durante o hiato de sua vacatio legis. Embora publicada e vigente, a lei ainda não estará em vigor e não alcançará as condutas praticadas em tal período. Art. 5º, XXXIX, CF - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Art. 1º, CP - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 1.2.4 – Taxatividade: significa que as condutas típicas, merecedoras de punição, devem ser suficientemente claras e bem elaboradas, de modo a não deixar dúvida por parte do destinatário da norma. 1.2.5 – Retroatividade da lei penal benéfica ou irretroatividade da lei penal: é natural que, havendo anterioridade obrigatória para a lei penal incriminadora, não se pode permitir a retroatividade de leis, especificamente as prejudiciais ao acusado. Abre-se exceção à vedação à irretroatividade quando se trata de lei penal benéfica. Esta pode voltar no tempo para favorecer o agente, ainda que o fato tenha sido decidido por sentença condenatória com trânsito em julgado (art. 5º, XL, CF; art. 2º, parágrafo único do CP). Art. 5º, XL, CF - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Lei penal no tempo Art. 2º, parágrafo único, CP - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda quedecididos por sentença condenatória transitada em julgado. 1.2.6 – Personalidade ou da responsabilidade pessoal ou da intranscendência: significa que a punição, em matéria penal, não deve ultrapassar a pessoa do delinquente (art. 5º, XLV, CF), ou seja, ninguém pode ser responsabilizado por fato cometido por terceira pessoa. Como reconhecido pelo STF: “o postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator”. Art. 5º, XLV, CF - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; 1.2.7 – Individualização da pena: significa que a pena não deve ser padronizada, cabendo a cada delinquente a exata medida punitiva pelo que fez. Não teria sentido igualar os desiguais, sabendo-se, por certo, que a prática de idêntica figura típica não é suficiente para nivelar dois seres humanos. Assim, o justo é fixar a pena de maneira individualizada, seguindo-se os parâmetros legais, mas estabelecendo a cada um o que lhe é devido (art. 5º, XLVI, CF). Esse princípio repousa no princípio de justiça, segundo o qual se deve distribuir a cada indivíduo o que lhe cabe, de acordo com as circunstâncias específicas do seu comportamento – o que em matéria penal significa a aplicação da pena levando em conta não a norma penal em abstrato, mas, especialmente, os aspectos subjetivos e objetivos do crime. O Ministro do STJ Vicente Cernicchiaro, em julgado seu, afirma que “a Constituição da República consagra o Princípio da Individualização da Pena. Compreende três fases: cominação, aplicação e execução. Individualizar é ajustar a pena cominada, considerando os dados objetivos e subjetivos da infração penal, no momento da aplicação e da execução”1. Art. 5º, XLVI, CF - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; 1 STJ – 6ª Turma – Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU de 7/6/1993, p. 11.276. Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 8 b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; 1.2.8 – Proibição de determinadas penas Art. 5º, XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; 1.3 – Princípios Constitucionais Implícitos: 1.3.1 – Intervenção mínima (subsidiariedade): significa que o direito penal não deve interferir em demasia na vida do indivíduo, retirando-lhe autonomia e liberdade. Afinal, a lei penal não deve ser vista como a primeira opção (prima ratio) do legislador para compor conflitos existentes em sociedade, os quais, pelo atual estágio de desenvolvimento moral e ético da humanidade, sempre estarão presentes. Há outros ramos do Direito preparados a solucionar as desavenças e lides surgidas na comunidade, compondo-as sem maiores traumas. O direito penal é considerado a ultima ratio, isto é, a última cartada do sistema legislativo, quando se entende que outra solução não pode haver senão a criação de lei penal incriminadora, impondo sanção penal ao infrator. O Direito Penal só deve preocupar-se com a proteção dos bens jurídicos mais importantes e necessários à vida em sociedade. Ressaltando o caráter subsidiário do Direito Penal, Claus Roxin assevera: “a proteção de bens jurídico não se realiza só mediante o Direito Penal, senão que nessa missão cooperam todo o instrumental do ordenamento jurídico. O Direito Penal é, inclusive, a última dentre todas as medidas protetoras que devem ser consideradas, quer dizer que somente se pode intervir quando falhem outros meios de solução social do problema – como a ação civil, os regulamentos de polícia, as sanções não penais, etc. Por isso se denomina a pena como a ‘ultima ratio da política social’ e se define sua missão como proteção subsidiária de bens jurídicos.”2 2 ROXIN, Claus. Derecho penal. t. l, p. 65. 1.3.1.1 – Da intervenção mínima decorrem outros princípios: 1.3.1.2 – Princípio da lesividade ou ofensividade: os princípios da intervenção mínima e da lesividade são como que duas faces de uma mesma moeda. Se, de um lado, a intervenção mínima somente permite a interferência do Direito Penal quando estivermos diante de ataques a bens jurídicos importantes, o princípio da lesividade nos esclarecerá, limitando ainda mais o poder do legislador, quais são as condutas que poderão ser incriminadas pela lei penal. Esse princípio impossibilita a atuação do Direito Penal caso um bem jurídico relevante de terceira pessoa não esteja sendo efetivamente atacado. 1.3.1.2.1 – Funções do princípio da lesividade: 1.3.1.2.1.1 – Proibir a incriminação de uma atitude interna – ninguém pode ser punido por aquilo que pensa o mesmo por seus sentimentos pessoais. 1.3.1.2.1.2 – Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor – o Direito Penal também não poderá punir aquelas condutas que não sejam lesivas a bens de terceiros, pois que não excedem ao âmbito do próprio autor, a exemplo do que ocorre com a autolesão ou mesmo com tentativa de suicídio. 1.3.1.2.1.3 – Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais – impedir que o agente seja punido por aquilo que ele é, e não pelo que fez. Busca-se, assim, impedir que seja erigido um autêntico direito penal do autor. 1.3.1.2.1.4 – Proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico – não se pode punir alguém pelo simples fato de não gostar de tomar banho regularmente, por tatuar o próprio corpo ou por se entregar, desde que maior e capaz, práticas sexuais anormais. 1.3.1.3 – Princípio da adequação social: a teoria da adequação social, concebida por Hans Welzel, significa que apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal não será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada. O princípio da adequação social, na verdade, possui dupla função. Uma delas é a de restringir o âmbito de abrangência do tipo Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 9 penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. A sua segunda função é dirigida ao legislador em duas vertentes. A primeira delas orienta o legislador quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com a finalidade de proteger os bens considerados mais importantes. A segunda vertente destina-se a fazer com que o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da sociedade. 1.3.1.4 – Fragmentariedade: como corolário dos princípios da intervenção mínima, da lesividade e da adequação social temos o princípio da fragmentariedade do Direito Penal, que significa que nem todas as lesões a bens jurídicos protegidos devemser tutelados e punidos pelo direito penal que, por sua vez, constitui somente parcela do ordenamento jurídico. Fragmento é apenas a parte de um todo, razão pela qual o direito penal deve ser visto, no campo dos atos ilícitos, como fragmentário, ou seja, deve ocupar-se das condutas mais graves, verdadeiramente lesivas à vida em sociedade, passíveis de causar distúrbios de monta à segurança pública e à liberdade individual. 1.3.1.5 – Insignificância ou criminalidade de bagatela: significa que o Direito Penal não deve se ocupar de assuntos irrelevantes, incapazes de lesar o bem jurídico. Obs.1: Funciona como causa de exclusão da tipicidade, desempenhando uma interpretação restritiva do tipo penal. E, para o STF, são requisitos objetivos autorizadores desse princípio os seguintes: a) Mínima ofensividade da conduta; b) A ausência de periculosidade social da ação; c) O reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e d) A inexpressividade da lesão jurídica. Obs.2: Exige-se também requisitos subjetivos. Na esteira da orientação do STJ: “há que se conjugar: a) A importância do objeto material para a vítima, levando-se em consideração a sua condição econômica; b) O valor sentimental do bem; c) Como também as circunstâncias e o resultado do crime. Tudo de modo a determinar, subjetivamente, se houve relevante lesão”. 1.3.2 – Culpabilidade: possui três sentidos fundamentais: 1.3.2.1 – Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime – imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa; 1.3.2.2 – Culpabilidade como princípio medidor da pena – art. 59, CP – como circunstância judicial; 1.3.2.3 – Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, o da responsabilidade penal sem culpa ou princípio da responsabilidade penal subjetiva: impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma responsabilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação causal entre a conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem jurídico. É necessário assim a presença de dolo ou de culpa na conduta do agente. Obs.1: De acordo com o STJ, “o Direito Penal moderno é Direito Penal da culpa. Não se prescinde do elemento subjetivo. Intolerável a responsabilidade pelo fato de outrem. À sanção, medida político- jurídica de resposta ao delinquente, deve ajustar-se a conduta delituosa. Conduta é fenômeno ocorrente no plano de experiência. É fato. Fato não se presume. Existe, ou não existe”. Obs.2: É de todo inadmissível no direito penal moderno a responsabilidade objetiva. O princípio da CULPABILIDADE veda a responsabilização com fundamento apenas no nexo material, ou seja, em razão da conduta e do resultado. Obs.3: Ao vedar toda forma de responsabilidade pessoal por fato de outrem, a Constituição expressou o princípio segundo o qual a aplicação da pena pressupõe a atribuibilidade psicológica de um fato delitivo à vontade contrária ao dever do indivíduo. Obs.4: A culpabilidade deve ser analisada sob três perspectivas, quais sejam, da responsabilidade pessoal, da responsabilidade subjetiva e da função de limitação e garantia do cidadão ao poder punitivo estatal. Obs.5: Resquícios da responsabilidade penal objetiva: a) Rixa qualificada – art. 137, parágrafo único do CP; Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 10 Rixa Art. 137 do CP - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. b) Punição das infrações penais praticadas em estado de embriaguez voluntária culposa, decorrente da ação da teoria da actio libera in causa – art. 28, II do CP. Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: Embriaguez II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. 1.3.3 – Proporcionalidade: significa que as penas devem ser harmônicas com a gravidade da infração penal cometida, não tendo cabimento o exagero, nem tampouco a extrema liberalidade na cominação das penas nos tipos penais incriminadores. 1.3.4 – Vedação da dupla punição pelo mesmo fato ou ne bis in idem: quer dizer que ninguém deve ser processado e punido duas vezes pela prática da mesma infração penal. (Convenção Americana sobre Direitos Humanos – art. 8º, n. 4: O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos). APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO 1 – Princípio da continuidade das leis: somente lei pode revogar lei (exceções: leis temporárias e leis excepcionais, que se auto revogam). Os costumes, destarte, não revogam leis. 1.1 – Revogação: é a retirada da vigência de uma lei. 1.1.2 – Quanto ao alcance, a revogação pode ser: 1.1.2.1 – absoluta ou total, conhecida como ab-rogação; ou 1.1.2.2 – parcial, denominada derrogação. 1.1.3 – Quanto ao modo pelo qual se verifica, a revogação pode ser: 1.1.3.1 – expressa: ocorre quando uma lei indica em seu corpo os dispositivos legais revogados. Ex.: o art. 75 da Lei 11.343/2006 revogou expressamente as Leis 6.368/1976 e 11.409/2002. Art. 75 da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas). Revogam- se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de 2002. 1.1.3.2 – Tácita: ocorre no caso em que a lei nova se revela incompatível com a anterior, apesar de não haver menção expressa à revogação. 2 – Direito Penal intertemporal e o conflito de leis penais no tempo 2.1 – Como a lei pode ser revogada, instauram-se situações de conflito. As regras e princípios que buscam solucionar o conflito de leis penais no tempo constituem o direito penal intertemporal. 2.1.1 – A regra geral é a da prevalência da lei que se encontrava em vigor quando da prática do fato, vale dizer, aplica-se a lei vigente quando da prática da conduta (tempus regit actum). 2.1.2 – As exceções se verificam, por outro lado, na hipótese de sucessão de leis penais que disciplinem, total ou parcialmente, a mesma matéria. E, se o fato tiver sido praticado durante a vigência da lei anterior, cinco situações podem ocorrer: Obs.: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado – art. 2º, parágrafo único, CP. Obs.2: Princípio da extra-ativididade da lei penal – é a capacidade que tem a lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente à sua vigência, desde que benéfica ao agente. Extra-atividade, portanto, é gênero cujas espécies são a ultra atividade e a retroatividade. 2.1.2.1 – Novatio legis incriminadora: a lei cria uma nova figura penal. Somente tem eficácia para o futuro. Não retroagirá, em hipótese alguma, conforme determina o art. 5º, XL, da CF; Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 11 Art. 5º, XL, da CF - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 2.1.2.2 – Novatiolegis in pejus ou lex gravior: a lei posterior se mostra mais rígida em comparação com a lei anterior. Se mais grave, a lei terá aplicação apenas a fatos posteriores à sua entrada em vigor. Jamais retroagirá, conforme expressa determinação constitucional (art. 5º, XL, CF). Pode ocorrer, assim, ultratividade da lei mais benéfica, dada a irretroatividade da lei penal mais grave; Art. 5º, XL, da CF - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 2.1.2.3 – Novatio legis in mellius ou lex mitior: a lei posterior é benigna em relação a sanção penal ou à forma de seu cumprimento. Ex.: art. 28 da Lei de Drogas, que deve, de acordo com o STJ, retroagir para alcançar os fatos cometidos sob a égide da Lei 6.368/1976, por ser aquela mais branda com o “usuário”; Art. 28 da Lei 11.343/2006. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 2.1.2.4 – Abolitio criminis: a lei posterior extingue o crime. Encontra previsão legal no art. 2º, caput, do CP (Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória) e tem natureza de causa de extinção da punibilidade (art. 107, III, CP). Art. 2º do CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Extinção da punibilidade Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso (abolitio criminis); IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 2.1.2.5 – Lex Tertia - Lei posterior contém alguns preceitos mais rígidos e outros mais brandos. Pode ocorrer o conflito entre duas leis penais sucessivas no tempo, cada qual com partes favoráveis e desfavoráveis ao réu. Ex.: A Lei “X” comina a certo crime as penas de reclusão, de um a quatro anos, e multa. Posteriormente, tal lei é revogada por outra, “Y”, a qual prevê ao mesmo delito a pena de reclusão de dois a seis anos, sem multa. O cerne da questão reside em definir se cabe ou não ao Poder Judiciário a formação de uma lex tertia, ou seja, de uma lei híbrida. 2.1.3 – Lei penal intermediária 2.1.3.1 – É possível, em caso de sucessão de leis penais, a aplicação de uma lei intermediária mais favorável ao réu, ainda que não seja a lei em vigor quando da prática da infração penal ou a lei vigente à época do julgamento. Ex.: ao tempo da conduta estava em vigor a lei “A”, sucedida pela lei “B”, encontrando-se em vigor ao tempo da sentença a lei “C”. Nada impede a aplicação da lei “B”, desde que se trate, entre todas, da mais favorável ao agente. LEI TEMPORÁRIA E LEI EXCEPCIONAL 2.1.4 – Lei penal temporária e lei penal excepcional. Essas leis são auto revogáveis. São também ULTRATIVAS, conforme se extrai do art. 3º do CP. 2.1.4.1 – Lei penal temporária: é aquela que tem a sua vigência predeterminada no tempo, isto é, o seu final é explicitamente previsto em data certa do calendário. A lei diz, por exemplo, que sua validade se limita ao dia 31 de dezembro do ano em que foi editada. 2.1.4.2 – Lei penal excepcional: por outro lado, é a que se verifica quando a sua duração está relacionada à situação de anormalidade. Ex.: é editada uma lei que diz ser crime, punido com reclusão de seis meses a dois anos, tomar banho com mais de dez minutos de duração durante o período de racionamento de energia. TEMPO DO CRIME Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 12 1 – Três teorias buscam explicar o momento em que o crime é cometido: 1.1 – Teoria da atividade: considera-se praticado o crime no momento da conduta (ação ou omissão), pouco importando o momento do resultado; 1.2 – Teoria do resultado ou do evento: reputa praticado o crime no momento em que ocorre a consumação. É irrelevante a ocasião da conduta; 1.3 – Teoria mista ou da ubiquidade: busca conciliar as anteriores. Para ela, momento do crime tanto é o da conduta como também o do resultado. Obs.1: O CP escolheu a teoria da atividade em seu art. 4º: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Obs.2: Súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. LUGAR DO CRIME 1 – A aplicação do princípio da territorialidade da lei penal no espaço depende da identificação do lugar do crime. Nesse diapasão, várias teorias buscam estabelecer o lugar do crime. Destacam-se três: 1.1 – Teoria da atividade ou da ação: lugar do crime é aquele em que foi praticada a conduta (ação ou omissão); 1.2 – Teoria do resultado ou do evento: lugar do crime é aquele em que se produziu ou deveria produzir-se o resultado, pouco importando o local da prática da conduta; e 1.3 – Teoria mista ou da ubiquidade: lugar do crime é tanto aquele em que foi praticada a conduta quanto aquele em que se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Obs.1: Foi adotada pelo CP, em seu artigo 6º, a teoria da ubiquidade: Art. 6º do CP – Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Obs.2: dica para não se confundir no dia da prova: LUTA – Lugar do crime Ubiquidade e Tempo do crime Atividade. Obs.3: O lugar do crime tem relevância em relação aos crimes à distância, isto é, aqueles em que a conduta é praticada em um país e o resultado vem a ser produzido em outro. Exige-se a pluralidade de países. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO 1 – O Código Penal brasileiro limita o campo de validade da lei penal com observância de dois vetores fundamentais: a territorialidade (art. 5º) e a extraterritorialidade (art. 7º). Com base neles se estabelecem princípios que buscam solucionar os conflitos de leis penais no espaço. 1.1 – A territorialidade é a regra: Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. Em termos jurídicos, território e o espaço em que o Estado exerce sua soberania política. 1.1.1 – De acordo com a art. 5º do CP, o território brasileiro compreende: 1.1.1.1 – O espaço territorial, bem como o respectivo subsolo; 1.1.1.2 O mar territorial, que corre ao longo da costa como parte integrante do território brasileiro e que tem uma faixa de doze milhas marítimas de largura, medidas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular brasileira, na forma definida para Lei 8.617/1993. Respeita-se, entretanto a passagem inocente; 1.1.1.3 – A plataformacontinental, medindo 200 milhas marítimas a partir do litoral brasileiro, como zona econômica exclusiva; 1.1.1.4 – O espaço aéreo, compreendido a dimensão estatal da altitude; 1.1.1.5 – Os navios e aeronaves, de natureza particular, em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente ao alto- mar; 1.1.1.6 – Os navios e aeronaves, de natureza pública, onde quer que se encontrem; Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 13 Obs.: Compreende, dessa forma, território brasileiro por extensão, de acordo com o art. 5º, § 1º do CP, os itens 1.1.1.5 e 1.1.1.6. 1.2 – Excepcionalmente, admitem-se outros princípios para o caso de extraterritorialidade (aplicação da lei brasileira ao crime praticado no estrangeiro), que são: 1.2.1 – Princípio da personalidade ou da nacionalidade: esse princípio autoriza a submissão à lei brasileira dos crimes praticados no estrangeiro por autor brasileiro (ativa) ou contra vítima brasileira (passiva); 1.2.2 – Princípio do domicílio: o autor do crime deve ser julgado em consonância com a lei do país em que for domiciliado, pouco importando a sua nacionalidade. 1.2.3 – Princípio da defesa, real ou da proteção: permite submeter à lei penal brasileira os crimes praticados no estrangeiro que ofendam bens jurídicos pertencentes ao Brasil, qualquer que seja a nacionalidade do agente e o local do delito. 1.2.4 – Princípio da justiça universal: é característico da cooperação penal internacional, porque todos os Estados da comunidade internacional podem punir os autores de determinados crimes que se encontrem em seu território, de acordo com as convenções ou tratados internacionais, pouco importando a nacionalidade do agente, o local do crime ou o bem jurídico atingido. 1.2.5 – Princípio da representação, do pavilhão, da bandeira, subsidiário: deve ser aplicada a lei penal brasileira aos crimes cometidos em aeronaves em embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando estiverem em território estrangeiro e aí não sejam julgados. EXTRATERRITORIALIDADE 1 – Conceito: Extraterritorialidade é a aplicação da legislação penal brasileira aos crimes cometidos no exterior. 1.1 – Justifica-se pelo fato de o Brasil ter adotado, relativamente à lei penal no espaço, o princípio da territorialidade temperada ou mitigada (art. 5º, CP), o que autoriza, excepcionalmente, a incidência da lei penal brasileira a crimes praticados fora do território nacional. Obs.: A extraterritorialidade pode ser incondicionada ou condicionada. 1.1.1 – Extraterritorialidade incondicionada – não está sujeita a nenhuma condição, pois o §1º do art.7º do CP diz que o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro nos casos previstos no art. 7º, I, CP, quais sejam: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; Obs.: O art. 8º permite a detração das penas, impedindo o bis in idem. Pena cumprida no estrangeiro Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Art. 7º do CP - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 1.1.2 – Extraterritorialidade condicionada – relaciona-se aos crimes indicados pelo art. 7º, II, CP, quais sejam: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 14 c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados; e d) art. 7º, § 3º, do CP. A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no § 2º deste artigo: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Extraterritorialidade Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. TEORIA GERAL DO CRIME 1. Infração Penal – art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (LICP): o Direito Penal brasileiro adotou o sistema dicotômico para conceituar infração penal, pois infração penal é gênero cujas espécies são: 1.1 – crimes ou delitos: são aqueles que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isolada, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. 1.2 – contravenções penais: são aqueles a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Obs.: O Direito Penal brasileiro adota, quanto à classificação das infrações penais, a divisão bipartida, em crimes ou delitos e contravenções, sendo a diferença apenas quanto à gravidade da conduta e à natureza da sanção. Os crimes são punidos quantitativamente com pena privativa de liberdade, restritiva de direitos e multa. Art. 1º da LICP – Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou demulta, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. Obs.1: ato infracional (o crime ou a contravenção penal praticados pela criança ou pelo adolescente) não é considerado infração penal. Obs.2: não obstante o art. 28 da Lei 11.343/2006 (posse de droga para consumo pessoal) cominar penas diversas da descrita no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, O Supremo Tribunal Federal – STF – entende que esta infração penal se trata de CRIME. (HABEAS CORPUS Nº 116.531 - SP (2008/0213223-4)) Art. 28 da Lei 11.343/2006 – Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 2 – Conceito de crime: o crime pode ser conceituado sob três acepções: 2.1 – formal: crime é toda conduta que atente, que colida frontalmente contra a lei penal formalmente editada pelo Estado. Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 15 2.2 – material: crime é toda conduta que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. 2.3 – analítico: crime é toda conduta típica, antijurídica e culpável (conceito tripartido de crime). Para quem adota o conceito bipartido, crime é apenas fato típico e antijurídico. 3 – elementos do conceito analítico de crime: 3.1 – fato típico – o fato típico possui quatro elementos (conduta, resultado, nexo causal e tipicidade): 3.1.1 – conduta 3.1.1.1 – conceito de conduta (ação ou omissão): depende da teoria. 3.1.1.1.1 – causal-natural: conduta é ação. É um movimento humano voluntário produtor de uma modificação no mundo exterior – Franz Von Liszt e Ernst Von Beling. A principal característica dessa teoria (causalista ou naturalista) refere-se ao dolo e à culpa, que fazem parte da culpabilidade. 3.1.1.1.2 – finalista: conduta é o exercício de uma atividade voltada a um fim – Hans Welzel. A principal característica dessa teoria (finalista) é a retirada do dolo e da culpa da culpabilidade e sua colocação dentro da conduta, ou seja, do fato típico. Obs.: Com a reforma da parte geral do Código Penal em 1984, o sistema penal brasileiro passou a adotar a teoria finalista. 3.1.1.2 – elementos da conduta. A conduta possui dois elementos (elemento objetivo e o elemento subjetivo): 3.1.1.2.1 – elemento objetivo: ação, que constitui em um fazer (conduta comissiva – quando o agente faz aquilo que a norma proibia) ou omissão, que consiste em um não fazer o que estava obrigado (conduta omissiva – quando deixa de fazer aquilo que a norma o obrigava) – art. 13, caput, in fine, CP; ou omissão imprópria – art. 13, §2º, CP. Art. 13 do CP - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a AÇÃO OU OMISSÃO sem a qual o resultado não teria ocorrido. Art. 13, § 2º, CP - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 3.1.1.2.1.1 – conduta omissiva própria, pura ou simples: quando a omissão vem prevista expressamente no tipo penal. Nelas existe o chamado dever genérico de proteção. Ex.: crime de omissão de socorro – art. 135 do CP. Omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 3.1.1.2.1.2 – conduta omissiva impropria, omissiva qualificada ou comissiva por omissão: quando o agente, em virtude de sua posição de garantidor, prevista pelo art. 13, §2º, do CP, DEVIA e PODIA agir a fim de evitar o resultado. Ex.: mãe que, podendo, não socorre seu filho que estava se afogando na piscina. Obs.1: o dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (dever legal – ex.: policial que, ao ver o marido bater na mulher e podendo agir não faz nada; ou o bombeiro que, podendo agir, presencia uma criança afogando na piscina não faz nada); b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (garante ou garantidor – ex.: salva vidas de um clube, professor de natação); c) com o seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado (ingerência – ex.: colega que joga o outro no rio). Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 16 Obs.2: além do dever especial, o agente tem que poder agir para evitar o resultado. 3.1.1.2.2 – elemento subjetivo: dolo; culpa; ou preterdolo – art. 19, CP. 3.1.1.2.2.1 – conduta dolosa: quando o agente quer o resultado (dolo direto – teoria da vontade) ou assume o risco de produzi-lo (dolo indireto eventual – teoria do assentimento) – art. 18, I, CP. Art. 18 do CP - Diz-se o crime: Crime doloso I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. 3.1.1.2.2.1.1 – conceito de dolo: é a vontade e consciência dirigidas a realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. 3.1.1.2.2.1.2 – elementos do dolo: vontade (elemento volitivo. Vontade de realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador); consciência (elemento intelectual, que diz respeito ao conhecimento da situação fática em que se encontra o agente). 3.1.1.2.2.1.3 – espécies de dolo: Dolo direto de primeiro grau: quando o agente quer, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo, conforme preceitua a primeira parte do art. 18, I, do CP. Ex.: Cornélius atira em Ricardo com o fim de causar-lhe a morte. Dolo direto de segundo grau: quando o agente, após selecionar os meios necessários para a prática do delito, representa como certos e necessários os efeitos colaterais. Ex.: o agente quer matar um político durante o voo de uma aeronave e, para tanto, detona o explosivo, via controle remoto, que se encontrava no interior no avião. O dolo com relação ao político é considerado como direito e de primeiro grau; com relação à demais pessoas que se encontravam com ele e que, em razão dos meios escolhidos pelo agente, também morrerão, o dolo continua a ser direto, mas de segundo grau. Por isso é também conhecido como dolo de consequências necessárias. Obs.: o dolo direto de segundo grau compreende os meios de ação escolhidos para realizar o fim, incluindo os efeitos secundários representados como certos ou necessários, independentemente de serem esses efeitos ou resultados desejados ou indesejados pelo autor. Dolo indireto eventual: quando o agente, embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. Dolo de dano: quandoo agente quer produzir o resultado material existente no tipo penal. ex.: art. 163 do CP. Dolo de perigo: quando a finalidade do agente não é a produção efetiva do dano mas, efetivamente, a criação de um perigo. Ex.: art. 132 do CP. Dolo geral (aberratio causae): ocorre quando o autor acreditava haver consumado o delito quando, na realidade, o resultado somente vem a se produzir em virtude de uma ação posterior. Ex.: Cornélius atira em Richard e arremessa o corpo do alto de um precipício ou, depois de atirar, querendo acultar o “cadáver”, o enterra em uma cova. Nesses casos, o agente só vem a falecer em virtude do segundo comportamento, ou seja, da queda do precipício ou da asfixia. Dolo subsequente: ocorre quando o agente produz um resultado sem dolo ou culpa, ou mesmo culposo, e, depois de verificar a ocorrência do resultado, se alegra ou mesmo aceita a sua produção. O dolo subsequente não produz qualquer efeito penal. Obs.: todo crime é doloso. Somente será culposo se houver uma ressalva expressa na lei, nos termos do parágrafo único do art. 18 do CP. Art. 18, Parágrafo único, do CP - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 3.1.1.2.2.1.4 ausência de dolo: 3.1.1.2.2.1.4.1 – erro de tipo: nas hipóteses de erro essencial (escusável), nos termos do art. 20 do CP, sempre restará afastado o dolo. Ex.: caçador que atira e mata seu companheiro de caça, supondo tratar-se de um animal. Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 17 Erro sobre elementos do tipo Art. 20 do CP - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Obs.1: O erro de tipo pode ser essencial ou acidental. Apenas na primeira hipótese haverá a exclusão do dolo. Obs.2: O erro de proibição não exclui o dolo, pois exclui a culpabilidade (terceiro elemento do crime). Obs.3: Erro é o conhecimento equivocado da realidade; é a falta percepção da realidade. Vejamos as espécies de erro de tipo: a) Essencial: é o erro de tipo por excelência, que incide sobre as elementares, circunstâncias ou outro dado que venha a se agregar à figura típica. Art. 20 do CP - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. b) Acidental (não exclui o crime): poderá ocorrer nas seguintes hipóteses: I. Erro sobre o objeto (error in objecto). Ex.: Fernandinho quer furtar sal, mas acaba furtando açucar; II. Erro sobre a pessoa (error in persona – art. 20, §3º, do CP) O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. III. Erro na execução (aberratio ictus – art.73 do CP) Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 do CP. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 do CP. IV. Erro sobre o crime – resultado diverso do pretendido (aberratio criminis – art. 74 do CP) Fora dos casos do artigo anterior (erro na execução), quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 do CP (concurso formal de crime) V. Erro sobre a causa (aberratio causae – dolo geral) – significa uma aberração sobre o curso causal, ou seja, ocorre uma aberração na causa do resultado. 3.1.1.2.2.1.4.2 – casos de ausência de conduta: Obs.: a ação humana regida pela vontade está sempre determinada a uma finalidade, de modo que, não havendo vontade dirigida a um fim, não há de se falar em conduta, que poderá ocorrer em caso de força irresistível, movimentos reflexos e estados de inconsciência. a) força irresistível: da natureza: ser arrastado pelo vento, por uma enxurrada etc.; do homem: coação física, a exemplo de colocar o dedo de alguém no gatilho e forçar o tiro; ou mesmo a praticada pelo chamado “homem de trás”, como aquele que bate na traseira de um automóvel, fazendo com que este atropele e mate um pedestre. b) movimentos reflexos: reações a determinados impulsos, como ocorre com os choques elétricos, etc. c) estados de inconsciência: sonambulismo, ataques epiléticos, hipnose etc. 3.1.1.2.2.2 – conduta culposa: quando o agente dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, negligência ou imperícia – art. 18, II, CP. Art. 18 do CP - Diz-se o crime: Crime culposo II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 3.1.1.2.2.2.1 – conceito de culpa: segundo o CPM, art. 33, II, o crime será culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever (culpa inconsciente) ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo(culpa consciente). 3.1.1.2.2.2.2 – elementos que integram o crime culposo: Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 18 3.1.1.2.2.2.2.1 – conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva. 3.1.1.2.2.2.2.2 – inobservância de um dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia). a) Imprudência: é um fazer algo, que importa em um comportamento positivo, sem os cuidados necessários. b) Negligência: é um não fazer, consistente em um comportamento negativo, contrário àquilo que a diligência normal impunha. c) Imperícia: quando ocorre uma inaptidão, momentânea ou não, do agente para o exercício de profissão, arte, ou ofício. Obs.: a imprudência, negligência e imperícia são MODALIDADES DE CULPA e não espécies de culpa. São, na verdade, modalidades de inobservância de um dever objetivo de cuidado. 3.1.1.2.2.2.2.3 – Resultado naturalístico involuntário – resultado lesivo não querido, tampouco assumido, pelo agente. 3.1.1.2.2.2.2.4 – nexo de causalidade entre a conduta do agente, que deixa de observar o seu dever de cuidado, e o resultado lesivo dela advindo. 3.1.1.2.2.2.2.5 – previsibilidade objetiva: quando o agente, no caso concreto é substituído pelo chamado homem médio, a fim de apurar se um cidadão comum, na mesma situação em que o agente, teria agido ou não de forma diferente. 3.1.1.2.2.2.2.6 – tipicidade: o delito culposo deve vir sempre expresso nos tipos penais, em virtude da regra constante do art. 18, parágrafo único do CP. Ou seja, para que haja tipicidade, dever haver previsão expressa no tipo penal da modalidade culposa. Art. 18, Parágrafo único, CP - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 3.1.1.2.2.2.2.7 – ausência de previsão: somente na culpa inconsciente. Na culpa consciente há previsão do resultado, mas o agente acredita sinceramente que pode evita-lo.3.1.1.2.2.2.3 – espécies de culpa: 3.1.1.2.2.2.3.1 – culpa consciente: ocorre quando o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou mesmo assumido pelo agente. É a chamada culpa com previsão. 3.1.1.2.2.2.3.2 – culpa inconsciente: ocorre quando o agente, não prevê aquilo que, nas circunstâncias em que se encontrava, lhe era previsível (previsibilidade objetiva) . É a culpa sem previsão. 3.1.1.2.2.2.3.3 – culpa própria: o agente não quer e não assume o risco de produzir o resultado. Ou seja, não há dolo – É CULPA. 3.1.1.2.2.2.3.4 – culpa imprópria: a conduta é dolosa, mas, por questões de política criminal, será responsabilizado com as penas correspondentes a de um crime culposo – art. 20, §1º, parte final, do CP. Art. 20, § 1º, CP - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. 3.1.1.2.2.3 – crime preterdoloso: quando o agente atua com dolo na conduta e culpa com relação ao resultado – art. 19 do CP. No crime preterdoloso, o resultado culposo é mais grave do que o pretendido. Deve também ter previsão no tipo penal. Ex.: art. 129, §3º, do CP – Lesão corporal seguida de morte. Art. 19 do CP - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente. Lesão corporal seguida de morte Art. 129, § 3°, do CP - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Entre a conduta e o resultado há um caminho, conhecido por inter criminis (caminho do crime). O iter criminis possui quatro fases, quais sejam: cogitação; preparação; execução; e consumação. Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 19 a) Cogitação: fase interna ao agente. Impunível. b) Preparação (atos preparatórios). Impunível. c) Execução (atos de execução): início da possibilidade de punição. d) Consumação: entende-se por consumado o crime, de acordo com o art. 14, I, do CP, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal. Art. 14 do CP - Diz-se o crime: Crime consumado I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; Obs.2: Há três situações que podem ocorrer entre a execução e a consumação e que impedem que esta ocorra. São elas: a) Desistência voluntária – haverá desistência voluntária quando o agente desiste de prosseguir com os atos executórios voluntariamente. Neste caso, o agente responderá apenas pelos atos já praticados – art. 15 do CP. b) Arrependimento eficaz – caracteriza-se quando o agente, depois de esgotar todos os meios de que dispunha para chegar à consumação da infração penal, arrepende-se e atua em sentido contrário, evitando a produção do resultado inicialmente por ele pretendido. Neste caso, o agente responderá apenas pelos atos já praticados – art. 15 do CP. Desistência voluntária e arrependimento eficaz Art. 15 do CP - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução (desistência voluntária) ou impede que o resultado se produza (arrependimento eficaz), só responde pelos atos já praticados. c) Tentativa – diz-se o crime tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente – art. 14, II, do CP. Nesta hipótese, salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços art. 14, parágrafo único, do CP. A tentativa é, portanto, causa genérica de diminuição de pena. Art. 14 do CP - Diz-se o crime: Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena de tentativa Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Obs.3: O art. 14, II, do CP é também uma norma penal de extensão temporal, pois antecipa a consumação do crime. Obs.4: São elementos da tentativa: I – início da execução do crime; II – ausência de consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente; e III – dolo de consumação. Obs.5: São espécies de tentativa: a) Tentativa perfeita, acabada, ou crime falho: quando o agente esgota, segundo o seu entendimento, todos os meios que tinha ao seu alcance a fim de alcançar a consumação da infração penal, que somente não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade. b) Tentativa imperfeita ou inacabada: o agente é interrompido durante a prática dos atos de execução, não chegando, assim, a fazer tudo aquilo que intencionava, visando consumar o delito. c) Tentativa branca ou incruenta: quando o agente, não obstante ter-se utilizado dos meios que tinha ao seu alcance, não consegue atingir a pessoa ou a coisa contra a qual deveria recair sua conduta. d) Tentativa vermelha ou cruenta: quando a vítima é atingida. e) Idônea: o agente pode alcançar a consumação, mas não consegue por circunstâncias alheias à sua vontade. f) Inidônea: é o mesmo que crime impossível – art. 17 do CP – Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. Obs.: Será crime impossível se o meio for ABSOLUTAMENTE INEFICAZ (ex.: relacionado ao homicídio – arma quebrada ou danificada, arma de brinquedo, Direito Penal – Parte Geral www.alvopreparatorio.com - 3924-4450 20 vitamina no lugar de açúcar) ou se o objeto for ABSOLUTAMENTE IMPRÓPRIO (ex.: Fulano que dispara em pessoa morta). Obs.6: há algumas infrações penais que não admitem a tentativa, quais sejam: a) Crimes habituais – são aqueles em que há necessidade de mais de uma conduta para que o crime se consuma. Uma conduta isolada é considerada fato atípico. Art. 229 do CP – casa de prostituição; Casa de prostituição Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. b) Crimes preterdolosos – art. 129, §3º, do CP – lesão corporal seguida de morte; Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal seguida de morte Art. 129, § 3°, do CP - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. c) Crimes culposos; d) Crimes de atentado ou de empreendimento – crimes nos quais a simples prática da tentativa é punida com as mesmas penas do crime consumado – art. 352 do CP – Evasão mediante violência contra a pessoa; Evasão mediante violência contra a pessoa Art. 352 do CP - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência. e) Crimes unissubsistentes – art. 140 do CP – Injúria verbal;
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