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LAURA RIBEIRO URINÁLISE – AULA 2 Patologia Clínica Prof. Gilberto Botelho O ideal é examinar a urina o mais rápido possível após a coleta. Exame Químico Itens pesquisados: pH, proteína, sangue, glicose, cetonas, bilirrubina, urobilinogênio, nitrito, leucócitos e densidade (algumas fitas não têm estes dois últimos). É importante se atentar a alguns fatos: Não conservar em geladeira ou estar ciente de que vai interferir no resultado do exame (no frio há formação de cristais); A análise depende muito da tira do reagente que há no laboratório. Há fitas que têm mais parâmetros e outras que têm menos, o importante mesmo é ter os parâmetros que interessam. I. PH URINÁRIO Normal: a urina de herbívoros é alcalina, geralmente acima de 7,5. Carnívoros e onívoros normalmente têm pH ácido, mas pode chegar até 7,5 dependendo da dieta do animal. Portanto, é importante salientar que a nutrição interfere no pH da urina. Ph > 7,5: maré alcalina pós-prandial (1h), bactérias urease + (Staphylococcus, Proteus), dieta com alto teor de vegetais, alcalose (geralmente metabólica/vômito), terapia alcalinizante (citrato de potássio, lactato, acetato, bicarbonato, diuréticos tiazínicos). Urease transforma ureia em amônia, por isso as bactérias urease + alcalinizam o meio; Vômito expulsa ácido clorídrico, deixando o meio mais alcalino. Ph baixo < 7,0: em carnívoro, pH entre 5,5 – 7,5 é normal. Bactérias produtoras de ácido, dieta com alto teor de carne, dietas lácteas, catabolismo de proteína aumentado (febre, anorexia), diarreia grave, acidose geralmente metabólica (cetoacidose diabética, acidose lática), terapia acidificante (cloreto de amônio, ácido as córbico, etc). II. PROTEÍNA - Normal: ausente ou traços Proteinúria é um quadro importante que pode ter vários significados. - Tiras reagentes mais sensíveis a albumina - Sangue na urina apresentará proteína também porque no sangue tem tudo, proestro por exemplo - Pode haver microproteinúria de natureza renal, mostrando uma lesão já instalada, mas ainda inicial podendo diagnosticar problemas renais (nefrose). Interpretação: Proteinúria densidade sedimento método de colheita Pode haver contaminação e resultado falso positivo! Densidade é importante! Urina diluída com proteinúria é mais importante do que uma concentrada com o mesmo achado, porque quer dizer que se apresentou uma cruz estando diluída, se estivesse concentrada apresentaria muito mais. Achado de cilindro: tem lesão no glomérulo ou nos túbulos (principalmente). Causas: Fisiológicas: esforço físico quando o animal não está condicionado/acostumado, congestão, febre, proestro (sangramento), estresse. Na repetição do exame, a proteinúria desaparece. Patológicas: pré-renais, renais (lesão glomerular gerando aumento da permeabilidade vascular, lesão tubular diminuindo a reabsorção – pode ser provocada por doenças infecciosas, parasitárias, imunomediadas, etc...) e pós- renais. Iatrogênica: mau uso de sonda por exemplo. Plasmocitoma ocorre a paraproteinemia, proteína estranha circulando no sangue. Proteína de Bence Jones aparece. Além de Hiperglobulinemia, hemoglobina e mioglobina. Em condições normais a albumina não passa pelo glomérulo. Há excreção de creatinina e ureia, sendo que 40-50% da ureia é reabsorvida, mas a creatina não é reabsorvida nunca, então usa-se este parâmetro da creatinina para testar função renal. Nefropatia com perda de proteína - os glomérulos estão em parte lesionados (60%) e parte destruídos (40%). A albumina começa a passar para a urina e pode ocorrer hipercreatininemia. Nefropatia com perda de proteína e falência renal – 80% de glomérulos destruídos. Albumina passa para a urina (por conta de lesão), ureia continua sendo reabsorvida, creatinúria diminui e creatininemia aumenta porque o glomérulo perde a função de filtrar moléculas. Pré-renal: hemoglobina e mioglobina. Renal: destruição imunomediadas, complexo imune, hematúria, inflamação. Pós-renal: processo inflamatório abaixo do rim por diversos fatores provoca proteinúria com ou sem hematúria – quando não há hemorragia. III. GLICOSE Normal: há reabsorção total. Glicose não passa para urina. Glicosúria fisiológica: pós prandial (não ocorre em ruminantes porque carboidratos são fermentados no rúmen a AGVs), estresse (gatos). Patológica: normoglicemia ou hiperglicemia (diabetes, hiperadrenocorticismo...). Normoglicemia e glicosúria- processo renal primário, lesão tubular, nefrotoxicidade, infecção, neoplasia e doença congênita (síndrome de Fanconi). - A síndrome de Fanconi (SF) é uma tubulopatia proximal complexa e se caracteriza por importantes alterações no transporte e na reabsorção de glicose, aminoácidos, fosfato e bicarbonato, em presença de função renal normal. Ocorrem ainda proteinúria tubular, perda urinária inadequada de Na+ e K+, diminuição na capacidade de concentração urinária e acidose metabólica. Iatrogênica: uso de corticoides. Glicocorticoide promove gliconeogênese, aumenta a glicemia e pode levar à glicosúria tendo o animal lesão ou não, depende da quantidade de glicose no sangue – se a concentração de glicose no sangue ultrapassa o limiar do rim de filtrar reabsorver, pode haver glicosúria. IV. CORPOS CETÔNICOS Normal: negativo. Os corpos cetônicos passam livremente ao filtrado glomerulas e são totalmente reabsorvidos pelos túbulos, mas quando a capacidade de reabsorção tubular é saturada, ocorre cetonúria. Formação de corpos cetônicos: no fígado ocorre a lipólise que libera acetil-CoA, este é remanejado para o ciclo de Krebs ou pode ser convertido em corpos cetônicos. Casos como jejum prolongado, ou diabetes melittus não-tratado, resultam em uma superprodução de corpos cetônicos, à qual se associam sérios problemas. Durante o jejum, a gliconeogênese retira a maior parte dos intermediários do ciclo de Krebs, redirecionando o acetil-CoA para a produção de corpos cetônicos. No diabetes não- tratado, a insulina está presente em ínfimas quantidades, e os tecidos extra-hepáticos não conseguem captar a glicose da corrente sanguínea de forma eficiente. Para aumentar o nível de glicose no sangue, a gliconeogênese hepática é acelerada, o que também ocorre com a oxidação dos ácidos graxos no fígado e na musculatura, gerando uma produção de corpos cetônicos acima da capacidade de sua oxidação pelos tecidos extra-hepáticos. O aumento nos níveis sanguíneos do acetoacetato e D-β-hidroxibutirato diminuem o pH, resultando em uma acidose. E na urina, leva à cetose. Causas: dieta hipocalórica, jejum, diabetes mellitus, anorexia, exercício extenuante, lactação (bovinos – CETOSE!), toxemia da prenhez em ovelhas e hipoglicemia dos leitões. O único jeito de reverter quadros de cetose, toxemia da prenhez em ovelhas e hipoglicemia dos leitões é glicose intravenosa. V. SANGUE Normal: negativo, mas é normal encontrar algumas poucas células do sangue na microscopia. Obs.: hemoglobina presente, deixa a urina vermelha, mas não turva. Já na presença de hemácias, a urina fica vermelha e turva. Fisiológico: proestro Patológica: nefrite, cistite, uretrite, prostatite, neoplasias, urolitíase. Iatrogênica: sonda VI. BILIRRUBINA/UROBILINOGÊNIO Normal: em cães pode haver um pouco, nas demais espécies é ausente. A bilirrubina é produto do metabolismo da hemoglobina, transportada ligada à albumina até o fígado, onde é conjugada com carboidratos pelos hepatócitos e eliminada. Este teste detecta principalmente a bilirrubina conjugada por ser mais solúvel. No cão, o limiar renal para a bilirrubinaé baixo e os túbulos renais são capazes de quebrar o grupamento heme e produzir bilirrubina, sendo considerados normais resultados de até uma cruz em urinas concentradas. Em gatos é um achado anormal. É normal encontrar algum urobilinogênio na urina, o excesso e a falta é que são preocupantes. Causas: doença hepática, obstrução de ducto biliar, jejum prolongado, hemólise, etc. VII. NITRITO Normal: negativo. Sua presença na urina é sinal de infecção no trato urogenital. Bactérias gram – reduzem nitrato a nitrito. É importante se atentar ao método de coleta da urina, porque pode haver contaminação e não necessariamente significar infecção. Se fizer uma cistocentese e detectar presença de bactérias é 100% certo que há infecção, já que é um método completamente estéril. VIII. LEUCÓCITOS Normal: algumas células na microscopia. Intensa leucocitúria é significativo de inflamação, não necessariamente séptica. Na urina recém coletada encontra-se leucócitos geralmente, já em uma mais antiga tem piócitos. Em urinas coletadas por cistocentese, a presença de leucócitos indica que sua origem está entre os rins e a uretra proximal. Causas: Inflamação do trato urinário: inflamações de mucosa, submucosa ou parênquima renal permitem que leucócitos (na maioria neutrófilos e macrófagos) passem do sangue para a urina. Pode ser de origem infecciosa (bactérias, fungos, parasitas) ou não-infecciosa (neoplasia, urolitíase, necrose). Inflamação do trato genital: em amostras obtidas por micção natural, pode haver contaminação da urina com bactérias provenientes da próstata, prepúcio ou canal vaginal.
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