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INTERDISCIPLINARIDADE NO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO APLICADA NA ACIARIA II DA USINA SIDERURGICA DE MINAS GERAIS S.A DIEGO ALVES MARTINS FERNANDA CRISTINA DA SILVA HEVERTON NASCIMENTO LOPES JÉSSICA MOREIRA MAGALHÃES PATRICK FERNANDES DE OLIVEIRA RESUMO O artigo visa aprofundar os conhecimentos teóricos desenvolvidos por meio da relação teórica x prática, através de uma visita técnica realizada na empresa Usiminas na área da Aciaria II. A partir da visita e dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso, foi possível relacionar de forma sucinta o processo de produção do aço, com suas estratégias, metas e qualidades, mostrando diretamente a interdependência das disciplinas cursadas e suas aplicações. Palavras-chave: Processo, Aciaria, interdisciplinaridade, aço, competitividade. 1 INTRODUÇÃO Vivenciar e perceber a interdisciplinaridade no dia a dia de trabalho é algo necessário e de muita importância para os estudantes. O conhecimento teórico conceitual aliado a prática, promove a função da aprendizagem significativa e colaborativa, desenvolvendo no aluno a habilidade de identificar, analisar, explicar e resolver problemas em todos os âmbitos, dentro e fora da empresa. Pensando no cenário atual de competitividade e visando o desenvolvimento e sucesso da Usiminas, utilizando os conhecimentos da Engenharia de Produção, foi elaborado o levantamento de dados para criação desse artigo, onde envolveu pesquisa bibliográfica, análise das dificuldades encontradas na proposta do trabalho e entrevista com funcionários e pessoas que possuem vivências práticas. Devido à grande extensão da empresa e diversidade de produtos e operações, iremos focar em um setor específico, a Aciaria II. Neste setor será mostrado como as disciplinas se interagem e como são aplicadas na prática operacional. A Usiminas possui um processo de produção grande e um pouco complexo, em cada etapa é possível identificar diversas disciplinas, conceitos e técnicas de gestão estudadas em sala de aula. Observamos a interdisciplinaridade e interação de profissionais de diversas áreas 2 de conhecimento, percebendo o quanto uma disciplina ou uma aplicação depende de outra e juntas chegam ao objetivo: a fabricação do aço. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 EMPRESA A Aciaria II é responsável por 75% da produção de aço líquido da Usiminas, ocupa lugar de vanguarda na indústria siderúrgica brasileira. Entrou em operação em 1975, com capacidade nominal de 1.700.000 toneladas de aço líquido por ano, produzindo aços de elevada qualidade para aplicações diversas. Sua capacidade atual de produção é de 3,6 milhões de toneladas de aço líquido por ano. A área se destaca como a mais produtiva do país em número de corridas e é também uma referência mundial. Conta com um efetivo direto de 882 empregados envolvidos nos processos de produção e manutenção. Algumas conquistas e recordes da Aciaria II: ➢ Recorde de produção mensal de 1.986 corridas, em dezembro de 1989, correspondendo a 332.242 toneladas de aço líquido. ➢ Recorde de produção mensal de 2039 corridas, em janeiro de 1995, gerando 330.908 toneladas de placas; ➢ Recorde anual de 3.638.127 toneladas de placas lingotadas em 2004. Possui a missão de buscar a excelência na prática de produção e comercialização de aços planos, conquistando índices de desempenho e práticas de padrão mundial, sem perder de vista a dimensão social. A visão é ser um grupo siderúrgico de alcance global, inovador e crescer de forma sustentável para se posicionar entre os mais rentáveis do setor. Com relação a gêneros, raça e etnia, cada vez mais a Usiminas entende a importância de tratar as diversidades com primazia em sua agenda de responsabilidade social e de considerá-la um tema decisivo para seu desempenho organizacional. Segundo Barnes (1977) fluxograma é a técnica para se registrar um processo de forma compacta. É utilizado com a finalidade de tornar possível sua compreensão e posterior melhoria, tendo como objetivo representar os diversos passos do processo produtivo. Neste contexto foi elaborado o fluxograma da Aciaria: 3 FIGURA I – Ciclo Operacional Aciaria II da Usiminas 2.2 INTEGRAÇÃO DAS DISCIPLINAS Novas tecnologias e formas de organização da produção têm surgido como respostas a crescentes desafios, como a competitividade. Nesse contexto, a Gestão da Cadeia de Suprimentos surgiu para o desenvolvimento de vantagens competitivas, passando pela utilização dos sistemas de Planejamento e Controle da Produção, no qual integra todos os setores da empresa, de modo a alcançar seus objetivos de produção e conseqüentemente a estratégia corporativa. Uma vez que as estratégias são elaboradas, mediante a visão definida de onde se quer chegar, podem-se alcançar os objetivos, melhores decisões de médio e curto prazo podem ser feitas, diminuindo assim o que poderia afetar diretamente o sistema de manufatura. A Gestão da Qualidade e a Gestão da Cadeia de Suprimentos estão diretamente ligadas ao mesmo objetivo, que nada mais é que o alcance da melhoria contínua frente ao mercado. A Usiminas investe para incrementar a sua vantagem competitiva frente à concorrência, através de uma visão abrangente das principais questões econômicas e seus 4 desafios, sem descuidar dos fundamentos que norteiam a empresa há meio século: tradição, solidez e liderança. As disciplinas: Fenômenos de Transporte, Mecânica dos Fluídos e Química Geral, elas relacionam-se através da troca de calor entre materiais e com o ambiente, mudança de estado físico, composição e propriedades do aço, também na etapa de solidificação e corte das placas de aço. A Mecânica Geral interliga também com essas disciplinas através dos elementos (peças) das máquinas, onde se observou painéis e cabines de controles e campos eletromagnéticos para imantação de chapas por intermédio de eletroímãs, ponte rolante. A integração da disciplina: Modelagem, Simulação e Otimização, com as outras, se dá segundo a obtenção de modelos matemáticos, onde se aplicam princípios básicos da Mecânica, Química e Física, como também observação direta dos dados operacionais do processo, por experimentação. Uma das estratégias da empresa é buscar a máxima eficiência industrial, a partir da otimização das linhas produtivas. Mais que uma diretriz, Saúde e Segurança é um valor para a Usiminas. A Companhia desenvolve um amplo leque de ações que visam criar uma cultura de segurança em suas unidades, preservando o bem-estar de seus empregados. Alia-se a isso programas e benefícios voltados à prevenção de doenças e tratamentos de saúde. O compromisso de melhorar continuamente seu desempenho ambiental é um fator importante, principalmente por meio do uso racional dos recursos naturais e da gestão de seus impactos. A empresa investe na busca de soluções sustentáveis para harmonizar a produção industrial com a conservação do meio ambiente, combinadas com ações voltadas para a equidade social. 2.3 RELAÇÃO TEORIA X PRÁTICA A palavra aciaria significa fábrica de aço. É o local onde nasce o aço dentro de uma usina siderúrgica. Sua principal função é transformar o gusa produzido nos altos-fornos em placas de aço. Ela está exatamente no meio do processo siderúrgico: entre o alto-forno, que produz o ferro gusa líquido, e as laminações, que são responsáveis pelos produtos finais, como as bobinas e as chapas. 5 FIGURA 2 – Fluxo geral da Aciaria da Usiminas A fabricação do aço na Aciaria consiste nas etapas: pré- tratamento do ferro- gusa, refino primário, feito nos convertedores; o refino secundário,feito em forno-panela e a solidificação, que ocorre nas máquinas de lingotamento contínuo. O ferro gusa produzido no alto forno é transportado para aciaria no estado liquido a temperaturas de até 1500°C, com o mínimo de perdas de calor, em equipamentos denominados carro torpedo, que é internamente revestido por tijolos refratários que resistem a temperaturas de até 1850°C. No carro torpedo é realizado a primeira etapa do pré-tratamento do gusa, ocorre a dessulfuração, que consiste na injeção de finos de óxido de cálcio, alumínio e magnésio metálico em pó, através de uma lança refratária, para a redução do teor de enxofre. Na segunda etapa o ferro gusa é despejado em uma panela e o procedimento se repete. Esse processo permite a obtenção de teores de enxofre em 0, 002%. CaO(S) + S CaS(S) + O Segundo Minitecnologias (2009) “para ser transformado em aço o ferro-gusa precisa passar por uma redução do teor de carbono e de outros elementos, considerados como impurezas”. Esse processo pode ser dividido em duas etapas: o refino primário e o refino secundário. No refino primário, o objetivo principal é a transformação de ferro-gusa em aço através da redução do teor de carbono propiciada pela injeção de oxigênio. O refino primário é realizado nos convertedores LD, emprega-se uma lança para injeção de oxigênio. Para Araujo (1997, p. 87) [...] “O processo LD é um procedimento no 6 qual o ar é substituído pelo oxigênio puro. O sopro com oxigênio proporciona rapidez na transformação do gusa em aço, além de possibilitar o reaproveitamento de sucata gerada na própria usina. O oxigênio deve ter no mínimo 99,5% de pureza”. As matérias-primas utilizadas são: ➢ Carga metálica: ferro gusa e sucata (alto teor de ferro e complemento da carga) ➢ Injeção de oxigênio (sopragem) ➢ Adição de fundentes: Cal (neutraliza os óxidos ácidos), Fluorita (fundente do cal), Dolomita (satura a escória ácida com MgO – óxido de magnésio, evitando o ataque ao refratário do convertedor a base de MgO) e Minério de ferro (atua como material refrigerante, ajustando a temperatura ao final do sopro, quanto estiver acima do valor desejado). Segundo Moreira & Lana (2003) o ciclo de operações do refino envolve seis etapas: a) 1ª etapa: posicionamento convertedor, com a inclinação apropriada para carregamento; b) 2ª etapa: carregamento de carga sólida; c) 3ª etapa: carregamento de gusa líquido; d) 4ª etapa: sopro supersônico, (medição de temperatura e retirada de amostras); e) 5ª etapa: vazamento de aço; f) 6ª etapa: vazamento de escória. A percepção da aplicação das disciplinas, Química Geral, Tecnologia dos Materiais, Mecânica dos fluídos e Fenômenos do Transporte, se dá basicamente em todo processo da Aciaria. Resumindo o conceito de Brunetti (2008, p.40) A Mecânica dos Fluidos e Fenômenos de Transporte estudam o comportamento físico dos fluidos, as leis que regem esse comportamento e as transferências de quantidade de movimento, energia e matéria. Existem no processo diversas transformações químicas, transferências de calor entre materiais e com o ambiente, composição e propriedades do aço. Para dar inicio ao processo de refino, a lança de oxigênio é baixada e o sopro é iniciado. Após o sopro, ocorre à fusão e o refino da carga metálica, (gusa e sucata), seqüencialmente elementos contidos no ferro-gusa são oxidados, decorrendo na elevação da temperatura do metal e eliminação dos elementos indesejáveis. 7 O carro torpedo e a lança utilizada para injeção de gases são revestidos com óxido de Magnésio (MgO) utilizado por sua elevada refratariedade, segundo Feltre (2004) “o MgO pode suportar altas temperaturas na ordem de 2800°C (para ser considerado refratário, o material deve suportar temperaturas acima de 1100°C sem deformar), e possui alta resistência a corrosão”. Um dos motivos para o emprego desses materiais é relativo ao baixo custo quando comparado a outros materiais refratários. A lança utilizada no carro torpedo e nos convertedores é refrigerada com água em sua operação para suportar as altas temperaturas, existe um sistema de regulagens de vazão e pressão da água na lança para assegurar as trocas de calor e o equilíbrio necessário para maior durabilidade dos refratários. Segundo Machado (2000) “a duração do sopro de oxigênio nos convertedores depende da vazão específica de oxigênio, da relação entre a quantidade de ferro-gusa e de sucata carregada no forno e da composição química da carga”. O aço líquido e a escória resultante ficam separados dentro do convertedor devido à diferença de densidade. Aproveita-se este fato para retirá-los do convertedor separadamente, o aço sendo vertido em uma panela apropriada e a escória no "pote de escória" (recipiente de aço fundido) consistindo nas etapas cinco e seis do ciclo de refino, onde o convertedor vaza na panela e posteriormente no pote. Visando aumentar a produtividade e atender a requisitos mais exigentes de composição química e limpidez, o aço passa pelo refino secundário. Esta etapa e subdividida basicamente em três categorias: processos a vácuo (RH), fornos-panela e CAS-OB. O aço líquido sai do convertedor, sendo transportado por uma panela até o refino secundário, para unidade de desgaseificação a vácuo. Segundo Araujo (1997) […] “o desgaseificador a vácuo é um equipamento destinado a retirada de gases, descarburação e limpidez dos aços. É feito a circulação do aço líquido no interior de um vaso, onde se faz vácuo, com isso obtêm a retirada de gases como hidrogênio, monóxido e dióxido de carbono”. O equipamento possui ainda dispositivos para ajuste de ligas e aquecimento do aço se necessário. Para Moreira & Lana (2003) os principais objetivos desse processo são: ➢ Enobrecimento dos produtos; ➢ Homogeneização da temperatura do aço na panela; ➢ Ajuste da composição química (faixa estreita); ➢ Homogeneização da composição química; ➢ Menor teor de gases; 8 ➢ Menor quantidade de inclusões não metálicas; ➢ Maior limpidez do aço. O forno panela possui uma abóbada, refrigerada a água, equipada com eletrodos de grafite para aquecimento e com silos para adição de ferro-ligas e lanças refratárias para injeção de argônio. Moreira & Lana (2003) os objetivos desse subprocesso são: ➢ Aquecimento; ➢ Dessulfuração ( redução de enxofre); ➢ Ajuste de composição química em faixas estreitas; ➢ Melhoria da limpidez; ➢ Controle da morfologia de inclusões não metálicas; Após a etapa de forno o aço ainda passa pelo CAS-OB, um equipamento que tem como finalidade o ajuste de composição química num ambiente inerte, isento de nitrogênio, oxigênio e escória. Adicionam-se ligas numa atmosfera criada por uma bolha superficial que remove a escória e resíduo resultante das misturas feitas no convertedor. Permite também, a dessulfuração dos aços. De acordo com Valle (1995) “a qualidade ambiental é parte inseparável da qualidade total ansiada pelas empresas que pretendem manter-se competitivas e assegurar sua posição em um mercado cada vez mais globalizado e exigente”. A prática da gestão ambiental é aplicada no planejamento empresarial da Usiminas, permitindo a redução de custos diretos pela diminuição do desperdício de matérias primas, recursos e de custos indiretos, representados por sanções e indenizações relacionadas a danos ao meio ambiente. Inovação e sustentabilidade serão elementos fundamentais da competitividade das empresas nos próximos anos e a Usiminas, atenta a essa tendência, desenvolve programas, projetos e ações voltadas a promover a sustentabilidade de suas operações industriais. OSistema de Gestão Ambiental implementado na empresa desde 1996, ISO 14001foi a primeira do setor siderúrgico brasileiro e a segunda do mundo a obter a certificação. A Aciaria conta com o sistema OG – Captação e limpeza dos gases gerados. Nos convertedores, fornos e lingotamento há geração de gases e emissão de material particulado, que são captados e submetidos a tratamento. O sistema de limpeza e recuperação do gás tem uma capacidade de 211.210 Nm3 /hora e a lavagem é feita em dois lavadores em série do tipo Venturi. De acordo com Cantarino (2011), esses lavadores geram como produto final o gás 9 limpo e a lama/escória de aciaria (rejeitos siderúrgicos). O gás limpo é direcionado para uma chaminé onde parte será queimada e o restante será enviado ao gasômetro da Aciaria, para ser aproveitado como combustível na usina. A logística reversa é uma grande estratégia de mercado para as organizações, a geração de valores que sua implantação traz pode trazer lucros significativos para a empresa. Sua prática é a forma mais adequada de unir sustentabilidade e lucro no processo produtivo, refletindo em toda a sociedade os benefícios desta modalidade. Podemos definir logística reversa como: [...] a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós- consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. LEITE (2003) A escória de aciaria segue para o processo de fragmentação, britagem, moagem e separações magnéticas e granulométricas. Conforme relata Raposo (2005) a escória reciclada é absorvida pela construção civil e a indústria cimenteira. Pode ser empregada para confecção de camadas de sub-bases e bases dos pavimentos rodoviários e também como agregado para os revestimentos flexíveis. Após o completo tratamento de refino secundário, o aço líquido, com temperatura e composição química adequadas, está pronto para ser solidificado em forma de placas. Para Carvalho J. (1989) o lingotamento contínuo de aços consiste essencialmente na utilização de três reatores metalúrgicos. Esses três reatores são: a panela, o distribuidor e o molde. O início de operação do lingotamento contínuo se dá pela abertura da válvula situada no fundo da panela de aço suspensa sobre o distribuidor. Após encher o distribuidor até um nível adequado, vaza-se o aço para o molde de cobre refrigerado a água por meio de tubos refratários também chamados válvulas submersas. O molde tem um movimento oscilante na direção do lingotamento, para evitar o agarramento do aço e favorecer a lubrificação. A lubrificação é feita pelo uso do pó fluxante que é uma escória de baixo ponto de fusão e viscosidade, adicionada no topo do molde. Além de lubrificar, o pó fluxante tem ainda a capacidade de absorver inclusões não metálicas, controlar a transferência de calor placa/molde, proteger a superfície do aço líquido contra reoxidação e isolar termicamente a superfície líquida. 10 Ao sair do molde, a placa apresenta uma espessura mínima de pele solidificada que sustenta a pressão do interior ainda líquido. A pele solidificada permite a extração da placa a qual aumenta sua espessura solidificada ao longo do veio, que é constituído por rolos guias montado em segmentos. Entre os rolos estão os bicos de "sprays" de água e ar que promovem a extração de calor da placa, completando a solidificação. A placa é então guiada até a estação de corte. O corte é feito através de uma reação química, corte combinado envolvendo os seguintes mecanismos: aquecimento através de chama e reações exotérmicas, seguido de oxidação do metal e posterior expulsão através de jato de gás natural. Para Ramalho (2005) [...] “o corte de materiais é uma das mais importantes etapas na cadeia dos aços. Tanto placas prontas devem ser cortadas em peças para seu destino final, como as sucatas devem ser cortadas em peças de menores dimensões para facilitar seu processamento posterior.” Os equipamentos aplicados no corte são: controle dos gases (reguladores de pressão) e os de mistura (bicos de corte). A capacidade do corte irá depender do dimensionamento dos equipamentos e das regulagens de pressão e vazão necessárias para a geração de calor e extração dos óxidos durante o corte. Em linhas gerais, quanto maior a espessura maior a pressão e vazão dos gases. A capacidade atual de produção da Aciaria II é de 3,6 milhões de toneladas de aço líquido por ano. Possui duas máquinas de lingotamento contínuo de dois veios cada. A produção gira em torno de 1.811 corridas de aço/mês, sem contar a média de 134 corridas/mês que recebe para lingotar, vindas da Aciaria I. Essas 1.811 corridas significam 167 toneladas de aço líquido em cada panela. O Planejamento, Programação e Controle, segundo Slack (2011) devem garantir que a produção ocorra eficazmente e produza produtos e serviços de qualidade. “Isso requer que os recursos produtivos estejam disponíveis na quantidade, no momento e no nível de qualidade adequado”. A programação da aciaria consiste no agrupamento das placas dimensionadas pelo módulo de planejamento de material formando séries /corridas. Para Pounds (1966) esta programação deve considerar os seguintes fatores: ➢ Situação dos equipamentos gargalos na aciaria (RH - FP) ➢ Situação real dos equipamentos da aciaria (saldo de gusa alto, equipamentos parados) 11 ➢ Definições do grau e dimensões (tipo de aço, largura e espessura de placa) ➢ Regras de sequenciamento (salto máximo de largura entre corridas, número mínimo e máximo de corridas) ➢ Datas estabelecidas pelo módulo de planejamento da produção (datas em que as placas devem ser lingotadas) ➢ Balanceamento das linhas seguintes (situação da laminação e dos processos de acabamento) ➢ Parâmetros estáticos (tempo de fila, resfriamento e transporte) Pounds (1966, p.67) afirma que a máquina de lingotamento contínuo é um grande equipamento, com grande rendimento, devendo todos os outros equipamentos estarem entrosados com ele. A programação de uma Aciaria deve considerar como equipamento principal a máquina de lingotamento contínuo, segundo Abrahão (2000 p.28-33). Isso porque os processos de refino têm fluxo intermitente, o que proporciona maior flexibilidade na produção. O setor de lingotamento conta com uma programação do corte, que chega pronta para os operadores pelo planejamento antecipado do setor de PCP da Usiminas. Todas essas informações para se fazer o corte são feitas mediante o planejamento prévio, cada pedido muda as especificações, que variam de acordo com o cliente. Trata-se de um documento, onde há diversas informações como: número do pedido, número da corrida (que está relacionada a uma panela de aço), composição química do aço (destacando as máximas, mínimas e obtidas influências dos elementos químicos do aço), espessura, comprimento e peso total do veio; a largura, comprimento, peso e espessura que a placa deverá ter. As placas de mistura são originadas no lingotamento contínuo quando há mistura de diferentes tipos de aço dentro de um mesmo distribuidor. De um lado viabiliza o atendimento de pedidos pequenos, por outro se torna muitas vezes inviável a freqüência e os tamanhos dessas placas. Sanches (2016, p.04) define modelagem e simulação como sendo uma experimentação, onde se usa modelos de um sistema real ou idealizado para o estudo de problemas reais de natureza complexa. O objetivo é testar diferentes alternativasoperacionais a fim de encontrar e propor melhores formas de operação que visem à otimização do sistema como um todo. 12 Segundo Policarpo (2008, p.17) os modelamentos físicos e matemáticos são ferramentas aplicadas na usina para o estudo do escoamento do aço no lingotamento contínuo e previsão do comprimento de placas de mistura, resultando em ganhos expressivos quanto ao controle do processo e rendimento, otimizando o corte das mesmas. Segundo Junior (2003) “a gestão da qualidade abrange uma visão macro da existência humana, influenciando modos de pensar e de agir”. O conceito de qualidade passou a significar modelo de gerenciamento que busca a eficiência e a eficácia organizacional. A importância e abrangência da Gestão da Qualidade mencionada pelo autor acima foi comprovada na prática durante a visita, começando pela Política de Qualidade da Usiminas, que é definida de forma a representar o propósito da organização, amplamente divulgada como sinal de orgulho, conquista e comprometimento, mostrando aos colaboradores as diretrizes a seguir. Uma das estratégias da empresa foi investir em gestão da qualidade, para a melhoria do seu processo e consequente avanço e destaque no mercado. Usiminas nas foi à primeira produtora de aço do Brasil a obter, em 1992 e 1996, os certificados ISO 9001 e ISO 14001, respectivamente. A partir de então vem ganhando vários prêmios por seu trabalho sério, por manter as conformidades exigidas pelo sistema de gestão da qualidade, sempre vem se atualizando e alcançando as recertificações. Recentemente foi uma das primeiras empresas Brasileiras a obter a recomendação para a certificação ISO 9001:2015, nova versão da norma. Na etapa de lingotamento e corte das placas foram observados diversos procedimentos para garantir a qualidade das placas de aço, são elas: ➢ Manter manutenção adequada e freqüente dos componentes da máquina, ➢ Estabelecer padrões de processamento ajustados à composição química do aço; ➢ Minimizar as contaminações do aço durante o processo ➢ Treinar uma equipe competente nos padrões de processo ➢ Promover auditorias com freqüência no processo Para garantir à qualidade química as placas devem ser produzidas minimizando as contaminações durante o lingotamento contínuo. Possíveis fontes de contaminação: ➢ Ar atmosférico ➢ Escória da panela; ➢ Escória de distribuidor e refratários ➢ Pó fluxante; 13 ➢ Mistura de aços de composição química diferentes É realizado também o teste de ultrassom, pois durante algumas condições críticas do processo (baixo volume de água ou aços críticos) podem surgir defeitos que são detectados através desta técnica. A análise permite identificar descontinuidades internas que porventura ocorram no centro da placa. [...] A gestão da cadeia de suprimentos enxerga a cadeia completa como um sistema a ser gerenciado, segundo é defina com: “o conjunto de atividades que envolvem a distribuição do produto para o consumidor final, desde a aquisição de matéria prima, manufatura e montagem, armazenagem, controle de estoques, controle de entrada e saída de materiais, distribuição entre os elos da cadeia, entrega ao consumidor e também o sistema de informações envolvido. (LUMMUS E VOKURKA, 1999) Após o corte, as placas são marcadas com o número do pedido de produção e em seguida despachadas, onde são armazenadas e inspecionadas. Da armazenagem elas são encaminhadas para outras áreas onde serão beneficiadas. O transporte das placas é feito internamente com pontes rolantes e externamente por locomotivas e caminhões que as transportam para outros setores. Segundo Costa e Jardim (2010, p. 29) “A estratégia de manufatura pode ser entendida como um roteiro estruturado de decisões que são tomadas com o propósito de direcionar a atividade fabril para a performance que se deseja alcançar”. Podemos citar como exemplos de oportunidades, estratégias e vantagens competitivas da Usiminas: ➢ Centro de Tecnologia Usiminas, o maior da América Latina, criado em 1971, e que vem investindo constantemente em inovação, permitindo à empresa dominar tecnologias de alto valor; ➢ Larga experiência com aços especiais para a construção civil dá à Usiminas vantagem na participação dos grandes projetos de infra-estrutura e eventos esportivos nos próximos anos, no Brasil; ➢ Forte atuação no setor de bens de capitais permite à Usiminas participar de grandes projetos de infraestrutura em áreas estratégicas como gás e energia, naval e eventos ➢ Buscar a máxima eficiência industrial, a partir da otimização das linhas produtivas; 14 ➢ Investimentos no desenvolvimento das atividades minerais, em projetos de escoamento de produção, novos equipamentos, plantas de processamento e instalações logísticas; A Higiene e Segurança do Trabalho estão relacionadas ao conjunto de leis, normas, procedimentos técnicos e educacionais, os quais visam à proteção de integridade física e mental do colaborador, preservando-o dos riscos à saúde, inerentes as tarefas do cargo e ao ambiente onde são executadas. A empresa cumpre as normas regulamentadoras e trabalha com a prevenção de acidentes e doenças do trabalho. Os EPI’s – Equipamentos de Proteção Individual (botina de bico de aço, blusões de raspa, perneira, luva, capacete, protetor auditivo, óculos de segurança), são de caráter obrigatório na área, segundo estabelece a NR 6, a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento. Há também placas, avisos e sinalização com cores, para delimitação de áreas e identificação de perigos e riscos suscetíveis de causar lesões e danos para a vida dos trabalhadores, cumprindo o estabelecido da NR 26 que trata de sinalização de segurança. A empresa aplica diversas ferramentas de segurança do trabalho para alcançar a gestão: além dos treinamentos legais, uma grande carga de cursos – trabalho em altura (cumprindo exigido na NR 35), gestão de segurança, ambientes confinados, segurança na operação de equipamentos móveis (ponte rolantes e empilhadeiras), entre outros. São realizadas reuniões diárias (DDS – Diálogo Diário de Segurança) e com a CIPA. A empresa conta com um corpo de membros que compõe a CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – atendendo as exigências da NR 5, que visa à verificação das normas de higiene e segurança dentro da empresa e sua funcionalidade. Com relação à Taxa de Freqüência, a Usiminas atingiu em 2015 o índice de 0,67 acidente por 1 milhão de horas trabalhadas – em 2014, o índice era de 1,13. Identificamos também o uso de EPC – Equipamentos de Proteção Coletiva dos quais destacamos: sistemas de ventilação e exaustão; proteção de circuitos e equipamentos elétricos; proteção contra ruídos (isolantes acústicos), sensores de presença e barreira contra luminosidade intensa e descargas atmosféricas. Além do SESMT (Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho) exigido pela legislação – NR 4, a Usiminas possui o SESMT Coletivo, a iniciativa é padronizar as atividades relacionadas à medicina ocupacional e segurança do trabalho dentro de rigorosos critérios estabelecidos pela Fundação São Francisco Xavier. 15 Possui certificação OHSAS 18001 pela Bureau Veritas Certification Serviços. A OHSAS 18001 é uma norma de requisitos relacionados ao Sistema de Gestão de Saúde e Segurança. 3 CONCLUSÃO Após a etapa de corte, as placas de aço são identificadas com uma marcação feita por uma máquina, na qual utiliza uma tinta especial (resistente a temperatura e durabilidade no aço) que é comprada na Áustria.Não existe fabricação nacional desse material, sendo comprado somente fora. Quando ocorre a falta dessa tinta, a identificação das placas passa a ser feita de forma manual, com um tipo de tinta muito inferior a usual. Isso trás prejuízos para o processo, pois requer mais mão de obra e tempo para identificação das placas, que posteriormente são armazenadas, sem contar o risco de haver um comprometimento na qualidade dos serviços de entrega e transportes internos e/ou externos, devido à falta ou a má qualidade da identificação. Foi verificado que não há nenhum tipo de controle de compras da tinta no exterior. Sugerimos um levantamento de dados para adquirir informações a respeito do consumo de tinta, assim com dados, é possível fazer um planejamento da quantidade demanda, comprando o suficiente para atender determinado período, planejando e estudando a possibilidade de ter um estoque de segurança da tinta. Com o planejamento antecipado o setor de suprimentos teria tempo para enviar e fazer pedidos para o setor de compras e assim haveria melhorias em todo o processo. Através da visita técnica observou-se a ligação da teoria com a prática, fator relevante para os futuros profissionais, analisando as atividades relacionadas ao setor e expandindo os conhecimentos adquiridos, permitindo assim conhecer o processo de obtenção do aço. Proporcionou um entendimento claro de como as disciplinas estudadas são aplicadas na prática. Foi uma grande experiência, algo que agregou muito conhecimento, pesquisa, trabalho em equipe, discussões estabelecidas para identificação das disciplinas no processo. O presente trabalho é de significativa importância, pois contribui para que os alunos não fiquem restritos nos conhecimentos adquiridos em sala de aula, mas tenham percepção geral e conjunta da aplicabilidade no cenário atual das empresas. 16 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHÃO, Ivo Novaes. Modelagem e otimização em sistemas de produção siderúrgica. p. 28-33. Centro Tecnológico, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000. Disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000073.pdf> Acessado em jun. 2017 ARAUJO, L. A. Manual de Siderurgia. 1 ed. São Paulo: Editora Arte & Ciência, 1997. v. 1. 470 p. 87. BARNES, R. M. Estudos de Movimentos e Tempos. São Paulo: Blucher, 1977. BRUNETTI, Franco. Mecânica dos Fluidos 2ª Ed. rev. – São Paulo – SP. Pearson Prentice Hall, 2008. p.40 CARVALHO J. L. Curso Lingotamento Contínuo de Placas de Aço; Ed. ABM – São Paulo - SP. 1989, Cap2. CANTARINO, M.V. Estudo da remoção de zinco e de álcalis contidos em lamas de aciaria LD. 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