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Governo do estado do Maranhão secretaria de estado da ciência, tecnoloGia, ensino superior e desenvolviMento tecnolóGico universidade estadual do Maranhão - ueMa núcleo de tecnoloGias para educação - ueManet PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Maria odete vieira tenreiro Maria virGínia Bernardi BerGer neiva de oliveira Moro priscila larocca (professoras da uepG - universidade estadual de ponta Grossa - pr) são luís 2010 Governadora do Estado do Maranhão Roseana saRney MuRad Reitor da uEMa PRof. José augusto silva oliveiRa Vice-reitor da uEMa PRof. gustavo PeReiRa da Costa Pró-reitor de administração PRof. José Bello salgado neto Pró-reitor de Planejamento PRof. José goMes PeReiRa Pró-reitor de Graduação PRof. PoRfíRio Candanedo gueRRa Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação PRof. WalteR Canales sant’ana Pró-reitora de Extensão e assuntos Estudantis PRofª. gRete soaRes PfluegeR assessor Chefe da Reitoria PRof. RaiMundo de oliveiRa RoCha filho Diretora do Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais - CECEN PRofª. andRéa de aRaúJo Edição: univeRsidade estadual do MaRanhão - ueMa núCleo de teCnologias PaRa eduCação - ueManet Coordenador do uemaNet PRof. antonio RoBeRto Coelho seRRa Coordenadora Pedagógica: MaRia de fátiMa seRRa Rios Coordenadora do Curso de Filosofia, a distância: PRofª. leila aMuM alles BaRBosa Coordenadora da Produção de Material Didático uemaNet: CaMila MaRia silva nasCiMento Responsável pela Produção de Material Didático UemaNet: cristiane costa peixoto Revisão: liliane Moreira liMa lucirene ferreira lopes Diagramação: JosiMar de Jesus costa alMeida luis Macartney sereJo dos santos tonho leMos Martins Capa: luciana vasconcelos universidade estadual do Maranhão Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet Campus Universitário Paulo VI - São Luís - MA Fone-fax: (98) 3257-1195 http://www.uemanet.uema.br e-mail: comunicacao@uemanet.uema.br O conteúdo deste fascículo foi cedido à Universidade Estadual do Maranhão - UEMA pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - PR que autorizou sua reprodução com atualizações: revisão de linguagem, capa, cores e diagramação de uso exclusivo do Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet. Tenreiro, Maria Odete Vieira Psicologia da educação. / Maria Odete Vieira Tenreiro e outros. Ponta Grossa: Ed.UEPG, 2009. 239 p. il. Licenciatura em Educação Física, Geografia, História, Letras - Português/Espanhol, Matemática, Pedagogia e outros. Educação a distância. 1. Educação - psicologia. 2. Educação - aprendizagem - concepções. 3. Educação - inclusão. 4. Educação - adolescência. I. Berger, Maria Virgínia Bernardi. II. Moro, Neiva de Oliveira. III. Larocca, Priscila. IV. T. CDD : 370.15 João carlos GoMes Reitor carlos luciano sant’ana varGas Vice-reitor pró-reitoria de assuntos adMinistrativos Ariangelo Hauer Dias pró-reitoria de Graduação Graciete Tozetto Góes divisão de educação a distância e de proGraMas especiais Maria etelvina Madalozzo raMos - chefe núcleo de tecnoloGia e educação aBerta e a distância Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica sisteMa universidade aBerta do Brasil Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Adjunta Elenice Parise Foltran - Coordenadora de Curso colaBorador financeiro Luiz Antonio Martins Wosiak colaBoradora de planeJaMento Silviane Buss Tupich colaBoradores eM ead Dênia Falcão de Bittencourt JuciMara roesler colaBoradores de inforMática Carlos Alberto Volpi Carmen Silvia Simão Carneiro Adilson de Oliveira Pimenta Júnior Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior Osvaldo Reis Júnior Kin Henrique Kurek Thiago Luiz Dimbarre Thiago Nobuaki Sugahara colaBoradores de puBlicação Gideão Silveira Cravo - Revisão Márcia Monteiro Zan - Revisão Luan Dione Rein - Diagramação Ceslau Tomaczyk Neto - Ilustração colaBoradores operacionais Edson Luis Marchinski Joanice Kuster de Azevedo João Márcio Duran Inglêz Maria Clareth Siqueira Mariná Holzmann Ribas Todos direitos reservados ao Ministério da Educação Sistema Universidade Aberta do Brasil. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR Tel.: (42) 3220-3163 www.nutead.uepg.br 2010 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO UNIDADE 1 A RELAÇÃO PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: aspectos históricos, campos de contribuição e a diversidade de enfoques ..................... 23 Aspectos históricos da construção da Psicologia e de sua relação com a Educação ....................................... 27 Campos de contribuição da Psicologia na Educação ....... 37 A diversidade de enfoques da Psicologia na Educação e o uso do critério epistemológico para sua análise ................ 43 UNIDADE 2 O DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM: teorias que enfatizam o sujeito e teorias que enfatizam o objeto ............................. 51 O comportamentalismo na Psicologia, sua ênfase no mundo exterior ao sujeito e suas implicações educacionais ...... 53 A Psicologia humanista de Carl Rogers: uma concepção idealista do sujeito e suas implicações educacionais ...... 63 A ênfase nos fatores biológicos: o inatismo na Psicologia e suas implicações educacionais .............................. 71 PLANO DE ENSINO DISCIPLINA: Psicologia da Educação Carga horária: 60 horas EMENTA Conceito e objetivos da Educação. Psicologia: conceito atual. Aspectos constitutivos do desenvolvimento humano. Concepções teóricas em psicologia do desenvolvimento na infância e na adolescência: físico, emocional, cognitivo, moral e social. Principais abordagens teóricas em psicologia do desenvolvimento e da educação e respectivas implicações na atuação do professor. A aprendizagem: fatores intervenientes. Educação inclusiva. Adolescência: desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social. O adolescente e as questões relativas à busca de identidade e autonomia, sexualidade, escolha profissional e drogas. OBJETIVOS ¡ compreender a evolução histórica da Psicologia, os campos de contribuição da Psicologia da Educação, as diversas teorias e a necessidade do uso do critério epistemológico para analisá-las; ¡ identificar os principais conceitos e implicações das teorias comportamental, humanista e inatista; ¡ explicitar e diferenciar as principais contribuições sobre desenvolvimento e aprendizagem na perspectiva de Piaget, Vygotsky e Wallon; ¡ ampliar a compreensão sobre a educação inclusiva a partir das contribuições teóricas de Piaget e Vygotsky; ¡ compreender o significado evolutivo da adolescência e seus aspectos psicossociais e culturais; ¡ caracterizar as mudanças físicas, cognitivas, afetivas e sociais que ocorrem nessa fase; ¡ refletir sobre o seu papel de educador face à problemática do adolescente quanto à sexualidade, escolha profissional e drogas. PENSE ATIVIDADES SUGESTÃO DE SITES íCONES Orientação para estudo Ao longo desta apostila, serão encontrados alguns ícones utilizados para facilitar a comunicação com você. Saiba o que cada um signifi ca. ATENÇÃO GLOSSÁRIO SUGESTÃO DE LEITURA FILMES SAIBA MAIS Prezado(a) estudante, Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que escolheu. Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), uma renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinquenta anos de história no Estado do Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade Abertado Brasil (UAB). O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições públicas já existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos. Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007 e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e quatro cursos de pós-graduação na modalidade a distância. APRESENTAÇÃO Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e as universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também na educação a distância. A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16 de março de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação, sequenciais, extensão e pós-graduação lato sensu) na modalidade a distância. Os nossos programas e cursos de EaD apresentam elevado padrão de qualidade e têm contribuído, efetivamente, para a democratização do saber universitário, destacando-se o trabalho que desenvolvemos na formação inicial e continuada de professores. Este curso não será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição em todas as suas iniciativas. Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação. Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber. Também foram contemplados aspectos éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação. Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar o seu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetória que ora inicia. Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará parte de uma ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis para nossos alunos e professores. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. EQUIPE DA UAB/UEPG Prezado(a) estudante, Temos o prazer de apresentar-lhe, com grandes expectativas, a disciplina Psicologia da Educação como uma das áreas do conhecimento muito atraente, pela contribuição que oferece ao docente em relação aos conhecimentos científicos, os quais são favoráveis à compreensão do ser humano no processo de ensino- aprendizagem e também por oportunizar a reflexão sobre o processo ensino-aprendizagem, abordando conteúdos necessários ao exercício crítico, consciente e autônomo da docência. Esta disciplina volta-se para o estudo científico proporcionado pela Psicologia aplicada à educação e seu papel na formação do professor, bem como focaliza as correntes psicológicas que abordam a evolução da Psicologia e da Educação. Contamos com a participação da equipe de professores: Maria Odete Vieira Tenreiro, Maria Virgínia Bernardi Berger, Neiva de Oliveira Moro, Priscila Larocca da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e do professor especialista da UEMA responsável pela mediação da disciplina. A disciplina possibilitará, através dos conteúdos apresentados no fascículo e nos materiais de pesquisa, o estudo e a reflexão sobre os fundamentos teóricos e as metodologias de investigação APRESENTAÇÃO subjacentes à prática pedagógica de modo a proporcionar uma plena integração dos aspectos pertinentes ao desenvolvimento da educação. Nas unidades de ensino focalizamos os aspectos históricos da psicologia e sua relação com a educação, o desenvolvimento da aprendizagem e as perspectivas das teorias que enfatizam o objeto de estudo e das teorias que focalizam o sujeito. Apresentamos conceitos e proposições pertinentes às concepções teóricas presentes nas práticas pedagógicas, ressaltando as concepções interacionistas. Ainda ressaltamos aspectos peculiares do desenvolvimento humano na adolescência com o propósito de refletir sobre o sujeito da educação e sua identidade como pessoa. Lembramos que você não está sozinho nesta caminhada, pois uma ampla rede de profissionais estará a disposição para interagir com você. Desejamos sucesso e bons momentos de estudo! Equipe UemaNet PALAVRAS DAS PROFESSORAS Prezado(a) estudante, Organizamos este livro com a preocupação de oferecer a você, futuro professor, os subsídios mais relevantes da área de conhecimento da Psicologia da Educação, compreendendo que estes devem possibilitar a você uma adequada compreensão dos referenciais teóricos desta importante área da formação de professores, bem como uma leitura competente e crítica de suas implicações para a prática pedagógica. Contudo, é preciso ter em mente que o estudo que você fará deste livro não esgota todas as possibilidades de interpretação e compreensão da realidade fornecidas pela área da Psicologia da Educação. Esta é uma área muito densa e bastante diversificada em termos de suas contribuições, deste modo estamos conscientes de que as leituras aqui apresentadas não esgotam as necessidades de uma formação docente com qualidade. Assim, você deverá complementar seus estudos por meio de outras leituras que procuramos apontar logo após os textos e nas referências bibliográficas. Prezado(a) estudante, Organizamos este livro com a preocupação de oferecer a você, futuro professor, os subsídios mais relevantes da área de conhecimento da Psicologia da Educação, compreendendo que estes devem possibilitar a você uma adequada compreensão dos referenciais teóricos desta importante área da formação de professores, bem como uma leitura competente e crítica de suas implicações para a prática pedagógica. Contudo, é preciso ter em mente que o estudo que você fará deste livro não esgota todas as possibilidades de interpretação e compreensão da realidade fornecidas pela área da Psicologia da Educação. Esta é uma área muito densa e bastante diversificada em termos de suas contribuições, deste modo estamos conscientes de que as leituras aqui apresentadas não esgotam as necessidades de uma formação docente com qualidade. Assim, você deverá complementar seus estudos por meio de outras leituras que procuramos apontar logo após os textos e nas referências bibliográficas. Este livro foi concebido segundo um eixo em que posicionamos as diferentes perspectivas teóricas da Psicologia da Educação a partir de um critério epistemológico: contribuições que enfatizam o sujeito, contribuições que enfatizam o objeto do conhecimento e contribuições que veem sujeito e objeto de modo interativo. Após desenvolvermos essas contribuições, dedicamos uma especial atenção ao estudo da inclusão e da adolescência, uma vez que seus alunos no ensino fundamental e médio serão adolescentes e jovens que certamente retratarão a diversidade cultural, individual e social que temos em nosso contexto. Com este modo de organizar os conteúdos sugerimos a necessidade de superar a visão dicotômica e parcelada da Psicologia da Educação, tantas vezes criticada pelos estudos educacionais. Trazemos neste livro sete unidades de estudo. NaUnidade I tratamos de aspectos históricos da Psicologia, da sua relação com a Educação e da diversidade de correntes teóricas que fundamentam o conhecimento hoje existente, bem como da utilização do critério epistemológico para a sua análise. Na Unidade II tratamos do desenvolvimento e da aprendizagem na perspectiva das teorias que enfatizam o objeto (Comportamentalismo) e das teorias que enfatizam o sujeito (Humanismo e Inatismo). Nas Unidades III, IV, e V apresentamos os conceitos e proposições das concepções interacionistas, através das contribuições teóricas de Piaget, Vygotsky e Wallon. A Unidade VI aborda o tema da inclusão e como Piaget e Vygotsky se posicionam a esse respeito. A Unidade VII dedica-se ao estudo da adolescência, fase peculiar do desenvolvimento humano e na qual se encontram os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Com o propósito de refletir sobre a educação que temos e consubstanciar intervenções de qualidade na prática educacional, convidamos você a adotar uma atitude positiva para construir um caminho que o leve não só a atingir os objetivos que propomos, mas a compreender que para ser educador é preciso estar atento a tudo o que acontece ao ser humano em seus processos de desenvolvimento e de aprendizagem. Desejamos que o estudo deste livro fortaleça o seu propósito de tornar-se professor, amplie sua visão do ser humano e seja um alicerce para a sua compreensão da educação e da necessidade de transformá-la. Bom proveito! Maria Odete Vieira Tenreiro Maria Virgínia Bernardi Berger Neiva de Oliveira Moro Priscila Larocca 1 UNIDADE OBJETIVOS DESTA UNIDADE: Compreender a construção histórica da Psicologia, sua relação com os questionamentos sobre a constituição humana e suas contribuições para a Educação; Reconhecer que o estatuto científico da Psicologia depende da contínua investigação de seu objeto de estudo, da elaboração e aperfeiçoamento de métodos e técnicas de pesquisa, bem como de raciocínios teóricos próprios; Identificar a consciência como objeto de estudo da ciência psicológica; Explicar a diversidade de teorias psicológicas a partir da relação sujeito/ objeto na construção do conhecimento psicológico; Analisar a Psicologia da Educação como área que contribui para as práticas pedagógicas a partir dos conhecimentos sobre desenvolvimento e aprendizagem; Identificar na prática pedagógica docente as principais correntes teóricas da Psicologia; Compreender a diversidade teórica como constitutiva da Psicologia da Educação. A RELAÇÃO PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: aspectos históricos, campos de contribuição e a diversidade de enfoques ROTEIRO DE ESTUDOS • Aspectos históricos da construção da Psicologia e de sua relação com a Educação. • Campos de contribuição da Psicologia na Educação. • A diversidade de enfoques da Psicologia na Educação e o uso do critério epistemológico para sua análise. FILOSOFIA24 PARA INíCIO DE CONVERSA Prezado cursista, Desde o final do Século XIX até os dias atuais, a área de conhecimento denominada Psicologia da Educação vem se construindo progressivamente a fim de responder à necessidade de fazer um elo entre conhecimentos advindos da ciência psicológica e a teoria e a prática educacionais. Ao longo desse processo construtivo, diferentes tentativas se sucederam: pesquisas foram realizadas, teorias elaboradas e práticas repensadas, tendo em vista contribuir para as necessidades formativas de professores e educadores, para que estes venham, ao atuarem na educação, melhor compreender e intervir em situações complexas com as quais se deparam dia após dia. Contudo, ao nos confrontarmos com as questões educacionais, não devemos imaginar que a Psicologia da Educação possa assegurar respostas prontas ou soluções imediatas para o campo da prática educativa. A ação educacional é de natureza interdisciplinar, o que supõe que a Psicologia da Educação nunca estará sozinha na compreensão da Educação, pois partilha responsabilidades com outras áreas de conhecimento, como, por exemplo, a Sociologia, a História, a Economia, a Filosofia, a Política, a Didática, a Metodologia, entre outras. Além disso, a Psicologia da Educação abrange um amplo campo de contribuições teóricas sobre diferentes objetos de estudo, que ora convergem, ora divergem, exigindo o estudo constante, a reflexão aprofundada e o desenvolvimento de uma condição crítica que respeite as diferentes perspectivas e esteja atenta para as alternativas disponíveis, indagando, investigando conflitos, procurando respostas e perguntando sempre sobre as possibilidades de melhorar o que já existe. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 25 É com esse intuito que, ao iniciarmos o estudo desta unidade – A relação Psicologia e Educação: aspectos históricos, campos de contribuição e a diversidade de enfoques - visamos trazer a você, futuro professor, conteúdos importantes para seus estudos e reflexões. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 27 ASPECTOS hISTóRICOS DA CONSTRUÇÃO DA PSICOLOGIA E DE SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO psicologia começou a ser construída a partir de perguntas que os homens começaram a fazer acerca de si próprios: Como nos constituímos humanos? Recebemos nossas características humanas ao nascer? Ou as adquirimos mediante nossas experiências? O que nos difere dos animais? Por que algumas pessoas se comportam desta maneira e outras daquela? Essas e muitas outras perguntas ilustram questões vitais que os homens desde a antiguidade já se faziam e que estão na base do conhecimento de psicologia que temos hoje. Os conteúdos que desenvolveremos a seguir pretendem mostrar a você como se construiu a ciência Psicologia e como, nesse processo, foram colocadas pelos pensadores e pesquisadores importantes indagações sobre a constituição do ser humano. A FILOSOFIA28 A Psicologia na Filosofia Podemos dizer que o interesse pela Psicologia remonta aos primeiros espíritos questionadores, pois os homens sempre se mostraram fascinados por compreender a conduta e a natureza humana. Isso explica as razões pelas quais muitas das perguntas que fazemos hoje já eram feitas há muitos séculos atrás, demonstrando haver uma continuidade do objeto de estudo da Psicologia entre o nosso passado e o nosso presente: Já no século V a.C., Platão, Aristóteles e outros sábios gregos se viam às voltas com muitos dos mesmos problemas que hoje ocupam os psicólogos: a memória, a aprendizagem, a motivação, a percepção, a atividade onírica e o comportamento anormal (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p.17). Até o final do Século XIX, as questões sobre a conduta e a natureza humana eram colocadas e estudadas por filósofos mediante especulações, intuições e generalizações que partiam de suas próprias experiências. Desse modo, os precursores intelectuais da Psicologia careciam de métodos e abordagens que permitissem ao conhecimento reduzido ser considerado científico. Para você ter uma ideia sobre isso, apresentamos a seguir algumas das principais influências dos filósofos na construção da Psicologia. Contribuições de Descartes Um importante filósofo que teve influência marcante para o desenvolvimento da Psicologia foi o francês René Descartes (1596-1650) com sua teoria sobre o dualismo mente-corpo. Antes de Descartes as pessoas acreditavam que a mente influenciava fortemente o corpo, mas este não influenciava a mente. Na Idade Média, por exemplo, supunha-se que a mente coordenava funções reprodutivas, perceptivas e locomotoras. Descartes considerava que a função da mente é a capacidade de pensar, enquantoos outros processos seriam funções do corpo. Apesar da antiguidade do seu objeto, a Psicologia somente se constituiu como estudo científico no final do Século XIX, em 1889, com Wilhelm Wundt, em Leipzig, na Alemanha. Por causa disso, Wundt foi considerado o fundador da Psicologia Moderna. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 29 Embora entendesse que a mente influenciava o corpo e o corpo influenciava a mente, Descartes abriu caminho para a dualidade entre o mundo físico e o mundo psicológico, o que veio a permitir estudos de um e de outro que passaram, pouco a pouco, a se apoiar em observações objetivas e não mais nas especulações metafísicas e abstratas. Descartes fazia uma interpretação física e mecânica do corpo (cujo funcionamento ele entendia como uma máquina). Esta interpretação foi a base precursora dos estudos da Fisiologia, que abriram as portas da psicologia comportamental do estímulo e da resposta. Contribuições dos filósofos empiristas Os empiristas também contribuíram para a construção da Psicologia. Eles eram um grupo de filósofos que se voltavam para a compreensão do modo como a mente adquire conhecimento. No pensamento dos empiristas, o desenvolvimento da mente se dá por meio do acúmulo progressivo de experiências sensoriais captadas do mundo exterior. John Locke (1632-1704), um dos mais conhecidos empiristas, entendia que, ao nascer, a mente da criança está vazia, como se fosse uma página de papel em branco. As ideias teriam, então, origem no mundo exterior, sendo captadas por meio dos sentidos (FILHO, 2002). Locke não admitia a existência de ideias inatas, pois, para ele, todo conhecimento tem base empírica, ou seja, é adquirido por meio da experiência. Ele distinguia dois tipos de experiências: uma derivada da sensação e outra da reflexão. O primeiro tipo – a sensação - vem da estimulação direta causada pelos objetos exteriores, que causam impressões sensoriais simples. O segundo tipo – a reflexão – supõe que a mente também age sobre as sensações que recebe, gerando ideias. Todavia, para Locke a FILOSOFIA30 reflexão depende sempre de ideias já experimentadas através dos sentidos. Locke também fazia distinção entre ideias simples e complexas. As ideias simples podem se originar nas sensações ou nas reflexões, mas serão sempre recebidas de maneira passiva pela mente. As ideias complexas são formadas pela combinação das ideias simples e podem ser decompostas em unidades menores para serem analisadas. Tais contribuições de Locke viriam, mais tarde, a compor a base das teorias associacionistas da Psicologia. Segundo Schultz; Schultz (1998, p.46): A associação é um nome mais antigo para o processo que viria a ser chamado de aprendizagem. A redução, ou análise da vida mental a elementos ou ideias simples, e a associação desses elementos para compor ideias complexas formaram o núcleo da nova psicologia científica. Ao supor que a mente é vazia e será preenchida por ideias simples e complexas advindas da experiência sensorial, a aprendizagem, na concepção de Locke, é um processo totalmente passivo, que se dá mediante os estímulos originados no mundo exterior. Contribuições dos filósofos racionalistas Os racionalistas tinham uma posição contrária à dos empiristas. O ponto de vista do racionalismo é o de que o conhecimento se baseia essencialmente na razão e não na experiência. Sendo assim, os racionalistas defendiam que a mente humana gera ideias independentemente dos estímulos externos, pois possui capacidades inatas, ou faculdades, para isso. O pensamento do filósofo alemão Kant (1724-1804) é um exemplo desta posição. Kant supunha que a mente surge já com categorias a priori (pré-formadas). Para ele tais categorias, como as noções de tempo e espaço, impõem-se à experiência pela própria mente sob a forma de intuições. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 31 Estas contribuições viriam influenciar a Psicologia, particularmente aquelas formulações teóricas que partiram do pressuposto de que o ser humano ao nascer já traz certas capacidades inatas. A ciência psicológica Como vimos, os filósofos influenciaram marcadamente a construção da Psicologia, porém de modo não-científico. O nascimento da Psicologia como ciência somente veio a acontecer na medida em que os pesquisadores passaram a estudar a mente humana utilizando procedimentos cuidadosamente controlados de observação e experimentação. A partir daí, a Psicologia iniciou a construção de uma identidade própria como ciência que a distinguiria, sobremaneira, das suas raízes na Filosofia. Os primórdios da Psicologia Experimental A Psicologia Experimental nasceu na Alemanha no século XIX, com Wundt, embora outros países europeus, como Inglaterra e França, também apresentassem progressos significativos rumo ao pensamento científico. A Alemanha foi o país que ofereceu maiores e melhores oportunidades para praticar novas técnicas científicas. Seu grande número de universidades, com laboratórios bem equipados, a liberdade dada aos docentes para a pesquisa, uma concepção de ciência que extrapolava o interesse exclusivo pela física e química estendendo-se para outras áreas como a biologia, a linguística, a história, entre outras, fizeram da Alemanha o terreno profícuo para o nascimento e desenvolvimento da Psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). FILOSOFIA32 É neste cenário que Wundt voltou-se para a fundação da nova ciência que viria a ser a Psicologia. Wilhelm Wundt (1832-1920) Wundt é considerado o fundador da Psicologia como uma disciplina acadêmica formal. Para estudar cientifi camente os processos mentais, ele criou o primeiro laboratório de Psicologia Experimental na Universidade de Leipzig, Alemanha. Infl uenciado pelas ideias dos empiristas, e também pelo trabalho dos fi siologistas e dos físicos, Wundt dedicou-se aos estudos sobre a experiência consciente e seus elementos. Wundt deu ênfase à percepção sensorial, seguiu mais os empiristas que os racionalistas, estudou as sensações e imagens até chegar às percepções mais complexas, acreditava estudar os princípios de associação, nos quais os elementos mentais se combinavam para formar experiências complexas. Pensava que os órgãos dos sentidos tinham seus processos fi siológicos. Nesse sentido, a psicologia experimental foi o sucedâneo mais próximo e com mais profundidade da psicologia empirista (FILHO, 2002, p. 18). Uma vez iniciada, por Wundt, a construção de uma identidade própria para a Psicologia, a evolução do conhecimento na área passou a depender do desenvolvimento de maneiras cada vez mais precisas e rigorosas para tratar do seu objeto de estudo. A partir daí, a Psicologia caminhou no sentido de desenvolver cada vez mais métodos e técnicas de pesquisa, bem como raciocínios teóricos próprios. A Psicologia e a constituição do sujeito Conforme já vimos, a Psicologia, desde os seus primeiros momentos, sempre procurou entender o que faz o homem ser o que ele é. Em Wundt defi niu a consciência como objeto de estudo da Psicologia. Para estudá-la utilizou-se do método da introspecção, em que os sujeitos participantes dos experimentos descreviam suas experiências interiores. Um de seus alunos em Leipzig, Titchener (1867-1927), viria a desenvolver pesquisas nessa mesma direção nos Estados Unidos. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 33 outras palavras, a pergunta básica que guiou a elaboração de todo o pensamento na Psicologia reside na questão. Como nos constituímos sujeitos? Foi na tentativa de responder a essa pergunta básica que os estudiososde Psicologia construíram hipóteses, formularam teorias, criaram métodos e técnicas de investigação. Alguns levantaram suposições de que é a nossa natureza que oferece as possibilidades para a constituição do sujeito, passando a pesquisar e formular teorias que colocaram a ênfase em fatores internos como a hereditariedade e a maturação biológica. Outros argumentavam que a natureza não é suficiente e procuraram explicar como se constitui o sujeito a partir da influência cultural, ou seja, de fatores que são externos ao sujeito e situados no ambiente que o cerca. Outros ainda compreenderam que nem a natureza nem a cultura isoladamente são capazes de explicar a constituição do sujeito. Com essa compreensão formularam explicações que enfatizam a interação natureza-cultura no processo constitutivo do sujeito. Desse modo, podemos dizer que foi perguntando acerca da constituição do sujeito que toda a Psicologia se desenvolveu. A polêmica em torno da separação natureza e cultura no processo de constituição humana foi, portanto, superada pelas concepções dos interacionistas. Para compreender melhor essa concepção, analisemos o famoso caso das meninas-lobo Amala e Kamala. “Na Índia, onde os casos de meninos-lobos foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano, e o seu comportamento era exatamente semelhante àquele dos seus irmãos lobos. Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam. Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de 50 palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras com as quais conviveu. A sua inteligência permitiu- lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples” (Texto extraído de DAVIS; OLIVEIRA, 1990, p.16). FILOSOFIA34 Este caso verídico nos remete à importância da interação entre natureza e cultura para a constituição do humano. As meninas Amala e Kamala, embora humanas pela sua natureza, ao viverem com os lobos e privadas do convívio cultural com os seus semelhantes, na verdade não conseguiram se humanizar; ou seja, não se constituíram sujeitos humanos. Quando foram encontradas, apresentavam comportamentos típicos dos lobos, animais com os quais conviviam até então, e ao voltarem a integrar o convívio social tiveram grandes dificuldades para se ajustar a ele, uma vez que não desenvolveram comportamentos tipicamente humanos, como a comunicação pela linguagem, o uso de utensílios para comer e beber e o pensamento lógico. O relato sobre Amala e Kamala nos leva a refletir que a condição humana não é um atributo dado pela natureza, mas é constituída a partir da interação natureza-cultura. Assim, não nos constituímos como humanos simplesmente porque temos uma natureza que nos dá um aparato biológico para tal. É necessária a interação. Somos, portanto, extremamente dependentes das possibilidades concretas dadas pela vida em sociedade. É o convívio social que possibilitará, ou não, interações entre o sujeito e os objetos de conhecimento, entre o sujeito e os outros sujeitos da vida social. Sabemos que, ao vir ao mundo, o bebê humano é extremamente frágil e dependente. Diferentemente de outras espécies animais, cujos filhotes ao nascer já são capazes de buscar o próprio alimento e sobreviver por conta própria, o bebê humano não sobrevive sozinho, tendo, inclusive, uma infância bastante prolongada que paulatinamente vai prepará-lo para a independência. Nesse percurso de desenvolvimento ele necessitará da interação com outras pessoas, não só para satisfazer as suas necessidades de sobrevivência, mas para aprender sobre o que existe no mundo, tornar-se consciente, e direcionar suas ações dentro dele. A Psicologia, como uma ciência da consciência, tem o papel de investigar as mudanças que ocorrem no sujeito em sua interação Nem só a natureza, nem somente o meio cultural, mas a interação natureza- cultura! Os interacionistas destacam que o organismo e o meio exercem ação recíproca. Um influencia o outro e essa interação acarreta mudanças sobre o indivíduo. É, pois, na interação da criança com o mundo físico e social que as características e peculiaridades desse mundo vão sendo conhecidas. Para cada criança, a construção desse conhecimento exige elaboração, ou seja, uma ação sobre o mundo (DAVIS; OLIVEIRA, 1990, p.36). ORGANISMO MEIO NATUREZA CULTURA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 35 com o mundo (mudanças cognitivas, afetivas, comportamentais, sociais, morais etc.). Para dar conta de conhecer o sujeito e seu processo constitutivo, desenvolveu campos de investigação específicos, com objetos de estudo mais delimitados, como é o caso da Psicologia da Educação. Após a leitura da Seção 1, faça as seguintes atividades no espaço reservado para as suas anotações: Responda: a) Podemos dizer que a Psicologia remonta aos antigos filósofos? Por quê? b) Quando, como e onde a Psicologia se constituiu como um estudo de caráter científico? c) Que tipo de perguntas os homens fizeram desde os seus primórdios e que estão na base do conhecimento de psicologia? d) Wundt é considerado o fundador da Psicologia Científica. Faça uma síntese sobre ele e suas ideias. No quadro abaixo, complete com as ideias centrais dos filósofos que influenciaram o nascimento da Psicologia: DESCARTES LOCKE KANT FILOSOFIA36 Faça um relato do caso de Amala e Kamala com suas palavras, explicando a importância do convívio social para os seres humanos. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 37 CAMPOS DE CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO inguém nega a presença das variáveis psicológicas no fenômeno educativo. Para constatá-las, basta observarmos que muitos fenômenos educacionais são, ao mesmo tempo, fenômenos interacionais/relacionais, pois supõem sempre interações/relações entre sujeitos e entre sujeito e objeto do conhecimento. Aí está, portanto, a dimensão psicológica da Educação. DIMENSÃO PSICOLóGICA DA EDUCAÇÃO SUJEITO SUJEITO SUJEITO OBJETO DO CONhECIMENTO A área de conhecimento que busca relações entre práticas educativas e Psicologia é chamada Psicologia da Educação. Nessa área, os instrumentos analíticos provêm das teorias, métodos e técnicas construídos pela ciência psicológica, enquanto o campo da prática situa-se no polo da Educação, prática social multifacetada. N FILOSOFIA38 No cotidiano das escolas, e perante a tarefa de ensinar, os professores se deparam, constantemente, com temas para os quais a Psicologia se apresenta como um dos mais valiosos instrumentos reflexivos. Não háeducador que não se depare com o dilema desenvolvimento x aprendizagem, pensamento x linguagem. Como ser professor sem conhecer como o ser humano forma seus conceitos sobre o mundo que o cerca? Como ensinar a criança sem se deter em sua mais importante atividade: o brincar? Como favorecer sua alfabetização sem compreender como ela se relaciona com a escrita e sobre qual o papel do erro no desenvolvimento cognitivo? O que isto tudo tem a ver com o fracasso das crianças na escola e em como superar as dificuldades de aprendizagem? Afinal, pode a afetividade nos ajudar a ser um professor melhor? Estas e muitas outras perguntas ilustram problematizações inerentes à prática educativa. Buscar interpretá-las, com a ajuda da Psicologia, sugere esforços de compreensão acerca do sujeito para o qual a prática pedagógica se dirige - o aluno; acerca da relação que esse sujeito aluno tem com os objetos de conhecimento e com os outros sujeitos de sua cultura; como também acerca do papel do sujeito que a conduz – o professor. Dizemos que a Educação é uma prática social multifacetada porque a prática educacional é um espaço contraditório, atravessado por condicionantes históricos, sociais, culturais, políticos, individuais. Sendo assim, situamos a Psicologia como um recurso para nossas reflexões e tomadas de decisões. Isso requer que ultrapassemos a visão simplista que acredita ser possível aplicar linearmente teorias e técnicas emanadas da ciência psicológica na prática educacional cotidiana como se isso, por si só, garantisse o alcance de determinados resultados. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 39 “A Psicologia da Educação compreende, pois, a utilização de conclusões obtidas em diversas áreas da ciência psicológica sobre assuntos que interessam especificamente à educação e à investigação de problemas relacionados às pessoas sob a ação educativa.” Podemos, então, definir Psicologia da Educação, tal como Goulart (1987, p.14): Em se tratando da Psicologia da Educação, os campos de maior interesse que nos auxiliam na compreensão dos problemas relacionados às pessoas sob a ação educativa são os conhecimentos sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem. Segundo Coll Salvador (1999, p.13): A psicologia da educação está situada em um espaço intermediário, por um lado, entre as exigências epistemológicas da psicologia científica, com suas coordenadas teóricas, conceituais e metodológicas, e por outro, entre as exigências de uma ação prática, inserida em algumas coordenadas sociais, políticas, econômicas e culturais que lhe dão sentido. A seguir, trataremos desses dois temas: desenvolvimento e aprendizagem. Compreendendo o processo de desenvolvimento Todos nós sabemos que as pessoas mudam com o decorrer do tempo. Mudanças físicas são facilmente notadas quando comparamos uma criança com um adulto. O próprio processo de crescimento biológico se encarrega de nos mostrar que há diferenças marcantes entre um e outro, que podem ir desde a estatura física até a ação hormonal, que explicam porque uma criança é pequena, por exemplo, e um adulto maior e com pelos em determinadas regiões do corpo. Do ponto de vista psicológico, há também mudanças significativas durante o ciclo vital das pessoas. A fase da infância mostra-se como um período que inicia com uma completa indiferenciação da criança em relação ao mundo que a rodeia, culminando com intensas descobertas sobre as coisas existentes nesse mundo; já a adolescência, em geral, é vivida com grande emotividade e coloca a necessidade de definições para o futuro que começam FILOSOFIA40 a ser esboçadas pelo sujeito; o período adulto caracteriza-se pela maturidade produtiva, constituição de uma família e maior autonomia. Estes exemplos de mudanças são evidências do processo de desenvolvimento humano experimentado por cada indivíduo ao longo do seu ciclo vital. Neste caso, trata-se de um desenvolvimento ontogenético, que ocorre desde a concepção do ser humano até a sua morte. Como pudemos perceber, quando tratamos de desenvolvimento nos referimos às mudanças evolutivas das pessoas. Mas, se tratamos do desenvolvimento sob o ponto de vista psíquico, devemos entender que as mudanças psicológicas (cognitivas, comportamentais, afetivas, sociais) não ocorrem espontaneamente, pois o fator biológico maturacional é apenas um dos aspectos do desenvolvimento humano, mas não o seu todo. Como seres culturais que somos dependemos da interação social para nos tornarmos efetivamente humanos. Lembra-se de Amala e Kamala, cujo caso estudamos na Seção 1? Vejamos, agora, uma conceituação de Psicologia do Desenvolvimento. Sendo assim, uma questão fundamental interessa aos educadores e pode ser traduzida na seguinte pergunta: Como podemos favorecer, por meio da nossa ação educativa, o processo de desenvolvimento de funções psicológicas superiores? Ao formularmos esta questão, compreendemos que o processo de desenvolvimento humano está fortemente inter-relacionado com os processos educativos. Como diz Coll Salvador (1999, p.81): Os conhecimentos e habilidades adquiridos graças à participação em situações de interação com os outros, e especialmente em situações educativas, levariam a níveis mais altos de evolução e de desenvolvimento; o desenvolvimento das pessoas seria, ao menos em boa parte, o produto da influência de fatores externos, entre os quais as suas experiências educativas. Há, também, o desenvolvimento filogenético, que se refere à evolução das espécies desde sua origem até a espécie atual, com todas as suas características. A Psicologia do Desenvolvimento pretende estudar como nascem e como se desenvolvem as funções psicológicas que distinguem o homem de outras espécies. Ela estuda a evolução da capacidade perceptual e motora, das funções intelectuais, da sociabilidade e da afetividade do ser humano. Descreve como essas capacidades se modificam e busca explicar tais modificações. Por intermédio da Psicologia do Desenvolvimento é possível constatar que as manifestações complexas das atividades psíquicas no adulto são frutos de uma longa caminhada (DAVIS; OLIVEIRA, 1990, p.20) PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 41 Esta visão do desenvolvimento difere substancialmente de uma visão centrada exclusivamente na sequência biológica, que entende que as mudanças que ocorrem nos sujeitos seriam universais e pré-programáveis do ponto de vista orgânico. Pelo contrário, compreendemos o desenvolvimento como um processo mediado social e culturalmente, o qual possui componentes biológicos, mas inclui uma dinâmica e processos que se realizam de fora para dentro, vinculando-se à interação e à atividade conjunta com outras pessoas (COLL SALVADOR, 1999). É, portanto, no contexto da interação social que a ação educativa ganha importância como fator capaz de promover ou não o desenvolvimento humano. Compreendendo o processo de aprendizagem Quando consideramos o papel da educação, especialmente da educação escolar, temos como objetivo a construção de práticas educativas que garantam às crianças e aos jovens um processo de aprendizagem significativo. Afinal, em nossa sociedade, a escola é a instituição que foi criada com a finalidade de transmitir às novas gerações o conhecimento acumulado culturalmente, daí porque o processo de ensinar só tem sentido se pensado conjuntamente com o processo de aprender. O processo de aprendizagem é um processo ativo de apropriação, pelo sujeito, do mundo em que vive. Segundo Davis e Oliveira (1990, p. 20-21): Nas inúmeras interações em que se envolve desde o nascimento, acriança vai gradativamente ampliando suas formas de lidar com o mundo e vai construindo significados para as suas ações e para as experiências que vive. É através da interação, portanto, que a criança se apropria dos objetos de conhecimento e dos conceitos que seu grupo cultural partilha. No processo interativo, os adultos ou as crianças mais experientes orientam a criança por meio de pistas, apoios, modelos, auxílios, sugestões, de modo que ela vai se apropriando dos significados FILOSOFIA42 das coisas que existem no mundo e dos modos de ação sobre essas mesmas coisas. Esse processo é mediado pela linguagem, a qual, aos poucos, vai se interiorizando, integrando-se ao pensamento da criança e formando a base sobre a qual se dará o seu funcionamento intelectual. Sendo assim, todas as operações intelectuais necessárias ao processo de conhecer são ativamente construídas na interação com outras pessoas. A partir das contribuições da Psicologia da Aprendizagem é possível compreender que o papel do professor ao ensinar consiste, sobretudo, em propiciar condições para que a relação pedagógica na sala de aula e na escola conduza o sujeito à apropriação do conhecimento. Após a leitura da Seção 2, faça as seguintes atividades: Escreva um texto de 10 a 15 linhas tratando da importância da Psicologia na Educação. Complete o quadro abaixo, com os conceitos de: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO APRENDIZAGEM DESENVOLVIMENTO PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM A Psicologia da Aprendizagem estuda o complexo processo pelo qual as formas de pensar e os conhecimentos existentes numa sociedade são apropriados pela criança. Para que se possa entender esse processo é necessário reconhecer a natureza social da aprendizagem (DAVIS; OLIVEIRA, 1990, p.21). PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 43 A DIVERSIDADE DE ENFOqUES DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO E O USO DO CRITéRIO EPISTEMOLóGICO PARA SUA ANÁLISE Psicologia não se constitui um campo de conhecimento homogêneo e unificado. Pelo contrário, é uma área caracterizada pela multiplicidade de enfoques teóricos e por diferentes ângulos na maneira de olhar o humano, sendo necessário refletir um pouco mais detidamente sobre essa questão, a fim de evitarmos modismos e/ou estereótipos que frequentemente circulam em meio a propostas educacionais e entre os professores. O que ocorre é que, muitas vezes, em nosso país, esta ou aquela contribuição teórica acaba por ser absolutizada no âmbito de certas propostas pedagógicas, passando a figurar como se fosse a única ou a última palavra dita sobre determinado aspecto da psicologia humana. Desse modo, não pretendemos dizer aqui que o construtivismo piagetiano é melhor para os professores que a abordagem histórico-cultural de Vygotsky, ou que a psicologia humanista de Rogers traz mais subsídios que o comportamentalismo de Skinner, ao analisarmos suas contribuições sobre o que acontece na dinâmica de uma sala de aula. A questão não é essa. A FILOSOFIA44 Conforme Larocca (1999, p.22): A Psicologia da Educação ao se voltar para a formação de professores não pode correr o risco de flutuar segundo modismos que, na maior parte das vezes, acabam por distorcer os pressupostos teóricos originais e apresentarem-se como soluções redentoras para os problemas na Educação. Para não correr esse risco, posicionamo-nos pelo acesso aos vários enfoques teóricos produzidos pela Psicologia da Educação, salientando a importância de compreendermos que cada um deles se situa dentro de determinados paradigmas que os orientaram em meio a forças sociais e culturais presentes no cenário histórico que lhes deu origem. A diversidade teórica da Psicologia na Educação A diversidade teórica caracteriza a psicologia e faz parte do seu processo de construção histórica. Tanto é que Gabby Jr (1986) afirma que não temos psicologia, mas psicologias, pois cada teoria constituiu um objeto de estudo de maneira diferenciada. Ao refletirmos sobre as razões da diversidade teórica encontrada na Psicologia, devemos considerar que as teorias se amparam em determinadas visões de mundo, de homem e da relação homem- sociedade. Essas visões são seus pressupostos filosóficos e tanto podem diferir de uma teoria para outra, como podem convergir, ainda que seus objetos sejam diferenciados. Assim, uma teoria poderá ser chamada de humanista, se em sua base conceitual filosófica há uma valorização do homem, como entidade incomensurável. Nesse sentido, a teoria de Rogers sobre a aprendizagem significativa e a teoria de Wallon sobre o papel do outro no processo de desenvolvimento, são, ambas, teorias humanistas, embora seus objetos Enquanto Skinner estava preocupado em estudar as condições que mantêm certos comportamentos observáveis dos indivíduos, Piaget tinha como objeto estudar como se passa de um conhecimento menos elaborado para um conhecimento mais elaborado. Portanto, não podemos contrapor uma teoria à outra, pois cada teórico recortou um dado objeto para seu estudo. Conforme Figueiredo (1991), a pluralidade teórica instalou-se no seio da psicologia desde o momento de seu nascimento. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 45 de estudo sejam diferentes. Da mesma maneira, Wallon e Vygotsky comungam da base filosófica do Materialismo Histórico, enquanto Skinner apresenta uma teoria empirista e positivista, ao supor que o ambiente modela o homem por meio da experiência. Já Piaget produziu uma teoria construtivista, pois defende que nem o ambiente nem o organismo sozinhos promovem o desenvolvimento humano, mas sim um processo construtivo em que se faz constante a inter-relação entre organismo e meio. Alguns estudiosos designam as teorias de acordo com as dimensões do humano com as quais as teorias operam. Por exemplo, teorias cognitivistas são aquelas teorias cujo objeto situa-se no âmbito da cognição (intelecto); teorias comportamentalistas possuem obje- tos de estudo situados na dimensão do comportamento humano. Então, podemos utilizar variadas maneiras para designar as teorias psicológicas. Cada uma dessas maneiras representa um critério que foi tomado por alguém para classificá-las. Neste fascículo, to- mamos o critério epistemológico e das relações homem-sociedade para proceder a uma classificação das teorias que mais adiante você vai estudar. Passemos, agora, a tentar compreender este tipo de critério. O critério epistemológico e das relações homem-sociedade na Psicologia da Educação A relação fundamental estudada pela Epistemologia é a relação sujeito cognoscente – objeto de conhecimento. A Psicologia, enquanto uma ciência humana, ao longo de sua história, construiu teorias que ora enfatizam o sujeito cognoscente (aquele que conhece), ora o objeto do conhecimento, sendo essa FILOSOFIA46 separação sujeito objeto mais evidenciada quando tratamos de fatores internos do sujeito e fatores externos a ele. Sendo assim, temos teorias que enfatizam os fatores situados no sujeito, razão pela qual são denominadas de teorias subjetivistas, enquanto outras privilegiam os fatores externos, os quais correspondem ao polo do objeto e são, por isso, denominadas objetivistas. Há, ainda, uma terceira posição, superadora das demais, que entende haver influências recíprocas entre sujeito e objeto, fatores internos e fatores externos. Estas são chamadas de teorias interacionistas. Observe, com bastante atenção, os esquemas que se seguem: S Sujeito congnoscente Fatores internos O Objeto do conhecimento Fatores externos TEORIA SUBJETIVISTA S O TEORIA OBJETIVISTAS O TEORIA INTERACIONISTA S O RELAÇÃO EPISTEMOLóGICA O critério epistemológico para a análise das teorias da Psicologia da Educação vincula-se a certos modos de compreender os determinantes das relações entre o homem e a sociedade (FERREIRA, 1986). As teorias que enfatizam os fatores internos do sujeito (concepções subjetivistas) conferem ao próprio sujeito um papel preponderante, pois a realidade (objeto) está submetida a ele. Assim, essas teorias ou concepções enfatizam o universo individual, seja por qualificarem o homem como um ser essencialmente bom, livre de determinações ou limitações sociais e culturais, ou por afirmarem a existência de estruturas orgânicas prévias determinantes do ato de conhecimento, que seriam universais para todos os sujeitos. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 47 As teorias que enfatizam fatores externos ao sujeito (concepções objetivistas) consideram o primado do objeto (realidade) sobre o sujeito. Nessas teorias ou concepções o homem é visto como um ser determinado pelas condições ambientais, modelado totalmente pelo meio, um ser passivo cujas condutas são condicionadas pelas suas experiências. Notamos, então, que no subjetivismo há sempre a prioridade dos fatores internos, enquanto no objetivismo, centralidade nos externos. As teorias interacionistas partem do pressuposto de que os fatores internos ao sujeito e a realidade do objeto, tanto como o homem e a sociedade, se influenciam mutuamente. Essa interação traz mudanças para ambos. O interacionismo diverge então do subjetivismo porque este não considera o papel do ambiente sobre o sujeito. Da mesma maneira diverge do objetivismo pela desconsideração deste quanto ao papel do sujeito e de suas estruturas biológicas. Para os interacionistas, aprendizagem e desenvolvimento são processos construídos durante toda a vida. Isso supõe que nenhum indivíduo está pronto ao nascer, ou seja, totalmente submisso às pressões externas exercidas pelo meio. É por isso que dizemos que a postura interacionista se apresenta como superação das demais, especialmente se considerarmos que estas concepções trazem implicações para o modo como vemos e assumimos a prática pedagógica. SíNTESE Nesta unidade, você estudou a respeito da construção da Psicologia e suas relações com a Educação. Constatou que mesmo antes de a Psicologia se constituir como ciência, os filósofos já faziam questionamentos acerca da natureza e da conduta humana. Mas, somente no Século XIX, Wundt possibilitou à Psicologia ser reconhecida como ciência. Para isso, foi necessária a formulação de teorias e de métodos de investigação científicos. Na Psicologia da Educação temos duas vertentes subjetivistas. Uma tem caráter mais filosófico, idealista, e se funda no Humanismo e na Fenomenologia, entendendo o homem como fonte de todos os atos, cuja liberdade está na sua consciência. A outra é inatista e tem duas origens: a)na Teologia, que entende que o homem, ao nascer, já traz uma forma definitiva determinada pelo Criador; b)na Embriologia, cujas descobertas revelaram sequências invariáveis no desenvolvimento humano. No objetivismo, há uma abstração da sociedade. O homem é produto de um meio ambiente natural, visto como totalmente independente das condições históricas e culturais que o produziram (FERREIRA, 1986). FILOSOFIA48 A Psicologia evoluiu como a ciência da consciência humana, sempre procurando entender o que faz o homem ser o que ele é. Para responder a essa questão, formulou diferentes explicações que ora se situavam na natureza humana, ora na cultura, evoluindo progressivamente para uma perspectiva de interação entre natureza e cultura, sujeito e objeto, homem e sociedade. Em seu processo construtivo, a Psicologia formulou uma pluralidade de teorias, cada qual se debruçando sobre dado objeto de estudo para entender o humano. As teorias da Psicologia são imprescindíveis para compreender a Educação, uma vez que a prática educativa vivenciada no complexo cotidiano das escolas não pode abrir mão das contribuições da Psicologia para compreender as relações sujeito-sujeito e sujeito- objeto do conhecimento. Nesse sentido, ganham importância os conhecimentos sobre Aprendizagem e Desenvolvimento. Aprendemos juntos, portanto, que a Psicologia da Educação é uma área de conhecimento que utiliza conclusões obtidas pela ciência psicológica em assuntos que interessam à intervenção e à pesquisa de questões relacionadas às pessoas em situações educativas. Após a leitura da Seção 3, faça as seguintes atividades: Analise se a afirmação abaixo está certa ou errada. Em seguida, traga argumentos que justifiquem sua resposta: “A Psicologia da Educação é um campo homogêneo de conhecimentos, caracterizado pela unidade teórica”. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 49 Tomando por base o critério epistemológico e das relações homem-sociedade, responda qual a ideia principal que caracteriza: a) as concepções subjetivistas; b) as concepções objetivistas; c) as concepções interacionistas. 2 UNIDADE OBJETIVOS DESTA UNIDADE: Caracterizar as implicações pedagógicas da teoria comportamentalista no trabalho docente; Explicitar os principais conceitos teóricos da Psicologia Humanista na relação professor/aluno; Compreender as concepções de aluno e de aprendizagem decorrentes da abordagem inatista. O DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM: teorias que enfatizam o sujeito e teorias que enfatizam o objeto ROTEIRO DE ESTUDOS • O Comportamentalismo na Psicologia, sua ênfase no mundo exterior ao sujeito e suas implicações educacionais. • A Psicologia Humanista de Carl Rogers: uma concepção idealista do sujeito e suas implicações educacionais. • A ênfase nos fatores biológicos: o inatismo na Psicologia e suas implicações educacionais. FILOSOFIA52 PARA INíCIO DE CONVERSA Nesta unidade você estudará o desenvolvimento e a aprendizagem em termos de teorias que enfatizam o sujeito e teorias que enfatizam o objeto. Em cada uma delas, você encontrará determinados modos de compreensão do homem (sujeito) e do mundo que o rodeia (objeto), razão pela qual a análise epistemológica de cada uma delas nos possibilita compreender melhor as relações dessas teorias com a educação. Pretendendo contribuir para que você, professor ou estudante, possa situar a multiplicidade de enfoques teóricos a partir de um eixo de análise, organizamos esta unidade de estudo que tratará de abordagens da Psicologia da Educação que ora privilegiam o polo do objeto (Comportamentalismo) e ora privilegiam o polo do sujeito (Psicologia Humanista e Inatismo em Psicologia). Na Seção 1 trazemos - O Comportamentalismo na Psicologia, sua ênfase no mundo exterior ao sujeito e suas implicações educacionais. Na Seção 2 apresentamos e fundamentamos a análise da vertente idealista do Subjetivismo Psicológico, através da Psicologia Humanista de Carl Rogers. Na Seção 3 discutimos a ênfase nos fatores biológicos, desenvolvendo a abordagem inatista da Psicologia e suas implicações educacionais. Sugerimos que você realize uma leitura criteriosa dessas abordagens, analisando cada uma delas de maneira crítica e fundamentada. Esperamos que você faça uma boa leitura das seções que se seguem. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 53 O COMPORTAMENTALISMO NA PSICOLOGIA, SUA êNFASE NO MUNDO ExTERIOR AO SUJEITO E SUAS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS esta seção trazemos a você as principais ideias do Comportamentalismo. As teorias comportamentais constituem o que chamamosde Objetivismo em Psicologia da Educação. Essas teorias partem do pressuposto geral condutivista de que o ambiente determina o comportamento humano. Esse pressuposto é bem claro nas palavras de Watson, pioneiro do comportamentalismo norte-americano: Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e o mundo que eu especificar para criá- las, e garanto poder tomar qualquer uma ao acaso e treiná-la para ser o especialista que se escolher – médico, advogado, artista, gerente comercial e até mesmo mendigo ou ladrão, independentemente de seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e da raça de seus ancestrais (HEIDBREDER, 1981, p. 218). N FILOSOFIA54 Além da crença no poder do meio ambiente em modificar os indivíduos, o sistema behaviorista em Psicologia, fundado sob bases empiristas e positivistas, apresenta como principais características teóricas: uma inclinação pragmática; o interesse pelos comportamentos observáveis e mensuráveis; a rejeição à introspecção; e a adesão a uma psicologia associacionista e hedonista. As experiências determinam o comportamento? Os ambientalistas enfatizam o papel e a importância dos fatores externos no comportamento. Então, é importante lembrar que, para eles, não existem aptidões e capacidades intelectuais inatas que possam gerar determinadas respostas frente a determinados estímulos. Sem negar a existência de processos internos no desenvolvimento do indivíduo, consideram que esses processos não podem ser observados e, por isso, não podem ser comprovados. Desse modo, ignora-se no behaviorismo tudo o que não possa ser comparado, testado, confrontado e experimentado sob a luz da ciência natural. O que determina o comportamento do indivíduo é o repertório de experiências e aprendizagens que ele tem durante a sua vida. O meio tem o poder de modelar a conduta humana e animal, através de processos de condicionamento, em que, para todo estímulo apresentado, o organismo produz uma resposta (S-R), e esta pode ser mantida (ou excluída) por intermédio do controle de contingências que estão no meio (FONTANA; CRUZ, 1998). Você entendeu o que determina o comportamento das pessoas segundo a concepção objetivista? Skinner é o mais importante behaviorista. Doutor em Psicologia, em Harvard, criou a Teoria do Condicionamento Operante, a qual considera que “a aprendizagem se dá [...] apoiando-se [...] em comportamentos emitidos pelo próprio organismo que são seguidos de alguma consequência” (FONTANA; CRUZ, 1998, p. 27). BEHAVIOR = COMPORTAMENTO PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 55 Na verdade, Skinner baseou-se inicialmente nos experimentos do russo Pavlov com animais, que explicou o processo de condicionamento respondente, em que a aprendizagem se dá pela associação de um reflexo do organismo a um estímulo neutro, cuja repetição evoca a mesma resposta do organismo. A teoria do Condicionamento Reflexo ou Condicionamento Clássico de Pavlov Pavlov foi um grande fisiologista que se dedicou especialmente à pesquisa científica. Graças ao seu trabalho sobre glândulas digestivas, foi agraciado, em 1904, com o Prêmio Nobel e veio a contribuir sobremaneira para a história da Psicologia estudando os reflexos condicionados em animais. Pavlov notou que havia um processo de salivação natural diante do alimento em um cão. Essa salivação natural é uma resposta reflexa (incondicionada), ou seja, uma reação inata, não-aprendida pelo cão diante da presença de alimentos. Após fazer uma intervenção cirúrgica no cão para recolher seu fluxo de saliva, Pavlov passou a apresentar o alimento acompanhado do som de uma campainha, ou seja, cada vez que a comida era apresentada, a campainha tocava. Após várias repetições dessa apresentação conjunta do alimento e campainha, Pavlov observou que a saliva do cão escorria simplesmente quando este ouvia o som da campainha, verificando-se, portanto, que o som substituiu o efeito do estímulo natural (comida), tornando-se capaz de produzir a salivação, que passou a ser, então, uma resposta condicionada. FILOSOFIA56 Podemos definir condicionamento reflexo como aquele que abrange reações naturais do organismo frente a estímulos específicos; ou seja, respostas são provocadas frente a determinados estímulos. Os fatores que influem para o condicionamento reflexo são a simultaneidade (do estímulo natural e estímulo artificial) e a repetição dessa apresentação. As respostas que passarão a ser dadas diante do estímulo artificial são as respostas condicionadas. Na perspectiva do Condicionamento Reflexo, a aprendizagem é a “aquisição de uma reação pela substituição de estímulos naturais por estímulos neutros, que se tornam condicionados pela sua ocorrência simultânea ou contígua aos primeiros (CAMPOS, 1986, p.187). Embora entendida como aprendizagem pelos behavioristas, e estendida da psicologia animal para a psicologia humana, podemos notar que a aquisição da reação reflexa condicionada nada mais é que uma forma cega de mudança de comportamento, que difere substancialmente de uma aprendizagem voluntária que se dá mediante a atividade mental do aprendiz. Contudo, percebemos que, em nossa vida cotidiana, adquirimos muitos condicionamentos. Por exemplo: uma criança toma uma injeção dolorosa dada por uma enfermeira vestida de branco e passa a chorar sempre que vê alguém vestido de branco. A criança que ouve a mãe dizer “não” quando se aproxima do fogão tende a evitar aproximar-se do mesmo. De igual maneira, muitas das nossas atitudes, gostos, repugnâncias, hábitos e sentimentos que vivenciamos como adultos são adquiridos pela via do condicionamento reflexo. Teoria do Condicionamento Operante A partir de Pavlov e Watson, outra teoria com base na associação estímulo-resposta viria a se desenvolver e ocupar lugar proeminente a Psicologia. Esta teoria foi a do Condicionamento PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 57 Operante, desenvolvida por Skinner (1904-1990), um professor da Universidade de Harvard. Skinner é o mais importante dos behavioristas e, tal como seus antecessores, também concebeu o homem como um ser neutro e passivo perante os estímulos ambientais. Para Skinner, o comportamento se reduz apenas ao que é observável e possível de ser mensurado. Por isso, não lhe interessava estudar eventos ou fenômenos internos que não podiam ser observados, razão pela qual não levou em consideração o que ocorre dentro da mente dos indivíduos durante o processo de aprendizagem. Os experimentos de Skinner foram realizados, em sua maioria, com animais, especialmente ratos e pombos, dos quais fez extrapolações para o comportamento humano. O experimento básico que permitiu explicar o condicionamento operante foi feito colocando-se um rato com fome dentro de uma caixa à prova de luz e som exteriores (havia na caixa um orifício para receber água, uma bandeja para alimento, uma barra horizontal ligada a um depósito de alimentos que deixava cair certa quantidade cada vez que a barra era pressionada). Após explorar aleatoriamente o interior da caixa, o rato batia na barra que deixava cair o alimento. O que Skinner observou foi que cada vez que o rato era colocado novamente dentro da caixa não mais fazia movimentos exploratórios aleatórios, indo de imediato acionar o dispositivo que lhe traria o alimento. Ou seja, o comportamento de pressionar a barra foi adquirido em função da recompensa que adveio à resposta. A partir desse experimento básico, Skinner concluiu que: “O comportamento é controlado por suas consequências” (MOREIRA, 1983, p.12). Tais consequências nada mais são do que estímulos que se seguem a uma resposta.Esses estímulos ou eventos tendem a aumentar a probabilidade de a resposta dada se repetir outras vezes, tal como acontece com uma criança que frequentemente faz seus deveres de casa, sem que ninguém a pressione para isso, porque recebeu um elogio significativo da sua professora, numa dada ocasião em que fez os deveres solicitados. FILOSOFIA58 Ou seja, o elogio foi um estímulo posterior à resposta de fazer os deveres e aumentou a probabilidade de essa criança fazê-los. Esse estímulo posterior à resposta foi chamado por Skinner de reforço. Sendo assim, o condicionamento operante é o processo através do qual uma resposta se torna mais provável ou mais frequente. Skinner entendia que há duas espécies de reforço: os positivos e os negativos. Os Reforços Positivos são aqueles que aumentam a frequência de uma resposta pelo acréscimo de algo na situação; ou seja, um reforço positivo consiste em adicionar alguma coisa ao ambiente do indivíduo, por exemplo: água, um sorriso do professor, um alimento. Os Reforços Negativos aumentam a frequência da resposta pela retirada ou cessação de alguma coisa da situação. Como exemplos podemos citar: a retirada da carranca do professor, a cessação de um som alto ou de um choque elétrico. Nesses casos, embora algo seja retirado da situação, esta retirada resulta satisfatória, advindo, então, o aumento da probabilidade da resposta. Os reforços também se diferenciam quanto às suas origens. São chamados de Reforços Primários ou Incondicionados aqueles que se ligam à sobrevivência do indivíduo como, por exemplo, a água, o alimento, o repouso. Já os Reforços Secundários são aqueles cuja propriedade reforçadora foi adquirida na vida social. Exemplos: prestígio, dinheiro, fama, poder, atenção, aprovação etc. Quando não mais existe a ocorrência de um reforço, a resposta tende a se tornar cada vez menos frequente. Esse processo denomina-se extinção. Uma vez que determinada resposta já tenha sido reforçada, a extinção corresponde ao abandono dessa mesma resposta (Pesquisas indicam que, no início, a extinção provoca agressividade). Podemos, então, conceituar reforço como: evento que segue à resposta e aumenta a probabilidade de sua ocorrência. Outras formas de conceituar o condicionamento operante são: - aumento de frequência de uma resposta quando esta for seguida de estímulo reforçador; -fortalecimento de respostas pela apresentação ou supressão de estímulos consequentes (reforço). PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 59 Assim, na perspectiva ambientalista a aprendizagem é a modificação do comportamento observável em função da experiência, considerando-se importante analisar rigorosamente a relação entre os estímulos presentes e as contingências do meio sobre a conduta humana, de modo a permitir a previsão e o controle do comportamento (GUERRA, 1998). Implicações educacionais A abordagem skinneriana do ensino compreende uma tecnologia educacional condizente e com objetivos comportamentais claramente definidos. Do ponto de vista do processo educacional, tal concepção leva a uma grande valorização dos aspectos técnicos no planejamento, organização e avaliação do ensino e, também, do papel diretivo do professor. Nesse sentido, o processo de ensino implica o arranjo de contingências de reforço, pelo professor, eficazes para controlar as respostas a serem dadas pelos estudantes, levando- os a exercitar ou treinar as habilidades desejadas e a excluir as indesejadas, através de uma programação minuciosa de atividades educacionais. Uma das formas de aplicação do condicionamento operante nas práticas escolares que teve grande repercussão em nossa educação é a Instrução Programada. Veja, a seguir, o que diz Campos (1986, p.197) sobre a Instrução Programada: A instrução programada é um sistema de ensino e aprendizagem, no qual a matéria preestabelecida é subdividida em etapas reduzidas, discretas e cuidadosamente organizadas em uma sequência lógica, que pode ser prontamente aprendida pelos estudantes. Cada etapa organiza-se, deliberadamente, baseada na que a precedeu. O aprendiz pode evoluir através da sequência de etapas, em seu ritmo peculiar, e é reforçado, imediatamente, depois de cada etapa; ou se lhe oferece a resposta correta ou se lhe permite avançar para a etapa seguinte, depois de registrar a resposta correta. Na perspectiva do condicionamento operante, a aprendizagem é definida como uma mudança no comportamento observável, ou seja, uma modificação nas respostas dadas pelo indivíduo. Contingência - relação entre o comportamento e os acontecimentos ambientais que influenciam esse comportamento. FILOSOFIA60 Moreira (1983, p.17) esclarece acerca dos princípios básicos que regem a tecnologia da Instrução Programada. Estes princípios são os seguintes: 1. Pequenas etapas: a informação é apresentada através de um grande número de pequenas e fáceis etapas. O uso de peque- nas etapas facilita a emissão de respostas a serem reforçadas e diminui a probabilidade de cometer erros (segundo Skinner, o erro cometido é aprendido e, portanto, os erros devem ser minimizados e os acertos maximizados). 2. Resposta ativa: o aluno aprende melhor se participa ativamente da aprendizagem. 3. Verificação imediata: o aluno apreende melhor quando verifica sua resposta imediatamente. 4. Ritmo próprio: cada aluno pode trabalhar tão rápida ou lentamente quanto desejar. 5. Testagem do programa: testagem através da atuação do aluno. Se a apresentação de algum quadro (frame) não estiver clara, isto se refletirá nas respostas do estudante. Os princípios do condicionamento operante tiveram e ainda têm grande influência nas práticas educacionais, especialmente nas escolas. O que observamos é que os professores utilizam os princípios do condicionamento operante mesmo sem ter consciência deles, o que nos leva a concluir que o condicionamento é uma realidade no interior de nossas salas de aula. Críticas ao Behaviorismo na Educação O Behaviorismo é, provavelmente, a teoria da Psicologia que mais críticas recebe na área educacional. A análise crítica de autores como Ferreira (1986), Patto (1987), Guerra (1998) sobre a relação entre Comportamentalismo e Educação enfatiza o individualismo e a concepção mecânica de aprendizagem, assim como a passividade a que está sujeito o aluno num processo que não leva em conta sua atividade cognitiva. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 61 Você conhece as críticas ao Comportamentalismo na Educação? Guerra (1998, p.37) traduz isso da seguinte forma: Psicólogos e educadores, produzindo ou aplicando conhecimentos com essa representação, procuravam tornar-se modificadores de comportamento, buscando a adaptação dos indivíduos numa so- ciedade a-histórica. Essa adaptação deveria se dar nos termos dos padrões de conduta considerados adequados. [...] A escola cum- priu, dessa maneira, a função de transmissão da cultura, através das modificações de comportamento que são consideradas desejá- veis para a sociedade. [...] Como a sociedade requeria indivíduos habilidosos, tecnicamente capazes, obedientes e passivos às suas determinações, a escola se esmerou em traduzir na sua prática cotidiana tais expectativas. Ferreira (1986) diz que a concepção objetivista representa, na prática, uma das formas convenientes para que o sistema capitalista treine e discipline a mão-de-obra que lhe é necessária para o acúmulo do capital. Embora o Comportamentalismo tenha contribuído para a prática pedagógica como um alerta sobre a importância de os professores elaborarem seus planos de ação
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