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1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS COMPETÊNCIA CONCEITO Competência é o poder que tem um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição diante de um caso concreto. Não é correto definir a competência como sendo o limite ou medida da jurisdição. A jurisdição, a rigor, não é limitada, tanto é que a decisão judicial produz efeitos sobre todo o território nacional. O que é limitado, na verdade é a competência, isto é, o âmbito de atuação de cada magistrado. Assim, cada juiz só pode atuar dentro dos limites da sua competência. Por isso, o art. 42 do CPC salienta que as causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei. FUNDAMENTO A razão da existência da competência é dupla: a) Impossibilidade de um único magistrado decidir todas as lides; b) Aprimoramento das decisões judiciais à medida que são proferidas por órgãos jurisdicionais especializados no julgamento de determinadas lides. FONTES NORMATIVAS DA COMPETÊNCIA De acordo com o art. 44 do CPC, a competência é disciplinada pelos seguintes instrumentos normativos: Constituição Federal, Código de Processo Civil, Leis Processuais Especiais, Normas de Organização Judiciária e Constituições Estaduais. O art. 44 não estabelece uma ordem de preferência, mas apenas elenca as fontes normativas sobre competência (Enunciado 236 do Fórum Permanente de Processualistas Civis). O §1º do art. 125 da CF, prevê duas regras importantes: a) a competência dos Tribunais Estaduais será definida na Constituição do Estado. A Constituição do Estado de São Paulo, por exemplo, prevê que o Tribunal de Justiça tem competência originária para os mandados de segurança impetrados contra ato de Governador ou Secretário de Estado. b) A lei de organização judiciária será de iniciativa do Tribunal de Justiça. Trata-‐se, pois, de lei estadual, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo Governador. As normas de organização judiciária compreendem três instrumentos normativos: a) Leis estaduais que versam sobre a organização judiciária, cujo projeto é de iniciativa exclusiva do Tribunal de Justiça. Estas leis podem criar, extinguir ou desmembrar comarcas, distritos, juízos (varas) e foros regionais. b) Provimentos que definem a competência dos diversos juízos (varas). Trata-‐se de um ato administrativo de caráter normativo emanado do Tribunal de Justiça (art. 96, I, a, da CF). c) Regimento Interno do Tribunal: é um ato administrativo normativo, isto é, de caráter geral, emanado do Tribunal de Justiça, que define a competência dos seus órgãos jurisdicionais fracionários (Câmaras ou Turmas), conforme art. 96, I, a, da CF. ORDEM DE ANÁLISE DA COMPETÊNCIA Na identificação do órgão jurisdicional competente, deve ser observada a seguinte ordem: 2 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS a) verificar se a justiça brasileira [e competente para julgar a causa; b) se for, apurar se é o caso de competência originária do Tribunal; c) se não for, analisar qual é a justiça competente, que pode ser a justiça especial (eleitoral, trabalhista e militar) ou justiça comum (federal e estadual); d) verificar o foro competente (comarca ou seção judiciária); e) verificar o juízo (vara) competente. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA: LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL. A justiça brasileira tem competência apenas para as causas dos arts. 21 a 23 do CPC. Fora dessas hipóteses, o processo deve ser extinto sem resolução do mérito; o processo não será enviado ao país supostamente competente, sob pena de ofensa à soberania estrangeira. As causas dos arts. 21 e 22 do CPC são de jurisdição concorrente ou cumulativa, isto é, podem ser julgadas tanto no Brasil quanto pela justiça de outro país. Nesses casos, se a mesma ação tramitar na justiça brasileira e na justiça de outro país, não haverá litispendência. Com efeito, a existência de processo no exterior não obsta a tramitação de processo idêntico no Brasil. Aliás, ainda que haja o trânsito em julgado de uma sentença estrangeira não homologada no Brasil, nada obsta que a mesma ação seja aqui proposta. Com efeito, a sentença estrangeira só pode surtir efeitos no Brasil após a sua homologação pelo Superior Tribunal de Justiça. Antes dessa homologação, será um ato ineficaz, salvo na hipótese de divórcio consensual e em outras previstas em Tratados que dispensam a referida homologação, nos termos do art. 961, §5º, do CPC. Sobre o assunto, dispõe o art. 24 do CPC: “A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta aque a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhes são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil”. Assim, enquanto não homologada a sentença estrangeira, pelo Superior Tribunal de Justiça, nada obsta que a mesma ação seja proposta perante a justiça brasileira. E, da mesma forma, a pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira, conforme parágrafo único do art. 24 do CPC. Em tal situação a sentença brasileira só prevalecerá se transitar em julgado antes da homologação da sentença estrangeira. Se, ao revés, a homologação da sentença estrangeira ocorrer primeiro que o trânsito em julgado da sentença brasileira, a primazia será dada à sentença estrangeira. Força convir, portanto, que só a coisa julgada da sentença brasileira impede a homologação da sentença estrangeira, cujo processo de homologação, nesse caso, deverá ser extinto sem resolução do mérito. Igualmente, uma vez homologada pelo STJ a sentença estrangeira, extingue-‐se sem resolução do mérito o processo que tramita no Brasil, por força da coisa julgada da sentença estrangeira. Ainda sobre esses casos de competência internacional concorrente, previstos nos arts. 21 e 22 do CPC, exclui-‐se a competência da justiça brasileira quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo no estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação (art. 25 do CPC). Se o réu não arguiu na contestação opera-‐se a preclusão e, em razão disso, o processo poderá tramitar perante a justiça brasileira. Por outro lado, o art. 23 do CPC prevê os casos de competência internacional exclusiva da justiça brasileira, vedando-‐se assim a homologação de sentença estrangeira e a cláusula de eleição de foro estrangeiro. Nessas causas do art. 23 do CPC, a eventual sentença estrangeira será um ato 3 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS totalmente inócuo no Brasil. Passo agora à análise dos casos de competência internacional concorrente. Os arts. 21 e 22 do CPC legitima a justiça brasileira a processar e julgar as ações em que: I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil. O parágrafo único do art. 21 do CPC esclarece que, para esse fim, considera-‐se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que tiver agência, filial ou sucursal no Brasil. II – no Brasil tiver que ser cumprida a obrigação. Ainda que ambas as partes sejam estrangeiras, o Brasil tem jurisdição para julgar a causa. III – o fundamento da ação seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Exemplo: ação de indenização entre estrangeiros em razão de algum acidente ocorrido em território brasileiro. Fora dessas hipóteses, em regra, a ação não pode ser proposta no Brasil, salvo se houver cláusula em que as partes, expressa ou tacitamente, acordaram em se submeterem à jurisdição brasileira (art. 22, III, do CPC). Vê-‐se assim que um dos critérios que legitimam a jurisdição brasileira é o domicílio do réu ser no Brasil. Não se exige que o autor seja domiciliado no Brasil. Em contrapartida, o autor, que tenha domicílio ou residência no Brasil, não poderá, em regra, acionar a justiça brasileira quando o réu for domiciliado no exterior, salvo em duas situações: a) Ação de alimentos; b) Ação decorrente de relação de consumo. Nessas duas hipóteses, para se propor a ação no Brasil, basta que o autor tenha domicílio ou residência no Brasil, ainda que réu esteja domiciliado no exterior ou que a obrigação tenha que ser cumprida fora do Brasil ou se origine de fato ou ato ocorrido no exterior. Na ação de alimentos, a justiça brasileira é também competente quando nem o autor nem o réu forem domiciliados ou residentes no Brasil, mas, nesse caso, exige-‐se, para que a ação tramite no Brasil, que o réu mantenha vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos (art. 22, I, b, do CPC). Frise-‐se, no entanto, que em todas essas hipóteses, a competência da justiça brasileira é concorrente, pois a sentença estrangeira, desde que homologada pelo STJ, produzirá efeitos no Brasil. O art. 23 do CPC, por sua vez, prevê as hipóteses de jurisdição exclusiva da autoridade judiciária brasileira, que são as seguintes: a) Ações relativas a imóveis situados no Brasil. O objetivo é a proteção do território nacional. Abrange tanto as ações reais quanto as ações pessoais, como é o caso, por exemplo, da ação de despejo. b) Ações de sucessão hereditária, ainda que o autor daherança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Exemplos: inventário e partilha de bens situados no Brasil; alvará de levantamento de dinheiro deixado pelo morto; confirmação de testamento particular etc. Nesses casos, embora a ação deva tramitar no Brasil, a lei civil que regerá a sucessão será a do domicílio do morto, e não a lei brasileira, conforme art. 10 da LINDB. c) Ações de divórcio, separação judicial e dissolução de união estável, que envolvam partilha de bens situados no Brasil. Essas três ações podem ser propostas fora do Brasil, desde que não versem sobre partilha de bens situados no Brasil, pois, nesse caso, não se homologará a sentença estrangeira, a competência será exclusiva do Brasil, ainda que o titular dos bens seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Por derradeiro, é ainda preciso analisar o princípio da proibição da denegação de justiça, segundo o qual o país inicialmente incompetente para o julgamento torna-‐se o competente quando se comprovar que nenhum outro juízo estrangeiro tem competência para o julgamento. 4 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS Normalmente, as ações são propostas em primeira instância, relegando-‐se aos Tribunais apenas a competência recursal. Todavia, em certas hipóteses a competência é originária, isto é, as ações são ajuizadas diretamente nos tribunais. Os casos de competência originária do STF, no âmbito civil, previstos no art. 102 da CF, são: a) Ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual impugnados em face da Constituição Federal. b) Ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal. c) Mandado de segurança e habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas das Câmaras dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal. d) Litígio em que, de um lado figura, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro lado, a União ou Estado Membro ou Distrito Federal ou Território. e) As causas, e os conflitos entre a União e os Estados Membros ou entre a União e o Distrito Federal. Exemplo: conflito de atribuição entre o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual. f) As causas e os conflitos entre os Estados Membros ou entre Estado Membro e Distrito Federal, inclusive as respectivas entidades da administração indireta. Ex: conflito de atribuições entre Ministério Público de Estados diferentes. g) Ação rescisória dos julgados do próprio STF. h) Reclamação que visa preservar competência do STF e garantir a autoridade de suas decisões. Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato que se alega tenha desrespeitado a decisão do STF (Súmula 734 do STF). i) Ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados. Exemplo: questão de saber se, em face da LOMAN, os juízes tem direito à licença prêmio (Súmula 731 do STF). j) Ação em que mais da metade dos membros do Tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados. O mandado de segurança impetrado contra deliberação administrativa do tribunal de origem, da qual haja participado a maioria ou a totalidade de seus membros, não gera por si só, a competência originária do STF (súmula 623 do STF). De fato, a competência originária exige o impedimento ou interesse dos magistrados na decisão. k) Conflito de competência entre o STJ e quaisquer Tribunais. Exemplo: conflito entre o STJ e o TRT. Não há, porém, conflito entre o STJ e o Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, pois esses dois tribunais lhes são hierarquicamente inferiores e, sendo assim, prevalecerá o que for decidido pelo STJ. l) Conflito de competência entre Tribunais Superiores e quaisquer tribunais. m) Conflito de competência entre Tribunais Superiores. n) Mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores ou do próprio Supremo Tribunal Federal. o) Ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público. 5 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS Em relação à competência originária do STJ, prevista no art. 105 da CF, em matéria cível, é a seguinte: a) Mandados de segurançae habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio STJ. b) Conflito de competência entre quaisquer tribunais que não sejam Tribunais Superiores. Exemplo: conflito entre os Tribunais de Justiça de São Paulo e Minas Gerais. c) Conflito entre Tribunais e juízes a ele não vinculados. Exemplo: conflito entre juiz estadual do Rio Grande do Sul e Tribunal de Justiça da Bahia. d) Conflito entre juízes vinculados a tribunais diversos. Exemplo: conflito entre juiz estadual e juiz federal. Todavia, o conflito entre juiz estadual e juiz do trabalho é julgado pelo Tribunal Regional do Trabalho (súmula 180 do STJ). e) Reclamação para preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões. f) Ações rescisórias de seus julgados. g) Conflito de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativa de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União. h) Mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for de atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos da competência do STF e dos órgãos da justiça especial (militar, eleitoral e trabalhista) e dos órgãos da justiça federal. i) Homologação de sentença estrangeira. j) Exequatur às cartas rogatórias. Quanto à competência originária dos Tribunais Regionais Federais, concentra-‐se no art. 108 da CF, que, em matéria cível, abrange: a) Os mandados de segurança e habeas data contra ato do próprio TRF ou de juiz federal. b) Ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região. c) Conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao TRF. A súmula 3 do STJ dispõe que: “Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre Juiz Federal e Juiz Estadual investido de jurisdição federal”. Esta súmula abrange as causas de competência delegada, isto é, que podem ser julgadas pela justiça estadual quando não houver vara federal. A súmula 428 do STJ reza que: “Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária”. Por fim, em relação à competência originária dos Tribunais de Justiça Estaduais, as hipóteses devem ser previstas nas respectivas Constituições Estaduais, conforme §1º do art. 125 da CF. Exemplo: mandado de segurança contra ato de Governador ou Secretário de Estado; conflito entre juízes estaduais do mesmo Estado. O Código de Processo Civil ainda prevê a competência originária dos Tribunais de Justiça para as ações rescisórias de julgados seus ou das sentenças de juízes aos respectivos tribunais de justiça. 6 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS PERGUNTAS: 1) É correto definir a competência como sendo o limite da jurisdição? 2) Quais as fontes normativas da competência? 3) Quais as duas regras do para 1 do art. 125 da CF? 4) No âmbito estadual, quais são as normas de organização judiciária? 5) A competência dos tribunais estaduais é definida por quem? E a competência da Câmaras e turmas dos tribunais estaduais? 6) Explique a ordem de análise da competência. 7) O que acontece com o processo quando a justiça brasileira for incompetente? 8) A ação que tramita no exterior pode também tramitar no Brasil? Há litispendência? 9) A sentença estrangeira pode produzir efeitos no Brasil? 10) A sentença estrangeira pode ser homologada quando tramita ação idêntica no Brasil? 11) Homologada a sentença estrangeira o que acontece com a ação idêntica que tramita no Brasil? 12) É possível eleição de foro estrangeiro? 13) Quais a diferença entre competência internacional concorrente e exclusiva? 14) Quais os casos de competência internacional concorrente? 15) É possível propor a ação no Brasil quando o réu for domiciliado no exterior? 16) Se o autor e o réu forem domiciliados no exterior, a ação de alimentos pode ser proposta no Brasil? 17) Quais são as hipóteses de jurisdição brasileira exclusiva? 18) O que é o princípio da proibição da denegação da justiça? 19) O STF tem competência originária em mandados de segurança e habeas data? 20) Quem julga as ações em que estado estrangeiro ou organismo internacional figura como autor ou réu? 21) Quem julga o conflito de atribuição entre o MP estadual e o MP federal? 22) Quem julga as causas entre dois Estados-‐Membros? 23) O que diz a súmula 731 do STF? 24) Quais os conflitos de competência que são julgados pelo STF? 25) O STF julga mandado de injunção? 26) As ações envolvendo magistrados são julgadas pelo STF?27) O STJ julga mandado de segurança e habeas data? E mandado de injunção? 28) Quais os conflitos de competência que são julgados pelo STJ? 29) Quem homologa sentença estrangeira? Quem concede exequatur às cartas rogatórias? 30) O TRF julga mandado de segurança e habeas data? 31) Qual o conflito de competência que é julgado pelo TRF? 32) Quem define a competência originária dos Tribunais de Justiça Estaduais? 33) Quem julga mandado de segurança contra atos de governador? 34) Qual conflito de competência que é julgado pelo Tribunal de Justiça? 7 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESPECIAL E DA JUSTIÇA COMUM A justiça pode ser comum e especial. A justiça especial compreende: a militar, eleitoral e trabalhista. A justiça comum, por sua vez, abrange: a federal e a estadual. A Constituição Federal fixa a competência da justiça especial e da justiça comum federal. Todavia, a Constituição não arrola a competência da justiça estadual, que é residual, compreende todas as demais causas não abrangidas pelas demais justiças. A justiça militar tem competência penal para o julgamento dos crimes militares, bem como para as ações judiciais contra atos disciplinares militares (§§4º e 5º do art. 125 da CF). A justiça eleitoral tem apenas competência para as questões relativas ao processo eleitoral e alistamento de eleitores até a diplomação. As questões posteriores à diplomação, como posse e mandato, são da competência da justiça comum. A justiça do trabalho, por sua vez, julga as controvérsias oriundas da relação de trabalho, ainda que o empregador seja pessoa jurídica de direito público (União, Estados, Distrito Federal, Municípios e Autarquias) ou entes de direito público externo (art. 114 da CF). Quanto aos casos de competência dos juízes federais, concentram-‐se no art. 109 da CF, que estabelece um rol taxativo, vedando-‐se a sua ampliação por normas infraconstitucionais. De acordo com o citado art. 109, a justiça federal de primeira instância tem competência para processar e julgar: I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes, exceto as de falência, as de acidentes do trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Quanto à sociedade de economia mista, a competência é da justiça estadual (súmulas 42 do STJ, 508 e 556 do STF). Assim, as ações em que o Banco do Brasil e a Rede Ferroviária Federal figuram como partes é da competência da justiça estadual, pois se tratam de sociedades de economia mista (súmulas 505 do STJ, 251 e 508 do STF). Assim, as ações envolvendo sociedade de economia mista são de competência da justiça estadual, ainda que haja participação de capital federal em sua constituição (Súmula 556 do STJ). Igualmente, a competência é da justiça estadual, quando figurar como parte concessionária de serviço público, por exemplo, empresas telefônicas (súmula vinculante 27). Mas se a ANATEL for litisconsorte passivo, a competência será da justiça federal, pois sua natureza jurídica é de autarquia federal. Quando o processo envolver Conselhos de Fiscalização Profissional, a competência é da justiça federal, conforme súmula 66 do STJ e art. 45 do CPC. A súmula 324 do STJ também dispõe que: “Compete à Justiça Federal processar e julgar ações de que participa a Fundação Habitacional do Exército, equiparada à entidade autárquica federal, supervisionada pelo Ministério do Exército”. De fato, as fundações públicas e agências reguladoras federais equiparam-‐se às autarquias e, por isso, a competência é da justiça federal. Basta, para que a competência seja da justiça federal, que um dos entes referidos no inciso I do art. 109 da CF seja parte ou terceiro interveniente (assistente, opoente, denunciação da lide e chamamento ao processo), conforme art. 45 do CPC. Todavia, quando a União ou algum ente federal intervém como “amicus curiae”, a competência não se desloca para a Justiça Federal (§1º do art. 138 do CPC). Mesmo nos processos de jurisdição voluntária, a intervenção de um desses entes federais 8 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS torna a competência da Justiça Federal. A propósito, dispõe a Súmula 32 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar justificações judiciais destinadas a instruir pedidos perante entidades que têm exclusividade de foro, ressalva a aplicação do art. 15, II, da Lei 5.010/66”. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal se nele intervir esses entes federaisdo inciso I do art. 109 da CF. É, pois, da competência exclusiva do juiz federal analisar a existência de interesse jurídico de um desses entes (art. 45 do CPC e súmula 150 do STJ). O juiz estadual deve simplesmente determinar a remessa dos autos à Justiça Federal, sem analisar o mérito do pedido da intervenção da União. A decisão do juiz federal que exclui da relação processual o ente federal não pode ser reexaminada no juízo estadual (súmula 254 do STJ). Por consequência, o juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for excluído do processo (§3º do art. 45 do CPC). No tocante às ações que versam sobre mais de um pedido, caso a União ou um dos entes federais de inciso I do art. 109 da CF pretender ingressar no processo em relação a apenas um dos pedidos, os autos não serão remetidos à Justiça Federal, conforme §1º do art. 45 do CPC. O juízo, perante o qual a ação foi proposta, apreciará o pedido de sua competência e extinguirá a ação sem resolução do mérito em relação ao pedido que é da competência federal, consoante se conclui da análise do §2º do art. 45 do CPC. Quanto ao Ministério Público Federal, como se sabe, não é ele o representante da União, e, por isso, a sua presença no processo, por si só, não deveria deslocar a competência para a Justiça Federal. O MPF pode inclusive propor ações em quaisquer juízes e tribunais (art. 37, II, da Lei Complementar 75/1993). Por consequência, nas ações civis públicas em que há litisconsórcio ativo entre o Ministério Público Federal e Estadual a competência, por si só, não deveria deslocar-‐se para a justiça federal. Igualmente, quando se tratar de ações movidas pela Defensoria Pública da União que, como se sabe, também não é representante legal da União. Não obstante, o STJ sustenta que nas ações em que há litisconsórcio ativo entre o Ministério Público Estadual e Federal, a competência é da Justiça Federal, o argumento é que o MPF é um órgão da União, o que é suficiente para atrair a incidência do art. 109, I, da CF. Finalmente, sobre as exceções, isto é, ações em que não tramitam na justiça federal, ainda que a União ou entidades federais do inciso I do art. 109 figurem como parte ou intervenientes, são os seguintes: a) Falência. O inciso I do art. 45 do CPC inclui também, dentre as exceções, os processos de recuperação judicial e insolvência civil, pois assemelham-‐se à falência. Sobre a insolvência civil, a súmula 270 do STJ já previa que o ingresso da União, para exercer o seu direito de preferência, não desloca a competência para a Justiça Federal. b) Acidentes de Trabalho. A ação de acidente de trabalho movida em face do INSS é da competência da Justiça Estadual, ainda que se trate de pedido de revisão de benefício, mas as demais ações contra o INSS, que não se relacione a acidentes de trabalho, é da competência da Justiça Federal. Quanto às ações de indenização por acidente de trabalho, movidas em face do empregador, ainda que este seja a União, é da competência da Justiça do Trabalho. c) Causas eleitorais. A competência é da Justiça Eleitoral. d) Causas Trabalhistas. A competência é da Justiça do Trabalho, ainda que envolva servidores públicos federais. A competência só será da Justiça do Trabalho quando de tratar de servidor público celetista, isto é, cujo contrato de trabalho seja regido pela CLT. Quanto aos servidores públicos estatutários, de acordo com o STF, a competência é da Justiça Comum Federal ou Estadual, conforme se trate de servidor público federal ou estadual. Por outro lado, de acordo com a súmula 9 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 82 do STJ, compete à Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhistas, processar e julgar os fatos relativos à movimentação do FGTS. É, no entanto, da competência da Justiça Estadual autorizar o levantamento dos valores relativos ao PIS/PASEP e FGTS, em decorrência do falecimento do titular da conta (súmula 161 do STJ). II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no Brasil. Trata-‐se das ações em que, de um lado, seja como autor ou réu, figura Estado estrangeiro ou organismo internacional como ONU, FMI, OIT, BIRD, etc , e, do outro lado, o Município ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil. A competência é da justiça federal, independentemente da matéria em discussão, pois o critério adotado é o da qualidade da parte. A expressão organismo internacional não se refereàs empresas multinacionais. Quando às ações trabalhistas que envolvem esses entes é da Justiça do Trabalho. Na ação entre Estados estrangeiros ou organismo internacional e União, Estados-‐Membros ou Distrito Federal, a competência será originária do STF, conforme art. 102, I, e, da CF. III – causas fundadas em tratados ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional. Aqui, para que a competência seja da Justiça Federal, não é necessário que a União figure como parte ou terceiro interveniente no processo. Exemplos: ação de alimentos movida pelo Procurador Geral da República, como substituto processual do alimentado residente no exterior, com base no Tratado de Nova Iorque; ação de busca e apreensão de menor trazida irregularmente para o Brasil, com base na Convenção de Haia. Acrescente-‐se que só é da competência da justiça federal as ações que tenham por objeto essencial as obrigações contidas em Tratados. A competência para as ações de indenização por danos em mercadorias no transporte aéreo é da Justiça Estadual, ainda que se discuta a Convenção de Varsóvia relativamente ao limite da responsabilidade do transportador, pois as obrigações essenciais são previstas no direito interno brasileiro. IV – causas relativas a graves violações de direitos humanos decorrentes de Tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte. Esta hipótese abarca tanto a competência penal quanto a competência civil. É preciso, para que a competência seja da justiça federal, que haja uma grave violação dos direitos humanos. De acordo com o STJ, para deslocar-‐se a competência para a Justiça Federal, é preciso demonstrar a ineficiência das autoridades estaduais para conduzir o assunto. Nesses casos, o Procurador Geral da República, em qualquer fase do inquérito ou processo, pode suscitar o conflito de competência perante o STJ para deslocar a competência para a Justiça Federal, nos termos do §5º do art. 109 da CF. Contra essa decisão do STJ caberá recurso extraordinário ao STF. V – mandado de segurança e habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais. Considera-‐se federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada (art. 2º da Lei 10 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 12.016/2009). Equipara-‐se à autoridade, para efeito de mandado de segurança ou habeas data, os delegatários de serviços públicos, sejam eles pessoas naturais ou pessoas jurídicas. Exemplo: instituição privada de ensino superior. No caso do exercício da função delegada, não caberá mandado de segurança contra atos de mera gestão comercial, mas apenas contra atos relacionados ao exercício da função delegada. A súmula 34 do STJ dispõe que compete à Justiça Estadual processar e julgar causa relativa à mensalidade escolar, cobrada por estabelecimento particular de ensino, pois se trata de ato de mera gestão, que não se relaciona ao exercício da função pública. VI – execução de carta rogatória, após o exequatur. O exequatur da carta rogatória é da competência do STJ. O exequatur é a decisão judicial que autoriza o cumprimento da carta rogatória. Quanto ao cumprimento da carta rogatória, a competência é do juízo federal de primeiro grau. VII – execução de sentença estrangeira, após a homologação pelo STJ. Quem homologa a sentença estrangeira é o STJ, mas a sua execução é no juízo federal de primeiro grau. VIII – causas referentes à nacionalidade e naturalização. O art. 32, §4º, da Lei 6.015/73, prevê que os filhos de brasileiro ou brasileira, nascidos no estrangeiro, podem optar pela nacionalidade brasileira perante o juízo federal. Portanto, qualquer causa referente à nacionalidade, inclusive o exercício do direito de opção, é da competência da Justiça Federal. Quanto à ação de inclusão de patronímico por brasileira naturalizada, bem como a ação de retificação do registro civil em razão da perda ou aquisição da nacionalidade são da competência da Justiça Estadual. IX – disputa sobre Direitos Indígenas. A competência da Justiça Federal, de acordo com o STF e STJ, refere-‐se apenas aos direitos coletivos dos índios. Quanto aos direitos individuais de cada índio, por exemplo, pedido de alvará judicial para levantamento de valor depositado em caderneta de poupança, a competência é da Justiça Estadual. A propósito, na área penal, também compete à Justiça Estadual processar e julgar crime praticado por índio ou contra índio, pois essa causanão se refere à esfera coletiva dos índios (súmula 140 do STJ). Os direitos indígenas coletivos, que justificam a competência da Justiça Federal são os seguintes: a) Organização social dos índios, inclusive, seus costumes, línguas, crenças e tradições (art. 231 da CF); b) Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, que, inclusive, devem ser demarcadas e protegidas pela União (art. 231 da CF); c) Utilização dos recursos naturais dessas terras (§3º do art. 231 da CF). Qualquer ação judicial na qual se discuta esses direitos será da competência da Justiça Federal. 11 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS PERGUNTAS: 1) Qual a diferença entre justiça comum e justiça especial? 2) A Constituição Federal fixa a competência de quais justiças? 3) Qual a competência da justiça militar, eleitoral e trabalhista? 4) A justiça federal julga as causas que envolvem quais entes? 5) Quem julga sociedade de economia mista? 6) Quem julga o Banco do Brasil e a rede ferroviária federal? 7) Quem julga concessionária de serviço público? 8) Quem julga autarquia federal e agências reguladoras federais? E os Conselhos de Fiscalização Profissional? 9) Quando a União ingressa no processo como terceiro, a competência desloca-‐se para a justiça federal? 10) E quando a União ingressa como “amicus curiae”? 11) As justificações judiciais e demais procedimentos de jurisdição voluntária que envolvem a União são da competência da justiça federal? 12) Quem analisa se a competência é ou não da justiça federal? É o juiz estadual? 13) Se o juiz federal exclui a União do processo, o juiz estadual pode suscitar o conflito de competência? 14) Quando houver cumulação de pedidos na justiça estadual e apenas um dos pedidos for da justiça federal, como o juiz estadual deve decidir? 15) No litisconsórcio ativo entre o Ministério Público Federal e o Estadual, a competência é de qual justiça, segundo o STJ? 16) Quais as causas em que a União ou outro ente federal figura como partes e, no entanto, não tramita na justiça federal? 17) As ações movidas por servidor público contra a União para discutir relação de trabalho tramitam em qual justiça? 18) Qual a justiça competente para levantamento do FGTS? 19) As ações em que estado estrangeiro ou organismo internacional figurarem como autor ou réu são julgadas pela justiça federal de primeiro grau ou pelo STF? 20) Ação de alimentos baseada no Tratado de Nova Iorque é julgada em qual justiça? 21) Ação que envolve violação de direitos humanos é da competência de qual justiça? 22) A justiça federal julga mandado de segurança e habeas data? 23) O que diz a súmula 34 do STJ? 24) O exequatur e o cumprimento da carta rogatória competem a quem? 25) A homologação e cumprimento de sentença estrangeira competem a quem? 26) Quem julga as causas referentes à nacionalidade e naturalização? 27) E a ação de retificação de nome civil do estrangeiro naturalizado brasileiro? 28) As ações movidas por índio e contra índio são julgadas pela justiça federal? 29) A justiça federal julga quais direitos referentes a índios? 12 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS FORO COMPETENTE OU COMPETÊNCIA TERRITORIAL A Justiça Estadual divide-‐se territorialmente em inúmeras comarcas e a Justiça Federal, por sua vez, também se divide territorialmente em diversas seções judiciárias, sendo que cada Estado-‐ Membro corresponde a uma seção. A expressão foro é o gênero que abrange duas espécies: a) as comarcas estaduais; b) as seções judiciárias federais. As comarcas também podem se dividir em distritos. Distrito é, pois, o espaço territorial que se localiza dentro de determinada comarca com competência para o processo e julgamento de determinadas ações. Cada seção judiciária, por sua vez, divide-‐se em subseções. A subseção é uma área territorial que abrange diversos Municípios. Assim numa seção judiciária, que corresponde a um Estado-‐ Membro, há várias subseções. Em regra, a ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta no foro do domicílio do réu (art. 46 do CPC). Assim, no âmbito estadual, essas ações são propostas na comarca do domicílio do réu, ou no distrito, se houver, ao passo que na Justiça Federal serão ajuizadas na subseção da seção judiciária do domicílio do réu. Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles (§1º do art. 46). As ações em que o espólio for réu são propostas no foro do último domicílio do autor da herança, isto é, do falecido, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro (art. 48). Exemplos: inventário, partilha, anulaçãode partilha etc. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, o foro competente é local da situação dos bens imóveis; havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; não havendo bens imóveis, o foro competente é o local de qualquer dos bens móveis do espólio (parágrafo único do art. 48). Trata-‐se de competência relativa, o juiz não pode decretar de ofício a incompetência, ainda que haja menores. Acrescente-‐se ainda que ações que tem foro especial, como é o caso de reinvindicação de imóveis, cuja competência é no local da situação do bem, não tramita no foro do último domicílio do morto. Igualmente, as ações em que o ausente for réu também são propostas no foro do seu último domicílio (art. 49). Quanto ao domicílio do incapaz, é o do seu representante legal. Assim, a ação em que o incapaz for réu será proposta no foro do domicílio de seu representante ou assistente, conforme se trate de absolutamente ou relativamente incapaz (art. 50). Todavia, se o representante não detiver a guarda , aplica-‐se a súmula 383 do STJ : "A competência para as ações conexas de interesse do menor é em princípio no foro do detentor da guarda ". Por outro lado, em certas hipóteses o foro do domicílio do réu é alternativo: a) Litisconsórcio passivo: havendo dois ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor (§4º do art. 46). Se, no entanto, forem duas ações que, em razão da conexão, o autor resolveu propô-‐las conjuntamente, utilizando-‐se do litisconsórcio facultativo, o réu prejudicado, segundo Vicente Greco Filho, poderia alegar na contestação a violação do benefício do foro. b) Execução fiscal: será proposta, a critério do exequente, no foro do domicílio do réu, no de sua residência ou no lugar onde for encontrado (§5º do art. 46). Abre-‐se exceção ao foro do domicílio do réu nas seguintes hipóteses: a) Domicílio do réu é incerto ou desconhecido: ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor (§2º do art. 46). O domicílio do autor, nesse caso, é 13 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS um foro supletivo ou subsidiário. b) O réu não tem domicílio nem residência no Brasil: a ação será proposta no domicílio autor e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro (§3º do art. 46). Este último é um foro subsidiário ou supletivo. c) Ações de divórcio, separação judicial, anulação de casamente e reconhecimento ou dissolução de união estável: é competente, o foro do domicílio do guardião do filho incapaz; caso não haja filho incapaz, a competência será no foro do último domicílio do casal; se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal, a competência será do domicílio do réu (art.53,I,do CPC). d) Violência doméstica e familiar contra mulher: é competente, por opção da ofendida, o foro do seu domicílio ou residência ou o foro do lugar do fato em que se baseou a demanda ou ainda o foro do domicílio do agressor (art. 15 da Lei 11.340/2006). Ela pode requerer ao juiz, sem a necessidade de advogado, as medidas protetivas de urgência, e, caso ela tenha feito esse pedido à autoridade policial, esta deverá remeter ao juízo competente para a análise, indagando-‐a sobre o foro que pretende que se processe a demanda (art. 12, III, da Lei 11.340/2006). e) Ação de consignação em pagamento: o foro competente é o do local do pagamento (art.540 do CPC ). f) Ação de alimentos: a competência será do domicílio ou residência do autor da ação, isto é, do alimentado, também chamado de alimentando (art. 53, II, do CPC). Nas ações de revisão de alimentos para se reduzir o valor, bem como na ação de exoneração da obrigação alimentar, a competência é do domicílio do réu, isto é, do alimentado. O art. 53, II, do CPC só prevê foro especial para as ações em que se pedem alimentos. Trata-‐se de competência territorial, portanto, relativa, sendo vedado ao juiz declinar de ofício. Quanto à ação de investigação de paternidade, é no domicílio do réu, que é o suposto pai, mas quando cumulada com alimentos, a competência será no foro do domicílio ou residência do alimentando, que é o autor da ação (Súmula 1 do STJ). A fase de cumprimento da sentença de alimentos pode ser instaurada no domicílio atual do exequente, conforme §9º do art. 528 do CPC, além das opções de movê-‐la perante o próprio juízo que decidiu a causa ou então no local da situação dos bens. g) Ações que visam obter o cumprimento de obrigações: a competência édo local em que se pode exigir o cumprimento da obrigação (art. 53, III , d, do CPC). É o caso das ações que visam a entrega de coisa ou o cumprimento de obrigações de fazer e não fazer. h) Causa que versa sobre direito previsto no Estatuto do Idoso: a competência é do local da residência do idoso, e não do seu domicílio, quer ele figure como autor ou réu (art. 53, III, e , do CPC). Se, no entanto, a ação não versar sobre direitos do idoso, a competência segue a regra geral do domicílio do réu. i) Reparação de dano causado por cartórios extrajudiciais, em razão do ofício: a competência é da sede da serventia notarial ou da serventia de registro (art. 53, III, f, do CPC). Quem figura como réu é a pessoa física do tabelião ou registrador, pois essas serventias não tem personalidade jurídica. A hipótese abrange os seguintes cartórios: Registro de Imóveis, Registro Civil de Pessoas Naturais, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, Protesto e Notas. j) Reparação de dano: a competência é do lugar do ato ou fato (art. 53, IV, a, do CPC). k) Reparação de dano sofrido em razão de acidente de veículo, inclusive aeronaves: o foro é alternativo, domicílio do autor ou local do fato (art. 53, V, do CPC). Exemplos: atropelamento; colisão de veículos, etc. O veículo não precisa ser motorizado, logo abrange também bicicletas, charretes, etc. O veículo pode ser terrestre, aéreo e marítimo, pois a lei não faz distinção. l) Reparação de dano sofrido em razão de crime: o foro é também alternativo, domicílio do autor ou local do fato (art. 53, IV, “a”, do CPC). Exemplos: briga no interior do veículo, homicídio, lesões corporais, etc. m) Ação em que o réu for administrador ou gestor de negócios alheios: a competência é do 14 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS lugar do ato ou fato danoso (art. 53, IV, b, do CPC). n) Causas em que a União figurar como réu: a ação poderá ser proposta, no foro do domicílio do autor ou no foro do local do ato ou fato que originou a demanda ou ainda no foro da situação da coisa ou, por fim, no Distrito Federal, que é o domicílio da União (parágrafo único do art. 51 do CPC e §2º do art. 109 da CF). O autor tem a opção de mover a ação em qualquer dessas seções judiciárias da Justiça Federal, distribuindo a ação na subseção correspondente. Trata-‐se de competência territorial e, portanto, relativa. O fato de estar prevista na Constituição não torna esta competência absoluta. Em relação aos demais entes federais da administração indireta, como é o caso das autarquias e empresas públicas, há polêmica sobre a competência, pois tanto o art. 51 do CPC quanto o §2º do art. 109 da CF referem-‐se apenas à União. No STJ aplica-‐se o foro das pessoas jurídicas, isto é, as autarquias poderão ser demandadas no foro da sua sede ou naquele da agência ou sucursal onde contraiu as obrigações, conforme art. 53, III, alíneas “a” e “b”, do CPC. O STF, no entanto, já decidiu pela aplicação análoga do §2º do art. 109 da CF. Em relação ao INSS, que é uma autarquia federal, a súmula 689 do STF dispõe que: “o segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da Capital do Estado Membro". Frise-‐se, no entanto, que é competente o foro do domicílio do réu para as causas em que seja autora a União (art. 51 do CPC e §1º do art. 109 da CF). o) Causas em que o Estado-‐Membro ou Distrito Federal figurar como réu: a ação poderá ser proposta no foro do domicílio do autor ou no da ocorrência do ato ou fato que originou a demanda ou no da situação da coisa ou ainda na capital do respectivo ente federado (parágrafo único do art. 52 do CPC). Há, pois, simetria com a competência que a Constituição Federal prevê nas causas que a União figurar como réu. Como se vê, não há a obrigatoriedade de se exigir que a ação seja proposta na capital do Estado ou Distrito Federal, onde normalmente há as varas privativas da Fazenda Pública ( súmula 206 do STJ). É, por fim, competente o foro do domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito federal (art. 52, caput, do CPC). p) Ações em que for ré a pessoa jurídica: a competência é onde se localiza a sede, ainda que esse local não seja o domicílio da pessoa jurídica. Mas a competência será onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que a filial da pessoa jurídica contraiu (art. 53, III, “c” e “d”, do CPC). q)