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HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL – PARTE II Profª. Daniella Barbosa Na década de 1970 o país apresentava um outro modelo hegemônico: o biomédico. Mas é também neste período que surgem os alicerces político- ideológicos para o surgimento do movimento pela Reforma Sanitária. Até metade dos anos 1960, praticou-se como modelo hegemônico de saúde o sanitarismo campanhista, de inspiração militar, que visava o combate às doenças através de estruturas verticalizadas e estilo repressivo de intervenção. Revisando MODELO BIOMÉDICO • Atendimento ao doente • Demanda espontânea • Assistência ambulatorial e hospitalar • Rede contratada e conveniada ao SUS • Valorização do saber médico MODELO SANITARISTA • Voltado para problemas de saúde do território • Demanda organizada por necessidade de saúde • Assistência situada na atenção básica • Ações de Vigilância em Saúde • Valorização da clínica ampliada (trabalho em equipe) Modelos de Atenção no Brasil A 8ª CNS foi o grande marco nas histórias das conferências de saúde no Brasil. Foi a primeira vez que a população participou das discussões da conferência. Suas propostas foram contempladas tanto no texto da Constituição Federal/1988 como nas leis orgânicas da saúde, nº. 8.080/90 e nº. 8.142/90. Participaram dessa conferência mais de 4.000 delegados, impulsionados pelo movimento da Reforma Sanitária, e propuseram a criação de uma ação institucional correspondente ao conceito ampliado de saúde, que envolvesse as ações de promoção, proteção e sua recuperação. Revisando 8.142/90 Na década de 1980, mais precisamente em março de 1986, aconteceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde em Brasília/DF, que permitiu a conformação do projeto da Reforma Sanitária, caracterizado tanto pela politização como pela democratização da saúde, possuindo três aspectos principais: - conceito abrangente de saúde como direito de cidadania e dever do Estado; -a instituição de um Sistema Único de Saúde; -participação popular pelo controle social. Revisando Textos da 8ª Conferência Nacional de Saúde As modificações necessárias ao setor saúde transcendem os limites de uma reforma administrativa e financeira, exigindo-se uma reformulação mais profunda, ampliando-se o próprio conceito de saúde e sua correspondente ação institucional, revendo-se a legislação no que diz respeito à proteção e recuperação da saúde, constituindo-se no que está convencionando chamar de Reforma Sanitária (Conferência, 1987, p.381). A Reforma Sanitária deve ser entendida como um longo processo político de conquistas da sociedade em direção à democratização da saúde. (Proposta, 1987a, p.3). A Reforma Sanitária Brasileira deve ser entendida como um processo de transformação da atual situação sanitária. Compõe uma situação sanitária pelo menos quatro dimensões: específica, institucional, ideológica e das relações.[...] A Reforma Sanitária é simultaneamente bandeira específica e parte de uma totalidade de mudanças. Os integrantes da Reforma Sanitária conseguiram influenciar o processo da reforma constitucional que legalizou na Constituição Brasileira de 1988 o texto aprovado na 8ª Conferência Nacional de Saúde que garante que a “Saúde é um Direito de Todos e um Dever do Estado” no capítulo da saúde (artigos 196 a 200). Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Constituição Brasileira de 1988 Classe trabalhadora Intelectuais Movimentos populares Mobilização pelas “DIRETAS JÁ” MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA a construção de um projeto de reforma sanitária foi parte das lutas de resistência à ditadura e ao seu modelo de privatização dos serviços de saúde da Previdência Social e pela construção de um Estado Democrático de Direito. A reforma Sanitária no Brasil ficou conhecida como o projeto civilizatório nacional cuja trajetória de constituição e reformulação de um campo de saber (Saúde Coletiva), de uma estratégia política (democratização da saúde) e de um processo de transformação institucional (criação de um sistema único de saúde), fundou-se na noção de crise: crise do conhecimento e da prática médica, crise do autoritarismo, crise do estado sanitário da população, crise do sistema de prestação de serviços de saúde. Conceito da Reforma Sanitária Fonte: Rev. CEBES, 1979. Base Teórica e Ideológica da Reforma Sanitária Brasileira As bases teóricas que fundamentaram a construção deste projeto da reforma sanitária podem ser encontradas na revisão da concepção marxista do Estado de Antonio Gramsci e na elaboração de uma leitura crítica do campo da saúde coletiva. • princípio ético-normativo, que insere a saúde como parte dos direitos humanos; • princípio científico, que compreende a determinação social do processo saúde doença; • princípio político, que assume a saúde como direito universal inerente à cidadania em uma sociedade democrática; • princípio sanitário, que entende a proteção à saúde de uma forma integral, desde a promoção, passando pela ação curativa até a reabilitação. Princípios da Reforma Sanitária Reforma Sanitária Brasileira: Caráter Político e Objetivo Pretendeu produzir mudanças de valores prevalentes na sociedade brasileira, tendo a saúde como eixo de transformação e a solidariedade como valor estruturante. Luta pela garantia do direito universal à saúde e construção de um sistema único e estatal de serviços. • A construção e materialização do projeto da reforma se deu por meio de três processos: subjetivação, de constitucionalização e de institucionalização. • A subjetivação diz respeito à construção de sujeitos políticos; • A constitucionalização trata da garantia de direitos sociais; e • A institucionalização trata do aparato institucional – incluindo os saberes e práticas – que implementam a política de saúde. Processos da Reforma Sanitária O Sistema Único de Saúde: produto da Reforma Sanitária Princípios doutrinários: filosofia do conceito de saúde e da ideia de direito à saúde. Princípios organizativos: orientam a forma como o sistema deve funcionar. O Sistema Único de Saúde Universalidade Princípio: determina que todos os cidadãos brasileiros, sem qualquer tipo de discriminação, têm direito ao acesso às ações e serviços de saúde. Sepulta o modelo excludente anterior. É consequência direta da discussão ampla do direito à saúde. O Sistema Único de Saúde Universalidade CIDADANIA PLENA CIDADANIA REGULADA Princípio DIREITO DE TODOS DIREITO DE ALGUNS O Sistema Único de Saúde Equidade Princípio: assegura que a disponibilidade dos serviços de saúde considere as diferenças entre os diversos grupos de indivíduos. O Sistema Único de Saúde Universalidade Acesso Universal aos serviços Eqüidade Princípio Operacionalização Conceito O Sistema Único de Saúde Eqüidade Igualdade Justiça social Tratar os desiguais desigualmente O Sistema Único de Saúde Eqüidade Igualdade O reflexo da estratificação da sociedade, cuja característica é o fato dos indivíduos, inseridos em relações sociais, terem chances diferentes de realizar seus interesses materiais. O Sistema Único de Saúde Integralidade Princípio: é a prática de saúde e sua relação com o modelo assistencial. “cada pessoa é um todo indivisível e integrantede uma comunidade”. Princípios Organizacionais ou Operacionais do SUS • Descentralização • Regionalização e Hierarquização • Atendimento Integralizado • Participação popular • Resolutividade • Intersetorialidade • Complementaridade do Setor Privado Princípios Organizacionais ou Operacionais do SUS • A descentralização da gestão do sistema implica na transferência de poder de decisão sobre a política de saúde do nível federal (MS) para os estados (SES) e municípios (SMS). A regionalização dos serviços implica a delimitação de uma base territorial para o sistema de saúde, que leva em conta a divisão político- administrativa do país, mas também contempla a delimitação de espaços territoriais específicos para a organização das ações de saúde, sub- divisões ou agregações do espaço político-administrativo. A hierarquização dos serviços diz respeito à possibilidade de organização das unidades segundo grau de complexidade tecnológica dos serviços, isto é, o estabelecimento de uma rede que articula as unidades mais simples às unidades mais complexas, através de um sistema de referência e contra-referência de usuários e de informações. Princípios Organizacionais ou Operacionais do SUS Atendimento integralizado diz respeito à possibilidade de se estabelecer um perfil de oferta de ações e serviços preventivos, curativos e reabilitadores do sistema que contemple todas as possibilidades de intervenções sobre condições de vida, riscos e danos à saúde das pessoas e de seus grupos sociais. Resolutividade é a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência. Participação popular é quando a sociedade deve participar no dia-a-dia do sistema. Para isto, devem ser criados os Conselhos e as Conferências de Saúde, que visam formular estratégias, controlar e avaliar a execução da política de saúde. Princípios Organizacionais ou Operacionais do SUS Complementaridade do Setor Privado ocorre quando se constatar a insuficiência do setor público para a prestação de serviços a seus usuários, sendo necessária a contratação de serviços privados que, por sua vez, deverão estar de acordo com os princípios básicos e normas técnicas do SUS. Intersetorialidade é entendida como uma forma articulada de trabalho que pretende superar a fragmentação do conhecimento e das estruturas sociais para produzir efeitos mais significativos na saúde da população. • a garantia do acesso dos usuários; • a reorientação das lógicas burocrática e profissional; • o usuário como eixo central ao sistema de saúde, garantindo a exigibilidade de seus direitos; • a humanização do acolhimento; • a eficácia e resolutibilidade do cuidado. Desafios da Reforma Sanitária
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