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1 CARLOS WALTER VICENTINI RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS NOTAS DE AULAS MINISTRADAS PARA A TURMA DE ENGENHARIA CIVIL (4º/5º CICLO) DA UNIP Esforços internos: força normal força cortante (cisalhamento) momento fletor momento de torção Santos, março de 2011 2 6 Esforços Internos 6.1 Cargas resultantes internas (Esforços Internos Solicitantes - EIS). Uma das mais importantes aplicações da estática na análise de problemas de resistência dos materiais é poder determinar a força e o momento resultantes que agem no interior de um corpo e que são necessários para manter sua integridade quando submetido a cargas externas. Como exemplo, considere o corpo mostrado na figura a seguir mantido em equilíbrio pelas quatro forças externas F1, F2, F3 e F4 (desprezaremos o efeito do peso próprio por ser muito pequeno em relação ás forças aplicadas). Para obtenção das cargas internas que agem sobre uma região específica no interior de um corpo, é necessário usar o método das seções. O método exige que seja feita uma seção ou “corte” imaginário passando pela região onde as cargas internas deverão ser determinadas. Então, as duas partes do corpo são separadas e o diagrama de corpo livre de uma das partes é desenhado como na figura abaixo. 3 Podemos ver que há, na verdade, uma distribuição de forças internas agindo sobre a área “exposta” da seção. Essas forças representam os efeitos do material que está na parte superior do corpo agindo no material adjacente na parte inferior. Embora a distribuição exata da carga interna seja desconhecida, podemos usar as equações de equilíbrio para relacionar as forças externas sobre o corpo com a força e o momento resultantes da distribuição, FR e MRO, em qualquer ponto específico O na área secionada como mostrado na figura abaixo. Observe que FR age no ponto O, embora seu valor calculado não dependa da localização desse ponto. Por outro lado, MRO depende dessa localização, pois os braços do momento devem se estender de O até a linha de ação de cada força externa no diagrama de corpo livre. Na maioria das vezes, o ponto O escolhido coincide com o centróide da área secionada e, portanto, quase sempre escolheremos essa localização para O. Além disso, se um elemento for longo e delgado, como no caso de uma haste ou viga, a seção considerada será, de modo geral, perpendicular ao eixo longitudinal do elemento. Essa seção é denominada seção transversal. 4 Com o objetivo de relacionarmos as cargas resultantes, FR e MRO, com a distribuição de forças na área secionada e, desse modo, desenvolvermos equações que possam ser usadas para análise e projeto, devemos considerar as componentes de FR e MRO, que agem normal ou perpendicularmente à área secionada e no interior do plano da seção como ilustrado na figura a seguir. Há quatro tipos diferentes de cargas resultantes que podem ser definidos: 6.1.1 Força normal, N. Essa força age perpendicularmente à área e se desenvolve sempre que as cargas externas tendem a empurrar ou puxar os dois segmentos do corpo. 6.1.2 Força de cisalhamento (ou força cortante). Encontra-se no plano da área e é desenvolvida quando as cargas externas tendem a provocar o deslizamento de um dos segmentos do corpo sobre o outro. 6.1.3 Momento de torção ou torque ou momento torsor, T. Esse efeito é desenvolvido quando as cargas externas tendem a torcer um segmento do corpo em relação ao outro. 6.1.4 Momento fletor, M. É causado pelas cargas externas que tendem a fletir o corpo em torno de um eixo que se encontra no plano da área (seção transversal). 5 Convenção: a representação gráfica do momento de torção (ou torque) é apresentada em três dimensões, como um vetor acompanhado pelo símbolo gráfico de uma seta curvada ou uma reta com seta dupla na ponta. Pela regra da mão direita, o polegar dá à seta o sentido do vetor e os dedos, ou curvatura da seta, indicam a tendência da rotação (torção ou flexão). Cargas coplanares. Num sistema de forças coplanares como mostrado na figura abaixo, haverá na seção apenas componentes da força normal, força de cisalhamento e momento fletor. F2 F3 F1 F4 seção força de y F2 cisalhamentoV MO momento fletor F1 N força normal O mesmo raciocínio pode ser usado na viga desenhada abaixo: As cargas externas F1 e F2, que atuam na parte II da estrutura, tendem a provocar os esforços internos solicitantes V,N, T (ou Mt) e Mf na seção A, como mostrado na figura seguinte após o corte mental e a retirada da parte II. 6 É importante notar que para haver o equilíbrio na seção A, os esforços internos mencionados acima, V,N, T (ou Mt) e Mf, tem estar presentes na seção A e atuando no centróide C como forma de facilitar os cálculos e o raciocínio e permitir o estudo da resistência da estrutura. Esses esforços nascem, como foi dito, das condições de equilíbrio da seção e são determinados pelas equações de equilíbrio da estática vistas anteriormente. Para os valores de N, V, Mf e T (ou Mt) temos: N = F2 e atua perpendicular ao plano da seção A no eixo que passa pelo centróide C e na direção de z; N N 7 Ou V = F1 e atua no plano x-y da seção A na direção de y; V V ou Mf = F1 a e atua no plano y-z, perpendicular ao da seção A; Mf ou Mf T = F1 b e atua no plano x-y, o mesmo da seção A ; T ou Mt ou T ou Mt Pontos Importantes. Resistência dos materiais é um estudo da relação entre as cargas externas que agem sobre um corpo e a intensidade das cargas internas no interior do corpo. 8 Forças externas podem ser aplicadas a um corpo como cargas de superfície distribuídas ou concentradas ou como forças de corpo que agem em todo o volume do corpo. Cargas distribuídas lineares produzem uma força resultante cujo valor é igual a área sob o diagrama de carga e cuja localização passa pelo centróide dessa área. Um apoio produz uma força em uma determinada direção sobre o elemento a ele acoplado se ele impedir a translação do elemento naquela direção e produz um momento sobre o elemento se ele impedir a rotação. As equações de equilíbrio ΣF = 0 e ΣM = 0 devem ser satisfeitas de modo a impedir, respectivamente, a translação com movimento acelerado e a rotação de um corpo. Ao aplicarmos as equações de equilíbrio, é importante desenhar o diagrama de corpo livre antes, de modo a considerar todos os termos presentes nas equações. O método das seções é usado para determinar as cargas resultantes internas que agem sobre a superfície do corpo secionado. Em geral, essas resultantes consistem em uma força normal, uma força de cisalhamento, um momento de torção e um momento fletor. Procedimento de análise O método das seções é usado para determinar as cargas resultantes internas em um ponto localizadosobre a seção de um corpo. Para obter essas resultantes, a aplicação do método das seções deve obedecer às etapas descritas a seguir. Reações dos apoios Em primeiro lugar, decida qual segmento do corpo deverá ser considerado. Se esse segmento tiver um apoio ou um acoplamento com outro corpo, será necessário determinar as reações que agem no segmento do corpo escolhido antes de secioná-lo. Desenhe o diagrama de corpo livre para o corpo inteiro e aplique as equações de equilíbrio necessárias para obter essas reações. Diagrama de corpo livre 9 Mantenha todas as cargas distribuídas externas, momentos e forças que agem sobre o corpo em suas localizações exatas e, então, trace uma seção imaginária que passe pelo corpo no ponto onde as cargas resultantes internas devem ser estudadas. Normalmente, se o corpo representar um elemento de uma estrutura ou dispositivo mecânico, a seção será perpendicular ao eixo longitudinal do elemento. Desenhe um diagrama de corpo livre de um dos segmentos “cortados” e indique as resultantes desconhecidas N, V, M e T na seção. Essas resultantes geralmente são localizadas no ponto que representa o centro geométrico ou centróide da área secionada. Se o elemento estiver sujeito a um sistema de forças coplanares, somente N, V e M agem no centróide. Defina os eixos coordenados x, y, z com origem no centróide e mostre as componentes resultantes que agem ao longo dos eixos. Equações de equilíbrio Os momentos gerados na seção em torno de cada um dos eixos coordenados onde as resultantes agem devem ser somados. Isso elimina as forças desconhecidas N e V e permite uma solução direta para M (e T). Se a solução das equações de equilíbrio produzir um valor negativo para uma resultante, o sentido direcional admitido para a resultante será oposto ao mostrado no diagrama de corpo livre. Exercícios de fixação 1. Determine os Esforços Internos Solicitantes (EIS) na seção A do engastamento. Medidas em mm. 10 Figura 1 Figura 2 11 Figura 3 Analisando a sequencia das figuras anteriores e seguindo os passos dados anteriormente na páginas 8 e 9, chegamos aos valores de N, V e M com a ajuda fundamental do desenho do diagrama de corpo livre para o corpo inteiro - figuras 1 e 2. Note que a seção analisada é perpendicular ao eixo longitudinal do elemento (viga) como observado na página 8 (“Procedimento de análise”). Após o desenho do diagrama de corpo livre para o corpo inteiro, mantemos todas as cargas externas em suas exatas posições e traçamos uma seção imaginária passando pelo corpo no ponto onde as cargas resultantes internas devem ser determinadas – figura 2. Na figura 3 temos um desenho do diagrama de corpo livre de um dos segmentos cortados com as resultantes N, V e M na seção de interesse. Note que os esforços internos estão localçizados no centróide da área secionada. Como o elemento está sujeito a um sistema de forças coplanares, somente N, V e M agem no centroide. Das equações de equilíbrio da estática temos: ΣFz = 0 => N = F cos 63,5° => N = 11200 cos 63,5° => N = 5000 N Resposta ΣFy = 0 => V = F sen 63,5° => V = 11200 sen 63,5° => V = 1023 N Resposta ΣMC = 0 => M = V 40 = 1023 40 => M = 40920 Nmm Resposta 12 2. Determinar os Esforços Internos Solicitantes na seção A da barra representada na figura abaixo. 1º passo – determinar qual o segmento do corpo deverá ser considerado. Se esse segmento tiver um apoio ou um acoplamento com outro corpo, determinar as reações que agem no segmento escolhido antes de secioná-lo. Desenhe o diagrama de corpo livre para o corpo inteiro e aplique as equações de equilíbrio necessárias conforme representado na figura 1 abaixo. Figura 1 ΣFH = 0 => TH = T cos30º => TH = T 0,866 ΣFV = 0 => 2 TV – 1 = 0 => TV = 0,5 tf Como TV = T sen30º temos que T = TV / sen30º => T = 2 TV = 1 tf Então substituindo-se os valores, temos TH = 0,866 tf 13 1 m Figura 2.a TV Figura 2.b 2° passo – mantenha todas as forças externas em suas localizações exatas e trace uma seção imaginária que passe pelo corpo no ponto onde as cargas resultantes internas devem ser determinadas como na figura 2.a. 3° passo – desenhar um diagrama de corpo livre de um dos segmentos cortados e indique as resultantes desconhecidas N, V e M na seção conforme mostrado na figura 2.b. Então teremos: N = TH = 0,866 tf Resposta V = 1 – TV = 0,5 tf Resposta M = TV x 1m = 0,5 tfm Resposta 3. Determine as cargas internas resultantes que agem na seção transversal em C da viga mostrada na figura abaixo. TH 14 270 N/m A B C 3 m 6 m Figura a Figura b Solução 1º passo - Reações dos apoios. Este problema pode ser resolvido da maneira mais direta considerando o segmento CB da viga, já que, assim, as reações dos apoios em A não têm de ser calculadas. 2º passo - Diagrama de corpo livre. Traçar uma seção imaginária que passe pela perpendicular ao eixo longitudinal da viga no ponto onde as cargas resultantes internas devem ser determinadas no segmento CB mostrado na figura b. É importante manter a carga distribuída exatamente onde ela se encontra no segmento até que a seção tenha sido feita. Somente depois disso é que essa carga será substituída por uma única força resultante. Observe que a intensidade da carga distribuída em C é determinada por proporção, isto é, pela figura a, temos: w/6 m = (270 N/m)/9 m => w = 270 x 6/9 => w = 180 N/m. O valor da resultante da carga distribuída é igual à área sob a curva de carga (que é um triângulo) e age no centróide dessa área. Assim, F = ½ (180 N/m) (6 m) = 540 N, que age a 1/3 (6 m) = 2 m de C, como mostrado na figura b. 15 Equações de equilíbrio. Aplicando as equações de equilíbrio, temos: ΣFx = 0 => -NC = 0 => NC = 0 Resposta ΣFy = 0 => VC – 540 N = 0 => VC = 540 N Resposta ΣMC = 0 => -MC – 540 N (2 m) = 0 MC = -1080 Nm Resposta Observação: o sinal negativo indica que MC age na direção oposta à mostrada no diagrama de corpo livre. 16 Podemos resolver o mesmo problema usando agora o segmento AC como representado na figura c abaixo. 1º passo - Reações dos apoios.Primeiramente teremos que calcular as reações de apoio em A, RVA e RMA já que RHA = 0 pois não temos cargas na direção horizontal. Para tal, teremos que considerar a figura a, abaixo, pois temos que analisar a situação antes de secionar a viga. 270 N/m A B C 3 m 6 m Figura a F = 270 x 9 / 2 = 1215 N RVA RMA 3 m 6 m Figura d ΣFV = 0 => RVA – F = 0 => RVA = 1215 N ΣMA = 0 => RMA – F x (3 m) = 0 => RMA = 1215 x 3 RMA = 3645 Nm 17 2º passo – Diagrama de corpolivre. Manter todas as cargas distribuídas externas que agem sobre o corpo em suas localizações exatas e trce uma linha imaginária que passe pelo corpo no ponto onde as cargas resultantes internas devem ser determinadas como mostrado na figura a. 3º passo – Desenhe um diagrama de corpo livre de um dos segmentos “cortados” e indique as resultantes desconhecidas N, V e M na seção como mostra a figura c. A B C 3 m 6 m Figura c 4º passo – Equações de equilíbrio. ΣFx = 0 => NC = 0 Resposta ΣFy = 0 => RVA – 135 – 540 – VC = 0 => VC = 1215 -135 – 540 18 VC = 540 N Resposta ΣMA = 0 => MC – VC x (3 m) – 540 x (1,5 m) – 135 x (1 m) + RMA = = 0 => MC = 540 x 3 + 540 x 1,5 + 135 – 3645 MC = -1080 Nm Resposta Oservações: 1. O fato de MC ter dado um valor negativo significa que seu sentido é o oposto ao adotado no desenho do diagrama de corpo livre. 2. Lembramos que o valor numérico da força resultante de uma carga distribuída é igual a área representada pelo seu diagrama de carga aplicada no seu centróide, ou seja, nós temos um retângulo com lados de 180 N/m por 3 m , e um triângulo de 90 N/m de altura por 3 m de base. Então os cálculos, passo a passo, estão demonstrados abaixo: 180 N/m Área = 180 (N/m) x 3 (m) = 540 N 3 m 90 N/m Área = 3 (m) x 90 (N/m) / 2 = 135 N 3 m
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