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CONTABILIDADE PARA ENTIDADES DE INTERESSE SOCIAL AULA 3 Prof.ª Edicreia Andrade dos Santos 2 CONVERSA INICIAL A contabilidade e as suas ferramentas gerenciais são de grande valia para a entidades do Terceiro Setor. Através da elaboração e da divulgação das demonstrações contábeis é possível saber a situação em que a empresa se encontra em determinado período. A lei estabelece a obrigatoriedade de alguns relatórios a determinadas empresas, como é o caso das Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido/Social e a Demonstração do Fluxo de Caixa, é importante não apenas para saber onde a organização está, mas também para saber até onde ela poderá ir. As Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido/Social e dos Fluxos de Caixa fornecem informações referentes a aspectos patrimoniais, operacionais, de investimento e financiamento, permitindo aos usuários das demonstrações ver as alterações de um período para outro. Diante da importância dessas demonstrações, o objetivo desta aula é conhecer os aspectos conceituais e demais aspectos relevantes das Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido/Social e dos Fluxos de Caixa Saiba Mais Entendendo o Fluxo de Caixa: <https://www.youtube.com/watch?v=JoF_fFUNcMQ> Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido: <https://www.youtube.com/watch?v=wjLAaahQIQ8> CONTEXTUALIZANDO O Estado possui como principal finalidade contribuir para o bem-estar da sociedade. No entanto, nem sempre o governo consegue suprir todas as necessidades da população. Dessa forma, surgem as instituições do Terceiro Setor, visando complementar as ações estatais, desenvolvendo: atividades voltadas para uma variedade de questões que afetem a sociedade na área da assistência social, cultura, saúde, meio ambiente, lazer, esporte, educação, entre outros; prestação de atendimento a pessoas e famílias à margem do processo produtivo ou fora do mercado de trabalho, sobretudo nas áreas da assistência social, educação e saúde; ações que visam à garantia e defesa dos direitos dessa população; trabalhos voltados para os interesses públicos; geração de emprego, e estimulando o voluntariado. (Cazumbá, 2014) 3 Com o crescimento no número e na importância dessas instituições, cresceu também a necessidade de instrumentos que tornem as ações dessas entidades mais confiáveis. A contabilidade é essa ferramenta: ela fornece transparência às atividades da instituição, ajudando-a a obter credibilidade e a conseguir um maior número de investimentos para a realização de seus objetivos (Diniz, 2014). A contabilidade possui como principal objetivo o controle do patrimônio e o registro de suas variações, visando à geração de informações sobre a situação econômico-financeira da entidade. Essas informações são obtidas por meio da elaboração das demonstrações financeiras. Entre esses relatórios temos a Demonstração das Mutações do Patrimônio Social e Demonstração do Fluxo de Caixa, que além mostrarem a situação da organização em um determinado período, servem para planejar as ações futuras das entidades do Terceiro Setor. Nas próximas seções serão apresentados aspectos inerentes às Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido/Social e dos Fluxos de Caixa, sua conceituação, elaboração e regulamentação, além das vantagens e desvantagens de sua utilização. TEMA 1 – DEMONSTRAÇÕES DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO SOCIAL: INTRODUÇÃO A Lei da Sociedade por Ações (Lei n. 6.404/1976) estabelece a obrigatoriedade da apresentação do Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado (DR) e Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), e, no caso das companhias abertas, a Demonstração do Valor Adicionado (Brasil, 2007). A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido não consta nessa lei, mas é exigida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em sua instrução n. 59/1985 para as companhias abertas. Segundo Ribeiro (2009) e o Conselho Federal de Contabilidade (França, 2015), a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) pode ser conceituada como um relatório contábil que busca evidenciar as variações em natureza e valor que ocorreram em toda a conta que compõe o patrimônio líquido em um determinado período de tempo. Ela evidencia as mudanças do patrimônio líquido em termo gerais (novas integralizações de capital, resultado do exercício, ajuste de exercício, ajustes de exercício anteriores, dividendos, reavaliações etc.) e em termos de mudanças internas (incorporações de reserva ao capital, 4 transferências de lucros acumulados para reservas e vice-versa etc.) (Francisquetti, 2009). De acordo com a Lei da Sociedade por Ações (Lei n. 6.404/1976), a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) poderá ser incluída na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Segundo Assaf Neto (2000): Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados retrata as movimentações ocorridas na conta de lucros acumulados do patrimônio líquido, fornecendo explicações sobre seu comportamento ao longo do exercício social. Na verdade, enquanto a Demonstração do Resultado evidencia a formação do lucro do exercício, a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados revela as alterações verificadas nos lucros acumulados da sociedade. Na ocorrência de prejuízos no exercício, estes serão obrigatoriamente absorvidos pelos Lucros Acumulados. Como pode ser incluída na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados não é obrigatória. O intuito da utilização das duas demonstrações em conjunto é a apresentação do patrimônio líquido de forma clara e precisa, evidenciando a situação financeira, as reservas, os lucros ou prejuízos acumulados, tendo a certeza da escolha da melhor opção ao efetuar novos investimentos (Francisquetti, 2009). No caso das entidades do Terceiro Setor não é utilizada a denominação Demonstrações das Mutações no Patrimônio Líquido, e sim Demonstrações das Mutações no Patrimônio Social (DMPS), já que o patrimônio dessas entidades possui caráter diferenciado. Apesar do uso de denominações diferentes, os objetivos são os mesmos, ou seja, ambas possuem a finalidade de evidenciar as mudanças ocorridas nas contas do patrimônio (Azevedo; Araújo, 2004). A DMPLS não possui a mesma estrutura da DMPL. Uma das principais diferenças refere-se às contas do patrimônio: entidades que visam a lucros possuem patrimônio líquido, e entidades com interesse social possuem patrimônio social. Também não existe a descrição de reserva de lucros nas contas das entidades do Terceiro Setor – já que a entidade não é lucrativa, não há necessidade de reter os lucros. O que existe é uma conta chamada fundos patrimoniais, que tem a finalidade de reservar recursos para destinações específicas deliberadas em assembleia geral de associados (Azevedo; Araújo, 2007). 5 Após ter uma visão geral das Demonstrações das Mutações no Patrimônio Líquido e no Patrimônio Social, na próxima seção esse relatório será apresentado de forma mais aprofundada, compreendendo as informações que são importantes para a sua confecção. TEMA 2 – DEMONSTRAÇÕES DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO SOCIAL: CONCEITO A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) é um relatório muito completo e abrangente, já que mostra toda a movimentação das contas do patrimônio líquido no decorrer do exercício social, inclusive a formação e utilização das reservas não derivadas do lucro. É importante destacar que a Demonstração das Mutações do Patrimônio Social segue o mesmo padrão, como veremos posteriormente nesta aula (Demonstração...,2017). As contas que formam o Patrimônio Líquido podem sofrer variações por inúmeros motivos, dentre os quais destacamos: a. acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo líquido do exercício; b. redução por dividendos; c. acréscimo por reavaliação de ativos (quando o resultado for credor); d. acréscimo por doações e subvenções para investimentos recebidos; e. acréscimo por subscrição e integralização de capital; f. acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das ações integralizadas ou o preço de emissão das ações sem valor nominal; g. acréscimo pelo valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; h. acréscimo por prêmio recebido na emissão de debêntures; i. redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda; j. acréscimo ou redução por ajuste de exercícios anteriores. (Demonstração..., 2017). Nem todas as movimentações nas contas no decorrer do exercício afetam o total do patrimônio, tais como: a. aumento de capital com utilização de lucros e reservas; b. apropriações do lucro líquido do exercício reduzindo a conta Lucros Acumulados para formação de reservas, como Reserva Legal, Reserva de Lucros a Realizar, Reserva para Contingência e outras; c. reversões de reservas patrimoniais para a conta de Lucros ou Prejuízos acumulados; d. compensação de Prejuízos com Reservas. (Demonstração..., 2017). A elaboração da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido é simples, pois basta representar, de forma sumária e coordenada, a 6 movimentação ocorrida durante o exercício nas diversas contas do Patrimônio Líquido (Demonstração..., 2017): Capital; Reservas de Capital (Lei n. 11.638/2007); Reservas de Lucros (Lei n. 11.638/2007); Reservas de Reavaliação Patrimonial (Lei n. 11.638/2007); Ações em Tesouraria; e Lucros ou Prejuízos Acumulados (Lei n. 11.638/2007). Para elaborar a demonstração, é descrito no topo de cada coluna o nome de cada uma das contas do patrimônio da empresa, incluindo uma conta total, que representa a soma dos saldos ou das transações de todas as contas individuais. Essa movimentação deve ser retirada das fichas de razão dessas contas (Demonstração..., 2017). As transações e seus valores são transcritos nas colunas respectivas, mas de forma coordenada. Também deve ser apresentado o saldo de abertura, transcrevendo os saldos de cada uma das contas do Balanço Patrimonial final do exercício anterior. Em seguida, deve-se somar conta por conta e preencher a coluna Total (Demonstração..., 2017; Soares, 2017). No decorrer da elaboração da demonstração deve-se “adicionar ou subtrair os movimentos ocorridos nas referidas contas, no período, abrindo linhas para cada natureza de transação: Aumento de Capital; Lucro do Exercício; Dividendos Distribuídos” (Soares, 2017). Segundo o Portal de Contabilidade (Demonstração..., 2017): no caso de um aumento de capital com lucros e reservas, na linha correspondente a essa transação, transcreve-se o acréscimo na coluna de capital pelo valor do aumento e, na mesma linha, as reduções nas contas de reservas e lucros utilizadas no aumento de capital pelos valores correspondentes. A elaboração das Demonstrações das Mutações do Patrimônio Social funciona da mesma maneira, só que não existem reservas de lucros nem prejuízos/lucros acumulados, mas sim superávit/déficit do período. Na próxima seção apresentaremos o modelo apresentado pelo ITG 2002 para a elaboração da Demonstração das Mutações do Patrimônio Social. 7 TEMA 3 – COMO DEVEM SER ELABORADAS AS DEMONSTRAÇÕES DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO SOCIAL A Demonstração das Mutações do Patrimônio Social (DMPS) possui como finalidade apresentar as variações ocorridas no patrimônio líquido das instituições sem finalidade lucrativa, demonstrando a sua posição contábil- financeira ao final do período e tendo como base a movimentação ocorrida nas contas que fazem parte de sua composição (França, 2015). Abaixo apresentamos o modelo proposto para entidade de interesse social no ITG 2002: Quadro 1 – Demonstração das Mutações do Patrimônio Social Patrimônio Social Outras Reservas Ajustes de Avaliação Patrimonial Superávit/ Déficit Total do Patrimônio Social Saldos iniciais em 31/12/200X Movimentação do Período Superávit/Déficit do Período Ajustes de Avaliação Patrimonial Recursos de Superávit com Restrição Transferência de Superávit de Recursos sem Restrição Saldos finais em 31/12/20x1 Fonte: ITG 2002 citado por França (2015) Como mencionamos anteriormente, a principal diferença entre as Demonstrações das Mutações do Patrimônio Social (DPLS) e as Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) é a inexistência de lucros e prejuízos acumulados e a utilização de superávit e déficit do exercício. No Quadro 2 é apresentada a DMPS da organização Asscontas do ano de 2015: 8 Quadro 2 – Demonstração das Mutações do Patrimônio Social Asscontas Patrimônio Social Superávit/ Déficit Acumulado Total do Patrimônio Social Saldos em 31 de dezembro de 2013 1.603.424 220.719 1.284.143 Incorporação ao patrimônio social 220.719 (220.719) - Superávit do exercício - 380.796 380.796 Saldos em 31 de dezembro de 2014 1.284.143 380.796 1.664.939 Incorporação ao patrimônio social 380.796 (380.796) - Superávit do exercício - 219.518 219.518 Saldos em 31 de dezembro de 2015 1.664.939 219.518 1.884.457 Fonte: Asscontas, 2016. Com base nas informações do Quadro 2 é possível auferir que a elaboração da Demonstração das Mutações do Patrimônio Social é bastante simples: basicamente são incluídas a incorporação ao patrimônio social e os saldos ao final do exercício. Após conhecer as Demonstrações de Mutações do Patrimônio Social, a seguir serão apresentadas as Demonstrações do Fluxo de Caixa. TEMA 4 – DEMONSTRAÇÕES DOS FLUXOS DE CAIXA: CONCEITO O fluxo de caixa consiste em um relatório que controla as entradas e saídas de recursos financeiros, sempre considerando um determinado período de tempo, que pode ser uma semana, um mês etc. (Sebrae/SP, 2008). O fluxo de caixa pode ser utilizado como uma ferramenta de auxílio na tomada de decisão ajudando a resolver questões como: verificar se os recursos financeiros de que a empresa dispõe são suficientes para dar continuidade ao negócio em determinado período ou se há necessidade de obtenção de capital de giro; avaliar a capacidade de realizar pagamentos antes de assumir compromissos, além de planejar melhores políticas de prazos de pagamento; avaliar se o recebimento das vendas é suficiente para cobrir os gastos assumidos e previstos no período considerado, além de definir políticas de reposição de estoques e de promoções (Sebrae/SP, 2008). Até o ano de 2007 a apresentação da Demonstração do Fluxo de Caixa era opcional, mas com a publicação da Lei n. 11.638/2007 sua elaboração 9 tornou-se obrigatória para algumas organizações. Em seu art. 176 a Lei da Sociedade por Ações (Lei n. 6.404/1976), editada pela Lei n. 11.638/2007, estabelece que, ao final de cada exercício social, a diretoria deverá elaborar, com base na sua escrituração mercantil, as seguintes demonstrações financeiras: I. balanço patrimonial; II. demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; III. demonstração do resultado do exercício; IV. demonstração dos fluxos de caixa; V. se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. Essas demonstrações deverão exprimircom clareza a situação do patrimônio da companhia e as mudanças ocorridas no exercício (Brasil, 1976). No caso de empresas de capital fechado e com o patrimônio líquido inferior a 2 milhões de reais na data do balanço não existe a exigência de elaboração e publicação da demonstração dos fluxos de caixa (Brasil, 1976). Para as organizações obrigadas a publicar a DFC, esta deverá apresentar as alterações ocorridas no saldo de caixa e equivalentes durante o exercício, segregando-se essas alterações em, no mínimo, 3 (três) fluxos (Brasil, 2007): a. das operações: “Corresponde às atividades operacionais da organização, são as atividades geradoras de receita e outras atividades diferentes das de investimento e de financiamento” (Maion, 2013); b. dos investimentos: “Corresponde às atividades de investimento referentes à aquisição e venda de ativos de longo prazo e investimentos que não estejam incluídos nos equivalentes de caixa” (Maion, 2013); c. dos financiamentos: “Corresponde às atividades que resultam em mudança de tamanho e na composição do capital próprio e endividamento da entidade” (Marion, 2013). 10 Quadro 3 – Vantagens e Desvantagens da Demonstração do Fluxo de Caixa Vantagens Desvantagens - Possibilita a verificação da falta ou sobra de dinheiro. - Permite decidir com antecedência se a empresa deve tomar recursos ou aplicá- los, e ainda avalia e controla ao longo do tempo as decisões importantes que são tomadas na empresa e seus reflexos monetários. - Fornece informações sobre a situação financeira para um número ampliado de pessoas. - Tendência a acreditar que grandes volumes líquidos positivos de caixa das operações são bons, e que pequenos volumes, positivos ou negativos, ou grandes volumes negativos são ruins. - Erros de análise quando considerados aspectos de forma isolada. Fonte: A Importância..., 2009. Levando em consideração os dados apresentados no Quadro 3, é possível auferir que a elaboração da Demonstração do Fluxo de Caixa possui aspectos positivos e negativos, no entanto, é importante destacar que os aspectos positivos se sobressaem, devido à possibilidade de uma visão detalhada dos cenários futuros (Abreu, 2010). As Demonstrações do Fluxo de Caixa das organizações do Terceiro Setor e das instituições com finalidade lucrativa são muito semelhantes. A principal diferença são as origens dos recursos, pois as receitas das instituições com finalidade social são oriundas de transferências governamentais e doações (Brasil, 2010). Após conhecer a conceituação e função do fluxo de caixa, a seguir aprenderemos os tipos de fluxos de caixa que as entidades do Terceiro Setor podem utilizar. Qual a diferença entre caixa e equivalentes de caixa? Caixa compreende numerário em espécie e depósitos bancários disponíveis. Equivalentes de caixa são aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, que são prontamente conversíveis em caixa e que estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor. (Maion, 2013) 11 TEMA 5 – MÉTODOS DA DFC A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) de Entidade sem Finalidade de Lucros pode ser feito de duas maneiras: pelo método direto ou pelo método indireto. O método direto é mais complexo e detalhado: a entidade deve ter um sistema contábil que permita separar as atividades que passam pelas contas do caixa ou equivalente a caixa e aquelas das transações que não passam por essas contas (França, 2015). Nesse método, “as principais classes de recebimentos e desembolsos brutos são divulgadas” (Marion, 2013). As organizações normalmente são encorajadas a utilizar o fluxo caixa pelo método direto, já que ele demonstra as atividades operacionais da organização e não o lucro líquido ajustado, revelando assim de forma efetiva as movimentações de recursos financeiros em um determinado período. Dessa forma, o método direto proporciona dados que podem ser úteis em estimativas de caixa futuros, o que não é possível com o método indireto (Maion, 2013). O Conselho Federal de Contabilidade (França, 2015) apresenta um exemplo de fluxo de caixa pelo método direto: Quadro 4 – Fluxo de Caixa pelo Método Direto Recursos Recebidos Entidades Governamentais Entidades Privadas Doações e Contribuições Voluntárias Próprios Rendimentos Financeiros Outros Pagamentos Realizados Aquisição de Bens e Serviços Salários e Encargos Sociais do Pessoal Administrativo Contribuições Sociais, Impostos e Taxas Outros Pagamentos (=) Caixa Líquido Gerado pelas Atividades Operacionais Fluxo de Caixa das Atividades de Investimento Recursos Recebidos pela Venda de Bens Outros Recebimentos por Investimentos Realizados Aquisições de Bens e Direitos para o Ativo (=) Caixa Líquido Consumido pelas Atividades de Investimento Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento Recebimentos de Empréstimos Outros Recebimentos por Financiamentos Pagamentos de Empréstimos 12 Pagamentos de Arrendamento Mercantil (=) Caixa Líquido Consumido pelas Atividades de Financiamento (=) Aumento Líquido de Caixa e Equivalentes de Caixa Caixa e Equivalentes de Caixa no Início do Período Caixa e Equivalentes de Caixa no Fim do Período Fonte: Conselho Federal de Contabilidade (França, 2015). Conforme o Quadro 4, é possível extrair que nesse método são apresentadas as principais classes de recebimentos e pagamentos brutos sem seguir critérios técnicos ou fiscais. Um ponto negativo pode ser o custo aditivo para a classificação dos recebimentos e pagamentos. O método indireto parte do Resultado Líquido do Exercício para chegar ao fluxo de caixa. Nele os recursos derivados das atividades operacionais são demonstrados a partir do Lucro Líquido, ajustados pelos itens que não afetaram o caixa da empresa. Esse método ainda revela os aumentos ou reduções de determinados itens que afetam o caixa (Peppe, 2012). De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (França, 2015), “a demonstração elaborada por esse método não exibe os montantes que, efetivamente, transitaram pelo caixa, embora o efeito final do saldo de caixa seja o mesmo obtido pelo método direto”. O Conselho Federal de Contabilidade (França, 2015) apresenta um exemplo de fluxo de caixa pelo método indireto: Quadro 5 – Fluxo de caixa método indireto Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais Superávit (Déficit) do Período Ajustes por: (+) Depreciação (+) Amortização (+) Perda de Variação Cambial (-) Ganho na Venda de Bens do Imobilizado Superávit (Déficit) Ajustado Diminuição (Aumento) nos Ativos Circulantes Mensalidades de Terceiros Atendimentos Realizados Adiantamentos a Empregados Adiantamentos a Fornecedores Recursos de Parcerias em Projetos Tributos a Recuperar Despesas Antecipadas Outros Valores a Receber Aumento (Diminuição) nos Passivos Circulantes Fornecedores de Bens e Serviços Obrigações com Empregados Obrigações Tributárias Empréstimos e Financiamentos a Pagar 13 Recursos de Projetos em Execução Recursos de Convênios em Execução Subvenções e Assistências Governamentais Outras Obrigações a Pagar (=) Caixa Líquido Gerado pelas Atividades Operacionais Fluxo de Caixa das Atividades de Investimento Recursos Recebidos pela Venda de Bens Outros Recebimentos por Investimentos Realizados Aquisições de Bens e Direitos para o Ativo (=) Caixa Líquido Consumido pelas Atividades de Investimento Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento Recebimentos de Empréstimos Outros Recebimentos por FinanciamentosPagamentos de Empréstimos Pagamentos de Arrendamento Mercantil (=) Caixa Líquido Consumido pelas Atividades de Financiamento (=) Aumento Líquido de Caixa e Equivalentes de Caixa Caixa e Equivalentes de Caixa no Início do Período Caixa e Equivalentes de Caixa no Fim do Período Fonte: Conselho Federal de Contabilidade (França, 2015). Conforme o Quadro 5, pelo método indireto o resultado, seja superávit ou déficit, é ajustado pelos efeitos de quaisquer transferências ou adaptações por competência sobre recebimentos de caixa ou pagamentos em caixa operacionais de períodos passados ou futuros, e pelos efeitos de itens de receita ou despesa relacionados com fluxo de caixa das atividades de investimento ou de financiamento (Ipecont, 2012). No entanto, “o método direto é recomendado e incentivado pelo IASB. De certa forma, uma DFC apresentada pelo método direto é mais fácil de ser interpretada” (Ipecont, 2012). Independentemente do método de fluxo de caixa escolhido, o seu uso é de extrema importância para a verificação da saúde financeira da organização. Através do seu uso é possível acompanhar o emprego dos recursos financeiros de que a entidade dispunha. TROCANDO IDEIAS Qual a importância da contabilidade para o terceiro setor? Confira: <http://www.administradores.com.br/artigos/carrei ra/a-importancia-da-contabilidade-para-o-terceiro- setor/88213/> 14 NA PRÁTICA A Creche Sonho Feliz foi fundada na década de 1990 com o objetivo assistir gratuitamente crianças carentes de 3 a 5 anos em período integral, já que a Lei da Educação está baseada na Lei de Diretrizes Básicas (LDB), que diz que é obrigatório ao governo disponibilizar creches no período integral apenas para criança de 0 a 3 anos. Dessa forma, muitos pais contam com as creches mantidas por organizações filantrópicas para poderem deixar seus filhos e irem trabalhar, e essas organizações estão sempre atendendo o máximo de sua capacidade. A Creche Sonho Feliz presta serviços para a comunidade sem cobrar nada por eles. Dessa forma, não existe um orçamento de receita de serviços, mas sim um orçamento referente aos gastos incorridos para a sua prestação. Apesar de não ter uma finalidade lucrativa, os orçamentos do resultado e de fluxo de caixa são importantes para conhecer a capacidade da entidade de arcar com seus gastos e os ingressos e desembolsos previstos para o período orçado. O orçamento de fluxo de caixa operacional é o único elaborado pela creche. Ele é projetado de seis em seis meses, de forma a prever os ingressos e desembolsos do período. Tendo como base a projeção de fluxo de caixa da Creche Sonho Feliz, responda: Qual o método de fluxo de caixa utilizado? Com base nos dados apresentados é possível fazer uma projeção confiável da situação da entidade no futuro? Ela precisa de capital externo? O que precisa ser melhorado? Agora faça você mesmo! Planilha ajuda a montar o seu próprio fluxo de caixa: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/art igos/planilha-ajuda-a-fazer-fluxo-de-caixa-da-sua- empresa,adf8d53342603410VgnVCM100000b272 010aRCRD> 15 Quadro 6 – Projeção do fluxo de caixa mensal da Creche Sonho Feliz para os meses de julho a dezembro de 2015 PROJEÇÃO DO FLUXO DE CAIXA MENSAL (em R$) Descrição jun/15 jul/15 ago/15 set/15 out/15 nov/15 dez/15 Saldo inicial 5.384,00 9.399,54 12.582,25 14.437,71 17.930,26 19.190,34 ENTRADAS Benefícios 5.700,00 5.700,00 5.700,00 5.700,00 5.700,00 5.700,00 Carnê 5.510,00 4.627,00 5.192,00 6.735,00 5.973,00 7.349,00 Captação /Doador novo 4.158,00 4.579,00 3.267,00 4.621,00 4.876,00 5.132,00 CEMIG 7.264,00 5.497,00 6.128,00 6.983,00 7.349,00 7.425,00 Eventuais 5.530,00 6.847,00 4.983,00 5.681,00 5.794,00 7.123,00 Fidelizados mensais 5.480,00 5.320,00 5.640,00 5.980,00 6.100,00 7.210,00 TOTAL ENTRADAS 33.642,00 32.570,00 30.910,00 35.700,00 35.792,00 39.939,00 DESEMBOLSOS (-) Despesas com mão de obra (16.639,36) (16.639,36) (16.983,43) (16.639,36) (20.321,43) (20.635,43) (-) Encargos sociais (2.000,70) (2.000,70) (2.114,22) (2.000,70) (3.066,23) (3.066,23) (-) Produtividade (1.800,00) (1.820,00) (935,00) (1.790,00) (1.850,00) (2.160,00) (-) Sindicato (54,00) (273,00) (49,60) (46,78) (53,67) (53,67) (-) Água/Luz/ IPTU (1.009,67) (986,52) (1.002,89) (1.156,24) (1.113,80) (1.001,57) (-) Telefone (2.558,23) (2.632,21) (2.857,80) (3.616,17) (3.876,30) (4.164,50) (-) Material de escritório (324,50) (300,50) (287,60) (598,00) (612,00) (748,30) (-) Combustível (340,00) (315,00) (359,00) (516,00) (498,00) (605,00) (-) Farmácia (110,00) (43,00) (1.259,00) (784,20) (109,00) (467,10) (-) Alimentação (754,00) (489,00) (1.025,00) (1.687,00) (357,00) (450,00) (-) Material de consumo (1.459,00) (846,00) (763,00) (1.941,00) (1.003,50) (1.279,00) (-) Manutenção (1.325,00) (1.830,00) (246,00) - (279,00) (873,00) (-) Seguro de vida (52,00) (52,00) (52,00) (52,00) (52,00) (52,00) (-) Vale transporte (1.200,00) (1.160,00) (1.120,00) (1.380,00) (1.340,00) (1.480,00) TOTAL SAÍDAS (29.626,46) (29.387,29) (29.054,54) (32.207,45) (34.531,93) (37.035,80) Saldo final 5.384,00 9.399,54 12.582,25 14.437,71 17.930,26 19.190,34 22.093,54 Fonte: Reis; Gomes; Araújo; Rodrigues; Santos, 2009. 16 Sugestão de resolução: O método utilizado pela instituição é a demonstração do fluxo de caixa pelo método direto, no entanto, ainda são necessárias mais informações para a demonstração estar completa. É difícil estipular de forma confiável o futuro da organização, já que as receitas são, em sua maioria, provenientes de doações. Dessa forma o volume é incerto, podendo variar de forma significativa de um mês para outro. Como o saldo do fluxo de caixa é positivo, a creche não precisa de financiamento externo: o dinheiro que está disponível pode ser aplicado visando à obtenção de juros, que podem ser úteis em meses em que a instituição receba poucas doações. FINALIZANDO As demonstrações das Mutações do Patrimônio Social e as Demonstrações do Fluxo de Caixa são consideradas parte integrante das Demonstrações Contábeis para algumas organizações. No entanto, as informações obtidas por meio desses relatórios contribuem para o melhor entendimento da situação de qualquer organização, além de ser a base para projetar o futuro dessas entidades. De acordo com o conteúdo apresentado nesta aula foi possível compreender todos os aspectos relacionados às Demonstrações das Mutações do Patrimônio Social, bem como conhecer a legislação que regula a sua elaboração, conceituação, forma de confecção e exemplos para maior compreensão destes. 17 REFERÊNCIAS A IMPORTÂNCIA da demonstração do fluxo de caixa em substituição a demonstração de origens e aplicações de recursos. In: CONGRESSO UFSC DE CONTROLADORIA E FINANÇAS, 3., 2009, Florianópolis. In: Anais... Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2009. Disponível em: <http://dvl.ccn.ufsc.br/congresso/anais/3CCF/20090719232314.pdf>. Acesso em: 16 de set. 2017. ABREU, G. P. Gerenciamento da ferramenta fluxo de caixa em uma entidade sem fins lucrativos. 2010. 57 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Ciências Contábeis) – Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2010. ASSAF NETO, A. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque econômico financeiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1987. AZEVEDO, T. C.; ARAÚJO, F. S. A Evidenciação das Informações Contábeis das OSCIPS (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público)Instaladas em Feira de Santana/BA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CONTABILIDADE, 16., 2004, Balneário Camboriú. Anais..., Balneário Camboriú, 2004. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. ______. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28 dez. 2007. BRASIL. Ministério da fazenda. Comissão de Valores Mobiliários. Instrução CVM 59 de 22 de dezembro de 1986. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/legislacao/inst/inst059.html>. Acesso em: 16 set. 2017. BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional. Manual de contabilidade aplicado ao setor público. Brasília, 2010. Disponível em: <https://www3.tesouro.gov.br/legislacao/download/contabilidade/ParteV_DCAS P.pdf>. Acesso em: 16 set. 2017. CASSAMA, G. A. Análise Econômico-Financeira do Setor de Papel e Celulose: Importância da Análise das Demonstrações Contábeis. 2007. 67 f. 18 Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Ciências Contábeis) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. CAZUMBÁ, N. Papel e importância das instituições do Terceiro Setor. Nossa Causa, 16 jan. 2014. Disponível em: <http://nossacausa.com/papel-e- importancia-das-instituicoes-do-terceiro-setor/>. Acesso em: 16 set. 2017. DEMONSTRAÇÃO das Mutações do Patrimônio Social para os exercícios findos em 31 de dezembro de 2015 e 2014. Asscontas. Disponível em: <http://www.asscontas.org.br/arquivos/site/demonstracao-de-mutacoes-do- patrimonio-social.pdf>. Acesso em: 16 set. 2017. DEMONSTRAÇÃO de Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL). Portal de Contabilidade. Disponível em: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/guia/demonstmutapl.htm>. Acesso em: 16 set. 2017. DINIZ, F. 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