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Como comprovar a segurança de um novo medicamento? Talita Magalhães Rocha Mestre em Farmacologia Julho -‐ 2017 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA DISCIPLINA: FARMACOGNOSIA I RDC nº 26, de 13 de maio de 2014 Ensaios não clínicos e clínicos de segurança e eficácia Registro simplificado Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado -‐ IN n° 2/2014 Presença nas monografias de fitoterápicos de uso bem estabelecido elaboradas pelo Comitê de Produtos Medicinais Fitoterápicos da European Medicines Agency (EMA) Relatório de segurança e eficácia Avaliação da toxicidade • Objetivo Predizer possíveis efeitos tóxicos, que podem se manifestar quando da exposição humana à determinados produtos, como medicamentos e outros. • Modelos animais -‐ Educacional -‐ Desenvolvimento novos medicamentos e outros produtos Stokes, 2002; Meyer, 2003; HSU, 2003 Aspectos históricos de pesquisa envolvendo animais • Hipócrates (450 a.C.) -‐ Órgãos humanos x animais; • Galeno (129 -‐ 210 d.C.) -‐ Medicina Científica; • René Descartes (1596 -‐ 1650) -‐ Animais não sentiam dor; • Jeremy Benthan (1789) -‐ base para proteção animal Aspectos históricos de pesquisa envolvendo animais • Claude Bernard (século XIX) -‐ Postura indiferente ao sofrimento dos animais de laboratório; • Século XIX -‐ Sociedades Protetoras dos Animais; • Associação Médica Americana (1909) -‐ Ética na experimentação animal; • UNESCO (1978) -‐ Declaração Universal dos Direitos dos Animais. Animais de laboratório • Fácil manutenção, manejo e observação • Padronização do ambiente • Pequeno porte • Docilidade • Grande amostragem • Ciclo reprodutivo curto • Fisiologia conhecida • Baixo consumo alimentar Animais De Laboratórios Espécies Utilizadas Ø Cães Ø Gatos Ø Primatas Ø Aves Ø Ratos Ø Camundongos Ø Cobaias Ø Insetos Espécies convencionais Ø Ratos (Rattus norvegicus) Ø Camundongos (Mus musculus) Ø Hamster (Mesocrisetus auratus) Ø Cobaias (Cavia porcellus) Ø Coelhos (Oryctolagus cuniculus) Geneticamente modificados Ø KO-‐LDL. Adquirido em 2005 – USP, Brasil Ø Rato NIH (NUDE): imunodeficiente, espontâneo Animais de laboratórios Ferreira et al, 2005 Nude mouse Estudos de neoplasias e cicatrizes normais e patológicas Utilização de animais na pesquisa: aspectos éticos ü Uso disseminado de animais na pesquisa ü Reavaliação do uso de animais ü Desenvolver e Validar novos métodos ü Implementação regulatória de testes alternativos White, 2001; Schechtman, 2002; Russel & Burch, 1992 Regulamentação Lei Arouca nº 11.794 de 8 de outubro de 2008 Regulamentação do Uso de Animais para fins didáticos e científicos -‐ Uso dos animais para atividades didáticas e científicas em Instituições de ensino superior e ensino técnico na área biomédica -‐ Criação do CONCEA -‐ Obrigatoriedade de constituição de uma CEUA The Principles Of Humane Experimental Technique – 3Rs Diminuir o número de animais utilizados na pesquisa, minimizar a dor e o desconforto e buscar alternativas para a substituição de testes Rex L. Burch & William M.S. Russell (1959) O princípio dos 3 Rs • Replace -‐ substituição • Reduce -‐ redução • Refine -‐ refinamento Normas para avaliações toxicológicas de medicamentos • Organização intergovernamental • América do Norte, Europa e Ásia • Guia de avaliação da segurança de produtos químicos “Guidelines for testing of chemicals” (OECD, 1996). • Segurança de novos alimentos, etc • Organizações participantes: FDA, WHO etc OECD guideline for testing of chemicals • Acute oral toxicity -‐ guideline 401, 1981 • Alternative methods -‐ Fixed dose method -‐ OECD 420, 1992 -‐ Acute toxic class method – OECD 423, 1996 -‐ Up-‐and-‐down procedure – OECD 425, 1998 Criticado frente ao programa 3Rs Meta 3Rs: Reduzir o nº de animais Sofrimento dos animais E no Brasil... Guia para a realização de estudos de toxicidade pré-‐clínica de fitoterápicos 1. Indica métodos padronizados para os estudos de toxicologia pré-‐clínica de acordo com Resolução vigente para registro e renovação de registro de fitoterápicos. 2. Os estudos de toxicidade devem ser conduzidos com amostras padronizadas do medicamento fitoterápico ou do derivado vegetal a partir do qual é produzido. 31 de janeiro de 2013 -‐ Versão 2 Fundamento • Baseado em documentos de agências e instituições reconhecidas na área FDA: Food and Drug Administration EMA: European Medicines Agency OECD: Organization for Economic Co-‐operation and Development ICH: International Conference on Harmonization NCI : National Cancer Institute WHO: World Health Organization Objetivo • Possibilitar uma maior harmonização com a regulamentação internacional; • Racionalizar estudos não clínicos, evitando duplicidades e utilização desnecessária de animais sem que isso comprometa a obtenção e confiabilidade de informações referentes à segurança da droga a ser testada; • Fornecer dados confiáveis para subsidiar as Pesquisas Clínicas. Condução • De acordo com as Boas Práticas de Laboratório (BPL) -‐ OECD Principles of Good Laboratory Practice • HANDBOOK: GOOD LABORATORY PRACTICE (GLP) / WHO (Quality practices for regulated non-‐clinical research and development), quando aplicável; • Os animais a serem utilizados deverão ser saudáveis, preferencialmente livres de patógenos (SPF – Specific Pathogen Free), e de origem conhecida, além de possuir peso e idade adequados ao experimento. Desenvolvimento de medicamentos Adaptado de BERKOWITZ (2006) Biodisponibilidade Eficácia Efeitos tóxicos Avaliação da segurança não clínica Estudos não clínicos de segurança 1. Estudos de toxicidade de dose única (aguda) 2. Estudos de toxicidade de doses repetidas 3. Estudos de toxicidade reprodutiva 4. Estudos de genotoxicidade 5. Estudos de tolerância local 6. Estudos de carcinogenicidade 7. Estudos de interesse para a avaliação da segurança farmacológica 8. Estudos de toxicocinética 9. Ensaios não clínicos necessários para condução de estudos clínicos com associações em dose fixa Guia para a realização de estudos de toxicidade pré-‐clínica de fitoterápicos Amostras padronizadas do fitoterápico ou do derivado vegetal Amostra Toxicidade aguda Toxicidade dedoses repetidas Toxicidade crônicaToxicidade subcrônica Irritação ocular Irritação cutânea Sensibilização dérmica Estudo especial -‐ genotoxicidade Avaliação toxicológica tópica Testes adicionais Quando houver indicação de uso contínuo ou prolongado do medicamento em humanos Guia para a realização de estudos de toxicidade pré-‐clínica de fitoterápicos 1. Estudos de Toxicidade de Dose Única (Aguda) OBJETIVO: Avaliar a toxicidade em 1 ou mais doses até 24 horas -‐ observação dos animais por 14 dias após a administração. MODELO ANIMAL: no mínimo 2 espécies de mamíferos: um roedor e um não roedor (machos e fêmeas) adultos VIAS DE ADMINISTRAÇÃO: (1) pretendida para administração em humanos (oral – gavagem); (2) parenteral (endovenosa) RE Nº 90 : uma espécie de mamífero evitando-‐se animais com características genéticas especiais. No mínimo 6 machos e 6 fêmeas por dose. 1. Estudos de Toxicidade de Dose Única (Aguda) Alteração da locomoção Frequência respiratória Piloereção Diarreia Alteração do tônus muscular Convulsões Contorções abdominais 2. Estudos de Toxicidade de Doses Repetidas OBJETIVO: Caracterizar o perfil toxicológico da droga pela administração repetida sobre diversos parâmetros, indicação da NOEL e NOAEL. MODELO ANIMAL: no mínimo 2 espécies de mamíferos: um roedor e um não roedor (n° igual de machos e fêmeas em idade adulta jovem) VIA DE ADMINISTRAÇÃO: Pretendida para administração em humanos. Pode-‐se usar uma via parenteral quando a absorção em animais for baixa. RE Nº 90 : Roedores: No mínimo 10 machos e 10 fêmeas, por dose Não-‐roedores: no mínimo 3 machos e 3 fêmeas, por dose Incluir um grupo veículo da formulação no-‐observed effect level no-‐observed-‐adverse-‐effect level 2. Estudos de Toxicidade de Doses Repetidas DOSE: 3 doses: a maior deve produzir efeitos tóxicos observáveis, mas não morte nem sofrimento, no máximo de 1000 mg/kg/dia, seguidas de sequência descendente com intervalos de 2 a 4 vezes. OBS: Os dados de segurança obtidos nesses estudos dão suporte às Fases 1, 2 e 3 da Pesquisa Clínica. Período de uso Duração mínima do estudo das doses repetidas Até 30 dias de uso por ano 4 semanas Acima de 30 dias de uso por ano 12 semanas 2. Estudos de Toxicidade de Doses Repetidas PARÂMETROS AVALIADOS Roedores Não roedores Sinais clínicos (incluindo parâmetros comportamentais) x x Mortalidade x x Variações no peso corporal x x Consumo de ração e água x x Patologia clínica (hematologia, bioquímica) x x Duração e reversibilidade da toxicidade x x Investigações anatomo e histopatológicas x x Oftalmologia x RE Nº 90 : • alterações comportamentais, • variação do peso corpóreo (semanal), • hemograma completo e análises bioquímicas de sangue (sódio, potássio, gama glutamiltranspeptidase, aminotransferases, fosfatase alcalina, ureia, creatinina, ácido úrico, colesterol, triglicerídeos, glicose, proteínas totais e bilirrubina); • Exames anatomopatológicos • Exames macroscópicos órgãos vitais Toxicidade de doses repetidas em ratos Droga teste: Cápsula do Extrato Seco de A. cearensis (ESAC) Marcadores: Cumarina e Amburosídio A Espécie: ratas Wistar e cão Beagle Via administração: oral Tratamento: 4 – 12 semanas Peso (g)/ (Média ± EPM) Grupos 0 19 dias 26 dias 33 dias Controle 127,3 ± 2,52 170,9 ± 2,10 185,3 ± 3,25 211,6 ± 3,52 ESAC 250 129 ± 3,60 164,0 ± 5,42 168,7 ± 9,28 186,0 ± 8,06 ESAC 500 128,8 ± 4,58 167,9 ± 7,85 186,0 ± 5,14 179,6 ± 5,61 ESAC 750 128,6 ± 3,84 168,1 ± 5,32 180,0 ± 4,24 176,4 ± 5,85 Pesos de ratas registrados durante as quatro semanas de tratamento dos animais com ESAC PARÂMETROS CONTROLE ESAC ESAC ESAC Valores de 250 mg / Kg 500 mg / Kg 750 mg / Kg Referência Glicosea 64,43 ± 6,68 59,86 ± 5,54 62,57 ± 4,62 64,67 ± 3,90 59,59 - 107,15 Triglicerídeosa 25,86 ± 2,15 36,71 ± 2,91 33,00 ± 2,64 34,00 ± 4,02 27,00 - 63,40 Colesterola 55,71 ± 3,56 48,43 ± 5,30 50,14 ± 3,42 53,17 ± 7,53 36,07 - 79,13 HDLa 32,29 ± 1,43 29,57 ± 5,17 35,71 ± 2,96 37,50 ± 5,35 -- Creatininaa 0,77 ± 0,03 0,72 ± 0,03 0,71 ± 0,02 0,75 ± 0,03 0,54 - 1,06 TGO / ASTb 225,6 ± 13,36 247,1 ± 17,59 202,4 ± 14,96 193,3 ± 14,21 106,70 – 204,50 TGP / ALTb 38,57 ± 2,63 32,86 ± 1,96 35,29 ± 3,12 37,33 ± 4,02 34,00 - 96,60 Uréiaa 50,71 ± 3,61 53,14 ± 4,47 59,71 ± 5,34 57,00 ±1,34 42,00 - 71,20 Avaliação toxicológica do ESAC: parâmetros bioquímicos do sangue de ratos 3. Estudos de Toxicidade Reprodutiva OBJETIVO: Revelar substâncias toxicas na reprodução de mamíferos FASES: A. Fertilidade e desenvolvimento embrionário inicial; B. Desenvolvimento pré e pós-‐natal, incluindo função materna; C. Desenvolvimento embrio-‐fetal. 4. Estudos de Genotoxicidade Genotoxicidade: Estudo da ação de qualquer agente físico, químico ou biológico que produz danos no material genético de células (DNA ou cromossomos). Os testes avaliam o dano diretamente na célula. 4. Estudos de Genotoxicidade OBJETIVO: testes in vitro e in vivo desenhados para detectar o potencial de causar mutações genéticas e cromossômicas. RE Nº 90 : Estudo que deve ser efetuado quando houver indicação de uso contínuo ou prolongado do medicamento em humanos. Compostos que apresentam resultados “positivos” são potencialmente agentes carcinogênicos e/ou mutagênicos para seres humanos. 4. Estudos de Genotoxicidade MODELOS BIOLÓGICOS TESTE DE MUTAÇÃO GENÉTICA: Para detectar mudançasnos sítios de Guanina-‐Citosina (G-‐C) TESTE DE MICRONÚCLEO: in vivo recomenda-‐se a utilização de roedores (camundongos ou ratos), apenas um sexo, de preferência machos. TESTES DE ABERRAÇÕES CROMOSSÔMICAS: podem detectar mudanças na integridade cromossomal em nucleotídeos de células hematopoiéticas de roedores RE Nº 90 : 1. Avaliação in vitro da reversão de mutação em bactérias incluindo ativação metabólica ou de dano cromossomal de células de mamíferos ou de linfoma de camundongo; 2. Avaliação in vivo do dano em cromossomo em células hematopoiéticas de roedores (teste de micronúcleo). Análises Farmacocinéticas • Absorção do fármaco no intestino depois de, por exemplo, uma dose oral ou mobilização do local após a injeção • Distribuição do princípio ativo (API) no organismo • Taxa do metabolismo da droga, do envolvimento enzimático metabólico e da natureza dos metabólitos produzidos. Testes complementares de toxicidade: modelos experimentais de citotoxicidade Modelos Experimentais de Citotoxicidade Célula humana Lactato desidrogenase (LDH) - Permeabilidade da membrana MTT - Metabolismo mitocondrial Modelos Experimentais de Citotoxicidade – Atividade LDH LDH Citoplasma Drogas e outros agentes LDH Alteração da permeabilidade LDH Meio intracelular Meio extracelular PIRUVATO LDH NADH NAD+ LACTATO Modelos Experimentais de Citotoxicidade – Teste do MTT grânulos ribossomos cristas espaço intermembranar matriz mitocondrial partículas de ATP sintase DNA membrana externa membrana interna MTT Formazan succinato-‐tetrazol redutase (mitocôndria) MTT: brometo 3[4,5-dimetiltiazol]-2,5,difeniltetrazólio. MOSMANN, 1983 Ensaios Clínicos Brasília – DF 2008 Fases de um estudo clínico ENSAIOS DE FASE I VOLUNTÁRIOS Limites de doses Farmacocinética Efeitos inesperados ENSAIOS DE FASE II PACIENTES Eficácia e segurança Dose/resposta ENSAIOS DE FASE III Perfil terapêutico Efeitos tóxicos Vantagens e Limitações FARMACOVIGILÂNCIA vigilância pós-‐ comercialização ENSAIOS DE FASE IV Validação de plantas medicinais Planta Planta medicinal Novos Medicamentos Fitoterápico -‐ Fitofármacos -‐ Fármacos semi-‐sintéticos -‐ Protótipos para a síntese de novo fármaco Considerações finais Obrigada! talitamagalhaesr@gmail.com
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