Buscar

ALFABETIZAÇAO 6

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO Cecidia Barreto Almeida Claudia Aparecida Ferreira Machado Geisa Magela Veloso Silvina Fonseca Corrêa PEDAGOGIA 5º PERÍODO FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO Cecidia Barreto Almeida Claudia Aparecida Ferreira Machado Geisa Magela Veloso Silvina Fonseca Corrêa Montes Claros - MG, 2011 FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES 2011 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes REVISÃO TÉCNICA Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida PROJETO GRÁFICO Alcino Franco de Moura Júnior Andréia Santos Dias EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO Ana Lúcia Cardoso Pereira Andréia Santos Dias Clésio Robert Almeida Caldeira Débora Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Diego Wander Pereira Nobre Jéssica Luiza de Albuquerque Karina Carvalho de Almeida Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos Rogério Santos Brant Sânzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tátylla Aparecida Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância - DED - CAPES Celso José da Costa Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Nárcio Rodrigues Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Chefe do Departamento de Educação Maria Cristina Freire Barbosa Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares Dayse Magna Santos Moura Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais Francely Aparecida dos Santos Coordenadora do Curso de Pedagogia a Distância Maria Auxiliadora Amaral Silveira Gomes AUTORES Professora Mestranda Cecidia Barreto Almeida Graduada em pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros (1992). Especialista em docência do ensino superior, atualmente é mestranda em Educação, Comunicação e Administração. Professora da Universidade Estadual de Montes Claros na área de Educação e tem experiência como professora alfabetizadora na educação infantil e na educação básica. Professora formadora da UAB –UNIMONTES. Professora Mestra Claudia Aparecida Ferreira Machado Graduada em Pedagogia pela FUNM, atual Unimontes (1981-1983), tem especialização Lato Sensu em alfabetização pela PUC/MG (1992/1994);é Mestre em Educação pela PUC. Exerceu a função de Supervisora Pedagógica na rede Municipal de Montes Claros, de Professora da rede Estadual de Ensino no Ensino Fundamental e Médio. Atua como Professora da Universidade Estadual de Montes Claros desde 1995 e coordena o Pró-Licenciatura. Professora Doutora Geisa Magela Veloso Graduada em Pedagogia pela FUNM, atual Unimontes (1982-1985); tem especialização lato sensu em Literatura Infantil e Juvenil pela PUC-MG (1992-1994); é Mestre em Educação pela UFMG (2000-2001) e Doutora em Educação pela UFMG (2004-2008). Exerceu atividade profissional como supervisora pedagógica na rede municipal de ensino de Montes Claros (1985-2004) e como professora do Curso de Magistério/ nível médio (1986, 1992-1997). Desde 1998 é professora da Unimontes, com pesquisa e docência no campo de Educação e Línguagem. Professora Ms. Silvina Fonseca Corrêa Mestra em Ciências da Educação - Com o tema “Contribuições da Psicanálise para Formação do Educador,para a Educação e para Escola.” pela Universidad San Lorenzo-UNISAL/ PY gerenciado pelo Centro de Orientação e Organização Psicanalítica - CORPO. Especializou-se em Supervisão Educacional pela PUC/MG. Graduada em Pedagogia com Habilitação em Supervisão Escolar de 1º grau; Orientação Educacional e Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas, pela Fundação NorteMineira de Ensino Superior, FUNM/ Unimontes. Supervisão Escolar de 1º e 2º graus. UFSCAR. Professora Conteudista e Formadora da Disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental e Médio - UAB/Unimontes. Diretora da empresa de Consultoria Educacional - Instituto Pólis – Montes Claros/MG. SUMÁRIO Apresentação............................................................................................................................9 Unidade 1: Alfabetização e letramento no brasil.....................................................................13 1.1 Implicações individuais e sociais da alfabetização e do analfabetismo .........................13 1.2 Conceituando alfabetização e analfabetismo ...............................................................17 1.3 O Analfabetismo até a Década de 1980:.....................................................................21 1.4 O Analfabetismo no Brasil a partir da Década de 1990: ..............................................23 1.5 Alfabetização na Perspectiva do Letramento ................................................................26 1.6 Conceituando alfabetismo...........................................................................................34 1.7 Políticas públicas para jovens e adultos........................................................................36 1.8 Referências .................................................................................................................37 Unidade 2: Evolução histórica e sua construção pela criança ..................................................39 2.1 A História e a evolução da escrita................................................................................39 2.2 O que é um Pictograma? ............................................................................................40 2.3 E o que é escrever alfabeticamente?............................................................................43 2.4 A invenção do alfabeto................................................................................................47 2.5 Contribuições da Psicolinguística para a Alfabetização ................................................48 2.6 O que é psicogênese da língua escrita? .......................................................................49 2.7 Níveis de escrita, conforme a Psicogênese da Língua Escrita.........................................51 2.8 Referências .................................................................................................................66 Unidade 3: contribuição dos estudos linguísticos e sociolinguísticos ao ensino-aprendizagem da língua escrita...........................................................................................................................67 3.1 Conceituando a linguística...........................................................................................67 3.2 Estudos sobre consciência fonológica e suas implicações na alfabetização....................69 3.3 Contribuições da Sociolinguística.................................................................................72 3.4 A alfabetização numa perspectiva sociocultural ...........................................................75 3.5 Implicações pedagógicas do conceito de ZDP .............................................................773.6 Referências .................................................................................................................78 Unidade 4: Processo de ensino-aprendizagem da língua escrita ..............................................81 4.1 Os Métodos e Processos de Alfabetização - Conceituando métodos e processos de Alfabetização.....................................................................................................................81 4.2 Proposta Construtivista de Alfabetização .....................................................................91 4.3 Capacidades a serem desenvolvidas no processo de aquisição da leitura e Escrita........96 4.4 O Ambiente Alfabetizador e a organização da Sala de Aula ......................................103 4.5 O Planejamento de ensino e os recursos materiais e didáticos para alfabetização ......112 4.6 A Avaliação da Leitura e Escrita e os Resultados da Avaliação Sistêmica .....................114 4.7 A Prática Docente no Ciclo Inicial de Alfabetização ..................................................119 4.8 Referências .............................................................................................................. 120 Resumo ................................................................................................................................121 Referências básicas e complementares..................................................................................125 Atividades de aprendizagem - AA .........................................................................................131 9 APRESENTAÇÃO Prezado(a) Acadêmico(a): Estamos iniciando nosso estudo sobre os Fundamentos e a Metodologia da Alfabetização. Queremos cumprir, dentre outras atribuições, a de ajudá-lo (a) compreender, da melhor forma possível, a lógica da construção deste caderno da disciplina e dos temas em debate. Para falarmos de Alfabetização e Letramento precisamos, primeiramente, compreender que a escrita e a leitura são conhecimentos produzidos pelo homem e que, para serem aprendidos, é preciso que sejam ensinados e (re) construídos pelo educando. Veremos ainda que esse campo de conhecimento tem sido alterado conforme as demandas de leitura e escrita da sociedade. Dentre essas alterações destacam-se as discussões sobre o analfabetismo funcional e o letramento, como também a ampliação dos sentidos atribuídos à alfabetização e o reconhecimento de suas especificidades. Nessa unidade também iremos falar de Letramento, entender o fenômeno do Analfabetismo brasileiro, analisar dados estatísticos e questões conceituais, dentre elas a questão do Analfabeto Funcional. Além desses conceitos, vamos estudar, discutir, entender os Métodos e Processos de Alfabetização, o que ajudará você no exercício atual ou posterior da docência, quer seja em classes de alfabetização ou outras classes do ensino fundamental, tomar decisões de como aplicá-los a favor do ensino e aprendizagem das crianças brasileiras, fazendo da leitura, da escrita, da contação de histórias, da produção de textos, das práticas da oralidade e o uso dos conhecimentos linguísticos momentos significativos na escola e nas práticas sociais cotidianas. As unidades que compõem o caderno didático do aluno foram organizadas com intenção de que as leituras e estudos realizados oportunizem a percepção dos fundamentos teórico-práticos e os resultados que permeiam a questão da alfabetização no Brasil. Ainda pretendemos demonstrar a necessidade de construção de um trabalho eficaz, de forma que os resultados em sala de aula possam contribuir com a qualidade dos processos educativos e corrigir as taxas do analfabetismo brasileiro, bem como demonstrar a evidência de que os sistemas educacionais vêm formando outros analfabetos, neste caso, frequentando a escola. Então, será que os Sistemas de Ensino estão produzindo analfabetos escolarizados? 10 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Pretendemos que o nosso trabalho seja baseado em compromissos e hábitos de estudos individuais, em pequenos grupos, em grupos diversificados e/ou na coletividade, mas sempre visando à construção de um novo conhecimento ou reforçando posições teóricas consolidadas e de acordo com o que há de mais atual sobre os temas que estamos discutindo. Muitas vezes, você estará tratando de temas já conhecidos, mas é bom que isto sirva de instrumentos de reflexão, revisão de práticas pedagógicas e estratégias de alfabetização, que possam ajudar a resolver um dos grandes problemas da educação – o analfabetismo. A participação de todos será determinante para a construção de uma educação a distância, com mérito, desde a organização e funcionamento dessa modalidade de ensino, dentro dos parâmetros da legislação brasileira, assim, também, de parâmetros de formação de formadores de crianças, adolescentes e jovens, adultos e idosos, pois, no Brasil, todos têm direito a uma educação de qualidade. Portanto a sua participação e a do seu colega são de extrema importância para o bom andamento das atividades e trabalhos propostos. Esteja atento aos temas apresentados, com as orientações no decorrer deste estudo e faça das propostas e situações momentos inovadores e desafiadores que possibilitem a sua formação de docente alfabetizador e a construção de uma nova prática educativa, uma prática no âmbito da alfabetização e do letramento. Esperamos que as oportunidades oferecidas tragam para sua formação novos olhares, novas competências e habilidades num processo de ensino-aprendizagem e avaliação, que se pretende seja sempre eficaz para as crianças brasileiras. Isso porque, nessa disciplina, discutiremos fundamentos teóricos e implicações pedagógicas da alfabetização e do letramento, de forma que você possa compreender que aprender a ler e escrever é um processo complexo, que se inicia antes da escolarização formal, cujos usos integram a vida das pessoas. Esperamos que compreenda que alfabetizar para o letramento é tarefa fundamental a ser desempenhada pela escola, pois aprender a ler e escrever e fazer uso dessas habilidades constitui-se como condição para a educação plena do indivíduo, como instrumento importante para a realização pessoal e exercício da cidadania. Ao final do trabalho com esta disciplina, você estará fundamentado para compreender os sentidos da alfabetização para o letramento e será capaz de produzir uma prática pedagógica inovadora e desenvolver estratégias didáticas para alfabetizar letrando. Atente-se para a carga horária da disciplina - 90 horas, prevista no calendário do curso. Organize-se para melhor aproveitar este tempo. Acompanhe as orientações do seu professor formador, da coordenação de curso, de tutor a distancia, e tutor presencial. Dê a todos eles a oportunidade de ajudá-lo a qualificar a sua formação. Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 11 A Educação a Distância requer de todos os envolvidos o compromisso com o hábito de estudo, a sistematização dos registros e atividades, bem como o cumprimento de prazos. Queremos lembrar que a verbalização nas discussões e debates, o uso das diversas linguagens textuais e as pesquisas bibliográficas de enriquecimento dos estudos, as visitas aos sites de pesquisas, inclusive os oficiais, a atenção aos glossários e as dicas são as diversas formas de você fazer do seu curso oportunidade de otimização de sua formação e contribuir com a formação de seus colegas. Aproveite seu potencial, suas habilidades e capacidades. Cuide de seu desempenho acadêmico! Todos podem ajudá-lo. Mas só você pode construí-lo cada dia melhor. Participe dos Encontros e Seminários Presenciais. Fique atento aos Fóruns e Chats. Participe! Sucesso nos Estudos! As Autoras 13 Introdução Prezado(a) acadêmico(a): Nesta Unidade, discutiremos conceitos e dados estatísticos (Cenário atual do aspecto de escolaridade brasileira em relação à questão da alfabetização), entre outras questões como: Qual é a real situação do analfabetismo hoje no Brasil? Que consequências acarretam para os brasileiros e Nação, estaquestão não resolvida? O que os governos federal, estadual e municipal, a sociedade, a família e a escola podem fazer para reduzir o índice de analfabetismo no Brasil? É possível pensar um projeto de alfabetização que garanta o letramento/alfabetismo para as crianças a partir dos seis anos de idade, como previsto em lei? Quais foram e são as políticas para alfabetizar os jovens e adultos brasileiros? Vamos iniciar o nosso estudo com uma discussão relativa às crenças e mitos construídos em torno da alfabetização e da educação, assumidos como bandeira de luta e compreendidos como elementos fundamentais para o desenvolvimento e para a cidadania. Em seguida, serão apresentados conceitos e reflexões, vamos ler e discutir alguns dados e questões mais atuais, que circulam no Brasil sobre o tema do nosso estudo e que orientam as práticas pedagógicas nas escolas. Para ilustrar essa questão, ressaltamos que, de acordo com o estudo dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 2008), existem no Brasil 14,4 milhões de pessoas que não sabem ler ou escrever. E mais, o analfabetismo é maior entre negros e pardos, sendo que 89,9% das mulheres brasileiras são alfabetizadas, contra 89,4% dos homens. Em 2006, a escolaridade média do brasileiro alcançava 6,7 anos de estudos. Esses são dados preocupantes e indicam que é grande a responsabilidade da escola e dos novos professores em formação, posto que vão assumir a responsabilidade de alfabetizar e garantir condições para o letramento de nossos alunos. 1.1 Implicações individuais e sociais da alfabetização e do analfabetismo Para iniciar nosso estudo é importante destacar algumas crenças que, ao longo do tempo, foram produzidas em torno da alfabetização e UNIDADE 1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO BRASIL 14 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período do analfabetismo. Em todo o mundo, durante o século XIX, e nas primeiras décadas do século XX, foram disseminadas representações diversas em torno dos benefícios da instrução, da educação e da alfabetização da população. De um lado encontramos os debates em torno do ideal iluminista e liberal que associava a educação com o progresso e a construção da soberania da nação, por favorecer o avanço econômico e tecnológico, como também a civilidade, a moralidade, o desenvolvimento social e cultural. Daí, o analfabetismo era considerado como entrave ao desenvolvimento, como problema a ser enfrentado pela sociedade. Por outro lado, havia o temor de que a pessoas alfabetizadas e instruídas fugissem ao controle e se rebelassem, deixando de ser produtivas e dóceis. Ao discutir a questão, Graff (1994) considera que esse temor em escolarizar as massas não inibiu a busca pela educação, sendo que, na primeira metade do século XIX, a questão se tornou central, considerada como remédio para as mudanças. Para o autor, esse consenso produzido pelos países desenvolvidos sobre os benefícios advindos da educação foi exportado para as nações subdesenvolvidas, associado à ideia de modernização. Esta visão enfatizava objetivos sociais agregados ao ensino da leitura e da escrita, considerado como fundamental para a redução do crime e da desordem, a assimilação de valores morais, à ampliação da produtividade econômica. Nesse contexto, o Brasil também assume a defesa da escolarização e da alfabetização, que passou a se constituir como verdadeira bandeira de luta para toda a sociedade. No final do século XIX e início do século XX, os intelectuais brasileiros colocaram a alfabetização como uma preocupação nacional. Escolarizar a população se apresentava como problema que deveria merecer a atenção de todos que pudessem desenvolver ações no sentido de extirpar a mácula que significava a presença maciça dos analfabetos. Em especial os governos, os órgãos da imprensa e os intelectuais, assumiram essa bandeira de luta, visando reverter o estado de analfabetismo da população. Nessa época, a crença disseminada era que o desenvolvimento coletivo e individual seria impedido pelo alto índice de analfabetismo e ignorância da população, que não conheceria seus direitos e deveres, não formaria a consciência esclarecida, não agiria em favor da liberdade e da grandeza do país. As questões ligadas à decadência moral, à falta de civismo, à vadiagem, à mentira e à intriga estavam relacionadas ao analfabetismo da população. Por não dominar a leitura, a população encontrava-se nas trevas da ignorância e da falta de consciência em relação aos seus direitos e deveres, por um processo em que não se mostrava capaz de defender os seus interesses, colocando-se em relação submissa e dependente. Como consequência da condição individual dos cidadãos, não conscientes e pouco esclarecidos, não se poderia avançar e desenvolver enquanto coletividade, não se poderia construir uma nação grande e próspera. Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 15 Buscando esclarecer e explicitar essas relações entre alfabetização, liberdade e exercício democrático dos direitos e deveres, Graff (1994) destaca que: Dentre as noções básicas e indubitavelmente mais orgulhosamente mantidas do Iluminismo é a de que um povo livre, soberano, deve ser educado; uma pessoa deve saber ler e escrever e ser treinada em habilidades críticas a fim de fazer as escolhas críticas que a democracia exige e para realizar os deveres da cidadania responsável. (GRAFF, 1994, p. 91). Por esse raciocínio, a alfabetização se apresentava como instrumento fundamental ao exercício consciente do direito à liberdade, e o analfabetismo era apontado como causa, não apenas da escravização e da subserviência das pessoas, mas também compreendido como causador de vícios que conduziam à desonra e ao crime. Por isso, o analfabetismo era considerado como mácula e vergonha. Em contrapartida, a alfabetização era compreendida como condição para formar pessoas produtivas e aptas para o trabalho. Ao discutir o contexto educacional do final do século XIX, Graff (1997) afirma que este era um momento em que, para os países desenvolvidos, a estabilidade social adquiriu premência e produziu a necessidade do disciplinamento e da inculcação de valores e hábitos exigidos pela sociedade urbana e industrial. Os preceitos morais formavam a base do ensino da alfabetização, e a instrução era justamente para ensinar e inculcar as regras corretas para o comportamento social e econô- mico em uma sociedade em mudança e em moderniza- ção. A alfabetização tornou-se um veículo crucial àquele processo, uma vez que os reformadores apoderaram-se das forças socializantes da imprensa e uma vez que moralidade e alfabetização tornaram-se intrincados. Eles deviam ser ensinados juntos: a alfabetização acelerando e facilitando a instrução, e a moralidade guiando e restringindo os usos potencialmente perigosos da alfabetização descontrolada. (GRAFF, 1994, p. 69). Por essa via, as instituições escolares tornaram-se espaços privilegiados de controle individual, cumprindo a função de normatizar e inculcar padrões corretos de comportamento, por um processo em que o controle da alfabetização tornaria possível a formação do cidadão produtivo e adaptado ao regime trabalhista da sociedade urbana e industrial. O texto abaixo foi extraído do jornal montesclarense Gazeta do Norte, ano V, nº 214, de 26 de agosto de 1922. A matéria jornalística foi escrita em um período importante de nossa história, pois o Brasil estava completando 100 anos de independência em relação a Portugal e vivia um momento de intensos debates sobre modernidade e desenvolvimento econômico, político, cultural e social. Leia o texto com bastante atenção e procure identificar o modo como a alfabetização era compreendida. 16 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período O NOSSO MAIOR MAL Em toda parte do mundo, nas nações que se dizem civilisadas, a frequencia às escolas é um dos maiores deveres impostos aos seus filhos. Só nos paizes atrazados, da África e Oceania, não se cuida da instrucção, a base fundamental dos povos cultos, justamente o que os distingue dos selvagens. Das nações da Europa quaes os paizesem que domina o anaphabetismo? Portugal, Turquia ou Rússia. Por isso mesmo esses paizes, ao lado dos seus irmãos de continente, são considerados atrazados. A civilisação se manifesta principalmente pela cultura de espírito, que torna os homens aptos para a luta pela vida, fazendo-os scientes e conscientes de seus deveres. É assim que todos os governos que se dizem de países civilizados empenham-se pela instrucção de seus nacionaes, e o cultivo que estes adquirem é a maior garantia do progresso do Paiz que tal interesse toma pela educação de seus filhos. Há precisamente um século tivemos a nossa emancipação política e durante esses cem annos o que menos tem preoccupado os governos que se succedem na mesma apathia, é a insstrucção. Dahi o nosso grande mal. A nossa educação política se ressente justamente da falta de civismo e de patriotismo que só se adquire pela instrucção. A educação do povo é o maior dever dos governos e emquanto disso não se cuidar, insuperaveis serão os obstáculos para as mais insignificantes conquistas políticas. O Japão em menos de 50 annos transformou-se de uma nação semibarbara em uma nação civilisada, com geral assombro para o mundo inteiro. A Rússia até hoje soffre as consequencias de sua indifferença pela instrucção do povo, apesar de ser, como lhe denominavam – o colosso da Europa. Apesar de sua immensa população de perto de duas centenas de milhões de almas, arrastou sempre uma vida de difficuldades – vindo da mais negra autocracia, a mais desenfreada liberdade. Hoje, acha-se a braços com a fome e toda a sorte de misérias, porque na sua população, ignorante e supersticiosa, falta a base dos grandes emprehendimentos – a instrucção. À sua falta se devem o despreso pelos deveres cívicos, o desrespeito às leis, o suborno fácil, a trahição aos princípios da honra, a ausência de amor pátrio, todas as calamidades enfim, que impedem o homem de conhecer a sua força no conjunto dessa invencível aggremiação que se chama – o povo. Neste ano em que comemoramos o nosso primeiro centenário de emancipação política, deveríamos também comemorar o inicio de uma propaganda systematica pelo ensino obrigatório, de verdade, pelo ensino ambulante, levado a todos os extremos da nossa vasta Pátria, com premios a todos aqueles que tirassem um só indivíduo que fosse, das trevas do analphabetismo”. Quadro 1: Texto matéria jornalística-1922 Fonte: Jornal montesclarense Gazeta do Norte, ano V, nº 214, de 26 de agosto de 1922. Você deve ter percebido que o jornal Gazeta do Norte apresenta a alfabetização da população como verdadeira bandeira de luta a ser assumida por todos. A questão estava associada a uma forte crença no poder da leitura e da escrita para construção da democracia e para cidadania, para o progresso econômico, político, social e cultural, nas dimensões individual Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 17 e coletiva. Por sua vez, o analfabetismo era compreendido como causador de inúmeros problemas, por estar associado a diversos fatores negativos, como: ignorância, criminalidade, decadência moral, desrespeito, etc. Com Graff (1997) podemos afirmar que, sobretudo a partir do século XIX, o mundo ocidental apostou na alfabetização, passando a compreender que o saber ler e escrever se constituía como condição para o progresso individual e social, por favorecer o desenvolvimento cognitivo, social e cultural das pessoas e impulsionar o desenvolvimento das sociedades. Esses posicionamentos em favor da educação e da alfabetização revelam que, no momento contemporâneo, essas crenças ainda têm muita força. No entanto, o mito produzido em torno da leitura/escrita tem sido relativizado, posto que muitos estudiosos e pesquisadores consideram que educação e alfabetização, por si sós, não são condições suficientes para a mudança. Apesar de diferentes sociedades considerarem que o poder da leitura e da escrita não é tão grande como se acreditava, ainda são estabelecidas claras associações entre educação, alfabetização e mudança econômica, cultural e social. Sobre essa questão, Enguita (1998) aponta que, nas décadas de 1960-70, diferentes países colocaram esperanças nas reformas educativas como elemento capaz de corrigir as desigualdades sociais e promover o desenvolvimento. No entanto, o autor compreende que essa promessa cumpriu-se apenas parcialmente. Há necessidade de investimentos em outras áreas importantes e somente a educação não é capaz de resolver os problemas políticos, sociais, econômicos. No entanto, conforme o autor, a educação permitiu que importantes minorias saíssem da marginalização e da pobreza. O autor entende ainda que, “se é que podemos dizer que a educação não seja especialmente eficaz para abrir portas, temos que acrescentar, como regra, que sua falta sim, pode fechá-las, especialmente para aqueles que não possuem outros recursos para abri-las” (ENGUITA, 1998, p.20). Enfim, polêmicas à parte, não podemos desconsiderar o valor da educação e da alfabetização como elemento importante para integração social das pessoas e alavanca para o desenvolvimento das sociedades. Nesse sentido, consideramos importante ampliar a discussão sobre essa questão e, por isso, apresentaremos alguns conceitos importantes nesse campo de conhecimento. 1.2 Conceituando alfabetização e analfabetismo Pensar alfabetização implica também discutir o conceito de letramento e considerar a linguagem como prática cultural, presente em diferentes ramos da atividade humana. Também implica pensar a Você já conversou com pais pertencentes às camadas populares sobre os motivos que os impulsionam a matricular seus filhos na escola? É comum ouvirmos dos pais que a educação é a única herança que poderão dar a seus filhos, que a educação é um bem que ninguém poderá tirar deles. Esses são posicionamentos comuns e reveladores dessa crença da população sobre o poder da educação e da alfabetização de seus filhos. 18 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período aprendizagem da leitura e da escrita como instrumento fundamental para expressão de concepções, ideias, sentimentos e intenções, e também para a apropriação de conhecimentos por meio de um sistema de signos. Na escola, a linguagem também ocupa lugar de destaque, não apenas porque ensinar a ler e escrever seja uma de suas primeiras e mais importantes tarefas, mas porque o uso da leitura e da escrita é uma habilidade importante para se fazer frente a diferentes demandas sociais. Afinal, em nosso cotidiano, utilizamos a leitura com diferentes finalidades: para localizar um endereço, operar um terminal eletrônico no banco, escolher o ônibus que nos levará ao destino correto, e uma série de pequenas atividades que tem a escrita como referência. A seguir, apresentaremos alguns conceitos relacionados com a aprendizagem da leitura e da escrita. São eles: alfabetização, alfabetizar, alfabetizado, analfabeto, analfabetismo, analfabetismo funcional, letramento e letrar. Alfabetização é a ação de alfabetizar, de ensinar a ler e escrever, mas é também o resultado desse ensino, ou seja, é a apropriação do sistema de escrita alfabético por aquele que foi alfabetizado. Nesse contexto, alfabetizado é o sujeito que aprendeu a ler e escrever. Por sua vez, alfabetizar é um processo complexo e não apresenta uma única definição. Segundo o dicionário Aurélio, alfabetizar é ensinar a ler e escrever; dar instrução primária. Para Soares (2003), “alfabetizar significa adquirir habilidades de decodificar a língua oral em língua escrita (escrever) e de decodificar a língua escrita em língua oral (ler)”. A alfabetização, por essa visão seria um processo de representação de fonemas em grafemas (escrever) e de grafemas em fonemas (ler) (SOARES, 2003, p. 15). No entanto, essa é uma abordagem muito limitada. Ampliando o olhar lançado sobre o conceito, Soares (2003) considera que aprender a ler e escrever (alfabetização) apresenta duplo significado em nossa língua: é processo de codificação/ decodificação da língua, mas também é compreensão/expressão de significados. Ainda conforme a autora,não se pode considerar como alfabetizado o sujeito que aprendeu aFUNDAMENTOS E METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO Cecidia Barreto Almeida Claudia Aparecida Ferreira Machado Geisa Magela Veloso Silvina Fonseca Corrêa PEDAGOGIA 5º PERÍODO FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO Cecidia Barreto Almeida Claudia Aparecida Ferreira Machado Geisa Magela Veloso Silvina Fonseca Corrêa Montes Claros - MG, 2011 FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES 2011 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes REVISÃO TÉCNICA Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida PROJETO GRÁFICO Alcino Franco de Moura Júnior Andréia Santos Dias EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO Ana Lúcia Cardoso Pereira Andréia Santos Dias Clésio Robert Almeida Caldeira Débora Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Diego Wander Pereira Nobre Jéssica Luiza de Albuquerque Karina Carvalho de Almeida Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos Rogério Santos Brant Sânzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tátylla Aparecida Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância - DED - CAPES Celso José da Costa Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Nárcio Rodrigues Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Chefe do Departamento de Educação Maria Cristina Freire Barbosa Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares Dayse Magna Santos Moura Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais Francely Aparecida dos Santos Coordenadora do Curso de Pedagogia a Distância Maria Auxiliadora Amaral Silveira Gomes AUTORES Professora Mestranda Cecidia Barreto Almeida Graduada em pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros (1992). Especialista em docência do ensino superior, atualmente é mestranda em Educação, Comunicação e Administração. Professora da Universidade Estadual de Montes Claros na área de Educação e tem experiência como professora alfabetizadora na educação infantil e na educação básica. Professora formadora da UAB –UNIMONTES. Professora Mestra Claudia Aparecida Ferreira Machado Graduada em Pedagogia pela FUNM, atual Unimontes (1981-1983), tem especialização Lato Sensu em alfabetização pela PUC/MG (1992/1994);é Mestre em Educação pela PUC. Exerceu a função de Supervisora Pedagógica na rede Municipal de Montes Claros, de Professora da rede Estadual de Ensino no Ensino Fundamental e Médio. Atua como Professora da Universidade Estadual de Montes Claros desde 1995 e coordena o Pró-Licenciatura. Professora Doutora Geisa Magela Veloso Graduada em Pedagogia pela FUNM, atual Unimontes (1982-1985); tem especialização lato sensu em Literatura Infantil e Juvenil pela PUC-MG (1992-1994); é Mestre em Educação pela UFMG (2000-2001) e Doutora em Educação pela UFMG (2004-2008). Exerceu atividade profissional como supervisora pedagógica na rede municipal de ensino de Montes Claros (1985-2004) e como professora do Curso de Magistério/ nível médio (1986, 1992-1997). Desde 1998 é professora da Unimontes, com pesquisa e docência no campo de Educação e Línguagem. Professora Ms. Silvina Fonseca Corrêa Mestra em Ciências da Educação - Com o tema “Contribuições da Psicanálise para Formação do Educador,para a Educação e para Escola.” pela Universidad San Lorenzo-UNISAL/ PY gerenciado pelo Centro de Orientação e Organização Psicanalítica - CORPO. Especializou-se em Supervisão Educacional pela PUC/MG. Graduada em Pedagogia com Habilitação em Supervisão Escolar de 1º grau; Orientação Educacional e Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas, pela Fundação NorteMineira de Ensino Superior, FUNM/ Unimontes. Supervisão Escolar de 1º e 2º graus. UFSCAR. Professora Conteudista e Formadora da Disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental e Médio - UAB/Unimontes. Diretora da empresa de Consultoria Educacional - Instituto Pólis – Montes Claros/MG. SUMÁRIO Apresentação............................................................................................................................9 Unidade 1: Alfabetização e letramento no brasil.....................................................................13 1.1 Implicações individuais e sociais da alfabetização e do analfabetismo .........................13 1.2 Conceituando alfabetização e analfabetismo ...............................................................17 1.3 O Analfabetismo até a Década de 1980:.....................................................................21 1.4 O Analfabetismo no Brasil a partir da Década de 1990: ..............................................23 1.5 Alfabetização na Perspectiva do Letramento ................................................................26 1.6 Conceituando alfabetismo...........................................................................................34 1.7 Políticas públicas para jovens e adultos........................................................................36 1.8 Referências .................................................................................................................37 Unidade 2: Evolução histórica e sua construção pela criança ..................................................39 2.1 A História e a evolução da escrita................................................................................39 2.2 O que é um Pictograma? ............................................................................................40 2.3 E o que é escrever alfabeticamente?............................................................................43 2.4 A invenção do alfabeto................................................................................................47 2.5 Contribuições da Psicolinguística para a Alfabetização ................................................48 2.6 O que é psicogênese da língua escrita? .......................................................................49 2.7 Níveis de escrita, conforme a Psicogênese da Língua Escrita.........................................51 2.8 Referências .................................................................................................................66 Unidade 3: contribuição dos estudos linguísticos e sociolinguísticos ao ensino-aprendizagem da língua escrita...........................................................................................................................67 3.1 Conceituando a linguística...........................................................................................67 3.2 Estudos sobre consciência fonológica e suas implicações na alfabetização....................69 3.3 Contribuições da Sociolinguística.................................................................................72 3.4 A alfabetização numa perspectiva sociocultural ...........................................................75 3.5 Implicações pedagógicas do conceitode ZDP .............................................................77 3.6 Referências .................................................................................................................78 Unidade 4: Processo de ensino-aprendizagem da língua escrita ..............................................81 4.1 Os Métodos e Processos de Alfabetização - Conceituando métodos e processos de Alfabetização.....................................................................................................................81 4.2 Proposta Construtivista de Alfabetização .....................................................................91 4.3 Capacidades a serem desenvolvidas no processo de aquisição da leitura e Escrita........96 4.4 O Ambiente Alfabetizador e a organização da Sala de Aula ......................................103 4.5 O Planejamento de ensino e os recursos materiais e didáticos para alfabetização ......112 4.6 A Avaliação da Leitura e Escrita e os Resultados da Avaliação Sistêmica .....................114 4.7 A Prática Docente no Ciclo Inicial de Alfabetização ..................................................119 4.8 Referências .............................................................................................................. 120 Resumo ................................................................................................................................121 Referências básicas e complementares..................................................................................125 Atividades de aprendizagem - AA .........................................................................................131 9 APRESENTAÇÃO Prezado(a) Acadêmico(a): Estamos iniciando nosso estudo sobre os Fundamentos e a Metodologia da Alfabetização. Queremos cumprir, dentre outras atribuições, a de ajudá-lo (a) compreender, da melhor forma possível, a lógica da construção deste caderno da disciplina e dos temas em debate. Para falarmos de Alfabetização e Letramento precisamos, primeiramente, compreender que a escrita e a leitura são conhecimentos produzidos pelo homem e que, para serem aprendidos, é preciso que sejam ensinados e (re) construídos pelo educando. Veremos ainda que esse campo de conhecimento tem sido alterado conforme as demandas de leitura e escrita da sociedade. Dentre essas alterações destacam-se as discussões sobre o analfabetismo funcional e o letramento, como também a ampliação dos sentidos atribuídos à alfabetização e o reconhecimento de suas especificidades. Nessa unidade também iremos falar de Letramento, entender o fenômeno do Analfabetismo brasileiro, analisar dados estatísticos e questões conceituais, dentre elas a questão do Analfabeto Funcional. Além desses conceitos, vamos estudar, discutir, entender os Métodos e Processos de Alfabetização, o que ajudará você no exercício atual ou posterior da docência, quer seja em classes de alfabetização ou outras classes do ensino fundamental, tomar decisões de como aplicá-los a favor do ensino e aprendizagem das crianças brasileiras, fazendo da leitura, da escrita, da contação de histórias, da produção de textos, das práticas da oralidade e o uso dos conhecimentos linguísticos momentos significativos na escola e nas práticas sociais cotidianas. As unidades que compõem o caderno didático do aluno foram organizadas com intenção de que as leituras e estudos realizados oportunizem a percepção dos fundamentos teórico-práticos e os resultados que permeiam a questão da alfabetização no Brasil. Ainda pretendemos demonstrar a necessidade de construção de um trabalho eficaz, de forma que os resultados em sala de aula possam contribuir com a qualidade dos processos educativos e corrigir as taxas do analfabetismo brasileiro, bem como demonstrar a evidência de que os sistemas educacionais vêm formando outros analfabetos, neste caso, frequentando a escola. Então, será que os Sistemas de Ensino estão produzindo analfabetos escolarizados? 10 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Pretendemos que o nosso trabalho seja baseado em compromissos e hábitos de estudos individuais, em pequenos grupos, em grupos diversificados e/ou na coletividade, mas sempre visando à construção de um novo conhecimento ou reforçando posições teóricas consolidadas e de acordo com o que há de mais atual sobre os temas que estamos discutindo. Muitas vezes, você estará tratando de temas já conhecidos, mas é bom que isto sirva de instrumentos de reflexão, revisão de práticas pedagógicas e estratégias de alfabetização, que possam ajudar a resolver um dos grandes problemas da educação – o analfabetismo. A participação de todos será determinante para a construção de uma educação a distância, com mérito, desde a organização e funcionamento dessa modalidade de ensino, dentro dos parâmetros da legislação brasileira, assim, também, de parâmetros de formação de formadores de crianças, adolescentes e jovens, adultos e idosos, pois, no Brasil, todos têm direito a uma educação de qualidade. Portanto a sua participação e a do seu colega são de extrema importância para o bom andamento das atividades e trabalhos propostos. Esteja atento aos temas apresentados, com as orientações no decorrer deste estudo e faça das propostas e situações momentos inovadores e desafiadores que possibilitem a sua formação de docente alfabetizador e a construção de uma nova prática educativa, uma prática no âmbito da alfabetização e do letramento. Esperamos que as oportunidades oferecidas tragam para sua formação novos olhares, novas competências e habilidades num processo de ensino-aprendizagem e avaliação, que se pretende seja sempre eficaz para as crianças brasileiras. Isso porque, nessa disciplina, discutiremos fundamentos teóricos e implicações pedagógicas da alfabetização e do letramento, de forma que você possa compreender que aprender a ler e escrever é um processo complexo, que se inicia antes da escolarização formal, cujos usos integram a vida das pessoas. Esperamos que compreenda que alfabetizar para o letramento é tarefa fundamental a ser desempenhada pela escola, pois aprender a ler e escrever e fazer uso dessas habilidades constitui-se como condição para a educação plena do indivíduo, como instrumento importante para a realização pessoal e exercício da cidadania. Ao final do trabalho com esta disciplina, você estará fundamentado para compreender os sentidos da alfabetização para o letramento e será capaz de produzir uma prática pedagógica inovadora e desenvolver estratégias didáticas para alfabetizar letrando. Atente-se para a carga horária da disciplina - 90 horas, prevista no calendário do curso. Organize-se para melhor aproveitar este tempo. Acompanhe as orientações do seu professor formador, da coordenação de curso, de tutor a distancia, e tutor presencial. Dê a todos eles a oportunidade de ajudá-lo a qualificar a sua formação. Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 11 A Educação a Distância requer de todos os envolvidos o compromisso com o hábito de estudo, a sistematização dos registros e atividades, bem como o cumprimento de prazos. Queremos lembrar que a verbalização nas discussões e debates, o uso das diversas linguagens textuais e as pesquisas bibliográficas de enriquecimento dos estudos, as visitas aos sites de pesquisas, inclusive os oficiais, a atenção aos glossários e as dicas são as diversas formas de você fazer do seu curso oportunidade de otimização de sua formação e contribuir com a formação de seus colegas. Aproveite seu potencial, suas habilidades e capacidades. Cuide de seu desempenho acadêmico! Todos podem ajudá-lo. Mas só você pode construí-lo cada dia melhor. Participe dos Encontros e Seminários Presenciais. Fique atento aos Fóruns e Chats. Participe! Sucesso nos Estudos! As Autoras 13 Introdução Prezado(a) acadêmico(a): Nesta Unidade, discutiremos conceitos e dados estatísticos (Cenário atual do aspecto de escolaridade brasileira em relação à questão da alfabetização), entre outras questões como: Qual é a real situação do analfabetismo hoje noBrasil? Que consequências acarretam para os brasileiros e Nação, esta questão não resolvida? O que os governos federal, estadual e municipal, a sociedade, a família e a escola podem fazer para reduzir o índice de analfabetismo no Brasil? É possível pensar um projeto de alfabetização que garanta o letramento/alfabetismo para as crianças a partir dos seis anos de idade, como previsto em lei? Quais foram e são as políticas para alfabetizar os jovens e adultos brasileiros? Vamos iniciar o nosso estudo com uma discussão relativa às crenças e mitos construídos em torno da alfabetização e da educação, assumidos como bandeira de luta e compreendidos como elementos fundamentais para o desenvolvimento e para a cidadania. Em seguida, serão apresentados conceitos e reflexões, vamos ler e discutir alguns dados e questões mais atuais, que circulam no Brasil sobre o tema do nosso estudo e que orientam as práticas pedagógicas nas escolas. Para ilustrar essa questão, ressaltamos que, de acordo com o estudo dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 2008), existem no Brasil 14,4 milhões de pessoas que não sabem ler ou escrever. E mais, o analfabetismo é maior entre negros e pardos, sendo que 89,9% das mulheres brasileiras são alfabetizadas, contra 89,4% dos homens. Em 2006, a escolaridade média do brasileiro alcançava 6,7 anos de estudos. Esses são dados preocupantes e indicam que é grande a responsabilidade da escola e dos novos professores em formação, posto que vão assumir a responsabilidade de alfabetizar e garantir condições para o letramento de nossos alunos. 1.1 Implicações individuais e sociais da alfabetização e do analfabetismo Para iniciar nosso estudo é importante destacar algumas crenças que, ao longo do tempo, foram produzidas em torno da alfabetização e UNIDADE 1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO BRASIL 14 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período do analfabetismo. Em todo o mundo, durante o século XIX, e nas primeiras décadas do século XX, foram disseminadas representações diversas em torno dos benefícios da instrução, da educação e da alfabetização da população. De um lado encontramos os debates em torno do ideal iluminista e liberal que associava a educação com o progresso e a construção da soberania da nação, por favorecer o avanço econômico e tecnológico, como também a civilidade, a moralidade, o desenvolvimento social e cultural. Daí, o analfabetismo era considerado como entrave ao desenvolvimento, como problema a ser enfrentado pela sociedade. Por outro lado, havia o temor de que a pessoas alfabetizadas e instruídas fugissem ao controle e se rebelassem, deixando de ser produtivas e dóceis. Ao discutir a questão, Graff (1994) considera que esse temor em escolarizar as massas não inibiu a busca pela educação, sendo que, na primeira metade do século XIX, a questão se tornou central, considerada como remédio para as mudanças. Para o autor, esse consenso produzido pelos países desenvolvidos sobre os benefícios advindos da educação foi exportado para as nações subdesenvolvidas, associado à ideia de modernização. Esta visão enfatizava objetivos sociais agregados ao ensino da leitura e da escrita, considerado como fundamental para a redução do crime e da desordem, a assimilação de valores morais, à ampliação da produtividade econômica. Nesse contexto, o Brasil também assume a defesa da escolarização e da alfabetização, que passou a se constituir como verdadeira bandeira de luta para toda a sociedade. No final do século XIX e início do século XX, os intelectuais brasileiros colocaram a alfabetização como uma preocupação nacional. Escolarizar a população se apresentava como problema que deveria merecer a atenção de todos que pudessem desenvolver ações no sentido de extirpar a mácula que significava a presença maciça dos analfabetos. Em especial os governos, os órgãos da imprensa e os intelectuais, assumiram essa bandeira de luta, visando reverter o estado de analfabetismo da população. Nessa época, a crença disseminada era que o desenvolvimento coletivo e individual seria impedido pelo alto índice de analfabetismo e ignorância da população, que não conheceria seus direitos e deveres, não formaria a consciência esclarecida, não agiria em favor da liberdade e da grandeza do país. As questões ligadas à decadência moral, à falta de civismo, à vadiagem, à mentira e à intriga estavam relacionadas ao analfabetismo da população. Por não dominar a leitura, a população encontrava-se nas trevas da ignorância e da falta de consciência em relação aos seus direitos e deveres, por um processo em que não se mostrava capaz de defender os seus interesses, colocando-se em relação submissa e dependente. Como consequência da condição individual dos cidadãos, não conscientes e pouco esclarecidos, não se poderia avançar e desenvolver enquanto coletividade, não se poderia construir uma nação grande e próspera. Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 15 Buscando esclarecer e explicitar essas relações entre alfabetização, liberdade e exercício democrático dos direitos e deveres, Graff (1994) destaca que: Dentre as noções básicas e indubitavelmente mais orgulhosamente mantidas do Iluminismo é a de que um povo livre, soberano, deve ser educado; uma pessoa deve saber ler e escrever e ser treinada em habilidades críticas a fim de fazer as escolhas críticas que a democracia exige e para realizar os deveres da cidadania responsável. (GRAFF, 1994, p. 91). Por esse raciocínio, a alfabetização se apresentava como instrumento fundamental ao exercício consciente do direito à liberdade, e o analfabetismo era apontado como causa, não apenas da escravização e da subserviência das pessoas, mas também compreendido como causador de vícios que conduziam à desonra e ao crime. Por isso, o analfabetismo era considerado como mácula e vergonha. Em contrapartida, a alfabetização era compreendida como condição para formar pessoas produtivas e aptas para o trabalho. Ao discutir o contexto educacional do final do século XIX, Graff (1997) afirma que este era um momento em que, para os países desenvolvidos, a estabilidade social adquiriu premência e produziu a necessidade do disciplinamento e da inculcação de valores e hábitos exigidos pela sociedade urbana e industrial. Os preceitos morais formavam a base do ensino da alfabetização, e a instrução era justamente para ensinar e inculcar as regras corretas para o comportamento social e econô- mico em uma sociedade em mudança e em moderniza- ção. A alfabetização tornou-se um veículo crucial àquele processo, uma vez que os reformadores apoderaram-se das forças socializantes da imprensa e uma vez que moralidade e alfabetização tornaram-se intrincados. Eles deviam ser ensinados juntos: a alfabetização acelerando e facilitando a instrução, e a moralidade guiando e restringindo os usos potencialmente perigosos da alfabetização descontrolada. (GRAFF, 1994, p. 69). Por essa via, as instituições escolares tornaram-se espaços privilegiados de controle individual, cumprindo a função de normatizar e inculcar padrões corretos de comportamento, por um processo em que o controle da alfabetização tornaria possível a formação do cidadão produtivo e adaptado ao regime trabalhista da sociedade urbana e industrial. O texto abaixo foi extraído do jornal montesclarense Gazeta do Norte, ano V, nº 214, de 26 de agosto de 1922. A matéria jornalística foi escrita em um período importante de nossa história, pois o Brasil estava completando 100 anos de independência em relação a Portugal e vivia um momento de intensos debates sobre modernidade e desenvolvimento econômico, político, cultural e social. Leia o texto com bastante atenção e procure identificar o modo como a alfabetização era compreendida. 16 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período O NOSSO MAIOR MAL Em toda parte do mundo, nas nações que se dizem civilisadas, a frequencia às escolas é um dos maiores deveres impostos aos seus filhos. Só nos paizes atrazados, da África e Oceania, não se cuida da instrucção, a base fundamental dos povos cultos, justamenteo que os distingue dos selvagens. Das nações da Europa quaes os paizes em que domina o anaphabetismo? Portugal, Turquia ou Rússia. Por isso mesmo esses paizes, ao lado dos seus irmãos de continente, são considerados atrazados. A civilisação se manifesta principalmente pela cultura de espírito, que torna os homens aptos para a luta pela vida, fazendo-os scientes e conscientes de seus deveres. É assim que todos os governos que se dizem de países civilizados empenham-se pela instrucção de seus nacionaes, e o cultivo que estes adquirem é a maior garantia do progresso do Paiz que tal interesse toma pela educação de seus filhos. Há precisamente um século tivemos a nossa emancipação política e durante esses cem annos o que menos tem preoccupado os governos que se succedem na mesma apathia, é a insstrucção. Dahi o nosso grande mal. A nossa educação política se ressente justamente da falta de civismo e de patriotismo que só se adquire pela instrucção. A educação do povo é o maior dever dos governos e emquanto disso não se cuidar, insuperaveis serão os obstáculos para as mais insignificantes conquistas políticas. O Japão em menos de 50 annos transformou-se de uma nação semibarbara em uma nação civilisada, com geral assombro para o mundo inteiro. A Rússia até hoje soffre as consequencias de sua indifferença pela instrucção do povo, apesar de ser, como lhe denominavam – o colosso da Europa. Apesar de sua immensa população de perto de duas centenas de milhões de almas, arrastou sempre uma vida de difficuldades – vindo da mais negra autocracia, a mais desenfreada liberdade. Hoje, acha-se a braços com a fome e toda a sorte de misérias, porque na sua população, ignorante e supersticiosa, falta a base dos grandes emprehendimentos – a instrucção. À sua falta se devem o despreso pelos deveres cívicos, o desrespeito às leis, o suborno fácil, a trahição aos princípios da honra, a ausência de amor pátrio, todas as calamidades enfim, que impedem o homem de conhecer a sua força no conjunto dessa invencível aggremiação que se chama – o povo. Neste ano em que comemoramos o nosso primeiro centenário de emancipação política, deveríamos também comemorar o inicio de uma propaganda systematica pelo ensino obrigatório, de verdade, pelo ensino ambulante, levado a todos os extremos da nossa vasta Pátria, com premios a todos aqueles que tirassem um só indivíduo que fosse, das trevas do analphabetismo”. Quadro 1: Texto matéria jornalística-1922 Fonte: Jornal montesclarense Gazeta do Norte, ano V, nº 214, de 26 de agosto de 1922. Você deve ter percebido que o jornal Gazeta do Norte apresenta a alfabetização da população como verdadeira bandeira de luta a ser assumida por todos. A questão estava associada a uma forte crença no poder da leitura e da escrita para construção da democracia e para cidadania, para o progresso econômico, político, social e cultural, nas dimensões individual Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 17 e coletiva. Por sua vez, o analfabetismo era compreendido como causador de inúmeros problemas, por estar associado a diversos fatores negativos, como: ignorância, criminalidade, decadência moral, desrespeito, etc. Com Graff (1997) podemos afirmar que, sobretudo a partir do século XIX, o mundo ocidental apostou na alfabetização, passando a compreender que o saber ler e escrever se constituía como condição para o progresso individual e social, por favorecer o desenvolvimento cognitivo, social e cultural das pessoas e impulsionar o desenvolvimento das sociedades. Esses posicionamentos em favor da educação e da alfabetização revelam que, no momento contemporâneo, essas crenças ainda têm muita força. No entanto, o mito produzido em torno da leitura/escrita tem sido relativizado, posto que muitos estudiosos e pesquisadores consideram que educação e alfabetização, por si sós, não são condições suficientes para a mudança. Apesar de diferentes sociedades considerarem que o poder da leitura e da escrita não é tão grande como se acreditava, ainda são estabelecidas claras associações entre educação, alfabetização e mudança econômica, cultural e social. Sobre essa questão, Enguita (1998) aponta que, nas décadas de 1960-70, diferentes países colocaram esperanças nas reformas educativas como elemento capaz de corrigir as desigualdades sociais e promover o desenvolvimento. No entanto, o autor compreende que essa promessa cumpriu-se apenas parcialmente. Há necessidade de investimentos em outras áreas importantes e somente a educação não é capaz de resolver os problemas políticos, sociais, econômicos. No entanto, conforme o autor, a educação permitiu que importantes minorias saíssem da marginalização e da pobreza. O autor entende ainda que, “se é que podemos dizer que a educação não seja especialmente eficaz para abrir portas, temos que acrescentar, como regra, que sua falta sim, pode fechá-las, especialmente para aqueles que não possuem outros recursos para abri-las” (ENGUITA, 1998, p.20). Enfim, polêmicas à parte, não podemos desconsiderar o valor da educação e da alfabetização como elemento importante para integração social das pessoas e alavanca para o desenvolvimento das sociedades. Nesse sentido, consideramos importante ampliar a discussão sobre essa questão e, por isso, apresentaremos alguns conceitos importantes nesse campo de conhecimento. 1.2 Conceituando alfabetização e analfabetismo Pensar alfabetização implica também discutir o conceito de letramento e considerar a linguagem como prática cultural, presente em diferentes ramos da atividade humana. Também implica pensar a Você já conversou com pais pertencentes às camadas populares sobre os motivos que os impulsionam a matricular seus filhos na escola? É comum ouvirmos dos pais que a educação é a única herança que poderão dar a seus filhos, que a educação é um bem que ninguém poderá tirar deles. Esses são posicionamentos comuns e reveladores dessa crença da população sobre o poder da educação e da alfabetização de seus filhos. 18 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período aprendizagem da leitura e da escrita como instrumento fundamental para expressão de concepções, ideias, sentimentos e intenções, e também para a apropriação de conhecimentos por meio de um sistema de signos. Na escola, a linguagem também ocupa lugar de destaque, não apenas porque ensinar a ler e escrever seja uma de suas primeiras e mais importantes tarefas, mas porque o uso da leitura e da escrita é uma habilidade importante para se fazer frente a diferentes demandas sociais. Afinal, em nosso cotidiano, utilizamos a leitura com diferentes finalidades: para localizar um endereço, operar um terminal eletrônico no banco, escolher o ônibus que nos levará ao destino correto, e uma série de pequenas atividades que tem a escrita como referência. A seguir, apresentaremos alguns conceitos relacionados com a aprendizagem da leitura e da escrita. São eles: alfabetização, alfabetizar, alfabetizado, analfabeto, analfabetismo, analfabetismo funcional, letramento e letrar. Alfabetização é a ação de alfabetizar, de ensinar a ler e escrever, mas é também o resultado desse ensino, ou seja, é a apropriação do sistema de escrita alfabético por aquele que foi alfabetizado. Nesse contexto, alfabetizado é o sujeito que aprendeu a ler e escrever. Por sua vez, alfabetizar é um processo complexo e não apresenta uma única definição. Segundo o dicionário Aurélio, alfabetizar é ensinar a ler e escrever; dar instrução primária. Para Soares (2003), “alfabetizar significa adquirir habilidades de decodificar a língua oral em língua escrita (escrever) e de decodificar a língua escrita em língua oral (ler)”. A alfabetização, por essa visão seria um processo de representação de fonemas em grafemas (escrever) e de grafemas em fonemas (ler) (SOARES, 2003, p. 15). No entanto, essa é uma abordagem muito limitada. Ampliando o olhar lançado sobre o conceito, Soares (2003) considera que aprender a ler e escrever (alfabetização) apresenta duplo significado em nossa língua: é processo de codificação/ decodificação da língua, mastambém é compreensão/expressão de significados. Ainda conforme a autora, não se pode considerar como alfabetizado o sujeito que aprendeu a assinar o seu próprio nome, ou que consegue decodificar o texto escrito, pois a verdadeira alfabetização pressupõe que o sujeito seja capaz de entender o que foi lido e de expor suas ideias por meio da escrita. Como você pode perceber, contemporaneamente, o conceito de alfabetização não apresenta um único sentido, sofrendo transformações ao longo da história, tendo em vista as necessidades postas pela sociedade nas diversas situações de leitura e escrita. O conceito de alfabetizado na década de 80 não é o mesmo utilizado na atualidade, e também não é o mesmo que no final do século XIX, por exemplo. Conforme indica Soares (1998), até a década de 1940, para as pesquisas do Censo, era considerada como alfabetizada a pessoa que fosse capaz de assinar o seu nome. A partir O Brasil tem 14,4 milhões de analfabetos – cerca de 10% da população brasileira (com 15 anos ou mais de idade). (IBGE,2009) Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 19 da década de 1940, a exigência foi ampliada, sendo necessário saber ler e escrever um bilhete simples como condição suficiente para a pessoa ser considerada alfabetizada. No entanto, essas habilidades não mais atendem às demandas sociais de hoje. Espera-se que a pessoa alfabetizada, que saiba ler e escrever, mas que também seja capaz de produzir, ler e compreender vários tipos e gêneros textuais e fazer uso dessas habilidades. Ao discutir as transformações sofridas pelo conceito de alfabetização, Soares (2004) considera inadequado ampliar demais os significados atribuídos ao processo de alfabetizar. Para a autora: Pedagogicamente, atribuir um significado muito amplo ao processo de alfabetização seria negar-lhe a especificidade, com reflexos indesejáveis na caracterização de sua natureza, na configuração das habilidades básicas de leitura e escrita, na definição da competência em alfabetizar. Toma- -se, por isso, aqui, alfabetização em seu sentido próprio, específico: processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita (SOARES, 2003, p.15) Agora que compreendeu esses conceitos, discutiremos o analfabetismo e suas implicações para o sujeito que vive essa condição. Analfabetismo é o estado ou condição de analfabeto, mas também é compreendido como a ausência de instrução ou como instrução insuficiente, atraso intelectual, ignorância total. (KOOGAN/HOUAISS, 1994). Para Soares (2003), analfabetismo é definido como estado de quem não sabe ler e escrever. Por sua vez, Analfabeto é o que não sabe ler e escrever, sendo que o Koogan/Houaiss (1994), acrescenta que analfabeto é aquele que é “muito ignorante”. (KOOGAN/HOUAISS, 1994). Pinto (2008) descreve o analfabeto como realidade humana e o analfabetismo como realidade sociológica. O analfabeto em sua essência não é aquele que não sabe ler, mas aquele que, por suas condições concretas de existência, não necessita ler. Ao discutir as relações entre analfabetismo, sociedade e cultura, Soares (1998; 2003), considera que as habilidades de leitura e escrita não podem ser dissociadas de seus usos sociais, sendo que a questão é pensada em termos das condições necessárias para que o sujeito funcione adequadamente em um determinado contexto social. Daí surge a expressão alfabetização funcional, que indica o conjunto de habilidades e conhecimentos que tornam a pessoa capaz de participar das atividades de leitura e escrita necessárias em sua cultura e em seu grupo. A partir dessa definição, podemos concluir que analfabeto funcional é o sujeito que, mesmo tendo participado dos processos sistemáticos de alfabetização, não domina as habilidades e conhecimentos 20 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período necessários para fazer frente às diferentes situações mediadas pela leitura e pela escrita. Ou seja, é a pessoa que, mesmo alfabetizada, não sabe utilizar funcionalmente a leitura e a escrita em situações sociais de uso. Isso significa dizer que muitos de nossos alunos podem ser considerados analfabetos funcionais, porque estão na escola, participaram das atividades que visavam a sua alfabetização, aprenderam a reconhecer as letras e sílabas, sabem decodificar o texto impresso, mas não dominam habilidades necessárias para resolver as questões e problemas que envolvem a leitura e a escrita. A expressão Analfabeto funcional ajusta-se, portanto, a uma pessoa que, mesmo sabendo ler escrever frases simples, não possui as habilidades necessárias para satisfazer às demandas do seu dia a dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente. Agora que você já sabe o que é analfabetismo funcional, podemos discutir o modo como esse fenômeno se apresenta entre nós. São alarmantes os índices de analfabetismo funcional no Brasil, como também são muito baixos os desempenhos em leitura apresentados pelos alunos brasileiros. O Indicador de Analfabetismo Funcional – INAF, produzido por pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, indica que, apesar da quase universalização do ensino fundamental e do aumento dos anos de escolaridade da população brasileira, a porcentagem de analfabetos funcionais é inaceitável. Em 2001, na faixa etária entre de 15 a 64 anos, 9% dos brasileiros são “analfabetos absolutos”; no nível rudimentar, temos 31%; no nível básico, temos 34% e apenas 26% conseguem o nível pleno. Em outras palavras, esses índices indicam que 40% dos brasileiros não dominam habilidades básicas de leitura e de escrita, não apresentando, portanto, condições para o exercício pleno da cidadania (RIBEIRO, 2004). Sobre a situação do analfabetismo no Brasil, e considerando suas diferentes dimensões, vale analisar os dados demográficos em conjunto com os dados do Censo Escolar, levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais/INEP, dados sobre o Índice de Desenvolvimento Humano/IDH, construído pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O analfabetismo funcional, segundo o IBGE (2009), afeta pessoas com 15 anos ou mais de idade e menos de quatro anos de estudo. O dado foi estimado em 20,3% das pessoas de 15 anos ou mais de idade. É um índice alto, inaceitável, mas as pesquisas indicam queda no analfabetismo. A queda foi de 0,7 ponto percentual em relação a 2008 e de 4,1 pontos percentuais em relação a 2004. A taxa de analfabetismo cai 1,8% em cinco anos no Brasil, mostra o Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/PNAD, pois o índice Analfabeto Funcional: Analfabeto Funcional pode ser considerado a pessoa que por ter 4 anos ou menos de escolaridade ou ainda que, mesmo tendo prosseguido em seus estudos e por ter enfrentado as precariedades dos sistemas e redes de ensino pelos quais passou o que lhe legou uma educação de qualidade inferior, desenvolveu somente capacidade mínima de decodificação e composição de frases, sentenças, textos curtos e números (operações matemáticas). (MACHADO). Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 21 ficou em 9,7% em 2009 e a meta é chegar a 6,7% em 2015. A taxa de analfabetismo caiu 1,8% de 2004 a 2009, segundo a PNAD, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, entre as pessoas de 15 anos ou mais de idade. No ano passado, a taxa foi de 9,7% da população, um total de 14,1 milhões de pessoas, contra 11,5% em 2004. Em 2008, a taxa foi de 10%. 1.3 O Analfabetismo até a Década de 1980 Na obra História da instrução pública no Brasil (1500-1889), escrita em 1889, José Ricardo Pires de Almeida comenta o fato de que no Brasil/ Colônia “havia um grande número de negociantes ricos que não sabiam ler. Lembrando ainda que, no Império, admitia-se o voto do analfabeto, porém era exigido que este possuísse bens e títulos. O autor relata outro fato que também ajuda a entender o fenômeno do analfabetismo no Brasil, e que ainda hoje se encontra presente entre nós, sobretudo entre as pessoas das camadas populares:os baixos salários dos professores, que impediam a contratação de pessoal qualificado e levavam ao “afastamento natural das pessoas inteligentes de uma função mal remunerada e que não encontra na opinião pública a consideração a que tem direito” (1889, p. 65). No mesmo trabalho, ele mostra que, em 1886, enquanto o percentual da população escolarizada no Brasil era de apenas 1,8%, na Argentina este índice era de 6%. Como se pode perceber os problemas com alfabetização no Brasil não são recentes, posto que, historicamente, o analfabetismo se inscreve entre nós e preocupa estudiosos e outros pessoas interessadas na questão. O texto que se segue é um fragmento de uma Marchinha de Carnaval, de autoria de Noel Rosa, escrita no ano de 1932. De forma crítica e bem humorada, o autor revela as dificuldades com a alfabetização e os seguidos anos que a criança levava para aprender a ler e escrever. A.e.i.o.u. Noel Rosa A Juju já sabe ler, a Juju sabe escrever Há dez anos na carti...lha A Juju já sabe ler, a Juju sabe escrever Escreve sal com cê cedilha Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/humor/1957530H Essa dificuldade em ensinar e aprender a ler também foi constatada por Veloso (2008), que pesquisou facetas da história da alfabetização Acesse o site: www.inep.gov. br, que apresenta e discute dados relativos aos índices de alfabetismo no Brasil. 22 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período em Montes Claros/MG e também constatou que, no final do século XIX, a alfabetização era tarefa penosa e demorada para muitos alunos, que eram reprovados por não aprenderem a ler no 1º ano de escolaridade. No contexto montesclarense do ano de 1890, ao abordar as grandes transformações culturais em curso, o jornal Correio do Norte destaca a importância do uso de cartilhas para alfabetizar, mas também descreve as práticas alfabetizadoras. Conforme o jornal, o aluno consumia dois ou três meses no “berreiro do a,b,c”, depois era obrigado a memorizar uma longa série de cartas das sílabas e de nomes, a tarefa seguinte era ler a letra impressa e os textos, que se constituíam em “uma infinidade de cartas de sentenças”, “autos velhos, verdadeiros hieroglyphos difficilmente decifráveis”. Assim, pela adoção de métodos e materiais inadequados, o aluno ficava cinco ou seis anos na escola e, somente se fosse assíduo, aprendia a ler, escrever, contar e conhecer as quatro operações fundamentais. (VELOSO, 2008, p. 131-132) Além dos problemas relativos à qualificação e remuneração dos professores, aos métodos e materiais inadequados, outro fator que tem sido utilizado para explicar o alto índice de analfabetos no Brasil é o acesso à escola. Até a década de 1980, a escola não era para todos, e chegava a ser inexistente em algumas regiões e em outras, como nos grandes centros, a oferta de vagas era insuficiente. Isso quer dizer que a população analfabeta não era analfabeta por opção, porque não queria estudar, mas porque lhe faltava condições efetivas para acesso à escola. Além disso, o ingresso nas escolas nem sempre era estimulado, até mesmo pelas famílias. As condições de produção do analfabetismo têm suas causas em fatores sociais e educacionais. Para Cagliari (1989) a escrita, assim, como o saber acumulado que dela provém, tem significado, historicamente, um privilégio e, consequentemente, detenção de poder das classes dominantes. A diminuição do analfabetismo representaria o compartilhamento do saber do poder e do poder do saber. Com a Tabela 1, abaixo apresentada, pretendemos mostrar como evoluiu, neste século, o número de analfabetos no País. Nela podemos constatar que a taxa de analfabetismo na população de 15 anos ou mais caiu. Ininterruptamente, ao longo do século, saindo de um patamar de 65,3% em 1900 para chegar a 13,6% em 2000. Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 23 Tabela 1 - Analfabetismo na faixa de 15 anos e mais Brasil – 1900-2000 Ano População de 15 anos de idade e mais Total Analfabeta Taxa de analfabetismo 1900 9.728 6.348 65,3 1920 17.564 11.409 65,0 1940 23.648 13.268 56,1 1950 30.188 15.272 50,6 1960 40.233 15.964 39,7 1970 53.633 18.100 33,7 1980 74.600 19.366 25,9 1991 94.891 18.682 19,7 2000 19.533 16.295 13,6 Fonte: IBGE Censo Geográfico Vale lembrar que a ampliação do atendimento escolar tem sempre forte impacto num processo de desaceleração do analfabetismo, sobretudo nas faixas etárias mais jovens. O ganho na escolaridade média da população, mesmo sendo expressivo, nem sempre significa a garantia de, pelo menos, o ensino fundamental completo para o cidadão. 1.4 O Analfabetismo no Brasil a partir da Década de 1990 Para iniciar a discussão relativa aos dados de analfabetismo no Brasil contemporâneo, apresentamos a tabela abaixo, cujos dados foram obtidos pelo IBGE. Tabela 2 - Taxa de analfabetismo por faixa etária Brasil – 1996/2001 Faixa Etária Ano 1996 1998 2001 10 a 14 8.3 6.9 4.2 15 a 19 6.0 4.8 3.2 20 a 29 7.6 6.9 6.0 30 a 44 11.1 10.8 9.5 45 a 59 21.9 20.1 17.6 60 e mais 37.4 35.9 34.0 Fonte: IBGE Pnads 1996, 1998, 2001 Nota: Excluindo a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá 24 Pedagogia Caderno Didático - 5º Período Analisando dados PNAD/IBGE (1996,1998 e 2001), nota-se que o Analfabetismo atinge as faixas etárias diversas, ainda que com percentuais diferenciados. Considerando que as pessoas são diferentes, populações com perfis e expectativas também diferentes, o analfabetismo só deverá ser reduzido com inovadoras e diferentes estratégias de alfabetização, contextualizadas com o desenvolvimento cultural, social, político e tecnológico do mundo contemporâneo. Se observarmos os dados da faixa etária de 10 a 19 anos, podemos afirmar que os sistemas educacionais brasileiros vêm fracassando, já que nesta faixa, 7,4% são ainda analfabetos. Estes jovens, provavelmente, frequentam a escola ou se evadiram dela, o que significa que nosso sistema educacional continua a produzir analfabetos. Dentre os motivos apontados por educadores/ pesquisadores para o fracasso da alfabetização dos jovens brasileiros estão: escola de baixa qualidade, em especial nas regiões mais pobres do país e nas periferias mais pobres das grandes cidades, trabalho precoce na adolescência, baixa escolarização dos pais, despreparo da rede de ensino para lidar com essa população e seus problemas familiares e sociais. Lembramos que o baixo desempenho dos sistemas de ensino, caracterizado pelas baixas taxas de sucesso escolar, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade, é motivo de preocupação de repensar a prática pedagógica e os processos de alfabetização e ensino aprendizagem na escola. Veja mais: Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/PNAD, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), 20% dos brasileiros não conseguem compreender textos, enunciados matemáticos e estabelecer relações entre assuntos, apesar de conhecerem letras e números. A charge abaixo apresenta essa queda nos índices de analfabetismo e, ao mesmo tempo revela que o problema ainda precisa ser trabalhado. A sociedade brasileira precisa garantir condições para todos poderem fazer uso da leitura e da escrita, uma vez que parcela significativa da população tem sido impedida de usufruir dos bens culturais codificados pela escrita. Fundamentos e Metodologia da Alfabetização UAB/Unimontes 25 Figura 1: Charge de Queda do analfabetismo no Brasil Fonte: Disponível em http://www.premiovladimirherzog.org.br/busca-resultado. asp?busca=analfabetismo, acessado em 12 de janeiro de 2011. A partir dessa discussão você deve estar refletindo sobre a grande responsabilidade da escola, que precisa alfabetizar e também garantir condições para desenvolver o letramento de todos os seus alunos. Você já sabe que não basta ensinar processos de decifração, pois a pessoa precisa compreender os textos para ser considerada alfabetizada. Apresentamos abaixo um texto diferente para sua leitura. Apesar de seu formato, o texto é perfeitamente legível, e você poderá compreendê-lo sem nenhum esforço, desde que você

Outros materiais