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1 AÇÃO PENAL Ação é o direito de invocar a prestação jurisdicional, isto é, o direito de requerer em juízo a reparação de um direito violado. É O DIREITO de pleitear ao Poder Judiciário a aplicação da lei penal ao caso concreto, fazendo valer o poder punitivo do Estado em face do cometimento de uma infração penal. Cumpre lembrar, no entanto, que a ação penal constitui apenas uma fase da persecução penal (IP + AP+ EP), que pode iniciar com as investigações policiais (inquérito policial), sindicância administrativa, Comissão Parlamentar de Inquérito etc. Essas investigações preliminares são meramente preparatórias de uma futura ação penal. A ação penal propriamente só nascerá em juízo, com o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, em caso de ação pública, ou de queixa, pelo particular, quando se tratar de ação penal privada. O recebimento, de uma ou de outra, marcará o início efetivo da ação penal e, assim, determina a citação do réu para que tome ciência da acusação e produza sua defesa. Para aplicar a pena tem que ter passado pela ação penal. ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL A ação penal, quanto à legitimidade para a sua propositura, classifica-se em: ação penal pública e ação penal privada. Ambas comportam, no entanto, uma subdivisão: a ação penal pública pode ser incondicionada e condicionada, e a ação privada pode ser exclusivamente privada, privada subsidiária da pública e privada personalíssima. AÇÃO PENAL PÚBLICA O Ministério Público é o dominus littis da ação penal pública (art. 129, I, da CF), que se inicia com o oferecimento da denúncia em juízo e deverá conter a narração do fato criminoso, circunstanciadamente, a qualificação do acusado, a classificação do crime e o rol de testemunhas (art. 41 do CPP). CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL LEGITIMIDADE DAS PARTES INTERESSE DE AGIR POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO JUSTA CAUSA PRINCÍPIOS QUE REGEM A AÇÃO PENAL PÚBLICA Além dos princípios gerais da ação (contraditório, ampla defesa, devido processo legal etc.) que se aplicam a todo e qualquer tipo de ação penal, a ação pública rege-se ainda por: 1) OBRIGATORIEDADE: identificada a hipótese de atuação, não pode o Ministério Público recusar-se a dar início à ação penal, dada a natureza indisponível do objeto da relação jurídica material, a sua propositura, sempre que a hipótese preencher os requisitos mínimos exigidos. 2) INDISPONIBILIDADE: oferecida a ação penal, o Ministério Público dela não pode desistir (art. 42 do CPP). 3) OFICIALIDADE: os órgãos encarregados da persecução penal são oficiais, isto é, públicos. O Estado é o titular exclusivo do direito de punir, que só se efetiva mediante o devido processo legal, o qual tem seu início com a propositura da ação penal. Segue-se que, em regra, cabe aos órgãos do próprio Estado essa tarefa persecutória. 4) OFICIOSIDADE: os encarregados da persecução penal devem agir de ofício, independentemente de provocação, salvo nas hipóteses em que a ação penal pública for condicionada à representação ou à requisição do ministro da Justiça (CP, art. 100, § 1º, e CPP, art. 24). 5) INDIVISIBILIDADE: também aplicável à ação penal privada (CPP, art. 48). A ação penal pública deve abranger todos aqueles que cometeram a infração. 6) INTRANSCENDÊNCIA: a ação penal só pode ser proposta contra a pessoa a quem se imputa a prática do delito. Assim é o procedimento judicial iniciado pelo titular da ação quando há indícios de autoria e de materialidade, a fim de que o juiz declare procedente a pretensão punitiva estatal e condene o autor da infração penal. 2 a) Ação pública incondicionada É a regra geral no direito penal, uma vez que, no silêncio da lei, a ação será pública incondicionada. Isso quer dizer que o Ministério Público não necessita de autorização ou manifestação de vontade de quem quer que seja para iniciá-la. Basta constatar que o crime investigado seja de ação pública e que existam indícios suficientes de autoria e prova da existência do crime para que o promotor esteja autorizado a oferecer a denúncia. Nas mesmas circunstâncias, a autoridade policial, ao ter conhecimento da ocorrência de um crime de ação pública incondicionada, deverá, de ofício, determinar a instauração de inquérito policial para apurar responsabilidades, nos termos do art. 5º, I, do CPP. Os tipos penais dos arts. 217-A, 218 e 218-A e B se referem a vítimas menores ou vulneráveis e são de ação pública incondicionada. A maioria dos crimes previstos no Código Penal e em leis especiais enquadram-se nessa modalidade de ação penal, exemplo: homicídio doloso (art. 121 do CP), roubo (art. 157 do CP), quadrilha (art. 288) e peculato (art. 312 do CP) b) Ação pública condicionada Continua sendo iniciada pelo Ministério Público, mas dependerá, para a sua propositura, da satisfação de uma condição de procedibilidade, sem a qual a ação penal não poderá ser instaurada: representação do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo, ou, ainda, de requisição do Ministro da Justiça. Destinatário: pode ser dirigida ao juiz, ao representante do Ministério Público ou à autoridade policial (art. 39, caput, do CPP). Em determinados crimes, por considerar os efeitos mais gravosos aos interesses individuais, o Estado atribui ao ofendido o direito de avaliar a oportunidade e a conveniência de promover a ação penal, pois este poderá preferir suportar a lesão sofrida a expor-se nos tribunais. Assim, não se move sem a representação do ofendido, mas, iniciada a ação pública pela denúncia, prossegue até decisão final sob o comando do Ministério Público. A representação não exige qualquer formalidade, a única exigência legal é que constitua manifestação inequívoca da vontade do ofendido de promover a persecução penal, não a caracterizando simples declarações narrativas dos fatos. Tanto a representação criminal como a requisição do Ministro da justiça são consideradas condições de procedibilidade para o regular exercício da ação penal de iniciativa pública condicionada, sem as quais se toma impossível a abertura de inquérito policial ou o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público. Crimes cuja ação depende de representação da vítima ou de seu representante legal: lesão corporal leve e culposa (art. 129, caput e § 6º, c/c o art. 88 da Lei n. 9.099/95); crime contra a honra de funcionário público, em razão de suas funções (art. 141, II, c/c o art. 145, parágrafo único). Igualmente, em relação ao crime de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, a necessidade de representação encontra-se no art. 291, § 1º, da Lei n. 9.503/97 (CTB). Crimes contra a dignidade sexual: Regra: a ação será pública condicionada à representação do ofendido. Mesmo para o estupro cometido com violência real. A nova redação do art. 225 do CP, conferida pela Lei n. 12.015/2009, considera de ação penal pública condicionada à representação do ofendido ou seu representante legal todos os crimes definidos nos capítulos I e II. Estão incluídos nesse rol: estupro, nas suas formas simples e qualificada (CP, art. 213 e parágrafos); violência sexual mediante fraude (CP, art. 215); e o assédio sexual (CP, art. 216-A). A requisição é um ato político, porque “há certos crimes em que a conveniência da persecução penal está subordinada a essa conveniência política”. Esses casos são restritos: crimes praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do Brasil (art. 7º, § 3º, do CP) e nos crimes praticados contra a honra do Presidente ou contra chefe de governo estrangeiro (art. 145, parágrafo único, 1ª parte). Nessas hipóteses, como afirma o Código, somente se procederá mediante requisição do Ministro da Justiça que poderá oferecê-la a qualquer tempo, enquanto não estiver extinta a punibilidade do agente. Uma vez oferecida, não poderá ser revogada. ATENÇÃO! Mesmo nesses casos aação penal continua sendo pública, exclusiva do Ministério Público, cuja atividade fica apenas subordinada a uma daquelas condições (CPP, art. 24, e CP, art. 100, § 1º). E a representação não obriga o Ministério Público a oferecer a denúncia, devendo este analisar se é ou não caso de propor a ação penal, podendo concluir pela sua instauração, pelo arquivamento do inquérito, ou pelo retorno dos autos à Polícia, para novas diligências. (INDEPENDENCIA FUNCIONAL da opinio delict). 3 AÇÃO PENAL PRIVADA É aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere a legitimidade para propor a ação penal à vítima ou a seu representante legal. Mesmo na ação privada, o Estado continua sendo o único titular do direito de punir e, portanto, da pretensão punitiva. Apenas por razões de política criminal é que ele outorga ao particular o direito de ação. É exceção ao princípio publicístico da ação penal e, por isso, vem sempre expressa no texto legal, como, por exemplo, no art. 145, o Código determina que “somente se procede mediante queixa”. A ação privada, em qualquer de suas formas, é iniciada sempre através da queixa, que não se confunde com a notitia criminis realizada na polícia e vulgarmente denominada “queixa”. Na técnica do Código, o autor denomina-se querelante e o réu, querelado. Fundamento: O Ministério Público não tem legitimidade para a propositura dessa ação penal para evitar que o streptus judicii (escândalo do processo) provoque no ofendido um mal maior do que a impunidade do criminoso, decorrente da não propositura da ação penal. ASPECTO FORMAL DA QUEIXA A peça processual que dá início à ação privada se chama queixa-crime e deve ser endereçada ao juízo competente, e não ao delegado de polícia. Quando a vítima de um crime de ação privada quer que a autoridade policial inicie uma investigação, deve a ela endereçar requerimento para a instauração de inquérito, e não uma queixa-crime. a) Ação de exclusiva iniciativa privada Naquelas hipóteses em que, na avaliação do legislador, o interesse do ofendido é superior ao da coletividade, o Código atribui àquele o direito privativo de promover a ação penal. O que se permite ao particular é tão somente a iniciativa da ação, a legitimidade para movimentar a máquina judiciária, e nos estreitos limites do devido processo legal, que é de natureza pública. Essa iniciativa privada exaure-se com a sentença condenatória. A execução penal é atribuição exclusiva do Estado, onde o particular não tem nenhuma intervenção. Obtida a decisão condenatória, esgota-se o direito do particular de promover a ação penal. b) Ação privada subsidiária da pública Proposta nos crimes de ação pública, condicionada ou incondicionada, quando o Ministério Público deixar de fazê-lo no prazo legal. É a única exceção, prevista na própria Constituição Federal, à regra da titularidade exclusiva do Ministério Público sobre a ação penal pública (CF, arts. 129, I, e 5 º, LIX). A inércia ministerial (nunca o arquivamento) possibilita ao ofendido, ou a quem tenha qualidade para representá- lo, iniciar a ação penal através de queixa, substituindo ao Ministério Público e à denúncia que iniciaria a ação penal. Contudo, o pedido de arquivamento, de diligências, de baixa dos autos, a suscitação de conflito de atribuições etc, não configuram inércia e, consequentemente, não legitimam a propositura subsidiária de ação privada. Somente se o prazo de cinco dias para réus presos e de quinze para réus soltos, a contar da data em que for recebido o inquérito policial, escoar sem qualquer atividade ministerial, aí sim haverá a possibilidade legal de PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA: 1) OPORTUNIDADE OU CONVENIÊNCIA: o ofendido tem a faculdade de propor ou não a ação de acordo com a sua conveniência. Diante disso, se a autoridade policial se deparar com uma situação de flagrante delito de ação privada, ela só poderá prender o agente se houver expressa autorização do particular (CPP, art. 5º, § 5º); 2) DISPONIBILIDADE: o ofendido pode prosseguir ou não, até o final, na ação privada, pois dela pode dispor. Mesmo o fazendo, ainda lhe é possível dispor do conteúdo do processo (a relação jurídica material) até o trânsito em julgado da sentença condenatória, por meio do perdão ou da perempção (CPP, arts. 51 e 60, respectivamente); 3) INDIVISIBILIDADE: previsto no art. 48 do CPP. O ofendido pode escolher entre propor ou não a ação. Não pode, porém, escolher, dentre os ofensores, qual irá processar. Ou processa todos, ou processa nenhum. Afinal, a tutela penal dirige-se a fatos, e não a pessoas, sendo indevida a escolha feita pelo ofendido. 4) INTRANSCENDÊNCIA: significando que a ação penal só pode ser proposta em face do autor e do partícipe da infração penal, não podendo estender-se a quaisquer outras pessoas. Decorrência do princípio consagrado no art. 5º, XLV, da CF. 4 o ofendido propor ação penal. Deve ser proposta dentro do prazo decadencial de 6 meses, a contar do encerramento do prazo para oferecimento da denúncia (arts. 29 e 38, caput, última parte, do CPP). Em se tratando de crime previsto na Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006), excetuados os de competência dos Juizados Especiais Criminais, a denúncia deverá ser oferecida pelo Ministério Público em 10 (dez) dias, de acordo com o art. 54, do citado diploma legal. c) ação penal privada personalíssima Sua titularidade é atribuída única e exclusivamente ao ofendido, sendo o seu exercício vedado até mesmo ao seu representante legal, inexistindo, ainda, sucessão por morte ou ausência. Assim, falecendo o ofendido, nada há que se fazer a não ser aguardar a extinção da punibilidade do agente. Se ela for menor, deve-se esperar que complete 18 anos. Se for doente mental, deve-se aguardar eventual restabelecimento É, como se vê, um direito personalíssimo e intransmissível. Exemplo é o crime de induzimento a erro essencial (art. 236), pela simples impossibilidade sucessória da legitimação ativa, por tratar-se de crime personalíssimo. Crimes de ação penal privada, no Código Penal: são eles: a) calúnia, difamação e injúria (arts. 138, 139 e 140), salvo as restrições do art. 145, com a redação determinada pela Lei n. 12.033/2009; b) alteração de limites, usurpação de águas e esbulho possessório, quando não houver violência e a propriedade for privada (art. 161, § 1º, I e II); c) dano, mesmo quando cometido por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima (art. 163, caput, parágrafo único, IV); d) introdução ou abandono de animais em propriedade alheia (art. 164, c/c o art. 167); e) fraude à execução (art. 179 e parágrafo único); f) violação de direito autoral (art. 184, caput); g) induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento para fins matrimoniais (art. 236 e seu parágrafo); h) exercício arbitrário das próprias razões, desde que praticado sem violência (art. 345, parágrafo único). Morte do ofendido ou declaração de ausência Não se tratando de ação penal de natureza personalíssima, quando houver a morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (CADI) – art. 31 rol taxativo. Exercida a queixa pela primeira delas, as demais se acham impedidas de fazê-lo, só podendo assumir a ação no caso de abandono pelo querelante, desde que o façam no prazo de 60 dias, observada a preferência do art. 36 do CPP, sob pena de perempção (CPP, art. 60, II). Desistência da ação penal de iniciativa privada A desistência da ação penal privada pode ocorrer a qualquer momento, somente surgindo óbice intransponível quando já existente decisão condenatória transitada em julgado. Porém, a ação penal não se transforma em privada, mantendo a sua natureza de pública,e, por essa razão, o querelante não pode dela desistir, renunciar, perdoar ou ensejar a perempção. O Ministério Público poderá aditar a queixa, oferecer denúncia substitutiva, requerer diligências, produzir provas, recorrer e, a qualquer momento, se houver negligência do querelante, retomar o prosseguimento da ação (art. 29 do CPP). Por isso que na ação penal privada subsidiária, mesmo após esgotado o prazo decadencial do ofendido, o Ministério Público poderá intentar a ação penal, desde que ainda não se tenha operado a prescrição. Percebe-se que na ação privada subsidiária a decadência do direito de queixa não extingue a punibilidade, permanecendo o ius puniendi estatal, cuja titularidade pertence ao Ministério Público. Dentro desse prazo, quem desencadear primeiro a ação penal terá sua titularidade (Ministério Público ou vítima). Após os 6 meses, sem que a ação tenha se iniciado, volta o Ministério Público a ter a titularidade exclusiva para promover a ação penal. Em suma, transcorridos os 6 meses, a vítima não mais poderá oferecer queixa subsidiária, mas o Ministério Público ainda poderá oferecer a denúncia. Não existe perempção nesse tipo de ação penal. 5 Ação penal nos crimes complexos: se um dos crimes componentes de um crime complexo for de ação pública, ainda que o outro seja de ação privada, a ação penal será pública. IRRETRATABILIDADE DA REPRESENTAÇÃO A representação, como condição de procedibilidade, é irretratável após o oferecimento da denúncia. Após o Ministério Público oferecer a denúncia, a ação penal torna-se indisponível. Note-se que a lei fala em oferecimento e não em recebimento. Assim, depois de oferecida a denúncia, mesmo que não tenha sido ainda recebida pelo julgador, será impossível o reconhecimento da retratação. Há alguns julgados admitindo a “retratação da retratação”, ou, em outros termos, nova representação após a retratação anterior, desde que ocorra dentro do prazo decadencial. DECADÊNCIA A decadência significa a perda do direito de propor a ação penal privada em face da inércia do seu titular. O aludido instituto pode se manifestar na ação penal privada, na ação penal pública condicionada à representação do ofendido e na ação penal privada subsidiária. Jamais se manifestará na ação penal pública incondicionada e na condicionada à requisição do Ministro da Justiça. RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA Renúncia é o ato pelo qual a vítima abre mão do direito de propor a ação penal privada que só pode ocorrer em crimes de ação penal de exclusiva iniciativa privada e antes desta ser iniciada. Após iniciada a ação penal privada, que se caracteriza pelo recebimento da queixa, é impossível renunciar ao direito de queixa, que, aliás, já foi PRAZO: Como regra, o ofendido tem 6 meses contados do dia em que veio a saber quem é o autor do crime ou, no caso do § 311 do art. 100 do Código Penal, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. O prazo é decadencial, e contado de acordo com a regra do art. 10 do CP, computando-se o dia do começo e excluindo-se o do final. Do mesmo modo, não se prorroga em face de domingo, feriado e férias, sendo inaplicável o art. 798, § 3º, do CPP (RT, 530/367). Assim, se o termo final do prazo cair em sábado, domingo ou feriado, o ofendido, ou quem deseje, por ele, propor a ação, deverá procurar um juiz que se encontre em plantão e submeter-lhe a queixa-crime. Nunca poderá aguardar o primeiro dia útil, como faria se o prazo fosse prescricional. No caso de ofendido menor de 18 anos, o prazo da decadência só começa a ser contado no dia em que ele completar essa idade, e não no dia em que ele tomou conhecimento da autoria. No caso de morte ou ausência do ofendido, o prazo decadencial de 6 meses começará a correr a partir da data em que qualquer dos sucessores elencados no art. 31 do CPP tomar conhecimento da autoria (CPP, art. 38, parágrafo único), exceto se, quando a vítima morreu, já se tinha operado a decadência. O prazo decadencial é interrompido no momento do oferecimento da queixa, pouco importando a data de seu recebimento. Tratando-se de ação penal privada subsidiária, o prazo será de 6 meses, a contar do encerramento do prazo para o Ministério Público oferecer a denúncia (art. 29 do CPP). Na hipótese de crime continuado, o prazo incidirá isoladamente sobre cada crime, iniciando-se a partir do conhecimento da respectiva autoria (despreza-se a continuidade delitiva para esse fim). No crime permanente, o prazo começa a partir do primeiro instante em que a vítima tomou conhecimento da autoria, e não a partir do momento em que cessou a permanência (não se aplica, portanto, a regra do prazo prescricional). Finalmente, nos crimes habituais, inicia-se a contagem do prazo a partir do último ato. Lembre-se de que o pedido de instauração de inquérito (CPP, art. 5º, § 5º) não interrompe o prazo decadencial. Assim, o ofendido deverá ser cauteloso e requerer o início das investigações em um prazo tal que possibilite a sua conclusão e o oferecimento da queixa no prazo legal. 6 exercido, admitindo-se somente o perdão do ofendido (art. 105), que é um instituto afim. Por isso, embora ambos, renúncia e perdão, sejam causas extintivas da punibilidade, nos crimes de ação privada (art. 107, V, do CP), após iniciada a ação penal, somente através do perdão ou da perempção o querelante poderá dar causa à extinção da punibilidade. PEREMPÇÃO Perempção é sanção aplicada ao querelante consistente na perda do direito de prosseguir na ação penal devido à sua inércia ou desídia. Só é cabível na ação penal exclusivamente privada. PERDÃO DO OFENDIDO O perdão do ofendido consiste na desistência do querelante de prosseguir na ação penal, de exclusiva iniciativa privada, que iniciou através de “queixa-crime”. Não se confunde com o perdão judicial, embora constitua também causa de extinção da punibilidade (art. 107, V, do CP). O perdão deve ocorrer durante a ação penal até o trânsito em julgado da sentença. Posteriormente ao trânsito em julgado, o ofendido não poderá dispor da ação, pois não detém a titularidade da pretensão executória, esta exclusiva do Estado. A ação privada subsidiária da pública não admite o perdão e qualquer omissão ou negligência do querelante permitirá ao Ministério Público retomar o prosseguimento da ação, que continua pública, pois o que há, na verdade, é uma legitimação excepcional para o ofendido propor a ação penal, ante a inércia do Ministério Público. RENÚNCIA EXPRESSA OU TÁCITA A renúncia ao direito de queixa pode ser expressa ou tácita. Diz-se expressa a renúncia quando formalizada por meio de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais (art. 50 do CPP). Renúncia tácita ao direito de queixa é aquela na qual, nos termos do parágrafo único do art. 104 do Código Penal, O ofendido pratica atos incompatíveis com a vontade de exercê-lo, como nas hipóteses daquele que convida o autor do crime para ser seu padrinho de casamento ou para com ele constituir uma sociedade. A apresentação de queixa-crime contra um só, sem chamamento do outro participante, caracteriza renúncia tácita do direito de ação, que a todos deve aproveitar, nos termos do art. 49 do CPP. Havendo concurso de pessoas, a renúncia em relação a um dos autores do crime estende-se aos demais (art. 49 do CPP), como consequência do princípio da indivisibilidade da ação penal privada. Porém, havendo mais de um ofendido, a renúncia de um deles não prejudica o direito dos demais. PERDÃO DO OFENDIDO O perdão concedido a um dos querelados estender-se-á a todos os demais. Poderá ser concedido somente nas hipóteses em que se procede mediante queixa, pode ser: a) processual; b) extraprocessual; c) expresso; e d) tácito. Não exige requisitos especiais. É suficientea declaração inequívoca da vontade de perdoar, revestida apenas das formalidades destinadas a lhe dar autenticidade. Diz-se processual o perdão do ofendido quando levado a efeito intra-autos, após ter sido iniciada a ação penal de iniciativa privada; extraprocessual quando procedido fora dos autos da ação penal de iniciativa privada; expresso, quando constar de declaração assinada pelo Ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais (art. 56 do CPP); tácito, quando o ofendido pratica ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação penal por ele iniciada (art. 106, § 1.11-, do CP). O perdão do ofendido, seja ele expresso ou tácito, só é causa de extinção da punibilidade nos crimes que se apuram exclusivamente por ação penal privada. O perdão tácito, assim como a renúncia tácita, admitirão sua demonstração através de qualquer meio de prova (art. 57 do CPP). 7 ACEITAÇÃO DO PERDÃO O perdão é um ato bilateral, de realização complexa: só se completa com sua aceitação pelo querelado. Assim, havendo mais de um querelado, pode um deles não aceitar o perdão. Nesse caso, a ação prosseguirá somente contra este. Essa é a única hipótese, excepcional, em que o princípio da indivisibilidade da ação penal pode ser quebrado. Tanto o perdão quanto a aceitação são incondicionais. Como afirmava Magalhães Noronha: “perdoa-se sem exigências e aceita-se sem condições”. O perdão não é mercê coletiva, e sim individual. Quem quiser concedê-lo é livre de o fazer, mas o beneficio não afeta o direito dos outros ofendidos. Qualquer desses, apesar do perdão, pode proceder contra o ofensor, para a sua punição. A aceitação, pelos querelados, toma impositiva a decretação de extinção da punibilidade. Em suma, no crime comum de lesão leve (art. 129, caput, do CP), infração de menor potencial ofensivo — por que tem pena máxima de 1 ano —, além de a ação penal depender de representação, são aplicáveis todas as regras da Lei n. 9.099/95 (transação penal, composição civil como causa de renúncia ao direito de representação, apuração mediante termo circunstanciado e rito sumaríssimo no Juizado Especial Criminal, recursos para as Turmas Recursais etc.). Já para as lesões leves qualificadas pela violência doméstica (art. 129, § 9º, do CP), que não constituem infração de menor potencial ofensivo, a ação penal é incondicionada (se a vítima for mulher) e não são cabíveis os institutos despenalizadores da Lei n. 9.099/95, bem como a apuração se dará mediante inquérito policial e pelo rito sumário — no Juízo Comum ou da Violência Doméstica contra a Mulher. A RENÚNCIA E O PERDÃO NÃO SE CONFUNDEM. APRESENTAM AS SEGUINTES DISTINÇÕES: a) a renúncia ao direito de queixa só pode ocorrer antes do oferecimento desta; o perdão, ao contrário, somente após o início da ação penal, isto é, depois de oferecida a queixa-crime; b) a renúncia é um ato unilateral; o perdão é bilateral, isto é, depende da aceitação do querelado; c) a renúncia tem por objeto imediato o direito de querela, enquanto o perdão visa a revogação de ato já praticado. PERDE O DIREITO DE AJUIZAR AÇÃO O PARTICULAR QUE: a) deixa ocorrer a decadência (decurso do prazo de seis meses. contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime); b) renuncia ao direito de queixa (ato unilateral de desistência de propositura da ação penal); c) perdoa o querelado (ato bilateral, que demanda concordância do querelado, ocorrendo durante o transcurso da ação penal); d) deixa ocorrer a perempção (sanção processual Imposta ao querelante quando não proporciona o devido andamento ao feito). 8 REFERÊNCIAS BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, 1.17. ed. rev.,ampl. e atual. De acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo: Saraiva, 2012. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Volume 1. Parte geral: (arts. 1º a 120) / 16. ed. — São Paulo : Saraiva, 2012. ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2012. NUCCI, Guilherme de Souza.Manual de Direito Penal: Parte Geral - Parte Especial. 9. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. TRIGUEIROS NETO, Arthur da Motta. Direito penal – parte geral II - Coleção saberes do Direito. vol 5. São Paulo : Saraiva, 2012.
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