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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS JOÃO PAULO PEREIRA DA SILVA Demonstrações Contábeis Aplicadas No Setor Publico – As recentes mudanças e as possíveis dificuldades de implantação. FORTALEZA - CE 2013 JOÃO PAULO PEREIRA DA SILVA Demonstrações Contábeis Aplicadas No Setor Publico – As recentes mudanças e as possíveis dificuldades de implantação. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ensino Superior do Ceará – Faculdade Cearense – FaC, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis. Orientador: M.S Prof. Francisco Almeida Barroso. FORTALEZA - CE 2013 JOÃO PAULO PEREIRA DA SILVA Demonstrações Contábeis Aplicadas No Setor Publico – As recentes mudanças e as possíveis dificuldades de implantação. Trabalho de Conclusão de Curso como pré- requisito para obtenção do título de Bacharelado em Ciências Contábeis, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: __/__/____. BANCA EXAMINADORA __________________________________________________ Prof. Francisco Almeida Barroso (orientador) _________________________________________________ Profª. Especialidade e Nome do Professor __________________________________________________ Profª. Especialidade e Nome do Professor Dedico este trabalho a minha mãe, meu pai e irmãos que sempre me deram apoio e força para continuar, a minha esposa que compreendeu e sempre esteve ao meu lado me dando forças. Ao meu orientador que me deu muita atenção e apoio. E aos meus amigos e professores que participaram ativamente desta conquista. AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, Deus, por conceder-me forças e mostrar a verdadeira fé, a qual tornou possível atingir mais este objetivo. A coordenação do Curso de Ciências Contábeis da FAC, que disponibilizou orientadores para realizar este trabalho. Ao professor Francisco Almeida pela orientação e dedicação que obteve ao longo dos meus questionamentos, onde seria muito difícil à conclusão deste trabalho científico sem a sua participação. Aos membros integrantes da banca de avaliação deste trabalho de conclusão de curso pela disponibilidade da leitura e, sobretudo pelas orientações precisas e seguras. A minha querida esposa Denize Lima, mulher forte e guerreira. Obrigado pelo amor incondicional, pela compreensão, pelo zelo, carinho, dedicação e apoio. Essa realização é nossa. Também agradeço aos amigos que fiz dentro da faculdade que direto ou indiretamente me deram forças para nunca desistir, em especial amigos que compartilhei experiências todos esses anos, Ubirajara Flores, Denílson Oliveira, Emanuella Santiago, Lucia de Fatima e Tacilya Lima, pois comigo riram, choraram, festejaram, calcularam e estudaram. “A PERSISTÊNCIA É MENOR CAMINHO DO ÊXITO.” (Charles Chaplin) RESUMO O presente trabalho tem como enfoque apresentar as principais mudanças ocorridas nas demonstrações contábeis aplicadas ao setor público. Proporcionadas pelas Novas Normas Brasileiras de Contabilidade aplicada ao Setor Público, editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade, bem como identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos órgãos públicos para elaboração dos novos relatórios contábeis. Com as mudanças ocorrendo na legislação brasileira no que se refere ao tratamento dado à Contabilidade Pública, este trabalho científico tem como escopo nortear a compreensão em relação às convergências das normas contábeis brasileira aos padrões internacionais. A Federação Internacional de Contadores (International Federation of Accountants) ao emitir as International Public Sector Accounting Standards (IPSAS) visa apresentar, em níveis globais, a melhor maneira de registrar, preparar e divulgar as demonstrações contábeis por parte das entidades do Setor Público. Assim sendo, a pesquisa demonstra e explica com base no método escolhido: bibliográfico, as novas estruturas dos demonstrativos contábeis que segundo o Ministério da Fazenda deverão ser usados pelos órgãos dos governos Federais e Estaduais a partir do Balanço de 2013, enquanto que os Municipais em 2014. O estudo constata que está ocorrendo um profundo impacto na forma de escrituração dos fatos contábeis próprios do Setor Público, bem como no comportamento do cotidiano dos contabilistas, e que as principais dificuldades para elaboração das demonstrações contábeis de acordo com a estrutura definida pela nova legislação contábil aplicada ao setor público são a ausência de sistemas informatizados adequados à nova legislação e ainda faltam profissionais qualificados para aplicar os novos conceitos e regras da contabilidade. Palavras-chave: Contabilidade. Legislação. Setor Público. Mudanças. RESUMEN El presente trabajo está enfocado a presentar los principales cambios en los estados financieros aplicados al sector público , prestados por las nuevas normas contables brasileñas aplicadas al Sector Público , editado por el Consejo Federal de Contabilidad , e identificar las principales dificultades que enfrentan los organismos públicos para preparar nuevos informes contables. Con los cambios que se producen en la legislación brasileña sobre el trato dado a las cuentas públicas , el trabajo científico tiene como alcance guiar el entendimiento para la convergencia de las normas contables brasileñas con las normas internacionales . La Federación Internacional de Contadores ( International Federation of Accountants ) para emitir las Normas Internacionales de Contabilidad del Sector Público ( IPSAS) es presentar, en los niveles generales , la mejor manera de registrar , preparar y difundir estados financieros de las entidades del sector público. Por lo tanto , la investigación demuestra y explica en base al método elegido : la literatura , las nuevas estructuras de los estados financieros que según el Ministerio de Hacienda debe ser utilizado por las agencias del gobierno federal y estatal y del saldo de 2013 , mientras que en el Municipal 2014 . El estudio encuentra que está experimentando un profundo impacto en la forma de contabilidad hechos mismos de contabilidad del sector público, así como en el comportamiento cotidiano de los contadores , y las principales dificultades en la preparación de estados financieros de acuerdo con la estructura definida por la nueva normativa contable aplicado al sector público son la falta de sistemas de información adecuados a la nueva legislación y todavía están calificados para aplicar nuevos conceptos y normas contables . Palavras-clave: Contabilidad. Legislación. Cambios. Sector Público. Sumário 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 10 2A HISTÓRIA DA CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL NO BRASIL ......................... 14 3 DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS DE ACORDO COM AS NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO – NBCASP. ............................... 21 3.1 Balanço Patrimonial ................................................................................................................. 24 3.2 Balanço Orçamentário .............................................................................................................. 25 3.3 Balanço Financeiro .................................................................................................................. 26 3.4 Demonstração das Variações Patrimoniais .............................................................................. 28 3.5 Demonstração dos Fluxos de Caixa ......................................................................................... 29 3.6 Demonstrações do Resultado Econômico ................................................................................ 31 3.7 Demonstração das Mutações no Patrimônio Líquido .............................................................. 32 4 MUDANÇAS NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DE ACORDO COM AS NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO – NBCASP. ... 34 4.1 Anexo 12 - Balanço Orçamentário........................................................................................... 34 4.1.1 Conteúdo do Balanço Orçamentário - NBC T 16.6 e Portaria STN 664/2010 ................. 39 4.1.2 Análise dos Quocientes do Balanço Orçamentário ........................................................... 40 4.2 Anexo 13 - Balanço Financeiro ............................................................................................... 44 4.2.1 Conteúdo do Balanço Financeiro – NBC T 16.6 e Portaria STN 664/2010 ..................... 48 4.2.2 Análise dos quocientes do Balanço Financeiro ................................................................. 50 4.3 Anexo 14 - Balanço Patrimonial .............................................................................................. 52 4.4 Anexo 15 – Demonstração das Variações Patrimoniais .......................................................... 57 4.5 Anexo 18 – Demonstração dos Fluxos de Caixa ..................................................................... 63 4.6 Anexo 19 – Demonstração das Mutações no Patrimônio Líquido........................................... 66 4.7 Anexo 20 – Demonstração do Resultado Econômico .............................................................. 68 5 AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DAS NOVAS NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS. ................................................................................................................................... 70 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS. ...................................................................................................... 77 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 80 10 1 INTRODUÇÃO A Contabilidade é uma ciência que possibilita a produção e analise de informações acerca do patrimônio das entidades, bem como de suas variações, oferecendo base para atividades de planejamento, controle e auxilio na tomada de decisão dos diversos grupos de usuários. Na concepção de Castro (2011,p.89), a contabilidade tem como objetivo – desde seu surgimento – informar aos seus usuários sobre o “Patrimônio da entidade em estudo, por meio da identificação, da mensuração e da explicação dos atos e fatos praticados”. Na Contabilidade Pública não é diferente, os princípios, métodos, critérios e técnicas utilizados são as mesmas usadas pela ciência contábil, tendo como a sua maior responsabilidade o zelo pelo patrimônio público, possui ainda tarefa de acompanhar a execução de seu orçamento, representado por sua arrecadação da receita e da realização da despesa. A contabilidade aplicada ao Setor Publico, como é conhecida atualmente, é o “ramo da contabilidade que estuda, orienta, controla e demonstra a organização e execução da Fazenda Pública, o Patrimônio Público e suas variações”(KOHAMA,2000,p.50) Os frequentes problemas na gestão financeira dos recursos públicos bem como a necessidade em tornar transparente a aplicação e o controle dos gastos da administração pública têm despertado interesses dos mais variados tipos de publico, desde os especializados até mais humilde dos cidadãos. Contudo, a Contabilidade Aplicada ao Setor Pública, através dos processos de mensuração e avaliação das ocorrências que afetam a formação patrimonial das entidades, prioriza produzir informações contábeis de qualidade para a tomada de decisão. Porém é importante que os atos e fatos registrados por essa contabilidade estejam alinhados com os princípios constitucionais de administração publica descritos no na Art. 37 da Constituição Federal de 1988. Os quais são eles respectivamente “Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência”. Porém o dia a dia dos administradores revela-nos que nem sempre os princípios administrativos são 11 respeitados. O que se constata é, sim, a inobservância dos mesmos em função dos objetivos pessoais de alguns. Contudo pode-se observar a importância da contabilidade aplicada ao setor público, que se destaca como uma, das principais fontes de saída de informações para a sociedade dos atos e fatos realizados pelos administradores do patrimônio público, através da divulgação de seus relatórios e demonstrativos. Os legisladores brasileiros, procurando tornar a contabilidade pública no Brasil em uma verdadeira e útil prestação de contas dos atos e fatos praticados pelos os administradores públicos, buscam com novas leis e normas, adaptar-se às exigências da sociedade por maior transparência na utilização dos recursos públicos. Diante deste referencial, a presente monografia foi desenvolvida de forma a responder aos seguintes questionamentos: 1. O que mudou nas demonstrações contábeis do setor público com as novas Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Púbico (NBCASP)? 2. Quais são as principais dificuldades de implementação, desses novos conceitos e regras? Logo, tem como objetivo geral apresentar as principais mudanças ocorridas nas demonstrações contábeis aplicadas ao setor público e identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos órgãos públicos para elaboração dos novos relatórios contábeis. Para alcance deste objetivo geral a pesquisa traçou alguns objetivos específicos, os quais são: 1. Apresentar a evolução histórica da legislação contábil aplicada ao setor público no Brasil. 2. Conhecer os demonstrativos contábeis, utilizados pela contabilidade pública Brasileira. 3. Identificar as principais mudanças nos demonstrativos contábeis aplicados ao setor público. 4. Apontar as principais dificuldades na implantação dos novos conceitos e regras para os demonstrativos contábeis aplicados ao setor público. A importância deste trabalho reside em levantar as principais mudanças nas demonstrações contábeis aplicadas no setor publico, diante dos esforços da legislação 12 brasileira para cumprir com a convergência das normas internacionais e de padronizar os conceitos e regra que permita a evidenciação e consolidação das contas públicas em âmbito nacional, em harmonia com os procedimentos do plano de contas aplicado ao setor público. Sabe-se que mudanças são significativas, e dificuldades de serem implantadas, requerendo uma verdadeira mudança cultural. Os profissionaisque atuam nessa área estavam acostumados a priorizar o orçamento publico, enquanto que o patrimônio ficava em segundo plano. Com adoção das novas normas, o objeto principal de estudo da Contabilidade Publica enquanto ciência passa ser o patrimônio. Porém como toda mudança cultural, as adaptações requererão tempo, dedicação dos profissionais, participação da sociedade de maneira geral. As tentativas da sociedade de participar desse processo de mudanças podem ser observadas nos noticiários televisivos, que frequentemente mostram manifestações populares que trazem para as ruas cidadãos que resolveram cobra mais compromissos dos governantes com as finanças públicas, fato que motivou a escolha deste tema. Por entender que as demonstrações contábeis assumem papel fundamental, por representar importantes saídas de informações geradas pela contabilidade aplicada ao setor público, promovendo transparências dos resultados orçamentários, financeiros, econômicos e patrimonial do setor público. Portanto este trabalho acadêmico possibilitará que os publico em geral, aprimore-se nos aspectos de natureza legal, da evolução da contabilidade governamental no Brasil, possibilita um conhecimento didático das principais mudanças nas demonstrações contábeis aplicadas ao setor publico e as dificuldades enfrentadas pelos gestores públicos na implantação dessas mudanças. Permite ainda conhecer melhor a matéria, seu papel na administração pública e o uso de suas ferramentas na toma de decisão. A partir dos objetivos formulados para este trabalho, necessita-se fundamentar e expressar algumas considerações relacionadas à classificação e forma como está será operacionalizada. O presente trabalho se propôs a analisar, questionar e discutir a temática a respeito das mudanças na estrutura dos demonstrativos contábeis aplicados ao setor público. Segundo os objetivos propostos, a pesquisa pode ser classificada como 13 exploratória. Segundo Gil (2002,p.41) a pesquisa exploratória tem o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o tema , buscando torna-lo mais explicito ou constitui hipóteses. Estabelecido o marco teórico, torna-se necessário estabelecer como a pesquisa é operacionalizada, expondo seu delineamento. Assim esta pesquisa utiliza as chamadas fontes de papel para coleta de dados ou procedimento técnico conhecido como pesquisa bibliográfica. Segundo Gil (2002,p.44) “a pesquisa bibliográfica é feita com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Grande parte dos estudos necessita de algum trabalho relacionado a este tipo de pesquisa, que exige do pesquisador uma analise muito cuidadosa do material selecionado, buscando utilizar fontes diversas a fim de não comprometer a qualidade da pesquisa. Portanto este trabalho científico exploratório foi realizado com base em pesquisa bibliográfica em trabalhos de diversos autores acerca do assunto, descritiva e pesquisas em sites na internet. Vale salientar ainda que foram utilizados livros, pertinentes ao tema, bem como o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público – MCASP, publicados pela Secretaria do Tesouro Nacional – STN, e as Normas Brasileiras de Contabilidade Técnica – NBC T 16. Assim, o trabalho estrutura-se em cinco capítulos, sendo o primeiro este introdutório. No segundo, para que seja compreendida a importância das Demonstrações Contábeis para as entidades públicas, será necessário percorrer a história da contabilidade governamental no Brasil. Já no terceiro capítulo é observada a nova estrutura dos demonstrativos contábeis de acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Púbico. As mudanças decorrentes da Lei Nº 4.320/64 e alterações da NBC T 16.6 nos Balanços e Demonstrações contábeis aplicadas ao setor público fazem parte do quarto capítulo. No quinto abordam-se as dificuldades de aplicação das mudanças dos demonstrativos contábeis em análise. Por fim, apresentam-se as considerações finais, seguidas das referências bibliográficas. 14 2 EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL NO BRASIL A Contabilidade Brasileira surgiu no reinado de D. João VI quando da instalação de seu governo provisório, em 1808, ao promulgar o alvará que autorizava aos contadores gerais da Real Fazenda, aplicar o método das partidas dobradas na escrituração contábil. Em 1850 foi promulgado o Código Comercial, que institui a obrigatoriedade da escritura contábil e da elaboração anual da Demonstração e do Balanço Geral. Em 1889 o Império de D. Pedro II, e a consequência é a proclamação da República, que ocorre posteriormente é a necessidade de manter o controle da fazenda pública (SLOMSKI, 2002). Assim, em 1922 é aprovado, no Brasil, o Código de Contabilidade da União, que concedeu ao Brasil dar o seu primeiro passo para o surgimento da contabilidade aplicada ao setor público, permitindo sistematizar e padronizar os registros contábeis após a proclamação da República. Para Bezerra (2008), o interesse popular no Brasil pela gestão pública se deu na época da prosperidade colonial: O interesse popular pela gestão dos recursos públicos, no Brasil, teve sua origem embrionária na época da prosperidade colonial, quando surgiram lideranças nos diversos segmentos sociais, como os militares, o clero e os intelectuais recém- chegados da Europa, que traziam, em sua bagagem cultural, os ideais democráticos assimilados em seus estudos no Velho Mundo (BEZERRA JR., 2008, p.1). Em 1940 é publicado o Decreto Lei Nº 2.416 que substituiu o Código de 1922, norteador das normas de elaboração da contabilidade dos Estados e Municípios, que fixou o modelo padrão de Balanço às entidades públicas. O Decreto foi extinto em virtude do advento da Lei Federal 4.320/64, que harmonizou a boa orçamentação pública mantendo o equilíbrio entre a receita e despesa, padronizando o método das demonstrações contábeis, mantendo um foco no sistema orçamentário e financeiro. A Lei Nº 4.320 de 17 de março de 1964, estimula a boa orçamentação, o equilíbrio entre receitas e despesas, a apresentação nacionalmente padronizada de 15 demonstrativos contábeis, bem como o planejamento na assinação de compromissos financeiros (TOLEDO JR, 2005, p.2). Cabe salientar que a referida Lei também contém elementos que normatizam o déficit orçamentário, priorizando o controle do endividamento municipal, distribuído entre a dívida flutuante (curto prazo) e a dívida consolidada ou fundada (longo prazo). Mesmo com seus dispositivos de controle orçamentário, o legislador percebeu uma ausência de punição aos dirigentes públicos em práticas danosas decorrentes de resultados falsos, sendo notório à necessidade de um dispositivo com elementos positivos capazes de punir os transgressores. Nesta ânsia, surge em 4 de maio de 2000, a Lei Complementar Nº 101, intitulada como Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como a Lei Nº 10.028, de 19 de outubro do mesmo ano. Ambas com um único escopo – penalidade administrativa e penal para o ente estatal e gestor governamental - punir os transgressores. Um dos pontos importantes que a Lei de Responsabilidade Fiscal trouxe como transformação aplicada ao setor público foi conceder à sociedade transparência da gestão fiscal através da ampla divulgação das ações governamentais, inclusive em meios eletrônicos de acesso público, conforme se apresenta o seguinte texto do artigo 48 da Lei 101/2000. Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizesorçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido de Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. Parágrafo único: A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular e realização de audiências públicas durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamento. Ressalta-se que o processo de prestar contas dos órgãos públicos é essencial não somente pelas exigências previstas na legislação, mas pelo fato do Brasil ser um país democrático, que elege seus representantes para que os mesmos ajam em seu nome, de forma correta e transparente perante a sociedade. Conforme arrolado no artigo 71, da Carta Magna de 1988, bem como na Constituição Estadual do Ceará de 1989, especificamente nos artigos 69 a 78, apresenta a competência dos Tribunais de Contas que atuam como instituição auxiliar de controle 16 externo, em parceria com o poder legislativo, para orientar e fiscalizar junto à sociedade, as ações dos administradores públicos: Constituição Federal. Art.71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxilio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: aplicar aos responsáveis em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas a lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário. Constituição Estadual do Ceará. Art. 69. O controle externo, a cargo da Assembléia Legislativa, será exercido com o auxilio do Tribunal de Contas do Estado, ao qual compete: (...) aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa, irregularidade de contas ou descumprimento de suas decisões, as sanções previstas em lei. (...) as decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo. Art. 78. O controle externo, a cargo da Câmara Municipal, será exercido com auxilio do Tribunal de Contas dos Municípios, ao qual compete: (...) aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa, irregularidade de contas ou descumprimento de suas decisões, as sanções previstas em lei. O controle externo na fiscalização da prestação de contas dos gestores do setor público é importante para o correto andamento dos registros da contabilidade pública, tendo em vista que só é permitido executar aquilo que está previsto em lei, razão pela qual é possível entender o porquê da existência de inúmeras legislações que enfatizam a transparência na gestão pública. Deste modo, percebe-se a importância do controle externo, cuja finalidade é avaliar o desempenho dos gestores responsável pela apresentação da prestação de contas, através de documentos e relatórios demonstrativos contábeis, operacionais, financeiros e patrimoniais. Em relação à transparência pública Silva (2009) é enfático: Em contraponto com a regra da transparência é preciso considerar que os atos produzidos pela execução orçamentária implicam na aquisição ou produção de ativos que, certamente, a partir da sua incorporação ao patrimônio serão capazes de gerar benefícios futuros para o cidadão (SILVA, 2009, p.7). Desta forma, considera-se a transparência na gestão pública, uma ferramenta talvez indispensável à favor do combate à corrupção e à impunidade, permitindo uma maior participação e controle da sociedade, tendo como espoco construir uma nova 17 relação do Estado e sociedade, na qual prevenir e controlar são instrumentos para consolidar a democracia. De acordo com Pascarelli Filho (2011), o advento da transparência das ações governamentais, permite o aumento do controle social exercido pelos cidadãos, tendo como resultado relevante a responsabilidade dos governantes, o que levará à diminuição dos níveis de corrupção realizados no setor público. Diante do exposto, a transparência do setor público permite ao cidadão acompanhar a aplicação do erário, bem como interferir de maneira organizada no processo decisório. Se hoje é possível obter o nível de divulgação de informações públicas, principalmente sobre a gestão fiscal a toda sociedade, deve-se ao advento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Em decorrência das mudanças na contabilidade internacional e das legislações contábeis brasileira, coube ao Ministério da Fazenda publicar em 25 de agosto de 2008, a Portaria da Fazenda Nº 184, a qual elencava as convergências das demonstrações contábeis às Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP) e às Normas Internacionais Aplicadas ao Setor Público (IPSAS – International Public Sector Accounting Standards). De acordo com Santos (2012, p.10), a portaria do Ministério da Fazenda dispõe sobre diretrizes a serem observadas no “setor público (pelos entes públicos) quanto aos procedimentos, práticas, elaboração e divulgação das demonstrações contábeis”, tornando-as convergentes com as NBCASP. Os conceitos abordados pelas IPSAS estabelecem padrões internacionais de contabilidade destinados ao setor público, métodos explícitos por organismos internacionais, como o International Federation of Accountants (IFAC), que visa submeter o novo modelo de gestão publica a contabilidade aplicada ao setor público brasileiro. Por este prisma, a demanda por um controle social do setor público nas diferentes esferas de governo, e considerando a dimensão de sua importância e diversidade da estrutura governamental brasileira, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) se viu obrigado a estruturar as principais mudanças trazidas pelas Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. É de bom alvitre, salientar que a Contabilidade, no Brasil, tanto do setor público quanto privado vêm passando ao longo das últimas duas décadas por grandes 18 transformações. Percebe-se que o Brasil tem acompanhado o movimento evolutivo da contabilidade internacional, sempre visando adotar a convergência aos padrões internacionais. A recente edição da NBCASP destaca a importância do patrimônio no setor público, sem perder o foco das particularidades dos aspectos orçamentários e, nem pelas inúmeras alterações na estrutura do Plano de Contas do Setor Público, tão pouco nas mudanças da Lei Nº 6.404/76 do setor privado, mediante o advento das Leis Nº 11.638/07 e 11.941/09 (CASTRO, 2011). Em busca de padronizar um PCASP em conformidade com a Lei Nº. 4.320/64, visando consolidar as contas públicas de acordo com o Artigo 50, § 2º, da Lei Nº. 101/2000, que a Secretaria de Tesouro Nacional cria em 6 de março de 2007 o Grupo Técnico de Padronização de Procedimento Contábeis (GTPPC). O grupo foi responsável em tornar possível a padronização do tratamento contábil dos fatos e atos administrativos no âmbito do setor público, com a elaboração de um Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) com abrangência nacional. Atualmente a questão da convergência da Contabilidade dos setores públicos e privados tem sido amplamente discutida na área acadêmica, a partir deste milênio o setor privado brasileiro tem passado por uma transformação na Lei 6.404/78, em virtude das alterações arroladas nas Leis 11.638/07 e 11.941/09 que refletem as adequações para cumprir as normas internacionais de contabilidade. No Brasil, a contabilidade sempre foi dividida entre Pública e Privada; com leis, formação educacional e regras específicas para cada setor. A edição das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público destacando a importância dos aspectos patrimoniais no setor público, sem perder de vista as peculiaridade dos aspectos orçamentários,complementada pelas alterações na estrutura do Plano de Contas do Setor Público, na reestruturação dos Anexos da Lei Nº 4.320/64 e nas mudanças na Lei Nº 6.404/76 do setor privado, pelas Leis Nº 11.638/07 e 11.941/09, estão evidenciando aproximação entre as duas contabilidades e, ambas, em busca da convergência com as normas internacionais (CASTRO, 2011). 19 Diante das mudanças da legislação brasileira para cumprir com a convergência das normas internacionais, é de suma importância ressaltar o papel do Conselho Federal de Contabilidade, que aprovou e editou as primeiras 11 Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, conforme segue: Quadro 1 - Conselho Federal de Contabilidade: Resolução, Normas do CFC e Ementas. RESOLUÇÃO NBCT EMENTA 1.128/08 1.129/08 1.130/08 1.131/08 1.132/08 1.133/08 1.134/08 1.135/08 1.136/08 1.137/08 16.1 16.2 16.3 16.4 16.5 16.6 16.7 16.8 16.9 16.10 CONCEITUAÇÃO, OBJETIVO E CAMPO DE APLICAÇÃO PATRIMÔNIO E SISTEMAS CONTÁBEIS PLANEJAMENTO E SEUS INSTRUMENTOS SOB O ENFOQUE CONTÁBIL TRANSAÇÕES NO SETOR PÚBLICO REGISTRO CONTÁBIL DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS CONSOLIDAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS CONTROLE INTERNO DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO AVALIAÇÃO E MENSURAÇÃO DE ATIVOS E PASSIVOS 1.138/08 16.11 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE CUSTOS DO SETOR PÚBLICO Fonte: CFC 2012. Conforme a tabela supracitada da NBCT percebe-se dois novos campos de atuação para a contabilidade aplicada ao setor público, à depreciação, amortização e exaustão, contida na NBCT 16.9 e, o sistema de informação de custos do setor público, elencado na 16.11. Com a NBCT 16.9, a administração pública em suas três esferas de governo (Federal, Estado e Município) passará a avaliar os seus ativos permanentes, da mesma forma praticada pelas empresas privadas. 20 A NBCT 16.11, conhecida também como Sistema de Informação de Custos do Setor Público é outro tema que requer uma maior análise e um debate mais aprofundado pelos profissionais da área contábil pública. A dificuldade encontrada na aplicação dos custos públicos é na definição quanto à utilização e implantação de um sistema de custos, voltado para a contabilidade aplicada ao setor público, o qual auxiliará os agentes, gestores públicos e os profissionais da contabilidade, para a devida acumulação e apropriação dos custos aos bens e serviços produzidos. Diante do exposto, enfatiza-se a importância da transparência dos atos realizados pelos gestores, tendo em vista que serão registrados junto aos sistemas de informatização, os fatos ocorridos, pelos responsáveis dos diversos setores que compõem a máquina administrativa, possibilitando o acesso fácil e rápido, dos custos da administração pública, tanto aos órgãos fiscalizadores externo, bem como à sociedade. Neste capítulo, buscou-se apresentar o conceito da contabilidade como ciência, a sua aplicação conforme as legislações e normas vigentes e a evolução histórica da contabilidade aplicada ao setor público no Brasil. A seguir, no terceiro capítulo serão abordadas as novas demonstrações contábeis aplicada ao setor público, de acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP). 21 3 DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS DE ACORDO COM AS NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO – NBCASP. Nesse capítulo, abordar-se-ão os demonstrativos contábeis aplicadas ao setor público, e o quanto será importante e desafiador o processo de convergência aos padrões internacionais. A partir da demanda por um maior controle e transparência nas diferentes instâncias na Administração, e examinando a diversidade da estrutura dos Poderes da União, o Conselho Federal de Contabilidade editou as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP). A seguir, na figura 1, apresenta-se a estrutura da Nova Contabilidade Aplicada ao Setor Público. A NOVA CONTABILIDADE PÚBLICA Tribunal de ContasPoder LegislativoPoder ExecutivoPoder Judiciário Controle ExternoControle InternoControle InternoControle Interno CICLOS POLÍTICOS DE CURTO PRAZO Execução do Orçamento de Receita e Despesa Movimentações resultantes da execução orçamentária Movimentações independentes da execução orçamentária Patrimônio no início do exercício Patrimônio no final do exercício DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DA NOVA CONTABILIDADE PÚBLICA a) Princípios Fundamentais de Contabilidade - Resolução CFC Nº. 1.111/2007 b) Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público Figura 1 – A nova contabilidade pública Fonte: Adaptação Silva (2009). 22 As Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público publicadas em 2008 tem como escopo permitir que o Brasil acompanhe o movimento de contabilidade existente em outros países, sempre visando alcançar os padrões internacionais. Diante disso, o Conselho Federal de Contabilidade, com propósito de impulsionar esta harmonização criou o Comitê Gestor da Convergência, com a finalidade de tornar, até o ano de 2012, que as NBCASP estejam conforme as resoluções do Conselho Internacional de Normas Contábeis (IASB – Internacional Accounting Standords Boards), bem como as Normas Internacionais de Auditoria e Asseguração emitida pela Federal Internacional de Contadores (IFAC – Internacional Federation of Accountants). Cabe salientar, que as NBCASP se originam das traduções das International Public Sector Accounying Satandart (IPSAS), as quais são emitidas pelo Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público (IPASASB – Internacional Public Sector Accounting Standards Board). Em 28 de março de 2008, através da Resolução Nº. 1.121, as Normas Brasileiras Aplicadas ao Setor Público foram editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade. Sendo alteradas pela Resolução Nº. 1.268, em 10 de dezembro de 2009, com o intuito de estruturar o conceito para elaboração das demonstrações contábeis, propondo cumprir as determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal, e as Normas Gerais de Direito Financeiro para a elaboração e controle dos orçamentos e balanços das três esferas de governo. De acordo com os ensinamentos de Azevedo: As 10 (dez) primeiras normas de contabilidade aplicadas ao setor público vêm trazer profundos impactos não só na escrituração contábil dos fatos contábeis próprios do setor público, mas também trará reflexos comportamentais no cotidiano dos contabilistas (AZEVEDO, 2009, p.33). A seguir, aprofundam-se os estudos da sexta Norma de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, que trata das Demonstrações Contábeis, ao estabelecer quais demonstrações contábeis deverão ser elaboradas e divulgadas pelas entidades públicas, tais como: Balanço Orçamentário; Balanço Financeiro; Balanço Patrimonial; Demonstração das Variações Patrimoniais; Demonstração dos Fluxos de Caixa; e Demonstração do Resultado Econômico. 23 A Lei Nº. 4.320, de 17 de março de 1964, em seu artigo 101 assegura que os resultados do exercício serão apresentados nos seguintes demonstrativos: Art. 101. Os resultados gerais do exercício serão demonstrados no Balanço Orçamentário, no Balanço Financeiro, no Balanço Patrimonial, na Demonstração das Variações Patrimoniais, segundo os Anexos números 12, 13, 14 e 15 e os quadros demonstrativos constantes dos Anexos números 1, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 16 e 17. Com o advento da Resolução Nº. 1.133, de 21 de novembro de 2008 passa a definir Demonstração Contábil como “a técnica contábil que evidencia, em períododeterminado, as informações sobre os resultados alcançados e os aspectos de natureza orçamentária, econômica, financeira e física do patrimônio de entidades do setor público e suas mutações”. De acordo com Silva (2013, p.227), a edição da NBCASP T 16.6 criaram “outros demonstrativos contábeis, a Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Resultado Econômico”. Diante do exposto, a NBC T 16.6 – Demonstrações Contábeis elenca as demonstrações contábeis a serem elaboradas e divulgadas pelas entidades do campo da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, quais sejam: (a) Balanço Patrimonial; (b) Balanço Orçamentário; (c) Balanço Financeiro; (d) Demonstração das Variações Patrimoniais; (e) Demonstração dos Fluxos de Caixa; (f) Demonstração do Resultado Econômico. (Excluída pela Resolução CFC n.º 1.437/13) (g) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido; e (Incluída pela Resolução CFC n.º 1.437/13) (h) Notas Explicativas. (Incluída pela Resolução CFC n.º 1.437/13) Quadro 2 - Comparativo das demonstrações contábeis, segundo as normas reguladoras. Fonte: Rosa (2011, p.435) 24 Para o professor Silva (2013, p. 227), a Lei de Responsabilidade Fiscal “criou a Demonstração das Mutações no Patrimônio Líquido”. Vale salientar, que os respectivos demonstrativos devem ser acompanhados por anexos, e outros relatórios exigidos por lei, bem como por notas explicativas. As demonstrações contábeis deverão apresentar informações extraídas dos registros e dos documentos que fazem parte do sistema contábil da entidade, contendo a identificação da entidade do setor público, da autoridade responsável, bem como do contabilista. A Norma em estudo, em seu item onze, também trata da maneira correta da divulgação das demonstrações contábeis, e de suas versões simplificadas, as quais são disponibilizadas para a sociedade e órgãos fiscalizadores, são elas: (a) publicação na imprensa oficial em qualquer das suas modalidades; (b) remessa aos órgãos de controle interno e externo, a associações e a conselhos representativos; (c) a disponibilização das Demonstrações Contábeis para acesso da sociedade em local e prazos indicados; e, (d) disponibilização em meios de comunicação eletrônicos de acesso público. Avante, será analisada cada uma dos demonstrativos contábeis fixados pela Lei Nº. 4.320/64 e NBC T 16.6. 3.1 Balanço Patrimonial O Balanço Patrimonial é o demonstrativo contábil que evidencia, quantitativa e qualitativamente, a situação patrimonial da entidade pública, através das contas representativas do patrimônio público, bem como as contas de compensação, tendo sua estrutura formada em Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Segundo os ensinamentos de Silva (2013), o Balanço Patrimonial estrutura-se conforme as seguintes definições: a) Ativo: São recursos controlados pela entidade como resultado de eventos passados e dos quais se espera que resultem para a entidade benefícios econômicos futuros ou potencial de serviços. b) Passivo: São obrigações presentes da entidade, derivadas de eventos passados, cujos pagamentos se espera que resultem para a entidade. c) Patrimônio Líquido: É o valor residual dos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos. d) Contas de Compensação: Compreendem os atos que possam vir ou não a afetar o patrimônio. 25 É de bom alvitre, salientar que as classificações dos elementos patrimoniais elencam as contas em circulante e não circulante, mediante os seus atributos de conversibilidade e exigibilidade. As contas alocadas no ativo devem ser “classificados como circulantes quando satisfizerem a um dos seguintes critérios: encontrarem disponíveis para realização imediata e tiverem a expectativas de realização até o término do exercício seguinte” (SILVA, 2013. p.260). Os demais ativos serão classificados como não circulantes. As contas do passivo serão consideradas como circulantes quando corresponderem a valores exigíveis até o final do exercício seguinte e a valores de terceiros ou retenções em nome deles, quando a fiel depositária, for a própria entidade pública. As demais situações de contas do passivo devem considerar sua classificação como não circulante. O Patrimônio Líquido apresentará o resultado do período segregado dos resultados acumulados de períodos anteriores. De acordo com Silva (2013), as contas do ativo devem ser “dispostas em ordem decrescente de grau de conversibilidade, enquanto as contas do passivo, em ordem decrescente de grau de exigibilidade. Rosa (2011, p. 432), enfatiza que as Contas de Compensação, são aquelas que “compreendem os atos que possam vir a afetar o patrimônio”. Enfim, o Balanço Patrimonial pode ser considerado como o demonstrativo que apresenta a situação patrimonial em um determinado momento. 3.2 Balanço Orçamentário O Balanço Orçamentário é mais um demonstrativo obrigatório por lei, e que tem como objetivo a evidenciação das receitas e as despesas orçamentárias, detalhando- a em níveis relevantes de análise. É o demonstrativo que “confronta o orçamento inicial e as suas alterações com a execução e demonstra o resultado orçamentário” (ROSA, 2011, p. 432). 26 No entendimento de Silva (2010, p. 294), o balanço orçamentário apresenta o “confronto das receitas executadas com as despesas executadas”, permitindo relevar, no exercício financeiro, a ocorrência de superávit ou déficit. De acordo com a NBC T 16.6, em seus itens 20 e 22, o Balanço Orçamentário tem sua estrutura em destaque à integração entre o planejamento e a execução orçamentária. Seguindo o mesmo pensamento Silva (2013, p. 236), argumenta que o Balanço Orçamentário evidencia as “receitas detalhadas por categoria econômica, origem e espécie, especificando a previsão inicial, a previsão atualizada para o exercício”. Uma das mudanças relevante decorrentes da nova sistemática do Balanço Orçamentário, que passou a ser adotado de forma obrigatória em 2012 para União, Estado e Distrito Federal, e 2013 para os Municípios, é que a despesa passará a ser demonstrada por seus estágios (empenho, liquidação e pagamento), e não mais por tipo de crédito (MARINHO, 2010). Deste modo, conclui-se que o Balanço Orçamentário consiste em confrontar as receitas previstas com as realizadas, assim como as despesas fixadas com as executadas, cumprindo com a Lei 4.320/64, em seu anexo 12. 3.3 Balanço Financeiro A obrigatoriedade da elaboração do Balanço Financeiro pelas entidades do setor público está arrolada na Lei 4.320/64, em seu artigo 103, assim segue: Art. 103. O Balanço Financeiro demonstrará a receita e a despesa orçamentárias, bem como os recebimentos e os pagamentos de natureza extra-orçamentária, conjugados com os saldos em espécies provenientes do exercício anterior, e os que se transferem para o exercício seguinte. Parágrafo único. Os Restos a Pagar do exercício serão computados na receita extra-orçamentária para compensar sua inclusão na despesa orçamentária. Para elaboração do Balanço Financeiro, são utilizadas apenas contas do sistema financeiro, assim, fazem parte deste balanço as contas do ativo financeiro, do passivo financeiro, das receitas e das despesas, estas últimas duas na condição de conta de resultado. 27 Castro (2011, p. 181), define que o objetivo desse demonstrativo é “demonstrar os ingressos e os dispêndios da entidade, por Destinação de Recursos, complementados pela variação dos saldos em espécie do início do período com o final”. O Anexo 13 da Lei 4.320/64 apresenta o desdobramento de cada natureza, que segundo a edição da NBC T 16.6, o Balanço Financeirodeverá evidenciar as receitas e despesas orçamentárias, bem como os dispêndios extra-orçamentários, assim como os saldos de caixa do exercício anterior e os que se transferem para o exercício seguinte. A estrutura do Balanço Financeiro é dividida em duas colunas, a da esquerda com a receita, e a da direita com a despesa. Apresenta a receita orçamentária e extra- orçamentária e a despesa orçamentária e extra-orçamentária, combinado com o saldo do exercício anterior e os saldos para o exercício seguinte (ROSA, 2011, p.468). Apresenta-se o significado de cada item da estrutura do Balanço Financeiro segundo a Lei 4.320/64, bem como o novo conteúdo da NBC T 16.6. A estrutura do Anexo 13 apresenta a receita orçamentária, que são os recursos arrecadados e destinados ao financiamento das despesas orçamentárias fixadas. Vale ressaltar que devem ser iguais às receitas executadas do balanço orçamentário. As receitas extra-orçamentárias são classificadas no passivo financeiro, também conhecidas por dívida flutuante, conforme elencado no artigo 92 da Lei 4.320/64. As despesas orçamentárias representam os pagamentos de natureza orçamentária – as empenhadas – realizadas durante o exercício financeiro, bem como as contrapartidas dos restos a pagar inscritos. O valor deve ser igual às despesas executadas do balanço orçamentário. Outro item que surge no Anexo em estudo é a despesa extra-orçamentária, que compreende os pagamentos e recolhimentos das receitas extra-orçamentárias, bem como os pagamentos de qualquer desembolso de erário do caixa da entidade do setor público. Saldos do exercício financeiro anterior apresentam os saldos dos bens numerários que estão disponíveis, e que vieram do exercício anterior ao que será encerrado. O último item da divisão apresentado no anexo em questão é o saldo para o exercício financeiro seguinte, que tem como escopo representar os bens numerários disponíveis e que deverão passar para o exercício seguinte. 28 Diante do exposto, verifica-se que o Balanço Financeiro estrutura-se de forma a evidenciar os ingressos e os dispêndios que possuem vinculação legal, permitindo cumprir com o conceito orçamentário de Destinação de Recursos que busca controlar os recursos, quando este possua vinculação legal entre origem e destino. 3.4 Demonstração das Variações Patrimoniais A Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP) tem como escopo evidenciar a variação do Patrimônio Líquido por fatos ocorridos durante o exercício. A estrutura do DVP estrutura-se na divisão das variações aumentativas das diminutivas e distinguir os ocorridos em virtude do resultado dos atos da gestão (CASTRO, 2011). Na visão de Silva (2007, p.306), o demonstrativo em estudo mostra o comportamento das contas de resultado “ao final do exercício financeiro, evidenciando, conseqüentemente, o resultado patrimonial do exercício”. O artigo 104 da Lei Nº. 4.320, de 17 de março de 1964, define que a DVP “evidenciará as alterações verificadas no patrimônio, resultantes ou independentes da execução orçamentária, e indicará o resultado patrimonial do exercício”. De acordo com Castro (2011, p. 194), a referida Lei destaca a importância da estrutura da demonstração apresentada pelo Anexo 15 que: As receitas e as despesas orçamentárias, as variações que afetam o patrimônio e não possuem vínculo com o orçamento (variações não financeiras); as mutações ativas e passivas (alterações qualitativas do patrimônio, conseqüência de receitas e despesas orçamentárias que modificam a composição do Patrimônio sem alterar o seu todo) e o resultado patrimonial (déficit/superávit patrimonial) que modifica o Patrimônio Líquido (CASTRO, 2011, p. 194). O Conselho Federal de Contabilidade através do advento da Resolução Nº. 1.133, que aprovou a NBC T 16.6, em seu item 25, assegura que a DVP deve elencar as variações quantitativas, o resultado patrimonial e as variações qualitativas decorrentes da execução orçamentária. Segundo os ensinamentos da professora Rosa (2011, p. 433), para a apresentação da DVP se faz necessário segregar “as variações em quantitativas e 29 qualitativas. As variações quantitativas dividem-se em variações quantitativas aumentativas e variações quantitativas diminutivas”. A Demonstração das Variações Patrimoniais devem apurar as alterações verificadas no patrimônio. Tal procedimento é apurado pelo confronto entre as variações patrimoniais quantitativas ativas e passivas. Cabe salientar, que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) nada tratou da demonstração patrimonial e do correto cálculo do valor do patrimônio líquido, preocupou- se apenas com a parte financeira do patrimônio. Em resumo, a Demonstração das Variações Patrimoniais verificarão as alterações no patrimônio, mediante as variações quantitativas e qualitativas, onde as quantitativas decorrerão das transações que aumentará ou diminuirá o patrimônio líquido, enquanto as qualitativas decorrerão de transações que alteram a composição dos elementos do patrimonial sem sofrer modificação em seu total. 3.5 Demonstração dos Fluxos de Caixa O objetivo da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é distinguir a origem e o destino dos recursos financeiros da entidade, concedendo uma importância para o fluxo das operações dos financiamentos e do endividamento no exercício. Para Rosa (2011, p. 433), o propósito da DFC é permite aos projetar cenários de “fluxo de caixa e elaborar análise sobre eventuais mudanças em torno da capacidade de manutenção do regular financiamento dos serviços públicos”. A Demonstração dos Fluxos de Caixa tem o objetivo de cooperar para a transparência da gestão pública, pois “permite um melhor gerenciamento e controle financeiro dos órgãos e entidades do setor público” (SILVA, 2013, p. 270). A DFC inclui os desembolsos do orçamento e os relacionados aos restos a pagar de exercícios anteriores, processados ou não, pagos no exercício corrente, traduzindo a situação financeira mais próxima da realidade física das ações do governo. Castro (2011, p. 198), traduz que a DFC “demonstra a origem dos recursos financeiros recebidos e o destino dos pagamentos pelas ações realizadas”. 30 As informações elencadas na DFC - entradas e saídas do erário – são úteis para proporcionar aos usuários da informação contábil avaliar a capacidade da entidade gerar caixa e equivalente caixa suficiente para cumprir com suas obrigações, bem como suas necessidades de liquidez. Carvalho (2010, p. 652), afirma que a DFC permite “aos usuários projetar cenários de fluxos futuros de caixa e elaborar análise sobre eventuais mudanças em torno da capacidade de manutenção do regular financiamento dos serviços públicos”. A Norma Brasileira de Contabilidade T 16.6, aprovada pela Resolução CFC Nº. 1.133/08 estabeleceu que a DFC devesse ser elaborada através do método direto e indireto, bem como evidenciar as movimentações havidas no caixa e seus equivalentes, nos fluxos das operações; dos investimentos; e, dos financiamentos. O fluxo de caixa das operações compreende “os ingressos decorrentes de receitas originárias e derivadas, e os desembolsos relacionados com as despesas correntes, destacando as mais importantes, seja pela materialidade ou obrigatoriedade” (CASTRO, 2011, p. 198). Para Rosa (2011, p. 433), o fluxo de caixa das operações representa os ingressos, inclusive “decorrentes de receitas originárias e derivadas, e os desembolsos relacionados com a ação pública e os demais fluxos que não se qualificam como de investimento ou financiamento”. O fluxo supracitado apresenta as principais funções que exaurem os recursos financeirosda sociedade, concedendo ainda a confrontação com os desembolsos com a manutenção administrativa da entidade. No fluxo de caixa dos investimentos apresentam-se os recursos relacionados à aquisição e à alienação de ativo não circulante, bem como recebimentos por liquidação de adiantamentos ou amortização de empréstimos concedidos e outra operações da mesma natureza. O fluxo de caixa dos financiamentos “inclui os recursos relacionados à captação e à amortização de empréstimos e financiamentos” (CASTRO, 2011, p. 198). No tocante a estrutura dos métodos de elaboração da DFC, a NBC T 16.6, estabeleceu que a elaboração devesse ser realizada pelo método direto ou indireto. 31 De acordo com Castro (2011, p. 198), o método indireto não é considerado o melhor para ser elaborado, “porque não tem representatividade como informação gerencial. Quem utiliza este método o faz porque fica mais fácil elaborar a demonstração”. Deve-se ressaltar que as notas explicativas devem ser elaboradas detalhando os recursos ordinários e vinculados que compõem o caixa e fluxo de caixa do exercício anterior e para o exercício seguinte. Deste modo, verifica-se a importância da DFC para o setor público, na exibição dos pagamentos pelas principais funções de governo, por ser semelhante aos balanços orçamentário e financeiro. Assim, a DFC deve ser elaborada pelo método direto, pois permite agregar valor aos dirigentes. 3.6 Demonstrações do Resultado Econômico A Demonstração do Resultado Econômico (DRE) tem como seu propósito apresentar o ganho que a sociedade obtém com a existência das políticas públicas, que sem elas, o cidadão ficaria obrigado a pagar pelos recursos com a contratação de serviços básicos na iniciativa privada ou privado desses serviços. Castro (2011, p. 203), cita um exemplo simples e de fácil compreensão do objetivo da DRE. Quanto custaria para um pai, manter seu filho se ele estudasse em escola privada do mesmo nível da pública? Neste caso, “a DRE é a diferença entre quanto custaria o serviço sem o Governo e quanto custa o serviço prestado pelo Governo”. A Demonstração evidencia o resultado econômico de ações do setor público e deve ser elaborada de maneira integrada com o sistema de custos (ROSA, 2011). Sob o tema, Silva (2013), em interessante estudo, trata que a crescente exigência da sociedade acerca da transparência da gestão dos erários, e os benefícios gerados à sociedade, revelam a necessidade de implantar um sistema capaz de fornecer e mensurar os resultados alcançados sob a égide da eficiência, eficácia e efetividade da gestão. Vale salientar que por se tratar de uma demonstração nova, é preciso que os estudiosos incluam o tema nas suas reflexões teóricas e aplicações práticas futuras. 32 Com o advento da NBC T 16.6, o Conselho Federal de Contabilidade indicou a necessidade de elaborar a Demonstração do Resultado Econômico ou Demonstração do Custo de Oportunidade, que visa apresentar o ganho econômico que a sociedade tem com a aplicação dos recursos públicos, nas diversas prestações de serviço públicos, bem como a possibilidade de avaliar a eficiência da gestão pública. Para Castro (2011, p. 203), a DRE quando tornar-se obrigatória, “quando incluída em legislação, vai fazer com que as entidades construam seus sistemas de custos, sem o que, ele não tem como ser elaborada”. Nesse contexto, o CFC, por meio da Resolução Nº. 1.129/08, que aprovou a NBC T 16.2 – Patrimônio e Sistemas Contábeis, estabeleceu o subsistema de custos que tem como finalidade registrar, processar e evidenciar os custos dos bens e serviços, produzidos e ofertados aos munícipes pela entidade pública (SILVA, 2013). Portanto, a DRE evidencia o resultado econômico de ações e dos serviços executados pela entidade do setor público, considerando sua relação intrínseca com o sistema de custos e o preço dos serviços no mercado. 3.7 Demonstração das Mutações no Patrimônio Líquido A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) tem como objetivo demonstrar cada mutação reconhecida no Patrimônio Líquido, o seu efeito decorrente das mudanças de critérios contábeis e os efeitos em razão da retificação de erros relativos a exercícios anteriores. Outra finalidade importantíssima da DMPL é evidenciar o déficit ou superávit patrimonial do período ou exercício. Para Castro (2011, p. 201), o patrimônio líquido (PL) tem sua alteração de acordo com o resultado patrimonial apurado na DVP, entretanto, ao aplicar as regras da “contabilidade com foco patrimonial e dentro do princípio da competência, podem existir casos em que o PL seja afetado por outros fatores e não pelo resultado do exercício corrente”. 33 Vale ressaltar que a DMPL será apenas obrigatória para as empresas estatais dependentes e para os entes que as incorporarem no processo de consolidação das contas (SILVA, 2013). Assim, as alterações no patrimônio líquido de uma entidade entre as datas de duas demonstrações financeiras consecutivas refletem o aumento ou diminuição da riqueza durante o período. Dessa forma, a DMPL permite avaliar a evolução dos itens que formam o patrimônio líquido, as informações disponibilizadas pela demonstração em questão, contemplam os Anexos de Metas Fiscais, que integra o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias. É importante frisar que a análise da evolução do patrimônio líquido depende da certeza de que os ativos e passivos da entidade estão reconhecidos, mensurados e avaliados de forma confiável. Em resumo, as demonstrações apresentadas buscam padronizar os procedimentos e estruturação do setor público visando o processo de consolidação dos balanços e adoção de conceitos, regras e procedimentos comuns as três esferas de governo – União, Estados e Município -, possibilitando a evidenciação e a consolidação das contas públicas em nível nacional. À luz do exposto, não adianta tão somente as mudanças decorrentes das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Público nas demonstrações contábeis citadas, a fim de cumprir com a legislação vigente. É de suma importância que as entidades públicas abracem com ímpeto as normas, atuando de forma regular com os dados contidos, contribuindo para o trabalho de fiscalização da sociedade e Pretório, bem como demonstrando a lisura e a clareza no registro dos fatos da gestão pública. No quarto capítulo examinarão as principais mudanças das demonstrações contábeis, com a finalidade de esclarecer aos profissionais desta área, a importância da implantação das medidas adotadas, bem como evitar possíveis defeitos. 34 4 MUDANÇAS NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DE ACORDO COM AS NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO – NBCASP. De acordo com as características de cada país existem diversos critérios e práticas contábeis aplicáveis. A contabilidade por ser uma ciência social aplicada, é muito suscetível por aspectos culturais, políticos, históricos e econômicos do ambiente no qual está introduzido. Por essa razão, a existência de diversos critérios e práticas contábeis faz com que as demonstrações elaboradas em diferentes países se tornem incomparáveis entre si, requerendo do leitor o entendimento das inúmeras práticas contábeis para conseguir comparar e analisar os dados nelas contidos. No Brasil, o processo de convergência ocorreu com a edição das NBCASP T 16 – Normas de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, por meio das Resoluções do Conselho Federal de Contabilidade. Tais mudanças visam atender as exigências das normas contábeis internacionais, emitidas pelo International Federationof Accounting (IFAC). Vale salientar que em consonância com as Normas, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) vem editando os Manuais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público, que estão em sua 5ª edição, que apresenta em sua Parte V, as Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público, as quais serão analisadas neste capítulo. 4.1 Anexo 12 - Balanço Orçamentário O Balanço Orçamentário tem como objetivo demonstrar a execução do orçamento e comparar com os limites estabelecidos na Lei Orçamentária Anual (LOA) e suas alterações. A Lei Nº 4.320, de 31 de março de 1964, ao estruturá-lo em seu anexo 12, concedeu destaque as receitas por tipo receita: tributárias, patrimoniais, contribuições, entre outras; e as despesas por tipo de crédito: orçamento inicial mais créditos adicionais (suplementares, especiais e extraordinários). 35 Em seu artigo 52 a Lei de Responsabilidade Fiscal quando tratou do Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO), estabeleceu outra forma para o Balanço Orçamentário, analisa-se: I – balanço orçamentário, que especificará, por categoria econômica, as: a) receitas por fonte, informando as realizadas e a realizar, bem como a previsão atualizada; b) despesas por grupo de natureza, discriminando a dotação para o exercício, a despesa liquidada e o saldo. O quadro 3 apresenta o modelo do Anexo em estudo que elenca em duas colunas, na da esquerda, o orçamento da receita, e na da direita, o orçamento da despesa. Quadro 3 - Estrutura Anterior do Balanço Orçamentário Fonte: Artigo 102 da Lei 4.320/64 36 Na coluna da esquerda, é possível identificar a receita discriminada segundo suas categorias econômicas e demonstra sua previsão, bem como sua execução e as diferenças. A coluna da direita, a despesa é evidenciada por tipos de créditos, orçamentários e suplementares, especiais e extraordinários, apresentando sua fixação, execução e as diferenças. É de suma importância salientar que na elaboração do orçamento público, um dos princípios a ser aplicado é o do equilíbrio, que vislumbra o montante da despesa autorizada em cada exercício financeiro não poderá ser superior ao total das receitas estimadas para o mesmo período. A respeito do assunto o professor Paludo (2010, p. 21) argumenta: Este princípio está consagrado no art. 4º, inciso I, alínea a, da LRF que determina que a LDO disporá sobre o equilíbrio entre receita e despesa. Ele estabelece que a despesa fixada não pode ser superior à receita prevista, ou seja, deve ser igual à receita prevista. A finalidade deste princípio é deter o crescimento desordenado dos gastos governamentais e impedir o déficit orçamentário. Todavia, isso não significa que economicamente o orçamento esteja de fato equilibrado. Tal situação encontra-se fundamentada na Lei 4.320/64, que previu nos artigos 2º, 3º e 4º, conforme transcrição a seguir: Art. 2º A Lei de Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa, de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecida os princípios de unidade, universalidade e anualidade. [...] Art. 3º A Lei de Orçamento compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei. Parágrafo único. Não se consideram para os fins deste artigo as operações de créditos por antecipação de receita, as emissões de papel-moeda e outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiro. Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias dos órgãos do Governo e da Administração centralizada, ou que por intermédio deles se devam realizar, observado o disposto no artigo 2º. No entanto, durante a execução orçamentária do exercício, as arrecadações das receitas orçamentárias podem sofrer alterações do que foi previsto, o que permite, no caso de haver excesso de arrecadação (receita orçamentária arrecadada maior que receita orçamentária prevista), ser alterado o total das despesas orçamentárias fixado na LOA (ROSA, 2011). 37 Com a Resolução Nº 1.133, de 21 de novembro de 2008 emitido pelo CFC, disciplina as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público, onde define que o Balanço Orçamentário deve apresentar as receitas e as despesas orçamentárias, detalhando seus níveis de análise, confrontando o orçamento inicial e as suas alterações com a execução. Com a publicação realizada pelo CFC, das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC T 16.6), a Secretaria do Tesouro Nacional, utilizando da competência que a LRF lhe delegou por ser órgão central de contabilidade, promoveu ajustes na estrutura do balanço orçamentário, buscando padronizar sua estrutura para União, Estados, Distrito Federal e Municípios para facilitar a consolidação das contas públicas (CASTRO, 2011). Desta forma, promoveu a unificação do Anexo 12 da Lei Nº. 4.320/64 com a da Lei Complementar 101/00. Tendo em vista que a demonstração exigida pela Lei Nº. 4.320/64 que compara receita econômica com despesa por tipo de crédito perdeu seu sentido, pois misturava aspectos econômicos com jurídicos. Diante do exposto, estabeleceu um novo formato para o Balanço Orçamentário, que passará apresentar as despesas em seu sentido econômico, para compatibilizar com as receitas. Assim, a nova estrutura do Anexo 12 adotou o formato da LRF e apresentará o resultado entre o orçamento aprovado e a execução orçamentária (receita e despesa orçamentária) no exercício, que será obtido mediante a apuração das diferenças entre receita prevista e receita realizada, despesa fixada e despesa realizada, receita prevista e despesa fixada, receita arrecadada e despesa realizada etc, como se verá no quadro 4. Com a publicação das Portarias STN 749/09 e 751/09, a partir de 2010 as regras do Governo Federal deve ser utilizada pelos Municípios, além destas modificações, são apresentados anexos sobre as despesas empenhadas e a execução dos restos a pagar do exercício anterior. 38 Quadro 4 - Nova estrutura do Balanço Orçamentário Fonte: Lei 4.320/64 - Anexo 12 (Atualizado pela Portaria STN Nº 749, de 16 de dezembro de 2009) e (LRF) – LC Nº 101/00, art. 52. Segundo os conceitos estabelecidos na Parte V – Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público do Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público 39 (MCASP), e a nova estrutura do anexo 12 – Balanço Orçamentário, o conteúdo das informações correspondentes a cada coluna do Balanço são apresentados a seguir. 4.1.1 Conteúdo do Balanço Orçamentário - NBC T 16.6 e Portaria STN 664/2010 4.1.1.1 Receitas orçamentárias A previsão inicial corresponde os valores da receita inicial prevista, que constou da lei orçamentária anual, aprovada pelo Poder Legislativo, e que permanecerão inalterados durante todo o exercício. A coluna da previsão atualizada apresenta os valores da previsão atualizada, os quais refletem a parcela da reestimativa da receita utilizada para abertura de créditos adicionais, seja decorrente do excesso de arrecadação ou de operações de créditos, da recente natureza de receitas não previstas pela LOA e, ainda do remanejamento entre naturezas de receita. As receitas realizadas indicam as receitas arrecadadas no exercício, sejam aquelas diretamente arrecadadas pelo órgão ou por meio da rede bancária. O saldo apresenta o total da receita orçamentária a realizar e resulta da diferença entre a previsão atualizada e as receitas realizadas. O refinanciamento indica o valor da receita decorrente da colocação de títulos públicosou de empréstimos, obtidos junto a entidades estatais ou particulares internos ou externos, destinados ao refinanciamento da dívida pública (ROSA, 2011, p.452). Considera-se como déficit a diferença a menor entre as receitas realizadas e as despesas empenhadas. O valor de recursos provenientes de superávit financeiro de exercícios anteriores, identificados no Balanço Patrimonial do exercício anterior ao de referência, utilizado como fonte de recursos para abertura de créditos adicionais no período de referência é considerado como saldos de exercícios anteriores. 40 4.1.1.2 Despesas orçamentárias A dotação inicial apresenta o total dos créditos iniciais constantes da Lei Orçamentária Anual. No entanto, a dotação atualizada representa o valor da dotação inicial acrescido dos créditos adicionais abertos ou reabertos durante o exercício, deduzido o valor das anulações e cancelamentos correspondentes. As despesas empenhadas apresentam os valores das despesas empenhadas até o encerramento do exercício, incluídas as despesas que já foram liquidadas e pagas. De acordo com Silva (2013, p. 242), a coluna das despesas liquidadas identifica os valores “das despesas liquidadas até o encerramento do exercício. Deverão ser consideradas, inclusive, as despesas que já foram pagas.” As despesas pagas identificam os totais das despesas pagas pertencentes ao orçamento do exercício financeiro. Salienta-se que não inclui os valores referentes ao pagamento de restos a pagar. A diferença entre a dotação atualizada e as despesas empenhadas corresponde ao saldo da dotação. Mediante apresentação das colunas que compõem o Balanço Orçamentário é possível analisar e verificá-lo com objetivo de preparar os indicadores ou quocientes que servirão de supedâneo para avaliação da gestão orçamentária. 4.1.2 Análise dos Quocientes do Balanço Orçamentário Pode-se considerar como quocientes do Balanço Orçamentário, o do Equilíbrio Orçamentário; da Execução da Receita; de Desempenho da Arrecadação; Utilização do Excesso de Arrecadação; de Utilização do Superávit Financeiro; de Execução da Despesa; do Resultado Orçamentário; da Execução Orçamentária Corrente e o Financeiro Real da Execução Orçamentária. A seguir analisam-se alguns desses quocientes. O Quociente do Equilíbrio Orçamentário é resultante da relação entre a previsão inicial da receita e a dotação inicial da despesa, indicando se há equilíbrio entre a previsão e fixação constante na LOA. 41 Figura 2 – Quociente do Equilíbrio Orçamentário Fonte: Elaborado pelo autor Na análise de Kohama (2000, p.146), o quociente do Equilíbrio Orçamentário ocorre quando: A despesa fixada é maior do que a receita prevista, pois revelará também o quanto foi aberto de crédito adicional, e o resultado normal será 1 ou pouco maior do que 1. Caso seja menor do que 1, a tendência é de considerá-lo normal, entretanto, deverá ser uma hipótese, na atualidade, atípica, que precisa ser verificada. O Quociente de Execução da Receita é o resultado da relação entre a receita realizada e previsão atualizada da receita, que indica a existência de excesso ou falta de arrecadação para a cobertura das despesas. Figura 3 – Quociente de Execução da Receita Fonte: Elaborado pelo autor Nos ensinamentos de Kohama (2000, p.145), esse quociente indica o quanto foi realizado de receita em comparação com a receita prevista, “e o resultado normal deverá ser 1 ou maior ou menor do que 1, porém, próximo de 1, ou seja, evidenciando que a receita executada esteve próxima da receita prevista.” O Quociente de Utilização do Excesso de Arrecadação é o resultado da relação entre os créditos adicionais abertos por meio de excesso de arrecadação e o total do excesso de arrecadação, indicando a parcela do excesso de arrecadação utilizada para abertura de crédito adicional (SILVA, 2013). Figura 4 – Quociente de Utilização do Excesso de Arrecadação Fonte: Elaborado pelo autor 42 Tratando-se do Quociente de Utilização do Excesso de Arrecadação Kohama (2000, p.147), adverte que: Esse quociente deve demonstrar quanto o excesso de arrecadação representa de cobertura para os créditos adicionais abertos, e o resultado considerado normal será 1 ou maior do que 1. Caso seja menor do que 1, há que se verificar se foram feitas as demonstrações mensais da receita arrecadada, de acordo com o art. 29 da Lei Nº. 4.320/64, para servir de base para a abertura de créditos adicionais que se utilizam de excesso de arrecadação, e qual o motivo que deu causa ao quociente negativo. Observa-se que o Quociente de Execução da Despesa é o resultado da relação entre a despesa executada e dotação atualizada, cuja discrepância pode ser ocasionada por ineficiência no processo planejamento-execução ou a uma economia de despesa orçamentária (SILVA, 2013). Figura 5 – Quociente de Execução da Despesa Fonte: Elaborado pelo autor O resultado da relação entre a receita realizada e a despesa empenhada indica a existência de superávit ou déficit, pode-se considerar como sendo o Quociente da Execução Orçamentária. Figura 06 – Quociente do Resultado Orçamentário Fonte: Elaborado pelo autor Com as novas mudanças decorrentes do advento da NBCASP 16.6 é possível elaborar diversos quocientes em relação aos dados contidos no Balanço Orçamentário, o que permite uma melhor gestão e tomada de decisão do erário. Salienta-se que em complementação ao Balanço Orçamentário é obrigatória a elaboração dos anexos de restos a pagar. A seguir, apresentam-se os quadros 05 e 06 com os demonstrativos de restos a pagar processados e não processados, que representam os Anexos 1 e 2 que 43 acompanham o Balanço Orçamentário, conforme a Portaria do STN Nº 665, de 30 de novembro de 2010, e LC Nº. 101/00. Quadro 5 – Demonstrativo de Restos a Pagar não Processados Fonte: LC Nº 101/00, art. 53 e Portaria STN Nº 669, de 30 de novembro de 2010. Quadro 6 – Demonstrativo de Execução dos Restos A Pagar Processados Fonte: LC Nº 101/00, art. 53 e Portaria STN Nº 669, de 30 de novembro de 2010. 44 Os anexos supracitados do Balanço Orçamentário demonstram a posição dos empenhos do exercício inscritos em restos a pagar, e a execução de restos a pagar de exercícios anteriores, ocorridas no exercício corrente, representa informações importantes, considerando o valor expressivo dos restos a pagar na composição dos gastos do erário. Insta colacionar aqui as lições trazidas pelo professor Domingos Poubel de Castro, a cerca da importância dos anexos do Balanço Orçamentário: Permitem conhecer os gastos efetivos do exercício se somarem-se as despesas liquidadas do balanço orçamentário com as liquidações de restos a pagar não processados de exercícios anteriores. Este desdobramento servirá como base de cálculo da demonstração de custos, para suprir a necessidade gerencial e elaborar a Demonstração do Resultado Econômico. Da mesma forma, a soma das despesas pagas do Balanço Orçamentário mais os pagamentos de restos a pagar devem ser compatíveis com os desembolsos apresentados na Demonstração dos Fluxos de Caixa (CASTRO, 2011, p. 180). Enfim, ao analisar o resultado do Balanço Orçamentário, o equilíbrio entre a receita prevista e a despesa fixada no Balanço Orçamentário pode ser verificado mediante a somatória dos valores contidos na linha do TOTAL e da linha SALDOS DE EXERCÍCIOS ANTERIORES, que consta da coluna PREVISÃO ATUALIZADA, em seguida confronta-se o montante apurado com o total da coluna DOTAÇÃO ATUALIZADA. Adiante, se verifica no próximo tópico
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