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Ética, moral e direito Rogério Dias Chaves Introdução Os conceitos de ética, de moral e de Direito relacionam-se intimamente, e marcam presença em nosso dia a dia. Mais que isso, muitas vezes criam e resolvem problemas que nos passam desapercebidos. E o fazem simplesmente porque podem e porque deixamos, pois são noções que acontecem, que passam por nós, exatamente enquanto estamos envolvidos com “coisas urgentes e importantes”. Como assim? Nesta aula, veremos algumas concepções a respeito da ética e da moral, acrescentando sua relação com a ideia de Direito. Buscaremos identificar os papéis da ética, da moral e do Direito na sociedade de modo geral, como forma de alcançar seus objetivos de aprendizagem. Objetivos de Aprendizagem Ao final deste conteúdo, você será capaz de: • conhecer os conceitos de ética, moral e Direito; • compreender a relação dos três conceitos e seus papéis na sociedade. Bons estudos! 1 Os conceitos de ética, moral e Direito 1.1 Ética Como você já deve saber, a noção de ética varia com a forma pela qual o pensador vê o mundo. Entretanto, podemos observar que alguns elementos parecem estar sempre presentes quando se fala em ética. É o caso da palavra reflexão e dos questionamentos quanto às formas e os meios de apro- ximar o homem do bem e afastá-lo do mal. Por isso, concluímos que reflexão é uma espécie de palavra-chave quando se fala de ética, assim como: justiça; virtude; esforço; e vontade para discernir o que é bom do que é mau. EXEMPLO Dilemas éticos da atualidade incluem o consumismo exacerbado, a idealização de figuras públicas como modelos e jogadores de futebol, a intolerância com opiniões divergentes, entre outros. Figura 1 – Onde nos levam os questionamentos éticos. Fonte: Lightspring/Shutterstock.com Podemos definir a ética, então, como as reflexões filosóficas ou científicas em torno de temas considerados importantes para transformar o ser humano na melhor versão de si e para com o próximo. FIQUE ATENTO! Quando afirmamos que reflexão é uma palavra-chave associada à ideia de ética, você deve se lembrar igualmente de alguns sinônimos, como meditar, refletir, estudar, pensar etc. Ao se concentrarem intensivamente no dilema entre o bem e o mal, entre o que é bom e o que mau, os estudos da ética contribuem para a melhoria das sociedades humanas. Fazem isso na medida em que, com base em meditações éticas, o ser humano desenvolve uma série de valores positivos que passa a utilizar para nortear sua vida e seus relacionamentos interpessoais, profissionais e sociais. SAIBA MAIS! O livro Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a Educação Ambiental, rico em informações de cunho ético e moral, é o 26° volume da Coleção Educação para Todos, lançada pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Está disponível integralmente para download no portal MEC, através do link: <http://portal.mec.gov. br/dmdocuments/publicacao4.pdf>. Nesse sentido, incluem-se entre os interesses de cunho ético a preocupação quanto ao poten- cial contemporâneo das ações humanas para destruírem tanto a natureza quanto a própria raça humana, a intervenção tecnológica sobre a natureza, muitas vezes com prejuízo à vida, a busca desequilibrada por lucros econômicos. Também podemos citar as formas de evitar e controlar a violência e a agressividade, a corrupção das instituições públicas e privadas etc. Vamos agora conceituar moral! 1.2 Moral Assim como no caso da ética, existem variações quanto à noção de moral. Podemos dizer que há, também, certa confusão entre os conceitos de ética e de moral, além de autores que os consideram sinônimos, inclusive alguns dicionários (LA TAILE, 2010). Figura 2 – Valores morais levam à preocupação com o meio ambiente. Fonte: Doin Oakenhelm/Shutterstock.com SAIBA MAIS! Conheça também a publicação Ética e Cidadania: Construindo Valores na Escola e na Sociedade, disponível para download integral e gratuito no website institucional do MEC: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Etica/liv_etic_cidad.pdf>. Entretanto, a ideia de moral tem sido aceita como uma espécie de código de valores, conjunto de normas, não necessariamente escritas, que regulamentam o comportamento do homem em sociedade. A moral, portanto, está associada ao que é certo ou errado, justo ou não, reprovável ou não, em termos de consciência humana, de costumes, de regras sociais. Passaremos, agora, à noção de Direito. 1.3 Direito No sentido subjetivo, afirmamos que direito é a faculdade de exigir, realizar, possuir ou fazer algo que esteja de acordo com a lei. Já no sentido objetivo, o Direito é o conjunto de leis que dirige o homem, indicando o que ele pode e deve fazer, ou não (SANTOS, 1959). Figura 3 – O Direito. Fonte: Mariusz Szczygiel/Shutterstock.com Em ambas as perspectivas, o aspecto a se destacar é o fato da coerção do Direito decorrer do poder e da força do Estado. FIQUE ATENTO! Diferentemente das leis morais, as leis e normas jurídicas são, por regra, escritas, registradas por meio dos agentes públicos que detém autoridade para criá-las. Sobre a relação entre ética, moral e Direito podemos elencar semelhanças e diferenças. Moral e Direito se assemelham pois, diferentemente da ética, ambas se baseiam na coerção das normas. Por outro lado, moral e Direito também se diferenciam na medida em que as leis do Direito são limitadas territorialmente pelo Estado, a cujo poder estão vinculadas, enquanto que as regras morais são pessoais e sociais, grafadas na consciência, como se costuma dizer popularmente, sem fronteiras geográficas. A ética, por sua vez, não diz respeito a leis, regras ou normas. A noção de ética está relacio- nada ao estudo, à reflexão em torno do que é bom e do que é mau, e representa uma busca volun- tária, uma virtude, uma vontade e esforço pela melhoria do ser humano. Veremos agora o papel que cada um desses conceitos desempenha! 2 Os papéis de cada um O papel da moral na sociedade se evidencia na exigência de valores morais para mediar as relações sociais. Honestidade, solidariedade, decência, respeito mútuo, entre outros, são aspira- ções morais contínuas da coletividades na qual estamos imersos. O Direito fala por si só. Confiamos nos operadores do Direito (juízes, advogados, promotores, delegados), porém a sociedade, não raras vezes, ressente-se com os legisladores pela criação de leis que parecem muito mais defender interesses privados do que públicos. FIQUE ATENTO! Quando nos referimos ao Direito, envolvemos obrigatoriamente estruturas do Po- der Legislativo (que cria as leis), do Poder Executivo (que cobra o cumprimento das normas jurídicas) e do Poder Judiciário (que julga as desavenças em torno do cumprimento dessas regras). O papel da ética, portanto, está em contribuir com suas reflexões, isoladamente ou em con- junto com a moral e o Direito. Os estudos éticos devem ser aproveitados na elaboração de leis e códigos com maior capacidade de sanear as ações tanto do homem comum, quanto daqueles operadores do Direito e agentes políticos que tomam decisões pela sociedade. Figura 4 – Valores para um mundo melhor. Fonte: maxstockphoto/Shutterstock.com EXEMPLO A redução da maioridade penal tem sido discutida intensivamente na sociedade brasileira e a polêmica que o assunto levante envolve questionamentos de ordem ética, pois invariavelmente deixa no ar a dúvida sobre julgar como adulto um ado- lescente de 16 anos. Por outro lado, questiona-se se estaria certo não fazê-lo, per- mitindo a possibilidade de alguém ser vítima desse hipotético jovem. Não se pode deixar em branco um outro questionamento quanto ao fato de que aquela mesma pessoa/criança/adolescente/jovem possa ser não um algoz, mas ele mesmo uma vítimada sociedade e do governo que o abandonou, desvalorizando sua vida. Ob- serve que são inúmeras as questões éticas, pautadas em valores morais, que in- fluenciarão em determinado momento a definição do Direito em nossa sociedade. Em relação às reações emocionais de cunho moral, às vezes com influência religiosa, que costumamos atribuir à nossa consciência moral, apresentamos o entendimento de Chauí (2010), segundo o qual tais momentos nada mais representam do que a manifestação de sentimentos provocados por valores como justiça, generosidade, honradez etc. Nessas situações, fica evidente o papel da ética, pois esses valores que guiam nossas deci- sões são fortemente influenciadas por ela. Podemos concluir que as reflexões éticas nos permi- tem desenvolver valores morais positivos, capacitando-nos como indivíduos e como sociedade. Fechamento Concluímos esta aula. Ao longo dela, você teve a oportunidade de: • enriquecer alguns conceitos de ética; • conhecer as noções de moral e de Direito; • perceber a relação entre ética, moral e Direito; • entender os papéis de cada um na sociedade. Obrigada por sua atenção e bons estudos! Referências BARROSO, Luis Roberto. Discurso do Patrono da Turma Luis Roberto Barroso, 2005. Disponível em: <http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/LRB/pdf/etica_sucesso_e_felici- dade.pdf >. Acesso em: 12 jul. 2016. CHAUI, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010. LA TAILE, Yves de. Moral e ética: uma leitura psicológica. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2010, v. 26, n. especial, pp. 105-114. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a Educação Ambiental. Coleção Educação para Todos (UNESCO). Brasília: Ministério da Educação, 2006. ______. Ética e Cidadania: Construindo Valores na Escola e na Sociedade. Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Brasília: Ministério da Educação, Secre- taria de Educação Básica, 2007. SANTOS, Mário Santos Ferreira dos. Sociologia fundamental e ética fundamental. 2. ed. São Paulo: Logos, 1959.
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