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UFPE – CCSA – DECON Lista II – Formação Econômica do Brasil – João Policarpo Aluno: Luis Flávio de Lira Respostas: 1. Descreva as condições do lado da oferta e da demanda que viabilizaram a vinda de imigrantes europeus para a "grande lavoura" do café no Brasil. Pelo lado da demanda: os problemas sobre quem custearia os transportes, as instalações, e as questões vinculadas à contraprestação monetária foram equacionadas. Além do equacionamento dessas questões, os produtores deveriam dar condições de plantio para o sustento básico das famílias imigrantes. O Governo ter assumido essa responsabilidade foi fator decisivo. Outro fator importante: o europeu já vinha com o intuito de trabalhar no setor exportador. Já havia uma atividade econômica a ser desempenhada aqui no país. Pelo lado da oferta: a Europa se encontrava entre a primeira fase e a segunda fase da revolução industrial. O crescimento da população urbana fez com que se elevasse o crescimento vegetativo. Como a grande parte dos imigrantes proveniente da Europa foi da Itália (cerca de 577 mil italianos, no último quartel do século XIX em SP). O processo de unificação da Itália, a decadência da indústria têxtil do Sul, e a pressão popular sobre as terras e por alimentos, possibilitou uma válvula de alívio com a demanda brasileira por mão-de-obra. 2. Explique as razões para o fracasso da colonização europeia implantada no Sul do Brasil no inicio do século XIX. A ideia da colonização europeia não surge com a deficiência de mão-de-obra apresentada pelo país ao longo do século XIX. Questões sociais já havia despertado esse interesse no Governo Imperial, especialmente se tratando dos países distintos do país dos colonizadores. Entretanto, esse processo de colonização europeia no Brasil do início do século XIX não teve nenhum caráter econômico. Entendia-se, na época, que o europeu era uma raça superior, e que o processo de colonização europeia iria purificar – com o passar dos anos – “purificar” a sociedade brasileira das mazelas provenientes da miscigenação. O Governo financiava a vinda dos imigrantes europeus. Pagava todos os custos com transporte e instalações, além de promover obras públicas sem o menor fundamento, apenas para gerar renda para os imigrantes. Por vezes, essas obras se estendiam além do tempo tolerável, e a consequência era um abandono aparente do Governo. A dificuldade fundamental era a seguinte: Os europeus não tinham como escoar o excedente de produção, uma vez que o mercado interno não era muito desenvolvido a esse ponto; Seu sistema monetário se atrofiava; O sistema de produção involuíam, visto que não havia estímulo para otimizações; Regredia-se para um nível precário de subsistência e abandono. Some-se a estes problemas o fato das notícias sobre a caótica situação dos imigrantes ter chegado na Europa. Temos o caso da Alemanha que chegou a proibir a vinda de imigrantes para cá. Pelos anos de 1860, o crescimento dos preços do café impulsionavam o desejo de crescimento. Era necessário mudar a política existente até então. 3. Que principais motivos inviabilizaram a transferência de mão de obra a partir da agricultura de subsistência e dos desempregados nas cidades para a grande lavoura do café? Explique. O principal entrave para o desenvolvimento econômico do Brasil no século XIX foi a oferta de mão-de-obra. Havia forte pressão estrangeira sobre países como o Brasil e os EUA para que se findasse o tráfico de escravos e a economia baseada no trabalho servil – consequência natural de economias capitalistas que precisam de mercado consumidor assalariado. Com isto, enquanto as economias europeias cresciam rumo à industrialização, a forma que o Brasil encontrava para se desenvolver era através do aproveitamento do fator de capital mais abundante: as terras. Entretanto, precisava-se de mão-de-obra para expandir sua utilização. O número de escravos, nessa época, era muito escasso (aproximadamente 1,5 milhão no censo de 1872), e aqueles que possuíam essa mão-de-obra a explorava ao máximo ou traficava. Ao se analisar a sociedade brasileira da época, havia algumas alternativas: 1. Trabalhadores da economia de subsistência: a forma como esse tipo de economia se estruturava dificultava o seu aproveitamento: níveis tecnológicos rudimentares, elevado índice de dispersão, vínculo laboral e social do trabalhador com o “seu” pedaço de terra, seu roçado, dificuldades com a percepção que o trabalhador deste tipo de economia tinha da compensação monetária do trabalho. Some-se a isto, também, a falta de colaboração – e por razões óbvias – dos proprietários de terras em contribuir para o recrutamento destas pessoas (questões políticas, de poder....); 2. Nas cidades havia uma massa que não encontrava emprego fixo, duradouro. Logo, poderia ser aproveitada. Entretanto, entendia-se que esse tipo de trabalhador não se adaptaria ao trabalho disciplinado e árduo da grande lavoura, bem como das condições de vida nas fazendas. Parte dessa massa de trabalhadores das grandes cidades provinham das economias de subsistência, e não possuíam muito bem desenvolvido o conceito de acumulação de riquezas. Logo, em menor grau, essa forma de pensar dificultou o recrutamento desses indivíduos. 4. Em que contexto e que motivos levaram cerca de 500 mil nordestinos a migrar para e economia da borracha nos estados do Norte em fins do século XIX. A migração dos 500 mil nordestinos em direção à bacia amazônica foi um dos dois grandes movimentos migratórios ocorridos no final do século XIX / começo do século XX, ao lado da corrente migratória europeia para a grande lavoura do café. É sabido que o desenvolvimento da cultura do açúcar na região Nordeste, trouxe consigo o desenvolvimento da pecuária. Porém, com a decadência da economia açucareira, restou ao Nordeste alguma pecuária e – basicamente – a cultura da subsistência. O crescimento populacional da região nordestina já se dava com a cultura do açúcar, e sua época de prosperidade. Com a cultura de subsistência, a disponibilidade de terras e a alimentação é que determinava o crescimento populacional. E isso já se verificava no século XVII. Algumas condições trouxeram prosperidade pontual e transitória ao Nordeste. A saber: Incentivo governamental às usinas de açúcar, com a finalidade de desenvolvimento tecnológico e recuperação desta economia; Crise no mercado internacional no fornecimento de algodão – isso fará com que o Ceará passe por uma época de prosperidade nunca dantes vista. Entretanto, um extenso período de seca no Nordeste, no terceiro quarto do século, trouxe um momento muito conturbado e crítico: o gado morria, e junto, milhares de nordestinos definhavam. Houve um movimento de ajuda, sensivelmente direcionado para a migração dos nordestinos para alguma região que estivesse precisando de mão de obra: nessa época, tínhamos o café em expansão no mercado internacional, e graças ao desenvolvimento da indústria automobilística mundial, a demanda pela borracha aumentava exponencialmente. Isso trouxe um desenvolvimento potencial à região amazônica. Entretanto... na região amazônica nem havia população, nem condições físicas, nem mão de obra para desenvolver a exportação... É então que vem a população nordestina desenvolver a indústria da borracha, e dar tempo às demais civilizações desenvolvidas de se organizarem para a solução de longo prazo. 5. Explique os movimentos de população ocorridos no Sudeste e no Nordeste e os relacione com a evolução do comércio exterior na 2a. metade do século XIX. Sudeste: Europa – São Paulo: com o incentivo governamental e o apoio dos cafeicultores locais, os problemas que tornavam a migração não atrativa foram solucionados. Umamassa de imigrantes gigantesca veio da Europa (principalmente da Itália) e começaram a atuar na economia cafeeira; Minas Gerais – São Paulo: trabalhadores da primeira fase da economia cafeeira, instalados em terras de MG já desgastadas, migraram para São Paulo, antes do “boom” econômico das atividades vinculadas ao café; Minas Gerais – Mato Grosso: houve um fluxo para a região bem irrigada do Triângulo Mineiro; Nordeste: Maranhão – São Paulo: Antes da “ressurreição” da economia algodoeira, houve uma intensificação do tráfico de escravos nesse sentido; Nordeste – Norte: economia da borracha. Já comentado na questão anterior. 6. Explique o entendimento de Furtado sobre o atraso relativo da economia brasileira no século XX. Esse assunto é tratado no capítulo sobre nível de renda e ritmo de crescimento do livro de Furtado. No capítulo, ele se atem a duas variáveis para definir a renda e o ritmo de crescimento: são a renda per capita e a taxa de crescimento da população. De acordo com Furtado, exceto o Nordeste (que pode ter tido uma variação de renda per capita de -0,6%) e a Bahia (que pode ter estagnado), todas as demais regiões do país teve uma taxa de crescimento da renda per capita positiva para o período da segunda metade do século XIX. Projetando os valores estimados, Furtado acredita que o Brasil poderia ter chegado à metade do século XX com a mesma renda dos países europeus e dos EUA. Por que isso não aconteceu? Furtado culpa os três quartos de século que precederam a segunda metade do século XIX. Entendamos: A Revolução Industrial começou por volta da metade do século XVIII, basicamente na Inglaterra. Essa sequência de fim de trabalho escravo, acumulação de capital, desenvolvimento da indústria, distribuição de renda, efeito multiplicador do crescimento da renda... os quais a Europa já havia passado por isso, quase que por completo, na metade do século XIX, fez com que a economia e os meios de produção europeus fossem se tornando absurdamente distintos do modelo implantado aqui no Brasil. Como o Brasil não apresentou os pré-requisitos para realizar o seu take-off na metade do século XIX, e perdeu a segunda onda da revolução industrial, não se integrando nessa corrente do comércio internacional, foi – pode-se assim dizer, em linguagem popular – ficando para trás. Ao solucionar o problema de mão de obra local e aproveitar as ondas dos altos preços de produtos passíveis de exportação, como o café e a borracha, o Brasil vai alcançar uma taxa de crescimento da ordem de 1,5%, em média, para os últimos cem anos, contados da metade do século XIX. 7. Explique: "O fato de maior relevância ocorrido na economia brasileira do último quartel do século XIX foi, sem lugar a dúvida, o aumento de importância relativa do setor assalariado.". Com propriedade, Furtado afirma que o aumento da importância relativa do setor assalariado. Quando nos recordamos do Brasil no último quartel do século XIX, observamos que o setor de exportação está em alta; por consequência, a distribuição de renda irá desenvolver o mercado interno, principalmente com a oscilação cambial. Vejamos o problema mais de perto: A força de trabalho brasileira, até o presente momento, era uma força voltada pro trabalho escravo ou pro trabalho de subsistência, com pouca ou nenhuma distribuição de renda por parte dos empresários. Ao se estabelecer o fim do trabalho escravo, e dar-se lugar ao trabalho assalariado, alguns efeitos nunca antes visto foram percebidos. Apesar da semelhança funcional da economia cafeeira fundamentada no trabalho escravo e fundamentada no trabalho assalariado, ao aprofundarmos a análise, percebemos bastante divergência entre os dois meios de produção. Vejamos: 1. O produtor vendia o café para o exportador, e o exportador pagava pelo produto; 2. O pagamento pelo produto virava renda bruta do produtor, o qual remunerava os fatores de produção (dos quais o principal era o próprio trabalhador); 3. O trabalhador transformava sua renda em consumo; o produtor transformava sua renda em consumo e investimento em bens de capital; 4. Os pequenos produtores também transformavam sua receita em consumo, e esse efeito multiplicador na economia era determinante para o desenvolvimento econômico da sociedade. Um estímulo externo na demanda do café poderia ser analisado como segue: 1. Os preços aumentam; a produção por parte dos brasileiros aumenta também, visto que mão de obra e terras havia em abundância; 2. Não havia pressão sobre a massa salarial da economia cafeeira, logo a elevação dos preços aumentava o lucro dos empresários, que tornavam a investir, a expandir sua produção, a elevar o consumo, a melhor o mercado interno... Ainda poderíamos citar aqui a figura dos importadores, visto que estes sofriam muito com as questões cambiais. Por fim, podemos concluir que o trabalho assalariado proporciona a melhor utilização dos fatores de produção e uma maior distribuição e utilização da renda. 8. Comente e explique tendo em conta os períodos de queda de preços do café do final do século XIX: "Explica-se, portanto, que a economia procurasse por todos os meios manter seu nível de emprego durante os períodos de depressão". Numa economia fundamentada no trabalho assalariado, a redução do nível de emprego gera uma diminuição do nível de renda, e por consequência a capacidade do poder aquisitivo. O efeito multiplicador agrava as consequências. A manutenção do nível de emprego para uma economia fundamentada no setor exportador dependia, diretamente, da manutenção das exportações. E era isso que se tentava fazer, de alguma forma. Havia duas formas de se dar com esse problema: a primeira forma, com as oscilações dos preços internacionais, os exportadores assumiriam o impacto, e todo o efeito se daria sobre suas margens de lucro e capacidade de investimento e expansão da produção; a ampliação da capacidade produtiva só se daria se houvesse algum efeito sobre a massa salarial, o que iria comprimir as importações, base do consumo, e iria trazer a balança comercial de volta ao equilíbrio; outra forma era trazer o equilíbrio através da taxa de câmbio, transferindo as pressões da crise do produtor agrícola para o setor de importação. A desvalorização cambial suavizava a perda dos exportadores com o afundamento dos preços; entretanto, o consumo de produtos importados iria se reduzir porque o preço relativo dos importados iria aumentar. Era fundamental não deixar que os impactos da crise se concentrasse exclusivamente sobre os empresários exportadores, pois – em casos extremos – haveria paralisação das atividades e, por consequência, redução do nível de empregos: agravando a crise existente. Fica a lição: é necessário ter uma economia interna, fundamentada na indústria, com um mercado maduro e desenvolvido, para suavizar os efeitos de uma crise. Casos da China e EUA.
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