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AO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Processo n°:.................................... Daniela Dias de Souza, já qualificada, por seu advogado infra- assinado, nos autos do processo judicial em epígrafe, não se conformando, data vênia, com o respeitável acórdão proferido nos autos da ação investigatória de paternidade cumulada com pedido de anulação de registro, com fundamento no art. 105, III, alíneas “a” e “c” da Constituição Federal, vem interpor RECURSO ESPECIAL Requerendo seja o mesmo recebido com as razões anexas, admitido e remetido ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça, pelas quais espera a reforma do respeitado acórdão ora recorrido, após cumpridas as formalidades legais. Nestes termos, pede deferimento. Brasília, 29 de setembro de 2017 Advogado Oab/DF AO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Recorrente: Daniela Dias de Souza Recorrido: Joaquim Maciel Albuquerque Eminente senhor ministro relator, Colenda turma, RAZÕES DO RECURSO ESPECIAL 1- Da tempestividade O acórdão recorrido foi publicado no dia 12/092017, começando a fluir o prazo recursal no dia 13/09/2017, ainda não esgotado conforme data do presente protocolo, sendo, consequentemente tempestivo o presente recurso. 2- Do cabimento do Recurso Especial Da análise dos autos restaram as seguintes conclusões: 1. O acórdão recorrido foi julgado em última instância pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios 2. O acórdão caminhou, data vênia, em sentido contrário à lei federal, lhe afrontando, contradizendo e negando-lhe vigência; 3. Há dissídio jurisprudencial quanto à questão suscitada no feito. Isto posto, à luz do art. 105, III, alíneas “a” e “c” da Constituição Federal, é cabível o presente RECURSO ESPECIAL como meio de alcançar o fim desejado, qual seja, a reforma do acórdão para declarar a paternidade do recorrido e, consequentemente anular o registro civil original da recorrente de modo a acrescentar o nome do seu genitor natural. 3- Do prequestionamento O aspecto objeto de controvérsia foi prequestionado de forma explicita no acórdão recorrido, em atenção às exigências desta corte superior, conforme ementa do referido acórdão: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DEPATERNIDADE CUMULADA COM ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. COMPROVAÇÃO DA PATERNIDADE BIOLÓGICA POR EXAME DE DNA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA DO PAI REGISTRAL QUE FICOU EVIDENCIADA, A PONTO DE AFASTAR A VERDADE BIOLÓGICA. O reconhecimento da paternidade é ato irrevogável, a teor do art. 1º da Lei nº 8.560/92 e art.1.609 do Código Civil. A retificação do registro civil de nascimento, com supressão do nome do genitor, somente é possível quando há nos autos prova cabal de ocorrência de vício de consentimento no ato registral ou, em situação excepcional, demonstração de cabal ausência de qualquer relação socioafetiva entre pai e filho. Ainda que exista a filiação biológica, confirmada no curso do feito, estando demonstrada nos autos a filiação socioafetiva que se estabeleceu entre o autor e o pai registral, a paternidade socioafetiva impera sobre a verdade biológica. APELAÇÃO DESPROVIDA.” Desta forma, resta suprida a exigência legal do prequestionamento, sendo patente a admissibilidade do presente recurso. 4-Da síntese dos fatos A recorrente ajuizou ação investigatória de paternidade cumulada com pedido de anulação de registro em face do recorrido, a presente ação tramitou em primeira instância na 3° Vara de Família, Órfãos e Sucessões de Ceilândia-DF, a qual declarou, após a comprovação de paternidade pelo exame de DNA, a paternidade biológica do recorrido, todavia sem alterar o registro da recorrente haja vista a comprovação prévia da paternidade socioafetiva com o sr. Francisco Aderbal, inexistindo a possibilidade de dupla paternidade. Indignada a recorrente interpôs apelação na ... turma cível do TJDFT, aduzindo que, uma vez comprovada a paternidade biológica a retificação do registro civil para acrescentar o nome do pai biológico é consequência lógica da paternidade. O Ministério Público deu parecer favorável ao provimento do recurso de modo que fosse declarada a paternidade e por consequência anulado o registro civil da recorrente. Todavia a apelação foi desprovida de forma unânime, sob o fundamento de que o reconhecimento da paternidade é irrevogável e que reconhecida a paternidade socioafetiva no registro essa impera sobre a verdade biológica. Diante de todo o exposto, a recorrente viu-se obrigada a interpor o presente recurso especial, tendo em vista tratar-se de questão de JUSTIÇA. 5-DO MÉRITO 5.1- Da ofensa ao artigo 1.596 do Código Civil brasileiro O acórdão recorrido violou completamente o princípio da igualdade entre os filhos, sejam eles, biológicos ou adotivos, conforme dispõe o artigo 1.596 do Código Civil pátrio: “Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” Conforme disposto no artigo citado, o legislador buscou eliminar qualquer hierarquia entre os filhos havidos na constância do casamento ou não, ou por adoção. Entretanto, o acórdão recorrido viola o direito subjetivo do filho havido fora do casamento de assegurar a alteração de seu registro civil e, consequentemente, de garantir a sua posição na linha sucessória de seu genitor natural, pois ao reconhecer exclusivamente o direito da autora ao conhecimento de sua origem biológica, afastando quaisquer efeitos civis de sua paternidade biológica sob o fundamento do pré-reconhecimento paternal socioafetivo registrado, ignora completamente a igualdade entre os filhos conforme dispõe o art. 1596, CC. Ademais, a omissão do legislador brasileiro quanto ao reconhecimento dos mais diversos arranjos familiares não pode servir de escusa para a negativa de proteção a situações de pluriparentalidade. É imperioso o reconhecimento, para todos os fins de direito, dos vínculos parentais de origem afetiva e biológica, a fim de prover a mais completa e adequada tutela aos sujeitos envolvidos. Tal posicionamento encontra, também, respaldo na doutrina, conforme assevera a eminente professora Maria Berenice Dias na sua obra, Manual das Famílias brasileira, 11° edição, págs. 405-406: “Não reconhecer as paternidades genética e socioafetiva, que fazem parte da trajetória da vida humana, é negar a existência tridimensional do ser humano, pelo que se devem manter incólumes as duas paternidades” Em suma, restando evidente a afronta do acórdão recorrido ao texto do art. 1596 do Código Civil, além da alteração registral, devem ser obtidos os direitos sucessórios decorrentes da filiação, sob pena de violar o princípio da igualdade entre os filhos, dessa forma preservando-se os melhores interesses dos filhos. 5.2- Da divergência jurisprudencial O recurso especial em tela aponta divergência jurisprudencial, com base no art. 105, III, c da CF/88, entre o acórdão recorrido e a decisão desta corte superior. O acórdão paradigma, ao analisar o art. 1596, do Código Civil, quando da igualdade entre os filhos e a possibilidade de multiparentalidade em benefício dos interesses dos filhos, atribui interpretação distinta daquela construída pelo Tribunal recorrido. Cumpre destacar, inicialmente, a similitude fática entre o julgadorecorrido e o seu paradigma. Para tal conclusão, basta a leitura dos seguintes trechos das decisões em cotejo: Acórdão recorrido: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. COMPROVAÇÃO DA PATERNIDADE BIOLÓGICA POR EXAME DE DNA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA DO PAI REGISTRAL QUE FICOU EVIDENCIADA, A PONTO DE AFASTAR A VERDADE BIOLÓGICA.” (Grifo nosso) Acórdão paradigma: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. FILIAÇÃO. IGUALDADE ENTRE FILHOS. ART. 227, § 6º, DA CF/1988. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. VÍNCULO BIOLÓGICO. COEXISTÊNCIA. DESCOBERTA POSTERIOR. EXAME DE DNA. ANCESTRALIDADE. DIREITOS SUCESSÓRIOS. GARANTIA. REPERCUSSÃO GERAL. STF” (REsp nº 1.618.230/RS) (Grifo nosso) Conforme é notório, ambos julgados trataram-se acerca de uma ação de paternidade na qual se buscava o reconhecimento da paternidade biológica e a possibilidade de alteração registral com a devida concomitância entre o pai socioafetivo e o pai natural. Todavia, o acórdão recorrido, data máxima vênia, equivocadamente, deu entendimento diverso ao dessa corte superior afrontando o princípio da igualdade entre os filhos o qual é assegurado no art. 1596, CC e no art. 227, § 6º, da CF, conforme pode se observar na comparação do acórdão recorrido com o seu paradigma. Acórdão recorrido: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DEPATERNIDADE CUMULADA COM ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. COMPROVAÇÃO DA PATERNIDADE BIOLÓGICA POR EXAME DE DNA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA DO PAI REGISTRAL QUE FICOU EVIDENCIADA, A PONTO DE AFASTAR A VERDADE BIOLÓGICA. O reconhecimento da paternidade é ato irrevogável, a teor do art. 1º da Lei nº 8.560/92 e art.1.609 do Código Civil. A retificação do registro civil de nascimento, com supressão do nome do genitor, somente é possível quando há nos autos prova cabal de ocorrência de vício de consentimento no ato registral ou, em situação excepcional, demonstração de cabal ausência de qualquer relação socioafetiva entre pai e filho. Ainda que exista a filiação biológica, confirmada no curso do feito, estando demonstrada nos autos a filiação socioafetiva que se estabeleceu entre o autor e o pai registral, a paternidade socioafetiva impera sobre a verdade biológica. APELAÇÃO DESPROVIDA.” Acórdão paradigma: "RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. FILIAÇÃO. IGUALDADE ENTRE FILHOS. ART. 227, § 6º, DA CF/1988. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. VÍNCULO BIOLÓGICO. COEXISTÊNCIA. DESCOBERTA POSTERIOR. EXAME DE DNA. ANCESTRALIDADE. DIREITOS SUCESSÓRIOS. GARANTIA. REPERCUSSÃO GERAL. STF. 1. No que se refere ao Direito de Família, a Carta Constitucional de 1988 inovou ao permitir a igualdade de filiação, afastando a odiosa distinção até então existente entre filhos legítimos, legitimados e ilegítimos (art. 227, § 6º, da Constituição Federal). 2. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 898.060, com repercussão geral reconhecida, admitiu a coexistência entre as paternidades biológica e a socioafetiva, afastando qualquer interpretação apta a ensejar a hierarquização dos vínculos. 3. A existência de vínculo com o pai registral não é obstáculo ao exercício do direito de busca da origem genética ou de reconhecimento de paternidade biológica. Os direitos à ancestralidade, à origem genética e ao afeto são, portanto, compatíveis. 4. O reconhecimento do estado de filiação configura direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser exercitado, portanto, sem nenhuma restrição, contra os pais ou seus herdeiros. 5. Diversas responsabilidades, de ordem moral ou patrimonial, são inerentes à paternidade, devendo ser assegurados os direitos hereditários decorrentes da comprovação do estado de filiação. 6. Recurso especial provido" (REsp nº 1.618.230/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/03/2017, DJe 10/05/2017).” A divergência é evidente. Em confronto analítico, enquanto o acórdão impugnado concluiu não ser possível a anulação registral para fazer constar o nome do pai biológico pela prevalência da paternidade socioafetiva em face a paternidade biológica, o acórdão divergente interpreta contexto fático semelhante ao ora debatido de outra maneira, qual seja, a de não haver hierarquia entre os filhos em respeito ao princípio da igualdade entre os filhos, de forma a assegurar seu reconhecimento registral e assegurar todos os direitos sucessórios ou não advindos do reconhecimento paterno. Está, pois, claramente evidenciado o ponto em que os arestos entram em manifesto conflito. Não há como negar que o entendimento constante do acórdão paradigma é o que melhor reflete a vontade do legislador, devendo prevalecer no caso em debate. 6-PEDIDO Ante o exposto requer Seja o presente Recurso Especial conhecido e provido para reformar o acórdão recorrido, sanando a violação ao dispositivo legal analisado, bem como a interpretação jurisprudencial divergente, para reconhecer a paternidade biológica do recorrido e para anular o registro civil da recorrente, para fazer constar o nome do pai biológico concomitantemente com o do pai socioafetivo. Seja decretada a inversão do ônus sucumbencial em face do recorrido. Nestes termos, pede deferimento. Brasília, 29 de setembro de 2017. Advogado Oab/DF
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