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Prof Enfermeira Obstetra :MSc ; Kelle Magalhães Introdução A epidemia de Aids no Brasil vem aumentando devido a transmissão heterossexual, principalmente mulheres que têm apresentado taxas de incidência crescentes. A população menos escolarizada tem sido a mais atingida. Devido a isso a transmissão vertical passa a ser problemas de saúde pública. A transmissão vertical do HIV ocorre através da passagem do vírus da mãe para o bebê durante a gestação, o trabalho de parto e o parto (contato com as secreções cérvico- vaginais e sangue materno) ou a amamentação. Sendo que 35% da transmissão ocorre durante a gestação, 65% ocorre no peri-parto e de 7 a 22% na amamentação. A transmissão vertical do HIV, quando não realizada profilaxia, ocorre em cerca de 25% dos casos. Porém com o uso do AZT (zidovudina) na gestação, no parto e recém-nascido, a taxa de transmissão vertical reduz para 8,3%. Nos casos em que são seguidas TODAS as recomendações do programa DST/aids, essa taxa se reduz a 1-2%. Essas recomendações são: Uso de anti-retroviral a partir da 14ª semana de gestação, utilização de AZT durante o trabalho de parto, realização de parto cesáreo em gestante com carga viral alta ou desconhecida, AZT oral para RN exposto, do nascimento até 42 dias de vida e inibição da lactação associada ao fornecimento de fórmula infantil até os 6 meses. A Doença O vírus do HIV desarma gradualmente o sistema imunológico, tornando a vítima cada vez mais vulnerável a qualquer infecção por outro vírus, bactéria, fungo ou parasita. Essas infecções ou infestações oportunistas ocorrem principalmente na pele, nos pulmões, sistema digestivo, nervos e cérebro. A pessoa infectada pelo HIV padece durante longo período e sem tratamento pode morrer de 2 a 3 anos após diagnóstico. Contaminação pelo HIV: A principal fonte de contágio do HIV é feita através das células por ele infectadas. Como os linfócitos T4 que são parasitados pelo HIV existem no sangue e no esperma, são esses os elementos contaminantes, assim como transfusão de sangue, usuários de drogas intravenosas, relações sexuais, especialmente o coito anal. Apenas 30% do plasma ou do sangue de indivíduo infectado apresentam o vírus do HIV circulando livremente. Diagnóstico O mais utilizado é o teste ELISA feito no sangue, se positivo, deverá ser repetido numa segunda amostra, que se for positiva novamente, será confirmada com outro exame mais específico que é o Western blot. Outra medida para diagnóstico do HIV são os testes rápidos (desde julho de 2005), onde são usadas 3 marcas definidas pelo ministério da saúde. Para isso estão capacitando profissionais de saúde. Pré-natal Durante o pré-natal a gestante deverá realizar vários exames, entre eles o de HIV. Recomenda-se a realização da testagem de HIV ainda na 1ª consulta de pré-natal, com repetição no início do 3º trimestre. Um resultado negativo não exclui a infecção pelo HIV devido a possibilidade de janela imunológica (tempo entre o contágio e a detecção de anticorpos), sendo necessária nova testagem. Caso o resultado seja positivo, deve-se orientar a gestante quanto a importância do uso de anti-retrovirais para prevenir a infecção vertical e de contra-indicar a amamentação, além de notificar o caso de gestante com HIV. Mesmo que a gestante já tenha sido notificada pelo HIV, deverá ser notificada novamente só que como gestante HIV+. Após o diagnóstico da infecção pelo HIV, deve ser solicitada contagem de linfócitos T CD4+ e carga viral da gestante, referenciando para acompanhamento na unidade de referência. Infecção Congênita A transmissão materna está quase totalmente prevenida (98-99%) com a combinação da profilaxia anti-retroviral na gravidez, parto e neonatal, cesárea eletiva e contra-indicação do aleitamento. O diagnóstico da infecção congênita é feito pelo PCR (HIV-DNA) ao nascimento (primeiras 48 horas, mas não do sangue do cordão), 1-2 e 3-6 meses. Terapia Anti-retroviral Um dos aspectos mais importantes na adesão ao tratamento anti-retroviral (TARV) é a aceitação do diagnóstico. Em todas as fases deste acompanhamento o profissional deve estar atento às possíveis variações de humor, reações depressivas, medo de enfrentar o diagnóstico e revelá-lo para a família ou parceiro. A utilização de medicamentos para prevenção da transmissão vertical durante a gravidez, mesmo sem apresentar doença, pode provocar dúvidas na gestante, sendo necessário apoio. Caso a gestante já faça acompanhamento com anti- retrovirais, é necessário substituir os teratogênicos como Efavirenz, Hidroxiuréia e a associação de Didanosina +Estavudina. Trabalho de Parto e Parto Cerca de 65% dos casos de transmissão do HIV ocorrem durante o trabalho de parto ou parto. Devido a isso não podemos deixar de intervir para garantir a prevenção desta transmissão vertical. Na entrada da parturiente no Centro Obstétrico deve ser oferecido teste rápido para todas as gestantes que não tenham realizado investigação de HIV durante pré-natal ou que o resultado não esteja disponível, após consentimento. O resultado deve ser anotado no cartão da gestante. A via de parto será escolhida em função das condições obstétricas e/ou carga viral, de acordo com obstetra e infectologista. Quando a via de parto for cesárea, o AZT intravenoso deve ser iniciado mínimo 3 horas antes do procedimento e mantido até clampeamento do cordão umbilical. Já no parto normal a infusão deverá ser instituída desde o início do trabalho de parto e mantida até o clampeamento do cordão. Esquema de Zidovudina na parturiente (frasco ampola de 200mg com 20ml – 10mg/ml) Dose de ataque de 2 mg/kg na 1ª hora, diluído em soro glicosado a 5%. Dose de manutenção de 1 mg/kg/hora, em infusão contínua até o clampeamento do cordão. Vias de Parto Vaginal: Monitorar trabalho de parto cuidadosamente evitando toque repetidos. Conduzir parto com ocitócitos, evitando que a parturiente fique mais de 4 horas com bolsa rota ou em trabalho de parto prolongado. Estão contra-indicados procedimentos invasivos como amniotomia, fórceps, vácuo-extrator, manobras desnecessárias para retirada do concepto. Evitar episotomia, manter membranas íntegras até o período expulsivo, laquear cordão imediatamente após a expulsão do RN. Cesáreo: Realizar a cirurgia com o menor sangramento possível. Sempre que possível, manter as membranas amnióticas íntegras. Proceder a laqueadura do cordão imediatamente após nascimento. Puerpério Inibir lactação com o enfaixamento das mamas com ataduras, comprimindo-as, evitando assim o início da lactação pela compressão. Deve ser mantido por 10 dias. Pode-se fazer supressão da lactação com o uso de cabergolina 0,5 mg 02 comp VO em dose única. Entregar fórmula infantil e garantir sua distribuição até 6 meses do bebê. Orientar planejamento familiar e uso da camisinha. Aconselhar a fazer o teste de HIV no parceiro. A profilaxia da transmissão vertical deve ser suspensa logo após o parto. A criança exposta ao HIV Ao nascer as vias respiratórias devem ser aspiradas delicadamente, evitando traumatismos. Lava-se o RN imediatamente após o parto com água morna e sabão, para evitar o contato prolongado do bebê com o sangue e secreções maternas. Deve ser iniciada quimioprofilaxia do RN com AZT imediatamente ainda nas 2 primeiras horas de vida, podendo ser também até as primeiras 8 horas de vida, caso parturiente tenha recebido medicamento. A dose recomendada é de 2 mg/kg/dose de AZT (0,2ml/kg). VO de 6/6 horasdurante 6 semanas (42 dias), caso a criança não tenha condições de receber por via oral, será usada via EV, dose de 1,5 mg/kg Na sexta semana (42 dias de vida), suspender o AZT, solicitar provas de função hepática (AST, ALT, GGT, FA) e introduzir sulfametazol+trimetropim até o s 12 meses de idade ou até o estabelecimento do diagnóstico. Para definir a provável infecção, solicitar 2 exames para contagem de carga viral, sendo o primeiro entre 1 e 6 meses. Se a primeira amostra for indetectável, colher segunda amostra após o 4º mês de vida. Caso o primeiro resultado seja detectável, solicitar uma segunda amostra imediatamente após recebimento do resultado. Caso a criança tenha as duas cargas virais indetectáveis, confirmar com sorologia após os 12 meses. Se esta for negativa, a criança será considerada não infectada. Se a segunda carga viral for detectável e realizado terceiro exame for positivo a criança será considerada infectada. Referência Bibliográfica: BRASIL, Ministério da saúde. “protocolo para prevenção de transmissão vertical de HIV e Sífilis”, 2007. REZENDE, Carlos. “Obstetrícia Fundamental”, Editora Goanabara koogan, 11 edição, 2008. ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. Editora Manole, 2008
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