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1 Gêneros Textuais II – INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Prof. Vânia Araújo www.grancursosonline.com.br GÊNEROS TEXTUAIS II Crônica É um texto narrativo, que consiste no relato de acontecimentos (normalmente banais) do cotidiano. Ela difere do conto não apenas na extensão do texto, mas também na linguagem, já que busca a intimidade e o humor da anedota, numa linguagem cotidiana que encontra receptividade em todos os leitores. Crônica = Cronos = Deus do tempo A crônica apresenta também um narrador (que é o próprio autor), persona- gens (que se aproximam muito das pessoas que as leem), enredo (própria his- tória que vai sendo narrada), tempo e espaço. Na maioria dos casos, esses ele- mentos são tratados por meio de uma linguagem poética. Embora ela tenha caráter transitório de um jornal – uma vez que nasceu dentro desse veículo de comunicação de massa – muitos cronistas contempo- râneos conseguem captar flashes, circunstâncias do cotidiano de uma maneira tão lírica que fica difícil dizer que tais textos não assumem um caráter literário. Veja, a seguir, um exemplo de crônica: O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recorda- ções de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu. Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés de Pinha, do Cajá-Manga, da grande touceira de Espadas- de- -São-Jorge e da alta Saboneteira, que eram a nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque forneciam centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Tudo sumira, mas o grande pé de Fruta-Pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, verde lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde. AN O TA Ç Õ ES 2 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO – Gêneros Textuais II Prof. Vânia Araújo www.grancursosonline.com.br No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amare- los, trêmulo de sanhaços. Chovera: massas assim mesmo fiz questão de que Caribé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um parente muito querido. A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como senão quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram; mas foram brincar nos galhos tombados. Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores. Rubem Braga. Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956. O primeiro parágrafo do texto apresenta marcas descritivas, porém, o obje- tivo maior é o relato dos fatos. Esse texto é lírico, pois relata um fato banal do cotidiano, como por exemplo: a queda de uma árvore frutífera. O autor utiliza palavras “carregadas de lirismo” aproximando-se de um texto literário. Crônica reflexiva É a narrativa de fatos banais do cotidiano, acompanhada de uma reflexão quase filosófica sobre o assunto. IMPORTANTE! Tome cuidado, pois você pode confundir a crônica reflexiva com o texto dissertativo. Note a diferença entre eles: – Dissertação: o objetivo maior é a defesa do ponto de vista. – Crônica reflexiva: a reflexão filosófica apenas acompanha a narrativa que é o próprio texto. É um texto narrativo, uma modalidade de crônica na qual o autor tece reflexões filosóficas, ou seja, transmite suas impressões (humorísticas ou líricas) sobre um assunto, cativando a sensibilidade do leitor numa abordagem descontraída. AN O TA Ç Õ ES 3 Gêneros Textuais II – INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Prof. Vânia Araújo www.grancursosonline.com.br Como a crônica reflexiva representa a expressão espontânea do pensamento do autor, nela não há uma preocupação com a forma: admite tanto a linguagem culta quanto a coloquial como também os recursos poéticos (repetições enfáti- cas e gírias, por exemplo). OOss.:� Então, como você percebeu, apesar de ser um gênero narrativo por defi- nição, a crônica reflexiva, em especial, é um texto híbrido, que mescla algumas modalidades e não prescinde da reflexão e do comentário. IMPORTANTE! Tome cuidado! Porque as crônicas reflexivas aparecem com frequência, principalmente nas provas do CESPE. Elas podem ser confundidas com a dissertação. Mas como você poderá dirimir essa dúvida? Após ter lido o texto, pergunte a si mesmo, qual foi o objetivo maior desse autor? Relatar o fato e acompanhar esse relato com uma reflexão filosófica sobre o assunto (narrativo). Qual foi a intenção desse autor? Defender o ponto de vista ainda que faz relatos (dissertativo). * O autor não defende nenhum ponto de vista particular. Observe a crônica reflexiva escrita por Rubem Braga Os Olhos de IsaOel Instalou-se, ontem, no Rio, um banco de olhos. Ali será conservada na gela- deira uma parte dos olhos tirados de pessoas que acabam de morrer, de aciden- tados e natimortos. Os cegos que são capazes de distinguir a claridade poderão, em muitos casos, ter vista perfeita, recebendo nos olhos a córnea da pessoa morta. Já houve muitos casos dessa operação no Brasil, como o da jovem Isabel, de 18 anos, cega desde nascença, que passou a ver bem. Não a conheço; e estimo que seja feliz em suas visões, e veja sempre coisas que a façam alegre. AN O TA Ç Õ ES 4 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO – Gêneros Textuais II Prof. Vânia Araújo www.grancursosonline.com.br É pelos olhos que entra em nós a maior parte das alegrias e tristezas. Os meus, ainda que bastante usados, enxergam bem, e mesmo, em certas circunstâncias, demais. São, é natural, sujeitos a muitas ilusões; de muitas já fui ao em pós, e eram miragens que me levaram ao meio de um deserto onde me alimentei de gafanhotos e lágrimas, tomando sopa de vento, comendo pirão de areia, como diz a canção. O jornal não diz de quem eram os olhos com que hoje vê a moça Isabel; e ela, nunca tendo visto antes, não sabe se as visões de hoje são verdade ou fanta- sia; talvez esteja a ver este mundo através do filtro emocional de uma criatura já morta. Mas que seus novos olhos – tenham visto o que tiverem antes – que ora vejam tudo em suave e belo azul, acordos sonhos e descobrimentos nas nave- gações dos 18 anos. Que são tontas, mas belas navegações. Rubem Braga, O homem rouco. Rio: Editorado Autor, 1963. No primeiro parágrafo do texto, o autor somente relata os fatos. Porém, no segundo parágrafo, ele começa a refletir sobre o texto. Entrevista (ESCRITA) É um texto dissertativo, que visa obter a informação e difundi-la num meio de comunicação (imprensa escrita, o rádio, a televisão, internet). Tal gênero de texto caracteriza-se pela interação entre os interlocutores: entrevistador e entre- vistado. Este relata suas experiências e conhecimentos acerca de determinado assunto, de acordo com os questionamentos previamente elaborados por aquele. Estrutura da entrevista • Manchete ou título.: como o objetivo é despertar o interesse no público expectador ou público leitor, essa costuma vir acompanhada de uma frase de efeito, proferida de modo marcante pelo entrevistador. • Apresentação.: nesse momento faz-se referência ao entrevistado, divul- gando sua autoridade em relação à relevância do assunto em questão, em como, por exemplo, experiência profissional e conhecimentos relativos à situação, como também os pontos principais relativos à entrevista. • Perguntas e respostas.: trata-se do discurso propriamente dito, em pergun- tas e respostas são apresentadas/escritas, conforme o assunto abordado.AN O TA Ç Õ ES 5 Gêneros Textuais II – INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Prof. Vânia Araújo www.grancursosonline.com.br A entrevista é um texto dissertativo, pois no momento em que o entrevistado oferece suas respostas, apresenta seu ponto de vista, e fundamentando-os para os leitores e para o entrevistador. Leia, abaixo, a entrevista de Rosiska Darcy de Oliveira, feminista e escritora, presidente do “Centro de Liderança da Mulher”, realizada pelo Conselho Nacio- nal dos Direitos da Mulher. MMPB – As mulheres alcançaram um série de direitos e liberdades nas últi- mas décadas. Elas estão realizadas com estas conquistas? Rosiska – Acho que as mulheres estão enfrentando um imenso problema e eu tratei disso no meu livro “Reengenharia do Tempo”. Elas entraram no mundo dos homens. A minha geração participou de uma verdadeira revolução, a mais importante do século XX, que mudou a sociedade mundial e a sociedade brasi- leira. Houve uma imensa migração das mulheres da vida privada para o mundo do trabalho com consequentes possibilidades de afirmação, de automanuten- ção, de experiência intelectual, espiritual, mas, na essência, estamos pagando muito caro, porque fizemos essa migração para o mundo público sem negociar a vida privada. A linguagem utilizada na entrevista é informal, embora seja um texto dissertativo. AN O TA Ç Õ ES