Buscar

RECURSO ESPECIAL N 1 586 910 limitacao de desconto em conta corrente pdf

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : ISAC GONCALVES 
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420 
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A 
ADVOGADO : FERNANDO ALVES DE PINHO E OUTRO(S) - RJ097492 
RECORRIDO : OS MESMOS 
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÕES DE MÚTUO FIRMADO COM 
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DESCONTO EM CONTA-CORRENTE E 
DESCONTO EM FOLHA. HIPÓTESES DISTINTAS. APLICAÇÃO, 
POR ANALOGIA, DA LIMITAÇÃO LEGAL AO EMPRÉSTIMO 
CONSIGNADO AO MERO DESCONTO EM CONTA-CORRENTE, 
SUPERVENIENTE AO RECEBIMENTO DA REMUNERAÇÃO. 
INVIABILIDADE. DIRIGISMO CONTRATUAL, SEM SUPEDÂNEO 
LEGAL. IMPOSSIBILIDADE. 
1. A regra legal que fixa a limitação do desconto em folha é salutar, 
possibilitando ao consumidor que tome empréstimos, obtendo 
condições e prazos mais vantajosos, em decorrência da maior 
segurança propiciada ao financiador. O legislador ordinário concretiza, 
na relação privada, o respeito à dignidade humana, pois, com 
razoabilidade, limitam-se os descontos compulsórios que incidirão 
sobre verba alimentar, sem menosprezar a autonomia privada.
2. O contrato de conta-corrente é modalidade absorvida pela prática 
bancária, que traz praticidade e simplificação contábil, da qual 
dependem várias outras prestações do banco e mesmo o cumprimento 
de pagamento de obrigações contratuais diversas para com terceiros, 
que têm, nessa relação contratual, o meio de sua viabilização. A 
instituição financeira assume o papel de administradora dos recursos 
do cliente, registrando lançamentos de créditos e débitos conforme os 
recursos depositados, sacados ou transferidos de outra conta, pelo 
próprio correntista ou por terceiros.
3. Como característica do contrato, por questão de praticidade, 
segurança e pelo desuso, a cada dia mais acentuado, do pagamento 
de despesas em dinheiro, costumeiramente o consumidor centraliza, 
na conta-corrente, suas despesas pessoais, como, v.g., luz, água, 
telefone, tv a cabo, cartão de crédito, cheques, boletos variados e 
demais despesas com débito automático em conta.
4. Consta, na própria petição inicial, que a adesão ao contrato de 
conta-corrente, em que o autor percebe sua remuneração, foi 
espontânea, e que os descontos das parcelas da prestação - 
conjuntamente com prestações de outras obrigações firmadas com 
terceiros - têm expressa previsão contratual e ocorrem posteriormente 
ao recebimento de seus proventos, não caracterizando consignação 
em folha de pagamento. 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
5. Não há supedâneo legal e razoabilidade na adoção da mesma 
limitação, referente a empréstimo para desconto em folha, para a 
prestação do mútuo firmado com a instituição financeira 
administradora da conta-corrente. Com efeito, no âmbito do direito 
comparado, não se extrai nenhuma experiência similar - os exemplos 
das legislações estrangeiras, costumeiramente invocados, buscam, por 
vezes, com medidas extrajudiciais, solução para o superendividamento 
ou sobreendividamento que, isonomicamente, envolvem todos os 
credores, propiciando, a médio ou longo prazo, a quitação do débito.
6. À míngua de novas disposições legais específicas, há procedimento, 
já previsto no ordenamento jurídico, para casos de 
superendividamento ou sobreendividamento - do qual podem lançar 
mão os próprios devedores -, que é o da insolvência civil.
7. A solução concebida pelas instâncias ordinárias, em vez de 
solucionar o superendividamento, opera no sentido oposto, tendo o 
condão de eternizar a obrigação, visto que leva à amortização negativa 
do débito, resultando em aumento mês a mês do saldo devedor. 
Ademais, uma vinculação perene do devedor à obrigação, como a que 
conduz as decisões das instâncias ordinárias, não se compadece com 
o sistema do direito obrigacional, que tende a ter termo.
8. O art. 6º, parágrafo 1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro confere proteção ao ato jurídico perfeito, e, consoante os 
arts. 313 e 314 do CC, o credor não pode ser obrigado a receber 
prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.
9. A limitação imposta pela decisão recorrida é de difícil 
operacionalização, e resultaria, no comércio bancário e nas vendas a 
prazo, em encarecimento ou até mesmo restrição do crédito, 
sobretudo para aqueles que não conseguem comprovar a renda.
10. Recurso especial do réu provido, julgado prejudicado o do autor.
 
 
 ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Quarta Turma do 
Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas 
taquigráficas Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Ministro Antonio Carlos 
Ferreira, acompanhando o relator,, por maioria, dar provimento ao recurso especial do 
BANCO DO BRASIL S/A para julgar improcedente o pedido inicial, e declarar prejudicado 
o recurso especial de ISAC GONÇALVES, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. 
Vencidos os Srs. Ministros Raul Araujo e Marco Buzzi, que negavam 
provimento a ambos os recursos especiais. A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti e o Sr. 
Ministro Antonio Carlos Ferreira (Presidente) (voto-vista) votaram com o Sr. Ministro 
Relator. 
 
Brasília (DF), 29 de agosto de 2017(Data do Julgamento)
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO 
Relator
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 3 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
 
RECORRENTE : ISAC GONCALVES 
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420 
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A 
ADVOGADO : FERNANDO ALVES DE PINHO E OUTRO(S) - RJ097492 
RECORRIDO : OS MESMOS 
RELATÓRIO
O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator): 
1. Isac Gonçalves ajuizou, em março de 2014, ação em face do Banco do 
Brasil S.A., narrando ser militar aposentado e titular de conta-corrente - em que também 
recebe seus proventos -, realizando "transações normais de débito e crédito que 
envolvem relacionamentos comerciais dessa espécie" (fl.2). Aduz que o contrato 
estabelece cheque especial, representando crédito rotativo no valor de R$ 2.800,00 (dois 
mil e oitocentos reais).
Expõe que, durante o relacionamento contratual com o réu, foram firmadas 
várias negociações, resultando em crédito pessoal - muitas obrigações já quitadas -, e 
que, aceitando a sugestão do gerente de sua agência bancária para a obtenção de mútuo 
com juros menores que os do cheque especial, e para a cobertura de débitos existentes, 
firmou operação para renovação e consignação, no valor de R$ 114.480,55, a ser pago 
em 85 parcelas mensais de R$ 2.543,56, vencendo-se a primeira em 5/1/2014 e a última 
em 5/1/2021. 
Esclarece, ainda, que os débitos vêm sendo efetuados em sua 
conta-corrente e, todo mês, depois que recebe seus proventos, praticamente 50% do 
valor depositado é descontado para o pagamento da prestação contratual, restringindo-se 
o montante da verba utilizada para satisfação de suas demais despesas pessoais e 
familiares.
Afirma que o réu age como verdadeiro "sócio" de seus proventos, não se 
importando com o princípio da dignidade da pessoa humana, devendo ser determinada a 
proibição dos descontos para pagamento das parcelas do crédito pessoal. 
O Juízo da 5ª Vara Cível de Marília julgou parcialmente procedente o pedido 
formulado na inicial para, confirmando a liminar em antecipação dos efeitos da tutela, 
limitar o desconto em conta-corrente ao montante de 30% dos vencimentos líquidos do 
autor.
Interpuseram as partes litigantes apelação para o Tribunal de Justiça de 
Documento:1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 4 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
São Paulo, que negou provimento aos recursos.
A decisão tem a seguinte ementa:
Apelação. Ação declaratória de ilegalidade de retenção de salário. Falta de 
interesse de agir. Preliminar rejeitada. Aplicabilidade do CDC. Desconto em 
conta corrente superior a 30% dos vencimentos líquidos do autor. 
Inadmissibilidade. Observância ao princípio da razoabilidade e do caráter 
alimentar dos vencimentos. Não aplicação do Decreto Estadual 51.314/2006. 
Lei nº 10.820/03 regulamentou as autorizações para descontos de prestações 
originadas de contratos de empréstimos bancários em folha de pagamentos 
dos empregados da iniciativa privada e também dos servidores públicos, ao 
limite máximo de trinta por cento da remuneração disponível. Sentença de 
parcial procedência mantida. Recursos improvidos.
Sobreveio recurso especial do autor Isac Gonçalves e do réu Banco do 
Brasil.
No recurso especial interposto pelo réu Banco do Brasil, com fundamento 
no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, alega o recorrente que: a) 
o recurso pretende impugnar o acórdão recorrido que confirmou a decisão de primeira 
instância, limitando o desconto das parcelas da prestação contratual a 30% dos 
rendimentos líquidos da recorrida; b) os artigos da Lei n. 10.820/2003, invocados na 
decisão recorrida, foram violados, pois dizem respeito a empréstimos consignados de 
empregados submetidos à CLT; c) por ser o autor servidor público, estavam corretos os 
descontos efetuados, que eram inferiores a 50% dos rendimentos líquidos, conforme 
previsto no art. 6º do Decreto estadual n. 51.314/2006; d) o acórdão recorrido viola o art. 
6º, parágrafo 1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pois, ao assinar o 
contrato, o recorrido, plenamente capaz, estava apto a assumir a obrigação pactuada, 
que caracteriza ato jurídico perfeito; e) conforme os arts. 313 e 314 do CC, o credor não é 
obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa, e não 
se pode obrigar o credor a receber por partes.
Em contrarrazões, afirma o recorrido que: a) não houve violação da lei 
Federal, e não há demonstração, estreme de dúvidas, da divergência jurisprudencial; b) o 
recorrente pretende o reexame de provas; c) não houve prequestionamento; d) Decreto 
estadual não enseja interposição de REsp; e) o banco nem mais se preocupa ou exige 
que o mutuário comprove renda, para saber se a prestação do financiamento pode 
comprometer a subsistência do consumidor; f) na ação de alimentos, não se admite 
desconto de 50% dos rendimentos do alimentante, mormente em relação obrigacional, 
como é o caso do financiamento; g) o art. 7º, X, da CF garante a proteção do salário na 
forma da lei; h) ninguém será privado de seus bens sem o devido processo legal; i) o fato 
de ter autorizado o desconto das prestações não tem o condão de elidir a necessidade da 
medida vindicada; j) cabe a aplicação da teoria da quebra da base negocial, centrada na 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 5 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
boa-fé objetiva; k) recebe, na conta-corrente, seus salários, e o débito de dívidas diversas 
e amortizações na referida conta-corrente somente podem ser efetuados com a expressa 
autorização do titular; l) houve burla à vedação do art. 649 do CPC/1973 à penhora de 
salário; m) a partir do dissentimento do correntista, passou a ser indevida a cobrança das 
prestações em conta-corrente.
No recurso especial interposto por Isac Gonçalves, com fundamento no 
artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, alega o recorrente que: a) a 
relação contratual é de consumo, e que o desequilíbrio contratual está caracterizado, pois 
aderiu a um contrato de adesão, pré-elaborado; b) o art. 7º, X, da CF prevê a proteção ao 
salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa, e o art. 5º, LIV estabelece 
que ninguém será privado de seus bens sem o devido processo legal; c) o art. 649, IV, 
do CPC/1973 estabelece ser absolutamente impenhoráveis os vencimentos, subsídios, 
soldos, salários, remunerações e proventos de aposentadoria; d) o fato de ter autorizado 
os descontos não tem o condão de elidir a necessidade de ser vedado ao banco o 
desconto de qualquer percentual, para o pagamento das prestações contratuais; e) 
conforme precedente de outro Tribunal estadual, é necessária a autorização do titular 
para desconto de contrato de mútuo em folha de pagamento. 
Em contrarrazões, afirma o recorrido que: a) não houve prequestionamento; 
b) o recorrente pretende o reexame de provas; c) não pode o recorrente celebrar 
empréstimos, beneficiar-se dos valores disponibilizados e buscar o Judiciário para não 
pagar o que deve.
Os recursos especiais foram admitidos.
É o relatório. 
 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 6 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
 
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : ISAC GONCALVES 
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420 
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A 
ADVOGADO : FERNANDO ALVES DE PINHO E OUTRO(S) - RJ097492 
RECORRIDO : OS MESMOS 
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÕES DE MÚTUO FIRMADO COM 
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DESCONTO EM CONTA-CORRENTE E 
DESCONTO EM FOLHA. HIPÓTESES DISTINTAS. APLICAÇÃO, 
POR ANALOGIA, DA LIMITAÇÃO LEGAL AO EMPRÉSTIMO 
CONSIGNADO AO MERO DESCONTO EM CONTA-CORRENTE, 
SUPERVENIENTE AO RECEBIMENTO DA REMUNERAÇÃO. 
INVIABILIDADE. DIRIGISMO CONTRATUAL, SEM SUPEDÂNEO 
LEGAL. IMPOSSIBILIDADE. 
1. A regra legal que fixa a limitação do desconto em folha é salutar, 
possibilitando ao consumidor que tome empréstimos, obtendo 
condições e prazos mais vantajosos, em decorrência da maior 
segurança propiciada ao financiador. O legislador ordinário concretiza, 
na relação privada, o respeito à dignidade humana, pois, com 
razoabilidade, limitam-se os descontos compulsórios que incidirão 
sobre verba alimentar, sem menosprezar a autonomia privada.
2. O contrato de conta-corrente é modalidade absorvida pela prática 
bancária, que traz praticidade e simplificação contábil, da qual 
dependem várias outras prestações do banco e mesmo o cumprimento 
de pagamento de obrigações contratuais diversas para com terceiros, 
que têm, nessa relação contratual, o meio de sua viabilização. A 
instituição financeira assume o papel de administradora dos recursos 
do cliente, registrando lançamentos de créditos e débitos conforme os 
recursos depositados, sacados ou transferidos de outra conta, pelo 
próprio correntista ou por terceiros.
3. Como característica do contrato, por questão de praticidade, 
segurança e pelo desuso, a cada dia mais acentuado, do pagamento 
de despesas em dinheiro, costumeiramente o consumidor centraliza, 
na conta-corrente, suas despesas pessoais, como, v.g., luz, água, 
telefone, tv a cabo, cartão de crédito, cheques, boletos variados e 
demais despesas com débito automático em conta.
4. Consta, na própria petição inicial, que a adesão ao contrato de 
conta-corrente, em que o autor percebe sua remuneração, foi 
espontânea, e que os descontos das parcelas da prestação - 
conjuntamente com prestações de outras obrigações firmadas com 
terceiros - têm expressa previsão contratual e ocorrem posteriormente 
ao recebimento de seus proventos, não caracterizando consignação 
em folha de pagamento. 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 7 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
5. Não há supedâneo legal e razoabilidade na adoção da mesma 
limitação, referente a empréstimo para desconto em folha, para a 
prestaçãodo mútuo firmado com a instituição financeira 
administradora da conta-corrente. Com efeito, no âmbito do direito 
comparado, não se extrai nenhuma experiência similar - os exemplos 
das legislações estrangeiras, costumeiramente invocados, buscam, por 
vezes, com medidas extrajudiciais, solução para o superendividamento 
ou sobreendividamento que, isonomicamente, envolvem todos os 
credores, propiciando, a médio ou longo prazo, a quitação do débito.
6. À míngua de novas disposições legais específicas, há procedimento, 
já previsto no ordenamento jurídico, para casos de 
superendividamento ou sobreendividamento - do qual podem lançar 
mão os próprios devedores -, que é o da insolvência civil.
7. A solução concebida pelas instâncias ordinárias, em vez de 
solucionar o superendividamento, opera no sentido oposto, tendo o 
condão de eternizar a obrigação, visto que leva à amortização negativa 
do débito, resultando em aumento mês a mês do saldo devedor. 
Ademais, uma vinculação perene do devedor à obrigação, como a que 
conduz as decisões das instâncias ordinárias, não se compadece com 
o sistema do direito obrigacional, que tende a ter termo.
8. O art. 6º, parágrafo 1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro confere proteção ao ato jurídico perfeito, e, consoante os 
arts. 313 e 314 do CC, o credor não pode ser obrigado a receber 
prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.
9. A limitação imposta pela decisão recorrida é de difícil 
operacionalização, e resultaria, no comércio bancário e nas vendas a 
prazo, em encarecimento ou até mesmo restrição do crédito, 
sobretudo para aqueles que não conseguem comprovar a renda.
10. Recurso especial do réu provido, julgado prejudicado o do autor.
 
VOTO
O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator): 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 8 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
2. Em razão de sua prejudicialidade, primeiro aprecio o recurso especial do 
Banco do Brasil.
Nesse passo, como incontroversa está a pactuação e a existência de 
conta-corrente, a principal questão controvertida consiste em saber se o banco pode 
descontar as prestações do empréstimo contratado pelo autor na mesma conta-corrente 
em que o cliente recebe seus proventos - não se tratando aqui de conta salário exclusiva 
-, e se é possível o estabelecimento da mesma limitação referente a consignações em 
folha de pagamento.
Para melhor compreensão da controvérsia, transcreve-se trecho da 
sentença:
O pedido de liminar foi parcialmente deferido às fls. 35/36.
[...]
O autor, correntista do banco-réu, sustenta que está sendo debitada 
quantia de aproximadamente 50% (cinquenta por cento) de seus 
proventos, em decorrência do contrato de crédito rotativo para quitação 
de débitos anteriores. Em função disso, está passando por vários 
transtornos.
[...]
A existência dos contratos é fato incontroverso, não havendo vícios de 
invalidade.
Por outro ângulo, não se pode olvidar que o autor autorizou 
expressamente os descontos das parcelas dos empréstimos tomados 
junto ao réu diretamente em sua conta corrente.
O contrato firmado entre as partes autoriza os descontos das parcelas 
dos empréstimos, diretamente na conta corrente do autor. Não se 
cogitou coação na subscrição do contrato e tampouco se vê ofensa a 
norma do Código de Defesa do Consumidor, de modo que, em princípio 
deve ser cumprido.
O crédito de salário e o subsequente débito por conta do empréstimo 
tomado decorrem da própria essência do negócio firmado entre as 
partes, razão pela qual não há que se falar em ofensa a nenhum 
dispositivo de lei.
A propósito, é de reforçar-se a ausência dos requisitos previstos no artigo 51, 
§ 1º, do CDC para presumir-se exagerada a desvantagem do consumidor.
Com efeito, autorizar o débito em conta ou em folha não ofender o princípio 
da autonomia da vontade, que norteia a liberdade de contratar. Tal cláusula 
não atinge o equilíbrio contratual ou a boa-fé do consumidor, uma vez 
que se traduz em mero expediente para facilitar a satisfação da dívida 
perante o credor.
Ainda, a autorização constante do contrato, por si só, não revela ônus 
para o consumidor, muito menos ônus excessivo, normalmente o 
empréstimo de dinheiro nestas condições é oferecido em condições 
mais vantajosas, beneficiado por taxas de juros reduzidas e prazos mais 
longos, além da dispensa de caução.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 9 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
[...]
Tal limite dever ser observado ainda que exista cláusula contratual em 
sentido diverso.
Desta forma, os descontos em 30% dos vencimentos líquidos recebidos pelo 
autor já são favoráveis ao banco.
Em nada socorre o réu invocar em seu favor o Decreto Estadual nº 
51.314/2006.
Com efeito, descontos em valor superior a 30% dos vencimentos do 
autor mostram-se excessivos, visto o caráter alimentar da verba 
recebida.
Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente ação 
declaratória proposta por ISAC GONÇALVES contra BANCO DO BRASIL 
S/A., ambos com qualificação nos autos, para o fim de determinar ao réu a 
proceder ao desconto do contrato, com cláusula de desconto em folha de 
pagamento, ou mesmo em conta corrente até o montante de 30% dos 
vencimentos líquidos do autor, sob pena de multa diária no valor de R$ 
1.000,00, tornando definitiva liminar parcialmente concedida às fls. 35/36.
Arcará o banco réu com o pagamento de custas e despesas processuais, 
bem como honorários de advogado que fixo em 15% sobre o valor atualizado 
da causa.
O acórdão recorrido assinalou:
O autor, Isac, recorre aduzindo que estão presentes no caso em exame a 
ocorrência da onerosidade excessiva e a ofensa ao princípio da boa-fé 
objetiva. Alega que o contrato é de adesão e que houve abuso de iniciativa 
do banco, diante da ausência de consentimento lúcido do apelante, 
acarretando nulidade absoluta do que fora unilateralmente imposto, o que foi 
desconsiderado pelo Juízo a quo. Invoca a aplicação das regras previstas no 
Código de Defesa do Consumidor e que o banco não pode repassar para o 
apelante o risco de sua atividade. Afirma que a existência no contrato de 
cláusula que permite a apropriação do salário do autor pelo banco para 
pagamento de empréstimos é ilícita, portanto, nula de pleno direito, pois viola 
os artigos 1º, III, 7º, X, da Constituição Federal, art. 51, IV, do Código de 
Defesa do Consumidor, bem como o artigo 649, IV, do Código de Processo 
Civil. 
[...]
O réu também apela, arguindo em preliminar a falta de interesse de agir do 
autor, tendo em vista que o contrato firmado corresponde a um ato jurídico 
perfeito e acabado. Sustenta que a intervenção judicial só tem guarida pelo 
advento de acontecimentos extraordinários e imprevistos, que tornem a 
prestação de uma das partes excessivamente onerosa, com aplicação mais 
adstrita ao campo dos contratos administrativos, embasada na cláusula 
medieval "rebus sic stantibus", o que salienta não ser o caso dos autos. No 
mérito, afirma que a liquidação das prestações são debitadas por disposição 
contratual e que os empréstimos foram disponibilizados e usufruídos pelo 
apelado, não podendo o banco ser impedido de efetuar as cobranças vez que 
contratualmente assumidas pelas partes.
[...]
Primeiramente, cumpre destacar que o autor tem interesse de agir em 
discutir a revisão contratual celebrado com o réu no que se refere à 
limitação dos descontos que são efetuados em sua conta.
[...]
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 0 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
Não se ignora que o contrato de empréstimo realizado com o apelado 
foi livremente pactuado pelas partes. O autor obteve empréstimos a 
taxasmais favoráveis mediante autorização para débito de parcelas em 
conta corrente, e, por ocasião da celebração, tinha plena consciência de 
suas cláusulas, condições e valores. O credor, assim, tem, em princípio, 
direito ao recebimento de seu crédito, conforme são depositados 
valores em conta corrente.
Ocorre que o valor descontado pelo empréstimo (R$ 2.543,56 - fls. 23 e 
25/27), supera o percentual de 30% dos vencimentos líquidos do autor, 
que exerce a função de policial militar (fls. 22).
Segundo entendimento firmado nesta Câmara e Corte, tem-se admitido 
que os descontos em folha devem ser, como regra, limitados a 30% 
(trinta por cento) dos vencimentos líquidos do correntista, por analogia 
à Lei nº 10.820/03, artigos 1º e 2º, § 2º, incisos I e I, que dispõem:
[...]
Outrossim, não é o caso de se acolher a pretensão do banco/apelante para 
aplicação do que dispõe o Decreto Estadual n. 51.314/2006, que restringe o 
limite do comprometimento de renda a 50% dos vencimentos líquidos dos 
servidores estaduais em empréstimos consignados, por força da aplicação do 
princípio da razoabilidade e do caráter alimentar dos vencimentos. 
[...]
A limitação dos descontos a 30% dos valores líquidos recebidos em 
conta corrente, conforme determinado pelo r. Juízo a quo , permite o 
pagamento dos empréstimos, ainda que de forma mais dilatada a 
preserva a boa-fé do contrato.
Nesse sentido já se decidiu este E. tribunal de justiça:
[...]
Deste modo, nada há a se reparar na bem lançada r. sentença que fica 
mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos.
Com efeito, consta, no apurado, que: a) o contrato de empréstimo realizado 
foi livremente pactuado pelas partes; b) o autor obteve empréstimos com taxas mais 
favoráveis, mediante autorização para débito de parcelas em conta-corrente, e, por 
ocasião da celebração, tinha plena consciência de suas cláusulas, condições e valores; 
c) por analogia, aplicou-se o disposto nos arts. 1º e 2º da Lei n. 10.820/2003, para limitar 
os descontos das prestações contratuais em conta-corrente ao percentual de 30% dos 
valores líquidos dos proventos do autor.
2.1. Anoto, por lealdade, que, segundo entendo, a questão não vem 
recebendo tratamento adequado no âmbito desta Corte Superior, com a consequente 
dispersão da jurisprudência. 
De fato, observo que, na mesma linha do entendimento sufragado pelas 
instâncias ordinárias, consoante alguns julgados do STJ - sobretudo em sede de agravo 
interno, sem debate aprofundado -, mesmo em se tratando de descontos em 
conta-corrente (e não compulsório, em folha, que possui lei própria), valendo-se 
expressamente de analogia - em vista dos artigos 1º e 2º, § 2º, I, da Lei 10.820/2003 e 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 1 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
45, parágrafo único, da Lei 8.112/1990, que versam acerca dos descontos consignados 
em folha de pagamento -, tem-se limitado o desconto a 30% da remuneração ou 
proventos do devedor:
RECURSO ESPECIAL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. 
RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA. DESCONTO EM CONTA-CORRENTE. 
POSSIBILIDADE. LIMITAÇÃO A 30% DA REMUNERAÇÃO DO DEVEDOR. 
SUPERENDIVIDAMENTO. PRESERVAÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL. 
ASTREINTES. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO DE LEI 
FEDERAL VIOLADO. ÓBICE DA SÚMULA 284/STF.
1. Validade da cláusula autorizadora de desconto em conta-corrente 
para pagamento das prestações do contrato de empréstimo, ainda que 
se trate de conta utilizada para recebimento de salário.
2. Os descontos, todavia, não podem ultrapassar 30% (trinta por 
cento) da remuneração líquida percebida pelo devedor, após deduzidos 
os descontos obrigatórios (Previdência e Imposto de Renda).
3. Preservação do mínimo existencial, em consonância com o princípio da 
dignidade humana. Doutrina sobre o tema.
4. Precedentes específicos da Terceira e da Quarta Turma do STJ.
5. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
(REsp 1584501/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, 
TERCEIRA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe 13/10/2016)
------------------------------------------------------------------------------------------------------
AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR 
DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. DESCONTO EM CONTA 
CORRENTE ONDE É DEPOSITADO SALÁRIO. LIMITAÇÃO. 30% DOS 
VENCIMENTOS. AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO E DE PROVA DE DANO. 
REEXAME DE PROVAS.
1. É legítimo o desconto, em conta corrente, de parcelas de 
empréstimo, limitando-se tal desconto a 30% da remuneração, tendo em 
vista o caráter alimentar dos vencimentos (súmula 83 do STJ). 
Precedentes.
2. Caso em que o Tribunal de origem entendeu não configurado ato ilícito 
passível de reparação. A reforma do acórdão recorrido, no ponto, requer 
incursão nos elementos fático-probatórios do processo, o que é inviável em 
recurso especial (súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça - STJ).
3. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1565533/PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, 
QUARTA TURMA, julgado em 23/08/2016, DJe 31/08/2016)
Em pesquisa à jurisprudência desta Corte, constata-se que os julgados 
deste Colegiado apreciando o tema foram todos em sede de agravo interno, sem 
enfrentamento de pontos relevantes, que, segundo entendo, merecem maior reflexão. 
É conveniente salientar, ademais, que a norma que fixa a limitação do 
desconto em folha é salutar, possibilitando ao consumidor que tome empréstimos, 
obtendo condições e prazos mais vantajosos, em decorrência da maior segurança 
propiciada ao financiador:
CIVIL. AÇÃO REVISIONAL. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LICITUDE DA 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 2 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
COBRANÇA. SÚMULA N. 294 DO STJ. DESCONTO EM FOLHA DE 
PAGAMENTO. SUPRESSÃO UNILATERAL. IMPOSSIBILIDADE. LIMITE DE 
30% DOS VENCIMENTOS.
1. É admitida a cobrança da comissão de permanência durante o período de 
inadimplemento contratual, calculada pela taxa média de mercado apurada 
pelo Bacen (Súmula n. 294 do STJ).
2. Cláusula contratual que autoriza desconto em folha de pagamento de 
prestação de empréstimo contratado não pode ser suprimida por 
vontade unilateral do devedor, uma vez que é circunstância facilitadora 
para obtenção de crédito em condições de juros e prazos mais 
vantajosos para o mutuário; todavia, deve ser limitada a 30% dos 
vencimentos.
3. Agravo regimental parcialmente provido.
(AgRg no REsp 959.612/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, 
QUARTA TURMA, julgado em 15/04/2010, DJe 03/05/2010)
Por outro lado, impõe-se, na relação privada, o respeito à dignidade 
humana, pois, com razoabilidade, limitam-se os descontos que incidirão sobre verba 
alimentar, sem menosprezar a autonomia privada.
No entanto, para propiciar melhor e mais aprofundado exame da questão, 
cumpre transcrever o único precedente desta Corte que não foi proferido em sede de 
agravo interno - que, com mais densidade, abordou a questão, sufragando as mesmas 
teses que vêm se consolidando no âmbito desta Corte -, pois adota muitas premissas das 
quais não divirjo e, segundo entendo, são importantes para solucionar a controvérsia.
Refiro-me ao multicitado precedente da Terceira Turma, contido no REsp 
1.584.501/SP, relator o douto Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, cuja ementa está 
transcrita acima.
Nesse mencionado precedente, Sua Excelência dispôs:
Ante esse fato, a ora recorrida ajuizou ação de revisão contratual, 
pretendendo a limitação dos descontos a 30% de seus proventos líquidos, 
dentre outros pedidos.
[...]
A questão devolvida ao conhecimento desta instância especial deve ser 
abordada à luz do princípio da dignidade da pessoa humana, relacionando-se 
com o fenômeno do superendividamento, que tem sido uma preocupação 
atual do Direito do Consumidor em todoo mundo, decorrente da imensa 
facilidade de acesso ao crédito nos dias de hoje.
Alguns sistemas jurídicos já alcançaram soluções legislativas para resolver a 
situação, como é o caso do Direito francês que já legislou acerca do 
superendividamento.
[...]
No Brasil, está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n. 
3.515/2015 (oriundo do Projeto de Lei do Senado n. 283/2012), dispondo 
acerca do superendividamento do consumidor e prevendo medidas judiciais 
para garantir o mínimo existencial ao consumidor endividado.
Transcrevem-se, a propósito, as medidas previstas no PL 3515/2015 acerca 
do superendividamento dos consumidores, litteris : 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 3 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
Art. 54-E. Nos contratos em que o modo de pagamento da dívida 
envolva autorização prévia do consumidor pessoa natural 
 para consignação em folha de pagamento , a soma das parcelas 
reservadas para pagamento de dívidas não poderá ser superior a 30% 
(trinta por cento) de sua remuneração mensal líquida.
§ 1º. O descumprimento do disposto neste artigo dá causa imediata 
à revisão do contrato ou à sua renegociação, hipótese em que o juiz 
poderá adotar, entre outras, de forma cumulada ou alternada, as 
seguintes medidas:
I - dilação do prazo de pagamento previsto no contrato original, de 
modo a adequá-lo ao disposto no caput deste artigo, sem acréscimo nas 
obrigações do consumidor;
II - redução dos encargos da dívida e da remuneração do fornecedor;
III - constituição, consolidação ou substituição de garantias.
Enquanto não há legislação específica acerca do tema, as soluções para 
o superendividamento dos consumidores têm sido buscadas na via 
jurisprudencial.
De todo modo, constitui dever do Poder Judiciário o controle desses contratos 
de empréstimo para evitar que abusos possam ser praticados pelas 
instituições financeiras interessadas, especialmente nos casos de crédito 
consignado.
Não se desconhece que esses contratos financeiros foram celebrados com a 
anuência do consumidor, no exercício dos poderes outorgados pela liberdade 
contratual.
Entretanto, o princípio da autonomia privada longe está de ser absoluto em 
nosso sistema jurídico.
O próprio Código Civil de 2002, em seu art. 421, estabelece textualmente que 
"a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função 
social do contrato" .
Portanto, o princípio da autonomia privada não é absoluto, devendo respeito 
a outros princípios do nosso sistema jurídico (função social do contrato, 
boa-fé objetiva), inclusive um dos mais importantes, que é o princípio da 
dignidade da pessoa humana, positivado no art. 1º, III, da Constituição 
Federal.
ANTÔNIO AUGUSTO CANÇADO TRINDADE, em seu Tratado de direito 
internacional dos direitos humanos (Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 
1997. VI – II, p. 17), leciona a respeito dos direitos humanos no sentido de 
que devem formar padrões mínimos universais de comportamento e respeito 
ao próximo:
"(...) afirmar a dignidade da pessoa humana, lutar contra todas as formas 
de dominação, exclusão e opressão, em prol da salvaguarda contra o 
despotismo e a arbitrariedade, e na asserção da participação na vida 
comunitária e do princípio da legitimidade." 
Com efeito, se o desconto consumir parte excessiva dos vencimentos do 
consumidor, colocará em risco a sua subsistência e de sua família, ferindo o 
princípio da dignidade da pessoa humana.
No caso dos autos, esse risco é evidente, pois os descontos alcançam quase 
100% dos proventos da consumidora demandante.
Cabível, portanto, estabelecer um limite para esses descontos.
Nesse passo, a jurisprudência desta Corte Superior tem entendido que os 
descontos em conta-corrente utilizada para o recebimento de salário devem 
ser limitados a 30% (trinta por cento) dos vencimentos do correntista, 
excluídos os descontos obrigatórios.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 4 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
2.2. Diante dessas premissas, passo ao exame do caso e da tese em 
julgamento.
Cumpre observar que o contrato de conta-corrente é modalidade absorvida 
pela prática bancária, trazendo praticidade e simplificação contábil, da qual dependem 
várias outras prestações do banco e mesmo o pagamento de obrigações contratuais 
diversas com terceiros, que têm, nessa relação contratual, o meio de sua viabilização. 
"Pelo contrato de conta corrente, a instituição financeira converte-se em 
representante do cliente por uma série de operações, como é o caso da realização de 
pagamentos, cobranças, entre outros atos realizados pelo banco no interesse do cliente. 
Daí é que a instituição financeira termina assumindo o papel de administradora dos 
recursos do cliente, realizando por sua conta toda uma série de operações". 
(MIRAGEM, Bruno. Direito bancário . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 301-304)
Invocando o sempre esclarecedor escólio de Pontes de Miranda, Bruno 
Miragem pondera que conta-corrente é o contrato cuja prestação principal é a de criar 
em favor do correntista conta contábil em que se registram lançamentos de 
créditos e débitos conforme os recursos depositados, sacados ou transferidos de 
outra conta, pelo próprio correntista ou por terceiros, nos termos do contrato. 
(MIRAGEM, Bruno. Direito bancário . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 301-304)
Dessarte, como característica do contrato e máxima de experiência, é bem 
de ver que, por questão de praticidade, segurança e pelo desuso, a cada dia mais 
acentuado, do pagamento de despesas em dinheiro, costumeiramente o consumidor 
centraliza, na conta-corrente, todas as suas despesas pessoais, como, v.g., luz, água, 
telefone, tv a cabo, cartão de crédito, cheques, boletos variados e demais despesas com 
débito automático em conta.
No caso, consta, na própria petição inicial, que a adesão ao contrato de 
conta-corrente, em que o autor percebe sua remuneração, foi espontânea, e que os 
descontos das parcelas da prestação contratual - conjuntamente com prestações de 
outras obrigações firmadas com terceiros, conforme extrato que instrui a exordial - têm 
expressa previsão contratual e ocorrem posteriormente ao recebimento de seus 
proventos , não caracterizando, pois, consignação em folha de pagamento. 
Aqui tal distinção parece importante, pois, como bem leciona Claudia Lima 
Marques, a consignação em folha de pagamento é permitida para fins de contrato de 
crédito ao consumo, devendo, nesse caso específico, "preservar o mínimo existencial". 
"Hoje, indiretamente, por se permitir a consignação de apenas 30% do salário do 
funcionário público, imagina-se que o mínimo existencial é de 70% do salário ou pensão. 
Em outras palavras, com os 70% a pessoa pode continuar a escolher quais dos seus 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 5 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
devedores paga mês a mês e viver dignamente com sua família, mesmo que ganhe 
pouco, sem cair no superendividamento". (MARQUES, Cláudia Lima; MIRAGEM, Bruno 
(Orgs.). Doutrinas essenciais, Direito do consumidor: vulnerabilidade do consumidor e 
modelos de proteção . Vol. II. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 584) 
2.3. No âmbito do direito comparado, não se extrai nenhuma experiência 
similar à que vem sendo empregada na jurisprudência do STJ - em que se limita a 
cobrança de prestação contratual, no tocante à conta-corrente.
Os exemplos das legislações estrangeiras, costumeiramente invocados, 
buscam, por vezes, com medidas extrajudiciais, solução para o superendividamento ou 
sobreendividamento que, isonomicamente, envolvem todos os credores, propiciando, a 
médio ou longo prazo,a quitação do débito:
A lição mais importante do direito comparado é que, diante da crise de 
solvência da pessoa física-leigo, o consumidor, dois são os caminhos 
possíveis: "temporizar, reescalonando, planejando, dividindo as dívidas a 
pagar, ou reduzindo-se, perdoando os juros, as taxas ou mesmo o principal, 
em parte ou totalmente, a depender do patrimônio e das possibilidades do 
devedor, sempre reservando a ele um mínimo existencial (restre a vivre). 
Esse tempo, em que o consumidor terá de pagar suas dívidas, conforme 
o renegociado entre todos os credores, com supervisão do Estado, pode 
ser longo: a Alemanha exige 7 anos de pagamento do consumidor para 
chegar ao perdão das dívidas, enquanto na Europa o normal são 4 anos.
[...]
A lei francesa privilegia soluções administrativas e um plano de 
pagamento para o consumidor, supervisionado pelo magistrado, antes de 
passar à fase judicial. 
[...]
Quanto à instituição que realiza a renegociação, na França é uma comissão 
administrativa, com participação dos bancos, também do juiz do 
superendividamento, um assistente social e a figura do liquidador, 
espécie de "síndico da falência". A Alemanha só permite o benefício a 
consumidores de boa-fé, prevendo uma renegociação de boa-fé, agora 
judicial, uma vez que a renegociação extrajudicial não tenha obtido sucesso. 
No Canadá, há um trustee , um conselheiro administrativo ou mediador 
privado, não judicial, que pode ser indicado pelo Estado. A Alemanha tem 
ainda uma comissão - Komission fur Insolvenzrecht - apenas para observar, 
revisar e melhorar o procedimento, o que, no Brasil, poderia ser feito pelo 
DPDC/MJ. (MARQUES, Cláudia Lima; MIRAGEM, Bruno (Orgs.). Doutrinas 
essenciais, Direito do consumidor: vulnerabilidade do consumidor e modelos 
de proteção . Vol. II. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 587-588) 
Como visto, em linhas gerais, trata-se de substituir uma estratégia de 
antagonismo por outra de cooperação (pois a solução do endividamento passa a ser 
problema consertado entre devedor e credores), personalizada (a solução padrão 
universal não serve para cada caso ou categoria) e dinâmica (não se negocia apenas 
sobre o contratado, mas sobre as condições de pagamento futuras). (MARQUES, Cláudia 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 6 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
Lima; MIRAGEM, Bruno (Orgs.). Doutrinas essenciais, Direito do consumidor: 
vulnerabilidade do consumidor e modelos de proteção . Vol. II. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2011, p. 587-588) 
E, no tocante ao modelo americano do fresh start, as medidas também são 
tomadas de modo a atingir todos os credores, implicando a "falência total" do devedor, 
"com perdão da dívida após a venda de tudo, de forma a permitir o começar de novo 
deste consumidor insolvente e sua reinserção no acesso ao crédito". (MARQUES, 
Cláudia Lima; MIRAGEM, Bruno (Orgs.). Doutrinas essenciais, Direito do consumidor: 
vulnerabilidade do consumidor e modelos de proteção . Vol. II. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2011, p. 584)
No Brasil, cumpre ressaltar que, à míngua de novas disposições legais 
específicas, há procedimento, já previsto no ordenamento jurídico, para casos de 
superendividamento ou sobreendividamento - do qual podem lançar mão os próprios 
devedores -, que é o da insolvência civil, e que, na vigência do CPC/2015, permanece 
disciplinada pelo Código Buzaid (vide art. 1.052 do novel Diploma).
Mesmo o Projeto de lei acerca do superendividamento, como transcrito no 
precedente da Terceira Turma do STJ, se propõe a disciplinar "os contratos em que o 
modo de pagamento da dívida envolva autorização prévia do consumidor pessoa 
natural para consignação em folha de pagamento".
2.4. Assim considerando a questão, não parece razoável e isonômico, a par 
de não ter nenhum supedâneo legal, aplicar a limitação legal prevista para empréstimo 
consignado em folha de pagamento, de maneira arbitrária, a contrato específico de 
mútuo livremente pactuado. 
Ademais, é relevante consignar que, em que pese haver precedentes a 
perfilhar o entendimento de que a limitação é adotada como medida para solucionar o 
superendividamento, segundo entendo, a bem da verdade, opera no sentido oposto, 
tendo o condão de eternizar a obrigação, visto que - e isso fica bem nítido no caso 
concreto - virtualmente leva à denominada amortização negativa do débito, resultando 
em aumento mês a mês do saldo devedor. 
Na exordial, o autor expõe que o mútuo firmado, para a renegociação de 
dívida, foi no valor de R$ 114.480,55, a ser pago em 85 parcelas mensais de R$ 
2.543,56, vencendo-se a primeira em 5/1/2014 e a última em 5/1/2021. E esclarece que a 
prestação contratual - limitada pelas instâncias ordinárias a 30% dos proventos líquidos - 
corresponde a praticamente 50% dos seus proventos.
Ademais, uma vinculação perene do devedor à obrigação, como a que, na 
verdade, conduz as decisões das instâncias ordinárias, não se compadece com o 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 7 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
sistema do direito obrigacional, que tende a ter termo (PELUSO, Cezar (coord.). Código 
civil comentado . 4 ed. Barueri: Manole, 2010, p. 850 e 851).
Outrossim, significa, a meu juízo, restrição à autonomia privada, pois, não 
sendo desconto forçoso em folha, não é recomendável estabelecer, estendendo 
indevidamente regra legal que não se subsume ao caso, limitação percentual às 
prestações contratuais, sob pena de dificultar o tráfego negocial e resultar em imposição 
de restrição a bens e serviços, justamente em prejuízo dos que têm menor renda.
Sem mencionar ainda a possível elevação das taxas para aqueles que não 
conseguem demonstrar renda compatível com o empréstimo pretendido. 
Com efeito, também como máxima de experiência, a título ilustrativo, é 
usual que, em prestações contratuais a envolver bens de maior vulto, como mútuo para 
aquisição de imóvel ou automóvel, ascendentes prestem auxílio financeiro ao mutuário, 
para o pagamento das prestações.
Outrossim, a restrição do valor das prestações é medida de difícil 
operacionalização, pois o credor pode ter outras rendas lícitas de difícil comprovação, ou 
mesmo estar a receber pagamentos mensais de empréstimos feitos a parentes ou 
amigos. 
Igualmente, não se pode impedir que pessoa solteira que resida com os 
pais, viúvo sem filho dependente, ou, mesmo no caso de casal, um dos cônjuges se 
valha de crédito para, v.g, pagamento de material de construção, conserto ou 
lanternagem de veículo utilizado para o trabalho, pagamento de consultas ou cirurgias, 
que envolva prestações acima de 30% da remuneração (atualmente, até 35%). 
Por fim, como invoca o recorrente, o art. 6º, parágrafo 1º, da Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro confere proteção ao ato jurídico perfeito - as 
instâncias ordinárias reconhecem a higidez do contrato -, e, consoante os arts. 313 e 314 
do CC, o credor não pode ser obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, 
ainda que mais valiosa. 
Com efeito, é desarrazoado que apenas o banco não possa lançar mão de 
procedimentos legítimos para satisfação de seu crédito e que, eventualmente, em casos 
de inadimplência, seja privado, em contraposição aos demais credores, do acesso à 
justiça, para arresto ou penhora de bens do devedor. 
2.5. No caso, como reconhece o acórdão recorrido - que explicitamente se 
vale de analogia -, não há previsão legal para a medida adotada, e o ordenamento 
jurídico, de modo um tanto assemelhado ao modelo americano, já prevê a medida 
específica do instituto da insolvência civil, de que pode lançar mão o devedor, em caso 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 8 de 50Superior Tribunal de Justiça
de sobreendividamento. 
Assim também o precedente da Terceira Turma assenta que se vale da 
analogia para, em consonância com o princípio da dignidade humana, estender a 
limitação legal, referente a empréstimos em folha, para a relação contratual diversa.
Contudo, penso que a analogia não pode ser invocada. Konrad Hesse 
observa que, ordinariamente, é o legislador democrático que está devidamente 
aparelhado para a apreciação das limitações necessárias à autonomia privada em face 
dos outros valores e direitos constitucionais. (HESSE, Konrad. Elementos de direito 
constitucional da República Federal da Alemanha . Trad. Luís Afonso Heck. Porto Alegre: 
Sérgio Antonio Fabris, 1998, p. 285).
Na mesma toada, Claus-Wihelm Canaris observa que, pelo fato de os 
direitos fundamentais, enquanto integrantes da Constituição, terem um grau mais elevado 
na hierarquia das normas que o direito privado, na verdade o influenciam. No entanto, a 
Constituição não é, em princípio, o lugar correto, tampouco habitual, para regulamentar 
as relações entre cidadãos individuais e entre pessoas jurídicas. (SARLET, Ingo 
Wolfgang (Org.). Constituição, Direitos Fundamentais e Direito Privado . Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2003, p. 225).
Ademais, como visto, no caso, há direitos constitucionais que socorrem o 
recorrente, como, ao que parece, o próprio art. 5º, II, da Lei Maior, que dispõe que 
ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Mutatis mutandis, cumpre trazer à baila o entendimento sufragado pela 
Segunda Turma do STF, por ocasião do julgamento do multicitado RE 201.819, em que 
se alerta ser necessária cautela por parte do magistrado, já que, em linha de princípio, "a 
vinculação direta dos entes privados aos direitos fundamentais não poderia jamais ser tão 
profunda, pois, ao contrário da relação Estado-cidadão, os direitos fundamentais 
operariam a favor e contra os dois partícipes da relação de Direito Privado". Por isso, 
"compete, em primeira linha, ao legislador a tarefa de realizar ou concretizar os direitos 
fundamentais no âmbito das relações privadas. Cabe a este garantir as diversas posições 
fundamentais relevantes mediante fixação de limitações diversas".
Nesse passo, Ingo Wolfgang Sarlet afirma, com propriedade, que, no 
sistema constitucional atual, a segurança jurídica passa a ter o status de "subprincípio 
concretizador do princípio fundamental e estruturante do Estado de Direito. Assim, para 
além de assumir a condição de direito fundamental da pessoa humana, a segurança 
jurídica constitui simultaneamente princípio fundamental da ordem jurídica estatal" 
(SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia do direito fundamental à segurança jurídica: 
dignidade da pessoa humana, direitos fundamentais e proibição de retrocesso social no 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 1 9 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
direito constitucional brasileiro. In. Revista de Direito Constitucional e Internacional, ano 
14, n. 57, out.-dez. de 2006. São Paulo: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional – 
IBDC, p. 10-11).
Na mesma direção, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, o Ministro 
Gilmar Mendes asseverou que "em verdade, a segurança jurídica, como subprincípio do 
Estado de Direito, assume valor ímpar no sistema jurídico, cabendo-lhe papel 
diferenciado na realização da própria idéia de justiça material" (Pet 2.900 Q.O. – RS. 
Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27.11.2003).
Canotilho, na mesma linha que, de resto, é a da maciça doutrina, também 
noticia que o Estado de Direito possui, como princípios constitutivos, a segurança jurídica 
e o princípio da confiança do cidadão, ambos instrumentos de condução, planificação e 
conformação autônoma e responsável da vida (CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito 
constitucional . Coimbra: Livraria Almedina, 1991, p. 375-376).
Diante dessa força irradiante para todo o sistema jurídico, parece claro que, 
para além do respeito à coisa julgada, ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido - aos 
quais se pode somar a necessidade de leis de aplicação prospectiva, claras e 
relativamente estáveis -, há mais a se descortinar. 
A postura do Poder Judiciário é de elevada importância para a 
concretização da segurança jurídica, notadamente pela entrega de uma prestação 
jurisdicional previsível que não atente contra a confiança legítima do jurisdicionado 
(NUNES, Jorge Amaury Maia. Segurança jurídica e súmula vinculante. São Paulo: 
Saraiva, 2010 [Série IDP], passim ).
3. Diante do exposto, dou provimento ao recurso especial interposto pelo 
Banco do Brasil, para julgar improcedente o pedido formulado na inicial, estabelecendo 
custas e honorários advocatícios sucumbenciais arbitrados em R$ 3.000,00 (três mil 
reais), que serão integralmente arcados pelo autor, observada eventual gratuidade de 
justiça. Assinalo que, com o acolhimento do recurso do banco, fica prejudicado o recurso 
especial interposto por Isac Gonçalves.
É como voto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 0 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
 
 
Número Registro: 2016/0047238-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.586.910 / SP
Números Origem: 10033632820148260344 20150000018135
PAUTA: 06/04/2017 JULGADO: 06/04/2017
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HUMBERTO JACQUES DE MEDEIROS
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ISAC GONCALVES 
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420 
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A 
ADVOGADOS : MARIA MERCEDES OLIVEIRA FERNANDES DE LIMA E OUTRO(S) - 
SP082402 
 SOLANGE APARECIDA DA SILVA - SP315774 
RECORRIDO : OS MESMOS 
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão 
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do relator dando provimento ao recurso especial interposto pelo Banco do 
Brasil e julgando prejudicado o recurso especial interposto por Isac Gonçalves, PEDIU VISTA 
antecipada o Ministro Marco Buzzi.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 1 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
 
 
Número Registro: 2016/0047238-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.586.910 / SP
Números Origem: 10033632820148260344 20150000018135
PAUTA: 06/04/2017 JULGADO: 25/04/2017
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MARCELO ANTONIO MOSCOGLIATO
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ISAC GONCALVES 
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420 
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A 
ADVOGADOS : MARIA MERCEDES OLIVEIRA FERNANDES DE LIMA E OUTRO(S) - 
SP082402 
 SOLANGE APARECIDA DA SILVA - SP315774 
RECORRIDO : OS MESMOS 
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão 
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado por indicação do Sr. Ministro Raul Araújo
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 2 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
VOTO-VOGAL
O SR. MINISTRO RAUL ARAÚJO: Senhora Presidente, cumprimento oseminentes Ministros Marco Buzzi e Luis Felipe Salomão pela qualidade dos votos que trazem.
A questão, de fato, é delicada do ponto de vista social e também no aspecto de 
Direito econômico e bancário, envolvendo a concessão de crédito para os correntistas, os 
consumidores na rede bancária. 
Acho importante que façamos, na apreciação deste caso, a distinção entre a 
concessão de um empréstimo qualquer, como aqui ocorreu, e o crédito que o banco confere ao 
correntista em razão da concessão de crédito rotativo de cheque especial, cujo desconto pode 
alcançar, a meu ver, um valor superior aos 30% (trinta por cento). Porque, esta segunda hipótese, 
tem a ver com a remuneração mensal que recebe o consumidor. Então, em um determinado mês 
do ano, a pessoa pode necessitar do dobro do seu salário, podendo obter do banco esse montante, 
a dobra do salário, e, nos meses subsequentes, o tomador irá, pouco a pouco, deduzindo a 
importância correspondente ao empréstimo tomado a título de cheque especial. Ou até poderá, já 
de uma vez só, no mês seguinte quitar tudo, por ter recebido, digamos, o décimo terceiro salário, 
como normalmente ocorre nos contratos de cheque especial. 
Se alguém ganha, por exemplo, vinte mil reais por mês e tem o crédito de 
outros vinte mil do seu cheque especial, dispõe de quarenta mil reais em um determinado mês. 
Com o valor do próximo contracheque terá dinheiro novamente creditado em sua conta e pagará 
parte ou todo o empréstimo, podendo haver desconto em percentual superior aos 30% (trinta por 
cento), pois o crédito é rotativo. Acho que, na relação contratual de cheque especial, a situação 
pode ser essa que procurei descrever, sem violação grave ao direito do consumidor correntista. 
Agora, a distinção que reputo importante é entre o cheque especial, sobre o 
qual falei, e a concessão de um empréstimo outro, como aqui ocorreu. Aqui, houve a concessão 
de um empréstimo no valor de R$114.000,00 (cento e quatorze mil reais) para o correntista, 
servidor público, militar estadual, que recebe proventos de reserva remunerada, de aposentadoria 
mensal, de pouco mais de R$6.000,00 (seis mil reais) brutos, e líquido a importância em torno 
de R$5.000,00 (cinco mil reais). Desse modo, o desconto previsto no empréstimo, no valor 
mensal de R$2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), mostrava-se desde já, logo de partida, 
bastante elevado. Tinha-se, por meses seguidos, um comprometimento de percentual que 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 3 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
alcançava aproximadamente 50% (cinquenta por cento) da remuneração líquida do correntista, 
que recebia em torno de cinco mil, e teria descontado em torno de dois mil e quinhentos reais até 
o ano 2021.
Parece-me, nessa hipótese, que o banco não cuidou realmente de ser mais 
cuidadoso na concessão do empréstimo, em montante bem elevado, onde contava receber o valor 
emprestado apenas com base nos descontos sobre aqueles proventos que ficavam por demais 
alcançados. Se o devedor tivesse dado ao banco outras garantias, além da remuneração mensal, 
como uma poupança, um investimento junto ao banco, um automóvel, um terreno, uma casa, um 
imóvel que não fosse um bem de família, o banco estaria garantido quanto à concessão do 
empréstimo, porque, por outra via, poderia receber o seu crédito. Mas se o banco contou, no 
caso, apenas com aquele valor correspondente aos proventos da inatividade do devedor, cota 
alimentar da pessoa, realmente arcou com um risco muito elevado na operação. É, assim, natural 
que agora esteja com essa dificuldade, onde o Judiciário force o banco a limitar os descontos na 
conta corrente do consumidor a 30% (trinta por cento) do que recebe mensalmente o devedor. O 
banco arriscou em demasia no caso desse empréstimo, que não é um empréstimos típico de 
cheque especial.
Li também, com muita atenção, a contestação do banco. E o que alega em sua 
contestação vale para os dois lados; ou seja, diz que o correntista deveria ter tido os devidos 
cuidados quando solicitou o empréstimo ao banco, se iria ou não poder pagar, e que deve ser 
cumprido o contrato, pois cabia ao correntista ter tido maiores cautelas. Penso que se pode dizer 
o mesmo em sentido oposto: o banco, que é o profissional na concessão de créditos, devia ter 
tido maiores cuidados na concessão do empréstimo, no valor de R$ 114.000,00 (cento e quatorze 
mil reais), que se mostrava desafiante para o tomador do empréstimo, pois a operação se baseava 
apenas nos valores percebidos mensalmente a título de proventos de aposentadoria pelo 
correntista. Havia difícil possibilidade de quitação do empréstimo concedido em valor 
exagerado.
Então, peço vênia, nessa hipótese, para acompanhar o voto divergente, tendo 
em vista que não tratamos aqui de empréstimo do tipo cheque especial, no qual entendo que os 
descontos podem superar aqueles 30% (trinta por cento) que a jurisprudência da Corte admite 
que possam ser alcançados pelos descontos necessários para a quitação de outras formas de 
empréstimo, como é o que temos aqui no caso. Com a devida vênia, acompanho a divergência.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 4 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
VOTO
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Peço a máxima vênia à 
divergência para acompanhar o voto do eminente Relator, pela improcedência do 
pedido, porque, lendo a inicial, verifico que o próprio autor tinha um cheque 
especial, e, diante do saldo devedor, orientado pela própria gerente do banco, 
assumiu um crédito pessoal, com taxas de juros inferiores às do cheque especial, 
para quitar o saldo devedor, a ser pago em 85 prestações de R$ 2.543,00 (dois mil 
quinhentos e quarenta e três reais). 
Não se trata de crédito consignado em folha de pagamento e, portanto, 
não se aplica o limite legal de consignação em folha de pagamento de servidores 
públicos. Como realçado pelo Ministro Relator e pelo Ministro Antônio Carlos 
Ferreira, o salário era creditado pelo empregador e posteriormente o desconto era 
feito pelo banco credor em conta-corrente que o autor nele mantinha, no exato valor 
pactuado, já de conhecimento do autor.
Também não se trata de conta-salário, a qual tem disciplina própria, 
servindo apenas para o crédito de salário, não admitindo descontos facultativos e 
sequer a entrega de talão de cheques.
Ao contrário do que sucede com o crédito consignado, no caso do 
débito em conta-corrente autorizado pelo cliente pode o empregado solicitar do 
empregador o pagamento do salário em outro banco, arcando com as 
consequências do inadimplemento.
Não se trata, portanto, de penhora de salário e nem de consignação 
em pagamento, mas de desconto livremente pactuado e autorizado pelo devedor, 
em benefício próprio, para substituir dívida mais onerosa por dívida menos cara.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 5 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
VOTO-VENCIDO
O SR. MINISTRO MARCO BUZZI: 
Cuida-se de recursos especiais, interpostos por ISAC GONÇALVES e 
BANCO DO BRASIL S/A, ambos fundamentados nas alíneas "a" e "c" do permissivo 
constitucional, em desafio a acórdão proferido em apelação cível pelo Tribunal de 
Justiça do Estado de São Paulo.
Na origem, ISAC ajuizou demanda declaratória de ilegalidade de 
retenção de salário, aduzindo ser militar aposentado e titular de conta-corrente nº 
459.074-0, onde recebe seus proventos. Narra que durante a relação com a 
instituição financeira entabulou diversas negociações - muitas já quitadas - e que, 
aceitandoa sugestão do gerente de sua conta, para a cobertura de débitos 
existentes, a juros menores que os do cheque especial, firmou operação BB 
Renovação Consignação, no valor financiado de R$ 114.480,55 (cento e quatorze 
mil, quatrocentos e oitenta reais e cinquenta e cinco centavos), a serem pagos em 
85 (oitenta e cinco) parcelas de R$ 2.543,56 (dois mil, quinhentos e quarenta e três 
reais e cinquenta e seis centavos), vencendo-se a primeira em 05/01/2014 e a 
última em 05/01/2021, mediante débito em conta-corrente, perfazendo ao final um 
total de R$ 216.202,60 (duzentos e dezesseis mil, duzentos e dois reais e sessenta 
centavos).
Assevera que o débito da quantia em sua conta-corrente, mensalmente, 
após o recebimento dos proventos, gera retenção de 50% do montante salarial, 
inviabilizando a satisfação das despesas imprescindíveis à sobrevivência pessoal e 
de sua família.
O magistrado a quo julgou parcialmente procedente o pedido para limitar 
o desconto em conta-corrente ao montante de 30% dos vencimentos líquidos do 
autor, tendo o Tribunal paulista negado provimento aos recursos manejados por 
ambas as partes, mantendo a sentença em todos os seus termos.
Autor e réu interpõem recursos especiais. 
O autor alega: a) incidir o diploma consumerista à relação estabelecida 
entre as partes e de o desequilíbrio contratual estar caracterizado em razão da 
adesão a contrato previamente estabelecido pelo banco; b) a Constituição Federal 
prevê a proteção ao salário, constituindo crime a sua retenção dolosa, não sendo 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 6 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
dado a ninguém ser privado de seus bens sem o devido processo legal; c) são 
absolutamente impenhoráveis os vencimentos, subsídios, soldos, salários, 
remunerações e proventos de aposentadoria e o fato de ter autorizado, ainda que 
sem o conhecimento do efeito nefasto da medida, os descontos em sua conta, não 
tem o condão de elidir a vedação expressa da lei.
A financeira, de sua vez, afirma: i) inaplicáveis as disposições referentes 
a empréstimos em folha de pagamento, ante a diversidade da modalidade 
contratual; ii) o autor, agente plenamente capaz, concordou com o contrato, o que 
caracteriza o ato jurídico perfeito, motivo pelo qual o credor não é obrigado a 
receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa; iii) em razão 
do demandante ser servidor público, estão adequados os descontos efetuados em 
sua conta, vez que inferiores a 50% dos rendimentos líquidos.
O e. relator, Ministro Luis Felipe Salomão, em seu judicioso voto, aprecia 
o reclamo da financeira ao qual dá provimento para julgar improcedente o pedido 
formulado na inicial, ficando prejudicado o apelo do autor.
Em síntese, aduz que a questão controvertida não vem recebendo 
tratamento adequado no âmbito desta Corte Superior, pois os julgados são em sede 
de agravo interno/regimental, havendo apenas o precedente da Terceira Turma 
(RESP 1584501/SP, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 
outubro de 2016), formado mediante debate aprofundado, no qual considerada a 
validade da cláusula autorizadora de desconto em conta-corrente para pagamento 
de prestações de contrato de empréstimo, ainda que se trate de conta utilizada para 
recebimento de salário, porém, limitado o desconto a 30% da remuneração líquida 
percebida pelo devedor, após deduzidos os descontos obrigatórios de previdência e 
imposto de renda.
Assevera que o contrato de conta-corrente é modalidade absorvida pela 
prática bancária, que traz praticidade e simplificação contábil. Afirma que não há no 
direito comparado nenhuma experiência similar à que vem sendo empregada na 
jurisprudência do STJ (de limitação no tocante à conta-corrente), pois a pretexto de 
solucionar o superendividamento, tem-se eternizado uma obrigação, inclusive 
mediante "amortização negativa do débito, resultando no aumento mês-a-mês do 
saldo devedor", o que enseja uma indevida limitação na autonomia privada, que 
dificulta o tráfego negocial e resulta em imposição de restrição a bens e serviços, 
justamente dos que têm menor renda, contribuindo para "a possível elevação das 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 7 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
taxas para aqueles que não conseguem demonstrar renda compatível com o 
empréstimo pretendido".
Faz uso de doutrina e precedentes firmados no âmbito do Supremo 
Tribunal Federal para amparar a ideia de que inviável a utilização da analogia para, 
em consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana, estender a 
limitação legal referente a empréstimos em folha de pagamento para relação 
contratual diversa, em razão da autonomia privada que rege as relações e da 
postura do Poder Judiciário para a concretização da segurança jurídica, mediante 
uma prestação jurisdicional previsível que não atente contra a confiança legítima do 
jurisdicionado.
Ante a tormentosa problemática trazida a exame e dos fundamentos 
elencados pelo e. relator para embasar seu voto, formulei pedido de vista para 
melhor exame da controvérsia.
Voto
Com todas as vênias do relator, dele divirjo para negar provimento a 
ambos os recursos especiais.
1. Julga-se conjuntamente os recursos especiais, pois dizem respeito à 
mesma controvérsia, qual seja, a possibilidade, ou não, de a instituição financeira 
proceder diretamente à retenção de uma fração dos provimentos salariais do 
devedor junto à conta-corrente bancária, assim agindo para buscar o pagamento de 
mútuo - contratação absolutamente diversa do conhecido cheque especial -, bem 
ainda, se há de se observar alguma limitação para o referido desconto.
Inicialmente, é cabido destacar que, muito embora relevantes os 
ensinamentos que possam ser obtidos acerca da temática ora em evidência junto 
ao direito comparado, todavia, no caso em julgamento, o tratamento jurídico 
dispensado ao assunto é de tal forma peculiar, no Brasil, que exatamente a 
intensidade dessa discrepância frente ao direito de outros países inviabiliza, na 
prática, a utilização de parâmetros alienígenas.
Nessa excepcionalidade se insere, por exemplo, a prática financeira 
brasileira quanto às taxas dos juros de remuneração do capital, cujos índices estão 
entre os mais altos do mundo, bem como a efetividade do direito encarregado da 
tutela dos interesses dos credores, que nem mesmo com o advento do Código de 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 8 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
Defesa do Consumidor restou atenuado como almejado pela sociedade, motivos 
pelos quais, dentre outros, reitere-se, as soluções empregadas nos estados 
estrangeiros para a resolução de conflitos bancários onde as partes muitas vezes 
estão em situação de igualdade não servem como paradigmas para solucionar os 
conflitos aqui existentes, ante a disparidade das relações e efeitos jurídicos.
Em que pese a divergência que ora se pretende inaugurar, é oportuno 
desde logo frisar que, muito embora a discrepância na adoção de critérios para a 
solução do caso sub judice , não se está aqui propondo uma deliberação que negue 
o crédito da instituição financeira ou vede o seu inegável direito de cobrar as cifras 
confessadamente devidas pelo mutuário.
De outra banda, é igualmente relevante destacar que não é acolhida, 
nesse voto, a pretensão almejada pelo devedor, qual seja, a de se ver desobrigado 
do ônus que livremente assumiu por ocasião da repactuação e consolidação de 
seus compromissos junto à casa bancária.
Dito isso, tem-se que diversamente do referido pelo e. relator, afigura-se 
razoável como também isonômico, ante a existência de efetivo supedâneo legal 
afirmando a impenhorabilidade devencimentos, subsídios, soldos, salários, 
remunerações, proventos de aposentadoria, entre outros (art. 649, inciso IV, do 
CPC/73, atual art. 833, inciso IV, do NCPC), fazer uso da ampliação analógica da 
limitação legal prevista para empréstimo consignado em folha de pagamento frente 
ao presente contrato de mútuo com cláusula de desconto em conta-corrente, 
destacadamente porque tal procedimento não gera a eternização da obrigação ou 
amortização negativa do débito como compreendeu o e. relator, pois se estará 
fazendo o uso constitucional da salvaguarda do direito à subsistência digna do 
devedor e de sua família, sem deixar desguarnecido o direito do credor.
Sempre é prudente e oportuno recordar que no âmbito de um processo 
de endividamento de um mesmo devedor ante um mesmo credor, ambos os 
interessados têm plenas condições, liberdade e até mesmo o dever de boa-fé de 
averiguar e avaliar se o próprio sujeito e também a outra parte contratante reúne 
reais condições de honrar o ajuste em vias de celebração, sem que para tanto 
sejam obrigados a situações em que se despeçam da própria dignidade, sendo 
esse o viés atualmente norteador das contratações, uma vez que o equilíbrio nas 
relações materiais, nos ajustes em geral, é a tônica de mensuração da própria 
validade e higidez da celebração dos contratos.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 9 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
No caso, a hipótese ora em julgamento diz respeito a contrato de mútuo 
com cláusula de desconto da parcela em conta-corrente e não de cheque especial, 
modalidade absolutamente distinta e com características muito próprias, que 
oportunamente será objeto de análise. Neste momento apenas está em análise a 
questão da alegada impenhorabilidade de verbas salariais frente a ajuste de mútuo 
com cláusula de desconto em conta-corrente na qual o devedor recebe seus 
proventos.
Pois bem, considerando o princípio da dignidade da pessoa humana e o 
risco de comprometimento da subsistência do devedor, a jurisprudência pátria, 
principalmente a do STJ, inviabilizava os descontos efetuados na conta-corrente do 
devedor para a salvaguarda dos interesses da instituição financeira.
Isso porque, eventuais cláusulas contratuais que permitissem o desconto 
diretamente na conta-corrente do devedor, constantes em contrato de adesão, 
além de serem consideradas iníquas e abusivas (artigo 51, IV, do CDC), revelavam 
também vício, consubstanciado em fraude, como tentativa de burlar a 
determinação constante do artigo 649, inciso IV, do CPC/73, atual artigo 833, 
inciso IV, do NCPC (impenhorabilidade dos salários), não sendo viável admitir que 
o particular, notadamente as instituições financeiras ou a ela equiparadas, 
obrigassem o consumidor a abrir mão da proteção legal e constitucional. 
Neste sentido, era o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
BANCO. Cobrança. Apropriação de depósitos do devedor. O banco não 
pode apropriar-se da integralidade dos depósitos feitos a título de salários 
na conta do seu cliente, para cobrar débito decorrente de contrato 
bancário, ainda que para isso haja cláusula permissiva no contrato de 
adesão. Recurso conhecido e provido. (STJ. REsp 492.777/RS, Relator o 
Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, DJ de 1º/9/2003)
Ainda:
RECURSO ESPECIAL. CONTA CORRENTE. SALDO DEVEDOR. 
SALÁRIO. RETENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. Não é lícito ao banco 
valer-se do salário do correntista, que lhe é confiado em depósito, pelo 
empregador, para cobrir saldo devedor de conta corrente. Cabe-lhe obter 
o pagamento da dívida em ação judicial.
Se nem mesmo ao Judiciário é lícito penhorar salários, não será instituição 
privada autorizada a fazê-lo. (STJ. REsp 831774/RS, Rel. Ministro 
HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 
09/08/2007, DJ 29/10/2007, p. 221)
Por fim:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. BANCÁRIO. 
CONTA-CORRENTE. DEPÓSITO PROVENIENTE DE SALÁRIO. 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 3 0 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RETENÇÃO PARA SATISFAÇÃO DE DÉBITO COM A INSTITUIÇÃO 
FINANCEIRA. DESCABIMENTO. PRECEDENTES. 
1. Não é cabível a quitação de dívidas contraídas com a instituição 
financeira por meio da retenção de salários ou proventos depositados em 
conta-corrente, ainda que haja cláusula contratual autorizando a retenção.
2. Decisão agravada mantida pelos seus próprios fundamentos.
3. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no REsp 1201030/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO 
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/12/2012, DJe 
11/12/2012).
Ora, não se pode apenar a inadimplência com a condenação à penúria 
financeira, à completa ausência do mínimo existencial para a vida, pois essa seria 
uma sanção absolutamente desumana, própria de Estados onde vigora a barbárie, 
e mais aplicada por quem não tem além de legitimidade, autoridade para tanto 
(instituições financeiras e a elas equiparadas), não podendo ser olvidado que entre 
os fundamentos da nossa República sobressai o princípio da dignidade da pessoa 
humana, positivado no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988, in 
verbis : 
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Para relembrar, explicita-se os objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil dentre os quais está construir uma sociedade justa e solidária, 
promover o bem de todos e erradicar a pobreza e a marginalização:
Art. 2º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades 
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, 
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Sobre esse prisma, amparado no fundamento da dignidade da pessoa 
humana e nos objetivos fundamentais estabelecidos na Constituição Federal, a 
legislação brasileira assegura ao trabalhador o recebimento de salário proveniente 
do seu esforço, para a manutenção da sua subsistência e da sua família, 
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 3 1 de 50
 
 
Superior Tribunal de Justiça
considerando, inclusive, impenhorável tal verba. 
Nos termos do atual artigo 833, inciso IV, do NCPC (anterior artigo 649 
do Código de Processo Civil/73), são impenhoráveis os vencimentos, subsídios, 
soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e 
montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao 
sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os 
honorários de profissional liberal, ficando ressalvado o disposto no 2º, qual seja, o 
pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como 
às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários mínimos mensais, sendo que 
a constrição deve observar o ditame disposto no art. 528, § 8º e 529, § 3º no novel 
diploma processual civil.
Por oportuno, a despeito de tratar especificamente sobre a execução de 
verba alimentar, transcreve-se o teor do último dispositivo referido, pois a 
interpretação elastecida do instituto pode ser utilizada para a amparar a validade da 
cláusula de desconto do salário em conta-corrente para a satisfação do mútuo, 
porém, com limitação:
Art. 529. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou 
gerente de empresa ou empregado sujeito à

Outros materiais