Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
25 Nutrição no Esporte Número 25 Abril/Maio/Junho - 2000INGESTÃO DE CARBOIDRATOS DURANTE OS EXERCÍCIOS: EFEITOS NO METABOLISMO E NO DESEMPENHO. Mark Hargreaves, Ph.D. School of Health Sciences Deakin University Burwood, Australia SPORTS SCIENCE EXCHANGE PRINCIPAIS TÓPICOS Os carboidratos são as principais fontes de energia para a maior parte dos esportes competitivos; o fornecimento inadequado de carboidratos para o organismo prejudica o desempenho. A ingestão de carboidratos durante o exercício aumenta a disponibilidade de glicose no sangue e mantém a capacidade do organismo em utilizá-la como fonte de energia durante os exercícios. A captação de glicose pelos músculos aumenta quando carboidratos são ingeridos durante os exercícios, e a degradação do glicogênio hepático para fornecer glicose para o sangue fica diminuída, como consequência, o organismo economiza glicogênio hepático para o final da atividade física. A utilização do glicogênio muscular, como fonte de energia, geralmente não é alterado pela sua ingestão durante os exercícios. Entretanto, em corridas de longa distância, a utilização do glicogênio muscular pode diminuir devido ao maior fornecimento de glicose pelo sangue. Este fato ocorre quando os carboidratos são consumidos durante a competição. Essa resposta metabólica constitue a base dos efeitos benéficos que ocorrem quando os carboidratos são ingeridos durante a prática de exercícios. Existem pequenas diferenças entre os efeitos metabólicos da glicose, sacarose e maltodextrina, pois todos têm a capacidade de melhorar o desempenho quando ingeridos em quantidades adequadas, durante a prática de atividades físicas. A ingestão de frutose como única fonte de carboidratos não é aconselhável pois sua absorção é mais lenta, assim como a sua conversão em glicose. Porém, quando pequenas quantidades de frutose são administradas em combinação com outros carboidratos, essa associação apresenta vantagens metabólicas. A ingestão de 30 a 60 gramas de carboidrato por hora pode melhorar o desempenho atlético. Uma boa maneira de ingerir esse carboidrato é através da ingestão de 600 a 1.200ml de uma bebida para esportistas a cada hora de prática de atividades físicas. O consumo de soluções de carboidratos apresenta a vantagem de prevenir os efeitos deleteriosos da desidratação no desempenho atlético. INTRODUÇÃO A resposta da ingestão de carboidratos durante a atividade física e sua relação com o desempenho esportivo, tem sido uma das áreas da nutrição esportiva mais estudada. A ingestão de carboidratos durante os exercícios prolongados e extenuantes melhora o desempenho, fato que pode ser observado pela capacidade de manter ou mesmo de melhorar a capacidade de trabalho durante a prática de exercícios (Coggan & Coyle, 1988; Mc Conell et al., 1996; Mitchell et al.,1989; Murray, et al.,1991; Tsintzas et al., 1993; Williams et al.,1990) ou por um aumento no tempo de exercício até a instalação da fadiga (Coggan & Coyle, 1987,1989; Coyle et al.,1983,1986; Davis et al.,1992; Mc Connel et al., 1999; Spencer et al., 1991; Tsintzas et al., 1996a,b,; Wilber & Monffatt, 1992). O aumento no tempo de atividade física geralmente é atribuído à manutenção elevada da capacidade de utilização dos carboidratos como fonte de energia no final dos exercícios, devido ao aumento da sua disponibilidade através da glicemia (Figura 1; Coggan & Coyle, 1987; Coyle et al.,1986), ou possivelmente por um aumento na disponibilidade do glicogênio muscular (Tsintzas et al.,1996a,b). O aumento da disponibilidade muscular de carboidratos está associada a um aumento no balanço energético desse tecido (Mc Conell et al., 1999; Spencer et al., 1991). O sistema nervoso central também pode ser responsável pelo aumento da disponibilidade de carboidratos durante o exercício (Davis et al., 1992). Uma observação interessante foi feita recentemente, quando foi notado um efeito positivo dos carboidratos em exercícios intermitentes de alta intensidade (Below et al., 1995; Davis et al.,1997; Jeukendrup et al., 1997; Nicholas et al., 1995). Isto foi comprovado através de uma rotina de exercícios que tinham uma duração inferior a 60 minutos e simulavam as atividades praticadas em esportes como basquetebol, futebol e futebol americano. Acreditava-se que os carboidratos não eram limitantes em exercícios de curta duração. O mecanismo da ação ergogênica dos carboidratos nessas condições de trabalho ainda não foi esclarecido, porém parece que envolve um pequeno aumento na disponibilidade intramuscular de carboidratos quando ocorre uma elevação na taxa de utilização desse nutriente. Figura 1. Glicose plasmática, antes e após o exercício até a fadiga a 69% do VO2 pico, quando ingeriram PLACEBO ou uma solução contendo 8% de carboidrato (CARBO). Os valores representam a média de 8 sujeitos. * Diferente do PLACEBO (P<0,05). Modificado de McConell et al. 1999. RESPOSTAS METABÓLICAS DA INGESTÃO DE CARBOIDRATOS DURANTE O EXERCÍCIO A ingestão de carboidratos durante exercícios extenuantes e prolongados eleva a glicose do sangue e aumenta a capacidade de utilização do mesmo ao final dos exercícios (Coggan & Coyle, 1987; Coyle et al., 1986). A liberação da glicose hepática fica reduzida quando os carboidratos são consumidos durante os exercícios (Bosch et al., 1994; Mc Conell et al., 1994), este fato pode ser atribuído aos efeitos diretos no metabolismo do fígado e, possivelmente, também, devido a uma ação direta do exercício, induzindo um aumento da adrenalina e do glucagon (Mc Conell et al., 1994), pois ambos aceleram a liberação da glicose hepática. O aumento na ingestão de carboidratos durante os exercícios provoca também uma elevação na TEMPO (min) G LI C O S E P LA S M Á T IC A ( m m 0 I/ I) CARBO PLACEBO FADIGA 0 30 60 90 120 150 180 200 4 5 6 7 -60 3 captação de glicose pelos músculos (Mc Conell et al., 1994). Essas observações são concordantes, pois durante um exercício extenuante a utilização da glicose aumenta, quando a disponibilidade de glicose sangüínea também está aumentada (Bosch et al., 1994; Coggan et al., 1991; Coyle et al., 1991; Hawley et al., 1994). A captação de glicose pelo músculo contráctil ocorre por um processo de difusão facilitada, o qual é mediado por uma proteína transportadora de glicose (GLUT-4), que se movimenta dentro da célula muscular em direção à membrana. Este fato ocorre durante o exercício. Os níveis elevados de glicose sangüínea aumenta o gradiente de difusão da glicose para o músculo, e também estimula a movimentação da GLUT-4 do interior para a membrana da célula muscular. O aumento nos níveis de insulina, que ocorre quando se ingere carboidratos, também desempenha um papel importante no aumento da captação de glicose pelo músculo durante a atividade física. As pesquisas que abordam a relação entre a ingestão de carboidratos e a utilização do glicogênio muscular durante os exercícios são conflitantes. Muitos estudos realizados com a utilização do ciclismo contínuo, prolongado e extenuante, não evidenciaram nenhum efeito do aumento da disponibilidade de glicose sangüínea na utilização do glicogênio muscular (Bosch et al., 1994; Coyle et al., 1986, 1991; Flynn et al., 1987; Hargreaves & Briggs, 1988; Mitchell et al., 1989; Widrick et al., 1993). Por outro lado, estudos semelhantes realizados em esteira, sugerem que a ingestão de carboidratos reduz a utilização de glicogênio muscular, especialmente nas fibras do tipo I, ou seja aquelas de contração lenta ( Tsintzas et al.,1995, 1996a), e o aumento da disponibilidade de glicogênio muscular ao final do exercício, contribue para aumentar a capacidade de resistência (Tsintzas et al., 1996a). Diferentemente da maioria dos estudos feitos com ciclistas, parece que a corrida prolongada não ocasiona um decréscimo significativo nos níveis de glicose sangüíneae na capacidade de oxidação dos carboidratos, com a aproximação da fadiga (Tsintzas et al., 1993, 1996a; Williams et al., 1990). As diferenças observadas entre a ingestão de carboidratos, a utilização do glicogênio muscular e os níveis de glicemia entre ciclistas e corredores, permanece como uma questão em aberto. Como existe uma diferença de massa muscular ativa entre ciclistas e corredores, os padrões de solicitação de carboidratos, e/ou a natureza da contração muscular, podem, possivelmente, também desempenhar um papel importante nos resultados obtidos. A ingestão de carboidratos promove uma redução na concentração plasmática de ácidos graxos livres (AGL) durante os exercícios prolongados (Coyle et al., 1983, 1986; Davis et al., 1992; Murray et al., 1989a,b, 1991; Tsintzas et al., 1996a), que demonstra uma diminuição na utilização de gordura como fonte de energia. Quando os carboidratos são consumidos durante os exercícios, ocorre uma diminuição da utilização da gordura como fonte energética, porém essa diminuição não é tão evidente como aquela observada quando os carboidratos são ingeridos antes dos exercícios. Essa diferença parece ser mais devido ao menor aumento da insulina plasmática quando os carboidratos são ingeridos durante a atividade física, comparativamente ao aumento que ocorre quando a ingestão é feita antes dos exercícios. A liberação de uma quantidade menor de insulina leva a um aumento na utilização de gordura como energia, este fato ocorre porque a insulina inibe o metabolismo lipídico e, consequentemente, a liberação de gordura, e estimula o metabolismo glicídico, aumentando a captação de glicose sangüínea pelos músculos (Horowitz et al., 1999). LIMITAÇÕES DA INGESTÃO DE CARBOIDRATOS COMO FONTE DE ENERGIA Parece que o pico de maior captação e/ou oxidação da glicose, no final dos exercícios, quando os carboidratos são ingeridos durante a atividade física é da ordem de 1 a 1,2g por minuto (Coggan & Coyle, 1987; Coggan et al., 1991; Mc Conell et al., 1994; Wagenmakers et al.,1993). Parece que existe um “platô” que limita a oxidação dos carboidratos exógenos durante a prática de exercícios de longa duração, a despeito da ingestão aumentar (Figura 2; Wagenmakers et al., 1993). Wagenmakers et al. (1993) sugerem que “pode ser que ocorra um acúmulo dos carboidratos exógenos no tracto gastrointestinal e/ou endogenamente em algum lugar do organismo”. É importante conhecer qual é o limite da capacidade do organismo em oxidar os carboidratos exógenos. Teoricamente a limitação pode estar na quantidade ingerida, velocidade de esvaziamento gástrico, absorção intestinal, e/ou capacidade do músculo em captar e utilizar a glicose. O músculo esquelético treinado, tem uma grande habilidade de incorporar e oxidar a glicose durante o exercício, quando os níveis sangüíneos de glicose e insulina estão elevados (Coyle et al., 1991; Hawley et al., 1994). Este fato provavelmente está relacionado aos efeitos induzidos pelo treinamento como um aumento significativo da densidade de capilarização do músculo, aumento nos níveis de GLUT-4, e também um aumento na atividade das enzimas responsáveis pelo metabolismo da glicose. Por outro lado, o músculo treinado tem uma grande capacidade para captar e utilizar a glicose, quando ocorre uma diminuição progressiva do glicogênio durante o exercício. Entretanto, não existem provas diretas de que isto possa ocorrer. Figura 2. Velocidade de ingestão de bebidas contendo concentrações crescentes de carboidratos (maltodextrina) e oxidação dos carboidratos ingeridos nos últimos estágios de um exercício feito a 65% da capacidade máxima de trabalho. Os valores representam a média obtida com 6 indivíduos. Dados de Wagenmakers et al., 1993. Durante a prática de esportes, a ingestão voluntária de fluidos é normalmente inferior às perdas através da sudorese e, por conseguinte, a ingestão de carboidratos é inferior ao ótimo, porém em estudos laboratoriais, o fornecimento de carboidratos é feito de tal maneira que garante uma ingestão maior que a necessária. Este fato sugere que tanto o esvaziamento gástrico como a absorção intestinal não são fatores limitantes para o fornecimento de carboidratos (e fluidos) para o sangue (Duchman et al., 1996; Reher et al., 1992). A velocidade de esvaziamento gástrico e absorção da glicose foi determinada através do fornecimento de 1,2 e 1,3 gramas por minuto de uma solução eletrolítica de glicose a 6%, respectivamente, em condições de repouso (Duchman et al., 1996). Os resultados obtidos foram similares a aqueles obtidos para a oxidação de carboidratos ingeridos oralmente. Em nossos estudos, embora feitos com uma solução de glicose a 10%, a velocidade de degradação da glicose para fornecer energia ao final dos exercícios foi maior do que a velocidade de fornecimento de glicose para o sangue através dos intestinos. Este fato sugere que o tracto gastrointestinal apresenta alguma limitação em utilizar os carboidratos ingeridos como fonte de energia, ou que pode estar ocorrendo algum problema na liberação da glicose intestinal para a circulação sangüínea (Mc Conell et al.,1994). Interessante salientar que o consumo simultâneo de glicose e frutose, os quais são absorvidos pelo intestino por mecanismos diferentes, resulta em uma utilização maior desses carboidratos como fonte de energia, do que quando a administração da mesma quantidade é feita isoladamente (Adopo et al., 1994). Este fato pode também ser observado com a absorção intestinal de fluidos destinados à reidratação que continham mais do que um tipo de carboidrato (Shi et al., 1995). Esses estudos demonstraram que o principal fator limitante do uso de carboidratos como fonte de energia, durante a atividade física, reside na liberação do carboidrato do tracto gastrointestinal para os músculos esqueléticos. Está comprovado que quando é feita uma infusão intravenosa de glicose, ela é utilizada mais rapidamente para a produção de energia, do que quando ingerida por via oral (Coyle et al., 1991; Hawley et al. 1994). Entretanto, mesmo nessas condições, uma grande quantidade de glicose injetada não é utilizada pelo músculo para a produção de energia, sugerindo uma limitação de seu uso e/ou que exista outra via metabólica para a glicose. Também é possível que o fígado tenha um papel importante na regulação da liberação, para a circulação, da glicose ingerida, regulando a sua capacidade em captar e liberar a glicose em função da quantidade recebida através da absorção intestinal. Em outras palavras, se o fígado recebe grandes quantidades de glicose do intestino, ele diminui a velocidade de metabolização da glicose e conseqüentemente sua liberação para a circulação. ASPECTOS PRÁTICOS DA INGESTÃO DE CARBOIDRATOS Tipo de Carboidrato Glicose, sacarose e maltodextrinas apresentam efeitos semelhantes no metabolismo e no desempenho durante a prática de exercícios (Hawley et al., 1992; Massicotte et al., 1989; Murray et al., 1989a; Wagenmakers et al., 1993). Por outro lado, a frutose isoladamente não é tão eficazmente oxidada como as outras fontes de carboidratos (Massicotte et al., 1989), devido à sua baixa velocidade de absorção, que pode causar um mal-estar gastrointestinal e consequentemente prejudicar o desempenho (Murray et al., 1989a). A frutose não causa V E LO C ID A E ( g /m in ) MALTODEXTRINA (%) 0 0 1 2 4 8 12 16 IN GE ST ÃO OXIDAÇÃO nenhum efeito adverso quando é administrada em pequenas quantidades junto com outros carboidratos como a glicose e a maltodextrina. Quanto à galactose, comparativamente com a glicose, sacarose e as maltodextrinas, também sua disponibilidade para a oxidação é mais lenta, quando ingerida durante a atividade física (Leijssen et al., 1995). Durante os exercícios, o amido de milho solúvel é melhor oxidado que o insolúvel, possivelmente devido ao fato do amido solúvel conter uma relaçãomais elevada entre amilopectina e amilose (Saris et al. 1993). A forma física de ingestão dos carboidratos não exerce uma grande influência, isto porque tanto na forma líquida como na sólida os suplementos alimentares de carboidratos apresentam uma resposta metabólica semelhante (Lugo et al., 1993; Mason et al., 1993). Quantidade de Carboidrato Ainda não se sabe se existe uma relação “dose-resposta” entre a quantidade de carboidratos ingeridos durante os exercícios e o desempenho atlético (Mitchell et al., 1989; Murray et al., 1989b, 1991). A ingestão de 13 gramas de carboidratos por hora foi insuficiente para alterar a resposta hormonal glicorreguladora em exercícios prolongados ou no tempo de fadiga (Burguess et al., 1991), e a ingestão de 26 a 78 gramas por hora aumentou em 4,8km o desempenho em 2 horas de exercícios a 65-75% VO2 pico (Murray et al. 1991). Não foram observadas diferenças fisiológicas quando foram ingeridas soluções de sacarose contendo 6%, 8%, e 10%, porém o desempenho atlético melhorou somente quando da ingestão da solução a 6% (Murray et al., 1989b). Parece que os benefícios de ingerir uma solução contendo mais de 6-8% são muito pequenos, quando ocorrem, isto porque a ingestão de soluções mais concentradas não aumenta a velocidade de oxidação da glicose exógena pelo músculo (Wagenmakers, et. al., 1993). Obviamente, o principal objetivo da reposição de carboidratos é o de fornecer quantidades suficientes para manter a glicemia e a sua oxidação, sem causar distúrbios gastrointestinais, ou diminuir a ingestão de líquidos. A ingestão de carboidratos a uma velocidade de 30 a 60 gramas por hora, melhora o desempenho atlético. Essa quantidade de carboidratos pode ser conseguida ingerindo bebidas para esportistas que são encontradas no comércio, a uma razão de 600 a 1.200 ml por hora, a ingestão dessas bebidas apresentam a vantagem de prevenir os efeitos danosos devido à desidratação (ACSM Position Stand; Coyle & Montain, 1992). Quando Ingerir Carboidratos Os efeitos benéficos da ingestão de carboidratos são mais evidentes durante os estágios finais da prática de exercícios prolongados, quando as reservas endógenas desse elemento estão depletadas. Portanto, a ingestão de carboidratos ao final dos exercícios, aproximadamente 30min. antes do ponto de fadiga, produz um aumento no tempo de instalação da fadiga. Estes resultados são semelhantes na sua magnitude aos observados com a ingestão de carboidratos antes ou durante os exercícios, ou ainda quando foi feita uma infusão intravenosa de glicose no ponto de fadiga (Coggan & Coyle, 1989, 1991; Tsintzas et al., 1996). Em contrapartida, a ingestão de carboidratos imediatamente antes da instalação da fadiga não apresenta a mesma efetividade na melhoria do desempenho (Coggan& Coyle, 1987, 1991). Por outro lado, retardar a ingestão de carboidratos até a parte final do exercício, mesmo elevando a glicemia, e a disponibilidade de carboidratos para a oxidação, não acarreta numa melhoria do desempenho (Mc Conell et al., 1996). Do ponto de vista de uma aplicação prática, como os atletas desconhecem suas reservas de carboidratos e seu possível ponto de fadiga, a reposição de carboidratos (e líquidos), deve se iniciar cedo e continuar durante todo o exercício. SUMÁRIO Os exercícios prolongados e extenuantes são dependentes do fornecimento de carboidratos como fonte de energia, e como as reservas de carboidratos no organismo são relativamente limitadas, a ingestão deles é importante para melhorar o desempenho. A ingestão de carboidratos aumenta a disponibilidade de glicose do sangue e mantém a oxidação dos carboidratos nos momentos finais dos exercícios prolongados e extenuantes. A captação muscular de glicose aumenta, e a liberação da glicose hepática fica diminuída, quando ocorre a ingestão de carboidratos, enquanto a utilização do glicogênio muscular parece não ser afetada, a não ser, talvez, nos casos de corridas de longa distância. Glicose, sacarose e maltodextrinas, apresentam um comportamento semelhante e positivo no metabolismo oxidativo, e no desempenho, quando ingeridas durante os exercícios, porém os atletas devem evitar o consumo de somente frutose como fonte de carboidrato. A frutose, se ingerida sozinha, apresenta uma velocidade de absorção mais lenta que pode causar transtornos gastrointestinais. A ingestão de carboidratos a uma velocidade de 30 a 60 gramas por hora tem demonstrado que melhora o desempenho. Essa quantidade de carboidratos pode ser conseguida bebendo de 600 a 1.200 ml por hora de uma bebida para esportista. É sempre preferível ingerir carboidratos na forma de solução do que na forma sólida, pelo fato das soluções apresentarem o efeito de minimizar ou mesmo prevenir a desidratação, a qual pode causar uma queda no desempenho e mesmo ocasionar sérios transtornos para o organismo. REFERÊNCIAS Adopo, E., F. Péronnet, D. Massicotte, G.R. Brisson, and C. Hillaire- Marcel (1994). Respective oxidation of exogenous glucose and fructose given in the same drink during exercise. J. Appl. Physiol. 76: 1014-1019. American College of Sports Medicine Position Stand (1996). Exercise and fluid replacement. Med. Sci. Sport Exerc. 28: i-vii. Below, P.R., R. Mora-Rodríguez, J. González-Alonso, and E.F. Coyle (1995). Fluid and carbohydrate ingestion independently improve performance during 1 h of intense exercise. Med. Sci. Sports Exerc. 27: 200-210. Bosch, A.N., S.C. Dennis, and T.D. Noakes (1994). Influence of carbohydrate ingestion on fuel substrate turnover and oxidation during prolonged exercise. J. Appl. Physiol. 76: 2364-2372. Burgess, W.A, J.M. Davis, W.P. Bartoli, and J.A. Woods (1991). Failure of low dose carbohydrate feeding to attenuate glucoregulatory hormone responses and improve endurance performance. Int. J. Sport Nutr. 1: 338-352. Coggan, A.R., and E.F. Coyle (1987). Reversal of fatigue during prolonged exercise by carbohydrate infusion or ingestion. J. Appl. Physiol. 63: 2388-2395. Coggan, A.R., and E.F. Coyle (1988). Effect of carbohydrate feedings during high-intensity exercise. J. Appl. Physiol. 65: 1703-1709. Coggan, A.R., and E.F. Coyle (1989). Metabolism and performance following carbohydrate ingestion late in exercise. Med. Sci. Sports Exerc. 21: 59-65. Coggan, A.R., and E.F. Coyle (1991). Carbohydrate ingestion during prolonged exercise: effects on metabolism and performance. Exerc. Sports Sci. Rev. 19: 1-40. Coggan, A.R., R.J. Spina, W.M. Kohrt, D.M. Bier, and J.O. Holloszy (1991). Plasma glucose kinetics in a well-trained cyclist fed glucose throughout exercise. Int. J. Sport Nutr. 1: 279-288. Coyle, E.F., A.R. Coggan, M.K. Hemmert, and J.L. Ivy (1986). Muscle glycogen utilization during prolonged strenuous exercise when fed carbohydrate. J. Appl. Physiol. 61: 165-172. Coyle, E.F., J.M. Hagberg, B.F. Hurley, W.H. Martin, A.A. Ehsani, and J.O. Holloszy (1983). Carbohydrate feeding during prolonged strenuous exercise can delay fatigue. J. Appl. Physiol. 55: 230-235. Coyle, E.F., M.T. Hamilton, J. Gonzalez-Alonso, S.J. Montain, and J.L. Ivy (1991). Carbohydrate metabolism during intense exercise when hyperglycemic. J. Appl. Physiol. 70: 834-840. Coyle, E.F., and S.J. Montain (1992). Benefits of fluid replacement with carbohydrate during exercise. Med. Sci. Sports Exerc. 24:S324- S330. Davis, J.M., S.P. Bailey, J.A. Woods, F.J. Galiano, M.T. Hamilton, and W.P. Bartoli (1992). Effects of carbohydrate feedings on plasma free tryptophan and branched-chain amino acids during prolonged cycling. Eur. J. Appl. Physiol. 65: 513-519. Davis, J.M., D. A. Jackson, M.S. Broadwell, J.L. Queary, and C.L. Lambert (1997). Carbohydrate drinks delay fatigue during intermittent, high-intensity cycling in active men and women. Int. J. Sport Nutr. 7: 261-273. Duchman, S.M., A.J. Ryan, H.P. Schedl, R.W. Summers, T.L. Bleiler, and C.V. Gisolfi (1997). Upper limit for intestinalabsorption of a dilute glucose solution in men at rest. Med. Sci. Sports Exerc. 29: 482- 488. Flynn, M.G., D.L. Costill, J.A. Hawley, W.J. Fink, P.D. Neufer, R.A. Fielding, and M.D. Sleeper (1987). Influence of selected carbohydrate drinks on cycling performance and glycogen use. Med. Sci. Sports Exerc. 19: 37-40. Hargreaves, M., and C.A. Briggs (1988). Effect of carbohydrate ingestion on exercise metabolism. J. Appl. Physiol. 65: 1553-1555. Hawley, J.A., S.C. Dennis and T.D. Noakes (1992). Oxidation of carbohydrate ingested during prolonged endurance exercise. Sports Med. 14: 27-42. Hawley, J.A., A.N. Bosch, S.M. Weltan, S.C. Dennis, and T.D. Noakes (1994). Glucose kinetics during prolonged exercise in euglycemic and hyperglycemic subjects. Pflügers Arch. 426: 378-386. Horowitz, J.F., R. Mora-Rodríguez, L.O. Byerley, and E.F. Coyle (1999). Substrate metabolism when subjects are fed carbohydrate during exercise. Am. J. Physiol. 276: E828-E835. Jeukendrup, A., F. Brouns, A.J.M. Wagenmakers, and W.H.M. Saris (1997). Carbohydrate-electrolyte feedings improve 1h time trial cycling performance. Int. J. Sports Med. 18: 125-129. Leijssen, D.P.C., W.H.M. Saris, A.E. Jeukendrup, and A.J.M. Wagenmakers (1995). Oxidation of exogenous [13C]galactose and [13C]glucose during exercise. J. Appl. Physiol. 79: 720-725. Lugo, M., W.M. Sherman, G.S. Wimer, and K. Garleb (1993). Metabolic responses when different forms of carbohydrate energy are consumed during cycling. Int. J. Sport Nutr. 3: 398-407. Mason, W.L., G. McConell, and M. Hargreaves (1993). Carbohydrate ingestion during exercise: liquid vs. solid feedings. Med. Sci. Sports Exerc. 25: 966-969. Massicotte, D., F. Péronnet, G. Brisson, K. Bakkouch, and C. Hillaire- Marcel (1989). Oxidation of a glucose polymer during exercise: comparison with glucose and fructose. J. Appl. Physiol. 66: 179-183. McConell, G.K., S. Fabris, J. Proietto, and M. Hargreaves (1994). Effect of carbohydrate ingestion on glucose kinetics during exercise. J. Appl. Physiol. 77: 1537-1541. McConell, G., K. Kloot, and M. Hargreaves (1996). Effect of timing of carbohydrate ingestion on endurance exercise performance. Med. Sci. Sports Exerc. 28: 1300-1304. McConell, G., R.J. Snow, J. Proietto and M. Hargreaves (1999). Muscle metabolism during prolonged exercise in humans: influence of carbohydrate availability. J. Appl. Physiol. 87: 1083-1086. Mitchell, J.B., D.L. Costill, J.A. Houmard, W.J. Fink, D.D. Pascoe, and D.R. Pearson (1989). Influence of carbohydrate dosage on exercise performance and glycogen metabolism. J. Appl. Physiol. 67: 1843- 1849. Murray, R., G.L. Paul, J. G. Seifert, and D.E. Eddy (1991). Responses to varying rates of carbohydrate ingestion during exercise. Med. Sci. Sports Exerc. 23: 713-718. Murray, R.,G.L. Paul, J.G. Seifert, D.E. Eddy, and G.A. Halaby (1989a). The effects of glucose, fructose, and sucrose ingestion during exercise. Med. Sci. Sports Exerc. 21: 275-282. Murray, R., J.G. Seifert, D.E. Eddy, G.L. Paul, and G.A. Halaby (1989b). Carbohydrate feeding and exercise: effect of beverage carbohydrate content. Eur. J. Appl. Physiol. 59: 152-158. Nicholas, C.W., C. Williams, H.K.A. Lakomy, G. Phillips, and A. Nowitz (1995). Influence of ingesting a carbohydrate-eletrolyte solution on endurance capacity during intermittent, high intensity shuttle running. J. Sports Sci. 13: 283-290. Rehrer, N.J., A.J.M. Wagenmakers, E.J. Beckers, D. Halliday, J.B. Leiper, F. Brouns, R.J. Maughan, K. Westerterp, and W.H.M. Saris (1992). Gastric emptying, absorption, and carbohydrate oxidation during prolonged exercise. J. Appl. Physiol. 72: 468-475. Saris, W.H.M., B.H. Goodpaster, A. E. Jeukendrup, F. Brouns, D. Halliday, and A.J.M. Wagenmakers (1993). Exogenous carbohydrate oxidation from different carbohydrate sources during exercise. J. Appl. Physiol. 75: 2168-2172. Shi, X., R.W. Summers, H.P. Schedl, S.W. Flanagan, R. Chang, and C.V. Gisolfi (1995). Effects of carbohydrate type and concentration and solution osmolality on water absorption. Med. Sci. Sports Exerc. 27: 1607-1615. Spencer, M.K., Z. Yan, and A. Katz (1991). Carbohydrate supplementation attenuates IMP accumulation in human muscle during prolonged exercise. Am. J. Physiol. 261: C71-C76. Tsintzas, K., R. Liu, C. Williams, I. Campbell, and G. Gaitanos (1993). The effect of carbohydrate ingestion on performance during a 30-km race. Int. J. Sport Nutr. 3: 127-139. Tsintzas, O.K., C. Williams, L. Boobis, and P. Greenhaff (1995). Carbohydrate ingestion and glycogen utilization in different muscle fibre types in man. J. Physiol. 489: 242-250. Tsintzas, O.K., C. Williams, L. Boobis, and P. Greenhaff (1996a). Carbohydrate ingestion and single muscle fibre glycogen metabolism during prolonged running in men. J. Appl. Physiol. 81: 801-809. Tsintzas, O.K., C. Williams, W. Wilson, and J. Burrin (1996b). Influence of carbohydrate supplementation early in exercise in endurance running capacity. Med. Sci. Sports Exerc. 28: 1373-1379. Wagenmakers, A.J.M., F. Brouns, W.H.M. Saris, and D. Halliday (1993). Oxidation rates of orally ingested carbohydrates during prolonged exercise in men. J. Appl. Physiol. 75: 2774-2780. Widrick. J.J., D.L. Costill, W.J. Fink, M.S. Hickey, G.K. McConell, and H. Tanaka (1993). Carbohydrate feedings and exercise performance: effect of initial muscle glycogen concentration. J. Appl. Physiol. 74: 2998-3005. Wilber, R.L., and R.J. Moffatt (1992). Influence of carbohydrate ingestion on blood glucose and performance in runners. Int. J. Sport Nutr. 2: 317-327. Williams, C., M.G. Nute, L. Broadbank, and S. Vinall (1990). Influence of fluid intake on endurance running performance. Eur. J. Appl. Physiol. 60: 112-119. * Este material foi traduzido e adaptado do original em inglês S.S.E. 75, volume 12 (1999), número 4. Para maiores informações, escreva para: Gatorade Sports Science Institute®/Brasil Caixa Postal 55085 CEP 04799-970 São Paulo-SP CARBOIDRATOS MELHORAM O DESEMPENHO Os carboidratos consumidos antes, durante e após diversos exercícios extenuantes de curta ou longa duração, contínuos ou intermitentes, melhoram o desempenho atlético. A ingestão de carboidratos e a prevenção da desidratação são as duas mais sérias e importantes intervenções nutricionais para melhorar o desempenho atlético. Uma boa maneira de prevenir a desidratação e fornecer carboidratos simultaneamente, durante os exercícios, é o consumo de bebidas para esportistas a cada 15 a 20 min. em quantidades adequadas. No caso de exercícios de baixa intensidade, praticado por atletas pequenos, a ingestão de 30 gramas de carboidratos por hora, através de uma bebida para esportista, fornece quantidade suficiente de energia, enquanto 60 gramas por hora, ou mais, pode ser necessário em exercícios de alta intensidade. Similarmente, quando a temperatura ambiente for fria, e os exercícios de baixa intensidade, a ingestão de 600ml por hora parece ser suficiente para prevenir a desidratação, porém quando a temperatura ambiente for elevada, e/ou os exercícios forem de alta intensidade, a ingestão de 1.200ml ou mais por hora é necessária. Na tabela 1, apresentamos um Guia básico para reposição de carboidratos e fluídos durante os exercícios. As bebidas para esportistas contendo sacarose, glicose ou maltodextrina (polímero da glicose), apresentam os mesmos efeitos positivos no desempenho atlético. Uma pequena quantidade de frutose, combinada com outra fonte de carboidrato, apresenta resultados benéficos, porém evite ingerir bebidas que contenham somente frutose, porque a frutose como única fonte de carboidrato é absorvida mais lentamente pelo intestino e também é lentamente transformada em glicose sangüínea. Devido à sua absorção ser lenta, pode causar algum desconforto gastrointestinal. Tabela 1. Guia para reposição de carboidratos e fluídos durante os exercícios.Ingerir carboidratos e prevenir a desidratação são, de longe, as duas intervenções nutricionais mais importantes e seguras para melhorar o desempenho atlético. A coluna INGESTÃO DE CARBOIDRATOS parte da premissa que as bebidas para esportistas tenham 6% dessa substância. Na coluna SUDORESE é considerado o peso perdido durante cada hora de exercícios, quando o atleta não ingeriu nenhum líquido, assim como não urinou. (ml = mililitros) A ingestão de pequenos volumes pode repor a pequena quantidade de fluidos perdidos pela sudorese, porém a reposição de carboidratos pode não ser adequada, a menos que volume maior de líquido seja ingerido. A ingestão de um volume médio parece ser adequada, neste caso, para repor tanto os fluidos perdidos assim como os carboidratos, para a maior parte dos atletas, e quando a intensidade dos exercícios não é muito elevada e o meio ambiente também não é muito quente. A ingestão de um volume elevado de líquidos é necessária para repor os fluidos perdidos através da sudorese, comumente este fato ocorre quando o atleta se exercita em ambientes quentes e em alta intensidade. 25SPORTS SCIENCE EXCHANGE SUDORESE INGESTÃO FREQUÊNCIA CARBOIDRATO DE LÍQUIDOS INGESTÃO ml/hora (ml) Intervalo (min.) (g/h) 250 60 15 15 500 125 15 30 750 190 15 45 1000 250 15 60 1250 310 15 75 1500 375 15 90 1750 440 15 105 2000 500 15 120
Compartilhar