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Projeto de extensão Brinquedoteca

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19
Habilidades
Seções de estudo
Capítulo 2
Brinquedo, jogos, brincadeira 
e criança
Seção 1: A importância do brinquedo para a 
vivência lúdica
Seção 2: Características do jogo infantil 
Seção 3: O brincar: brinquedos, jogos 
e brincadeiras
Seção 4: Brinquedo e arte: a criação de brinquedos
Conceber a importância da brincadeira e do 
brinquedo para a criança na infância. Assim como 
compreender como o corpo, a música e os suportes 
materiais e imateriais são importantes para o 
desenvolvimento dos jogos e brincadeiras infantis. 
Esse capítulo também tem a intenção de possibilitar 
o conhecimento para criar brinquedos por meio de 
sucatas, ampliando, dessa forma, o repertório lúdico 
a partir da confecção de brinquedos alternativos.
VEIT, Maria Cristina Schweitzer. Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço. 1ª ed. 
Palhoça: UnisulVirtual, 2014
20
Capítulo 2 
Seção 1
A importância do brinquedo para a 
vivência lúdica
O surgimento do brinquedo pode ser estudado a partir das etapas iniciais 
da humanidade, quando as forças produtivas ainda se encontravam em um 
nível primitivo.
Elkonin (1998) realizou um estudo dos jogos protagonizados e revela como o 
brinquedo está relacionado com a origem histórica dos períodos da infância e 
dos conteúdos do psiquismo em cada um desses períodos. Para os estudos 
desse autor, na sociedade primitiva as ferramentas podiam incluir diretamente as 
crianças, sem preparação específica, sem necessidade de aprender a manejar 
as ferramentas por meio de exercícios especiais. “As crianças entravam na 
vida dos mais velhos, aprendiam o manejo das ferramentas e todas as relações, 
participando diretamente no trabalho deles.” (ELKONIN, 1998, p. 79)
Com a especialização dos instrumentos das atividades laborais, em um grau 
superior de desenvolvimento, a inclusão da criança na esfera do trabalho dos 
adultos já exigia uma preparação, sob uma forma de aprendizagem do manejo 
das ferramentas. Essa aprendizagem, para crianças, ocorria por meio do manejo 
com exemplares de ferramentas em tamanhos reduzidos. Os exercícios tinham 
o acompanhamento do adulto, uma vez que viam uma relação direta entre as 
práticas e o trabalho verdadeiro. Após o período de aprendizagem, as crianças 
eram integradas ao trabalho do adulto.
Com o desenvolvimento da produção, os equipamentos de trabalho ficaram 
cada vez mais desenvolvidos, além disso, o aparecimento da indústria 
doméstica e com ela a divisão do trabalho, tornou ainda mais difícil incluir a 
criança no trabalho produtivo. O exercício com ferramentas não é mais viável, 
uma vez que não é possível criar equipamentos de tamanho reduzido, pois 
perdem a funcionalidade e a possibilidade de exercitar o manejo como forma 
de aprendizagem. 
Ocorrem neste momento histórico duas mudanças no caráter da educação e no 
processo de formação da criança para ser membro de uma sociedade. A primeira 
relacionada ao exercício e treinamento, para conferir faculdades gerais para 
manusear os instrumentos, como coordenação visomotora, movimentos amplos 
e precisos etc. Esses objetos são desprovidos de funções iniciais e podem ser 
considerados, segundo Elkonin (1998), como brinquedos. A segunda refere-se ao 
aparecimento do brinquedo simbólico, as crianças reproduzem e reconstituem 
com eles as esferas da vida e da produção a que aspiram.
21
Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço
Assim, pode-se formular a tese mais importante para a teoria 
do jogo protagonizado, esse jogo nasce no decorrer do 
desenvolvimento histórico da sociedade como resultado da 
mudança de ligar da criança no sistema de relações sociais. Por 
conseguinte, é de origem e natureza sociais. O seu nascimento 
está relacionado com condições sociais muito concretas da vida 
da criança na sociedade e não com a ação de energia instintiva, 
interna, de nenhuma espécie. (ELKONIN, 1998, p. 80). 
A complexidade das ferramentas provoca um afastamento da inserção da criança 
no mundo produtivo da sociedade, a infância prolonga-se e ocorre também 
um progressivo aumento do período de aprendizagem das novas ferramentas 
de trabalho.
Dessa forma, os estudos indicam que a relação de ludicidade com a infância está 
presente na relação da criança com os jogos, brinquedos e brincadeiras, essa 
relação nasce socialmente e não de forma inata e biológica. 
Kishimoto (1997, p. 23) apresenta uma distinção interessante entre 
brincadeira, brinquedo e jogos: o brinquedo entendido como objeto, 
suporte da brincadeira, supõe relação íntima com a criança, seu nível de 
desenvolvimento e indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de 
um sistema de regras que organize sua utilização. Uma boneca permite à 
criança desde a manipulação até a brincadeira como “mamãe e filhinha”. O 
brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam 
aspectos da realidade. Ao contrário, jogos, como xadrez, construção, 
exigem, de modo explícito ou implícito, o desempenho de habilidades 
definidas pela estrutura do próprio objeto e suas regras. 
Brougère (2000, p. 83) defende que o brinquedo é mais do que um instrumento 
de brincadeira. Ele traz para a criança, não só um meio de brincar, mas também 
imagens, representações, universos imaginários. “Ele estrutura o conteúdo da 
brincadeira sem, no entanto, limitar a criança.” 
A história do brinquedo revela as relações da sociedade quanto à produção 
deste objeto, como a relação familiar de cuidados com a criança. Benjamin 
(2002) trata da história cultural do brinquedo, que antes do século XVIII não eram 
confeccionados por fabricantes especializados, naquele momento histórico 
as oficinas de entalhadores de madeira e de fundidores de estanho produziam 
artesanalmente como um produto secundário. Foi no decorrer deste século que 
ocorreu, inicialmente, uma fabricação especializada. 
Primeiramente, em Nuremberg, na Alemanha, eram produzidos na indústria 
doméstica da região, brinquedos e objetos de decoração em porte pequeno, uma 
22
Capítulo 2 
vez que a produção de obras de arte volumosas já não havia mais encomendas, 
por parte da Igreja. A fabricação de objetos menores encantava crianças e 
adultos, surge, assim, o predomínio do brinquedo alemão no mercado mundial.
No século XIX, os brinquedos se tornaram maiores, perdendo o elemento 
discreto, artesanal e minúsculo. É revelado neste aspecto que, antes quando os 
brinquedos tinham volumes menores era necessária a presença da mãe de forma 
mais íntima, isto é, sua presença perto da criança era imprescindível, enquanto 
que, os brinquedos com os volumes maiores a ausência da mãe era permitida. 
Uma emancipação do brinquedo põe a caminho; quanto mais a industrialização 
avança, tanto mais decididamente o brinquedo se subtrai ao controle da família, 
tornando-se cada vez mais estranho não só as crianças, como também aos pais. 
(BENJAMIN, 2002, p. 91).
Com a produção em massa de brinquedos, ocorre um distanciamento, desse 
produto, como peça de produção que ligava pai e filhos, assim como distancia a 
criança dos materiais mais heterogêneos, os quais permitiam que um pedaço de 
madeira se transformasse em um carrinho, ou uma espada. 
Quando o fabricante ou o adulto constrói um brinquedo, introduz nele imagens e 
significados que variam de acordo com a cultura. Kishimoto (2000, p. 19) ressalta: 
“Cada cultura tem maneiras de ver a criança, vista como homem em miniatura, 
revela uma visão negativa: a criança é um ser inacabado, sem nada específico e 
original, sem valor positivo.” Rousseau, no livro Emílio, cria um contraponto com 
essa visão e defende a ideia de uma criança com natureza própria que deve ser 
potencializada em sua totalidade.
O adulto, quando cria brinquedos para o comércio em massa, tira da criança 
a possibilidade de criar e interpreta do seu modoa sensibilidade infantil. Para 
Benjamin (2002), é preciso superar o equívoco básico, pois se acreditava que a 
brincadeira da criança é determinada pelo conteúdo do brinquedo, visto que o 
que ocorre é o contrário. 
Conhecemos muito bem alguns instrumentos arcaicos de brincar, que 
desprezam toda a máscara imaginária (possivelmente vinculados, na época, 
a rituais): bola, arco, roda de penas, pipa, autênticos brinquedos, “tanto 
mais autênticos quanto menos o parecem aos adultos”. Pois quanto mais 
atraentes, no sentido corrente, são os brinquedos, mais se distanciam 
dos instrumentos de brincar, quanto mais ilimitadamente a imitação se 
manifesta neles, tanto mais se desviam da brincadeira viva. (BENJAMIN, 
2004, p. 94)
23
Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço
O brinquedo é um fornecedor de imagens e dá à brincadeira a representação que 
possibilita a imagem manipulável. Dessa forma, o brinquedo é o objeto que traduz 
na brincadeira um universo real ou imaginário.
Para Vygotsky (1998, p. 27), o brinquedo exerce uma influência decisiva no 
desenvolvimento infantil, pois é no brinquedo que a criança aprende a agir 
numa esfera cognitiva, ao invés de agir unicamente numa esfera visual externa. 
“A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo 
que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir 
independentemente daquilo que vê.” 
Segundo Brougère (2000, p. 15),
Com seu valor expressivo, o brinquedo estimula a brincadeira ao 
abrir possibilidades de ações coerentes com a representação: 
pelo fato de representar um bebê desperta atos de carinho, 
de troca de roupa, de dar banho e o conjunto de atos ligados 
à maternagem.
O brinquedo tem uma função social de impregnação de cultura o que é possível 
de observar por meio da boneca, que traduz o interesse crescente da sociedade 
pela criança pequena e pela maternidade. Como suporte da brincadeira, o 
brinquedo possibilita uma atividade que permite à criança a apropriação dos 
papeis e códigos sociais da cultura em que está inserida. O papel socializador 
do brinquedo e da brincadeira permite acesso à criança se integrar à sociedade 
que a cerca. 
A criança, por meio da brincadeira com a boneca, revela significações 
impregnadas da cultura a qual está inserida. Mas a criança não apenas 
manipula imagem ou significações exteriores, ela transforma-as e dá novas 
significações. Uma boneca formatada pela indústria, por parâmetros de luxo, 
pode se transformar no decorrer da brincadeira, conforme a vivência cultural da 
criança é tomar novas significações de acordo com a realidade em que a criança 
está inserida, assim, torna-se uma faxineira, uma dona de casa etc. A criança 
incorpora os papéis sociais da sociedade que pertence e os transforma como um 
processo dinâmico.
As situações imaginárias são o que dão sentido ao brinquedo, Vygotsky (1998, 
p. 125) faz uma indagação: o que restaria se o brinquedo fosse estruturado de tal 
maneira que não houvesse situações imaginárias? Restariam as regras. Frisa o 
autor que não são as regras previamente estruturadas, mas as que têm origem 
na própria situação imaginária. Como um jogo de representação, se a criança 
está representando o papel de mãe, ela obedece às regras do papel de mãe, 
24
Capítulo 2 
seus gestos estão obedecendo ao comportamento maternal que conhece em 
sua cultura.
Para Gilles Brougère, (2000, p. 49), a impregnação cultural por meio do brinquedo 
passa pela brincadeira e não se deve entender como uma simples impregnação 
dos conteúdos simbólicos do brinquedo. Trata-se de um processo dinâmico de 
inserção cultural, sendo, ao mesmo tempo, imersão em conteúdos preexistentes 
e apropriação ativa. 
Para Bontempo (2000, p. 61), a criança quando brinca com um brinquedo não vê 
o objeto como ele é, mas lhe confere um novo significado, a autora ainda cita um 
exemplo de quando a criança monta em uma vassoura e finge estar cavalgando 
em um cavalo, ela está conferindo um novo significado ao objeto. A autora 
coloca as contribuições de Vygotsky, considerando que o mais importante não 
é a similaridade do objeto com a coisa imaginada, mas o gesto. No brinquedo, 
o significado que a criança confere ao objeto torna-se mais importante que o 
próprio objeto. No brinquedo o significado torna-se o ponto central e os objetos 
são deslocados de uma posição dominante para uma posição subordinada. 
(VYGOTSKY, 1998, p. 129)
O brinquedo é representado como um objeto ou um pedaço da cultura, colocado 
à disposição e ao alcance da criança. A manipulação desse objeto, o brinquedo, 
leva a criança a brincar, a agir, representar e imaginar.
Manipulação, posse, consumo... o brinquedo introduz a criança 
nas operações associadas ao objeto. A apropriação se inscreve 
num contexto social: o brinquedo pode ser mediador de uma 
relação com outra ou com uma atividade solitária, mas sempre 
sobre o fundo da integração a uma cultural específica. Além 
disso, é suporte de representações, introduzindo a criança num 
universo de sentidos e não somente de ações. (BONTEMPO, 
2000 p. 68). 
Segundo Negrini (1994), o desenvolvimento cultural se superpõe aos processos 
de crescimento, maturação e desenvolvimento orgânico da criança, formando, 
assim, um todo.
Com forte conteúdo simbólico, por meio do brinquedo, a criança entra em 
contato com um discurso cultural da sociedade em que está inserida, assim, 
mais uma vez o brinquedo tem um fator importante para a socialização. Existe, 
por meio do brinquedo, a possibilidade de transmissão de esquemas sociais, de 
representações culturais e de comportamentos significativos que são apropriados 
pela criança.
25
Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço
Para Brougère (2000, p. 62), os brinquedos podem ser definidos de 
duas maneiras: 
1. Em relação à brincadeira: o brinquedo é aquilo que é utilizado como 
suporte numa brincadeira; pode ser um objeto manufaturado, um 
objeto fabricado por aquele que brinca, uma sucata, efêmera, tendo 
valor apenas para o tempo da brincadeira, um objeto adaptado. 
Tudo nesse sentido pode se tornar um brinquedo e o sentido de 
objeto lúdico só lhe é dado por aquele que brinca enquanto a 
brincadeira perdura.
2. Em relação a uma representação social: o brinquedo é um objeto 
industrial ou artesanal, reconhecido como tal pelo consumidor em 
potencial, em função de traços intrínsecos (aspecto, função) e do 
lugar que lhe é destinado no sistema social de distribuição dos 
objetos. Quer seja ou não utilizado numa brincadeira, ele conserva 
seu caráter brinquedo, e pela mesma razão é destinado à criança. 
A manipulação de brinquedos permite dois aspectos importantes para a 
socialização da criança; a manipulação dos códigos culturais e códigos sociais, 
permitindo a criança exprimir uma relação individual com esse código. 
Outro aspecto importante ainda é sobre o brinquedo educativo e sua relevância 
para situações de ensino-aprendizagem. Kishimoto, (2000) apresenta o brinquedo 
educativo ou jogo educativo que se materializa no quebra-cabeça, pode ensinar 
diversos aspectos, como formas, cores, números etc., brinquedos de tabuleiro 
que exigem a compreensão de números e das operações matemáticas, nos 
brinquedos de encaixe, que trabalham noções de sequências, de tamanho 
e forma.
Segundo esta autora, o brinquedo educativo, data dos tempos do Renascimento, 
mas é com a expansão da educação infantil neste século que toma forma 
como um recurso que ensina. A criança pré-escolar aprende de forma intuitiva, 
envolvendo processos interativos, cognitivos e afetivos. 
Dessa forma, toda vez que o adulto cria uma intencionalidade para estimular, 
promover e potencializar a situação de aprendizagem por meio do brinquedo, 
surge a dimensão educativa. Mas as condições para a expressão do jogo devem 
sermantidas, assim, a introdução das propriedades do lúdico cria condições para 
potencializar a apropriação de novos conhecimentos.
26
Capítulo 2 
Kishimoto (2000, p. 37) discorre sobre o brinquedo e alerta que quando esse 
assume o aspecto lúdico e educativo, merece algumas considerações, são elas:
1. Função lúdica: o brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer, 
quando escolhido voluntariamente; 
2. Função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o 
indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo.
A autora ainda alerta sobre a incompatibilidade aparente de aliar o brincar, por 
meio do brinquedo, a um processo educativo o qual, em geral, busca resultados. 
Por exemplo, um brinquedo de encaixe, que tem a intencionalidade de 
proporcionar o aprendizado da diferenciação de cores é colocado a disposição 
da criança, mas se essa brinca de empilhá-lo, está contemplado o aspecto lúdico, 
mas a habilidade de diferenciação de cores não está em questão pela criança.
Dessa forma, fica evidente que o brincar tem uma natureza livre, que conta 
com uma motivação interna, típica do lúdico, e o trabalho pedagógico com o 
brinquedo educativo deve levar em consideração esse aspecto no planejamento 
do processo. O equilíbrio das duas funções é para Kishimoto (2000) a aspiração 
do jogo educativo, uma vez que se no jogo predomina a função lúdica, não há 
mais ensino, do contrário se no jogo predomina a função educativa não há mais 
prazer, somente ensino. 
Seção 2
Características do jogo infantil 
Vários estudos já foram realizados sobre o desenvolvimento de jogos e diferentes 
autores nos trazem concepções e definições que compõem o universo teórico 
sobre os jogos. É interessante perceber como o valor cultural para as diversas 
concepções contextualiza o jogo, a partir dos parâmetros biológicos, sociais, 
culturais e históricos.
Os jogos podem apresentar significados distintos, principalmente pela 
abrangência, que é possível denominá-lo, desde o gesto da criança 
movimentando objetos até jogos mais complexos, os quais envolvem atividades 
de raciocínio abstrato.
Nos estudos realizados por Negrini (1997), o autor indica que a palavra jogo se 
origina do vocábulo latino iocus, o qual significa diversão, brincadeira. O universo 
de definições pode ter um teor de aprofundamento, conforme as questões 
27
Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço
intrínsecas ligadas ao jogo, que a pesquisa teórica tenha alcançado. Os autores 
que realizam estudos sobre jogos o fazem em diferentes perspectivas e segundo 
a linha de raciocínio teórica a que seguem. A intenção de reunir alguns autores 
e seus respectivos estudos e conclusões sobre o jogo decorrem do objetivo de 
alargar os conhecimentos sobre a importância dos jogos e da brincadeira, como 
atividades lúdicas que potencializam o desenvolvimento humano.
Os estudiosos enumeram diversas definições, indicando as funções e as 
características. À medida que são apresentadas, já posicionam toda uma gama 
de possibilidades que os jogos oferecem como elemento cultural rico para a 
sociedade.
Elkonin, (1998) descreve os estudos de Petróvski e relata que o conceito jogos 
diverge entre diversos povos. Para os antigos gregos, jogos significavam o 
que entendemos hoje como traquinagens de crianças, já para os judeus, jogo 
correspondia a gracejos e risos. Para os romanos, ludo significava alegria e festa. 
Kliada é a palavra em sânscrito para brincadeira e alegria. Por fim, a palavra 
jogo começou a significar, em todas as línguas, um grupo numeroso de ações 
humanas que não requerem trabalho árduo e proporcionam alegria e satisfação.
Esse mesmo autor, Elkonin (1998, p. 415), trata em seus estudos do jogo 
protagonizado, e descreve:
O jogo apresenta-se como atividade em que se formam as premissas 
para a transição dos atos mentais para uma nova etapa, superior, de atos 
mentais respaldados pela fala. O desenvolvimento funcional das ações 
lúdicas converte-se em desenvolvimento ontogenético, criando uma zona 
de evolução imediata dos atos mentais. 
Huizinga (2001, p. 3) define aspectos do jogo que ultrapassam os limites das 
atividades puramente físicas ou biológicas. “É uma função significante, isto 
é, encerra um determinado sentido. No jogo existe alguma coisa em jogo que 
transcende a necessidade imediata da vida e confere um sentido à ação.” 
Esse autor define características próprias do jogo em geral, são elas:
 • O jogo é uma atividade voluntária, todo jogo imprime o fato de ser 
livre, de ser ele próprio liberdade.
 • O jogo não é nem vida corrente nem vida real, é ao contrário, uma 
evasão da vida real para uma esfera temporária de atividade com 
orientação própria. Dessa forma, o jogo ocupa a esfera de ser 
“desinteressado”, como não pertence à vida comum, ele se situa fora 
do mecanismo de satisfação imediata das necessidades e desejos.
28
Capítulo 2 
 • A terceira de suas características principais: o isolamento, a 
limitação. É jogado até ao fim dentro de certos limites de tempo e 
de espaço. Percorre um determinado caminho e sentido.
A liberdade deve ser o direcionador da proposta de jogo, essa liberdade 
possibilita que o jogo ocupe outra esfera fora da vida cotidiana, impregnada 
de tarefas para a satisfação de necessidade com produtos esperados. Como 
atividade voluntária, seu único aspecto limitador é seu espaço e tempo, que 
decorre de um percurso e caminho com começo e fim.
Outra característica importante do jogo, para Huizinga (2001, p. 13), é a de se 
fixar como fenômeno cultural. O jogo é transmitido entre gerações, torna-se 
tradição. Os elementos de repetição e de alternância constituem como que o fio e 
a tessitura do objeto. O espaço também é um aspecto importante no jogo. “todo 
jogo se processa, de maneira material ou imaginária, deliberada ou espontânea” 
Os espaços ocupados têm a função de terrenos dos jogos, como arenas, templo, 
palco etc., lugares sagrados, cujo espaço são mundos temporários dentro do 
mundo habitual e em seu interior se respeitam determinadas regras.
Ainda o mesmo autor elenca outra característica que considera ainda mais 
positiva: ele cria ordem e é ordem, exige uma ordem suprema, a menor 
desobediência a ela,“estraga o jogo”. O jogo é capaz de fascinar e, de certo 
modo, lança um feitiço sobre o jogador. 
Nos estudos realizados por Kishimoto (2000, p. 16), 
o jogo pode ser visto como:
1. O resultado de um sistema linguístico que funciona 
dentro de um contexto social;
2. Um sistema de regras; 
3. Um objeto. 
Como resultado de um sistema linguístico, dependendo do contexto social, o 
jogo assume a imagem e o sentido que cada sociedade lhe atribui, dessa forma, 
para cada lugar e época, os jogos assumem diferentes significados.
Cada sociedade constrói uma imagem do jogo conforme seus valores e crenças, 
o modo de vida dos indivíduos que compõem a sociedade se expressa no jogo. 
Por exemplo, o arco e a flecha para uma sociedade pode ser um brinquedo e 
para outra é um instrumento de caça.
Como sistema de regras, um jogo pode ser identificado a partir de sua sequência 
de regras e sua estrutura, que define a modalidade. Por exemplo, o jogo de 
cartas é definido para cada modalidade conforme suas regras. Quando alguém 
29
Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço
joga está executando as regras do jogo e ao mesmo tempo participando de uma 
atividade lúdica.
O jogo, segundo Kishimoto (2000), materializa-se como objeto, por exemplo, o 
xadrez materializa-se no tabuleiro e nas peças, as quais podem ser de diversos 
materiais, no pião que pode ser confeccionado com madeira, plástico etc.
É importante pontuar que determinados autores imprimem características 
específicas para jogos, delimitando-os quanto à idade. No caso da primeirainfância, o jogo é denominado de jogo infantil e segue traços e características 
intrínsecos a essa faixa etária.
Christie, apud Kishimoto (2000, p. 25), rediscute as características do jogo infantil 
e elabora critérios para identificar seus traços, são eles:
 • A não literalidade: A realidade interna predomina sobre a 
externa, o ursinho se transforma em filhinho, o sentido habitual é 
substituído pelo novo, criado e imaginado na fantasia do brincar.
 • Efeito positivo: prazer e alegria são características do jogo 
infantil. Brincar promove sensações de satisfação e traz efeitos 
positivos aos aspectos corporais, morais e sociais da criança.
 • Flexibilidade: quando brinca, a criança fica mais disposta 
a combinações e variações de ideias e de comportamentos. 
Busca novas alternativas de ações e torna-se mais flexível
 • Prioridade do processo de brincar: enquanto brinca, 
sua atenção está concentrada na atividade em si e não 
em seus resultados. O jogo educativo desvirtua essa 
característica quando dá prioridade ao produto.
 • Livre escolha: deve ser escolhido livre e espontaneamente 
pela criança.
 • Controle interno: no jogo infantil quem determina os 
acontecimentos são os próprios jogadores e não o professor, 
caso contrário, não será um jogo e sim uma direção e um ensino.
A questão do simbolismo no jogo infantil é outro aspecto que merece relevância 
para os estudos da área. Segundo Negrini (1997, p. 46), 
o simbolismo emerge da necessidade do ser humano exteriorizar-
se, ou seja, de representar os modelos com os quais se depara. 
O mundo simbólico é mais uma tentativa da representação da 
realidade do que a imaginação em ação.
A criança representa o mundo que a cerca, ou seja, a realidade, e a simboliza 
pelos gestos. 
30
Capítulo 2 
Para Fromberg (apud KISHIMOTO, 2000, p. 27),
O jogo infantil inclui as características: simbolismo: representa 
a realidade e atitudes; significação: permite relacionar ou 
expressar experiências; atividade: a criança faz coisas; voluntário 
ou intrinsecamente motivado: incorporar motivos e interesses; 
regrado: sujeito a regras implícitas ou explícitas, e episódico: 
metas desenvolvidas espontaneamente. 
Quando a criança dispõe de significados apropriados aos esquemas os quais 
ela constrói as interações com o contexto em que está inserida, ela torna-se 
co-autora de cultura lúdica. Para Brougère (1998), cultura lúdica se constitui 
em substância, isto é, ela só existe potencialmente, pois se trata do conjunto de 
elementos que uma criança pode valer para seus jogos.
Esses elementos variam de uma sociedade para outra, e também variam 
conforme o momento histórico de uma mesma sociedade. O simbolismo será 
uma representação pelos significados que a criança incorporou, isto é, um 
conjunto de elementos que utilizará nos jogos.
 Nos diversos estudos realizados pelos estudiosos sobre o jogo, muitos aspectos 
são equivalentes e outros são complementares, Kishimoto (2000, p. 27) realiza 
uma síntese sobre seus estudos de diferentes autores do tema e enumera os 
elementos que a interligam à grande família dos jogos:
1. Liberdade de ação do jogador ou o caráter voluntário, de motivação 
interna e episódica da ação lúdica; prazer (ou desprazer), futilidade;
2. Regras (implícitas ou explícitas);
3. Relevância do processo de brincar (o caráter improdutivo), incerteza 
de resultados;
4. Não literalidade, reflexão de segundo grau, representação da 
realidade, imaginação,
5. Contextualização no tempo e no espaço.
Ao considerar esses aspectos tratados até então, o educador deve orientar 
sua prática para possibilitar o jogo como um elemento lúdico, que tem em sua 
essência a liberdade de ação por parte da criança, com um motivador interno, 
sem a necessidade de alcançar um produto final. Mergulhado na representação 
da imaginação fora do contexto literal da realidade e contextualizado com o 
tempo e espaço.
31
Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço
Seção 3
O brincar: brinquedos, jogos e brincadeiras
A brinquedoteca é um espaço fértil para as interações e brincadeiras entre 
as crianças, mas por que é importante a brincadeira para a infância?
Inicialmente, é importante considerar que a infância é uma construção histórica, 
dessa forma, o ser criança deve ser compreendido não apenas em suas 
características naturais, mas como um ser em interação com a sociedade e 
sujeito a condições históricas. A brincadeira também deve ser compreendida sob 
esta ótica, dessa forma, está sujeita aos componentes históricos e sociais.
A fragmentação dos tempos de vida em infância, fase adulta e velhice é uma 
construção histórica, e a brincadeira pode ser estudada desde o surgimento das 
forças produtivas nas sociedades primitivas.
Se a brincadeira requer tempo livre, ao trabalhador, na sociedade de produção, 
não importa esse tempo livre sem resultados produtivos. De uma forma sutil, 
a sociedade impõe um distanciamento do tempo de brincar, tempo ocioso, 
para desfrutar o não trabalho, na medida em que o indivíduo cresce e assume 
responsabilidades com um conjunto de afazeres de uma comunidade/sociedade.
A sociedade relaciona o lúdico com identificação maior para a infância, uma vez 
que essa não está ainda inserida no mundo de produção, por não apresentar o 
perfil para a produção. A própria escola também incorpora essa relação de idade 
e tempo, na medida em que a faixa etária avança, diminui o tempo dedicado ao 
brincar.
Brincar pode ser entendido como a imaginação em ação, isto é, a imaginação 
exteriorizada através do brinquedo, do jogo e da brincadeira, é a primeira forma 
que a criança encontra para ultrapassar a dimensão perceptiva motora.
A cultura tem influência no modo de vida dos indivíduos de uma sociedade, 
orientando o fazer e, consequentemente, o brincar. Dessa forma, a cultura torna-
se parte da natureza humana e pode ampliar ou restringir as possibilidades e 
potencialidades do indivíduo.
No início do século XIX ocorreu uma mudança de perspectiva sobre o conceito 
da criança e da brincadeira. Antes a brincadeira era considerada apenas como 
distração, assim como o conceito dominante de criança também não dava o 
menor valor a um comportamento espontâneo com origem da própria criança.
32
Capítulo 2 
Com as influências de Rousseau, houve mudanças na imagem que a sociedade 
tinha da criança e de sua natureza, tornou-se uma visão mais positiva, assim, 
valorizaram-se as atividades espontâneas da criança.
A exaltação da naturalidade foi, segundo Brougère (2000, p. 91), o que colocou 
a brincadeira no centro da educação da criança pequena. Essa exaltação da 
naturalidade impôs uma ruptura com o racionalismo das luzes. “a brincadeira é 
boa porque a natureza é pura, representada pela criança, é boa”. 
A valorização da brincadeira, segundo essa perspectiva, apoia-se na supressão 
da dimensão social da educação da criança, dessa forma, dar lugar à brincadeira 
é dar ênfase à educação natural. A brincadeira como meio educativo não pode se 
apoiar em fundamentos de alegação natural e não social. 
É preciso, também, ir além de uma análise da brincadeira como elemento natural 
apoiado a pesquisas com animais, pois o que é essencial na brincadeira infantil, 
que é a dimensão simbólica, está ausente na brincadeira animal.
Os estudos de Brougère (2000, p.97) tratam da brincadeira como atividade 
humana, supondo um contexto social e cultural, que rompe com a perspectiva 
de uma brincadeira natural. “A brincadeira é um processo de relações 
interindividuais, portanto, de cultura”. 
A brincadeira humana diferente da brincadeira de animais supõe sempre 
um contexto social e cultural. Os comportamentos da criança estão 
impregnados por sua imersão no contexto social na qual está inserida. O 
estudioso aqui citado, Brougère, deixa claro em seus estudosque não 
existe na criança uma brincadeira natural, a brincadeira é um processo de 
relações interindividuais, resultado da inserção cultural.
De certa maneira, a brincadeira é, nesta visão, um aprendizado, a criança 
aprende a brincar. Desde pequena a criança é iniciada na brincadeira pela pessoa 
que cuida, mãe, cuidador etc. A criança se envolve na brincadeira do adulto e 
aprende a brincar.
Assim como o brinquedo muda de sentido e toma, por meio da imaginação, 
outras possibilidades de realidade, a brincadeira também é uma mutação de 
sentido da realidade, os objetos e até brinquedos tornam-se outros. 
É um espaço à margem da vida comum, que obedece às regras 
criadas pelas circunstâncias. Os objetos, no caso, podem ser 
diferentes do que aparentam. Entretanto, os comportamentos 
são idênticos aos da vida cotidiana. (BROUGÈRE, 2000 p. 100).
33
Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço
A criança quando brinca, segundo Vygotsky (1998), sob o ponto de vista do 
desenvolvimento, cria uma situação imaginária e pode ser considerada como 
um meio para desenvolver o pensamento abstrato. Assim, para esse autor, é 
por meio do jogo que os processos mentais elementares se transformam em 
processos mentais superiores.
Kishimoto (2000, p. 38) elenca três tipos de brincadeiras, são elas: brincadeiras 
tradicionais, brincadeiras de faz-de-conta, brincadeiras de construção.
A brincadeira tradicional infantil, considerada como parte da cultura popular, 
guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. A 
cultura não oficial, desenvolvida especialmente de forma oral, não fica 
cristalizada. Está em constante transformação, incorporando criações 
anônimas das gerações que vão se sucedendo.
Muitas brincadeiras preservam sua estrutura inicial, outras se modificam, 
recebendo novos conteúdos. Enquanto manifestação livre e espontânea 
da cultura popular, a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a 
cultura infantil, desenvolver e formar a convivência social e permitir o prazer 
de brincar.
A brincadeira de faz-de-conta, também conhecida como simbólica, de 
representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais evidente 
a presença da situação imaginária. Ela surge com o aparecimento da 
representação da linguagem, em torno de 2/3 anos, quando a criança 
começa a alterar o significado dos objetos, dos eventos, a expressar seus 
sonhos e fantasias e a assumir papéis presentes no contexto social. É 
importante registrar que o conteúdo do imaginário provém de experiências 
anteriores, adquiridas pelas crianças em diferentes contextos.
Os jogos de construção possuem grande importância por enriquecer a 
experiência sensorial, estimular a criatividade e desenvolver habilidades 
da criança. Construindo, transformando e destruindo, a criança expressa 
seu imaginário, seus problemas, permitindo aos terapeutas o diagnóstico 
das dificuldades de adaptação, bem como a educadores o estímulo da 
imaginação infantil e o desenvolvimento afetivo e intelectual.
O repertório de brincadeiras que a criança tem contato e possibilidades de 
interação é um fator importante para o desenvolvimento de suas potencialidades, 
cada modalidade apresentada anteriormente tem um lugar e sua importância 
para a infância.
 A brincadeira tradicional foi transmitida de geração em geração, e até hoje as 
crianças brincam de amarelinha como os povos gregos e do oriente brincavam, 
esse artefato social é um elemento integrador entre diferentes culturas e 
gerações. A passagem de uma brincadeira por gerações perpetua a presença 
do lúdico na sociedade.
34
Capítulo 2 
O conteúdo que provém do mundo social na brincadeira de faz-de-conta é o 
conteúdo simbólico que recebe influências do currículo e dos professores. Dessa 
forma, é importante ressaltar, segundo Kishimoto (2000), os conteúdos vinculados 
às brincadeiras infantis, os materiais dispostos, as oportunidades e possibilidades 
de interações sociais, assim como o tempo e o espaço disponíveis, são fatores 
que dependem da proposta educativa do educador.
Os jogos de construção têm relação com os jogos de faz-de-conta, pois as 
construções se transformam em temas de brincadeiras, o que a criança empilha e 
constrói pode se transformar em cenários para brincadeiras simbólicas.
Seção 4
Brinquedo e arte: a criação de brinquedos
A seleção de brinquedos para a brinquedoteca deve levar em conta todos os 
aspectos intrínsecos, como materiais, sua funcionalidade, a possibilidade de 
utilização, entre outros. 
O universo de brinquedos que a sociedade produz comercialmente é cada vez 
maior, por questões econômicas e sociais algumas crianças têm brinquedos 
em excesso, sem ter lugar para guardá-los, enquanto outras não têm acesso 
a brinquedos.
A brinquedoteca deve ser um lugar facilitador de acesso a brinquedos a todas 
as crianças, independente de classe social. O acesso ao brincar é um direito da 
criança, e as maneiras para garantir esse direito podem ser diversas.
Locais com brinquedoteca estruturadas e com materiais e brinquedos com alto 
valor comercial são raras e, muitas vezes, restritas ao público financiador deste 
espaço. A criação de brinquedos por meio de sucatas pode ser um caminho 
tanto econômico como educativo, uma vez que a confecção envolve a criação, 
imaginação, planejamento e execução.
Santos (1995) alerta que não é todo material descartável que pode se transformar 
em brinquedo para as crianças é preciso inicialmente distinguir sucata de lixo. 
Cuidados com a limpeza, ordenação e disposição dos materiais de apoio para 
a confecção dos brinquedos a partir da sucata, merecem todo o cuidado para 
facilitar o processo de criação dos brinquedos, assim como a sua utilização. 
A autora ainda sugere a criação de uma sucatoteca, com um lugar específico 
para armazenar um conjunto de materiais descartáveis, que já passaram por 
limpeza apropriada, e após a limpeza são selecionados, tanto quantitativa quanto 
35
Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço
qualitativamente. Os materiais de apoio como tesouras, colas, tintas, papeis 
variados etc., também necessitam de seleção e ordenação.
A indústria de brinquedos está cada dia mais com fortes apelos das mídias, com 
valorização de personagens construídos em outras culturas, que impregnam a 
cultura do país de origem e disseminam a cultura do consumo em massa.
Um posicionamento contra o consumo exagerado é um fator que agrega as 
funções de uma brinquedoteca, uma vez que, como lugar de brinquedos, não 
deve cumprir papel de promotora e divulgadora de brinquedos construídos para o 
consumo inconsequente.
A valorização de brinquedos construídos a partir de objetos recicláveis tem 
tomado maior força, dado as circunstâncias ambientais que configuram as 
prerrogativas das ações de indústrias e sociedade em geral, para a preservação 
da natureza.
Não cabe aqui condenar os brinquedos industrializados, pois muitos têm 
seu lugar garantido em uma brinquedoteca, cabe, sim, uma valorização aos 
brinquedos artesanais e construídos em oficinas com pais, educadores e crianças. 
Essa valorização faz-se necessária para contrapor uma força extraordinária 
dos brinquedos produzidos em larga escala, os quais têm uma breve vida útil e 
tomam espaço nas mídias de consumo.
Muitos espaços públicos podem ser aproveitados e estruturados a partir de um 
projeto consciente, que visualize a criação e manutenção de uma brinquedoteca, 
a partir de brinquedos construídos com materiais recicláveis. 
 A formação e o interesse do educador que apresenta uma proposta de criação 
de brinquedoteca será o diferencial para a utilização ou não de brinquedos 
artesanais. O alto valor de brinquedos prontos industrializados e frágeis, diante 
da rotatividade de circulação de crianças, pode impossibilitar a manutenção deuma brinquedoteca. 
36
Capítulo 2 
ANEXO
Ideias para a confecção de brinquedos a partir de sucatas
Atualmente, existem vários sites e blogs que compartilham idéias, 
sugerimos alguns:
http://www.revistaartesanato.com.br/reciclagem
http://www.rsojoserosas.seed.pr.gov.br
http://www.facavocemesmo.org/aviao-de-brinquedo-com-material-reciclado
http://dikinhasdasil.blogspot.com.br/2012/07/brinquedos-com-materiais-
reciclaveis.html.
http://grupoaoq.com.br/corujazul/reciclagem/robo-com-caixinhas-de-papel
Seguem alguns exemplos de fotos de brinquedos a partir de materiais e 
de sucatas:
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Brinquedoteca: formação de brinquedista e organização do espaço

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