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CRIMES DE TRÂNSITO Lei n.º 9503/97 O Código de Trânsito Brasileiro, em matéria criminal, apresenta-se fracionado em duas partes: a) Disposições gerais (art. 291/301), que trata dos aspectos processuais; b) Crimes em espécie (art. 302/312), que trata dos delitos e das penas. Com relação às disposições gerais é importante destacar que: - Procedimento nos crimes de trânsito (Art. 291) Em primeiro lugar, é importante definir o conceito de veículo automotor, eis a grande maioria dos tipos penais do CTB exige que o agente esteja conduzindo um desses veículos. Assim, nas linhas do art. 4.º, a definição encontra-se no Anexo I: “VEÍCULO AUTOMOTOR – todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico)”. Ademais, as normas e benefícios da Lei n.º 9099/95 só terão aplicação nos crimes de trânsito considerados como de menor potencial ofensivo, ou seja, aqueles cuja pena máxima não exceder a dois anos. Aplica-se, então, aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei n.º 9099/95, exceto se o agente estiver incluso nas hipótese do § 1º do art. 291, que são: I – sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; II – participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; III – transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora); O § 2º do artigo 291indica que nas hipóteses previstas no § 1do mesmo artigo deverá ser instaurado inquérito policial para a investigação da infração penal. Desta forma, caso ocorra algum dos três incisos do parágrafo anterior, deverá ser instaurado IP e, posteriormente, a competente ação penal pública incondicionada e o acusado não terá direito aos benefícios anteriormente citados. - Suspensão e Proibição da Habilitação ou Permissão para Dirigir Veículo (Arts. 292/293) A permissão para dirigir é o certificado válido por um ano, concedido ao candidato aprovado nos exames para habilitação. Já a Habilitação é a obtenção da CNH após término desse período, desde que não tenha cometido nenhuma infração grave ou gravíssima, nem seja reincidente em infração média. A Suspensão pressupõe, pois, a permissão ou habilitação já concedida. Ao seu turno, a Proibição aplica-se a quem ainda não obteve uma ou outra. A lei prevê expressamente essas penalidades nos crimes de previstos nos artigos 302, 303, 306, 307 e 308 do CTB. Não há previsão específica nos demais crimes de trânsito (arts. 304, 305, 309, 310, 311 e 312) e essas penas só poderão ser aplicadas em caso de reincidência em crimes de trânsito, sem prejuízo das demais penalidades, como dispõe o art. 296. Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos. Importante destacar que a dosagem do tempo de pena de suspensão ou proibição obedece aos mesmos critérios previstos no art. 68, caput, do CP. - Efeito Extrapenal da Condenação (art. 160) Art. 160. O condutor condenado por delito de trânsito deverá ser submetido a novos exames para que possa voltar a dirigir, de acordo com as normas estabelecidas pelo CONTRAN, independentemente do reconhecimento da prescrição, em face da pena concretizada na sentença. § 1º Em caso de acidente grave, o condutor nele envolvido poderá ser submetido aos exames exigidos neste artigo, ajuízo da autoridade executiva estadual de trânsito, assegurada ampla defesa ao condutor. § 2º No caso do parágrafo anterior, a autoridade executiva estadual de trânsito poderá apreender o documento de habilitação do condutor até a sua aprovação nos exames realizados. Trata-se de efeito extrapenal e automático da condenação, que independe de expressa motivação na sentença, por se tratar de penalidade administrativa independente da sanção penal. - Suspensão ou Proibição Cautelar (art. 294) Trata-se de decisão cautelar de natureza processual, que tem por finalidade impedir que o condutor continue dirigindo enquanto pendente o desfecho final do processo. Conforme o parágrafo único deste artigo da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo. - Comunicação da Suspensão ou Proibição da Permissão ou Habilitação Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente. O artigo legal acima citado refere-se a penalidade imposta pela autoridade judiciária, no sentido de que esta comunique a sua aplicação ao CONTRAN e ao órgão de trânsito do Estado em que o réu for domiciliado ou residente (DETRAN/CIRETRAN) - Reincidência específica e Suspensão ou Proibição da Permissão ou Habilitação Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. Nos crimes em que a Lei já prevê a pena de suspensão ou proibição de se obter permissão ou habilitação para dirigir veículo (arts. 302, 303, 306, 307 e 308), a reincidência atua como circunstância agravante genérica (art. 61, I do CP). Assim, naqueles em que o CTB não prevê essa modalidade de sanção (arts. 304, 305, 309, 310, 311 e 312), o juiz deve aplicá-la, em se tratando de reincidência específica, sem prejuízo das demais. - Multa Reparatória Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime. A multa não é punitiva, mas sim reparatória e somente pode ser aplicada se o crime resultar em prejuízo material, sendo inaplicável aos crimes de perigo. Trata-se de efeito secundário da condenação, que não é automático, exigindo menção expressa na sentença, que deverá fazer a prefixação das perdas e danos, em valor líquido e certo. A multa reparatória nunca poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo. - Agravantes Genéricas Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração: I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; Esta agravante é verificada quando se evidencia que uma pessoa é exposta a situação de risco, ou quando a conduta se reveste de tamanha intensidade que, em caso de acidente, os danos ao patrimônio de terceiro seriam extremamente elevados. II – utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas; Esta agravante não se aplica quando o próprio autor da infração é quem falsifica ou adultera as placas do veículo. Nesta hipótese, prevalece o artigo 311 do CP. III – sem possuirPermissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; Esta agravante genérica não se aplica aos crimes previstos nos arts. 302 e 303 (homicídio e lesão corporal culposa), porque neles esta circunstância é causa de aumento de pena. Ao art. 309 (dirigir sem permissão ou habilitação) por tratar-se de circunstância elementar ao tipo penal. Ao art. 310 (entregar veículo a pessoa não habilitada) porque nesse crime o sujeito ativo não é o seu condutor. IV – com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo; Esta agravante não se aplica ao crime do art. 309, pois é circunstância elementar desse crime. V – quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de carga; Esta agravante não se aplica aos arts. 302 e 303 (homicídio e lesão corporal culposa), porque neles esta circunstância é causa de aumento de pena. VI – utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante; A lei trata dos motores “envenenados”, pneus tala-larga, rebaixados, com películas excessivamente escuras, etc. Nos crimes de homicídio e lesão corporal culposa essa agravante genérica só poderá ser utilizada se a adulteração não tiver sido a própria causa do acidente, hipótese em que sua aplicação seria um “bis in idem”. VII – sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres. Visa aumentar a segurança viária. - Prisão em flagrante e fiança Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela. O propósito deste dispositivo é estimular o imediato e completo socorro as vítimas, para evitar a omissão de socorro por medo de ser preso (“fugir do flagrante”). Por outro lado, o condutor que deixar de prestar socorro a vítima, terá a pena de homicídio ou lesão corporal agravada de um terço até a metade da pena. No tocante aos crimes em espécie, cumpre destacar que: - Homicídio culposo e lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (art. 302 e 303) O CTB tipificou os crimes de homicídio culposo e lesão corporal culposa cometidos na direção de veículo automotor, com penas mais graves que os crimes homônimos descritos no Código Penal, arts. 121 § 3.º (detenção de um a três anos) e 129, § 6.º (detenção de dois meses a um ano). Não basta que o crime tenha ocorrido no trânsito, pois só comete esses delitos quem esteja na direção de veículo automotor. Somente se aplica o CTB na modalidade culposa: os homicídios dolosos e lesões dolosas cometidos na direção de veículo automotor, continuam a ser punidos pelo Código Penal. Para aplicação do CTB não importa o local onde o fato ocorreu, ou seja, aplica-se o CTB mesmo que fato não tenha ocorrido em via pública, pois o legislador não impôs esta condição. Ocorrendo homicídio culposo ou lesão culposa (dano efetivo), os diversos crimes de perigo (dano potencial) previstos no CTB ficarão absorvidos por aqueles. Ao agente que com uma única conduta culposa, provocar morte ou lesão corporal em duas ou mais vítimas, aplica-se a regra do concurso formal (art. 70 do CP), ou seja, aplica-se a pena mais grave, ou uma só pena, se idênticos os crimes. - Omissão de Socorro (art. 304) Somente o condutor envolvido em acidente é o sujeito ativo, desde que não tenha agido de forma culposa, pois neste caso, sua conduta será causa de aumento de pena dos crimes de homicídio ou lesão corporal. Com relação a tipicidade objetiva verifica-se que o crime ocorre quando o auxílio pode ser prestado sem que o agente corra risco pessoal; ou quando, não sendo possível socorrer, o agente deixa de pedir auxílio a autoridade. - Fuga do local do acidente (art. 305) Trata-se de Crime contra a Administração da Justiça, que fica prejudicada pela fuga, o que impede identificação do delito e a consequente apuração do ilícito na esfera penal e civil. estimulado ou colaborado diretamente para a fuga respondem como partícipes. - Embriaguez ao volante (art. 306) Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: § 1 As condutas previstas no caput serão constatadas por: I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. § 2 A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. § 3 O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. O primeiro requisito da conduta é que o agente esteja na condução de veículo automotor. Ocorre a condução ainda que ele esteja desligado, mas em movimento. O segundo requisito da conduta é que o agente esteja com sua capacidade psicomotora alterada em razão do álcool ou de outra substância psicoativa. Tanto a coleta de sangue, quanto o exame de alcoolemia (bafômetro) só podem ser realizados se existir a permissão do condutor, sob pena de nulidade da prova. Ou seja, o condutor tem o direito de se recusar a fornecer amostra de sangue e a soprar o bafômetro, pois ninguém pode ser forçado a produzir prova contra si mesmo, o que é inconstitucional, por violar o princípio “nemo tenetur se detegere”. Os sinais que indicam a alteração da capacidade psicomotora, assim como os métodos para sua comprovação são disciplinados pela Resolução CONTRAN n.º 432, de 23.01.2013. - Violação da suspensão ou da proibição imposta (307) A conduta típica consiste em dirigir veículo automotor durante o período em que esta prática está vedada Para sua configuração, basta o ato de dirigir, independentemente de expor alguém a risco. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação. O tipo penal tenta alcançar o maior número de condutas tais como: o “racha”, tomada de tempos individuais disputadas entre vários veículos, disputa de acrobacias (freadas, cavalos de pau, direção sobre uma roda (motos) ou duas rodas (carros)), etc. O crime somente caracterizará se ocorrer: na via pública, se não houver autorização das autoridades, se houver dano potencial a incolumidade pública. - Direção de veículo sem permissão ou habilitação (art. 309) Para que exista o crime é preciso que o condutor não tenha Permissão ou CNH, sendo também exigido que tenha ocorrido perigo de dano. A simples conduta de dirigir sem habilitação configura mero ilícito administrativo. Caso a habilitação esteja vencida, só existe o crime se o vencimento ocorreu há mais de trinta dias Se a permissão ou Habilitação estão suspensas, ocorre o delito do art. 307. Existe o crime se o condutor for habilitado para dirigir veículo de uma categoria e for pego dirigindo veículo de outra - Entrega de veículo a pessoa não habilitada (art. 310) Para configuração do delito não importa se o veículo foi bem conduzido, nem se o fato não produziuresultado danoso. - Excesso de velocidade em determinados locais (art. 311). Para a configuração do delito exige-se a proximidade de algum dos locais descritos no tipo penal. - Fraude no procedimento apuratório (art. 312) Comete o crime quem pratica a fraude para evitar a sua punição ou a de terceiro causador do evento alterando o local do acidente para impedir ou atrapalhar investigação presente ou futura.
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