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1 AULA 30 MOMENTO ANGULAR Considere um ponto de referência O no espaço e uma partícula se movendo em linha reta com velocidade 𝒗, sob a ação de uma força constante 𝑭. O vetor posição 𝒓 da partícula, em relação à O, irá variar com o tempo, como ilustrado para dois instantes t0 e t1 abaixo, fazendo com que o menor ângulo 𝝋 entre os vetores 𝒓 e 𝑭 também varie. Direção de 𝒗 𝑭 𝑭 𝒓𝟎 𝒓𝟏 𝑶 𝝋𝟎 𝝋𝟏 Momento angular de uma partícula em movimento retilíneo: AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 2 𝝉 = 𝒓 ∙ 𝑭 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 Podemos considerar essa variação no ângulo como sendo resultado de um torque produzido por 𝑭 na partícula, em relação à origem O. Como já vimos, o torque é calculado por Como 𝑭 é a única força agindo na partícula, 𝑭 = 𝒎 ∙ 𝒂 e: 𝝉 = 𝒓 ∙ 𝒎 ∙ 𝒂 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 Sabemos que 𝒂 = 𝒅𝒗 𝒅𝒕 , portanto: 𝝉 = 𝒓 ∙ 𝒅 𝒎 ∙ 𝒗 𝒅𝒕 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 Já vimos que 𝒑 = 𝒎 ∙ 𝒗, de forma que: AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 3 𝝉 = 𝒅 𝒓 ∙ 𝒑 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 𝒅𝒕 Ou seja, o torque é a taxa de variação temporal de alguma coisa. Essa alguma coisa é chamada MOMENTO ANGULAR. Pela forma apresentada entre parênteses, deduzimos que o momento angular é o produto vetorial entre o vetor posição 𝒓 e o vetor momento linear 𝒑. Ԧ𝒍 = 𝒓 × 𝒑 = 𝒎 ∙ 𝒓 × 𝒗 Unidade: [m.kg.m/s] = [J.s] Momento Angular 𝝉𝒓𝒆𝒔 = 𝒅 Ԧ𝒍 𝒅𝒕 2ª lei de Newton AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 4 Módulo: Direção: 𝒍 = 𝒎 ∙ 𝒓 ∙ 𝒗 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 Para o vetor momento angular: Perpendicular ao plano formado por 𝒓 e 𝒗 Sentido: Determinado pela regra da mão direita (entrando ou saindo do plano) Graficamente, o vetor momento angular é representado por uma seta com início na origem O em relação à qual ele é calculado. 𝒓𝟎 𝑶 𝝋𝟎 𝒗 Ԧ𝒍 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 5 𝑭 𝑭 𝒓𝟎 𝒓𝟏 𝑶 𝝋𝟎 𝝋𝟏 No caso de uma partícula em movimento retilíneo: 𝒍 = 𝒓 ∙ 𝒎 ∙ 𝒗 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 𝒍 = 𝒎 ∙ 𝒗 ∙ 𝒓 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 𝒓⊥ Embora 𝒓 e 𝝋 variem com o tempo, o produto 𝒓 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 = 𝒓⊥ permanece constante. O 𝒓⊥ é chamado “braço de momento” e corresponde à distância perpendicular entre a origem O e a direção da velocidade 𝒗 da partícula. Direção de 𝒗 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 6 Note que mesmo uma partícula em MRU (sob ação de força resultante nula) pode ter momento angular Ԧ𝒍 em relação à uma origem O qualquer. O fato de não haver força resultante indica que não há torque resultante, o que significa que não há variação de Ԧ𝒍 com o passar do tempo. Mas como a partícula tem uma velocidade (constante) 𝒗, ela terá momento angular (também constante) de módulo 𝒍 = 𝒎 ∙ 𝒗 ∙ 𝒓⊥. 𝝉𝒓𝒆𝒔 = 𝒅 Ԧ𝒍 𝒅𝒕 𝒅 Ԧ𝒍 𝒅𝒕 = 𝟎 Ԧ𝒍 = 𝒄𝒕𝒆 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 7 Momento angular de uma partícula em movimento circular em torno da origem: 𝒗 𝑶 𝝋 𝒓 𝑹 No movimento circular, a velocidade da partícula estará sempre na direção tangencial, enquanto que a distância até o centro estará sempre na direção radial. Assim, o ângulo 𝝋 entre 𝒗 e 𝒓 será sempre 90°. 𝒍 = 𝒓 ∙ 𝒎 ∙ 𝒗 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝟗𝟎° Também já vimos que, num movimento circular, vale a relação 𝒗 = 𝝎 ∙ 𝒓 𝒍 = 𝒓 ∙ 𝒎 ∙ 𝝎 ∙ 𝒓 ∙ 𝟏 𝒍 = 𝒎 ∙ 𝒓𝟐 ∙ 𝝎 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 8 Mas, para uma partícula, o produto 𝒎 ∙ 𝒓𝟐 representa justamente o momento de inércia I. Então, para o caso em questão, podemos escrever: Ԧ𝒍 = 𝑰 ∙ 𝝎 𝒗 𝑶 𝝋 𝒓 𝑹 Ԧ𝒍 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 9 Novamente a 2ª lei de Newton na forma angular: Já tínhamos visto uma forma da 2ª lei de Newton para o caso angular: 𝝉𝒓𝒆𝒔 = 𝑰 ∙ 𝜶 Como a aceleração angular é a taxa de variação da velocidade angular com o tempo, isso equivale a: 𝝉𝒓𝒆𝒔 = 𝑰 ∙ 𝒅𝝎 𝒅𝒕 Substituindo nessa equação o valor de 𝝎 vindo da equação no slide anterior, ficaremos com: AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 10 𝝉𝒓𝒆𝒔 = 𝑰 ∙ 𝒅 ൗ Ԧ𝒍 𝑰 𝒅𝒕 𝝉𝒓𝒆𝒔 = 𝒅Ԧ𝒍 𝒅𝒕 E, como já havia sido mencionado, a 2ª lei de Newton diz que o torque resultante sobre uma partícula é igual à variação do momento angular com o tempo. Daí, já podemos inferir que se o torque resultante sobre uma partícula for nulo, não haverá variação do momento angular e, portanto, Ԧ𝒍 se conservará. Note que esse caso é análogo ao da 2ª lei de Newton na forma translacional, a qual diz que quando a força resultante sobre uma partícula for nula, não haverá variação do momento linear e, portanto, 𝒑 se conservará. AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 11 Momento angular para um sistema de partículas: O momento angular 𝑳 de um sistema composto de n partículas em relação à uma origem O qualquer será dado pela soma vetorial dos momentos angulares Ԧ𝒍𝒊 de cada partícula em relação àquela origem O: 𝑳 = Ԧ𝒍𝟏 + Ԧ𝒍𝟐 + Ԧ𝒍𝟑 +⋯+ Ԧ𝒍𝒏 = 𝒊=𝟏 𝒏 Ԧ𝒍𝒊 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 12 Com o passar do tempo, os momentos angulares Ԧ𝒍𝒊 de cada partícula podem variar tanto devido à interações internas do sistema como à interações entre o sistema e o exterior. Os torques devidos à interações internas entre as partículas se cancelarão para o sistema como um todo, pois as forças internas entre pares de partículas terão sempre a mesma linha de ação, o mesmo módulo, mas sentidos contrários, gerando assim torques internos de mesmo módulo porém sentidos contrários. Dessa forma, apenas torques externos podem mudar o momento angular do sistema e podemos escrever a 2ª lei de Newton como: 𝝉𝒓𝒆𝒔𝑬𝒙𝒕 = 𝒅𝑳 𝒅𝒕 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 13 Momento angular para um corpo rígido que gira em torno de um eixo fixo (em rotação): 𝑶 (eixo fixo) 𝒗𝒊 𝝋 𝒓𝒊 𝝎 𝒎𝒊 Para um corpo extenso, cada partícula é um elemento de massa infinitesimal 𝒎𝒊 . É necessário somar a contribuição de todos esses elementos para o momento angular do corpo 𝑳. Como o corpo é rígido, todos os elementos terão a mesma 𝝎 e para todos valerá a relação 𝒗𝒊 = 𝝎 ∙ 𝒓𝒊. Além disso, o ângulo entre 𝒓𝒊 e 𝒗𝒊 será sempre 90°. Considerando uma “fatia” bem fina do corpo, contida no plano X-Y, os Ԧ𝒍𝒊 de todos elementos estarão na direção Z e serão: 𝒚 𝒙 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 14 𝒍𝒊 = 𝒓𝒊 ∙ 𝒎𝒊 ∙ 𝒗𝒊 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝟗𝟎° 𝒍𝒊 = 𝒎𝒊 ∙ 𝒓𝒊 𝟐 ∙ 𝝎𝒍𝒊 = 𝒓𝒊 ∙ 𝒎𝒊 ∙ 𝝎 ∙ 𝒓𝒊 ∙ 𝟏 Porém, as outras “fatias” do corpo não estarão no plano X-Y e, portanto, terão componentes do momento angular que não estarão na direção Z. Para evitar a complicação de trabalhar com um 𝑳 que tenha componentes em X, Y e Z, só trabalharemos com casos onde o eixo de rotação é um eixo de simetria, de forma que as contribuições em X e Y vindas de elementos em lados opostos do eixo se cancelem na soma do 𝑳 total. Isso nos permite escrever: 𝑳 = 𝑰 ∙ 𝝎 Onde 𝑳 e 𝝎 estarão sempre sobre o eixo de rotação, que será considerado o eixo Z. AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 15 Conservação do momento angular: Sempre que um sistema discreto ou contínuo estiver isolado (força resultante externa sobre o sistema for nula) o momento angular do sistema se conservará (como já mencionado na 2ª lei de Newton): 𝑳𝒊 = 𝑳𝒇 Mesmo que o sistema não esteja isolado, o momento angular L ainda pode se conservar, desde que o torque resultante devido a agentes externos seja nulo. AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 16 Exemplo: Considere dois discos A e B, onde A é o volante de um motor e B é um disco ligado à um eixo de transmissão. Seus momentos de inércia são IA e IB. Inicialmente, eles giram com velocidades angulares diferentes, wA e wB, respectivamente. A seguir, os discos são empurrados um contra o outro, por forças externas que atuam ao longo da direção doeixo (ver figura no próximo slide). Após se acoplarem, os discos atingem a mesma wF e giram como um corpo só. a) Deduza uma expressão para wF . b) Sendo wA = 50,0 rad/s; mA = 2,00 kg; rA = 0,200 m; wB = 200 rad/s; mB = 4,00 kg e rB = 0,100 m, calcule o valor de wF . c) A energia cinética se conserva durante o processo? Por quê? AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 17 Como não há torque externo resultante (ver figura), o momento angular se conserva. 𝑳𝒊 = 𝑳𝒇 𝑰𝑨 ∙ 𝝎𝑨 + 𝑰𝑩 ∙ 𝝎𝑩 = 𝑰𝑨 + 𝑰𝑩 ∙ 𝝎𝑭 𝝎𝑭 = 𝑰𝑨 ∙ 𝝎𝑨 + 𝑰𝑩 ∙ 𝝎𝑩 𝑰𝑨 + 𝑰𝑩 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 18 𝝎𝑭 = 𝟏 𝟐 ∙ 𝒎𝑨 ∙ 𝒓𝑨 𝟐 ∙ 𝝎𝑨 + 𝟏 𝟐 ∙ 𝒎𝑩 ∙ 𝒓𝑩 𝟐 ∙ 𝝎𝑩 𝟏 𝟐 ∙ 𝒎𝑨 ∙ 𝒓𝑨 𝟐 + 𝟏 𝟐 ∙ 𝒎𝑩 ∙ 𝒓𝑩 𝟐 Como o eixo de rotação está no centro dos discos, usamos ICM. 𝝎𝑭 = 𝟎, 𝟎𝟒 ∙ 𝟓𝟎 + 𝟎, 𝟎𝟐 ∙ 𝟐𝟎𝟎 𝟎, 𝟎𝟒 + 𝟎, 𝟎𝟐 𝝎𝑭 = 𝟏𝟎𝟎 rad/s AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 19 A energia cinética de rotação é dada por 𝑲 = 𝟏 𝟐 ∙ 𝑰 ∙ 𝝎𝟐 𝑲𝒊 = 𝟏 𝟐 ∙ 𝑰𝑨 ∙ 𝝎𝑨 𝟐 + 𝟏 𝟐 ∙ 𝑰𝑩 ∙ 𝝎𝑩 𝟐 𝑲𝒊 = 𝟒𝟓𝟎 J 𝑲𝑭 = 𝟏 𝟐 ∙ 𝑰𝑨 + 𝑰𝑩 ∙ 𝝎𝑭 𝟐 𝑲𝑭 = 𝟑𝟎𝟎 J 𝚫𝑲 = −𝟏𝟓𝟎 J A energia cinética não se conserva porque há atrito entre os discos, responsável por eles atingirem a mesma velocidade angular ao entrarem em contato. Sendo uma força interna, o atrito não causa torque resultante, de forma que 𝑳 se conserva. Mas como o atrito é dissipativo, parte da K inicial se transforma em calor. AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 20 Exemplo: Uma porta de 1,0 m de largura e massa 15 kg é presa por uma dobradiça na sua lateral, que lhe permite girar livremente em torno de um eixo vertical. A porta está destrancada quando um policial dispara uma bala de massa 10 g e velocidade 400 m/s em linha reta na direção do centro da porta. Determine a velocidade angular da porta logo após a bala ter ficado alojada nela. Trate a porta como se fosse uma barra homogênea com comprimento de 1,0 m. Há conservação da energia cinética? AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 21 𝝉𝒓𝒆𝒔𝑬𝒙𝒕 = 𝟎 𝑳𝒊 = 𝑳𝒇𝑳 = 𝒍𝒃𝒂𝒍𝒂 + 𝒍𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂 𝑳𝒊 = 𝟎, 𝟎𝟏 ∙ 𝟎, 𝟓 ∙ 𝟒𝟎𝟎 + 𝟎 𝑳𝒊 = 𝒎𝒃 ∙ 𝒗𝒊𝒃 ∙ 𝒓𝒃 ∙ 𝐬𝐞𝐧𝝋 + 𝑰𝒑 ∙ 𝝎𝒊𝒑 𝑳𝒊 = 𝟐, 𝟎 J.s Como a porta gira em torno de um eixo fixo vertical (na dobradiça), esse eixo de rotação deve ser tomado como a origem em relação à qual será calculado o momento angular. Como a bala fica alojada na porta, o momento angular final é o dos dois objetos juntos rotacionando em torno da dobradiça. 𝑳𝒇 = 𝑰𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 ∙ 𝝎𝒇 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 22 𝑰𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 = 𝑰𝒃𝒂𝒍𝒂 + 𝑰𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂 Partícula no meio da porta 𝑰𝒃𝒂𝒍𝒂 = 𝒎𝒃 ∙ 𝒓𝒃 𝟐 𝑰𝒃𝒂𝒍𝒂 = 𝟎, 𝟎𝟏 ∙ 𝟎, 𝟓 𝟐 𝑰𝒃𝒂𝒍𝒂 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟐𝟓 kg.m 2 Barra com eixo na ponta 𝑰𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂 = 𝟏 𝟑 ∙ 𝒎𝒑 ∙ 𝑳𝒑 𝟐 𝑰𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂 = 𝟏 𝟑 ∙ 𝟏𝟓 ∙ 𝟏 𝟐 𝑰𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂 = 𝟓, 𝟎 kg.m 2 𝑰𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟐𝟓 + 𝟓 = 𝟓, 𝟎𝟎𝟐𝟓 kg.m 2 AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 23 𝝎𝒇 = 𝑳𝒇 𝑰𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 = 𝑳𝒊 𝑰𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 𝝎𝒇 = 𝟐, 𝟎 𝟓, 𝟎𝟎𝟐𝟓 = 𝟎, 𝟒𝟎 rad/s Como se trata de uma colisão perfeitamente inelástica, não deve haver conservação da energia cinética. Para provar isso calculamos Ki e Kf : 𝑲𝒊 = 𝟏 𝟐 ∙ 𝒎𝒃 ∙ 𝒗𝒃 𝟐 𝑲𝒊 = 𝟖𝟎𝟎 J 𝑲𝒇 = 𝟏 𝟐 ∙ 𝑰𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 ∙ 𝝎𝒇 𝟐 𝑲𝒇 = 𝟎, 𝟒𝟎 J AULA 30 – MOMENTO ANGULAR 24 Ou seja, a energia cinética final é 2000 vezes menor do que a energia cinética inicial.
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