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1 Curso de Pós Graduação na Formação de Psicopedagogo Neurofisiologia da Formação do Psicopedagogo Professor (a):___________________________________ 2 PLANO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Unidade: Curso: Ementa: Considerações fundamentais sobre a atividade neurológica especificamente desde o ponto de vista do desenvolvimento do ser humano, em direção às implicações educacionais decorrentes. São aprofundados aspectos de anatomia, fisiologia e, especialmente, de funcionamento da atividade nervosa, a divisão do Sistema Nervoso em três blocos funcionais. Enfatizam-se as bases neuropsicológicas de percepção, movimentação, atenção, memória, fala e pensamento como forma eminentemente humanas de organização, processamento e desenvolvimento mental, bem como são tratados pontos da normalidade e da defasagem e pautas para uma ação educacional, tanto através de aspectos teóricos como práticos. Objetivos: 1. Ofertar aos educandos uma base teórica diversificada com relação aos assuntos propostos; 2. Discutir criticamente métodos e estratégias de intervenções Neuropsicopedagógicas aos distúrbios e / ou dificuldades de ensino e aprendizagem; 3. Apresentar estudo de caso; 4. Reconhecer e distinguir “dificuldades no processo Psicolinguístico – Linguagem e Escrita” ou “Processo maturativo do desenvolvimento – falta de estímulo”, entre outros. 5. Classificar Bases Neuropsicológica do desenvolvimento; 6. Possibilitar uma reflexão mais precisa, com base nos aspectos procedimentais das Bases Neuropsicológica da Aprendizagem. Conteúdo Programático: 1. Refletir sobre a temática de ensino e aprendizagem; 2. Conteúdo programático no processo de construção de aprendizagem em especial aspectos da área neuropsicológica da aprendizagem. 3. Conhecer base Neuropsicológica nos segmentos direcionais, dentre funcionalidade, estrutura e psicológicas. 3 4. Processo de Ensino e Aprendizagem: Cognitivo e Intelectual, uma visão de acordo com a Psicologia da Educação; 5. Dificuldades de Ensino Correlacionadas: Dislexia, TDAH, Audição e Visão, legastenia, Influências da Estimulação na infância, Síndrome do Cromossomo X – Frágil, entre outros. 6. Conceituar Processos de estimulação dos Neurônios e Base Neuropsicológica. 7. Discutir estratégias de intervenção Neuropsicopedagógica na área de dificuldade de aprendizagem. Métodos de Ensino e Sistema de Avaliação: 1. Apresentação da ementa e sistema de avaliação; 2. Áreas Neuropsicológicas do desenvolvimento; 3. Estruturação do Sistema Nervoso Central; 4. Tipos de Neurônios; 5. Vygotsky e contribuições na área Neuropsicológica do desenvolvimento; 6. Piaget e contribuições na área Cognitiva; 7. Gadner e contribuições na área de Potencias de Inteligências; 8. Borin e aspectos de estimulação Neural; 9. Legastenia ou Dislexia?; 10. Verificação de competências e habilidades adquiridas por intermédio de contextos produzidos e análise de participação de debates e opiniões reflexivas e críticas. Trabalho em Sala de Aula Aspectos Cognitivos e Potenciais de Inteligências na área Neuropsicológica da aprendizagem (estudo de caso). Bibliografia Básica ALLIENDE, Felipe, CONDEMARÍN, Mabel. Leitura: teoria, avaliação e desenvolvimento. Tradução de José Cláudio de Almeida Abreu. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987 CARRARA, Kester (Org.). Introdução à Psicologia da Educação. São Paulo: Avercamp, 2004 DIAMENT, A. J. — Bases do desenvolvimento neurológico. Arq. 4 Neuropsquiat. (S. Paulo) 36: 285, 1978. DUBOIS, Jean ET alii. Dicionário de Lingüística. Sã Paulo: Cultrix, 1993 FONSECA, V., Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem. Petrópolis: Vozes. 2007. ISBN: 8532634800. ________, V. da — Visão integrada da aprendizagem. Rev. Pestalozzi 9:30, 1980 ________, V. da (1999) – Dificuldades de Aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógoca ao insucesso escolar, 3 ed, Âncora Editora, Lisboa. ________ V. da (2001) – Cognição e Aprendizagem, Âncora Editora, Lisboa. ________ V. da (2002), Dislexia, Cognição e Aprendizagem: uma abordagem neuropsicológica às dificuldades de aprendizagem da leitura, In Cad. APDIS, nº 1, ano 1, (10-23). MARTINS, Vicente. Lingüística Aplicada às dificuldades de aprendizagem relacionadas com a linguagem: dislexia, disgrafia e disortografia. Disponível no site: HTTP://sites.uol.com.br/vicente.martins/ OLIVEIRA, Martha Kohl de. Vygotsky: aprendizagem e desenvolvimento: um processo sócio-histórico / Martha Kohl de Oliveira. São Paulo: Scipione, 1997 ROTTA, N. T., Transtornos da Aprendizagem - Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed. 2006. ISBN: 8536306831. VALLE, L. H. L. R., Temas Multidisciplinares de Neuropsicologia e Aprendizagem. São Paulo: Tecmedd Editora. 2004. ISBN: 8586653012. VALLE, L. H. L. R., Neuropsicologia e Aprendizagem. São Paulo: Tecmedd Editora. 2005. ISBN: 8586653780. ____________, ___ de _________ de 20__. ____________________________________ Professora 5 CONTRIBUIÇÕES DA NEUROFISIOLOGIA NA FORMAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO A [avaliação] é o que me possibilita o exercício do aprendizado do olhar. Olhar é como sair de dentro de mim para ver o outro. É partir da hipótese do momento da educação que o outro está para colher dados da realidade, para trazer de volta para dentro de mim e repensar as hipóteses. É uma leitura da realidade para que eu possa me ler. FREIRE, M., 1989. A educação nos últimos tempos deixou de ser objeto de preocupação de especialistas e despertou interesse nos diferentes segmentos da sociedade. Pais, psiquiatras, psicólogos, sexólogos, juristas, dentre outros profissionais liberais vêm a público através dos meios de comunicação, interrogam-se sobre a direção mais correta a ser dada aos membros da sociedade atual. A televisão e a imprensa escrita têm dedicado tempo e espaço para assuntos dessa área, o que significa que as dúvidas sobre as perspectivas educacionais futuras estão em pauta. Os educadores perguntam: devemos educar para a competitividade ou para a cidadania? Dowbor (1996, p.17) evidencia-nos bem esta preocupação. Segundo ele, Estamos assistindo a uma profunda mutação do próprio papel da educação no processo de reprodução social. Estamos acostumados a um paradigma, em que a educação seria um instrumento destinado a adequar o futuro profissional ao mundo do trabalho, disciplinando-o e municiando-o de certa maneira com conhecimentos técnicos, para que possa “vencer na vida”, inserindo-se de forma vantajosa no mundo como existe. Esta inserção vantajosa, por sua vez, asseguraria reconhecimento e remuneração, ou seja, o sucesso. Este paradigma, amplamente dominante gerou outra visão, contestadora, que tenta assegurar à educação uma autonomia que lhe permita centrar-se nos valores humanos, na formação do cidadão, na visão crítica e criativa [...] Para onde vai a escola? Não temos claro, mas o que sabemos é que onde ela está e para onde está indo não se sustenta mais. A existência humana e os processos que garantem sua sobrevivência estão radicalmente mudados: vivemos possivelmente uma nova era - em alguns aspectos melhor; em outros, 6 pior que a anterior que vemos se esvair. Novos tempos exigem novos paradigmas que são construídos na refrega do cotidiano no qual lutamos para sobreviver. Aemergência do novo cria um clima de dúvidas, inquietações e incertezas, não apenas por não se saber ao certo se os comportamentos assumidos são mais apropriados ou não, mas também quanto à própria subsistência humana. A sociedade contemporânea vivencia transformações muito rápidas e profundas. Essas mudanças, se por um lado produzem novos conhecimentos, novas riquezas, por outro também produzem novas contradições sociais, como o desemprego estrutural crescente, a origem de formas marginais ou informais de sobrevivência, que dispensam contratos e vínculos empregatícios e desregulamentam as relações tradicionais de trabalho, o aumento da situação de miséria, o agravamento das desigualdades sociais, a marginalização, etc. Em meio às alterações sociais não presenciamos apenas a modificação na forma de organização familiar e educativa. CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE APRENDIZAGEM Aprendizagem é um fenômeno ou um método relacionado com o ato ou efeito de aprender. A aprendizagem estabelece ligações entre certos estímulos e respostas equivalentes, causando um aumento da adaptação de um ser vivo ao seu meio envolvente. Sendo um fenômeno que faz parte da pedagogia, a aprendizagem é uma modificação do comportamento do indivíduo em função da experiência. A aprendizagem escolar se distingue pelo caráter sistemático e intencional e pela organização das atividades (estímulos) que a desencadeiam, atividades que se inserem em um quadro de finalidades e exigências determinadas pela instituição escolar. A investigação psicológica sobre a aprendizagem e as teorias que daí surgiram tiveram forte repercussão na pedagogia, contribuindo para a decadência do ensino tradicional. O ponto central do processo de ensino- aprendizagem passou a ser a atividade do aluno enquanto agente da sua aprendizagem, deixando, assim, de ser o agente passivo do ensino ministrado pelo professor. As dificuldades de aprendizagem resultam tanto de um funcionamento deficiente da escola como são devidas a fatores de ordem psicológica ou sócio- cultural. As deficiências sensoriais e físicas (visual, auditiva, motora) e as perturbações fisiológicas originam tipos específicos de dificuldades na aprendizagem. 7 No ramo da etologia, a aprendizagem é a fixação na memória das impressões ambientais. É baseada na modificação de mecanismos do sistema nervoso central que, posteriormente, influem em pautas de conduta. A possibilidade ou disposição de aprendizagem depende do nível de desenvolvimento desses mecanismos e é determinada pelo número de neurônios disponíveis. Quase todos os animais podem aprender. Nos animais com um cérebro pequeno, a maior parte dos neurônios são utilizados no estabelecimento dos circuitos automáticos herdados e poucos ficam disponíveis para a aprendizagem. Por outro lado, nos animais de cérebro grande (por exemplo, nos mamíferos) o número de neurônios é suficiente para permitir a formação de novos circuitos, o que possibilita a aprendizagem. Aprendizagem e desenvolvimento Jean Piaget apresentou uma distinção entre aprendizagem e desenvolvimento, afirmando que muitas pessoas confundem os dois conceitos. De acordo com o epistemólogo suíço, o desenvolvimento está relacionado não só ao desenvolvimento físico, mas também se refere ao sistema nervoso e às funções mentais, estando relacionado com a embriogênese e às estruturas do conhecimento. O conceito de aprendizagem é mais simples, pois acontece através de um intermediário (professor), sendo um processo limitado a uma estrutura mais simples que o desenvolvimento. Aprendizagem significativa A aprendizagem significativa é um conceito importante na teoria da aprendizagem apresentada por David Ausubel. Segundo o psicólogo da educação americano, a aprendizagem significativa implica que os novos conteúdos aprendidos pelo aluno são organizados e formam uma hierarquia de conceitos, e se relacionam com o conhecimento previamente interiorizado pelo aluno. Aprendizagem organizacional A aprendizagem organizacional consiste na aprendizagem absorvida por uma organização, ou seja, é a obtenção de conhecimentos que capacitam a empresa a criar práticas que a ajudarão a alcançar os resultados pretendidos. A aprendizagem de conhecimentos, valores e habilidades pode acontecer dentro ou fora do contexto da organização, de forma direta ou indireta, e contribui para o sucesso da organização. Aprendizagem motora A aprendizagem motora acontece quando certos processos cognitivos estão ligados a uma prática de movimentação e que causa uma alteração constante no comportamento motor de um determinado indivíduo. As rápidas mudanças ocorridas na sociedade e o grande volume de informações estão refletindo-se no ensino, exigindo, desta forma, que a escola 8 não seja uma mera transmissora de conhecimentos, mas que seja um ambiente estimulante, que valorize a invenção e a descoberta, que possibilite à criança percorrer o conhecimento de maneira mais motivada, crítica e criativa, que proporcione um movimento de parceria, de trocas de experiências, de afetividade no ato de aprender e desenvolver o pensamento crítico reflexivo. A integração dos computadores nas escolas, vista como uma dinâmica de interação, como um ambiente rico para a mediação entre sujeitos, oferece condições para envolver as crianças e estimular a investigação, além de possibilitar paradas e retornos para interpretação, análise, atendendo o ritmo de cada criança. Enfatiza-se, através da informática educativa, a descoberta e a invenção, possibilitando a formação de alunos capazes de construir seu próprio conhecimento, tornando-se pesquisadores autônomos à medida que descobrem novas áreas de seu interesse. O professor precisa transformar-se em um guia, capaz de estimular seus alunos a navegarem pelo conhecimento, fazerem suas próprias descobertas e desenvolverem sua capacidade de observar, pensar, comunicar e criar. Neste artigo, sistematizarei alguns pressupostos básicos das teorias do desenvolvimento de Piaget, Wallon e Vygotsky. Após, farei algumas reflexões sobre a integração de computadores nas escolas e as contribuições da teoria do desenvolvimento de Vygotsky, a qual explica a interatividade e a construção coletiva do conhecimento em um meio sócio histórico cultural, propiciada pela mediação aluno/aluno; aluno/professor; aluno/computador; enfim, aluno/conhecimento. O que é Avaliação: Avaliação é o substantivo feminino que significa ato de avaliar, ou remete para o efeito essa avaliação. Pode ser sinônimo de estimativa ou apreciação. Uma avaliação pode ser a estimativa do valor de alguma coisa ou de algum trabalho. No mercado imobiliário, por exemplo, uma avaliação é feita por um avaliador e consiste no valor comercial de uma propriedade. A avaliação de empresas é uma atividade relacionada com a contabilidade que consiste na apreciação da situação econômica de uma empresa ou instituição. Ainda no contexto de uma organização ou instituição, aavaliação de desempenho é uma apreciação do comportamento de um trabalhador dentro de uma empresa. A avaliação de desempenho é efetuada tendo em conta as expectativas estabelecidas pelos responsáveis da empresa e os resultados reais alcançados pelo trabalhador. 9 Avaliação escolar No âmbito da pedagogia, a avaliação escolar é um processo sistematizado de registro e apreciação dos resultados obtidos em relação metas educativas estabelecidas previamente. A avaliação de aprendizagem é mais frequente no caso dos alunos, e é feita através de provas escritas, orais, testes, participação nas aulas, etc. Vários autoresconsideraram o método de avaliação através de testes e provas subjetivo e artificial, que nem sempre consegue avaliar o que a capacidade do aluno e o que ele realmente sabe. Por esse motivo, muitas escolas usam o sistema de avaliação contínua, onde as sequências de aprendizagem são acompanhadas de forma eficaz, possibilitando ao aluno constatar a sua evolução e controlar a sua aprendizagem. A avaliação pode também ser feita em relação aos professores, às escolas ou ao programa de ensino. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE JEAN PIAGET Formado em Biologia, Piaget especializou-se nos estudos do conhecimento humano, concluindo que, assim como os organismos vivos podem adaptar-se geneticamente a um novo meio, existe também uma relação evolutiva entre o sujeito e o seu meio, ou seja, a criança reconstrói suas ações e ideias quando se relaciona com novas experiências ambientais. Para ele, a criança constrói sua realidade como um ser humano singular, situação em que o cognitivo está em supremacia em relação ao social e o afetivo. Na perspectiva construtivista de Piaget, o começo do conhecimento é a ação do sujeito sobre o objeto, ou seja, o conhecimento humano se constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto. Conhecer consiste em operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreendê-lo, é algo que se dá a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento. As formas de conhecer são construídas nas trocas com os objetos, tendo uma melhor organização em momentos sucessivos de adaptação ao objeto. A adaptação ocorre através da organização, sendo que o organismo discrimina entre estímulos e sensações, selecionando aqueles que irá organizar em alguma forma de estrutura. A adaptação possui dois mecanismos opostos, mas complementares, que garantem o processo de 10 desenvolvimento: a assimilação e a acomodação. Segundo Piaget, o conhecimento é a equilibração/reequilibração entre assimilação e acomodação, ou seja, entre os indivíduos e os objetos do mundo. A assimilação é a incorporação dos dados da realidade nos esquemas disponíveis no sujeito, é o processo pelo qual as ideias, pessoas, costumes são incorporadas à atividade do sujeito. A criança aprende a língua e assimila tudo o que ouve, transformando isso em conhecimento seu. A acomodação é a modificação dos esquemas para assimilar os elementos novos, ou seja, a criança que ouve e começa a balbuciar em resposta à conversa ao seu redor gradualmente acomoda os sons que emite àqueles que ouve, passando a falar de forma compreensível. Segundo FARIA (1998), os esquemas são uma necessidade interna do indivíduo. Os esquemas afetivos levam à construção do caráter, são modos de sentir que se adquire juntamente às ações exercidas pelo sujeito sobre pessoas ou objetos. Os esquemas cognitivos conduzem à formação da inteligência, tendo a necessidade de serem repetidos (a criança pega várias vezes o mesmo objeto). Outra propriedade do esquema é a ampliação do campo de aplicação, também chamada de assimilação generalizadora (a criança não pega apenas um objeto, pega outros que estão por perto). Através da discriminação progressiva dos objetos, da capacidade chamada de assimilação recognitiva ou reconhecedora, a criança identifica os objetos que pode ou não pegar, que podem ou não dar algum prazer à ela. FARIA (op.cit.) salienta que os fatores responsáveis pelo desenvolvimento, segundo Piaget, são: maturação; experiência física e lógico-matemática; transmissão ou experiência social; equilibração; motivação; interesses e valores; valores e sentimentos. A aprendizagem é sempre provocada por situações externas ao sujeito, supondo a atuação do sujeito sobre o meio, mediante experiências. A aprendizagem será a aquisição que ocorre em função da experiência e que terá caráter imediato. Ela poderá ser: experiência física - 11 comporta ações diferentes em função dos objetos e consiste no desenvolvimento de ações sobre esses objetos para descobrir as propriedades que são abstraídas deles próprios, é o produto das ações do sujeito sobre o objeto; e experiência lógico-matemática – o sujeito age sobre os objetos de modo a descobrir propriedades e relações que são abstraídas de suas próprias ações, ou seja, resulta da coordenação das ações que o sujeito exerce sobre os objetos e da tomada de consciência dessa coordenação. Essas duas experiências estão inter- relacionadas, uma é condição para o surgimento da outra. Para que ocorra uma adaptação ao seu ambiente, o indivíduo deverá equilibrar uma descoberta, uma ação com outras ações. A base do processo de equilibração está na assimilação e na acomodação, isto é, promove a reversibilidade do pensamento, é um processo ativo de auto regulação. Piaget afirma que, para a criança adquirir pensamento e linguagem, deve passar por várias fases de desenvolvimento psicológico, partindo do individual para o social. Segundo ele, o falante passa por pensamento autístico, fala egocêntrica para atingir o pensamento lógico, sendo o egocentrismo o elo de ligação das operações lógicas da criança. No processo de egocentrismo, a criança vê o mundo a partir da perspectiva pessoal, assimilando tudo para si e ao seu próprio ponto de vista, estando o pensamento e a linguagem centrados na criança. Para Piaget, o desenvolvimento mental dá-se espontaneamente a partir de suas potencialidades e da sua interação com o meio. O processo de desenvolvimento mental é lento, ocorrendo por meio de graduações sucessivas através de estágios: período da inteligência sensório-motora; período da inteligência pré-operatória; período da inteligência operatória-concreta; e período da inteligência operatório-formal. 3. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE HENRY WALLON 12 A criança, para Wallon, é essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio-cognitivo. O autor estudou a criança contextualizada, como uma realidade viva e total no conjunto de seus comportamentos, suas condições de existência. Segundo GALVÃO (2000), Wallon argumenta que as trocas relacionais da criança com os outros são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa. As crianças nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no qual ficarão envolvidas em um "sincretismo subjetivo", por pelo menos três anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e o ambiente humano, sua compreensão das coisas dependerá dos outros, que darão às suas ações e movimentos formato e expressão. Antes do surgimento da linguagem falada, as crianças comunicam-se e constituem-se como sujeitos com significado, através da ação e interpretação do meio entre humanos, construindo suas próprias emoções, que é seu primeiro sistema de comunicação expressiva. Estes processos comunicativos-expressivos acontecem em trocas sociais como a imitação. Imitando, a criança desdobra, lentamente, a nova capacidade que está a construir (pela participação do outro ela se diferenciará dos outros) formando sua subjetividade. Pela imitação, a criança expressa seus desejos de participar e se diferenciar dos outros constituindo-se em sujeito próprio. Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém, ele não é adepto da ideia de que a criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou um adulto não são capazes de se desenvolver sem conflitos. A criança se desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada estágio estabelece uma forma específica de interação com o outro, é um desenvolvimento conflituoso. 13No início do desenvolvimento existe uma preponderância do biológico e após o social adquire maior força. Assim como Vygotsky, Wallon acredita que o social é imprescindível. A cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A parte cognitiva social é muito flexível, não existindo linearidade no desenvolvimento, sendo este descontínuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, como um movimento que tende ao crescimento. De acordo com GALVÃO (op.cit.), no primeiro ano de vida, a criança interage com o meio regida pela afetividade, isto é, o estágio impulsivo- emocional, definido pela simbiose afetiva da criança em seu meio social. A criança começa a negociar, com seu mundo sócio afetivo, os significados próprios, via expressões tônicas. As emoções intermediam sua relação com o mundo. Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investigação, exploração e conhecimento do mundo social e físico. No estágio sensório-motor, permanece a subordinação a um sincretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não está presente). Neste estágio predominam as relações cognitivas da criança com o meio. Wallon identifica o sincretismo como sendo a principal característica do pensamento infantil. Os fenômenos típicos do pensamento sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e elisão. Na gênese da representação, que emerge da imitação motora-gestual ou motricidade emocional, as ações da criança não mais precisarão ter origem na ação do outro, ela vai “desprender-se” do outro, podendo voltar-se para a imitação de cenas e acontecimentos, tornando-se habilitada à representação da realidade. Este salto qualitativo da passagem do ato imitativo concreto e a representação é chamado de simulacro. No simulacro, que é a imitação em ato, forma-se uma ponte entre formas concretas de significar e representar e níveis 14 semióticos de representação. Essa é a forma pela qual a criança se desloca da inteligência prática ou das situações para a inteligência verbal ou representativa. Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação inteligente, a qual constrói os significados diferenciados que a criança dá para a própria ação. Nessa fase, a criança está voltada novamente para si própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz com que as ideias atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central é o processo de formação da personalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio categorial trazendo avanços na inteligência. No estágio da adolescência, a criança volta-se a questões pessoais, morais, predominando a afetividade. Ainda conforme GALVÃO, é nesse estágio que se intensifica a realização das diferenciações necessárias à redução do sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretismo e o estabelecimento da função categorial dependem do meio cultural no qual está inserida a criança. 4. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE LEV S. VYGOTSKY Para Vygotsky, a criança nasce inserida num meio social, que é a família, e é nela que estabelece as primeiras relações com a linguagem na interação com os outros. Nas interações cotidianas, a mediação (necessária intervenção de outro entre duas coisas para que uma relação se estabeleça) com o adulto acontece espontaneamente no processo de utilização da linguagem, no contexto das situações imediatas. Essa teoria apoia-se na concepção de um sujeito interativo que elabora seus conhecimentos sobre os objetos, em um processo mediado pelo outro. O conhecimento tem gênese nas relações sociais, sendo produzido na intersubjetividade e marcado por condições culturais, sociais e históricas. 15 Segundo Vygotsky, o homem se produz na e pela linguagem, isto é, é na interação com outros sujeitos que formas de pensar são construídas por meio da apropriação do saber da comunidade em que está inserido o sujeito. A relação entre homem e mundo é uma relação mediada, na qual, entre o homem e o mundo existem elementos que auxiliam a atividade humana. Estes elementos de mediação são os signos e os instrumentos. O trabalho humano, que une a natureza ao homem e cria, então, a cultura e a história do homem, desenvolve a atividade coletiva, as relações sociais e a utilização de instrumentos. Os instrumentos são utilizados pelo trabalhador, ampliando as possibilidades de transformar a natureza, sendo assim, um objeto social. Os signos também auxiliam nas ações concretas e nos processos psicológicos, assim como os instrumentos. A capacidade humana para a linguagem faz com que as crianças providenciem instrumentos que auxiliem na solução de tarefas difíceis, planejem uma solução para um problema e controlem seu comportamento. Signos e palavras são para as crianças um meio de contato social com outras pessoas. Para Vygotsky, signos são meios que auxiliam/facilitam uma função psicológica superior (atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc.), sendo capazes de transformar o funcionamento mental. Desta maneira, as formas de mediação permitem ao sujeito realizar operações cada vez mais complexas sobre os objetos. Segundo Vygotsky, ocorrem duas mudanças qualitativas no uso dos signos: o processo de internalização e a utilização de sistemas simbólicos. A internalização é relacionada ao recurso da repetição onde a criança apropria-se da fala do outro, tornando-a sua. Os sistemas simbólicos organizam os signos em estruturas, estas são complexas e articuladas. Essas duas mudanças são essenciais e evidenciam o quanto são importantes as relações sociais entre os sujeitos na construção de processos psicológicos e no desenvolvimento dos processos mentais superiores. Os signos internalizados são compartilhados pelo grupo social, permitindo o aprimoramento da interação social e a comunicação entre os sujeitos. As funções psicológicas superiores aparecem, no desenvolvimento da criança, duas vezes: primeiro, no nível social (entre 16 pessoas, no nível Inter psicológico) e, depois, no nível individual (no interior da criança, no nível intrapsicológico). Sendo assim, o desenvolvimento caminha do nível social para o individual. Como visto, exige-se a utilização de instrumentos para transformar a natureza e, da mesma forma, exige-se o planejamento, a ação coletiva, a comunicação social. Pensamento e linguagem associam-se devido à necessidade de intercâmbio durante a realização do trabalho. Porém, antes dessa associação, a criança tem a capacidade de resolver problemas práticos (inteligência prática), de fazer uso de determinados instrumentos para alcançar determinados objetivos. Vygotsky chama isto de fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no desenvolvimento da linguagem. Por volta dos 2 anos de idade, a fala da criança torna-se intelectual, generalizante, com função simbólica, e o pensamento torna-se verbal, sempre mediado por significados fornecidos pela linguagem. Esse impulso é dado pela inserção da criança no meio cultural, ou seja, na interação com adultos mais capazes da cultura que já dispõe da linguagem estruturada. Vygotsky destaca a importância da cultura; para ele, o grupo cultural fornece ao indivíduo um ambiente estruturado onde os elementos são carregados de significado cultural. Os significados das palavras fornecem a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo, ou seja, como diz VYGOTSKY (1987), é no significado da palavra que a fala eo pensamento se unem em pensamento verbal. Para ele, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela fala social, passando pela fala egocêntrica, atingindo a fala interior que é pensamento reflexivo. A fala egocêntrica emerge quando a criança transfere formas sociais e cooperativas de comportamento para a esfera das funções psíquicas interiores e pessoais. No início do desenvolvimento, a fala do outro dirige a ação e a atenção da criança. Esta vai usando a fala de forma a afetar a ação do outro. Durante esse processo, ao mesmo tempo que a criança passa a entender a fala do outro e 17 a usar essa fala para regulação do outro, ela começa a falar para si mesma. A fala para si mesma assume a função auto reguladora e, assim, a criança torna-se capaz de atuar sobre suas próprias ações por meio da fala. Para Vygotsky, o surgimento da fala egocêntrica indica a trajetória da criança: o pensamento vai dos processos socializados para os processos internos. A fala interior, ou discurso interior, é a forma de linguagem interna, que é dirigida ao sujeito e não a um interlocutor externo. Esta fala interior, se desenvolve mediante um lento acúmulo de mudanças estruturais, fazendo com que as estruturas de fala que a criança já domina, tornem-se estruturas básicas de seu próprio pensamento. A fala interior não tem a finalidade de comunicação com outros, portanto, constitui-se como uma espécie de “dialeto pessoal”, sendo fragmentada, abreviada. A relação entre pensamento e palavra acontece em forma de processo, constituindo-se em um movimento contínuo de vaivém do pensamento para a palavra e vice-versa. Esse processo passa por transformações que, em si mesmas, podem ser consideradas um desenvolvimento no sentido funcional. VYGOTSKY (op.cit.) diz que o pensamento nasce através das palavras. É apenas pela relação da criança com a fala do outro em situações de interlocução, que a criança se apropria das palavras, que, no início, são sempre palavras do outro. Por isso, é fundamental que as práticas pedagógicas trabalhem no sentido de esclarecer a importância da fala no processo de interação com o outro. Segundo VYGOTSKY (1989), a aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento do saber, do conhecimento. Todo e qualquer processo de aprendizagem é ensino-aprendizagem, incluindo aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre eles. Ele explica esta conexão entre desenvolvimento e aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal (distância entre os níveis de desenvolvimento potencial e nível de desenvolvimento real), um “espaço dinâmico” entre os problemas que uma criança pode resolver sozinha (nível de desenvolvimento real) e os que deverá 18 resolver com a ajuda de outro sujeito mais capaz no momento, para em seguida chegar a dominá-los por si mesma (nível de desenvolvimento potencial) A ZONA DE DESENVOLVIMENTO PRÓXIMAL Todo professor pode escolher: olhar para trás, avaliando as deficiências do aluno e o que já foi aprendido por ele, ou olhar para a frente, tentando estimar seu potencial. Qual das opções é a melhor? Para a pesquisadora Cláudia Davis, professora de psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sem a segunda fica difícil colocar o estudante no caminho do melhor aprendizado possível. "Esse conceito é promissor porque sinaliza novas estratégias em sala de aula", diz Cláudia. O que interessa, na opinião do especialista, não é avaliar as dificuldades das crianças, mas suas diferenças. "Elas são ricas, muito mais importantes para o aprendizado do que as semelhanças." Não há um estudante igual a outro. As habilidades individuais são distintas, o que significa também que cada criança avança em seu próprio ritmo. À primeira vista, ter como missão lidar com tantas individualidades pode parecer um pesadelo. Mas a pesquisadora garante: o que realmente existe aí, ao alcance de qualquer professor, é uma excelente oportunidade de promover a troca de experiências. Essa ode à interação e à valorização das diferenças é antiga. Nas primeiras décadas do século 20, o psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934) já defendia o convívio em sala de aula de crianças mais adiantadas com aquelas que ainda precisam de apoio para dar seus primeiros passos. Autor de mais de 200 trabalhos sobre Psicologia, Educação e Ciências Sociais, ele propõe a existência de dois níveis de desenvolvimento infantil. O primeiro é chamado de real e engloba as funções mentais que já estão completamente desenvolvidas (resultado de habilidades e conhecimentos adquiridos pela criança). Geralmente, esse nível é estimado pelo que uma criança realiza sozinha. Essa avaliação, entretanto, não leva em conta o que ela conseguiria fazer ou alcançar com a ajuda de um colega ou do próprio professor. É justamente aí - na 19 distância entre o que já se sabe e o que se pode saber com alguma assistência - que reside o segundo nível de desenvolvimento apregoado por Vygotsky e batizado por ele de proximal. Nas palavras do próprio psicólogo, "a zona proximal de hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã". Ou seja: aquilo que nesse momento uma criança só consegue fazer com a ajuda de alguém, um pouco mais adiante ela certamente conseguirá fazer sozinha (leia um trecho de livro na terceira página). Depois que Vygotsky elaborou o conceito, há mais de 80 anos, a integração de crianças em diferentes níveis de desenvolvimento passou a ser encarada como um fator determinante no processo de aprendizado. A APRENDIZAGEM E O AMBIENTE. Na infância, a criança desenvolve a possibilidade de interação crescente na aprendizagem, ou seja, é quando começa o desenvolvimento que determinará características do adulto que se formará. Portanto, as primeiras experiências da vida infantil são fundamentais e determinantes para o desenvolvimento de uma pessoa. O início do raciocínio lógico formal e o predomínio do desenvolvimento das funções motoras desenvolvem-se a partir dos cinco ou seis anos de idade. É o momento de orientação do corpo no espaço e de formulações a partir de fatos e objetos concretos. O predomínio das funções simbólicas sobre as motoras é observado a partir dos dez anos de idade. Todas as funções estão praticamente desenvolvidas na adolescência, quando o sujeito é capaz de formular hipóteses a partir de formulações de fatos não concretos. Ao longo da vida adulta as pessoas continuam adquirindo habilidades, devido à continuidade do desenvolvimento cerebral, ao que diz respeito às capacidades de desempenho. Os comportamentos são externados conforme o desenvolvimento dos mecanismos neurais. Estes mecanismos dependem do amadurecimento dos axônios, que são os condutores das mensagens cerebrais. Os axônios, por sua vez, dependem do processo de mielinização, que é processo de amadurecimento dos axônios referido anteriormente. 20 A mielinização é um processo que acontece em tempos e modos diferentes, o que permite a compreensão da divisão das fases evolutivas da criança, durante a infância. A aprendizagem inicia-se com estímulos ambientais que são transformados em impulsos nervosos pelos órgãos dos sentidos. Por isso, esses órgãos são ferramentas determinantes no desenvolvimento da aprendizagem, e, cada um deles tem sua região específica no cérebro. Os estímulos ambientais chegam às áreas primárias, projetando as sensações, de forma elementar e incompleta, sem elaboração de significado. Passam, então, para a projeção de percepções, nas áreas secundárias,para formação de imagens sensoriais, para associação de características e elaboração de significado. Nas áreas terciárias acontece a integração, isto é, a adição e combinação dos aspectos dos estímulos, associando-os com os sentidos. A linguagem e a memória estão no mesmo hemisfério cerebral (direito), juntas, possibilitam muitos aprendizados, através de uma ligação direta, assim como a ligação entre audição e fala e leitura e escrita. A região das vontades, desejos e comportamento social localizam-se no hemisfério oposto, o esquerdo. Nesta região a maturação é mais lenta, com desenvolvimento contínuo durante a vida, a mielinização se completa por volta dos dezoito anos. É a área responsável pelo desenvolvimento “humano”. O hemisfério esquerdo é o “lado linguístico”, do desenvolvimento das linguagens e da memória, das análises, interpretações literais das situações, dos estímulos seguros, da fala, “enxerga as partes”, chamado de “lado da razão”. O hemisfério direito é o “lado artístico e matemático”, do desenvolvimento das intuições, da imaginação e do sentimento, da percepção das intenções das intenções, dos estímulos ousados (arriscar), da espontaneidade, dos gestos, “enxerga o todo”, comumente chamado de “lado da emoção”. As capacidades básicas para aprendizagem compreendem o desenvolvimento de suas áreas específicas: motricidade; integração sensório- motora; habilidades perspectivo-motoras; linguagem; habilidades conceituais; e habilidades sociais. A aquisição da linguagem depende da maturação cerebral e de que as fases das primeiras falas e aquisição de gramática, em níveis mínimos no hemisfério esquerdo, que é a região responsável por tal desenvolvimento. A aquisição referida acima se divide em duas fases. A primeira é a pré- linguística, caracterizada pela ausência de produção linguística identificável, ou 21 seja, os balbucios, sem significado linguístico. A segunda fase da aquisição é a linguística, com estágios que vão avançando conforme o desenvolvimento das primeiras palavras, período este correspondente antes de um ano de idade. Após o desenvolvimento linguístico, caracterizado pela repetição das palavras, segue o desenvolvimento conceitual, que é caracterizado pela assimilação entre as palavras e seus significados. Entre os seis e sete anos há a expansão do vocabulário, o aprendizado das regras de construção, sua fonologia e morfologia e, o aprendizado da pronúncia. A leitura e a escrita são etapas que não podem ser isoladas nos processos de desenvolvimento da aprendizagem. São etapas gráficas, que compõem a evolução da linguagem. Na escrita, relacionamos os símbolos impressos aos respectivos sons, aos movimentos gráficos e articulatórios, e aos significados. É através do processo de leitura que a forma gráfica das palavras é registrada na memória visual. A leitura articula a qualidade da escrita. A aprendizagem requer preparação e interesse, referente à capacidade de empregar habilidades às tarefas, o que é chamado de prontidão. A prontidão é a soma das características intrapessoais, que determinam as situações do processo. Essas características são: a maturação (crescimento interno), as experiências passadas e a motivação (desejo de aprender). Uma criança pronta para a alfabetização requer: a aquisição de fatos, conceitos e significados; coordenação viso motora; coordenação auditivo- motora; discriminação e memorização visual; leitura de gravuras; discriminação auditiva; capacidade de pronúncia, reprodução motora e gráfica de movimentos; maturidade emocional e social; e fatores físicos em relação aos sentidos. Tais fatores devem ser inter-relacionados e organizados. Este estudo acrescenta e esclarece em relação à aprendizagem e seus processos, pois entender como tudo funciona e acontece neurofisiologicamente facilita os fazeres e intervenções nestes processos, assim como a compreensão das fazes e etapas que os compõem. Visto que encontramos as mais distintas situações de desenvolvimento, e, a partir destes esclarecimentos, torna-se mais claro e possível um trabalho mais atento e de maior respeito ao tempo de cada fase e/ou etapa, desde seu planejamento. Aprender é um processo bastante complexo. A neurofisiologia nos ajuda a conhecer o cérebro em seu desenvolvimento, fazendo-nos entender seu intrincado modo de funcionamento, suas nuances e 22 suas particularidades, possibilitando um melhor desempenho dos conteúdos em sala de aula, já que também a partir do conhecimento de seu desenvolvimento é possível sentir-nos mais seguro em nossa prática, agindo de forma adequada perante os sujeitos. A primeira etapa do funcionamento verbal é a aquisição do significado, com atribuição de significado social, relacionadas através da observação e da experimentação. A segunda etapa é a compreensão da palavra falada, relacionando as palavras aos respectivos significados. A terceira etapa é a expressão da palavra, com comparação dos próprios sons emitidos com os sons emitidos pelos adultos, assemelhando-os aos deles. A quarta etapa é a compreensão da palavra impressa, que a leitura propriamente dita. A quinta etapa é a expressão da palavra impressa, a escrita. Pode-se concluir, então, que primeiro compreende-se a leitura para depois expressar-se a escrita. A leitura é a decodificação dos símbolos impressos. Este processo compreende: a percepção auditiva e visual de que cada letra tem grafia e pronúncia específicas; a compreensão e análise crítica do material, ou seja, a relação das palavras com seus significados; e, as reações ao que se lê, que são embasadas nos referenciais de ideias e pensamentos, que se desenvolvem pelos meios e seus estímulos A teoria da aprendizagem significativa – TAS A ideia fundamental da teoria de Ausubel é a de que a aprendizagem significativa é um processo em que as novas informações ou os novos conhecimentos estejam relacionados com um aspecto relevante, existente na estrutura de conhecimentos de cada indivíduo (NOVAK, 2000, p. 51). Em sua teoria, Ausubel (1963, 1968, 1978, 1980) investiga e descreve o processo de cognição segundo uma perspectiva construtivista. Essa teoria ficou conhecida como Teoria da Aprendizagem Verbal Significativa, por privilegiar o papel da 23 linguagem verbal. Foi o próprio psicólogo que optou por renomeá-la de Teoria da Aprendizagem Significativa – TAS. O princípio norteador da teoria de Ausubel baseia-se na ideia de que, para que ocorra a aprendizagem, é necessário partir daquilo que o aluno já sabe. Ausubel preconiza que os professores/educadores devem criar situações didáticas com a finalidade de descobrir esses conhecimentos, que foram designados por ele mesmo como conhecimentos prévios. Os conhecimentos prévios seriam os suportes em que o novo conhecimento se apoiaria. Esse processo, ele próprio designou de ancoragem. Essa ideia foi expressa pelo pesquisador na seguinte frase: “o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Averigue isso e ensine-o de acordo” (AUSUBEL, 1980). Essa teoria procura elucidar os mecanismos internos que ocorrem na estrutura cognitiva humana em relação ao processo de aprendizagem. Embora já tenha sido classificada como uma teoria “condutivista”, a TAS focaliza e entende a aprendizagem de modo cognitivista e procura explicar também como os conhecimentos estão estruturados na mente humana*. O foco principal de suas pesquisas foi a aprendizagem escolar. Por esse motivo, acreditamos que as suas ideias sobre a aprendizagem podem contribuir paramelhorar o processo de ensino–aprendizagem escolar. Ausubel propõe, portanto, uma teoria que enfatiza a aprendizagem que ocorre na escola. Sua teoria baseia-se na premissa de que a mente humana possui uma estrutura organizada e hierarquizada de conhecimentos. Essa estrutura é continuamente diferenciada pela assimilação de novos conceitos, novas proposições e ideias. A TAS, por enfatizar os conceitos e preocupar-se essencialmente com eles, com os conteúdos acadêmicos, com os aspectos cognitivos da aprendizagem, enfim, tem sido vista como intelectualista e criticada por não valorizar as outras dimensões da aprendizagem. Coube a Novak (1978, 1980, 1983, 1998) desenvolver, refinar e divulgar os pressupostos da TAS e acrescentar os aspectos que são de domínio afetivo, dando um caráter mais humanista à teoria de Ausubel, ao considerar que “a aprendizagem significativa subjaz à integração construtiva entre pensamento, sentimento e ação, que conduz ao engrandecimento humano” (ibidem, 1998, p. 15). Para ele, as atitudes e os sentimentos positivos em relação à experiência educativa têm suas raízes na aprendizagem significativa e, por sua vez, a facilitam. A aprendizagem significativa caracteriza-se pela interação de uma informação com um aspecto relevante da estrutura cognitiva do sujeito, não com qualquer aspecto. Uma informação é aprendida de forma significativa quando se 24 relaciona a outras ideias, outros conceitos ou outras proposições relevantes e inclusivos que estejam claros e disponíveis na mente do indivíduo de modo que funcionem como âncoras. A proposição de uma hierarquia na organização cognitiva do indivíduo é de suma importância quando se trata da aprendizagem de conceitos científicos, uma vez que o conhecimento científico é constituído por uma rede de conceitos e proposições, formando uma verdadeira teia de relações. Quando uma informação não é aprendida de forma significativa, ela é aprendida de forma mecânica. Ao contrário da aprendizagem significativa, na aprendizagem mecânica, as informações são aprendidas praticamente sem interagir com informações relevantes presentes na estrutura cognitiva. A nova informação é armazenada de maneira arbitrária e literal. * Considera-se aqui a mente humana como sua estrutura cognitiva. No entanto, Ausubel não vê oposição entre a aprendizagem mecânica e a significativa, mas as vê como um continuum. Segundo Ausubel, a aprendizagem mecânica é inevitável no caso de conceitos inteiramente novos para o aluno, mas, posteriormente, ela se transformará em significativa. Por exemplo, ao se apresentar ao aluno o conceito de célula — “unidade morfológica e fisiológica de todos os seres vivos” —, este só terá sentido na medida em que seja relacionado com alguma ideia relevante, que esteja clara e organizada na sua estrutura cognitiva; caso contrário, a princípio será armazenada de forma mecânica. O conhecimento anterior sobre a morfologia básica e a fisiologia da célula facilitará a construção do conceito célula, que pode funcionar como ancoradouro aos novos conceitos. Somente no decorrer do tempo, com a aquisição das “ideias âncoras” é que o conceito passará a ter significado para o aluno. Objetivando acelerar esse processo, Ausubel sugere a manipulação da estrutura cognitiva do aluno através do uso de organizadores prévios. O conceito e a relevância desses instrumentos serão tratados no decorrer deste texto. Novak (1980, p. 61) salienta que a aprendizagem significativa apresenta quatro grandes vantagens sobre a aprendizagem por memorização ou mecânica: Os conhecimentos adquiridos significativamente ficam retidos por um período maior de tempo. As informações assimiladas resultam num aumento da diferenciação das ideias que serviram de âncoras, aumentando, assim, a capacidade de uma maior facilitação da subsequente aprendizagem de materiais relacionados. 25 As informações que não são recordadas (são esquecidas), após ter ocorrido a assimilação, ainda deixam um efeito residual no conceito assimilado e, na verdade, em todo o quadro de conceitos relacionados. As informações apreendidas significativamente podem ser aplicadas numa enorme variedade de novos problemas e contextos. Muitas vezes, no ensino da Biologia, dos estudantes é exigido que aprendam uma gama de conceitos, que não lhes são familiares, sem que antes tenham adquirido um corpo adequado de subordinadores relevantes num nível adequado de inclusividade. Muitas vezes, os alunos possuem essas ideias de base, mas elas não estão ativadas. Caberia, então, ao professor descobrir esses conhecimentos prévios, ativá-los e, com base nisso, ensinar o novo tema. Ausubel chama as ideias que proporcionam ancoragem de subordinadores, integradores ousubsunçores. Para Moreira (1999), o subsunçor constitui um conceito, uma ideia ou uma proposição já existente na estrutura cognitiva, capaz de servir de ancoradouro a uma nova informação, de modo que esta adquira, assim, significado para o sujeito. Novak (2000) destaca que, No decurso da aprendizagem significativa, as novas informações são ligadas aos conceitos na estrutura cognitiva. Normalmente, essa ligação ocorre quando se ligam conceitos mais específicos e menos inclusivos a outros mais gerais, existentes na estrutura cognitiva. [...] A justificação para se adicionar esses termos reside no papel fundamental que os subsunçores desempenham na aquisição de novas informações. [...] O papel de um conceito integrador na aprendizagem significativa é interativo, facilitando a passagem de informações relevantes, através das barreiras perceptivas, e fornecendo uma base para a ligação entre as informações recentemente aprendidas e os conhecimentos anteriormente adquiridos (ibidem, p. 59). Segundo Ausubel, a aprendizagem significativa pode ocorrer por recepção ou 26 por descoberta. Na aprendizagem receptiva, a informação é apresentada ao aluno em sua forma final; já na aprendizagem por descoberta, o conteúdo a ser aprendido necessita ser descoberto pelo aluno. A aprendizagem por descoberta pressupõe que o próprio indivíduo descubra o conhecimento dependendo de seus próprios recursos. Ausubel considera que a relação custo–benefício desse tipo de empreendimento é pouco considerável. Para Ausubel, A abordagem da descoberta não oferece vantagens flagrantes, exceto no caso muito limitado de uma tarefa de aprendizagem mais difícil, quando o aprendiz ou está no estágio concreto do desenvolvimento cognitivo ou se, geralmente no estágio abstrato, ele carece de uma sofisticação mínima num campo determinado de conhecimentos (ibidem, p. 448). Ele destaca ainda que, se o aluno tivesse de descobrir o conhecimento o tempo todo, não haveria tempo suficiente para isso no decorrer de sua vida escolar e haveria um alto custo na implementação de situações para que isso ocorresse. No entanto, em alguns momentos é possível recorrer a esse tipo de aprendizagem como apoio didático para determinadas aprendizagens. As aprendizagens por descoberta ou por recepção podem ou não ser significativas. Moreira (ibidem, p. 17) destaca que pode ocorrer uma superposição entre os conteúdos aprendidos por recepção e por descoberta, uma vez que aqueles aprendidos por recepção são utilizados na descoberta de soluções de problemas. Ausubel considera que as aprendizagens por recepção e por descoberta situam- se ao longo de um continuum de aprendizagens significativa e mecânica. Ausubel não vê uma relação direta entre a aprendizagem por recepção e a mecânica, ou seja, para ele, a aula expositiva não gera necessariamente uma aprendizagem mecânica, assim como a aprendizagem pordescoberta não gerará sempre aprendizagem significativa. Existem, no entanto, diversas formas de combinação desses elementos, de tal maneira que podemos ter aprendizagem por recepção (aula expositiva) e aprendizagem significativa. A mesma coisa acontece em relação à aprendizagem por descoberta (aprendizagem dirigida, 27 induzida por problemas), que pode gerar aprendizagem mecânica se se restringir apenas à aplicação de fórmulas. Para ele, o máximo da aprendizagem significativa seria aquela que se situa no extremo dos dois contínuos, ou seja, aquela que resulta, por exemplo, da pesquisa científica, que advém da combinação entre aprendizagem por descoberta autônoma e aprendizagem significativa. Ausubel lembra que a escola ainda hoje privilegia as aulas expositivas, apesar de todas as críticas a elas endereçadas. Entretanto, ele não descarta a possibilidade de ocorrência de aprendizagem significativa dentro dessa perspectiva, desde que sejam obedecidos alguns pressupostos como, por exemplo, a identificação de conhecimentos relevantes que sirvam de âncoras à nova aprendizagem, na mente do aluno. Para Ausubel, a aprendizagem receptiva-significativa é importante para a educação porque é o mecanismo humano, por excelência, de aquisição e armazenamento de uma vasta quantidade de ideias e informações representadas por algum campo de conhecimento (ibidem, p. 33). Ausubel ainda considera que a aprendizagem receptiva-significativa é um processo ativo, mas requer uma análise dos conhecimentos prévios existentes, a fim de avaliar (1) quais são os aspectos da estrutura cognitiva do sujeito que são os mais relevantes para que o novo material — potencialmente significativo — possa interagir; (2) qual o grau de harmonia entre as ideias existentes na estrutura cognitiva — ou seja, a apreensão de ideias de mesma natureza ou que apresentem diferenças e a resolução de problemas em que haja contradições reais ou aparentes entre aqueles conceitos e proposições novos e os já estabelecidos; (3) a diferenciação do material aprendido em termos da experiência pessoal de cada indivíduo. 28 Trata-se de proporcionar ao aluno situações que sejam potencialmente problemáticas e desequilibradas, mas que estejam dentro das possibilidades de resolução do aluno. Ausubel considera que, à medida que a aprendizagem significativa ocorre, mais e mais aparecem conceitos integradores. Esse aperfeiçoamento dos significados conceituais ocorre melhor quando se introduzem primeiro os conceitos mais gerais e inclusivos e depois se diferenciam, progressivamente, esses conceitos em termos de pormenores e especificidades (NOVAK, 2000, p. 63). Acredita-se que é através da aprendizagem significativa que as novas ideias aprendidas ficarão por mais tempo disponíveis na estrutura cognitiva do aluno. Sem receio de ser redundante, aprender de forma significativa nada mais é do que aprender com sentido, ou com significado; esse tipo de aprendizagem permite a evocação das ideias aprendidas quando elas se fizerem necessárias, devido ao fato de serem mais estáveis e disponíveis na mente do sujeito. Para Ausubel, é no decurso da aprendizagem significativa que o significado lógico do material apresentado ao sujeito passa a ter significado psicológico. O significado psicológico tem a característica de idiossincrasia, uma vez que é próprio de cada sujeito aprendente. O significado que o sujeito dá ao material aprendido tem a marca do próprio sujeito. Não basta que o material a ser apresentado ao sujeito seja significativo (a maioria dos materiais escolares o são), mas é necessário que o sujeito tenha os subsunçores necessários para “pendurar” os novos conceitos aprendidos. Muito embora a aprendizagem seja idiossincrática, numa determinada cultura, os diferentes membros compartilham muitos conceitos e muitas proposições que são similares, permitindo a compreensão e a comunicação interpessoal. Assim, existem muitos conhecimentos que são compartilhados pelo grupo social. 1 Condições básicas para que ocorra a aprendizagem significativa, segundo David Aubusel 29 Não-arbitrariedade do material – Entende-se por não- arbitrariedade quando o material potencialmente significativo, apresentado ao sujeito, relaciona-se de forma não-arbitrária com as ideias preexistentes em sua estrutura cognitiva. O material é dito potencialmente significativo quando apresenta a propriedade de ser relacionável com a estrutura cognitiva preestabelecida do sujeito. Essa relação não ocorre com qualquer ideia, mas com as ideias relevantes existentes. Esses novos conhecimentos aprendidos ancoram-se em conhecimentos anteriores ditossubsunçores. Ausubel considera ainda que o material é potencialmente significativo quando este se encontra dentro da capacidade humana de aprender. Substantividade – Essa condição pressupõe que, ao se aprender de forma significativa, retêm-se a substância das novas ideias, não as palavras precisas usadas para sua expressão. Dessa forma, o mesmo conceito ou proposição pode ser expresso de diferentes maneiras, mediante distintos símbolos ou grupos de símbolos, que são equivalentes em termos de significados. Disponibilidade do sujeito para a aprendizagem significativa – Outra condição para que a aprendizagem significativa ocorra é a predisposição favorável do sujeito para isso. A expressão predisposição favorável do sujeito indica que é relevante o que o sujeito sente. Nesse sentido, as contribuições de Novak & Hanesian (1980) à Teoria da Aprendizagem Significativa conferem a ela uma visão mais humanista. Novak (ibidem, p. 19), de certa forma, amplia a teoria ao defender que o sujeito pensa, sente e age e que as experiências de aprendizagem potencialmente significativas são aquelas que o levam a um engrandecimento pessoal, proporcionando, ao mesmo tempo, um certo domínio conceitual que lhe permita o uso eficiente na solução de problemas reais, do dia-a-dia (NOVAK, 1980, p. 19). Entre o educador e o educando, entre aquele que quer ensinar e aquele que se predispõe a aprender, se estabelece uma via de mão-dupla. Segundo Moreira (1999, p. 35), qualquer evento educativo é, de acordo com Novak, uma ação para trocar significados (pensar) e sentimentos entre o aprendiz e o professor. Novak (ibidem, p. 13) identifica os elementos envolvidos no processo ensino– aprendizagem como sendo: o aprendiz, o professor, o conhecimento, o contexto e a avaliação. Este último elemento não aparecia originalmente na Teoria da Aprendizagem Significativa, e Novak foi o primeiro a introduzir a avaliação como um dos elementos do processo ensino–aprendizagem. Ao ensinar, o professor apresenta aos seus alunos os significados que são aceitos por um grupo de pessoas (no caso, os cientistas) num determinado período da história humana e que constituem os conhecimentos reconhecidos como válidos 30 num determinado contexto. A fim de que o professor saiba que aquilo que o aluno aprendeu seja o conhecimento por ora aceito pela comunidade científica, pede-se ao aluno que exteriorize aquilo que aprendeu. Esta constitui a avaliação de conhecimento. O conhecimento aprendido de forma significativa tem a propriedade de ser utilizado em diversos contextos. Não são exteriorizados de forma literal, como foram aprendidos. Com a finalidade de situar o leitor na TAS, a seguir estão listados o princípios norteadores da teoria de Novak, segundo Moreira. Para este autor, a Teoria da Aprendizagem Significativa deveria ser conhecida como a Teoria Ausubel & Novak. Todo evento educativo envolve cinco elementos: aprendiz, professor,conhecimento, contexto e avaliação. Pensamentos, sentimentos e ações estão interligados, positiva ou negativamente. A aprendizagem significativa requer: a) disposição para aprender, b) material potencialmente significativo, c) algum conhecimento relevante. Atitudes e sentimentos positivos em relação à experiência educativa têm suas raízes na aprendizagem significativa e, por sua vez, facilitam-na. O conhecimento humano é construído; a aprendizagem significativa subjaz a essa construção. O conhecimento prévio do aprendiz tem grande influência sobre a aprendizagem significativa de novos conhecimentos. Significados são contextuais; aprendizagem significativa não implica aquisição de significados corretos. Conhecimentos adquiridos por aprendizagem significativa são muito resistentes a mudanças. O ensino deve ser planejado de modo a facilitar a aprendizagem significativa e a ensejar experiências afetivas positivas. A avaliação da aprendizagem deve procurar evidências de aprendizagem significativa. O ensino, o currículo e o contexto também devem ser avaliados. Mapas conceituais podem ser representações válidas da estrutura conceitual/proposicional de conhecimento de um indivíduo; podem ser instrumentos de meta-aprendizagem. “V” epistemológico** pode ser útil para compreender a estrutura do conhecimento; pode ser instrumento de metaconhecimento. 2 Tipos de aprendizagem significativa Segundo Ausubel (ibidem, p. 39–40), os seres humanos são capazes de aprender de forma significativa, relacionando conceitos, ideias e proposições a ideias claras e disponíveis na estrutura cognitiva. Para ele, essas novas ideias 31 são subsumidas, modificando, por sua vez, as ideias que deram suporte ou funcionaram como âncora. Através desse processo, novos subsunçores, com capacidade de ancoragem para novas ideias, vão se desenvolvendo. Esse tipo de aprendizagem, como já foi visto anteriormente, tem como característica básica a possibilidade de ser evocada com maior facilidade pelo indivíduo, sendo, portanto, mais duradoura. Para Ausubel (ibidem, p. 39), há três tipos de aprendizagem significativa: a aprendizagem representacional, a aprendizagem conceitual e a aprendizagem proposicional. 2.1 A aprendizagem representacional Refere-se ao significado de palavras e símbolos unitários. Esse tipo de aprendizagem constitui o tipo básico de aprendizagem da espécie humana. O indivíduo relaciona o objeto ao símbolo que o representa. Esses símbolos são convencionais e permitem ao indivíduo conhecer e organizar o mundo exterior e interior. Nesse caso, nomear, classificar e definir funções constituem exemplos de aprendizagem representacional. Ausubel considera que esse tipo é o que mais se aproxima da aprendizagem mecânica ou automática. 2.2 A aprendizagem conceitual Para Ausubel, os conceitos representam unidades genéricas ou ideias categóricas e são representados por símbolos particulares. A aprendizagem representacional é o ponto de partida para a aprendizagem conceitual, e pode-se afirmar que esses dois tipos de aprendizagem são interdependentes. Os conceitos representam regularidades em eventos, situações ou propriedades e possuem atributos essenciais comuns que são designados por algum signo ou símbolo. Cabe ressaltar que o sujeito pode aprender o símbolo do conceito antes do conceito propriamente dito ou, então, o contrário. Aprende-se, por exemplo, o conceito de bola e associa-se ao seu objeto, como se pode também aprender o conceito de planta ou animal e a regularidade observada em vários animais que se conhece. Para que não se confunda, a aprendizagem conceitual é um tipo complexo de aprendizagem representacional. Ela pode ser significativa a partir do momento que for substantiva e não-arbitrária, ao contrário de quando é apenas nominalista ou simplesmente representacional de um determinado objeto. 2.3 A aprendizagem proposicional 32 Refere-se aos significados expressos por grupos de palavras combinadas em proposições ou sentenças. Ausubel destaca que, ao se aprender o significado de uma proposição verbal, por exemplo, aprendemos primeiramente o significado de cada um dos termos componentes. Esse tipo de aprendizagem pode atingir formas mais complexas de aprendizagem significativa. Nesse caso, a tarefa é aprender o significado que está além da soma dos significados das palavras e dos conceitos que compõem a proposição. Ausubel considera que a aprendizagem significativa proposicional é mais complexa do que as aprendizagens representacional e conceitual, no sentido de que as representações e os conceitos podem constituir os subsunçores para a formação de proposições. Uma proposição potencialmente significativa para o sujeito, expressa verbalmente por uma sentença, contendo tanto os significados denotativos quanto os conotativos dos conceitos envolvidos, interage com ideias relevantes, estabelecidas na estrutura cognitiva e, dessa interação, surgem os significados da nova proposição. 3 Organizador Prévio (OP) e o princípio de diferenciação progressiva Ausubel (ibidem, p. 71) propôs o uso de instrumentos que ele mesmo denominou de Organizadores Prévios ou Antecipatórios quando o sujeito não dispõe de subsunçores que ancorem novas aprendizagens ou quando for constatado que os subsunçores existentes em sua estrutura cognitiva não são suficientemente claros e estáveis para desempenhar as funções de ancoragem do novo conhecimento. Esses instrumentos também podem servir como ativadores de subsunçores que não estavam sendo usados pelo indivíduo, mas que estão presentes na estrutura cognitiva. O OP constitui um instrumento (textos, trechos de filmes, esquemas, desenhos, fotos, pequenas frases afirmativas, perguntas, apresentações em computador, mapas conceituais, etc.) que é apresentado ao aluno, em primeiro lugar, num nível de maior abrangência, que permita a integração dos novos conceitos aprendidos. Um organizador prévio prescinde de nível de inclusividade e abrangência sobre o conteúdo que será posteriormente apresentado. A principal função do OP é preencher o espaço entre aquilo que o aprendiz já conhece e o que precisa conhecer. Ausubel (ibidem, p. 144) propõe a manipulação deliberada da estrutura cognitiva do sujeito através do uso de Organizadores Prévios com a finalidade de prover ideias de esteio ou subsunçores, de modo a favorecer a aprendizagem significativa. Os organizadores prévios podem constituir importantes instrumentos de contextualização sociocultural, uma vez que criam referentes para o conteúdo. Ausubel considera que as funções básicas de um OP são: 33 Oferecer uma armação ideativa para a incorporação estável e retenção do material mais detalhado e diferenciado que se segue no texto a ser aprendido ou na exposição a ser acompanhada. Aumentar a discriminalidade entre este último material e ideias similares ou ostensivamente conflitantes na estrutura cognitiva. Tornar evidentes as ideias que porventura já existam na estrutura cognitiva e que possam servir de esteio às novas aprendizagens, potencializando, assim, a capacidade de aprendizagem do sujeito (ibidem, p. 144). O Princípio da Diferenciação Progressiva, citado anteriormente, prevê a apresentação das ideias mais gerais ao aluno em primeiro lugar, para depois serem progressivamente diferenciadas em termos de detalhes e especificidade. Essa ideia constitui o princípio básico relativo ao funcionamento de um Organizador Prévio. Moreira (1982, p. 42) evidencia que um OP deve apresentar não só a possibilidade de diferenciação progressiva como também a reconciliação integradora, princípio que se leva em conta quando se explora explicitamente as relações entreideias, proposições e conceitos, apontando similaridades e diferenças significantes e reconciliando inconsistências reais e aparentes. A vantagem do uso de um Organizador Prévio é que o aluno pode se aproveitar de uma visão geral do conteúdo antes que se possa dissecá-lo em seus elementos constitutivos. Ausubel considera que os Organizadores poderiam facilitar a aprendizagem factual mais que a de materiais abstratos, que, segundo ele, já conteriam seus próprios organizadores. Destacam-se dois tipos principais de Organizadores Prévios: o expositivo e o comparativo. Essas duas classes de organizadores contemplariam os dois principais aspectos relacionados à aprendizagem escolar; a aprendizagem que decorre da relação tradicional professor–aluno mediada pela linguagem e aquela que privilegia um importante aspecto da aprendizagem humana — a aprendizagem através da comparação. 3.1 Organizadores Expositivos O Organizador Expositivo deve ser utilizado quando o aluno não dispõe de ideias relevantes sobre um tópico específico, ou seja, quando o aluno está aprendendo um novo assunto. Ausubel (ibidem, p. 144) propõe o uso de um organizador do tipo expositivo quando se tratar de um tema desconhecido para os alunos. Esses organizadores teriam uma relação de super ordenação com o novo conhecimento a ser aprendido. É o caso, por exemplo, de um texto jornalístico que serviria como “introdução” ao tema. Esse texto seria apresentado num nível maior de abrangência. A vantagem do uso de um OP é que o aprendiz pode ser favorecido por uma visão geral do conteúdo, antes do detalhamento dos seus elementos constitutivos. Quando o aluno está estudando o processo de divisão celular, por exemplo, os 34 conceitos relativos à teoria celular e à morfofisiologia da célula devem estar disponíveis e evidenciados naquele momento. Caso isso não ocorra, o professor pode, por exemplo, recorrer a um texto em que o assunto seja tratado de modo mais abrangente, permitindo, com isso, a inclusividade das novas ideias sobre a divisão da célula que ocorrerá por subordinação. Esse texto poderia versar sobre a relação entre divisão celular e o crescimento dos seres pluricelulares, bem como a diferenciação da célula a partir de células-tronco presentes no embrião. Dessa maneira, os Organizadores Prévios teriam a função de prover um arcabouço de conhecimentos para sustentar a nova aprendizagem, servindo como elementos de contextualização. 3.2 Organizadores Comparativos Caso o conteúdo seja familiar ao aluno, o uso de organizadores comparativos pode ser eficiente no propósito de integrar os novos conceitos ou proposições com os conceitos similares presentes na mente do sujeito ou então poderão aumentar a discriminalidade entre as ideias novas e as existentes, que são essencialmente diferentes, mas que podem causar alguma confusão. Esses OPs serão utilizados quando o aluno dispuser de ideias claras e disponíveis sobre o assunto a ser tratado; nesse sentido, o Organizador Prévio tem a função de ressaltar as semelhanças e diferenças que existem entre o conteúdo a ser aprendido e aquele que está disponível na mente do aluno. Os organizadores prévios funcionam como agentes facilitadores da aprendizagem, criando uma “ponte cognitiva” entre o que o aluno já sabe e aquilo que ele precisa saber. Segundo os princípios ausubelianos, os OPs devem situar-se num nível mais elevado de abstração e generalidade da matéria de ensino, de modo a permitir o maior grau possível de inclusividade, e devem ser apresentados antes do conteúdo propriamente dito. Desse modo, esses instrumentos também são denominados, pelo próprio Ausubel, de Organizadores Antecipatórios. A escolha de um Organizador Prévio requer um feeling por parte do professor, de modo que apresente as seguintes características: Estar em um nível compatível ao desenvolvimento do grupo. Apresentar um nível de abrangência de conhecimentos que sirva de arcabouço (contexto) ao conteúdo que será aprendido. O assunto apresentado deve ter relação com algum conhecimento já presente na estrutura cognitiva do aluno ou que ele tenha contato através dos inúmeros meios de comunicação de massa. Possuir um modo de apresentação que seja o mais organizado e claro possível. 4 Como se dá a aprendizagem significativa 35 Segundo Ausubel, dependendo da natureza do material a ser aprendido e da estrutura cognitiva do aprendiz, a aprendizagem pode se dar por subordinação correlativa ou derivativa, superordenada ou combinatória (ibidem, p. 141). 5 O processo de assimilação e a aprendizagem subordinativa No processo de subordinação, a assimilação se dá quando uma ideia, um conceito ou uma proposição que sejam potencialmente significativos são assimilados por um subsunçor mais inclusivo existente na estrutura cognitiva do sujeito, como um exemplo, uma extensão, elaboração ou qualificação do mesmo (MOREIRA, 1999, p. 24–25). Para Ausubel, portanto, as proposições podem ser aprendidas e retidas por mais tempo; além disso, uma vez que a organização hierárquica da estrutura cognitiva é, por si só, ilustrativa do princípio subordinativo, parece razoável supor que o modo subordinativo da aprendizagem significativa deve ser utilizado sempre que possível. Nesse sentido, é lícito supor que, na aprendizagem escolar, seja enfatizada a aprendizagem subordinativa, tendo em vista a aprendizagem significativa. No processo de aprendizagem por subordinação, a nova ideia, o novo conceito ou a nova proposição, ao serem assimilados, modificam também a ideia de esteio já existente. Avaliação da aprendizagem significativa Novak (1998, p. 15) considera a avaliação do processo de ensino e de aprendizagem como um elemento-chave. Ele defende o uso de mapas conceituais no processo de avaliação do aluno, porém considera que esse instrumento não deve ser o único, uma vez que a aprendizagem humana é uma realidade que apresenta muitas dimensões. Para ele, o ser humano apresenta uma mescla de pensamentos, sentimentos e ações; juntos, esses elementos formariam os significados da experiência. Novak considera que uma educação bem-sucedida é aquela que leva ao engrandecimento humano e deve concentrar-se em muito mais do que o pensamento do aluno: os sentimentos e as ações também são importantes. Novak (ibidem, p. 9) concebe três formas de aprendizagem: aquisição de conhecimentos (aprendizagem cognitiva), alterações das emoções ou sentimentos (aprendizagem afetiva) e aumento das ações físicas das pessoas ou do desempenho (aprendizagem psicomotora). Novak salienta que: A preocupação central em relação à avaliação da aprendizagem cognitiva deveria ser quanto à capacidade que o instrumento tem para avaliar os quadros conceituais e proposicionais que o indivíduo possui ou até que ponto o 36 conhecimento é aprendido de forma substantiva ou não-arbitrária, que é o caso da aprendizagem significativa (ibidem, p. 182). Como foi considerado anteriormente, o processo educativo envolve um conjunto de variáveis, obedecendo a múltiplos determinantes. A avaliação da aprendizagem configura uma dessas variáveis. A avaliação constitui um dos assuntos mais polêmicos da educação. Existem várias concepções acerca de avaliação e dúvidas sobre qual será o objeto dessa avaliação: se o sujeito aluno, o grupo ou todo o processo. Zabala (1998) considera que: As definições mais habituais da avaliação remetem a um todo indiferenciado, que inclui processos individuais e grupais, o aluno ou a aluna e os professores. Esse ponto de vista é plenamente justificável, já que os processos que têm lugar na aula são processos globais em que é difícil, e certamente desnecessário, separar claramente os diferentes elementos que os compõem. Nossa tradição avaliadora
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