Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal do Piauí Centro de Educação Aberta e a Distância GENÉTICA Ângela Celis de Almeida Lopes Ministério da Educação - MEC Universidade Aberta do Brasil - UAB Universidade Federal do Piauí - UFPI Universidade Aberta do Piauí - UAPI Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD Ângela Celis de Almeida Lopes Genética Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira Elis Rejane Silva Oliveira Samuel Falcão Silva Everton Oliveira de Araújo Ligia Carvalho de Figueiredo Carmeme Lúcia Portela Santos L864g Lopes, Angela Celis de Almeida Genética/ Ângela Celis de Almeida Lopes - Teresina: EDUFPI/UAPI 2010 182 p. ISBN: 1- Genética 2 - Ciências Biaológicas 3 - Genética Molecular I. Título C.D.D. - 575.1 PRESIDENTE DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO GOVERNADOR DO ESTADO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC PRESIDENTE DA CAPES COORDENADORIA GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA DA UFPI Luiz Inácio Lula da Silva Fernando Haddad Wilson Nunes Martins Luiz de Sousa Santos Júnior Carlos Eduardo Bielshowsky Jorge Almeida Guimarães Celso Costa Gildásio Guedes Fernandes CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro ( Presidente ) Des. Tomaz Gomes Campelo Prof. Dr. José Renato de Araújo Sousa Profª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Profª. Francisca Maria Soares Mendes Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO TÉCNICA EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS PROJETO GRÁFICO DIAGRAMAÇÃO REVISÃO REVISOR GRÁFICO A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é da autora. O conteúdo desta obra foi licenciado tem- porária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a re- produção e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no Código Penal. Este texto é destinado aos estudantes que participam do programa de Educação a Distância da Universidade Aberta do Piauí (UAPI) vinculada ao consórcio formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Istituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI-PI), com apoio do Governo do estado do Piauí, através da Secretaria de Educação. O texto é composto de dez unidades, contendo itens e subitens que discorrem sobre a importância da genética, bases moleculares, cromossômicas e mendelianas da hereditariedade, alelismo múltiplo, interação e ligação gênica, além das aberrações cromossômicas, bem como o efeito materno e a herança extracromossômica. Na Unidade 1 conceituaremos a genética e listaremos alguns exemplos que ressaltam sua importância. Na Unidade 2 comentaremos a respeito das bases moleculares da herança ou genética molecular. Na Unidade 3 abordaremos sobre a meiose, sua importância para a genética e a gametogênese. Na Unidade 4 elucidaremos a parte referente às bases mendelianas da herança. Na Unidade 5 apresentaremos os diversos tipos de interações estabelecidos pelos genes. Na Unidade 6 trataremos de alelismo múltiplo. Na Unidade 7 versaremos sobre os mecanismos de ligação gênica. Na Unidade 8 abordaremos o tema das aberrações cromossômicas; na Unidade 9 trataremos de efeito materno e herança extracromossômica e na Unidade 10 falaremos sobre genética e herança do sexo. UNIDADE 1 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA GENÉTICA Introdução A Genética e sua Importância UNIDADE 2 GENÉTICA MOLECULAR Natureza Química do Material Genético Mutação do Material Genético UNIDADE 3 MEIOSE E GAMETOGÊNESE A Meiose Meiose Gametogênese UNIDADE 4 GENÉTICA MENDELINA Introdução Os Experimentos de Mendel UNIDADE 5 INTERAÇÕES GÊNICAS Introdução Interações Alélicas 19 09 41 11 12 21 24 43 43 48 59 60 81 81 57 79 129 149 Interações Gênicas Aumentando a Complexidade UNIDADE 6 ALELISMO MÚLTIPLO Alelismo Múltiplo Alelismo Múltiplo em Animais Alelismo Múltiplo em Plantas Teste de Alelismo UNIDADE 7 LIGAÇÃO GÊNICA E MAPEAMENTO Ligação, Recomendação e Crossing Over Mapeamento Cromossômico UNIDADE 8 ABERRAÇÕES CROMOSSOMICAS Introdução Aberrações Cromossômicas Numéricas UNIDADE 9 GENES EXTRANUCLEARES Introdução Organização Geral Herança Extracromossômica Herança Materna UNIDADE 10 GENÉTICA E SEXO Introdução Cromossomos Sexuais e Determinação Genética do Sexo Os Cromossomos Sexuais A Cromatina Sexual Diferenciação Sexual Mecanismos de Determinação do Sexo em Seres Humanos Hereditariedade em Relação ao Sexo Anômalias Sexuais Humanas 97 109 86 90 99 99 102 104 111 118 131 131 151 151 152 154 163 163 166 166 167 168 170 174 161 UNIDADE 01 Importância do Estudo da Genética 11GENÉTICA IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA GENÉTICA INTRODUÇÃO Genética pode ser conceituada como o estudo dos genes. Alguns a definem como o estudo da hereditariedade, o qual despertava o interesse do homem muito antes da biologia ou da genética existirem como disciplinas científicas. No passado, a melhoria de plantas e animais domésticos era feita selecionando indivíduos desejáveis para se cruzar. Os povos antigos também deveriam ter se perguntado: por que as crianças se parecem com seus pais? No entanto, estas pessoas não podiam ser chamadas de geneticistas. A genética como ciência só surgiu com a figura do monge agostiniano Gregor Mendel, que em 1865 publicou um trabalho sobre hibridação artificial em ervilha; seu trabalho indicou a existência de fatores hoje conhecidos por genes. A palavra genética vem de gene que é o foco do assunto, não importando se o estudo é feito em nível molecular, celular, morfológico, populacional ou evolutivo; os genes são sempre centrais em seus estudos. Então, a genética envolve o estudo de dois fenômenos distintos e complementares: a hereditariedade e a variação. O primeiro está relacionado à tendência de igual gerar igual, ou seja, explica o fato pelo qual os descendentes (filhos) se assemelham aos seus ascendentes (pais e avós). Em contrapartida, a variação pode ser definida como todas as diferenças genéticas ou ambientais entre organismos relacionados pela descendência. Portanto, as variações podem ser devidas ao meio, não-hereditárias, como também podem ser produzidas por alterações na constituição genética, neste caso, hereditárias. A hereditariedade e a variação são forças antagônicas, pois Gene: unidade funcional e física da hereditariedade. Segmento de DNA, composta de uma região transcrita e uma sequência reguladora que possibilita a transcrição. SAIBA MAIS 12 UNIDADE 01 enquanto a hereditariedade está relacionada com a semelhança entre os indivíduos no decorrer das gerações, a variação é exatamente o contrário. Provavelmente a genética tenha despertado a atenção do homem há muitos anos. Existem evidências de que há mais de 10.000 anos, o homem já se preocupava em selecionar plantas e animais para a sua sobrevivência. Muitas hipóteses foram formuladas para explicar a transmissão das características hereditárias ao longo do tempo. No entanto, a genética recebeu seu maiorimpulso por meio dos trabalhos do monge agostiniano Gregor Mendel (Figura 1.1) realizados no final do século XIX com crédito apenas no início do século XX. Infelizmente, o trabalho de Mendel só foi reconhecido em 1900, 16 anos após sua morte (1884). Assim, em 1900 foi considerado o marco zero ou o ano do nascimento da Genética. É por essa razão que ela é conhecida como uma ciência do século XX. A genética é, portanto, uma ciência relativamente nova, mas que tem evoluído espetacularmente, sobretudo porque despertou a atenção de vários ramos do conhecimento humano. Nos primeiros anos, o estudo da genética estava voltado para o controle genético dos caracteres, mas a partir dos anos 50 foram intensificadas as pesquisas sobre a natureza química do gene, seu funcionamento e regulação que contribuíram para o desenvolvimento de uma nova tecnologia – Engenharia Genética. A GENÉTICA E SUA IMPORTÂNCIA A genética é uma das principais ciências a serviço do homem. Ela tem contribuído em várias áreas de atividades, como na biologia, medicina, agronomia, veterinária, entre outras, em fins científicos e outros com finalidades comerciais. A seguir, citaremos alguns exemplos da importância da genética. A genética na medicina Figura1.1. Johannes Gregor Mendel. Em: SNUSTAD & SIMMONS(2001). Engenharia Genética: tecnologia na qual o gene pode ser isolado, transferido para outras células ou organismos, duplicados e ativados; permite a manipulação do material genético de um organismo, introduzindo ou eliminando genes específicos. SAIBA MAIS 13GENÉTICA A genética teve e tem um profundo impacto na medicina. Embora as conexões entre algumas doenças e a herança tivessem sido feitas há séculos, as mais importantes ligações entre os novos princípios mendelianos descobertos e as doenças foram publicadas em 1902. Os pesquisadores fizeram grandes esforços para estabelecer ligações entre genes defeituosos e doenças. Os genes nas pessoas normais são chamados de genes tipo selvagens; aqueles com defeitos são chamados de genes mutantes que resultam em condições anormais ou mutantes. Os defeitos em genes mutantes são chamados de mutações. A hemofilia, ou doença do sangramento, foi um dos primeiros distúrbios humanos a serem ligados a um gene mutante e ao seu produto funcional. No passado, os indivíduos com esse defeito herdado de coagulação do sangue morriam durante a infância. Hoje em dia, eles vivem uma vida normal graças a tratamentos eficazes com fator de coagulação produzido por culturas de células de mamíferos geneticamente modificados. A genética na agricultura Além de seu impacto na medicina, a genética teve um tremendo impacto na agricultura. Uma das grandes conquistas foi a aplicação dos princípios mendelianos ao desenvolvimento do milho híbrido (Figura 1.2). Mutação: mudança brusca na informação genética; alteração de um simples par de bases no DNA. Híbrido: indivíduo resultante do acasalamento de dois genitores com genótipos diferentes. Hibridização: intercruzamento de espécies, raças, variedades e assim em diante, entre plantas ou animais. a) Endocruzado1 Híbrido Endocruzado 2 b) Endocruzado1 Híbrido Endocruzado 2 Figura 1.2. Aumento da produção de milho híbrido resultado da aplicação dos fundamentos da genética. Em: SNUSTAD & SIMMONS (2001). SAIBA MAIS SAIBA MAIS 14 UNIDADE 01 Durante o período de 1940 a 1980, a produção média de milho aumentou em 250%, em grande parte devido ao desenvolvimento e introdução de variedades de milho híbrido. Nos Estados Unidos, a hibridização resultou em acentuados aumentos de produção em quase todas as colheitas de alimentos importantes, como cevada, feijão, arroz e trigo. O tomate moderno se beneficiou muito da aplicação dos princípios genéticos. Os agricultores desenvolveram uma grande variedade de tipos de tomate, incluindo os redondos, os pequenos, em forma de pera, amarelos, vermelhos e outros (Figura 1.3). Os programas de cruzamentos seletivos produziram galinhas que têm mais carne, crescem mais depressa, são mais resistentes a doenças e botam mais ovos (Figura 1.4). Para gado, ovelha e porcos, também a genética trouxe bons resultados, eles têm mais carne, crescem mais depressa e são mais eficientes em converter alimentos em carne, além de melhor adaptados aos ambientes regionais. No caso do Brasil, a genética de plantas e animais também assume um papel muito importante, porque há uma forte pressão no incremento da produção de alimentos, tendo como objetivo melhorar o padrão de nutrição do povo brasileiro. Empresas Nacionais e Universidades Públicas Figura 1.3. Algumas das muitas variedades de tomates produzidas por hibridização e seleção. Em: www.kokopelli-seed-foundation.com/actu/new_ne.... Acesso em ? 15GENÉTICA desenvolvem programas de melhoramento genético para diferentes espécies (milho, feijão, soja, algodão, café, amendoim) contribuindo para o aumento da produção, melhoria da qualidade nutricional, resistência a pragas e doenças, entre outras características. É mérito comentar que o papel de geneticistas tem sido reconhecido pela sociedade. Tanto é assim que geneticistas já foram laureados com o prêmio Nobel. Entre eles merece atenção o Dr. Norman Borlaug, que recebeu o prêmio Nobel da Paz de 1970 pelas suas pesquisas, durante 25 anos, com o melhoramento do trigo (Figura 1.5), e também a Dra. Bárbara McClintock, que trabalhando com citogenética do milho, recebeu prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1973, dado que seus trabalhos abriram perspectivas, entre outras coisas, para que muitas doenças hereditárias pudessem ser mais eficientemente controladas. Figura 1.4. Algumas das muitas variedades de galinha produzidas por hibridação e seleção. Em: SNUSTAD & SIMMONS (2001). Melhoramento genético: Arte ou ciência para alterar geneticamente plantas ou animais de modo a atender às necessidades do homem. Figura 1.5. Dr. Norman Borlaug em campo experimental com trigo. Em: SNUSTAD & SIMMONS (2001). SAIBA MAIS 16 UNIDADE 01 Ácido desoxirribonucléico (DNA): uma classe das macromoléculas que consiste em duas cadeias longas de nucleotídeos e tem a capacidade de se autoduplicar, passando de uma geração para a seguinte. Citogenética: o enfoque citológico da genética, visando principalmente o estudo microscópico dos cromossomos. DNA: (veja ácido desoxirribonucléico). Gene: Unidade de informação hereditária. Um gene é uma secção da molécula do DNA que especifica a produção de uma proteína em particular. Gene mutante: genes com uma taxa de mutação alta. Engenharia genética: Técnica de remoção, modificação ou adição de genes à molécula de DNA a fim de alterar as informações que ela contém. Pela alteração destas informações, a engenharia genética altera o tipo ou quantidade de proteínas que um organismo é capaz de produzir. Genética: Ciência que trata da reprodução, herança, variação e do conjunto de fenômenos e problemas relativos à descendência. Hereditariedade: Fenômeno pelo qual os descendentes se assemelham aos seus ascendentes. Híbrido: indivíduo resultante do acasalamento de dois genitores com genótipos diferentes. Hibridação: Processo de obtenção de híbridos. Melhoramento genético: Técnica de manipulação genética que objetiva o melhoramento do germoplasma para a obtenção de espécies vegetais com maiores qualidades nutricionais, resistentes a doenças e insetos, adaptadas à seca, salinidade e alumínio tóxico; animais mais produtivos e micro-organismos úteis ao homem, animais e às plantas. Quer conhecer um pouco mais sobre genética? Não deixe de visitar o site http:// www.ufv.br/dbg/ gbol/gbol.htm Pesquise também o site abaixo: http:// www.virtual.epm. br/cursos/genetica/ genetica.htm SAIBAMAIS http://www.odnavaiaescola.com/ http://www.sbg.org.br/ 17GENÉTICA 1. Qual a importância da genética para a atualidade? 2. Associe os termos: genética, variação e hereditariedade. 3. Qual a importância da variação herdável para a genética? 4. Qual a contribuição da genética para a medicina e para a agricultura? 5. Faça uma pesquisa nos sites indicados acima e responda: no caso específico do Brasil, a genética assume um papel importante? Justifique sua resposta. A Genética é uma das ciências mais dinâmicas, estima-se que o conhecimento na referida área leve menos de dois anos para dobrar. Por esse motivo, faz-se necessária uma constante atualização que pode ser feita através de publicações didáticas (livros, apostilas etc), onde se podem acompanhar os avanços mais recentes da genética. Nesta unidade, foi visto o conceito de genética, destacando sua importância nas mais diferentes áreas. Para isso, utilizou-se exemplificações da aplicação da genética em áreas como a medicina e agropecuária, entre outras. Mutação: Alteração na sequência de bases de uma molécula de DNA. Organismo geneticamente modificado: um organismo cujo genoma foi modificado pela aplicação externa de um novo DNA. Variação: Diferenças fenotípicas ou genotípicas entre indivíduos de uma população. 18 UNIDADE 01 UNIDADE 02 Genética Molecular 21GENÉTICA NATUREZA QUÍMICA DO MATERIAL GÉNETICO Após o trabalho de Mendel, foi crescente o interesse em se conhecer qual era a constituição química, a estrutura e como funcionava a unidade de herança, o gene, para que o controle genético dos caracteres pudesse se melhor entendido. Para tanto, deduziu-se que tal substância deveria ser suficientemente complexa para ser capaz de codificar um grande número de informações que correspondem toda a variabilidade que se observa nos seres vivos. Com o objetivo de identificar qual substância constitui o material genético, os primeiros trabalhos procuraram determinar a constituição química dos mesmos. Constataram que entre as substâncias suficientemente complexas com capacidade de codificar um grande número de informações eram: ácido desoxirribonucléico (DNA); ácido ribonucléico (RNA) e as proteínas. Constataram que o DNA era mais constante entre as células do corpo de um indivíduo, seguidos das proteínas e o RNA. Como o número de informações deve ser constante nos indivíduos de mesma espécie, deduziram que o material genético poderia ser o DNA. Entretanto, a maior complexidade das proteínas contribui para que muitos cientistas acreditassem que as mesmas deveriam ser o material genético. Tal dúvida persistiu até a década de 1950. A partir de 1928, a natureza do material genético começou a ser elucidada, tendo como base as seguintes pesquisas de: 1- Griffith, 1928; 2- Avery, Mac Leod, McCarty (1944); GENÉTICA MOLECULAR 22 UNIDADE 02 3- Hershey & Chase (1952). O Princípio Transformante: uma observação desafiadora foi feita por Griffith no curso de experimentos na bactéria Streptococus pneumoniae. Essa bactéria, que causa pneumonia em humanos, é letal em camundongos. Entretanto, linhagens diferentes dessas bactérias evoluíram diferindo em virulência (habilidade de causar uma doença ou morte). Em seus experimentos, Griffith usou duas linhagens distinguíveis pelo aparecimento de colônias quando cultiváveis; uma virulenta, possui células circundadas por um cápsula de polissacarídeos originando colônias lisas (linhagem S) e a outra linhagem, não virulenta, sem cápsulas, dando um aspecto rugoso (linhagem R). Griffith matou, por fervura, algumas células virulentas e então as injetou em camundongos. Os mesmos sobreviveram, mostrando que os restos das bactérias não causam morte. Entretanto, quando os camundongos recebiam uma injeção contendo uma mistura de bactérias mortas por aquecimento e bactérias não virulentas vivas, constatava- se a morte dos camundongos. Isto indica que algumas bactérias não virulentas (linhagem R) haviam se transformado em bactérias virulentas (linhagem S) (Figura 2.1). Transformação bacteriana: recombinação gênica em bactérias onde um DNA exógeno (estranho) é absorvido e incorporado ao genoma da célula. Figura 2.1 A primeira demonstração da transformação bacteriana. Em: RAMALHO et al. (2008). SAIBA MAIS 23GENÉTICA De algum modo, os restos das bactérias S mortas tinham convertido as R vivas em S vivas. O processo é chamado de transformação. Por meio desse experimento, ficou demonstrado que deveria existir algum componente nas bactérias S (virulentas) que transformava as bactérias R, não virulentas em bactérias virulentas (tipo S). Em 1944, portanto dezesseis anos depois, três pesquisadores: Avery, Mac Leod, McCarty isolaram diferentes classes de moléculas encontradas em restos de bactérias S mortas pelo calor e testaram cada classe separadamente para verificar sua capacidade transformante. Estes testes mostraram que os polissacarídeos não transformavam as bactérias rugosas. Avery e seus colaboradores observaram que apenas uma classe de moléculas, o DNA, induzia a transformação das bactérias R (Figura 2.2). Eles deduziram que o DNA é o agente que determina a patogenicidade. Além disso, parecia que o fornecimento de DNA S às bactérias R era fundamental para dar a essas bactérias os genes S. As indicações conclusivas de que o DNA é o material genético foram verificadas também em experimentos com bacteriófagos. Os bacteriófagos são organismos bastante simples, contendo apenas uma capa protéica em cujo interior existe uma molécula de DNA. Em 1952, Hershey & Chase demonstraram que a reprodução de novos bacteriófagos Figura 2.2 Demonstração de que o DNA é o agente transformante. O DNA é o único agente que produz colônias lisas (S) quando adicionados a bactérias rugosas (R) vivas. Em: adaptado de GRIFFITHS et al. (2001). DNA: Ácido desoxirribonucléico uma dupla cadeia de nucleotídeos ligados; a substância fundamental da qual os genes são compostos. Bacteriofágos: partículas virais que se reproduzem em células bacterianas. SAIBA MAIS 24 UNIDADE 02 pela bactéria hospedeira dependia apenas da introdução do DNA viral, o qual fornecia as informações genéticas necessárias à formação de novos bacteriófagos. A capa protéica do fago permanece no exterior da bactéria infectada e, portanto, não tem nenhuma relação com as informações genéticas necessárias a sua reprodução. Para tanto, os autores citados produziram duas diferentes populações de bacteriófagos: uma com a capa protéica marcada com enxofre radioativo (32S) e outra com o DNA marcado com fósforo radioativo (32P). As duas populações foram usadas para infectar, separadamente, duas colônias de bactérias e os novos descendentes dos bacteriófagos foram avaliados quanto à radioatividade. Como conclusão, teve-se que a população de bacteriófagos marcada com fósforo radioativo produziu descendentes altamente radioativos, demonstrando que o DNA marcado havia penetrado na bactéria e comandado a síntese de novos bacteriófagos. Por outro lado, a população marcada com enxofre radioativo produziu uma descendência praticamente desprovida de radioatividade (Figura 2.3). MUTAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO O material genético é constituído de DNA, organizado em estruturas nucleares, os cromossomos, que são diferenciados longitudinalmente em genes. Qualquer alteração autorreproduzível na estrutura ou no número Figura 2.3 Experimento de Hershey & Chase usando o bacteriófago T2, demonstrando que o DNA é o material genético. Fonte: RAMALHO et al. (2008). 25GENÉTICA de cromossomos será transmissível e dará origem a novos genótipos. Tais variações hereditárias são chamadas mutações. Os indivíduos que transportam uma mutação são chamados mutantes. Em geral,as mutações são classificadas em numéricas, estruturais e mutações gênicas ou de ponto. Quando consideramos as mutações numéricas e estruturais, estas são chamadas de aberrações e representam alterações no número e na estrutura dos cromossomos, respectivamente. As mutações gênicas (ou de ponto) se referem às alterações nos genes, nos pares de bases nitrogenadas. Mutação é o mecanismo que possibilita o aparecimento de variações individuais ou da variabilidade hereditária, que por sua vez, é o substrato dos processos de melhoramento genético e evolução das espécies. Existe grande possibilidade de ocorrerem várias mutações diferentes num gene, o que causa o aparecimento de alelos, que são as formas alternativas do gene. Um grande número de alelos é teoricamente possível para um dado gene, porque a probabilidade de que uma determinada mutação reverta ao estado alélico anterior é muito menor do que a probabilidade de uma mutação adicional para um novo estado alélico. A hereditariedade só pode ser estudada e comparada através dos alelos diferentes do mesmo gene que aparecem por mutação. Se os locos não sofressem mutações, eles nunca seriam detectados. Base molecular da mutação Nas mutações, a sequência de bases nitrogenadas do DNA é alterada, o que pode modificar a cadeia polipeptídica a ser sintetizada. As causas que podem provocar essas alterações são: Substituição de bases A troca de bases pode ser de uma purina (adenina ou guanina) por outra, ou de uma pirimidina (citosina ou timina) por outra, denominada transição; ou de uma purina por uma pirimidina, denominada transversão. As bases pareadas das moléculas do DNA podem, ocasionalmente, sofrer uma mudança tautomérica. As formas tautoméricas raramente estão presentes nas células, mas podem se tornar comuns graças à ação de agentes mutagênicos naturais ou artificiais. Essas formas alternativas das bases nitrogenadas frequentemente apresentam pareamento Mutação: processo responsável pela produção de novos alelos por meio da alteração na sequência de bases do DNA. Alelos: formas alternativas de um gene. Loco: local no cromossomo onde se localiza um determinando gene. SAIBA MAIS SAIBA MAIS 26 UNIDADE 02 irregular durante a replicação do DNA (Figura 2.4). Na adenina, no estado normal amino, um átomo de hidrogênio envolvido na ligação com a timina da outra cadeia complementar da molécula do DNA muda do grupo amino para o nitrogênio no anel, forma tautomérica amino que pode se parear com a citosina, durante a duplicação, em vez de parear com uma timina. Na duplicação seguinte, adenina pareia-se com timina, normalmente, e citosina com guanina. Assim, os descendentes da cadeia com citosina terão agora o par G – C ao invés do par A – T. Da mesma maneira, timina, no estado ceto, pareia-se com a adenina, mas na forma tautomérica enólica é capaz de se parear com a guanina. Figura 2.4. Base normal e tautomérica (raras). Fonte: RAMALHO et al. (2008). Figura 2.5 Pareamento errado de bases. Fonte: RAMALHO et al. (2008). 27GENÉTICA A substituição de bases causa alteração em um único códon no DNA. O códon mutante pode ou não provocar mudança de um aminoácido ao longo da cadeia polipeptídica, possibilitando três alternativas: • Mutação silenciosa – a substituição de bases no DNA não altera a sequência de aminoácidos na cadeia polipeptídica graças à degenerescência do código genético. Isso ocorre quando o códon mutante codifica o mesmo aminoácido que o códon anterior. Ex. 3’ AGC 5’ _ códon da serina 3’ AGG 5’ _ códon da serina • Mutação no sentido errado – a substituição de uma base no DNA acarreta alteração em um aminoácido na cadeia. Ex. 3’ AGC 5’ _ códon da serina 3’ AAC 5’ _códon da leucina • Mutação sem sentido – a troca de uma base no DNA leva a um códon de terminação (códon sem sentido) no mRNA, impedindo a síntese completa da cadeia polipeptídica. Ex. 3’ AGC 5’ _ códon da serina 3’ ATC 5’ _ UAG final de tradução. Adição ou deleção de bases A retirada ou a inclusão de uma única base provoca alterações na sequência de DNA a partir do ponto em que ocorreu a deleção ou adição. Ex. 5’ ATGCCGACGTATCAGTAA 3’ 3’ TACGGCTGCATAGTCATT 5’ fita sense mRNA 5’ AUG.CCG.ACG.UAU.CAG.UAA 3’ Proteína met – pro – tre – tri – aglu Adição do par A-T entre o 5º e 6º par de bases: 5’ ATGCCAGACGTATCAGTAA 3’ 5’ TACGGTCTGCATAGTCATT 3’ Códon sem sentido: Um códon para o qual não existe uma molécula de tRNA. A presença de um códon sem sentido causa término da tradução (fim da cadeia polipeptídica). Os três códons sem sentido são: UAA, UAG, UGA SAIBA MAIS 28 UNIDADE 02 mRNA 5’AUG.CCA.GAC.GUA.UCA.GUA.A 3’ Proteína met – pro – asp – val – ser – va A adição de apenas uma base modifica completamente a sequência de aminoácidos na cadeia polipeptídica sintetizada, a partir do ponto em que ocorre a adição da base nitrogenada no DNA. Por outro lado, desapareceu o ponto final, produzindo assim uma cadeia polipeptídica que certamente não será funcional. A mutação do tipo adição ou deleção é mais drástica do que a substituição de bases. Este tipo de mutação, normalmente, é letal, não sendo transmitida através das gerações. Apesar do grande número de nucleotídeos que constitui um gene, a frequência de mutação é muito baixa porque o processo de replicação do DNA é muito preciso. As mutações variam quanto ao tipo, localização na célula e tratamento mutagênico. Mutações dominante, recessiva e letal Se uma mutação for dominante, ela se manifestará na primeira geração, mesmo na condição heterozigota. A mutação recessiva só se manifesta na condição homozigota. Portanto ela geralmente aparece somente em gerações posteriores. Se a mutação recessiva for ligada ao sexo ela pode ser detectada na geração em que foi provocada, somente no sexo heterogamético, pois os indivíduos são hemizigotos. As mutações letais, isto é, aquelas que provocam a morte dos indivíduos são relativamente frequentes, tanto nos animais como nas plantas. Os letais dominantes, naturalmente, não podem ser estudados geneticamente a menos que a morte ocorra só depois da fase reprodutiva dos organismos. Os letais recessivos, porém, podem ser estudados geneticamente, porque eles serão transmitidos de geração na condição heterozigota. Mutações germinais e somáticas As mutações ocorrem tanto nos tecidos somáticos (células do soma) como nas células germinativas (reprodutivas). As primeiras, 29GENÉTICA mutações somáticas, manifestam-se somente em determinados setores do indivíduo, ele é um mosaico de tecidos normais e mutados. As últimas são as que se transmitem de geração a geração. Nos organismos superiores, se as células reprodutivas não são afetadas, os genes mutados não podem ser transmitidos para as gerações futuras, e as análises genéticas não podem ser efetuadas. As mutações somáticas podem ter valor econômico na agricultura. Elas não podem ser transmitidas para a próxima geração por meio de reprodução sexual, porém podem ser propagadas por meio de enxertia ou qualquer outro processo de reprodução vegetativa. Tal é o caso, por exemplo, da mutação na laranja Baiana para a Baianinha, que foi reproduzida por meio de borbulhas, tornando-se uma notável variedade de exportação da nossa citricultura. Mosaico: Um tecido contendo dois ou mais tipos de células geneticamente distintos, ou um indivíduo composto de tais tecidos. Figura 2.6 Uma mutação para um alelo que determina orelhas recurvadas surgiu na linhagem germinativa de um gato normal de orelhas retas e expressou-se na prole, como nesse gato. Fonte: GRIFFITHS et al. (2001). SAIBA MAIS 30 UNIDADE 02 Figura2.7 Uma mutação somática na maçã vermelha delicious. O alelo mutante que determina a cor dourada surgiu na parede ovariana da flor, que eventualmente se desenvolveu na parte carnosa da maça. As sementes não são mutantes e originarão árvores de maçãs vermelhas. Fonte: GRIFFITHS et al. (2001). Mutações espontâneas e induzidas As mutações podem ocorrer espontaneamente ou podem ser induzidas artificialmente. As primeiras são chamadas de “mutações espontâneas”; enquanto que as últimas são chamadas de “mutações induzidas”. Dizer que uma mutação é espontânea não significa que ela não tenha uma causa, mas sim, que ela apareceu sem que o organismo fosse objeto de tratamento especial. A causa da mutação espontânea não é bem conhecida ainda. Segundo alguns autores, ela é causada por radiações naturais, porém é uma explicação insuficiente. A dosagem total de radiações naturais provenientes de raios cósmicos e radioisótopos existentes no ambiente natural é no máximo 0,8R por ano. (R= unidade de radiação, especialmente de raios-X e raio gama). Esta dosagem é extremamente baixa para provocar mutação nos organismos, mesmo considerando que as radiações podem ter efeito genético cumulativo. As mutações espontâneas, tanto germinais como somáticas, têm sido cuidadosamente selecionadas durante vários séculos por 31GENÉTICA melhoristas de plantas e animais. Em maçãs e peras há diversas variedades provenientes de mutações. A maioria das variedades de batatas é também originária de mutações. Em abacaxi, da variedade Cayena, isolaram-se 35 mutantes, alguns de valor comercial. O “visos” prateado (raposa), as laranjas sem sementes e o carneiro da raça Ancon (pernas curtas) figuram entre as mutações espontâneas de reconhecido valor econômico. Figura 2.8 Efeito de uma mutação espontânea e dominante em carneiros de pernas curtas e os de pernas longas (individuo normal). Fonte: Google imagens. 32 UNIDADE 02 A mutação pode ser induzida por radiações não ionizantes (luz ultravioleta), por radiações ionizantes (raios-X, raios gama, nêutrons, dêuterons, etc.) e por várias drogas químicas. Luz ultravioleta é uma radiação não ionizante, tendo, porém efeito mutagênico. A efetividade de luz ultravioleta em induzir mutações está estreitamente relacionada com o comprimento da onda utilizada. Em geral, a maior atividade está compreendida entre 2500 a 2800A (1A = 10- 10m), sendo que para alguns organismos o ponto máximo da efetividade está em torno de 2600A, que corresponde ao espectro de absorção do DNA. Sabe-se também que o ácido nucléico facilmente se decompõe em purinas e pirimidinas quando irradiado por raios ultravioleta de comprimento de onda de 2600A. Igualmente, a ação bactericida mais eficiente desta luz está nesse comprimento de onda. Esses fatos tomados em conjunto nos sugerem que a atividade mutagênica dos raios ultravioleta e a sua atividade letal é devida a modificação do ácido nucléico dentro da célula. O mecanismo principal do efeito mutagênico da luz ultravioleta é devido à excitação dos átomos nos organismos pela absorção de energia. Porém, a energia de raios ultravioleta é relativamente baixa, e consequentemente a penetrabilidade também é baixa; portanto, o uso desta luz é limitado só para a irradiação de microrganismos, esporos, polens etc. Como radiações ionizantes, temos raios-X, raios gama, partículas- alfa, partículas-beta, nêutrons, dêuterons, prótons, etc. Conforme o nível de energia, temos dois tipos de raios-X duros e raios-X moles. Temos ainda três tipos de nêutrons, dependendo da energia, nêutrons rápidos, lentos e térmicos. As radiações ionizantes como os raios-X e radiações nucleares como raios gama, partículas-alfa, beta, nêutrons, entre outros, agem biologicamente através da excitação e ionização das moléculas nas células. Os íons resultantes das irradiações podem reagir com as substâncias das células, e frequentemente, produzirem substâncias que, normalmente, não ocorrem nas células e são quimicamente muito ativas como vários peróxidos orgânicos. Esses peróxidos podem causar quebras ou impedir a reunião dos cromossomos quebrados. Podem também oxidar as bases do DNA. De modo geral: 33GENÉTICA 1. A frequência de mutação induzida por radiação aumenta proporcionalmente com o aumento da dosagem. 2. As doses são aditivas e a quantidade de mutação induzida não depende da maneira pela qual a dose é administrada, mas sim, da dose total. As radiações provocam todos os tipos de mutações indiscriminadamente. Até agora não foi possível obter mutações específicas com radiação, pois a ação biológica de radiações ionizantes é completamente indeterminada dentro das células e, mesmo que fosse possível determinar o local de sua ação, atualmente não saberíamos ainda qual a parte da molécula a alterar no gene. Esses motivos fazem com que não se possam obter mutações dirigidas e específicas com radiações. Sabe-se que a ação mutagênica das radiações é baseada nas reações físico-químicas das células irradiadas; consequentemente qualquer fator que influencie essas reações podem causar a alteração da frequência de mutação. As pesquisas recentes têm mostrado que numerosas substâncias químicas têm efeitos mutagênicos em vários organismos. Porém, na maioria dos casos, o modo exato da ação mutagênica ainda não é bem conhecido. As substâncias mutagênicas cujos comportamentos são conhecidos mostram que elas reagem diretamente com o DNA, ou que são efetivas somente durante a síntese do DNA. Ácido nitroso e agente alquilante como, por exemplo, mostarda nitrogenada pode reagir quimicamente com o DNA intacto e modificar a estrutura do DNA. Análogos de bases, como por exemplo, 5-bromouracil e 2-aminopurina, são mutagênicos porque eles se incorporam durante a síntese do DNA. Uma substância química pode ser mutagênica para um organismo, mas sem efeito para outro. Por exemplo, uretano e fenóis são mutagênicos para Drosophila e bactérias, porém sem efeito em Neurospora. Uma razão disto é que há um estágio particular do organismo que é mais sensível ao agente mutagênico. Por exemplo, o aldeído fórmico é eficiente como mutagênico em Drosophila, se tratarmos os estágios iniciais da espermatogênese, e sem efeito nas larvas ou imagos deste inseto. Outra razão é que existem fatores que impedem a ação dos mutagênicos químicos, como por exemplo, a dificuldade de penetração na célula, ou decomposição por certas enzimas após ter penetrado na célula, etc. 34 UNIDADE 02 Algumas substâncias químicas, como por exemplo, etilenimina e metanosulfonato de etila são mais eficientes e provocam maior frequência de mutação nos organismos do que qualquer tipo de radiação. É recomendado o emprego de mutações induzidas quando novos caracteres que precisam ser introduzidos, dificilmente ocorrem nas populações naturais e quando se visa a aumentar a variabilidade genética em populações já estabilizadas. Um dos primeiros cultivares conseguidos através do melhoramento por mutação induzida (raio-X), pertence à espécie Brassica napus L. V. oleirifera (mostarda). Há numerosos trabalhos com a cevada (Hordeum vulgare L.) realizados na Suécia e centenas de mutantes isolados e estudados. Entre estes mutantes, ressalta os que apresentam modificações no tamanho de sementes, ausência de arista ou portadores de aristas curtas. Há mutantes produzindo grãos maiores do que os das plantas que lhes deram origem, dando um aumento de produção de 9%. As mutações induzidas representam fonte potencial de “novos” genes para resistência às moléstias e pragas que atacam os cereais. Os geneticistas alemães foram os primeiros a conseguir resultados positivos na obtenção de mutantes de cevada resistente a uma raça fisiológica de míldio pulverulento. De grande interesse são os mutantes de trigo resistentesa ferrugem causada pela Puccinia glumarum. Resistência à ferrugem no linho, á mancha foliar e à podridão da haste no amendoim, foi também encontrada. Entre os resultados favoráveis do emprego de mutação induzida no melhoramento, encontra-se o referente ao cultivar “Sanilac” do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.). Um dos mutantes encontrados em uma plantação, derivada de material irradiado do cultivar do tipo trepador “Michelite”, apresentava crescimento determinado, além de serem 12 dias mais precoces que a linha original. O novo cultivar mutante facilita a colheita mecânica. Estes exemplos e outros mostram o interesse que as mutações induzidas possam ter para a agricultura. A comparação entre fenótipos de mutantes espontâneos e de mutantes induzidos revela que não existe diferença qualitativa entre eles. Mutação dirigida A obtenção de mutação específica por meio de mutagênicos específicos tem sido o sonho dos geneticistas, de longos anos. No 35GENÉTICA momento, presume-se que este objetivo está ainda muito longe de ser alcançado. A grande dificuldade encontrada é devida à própria constituição do material genético. Assim, o código genético sendo formado por quatro letras: A - T - G - C é sem dúvida, muito difícil, por métodos físicos ou químicos, selecionar um único elemento do código, para alterá-lo. Poder- se-ia atuar sobre um par A-T ou G-C sem influir em outros pares? Não se pode ainda produzir mutações dirigidas, mas já se sabe, em alguns casos, que o espectro da mutação que se obtém com diversos tratamentos mutagênicos não é o mesmo. Como já foram citadas, as radiações ionizantes provocam mutações, em todos os sentidos, enquanto alguns mutagênicos químicos podem provocar determinados tipos de mutações. Isto já nos mostra a possibilidade de mutação dirigida por mutagênicos químicos. Às vezes, podem-se predizer os resultados de um experimento, pois certas mutações ocorrem assiduamente; sendo algumas com maior frequência do que outras. Isso significa que alguns genes são mais instáveis do que os outros. Frequência de mutação em genes individuais Há vários critérios para o cálculo de frequência de mutação, podendo-se basear no número das mutações que ocorrem nos genes, nos gametas, nas células, nos indivíduos, etc. Frequência de mutação de gametas é definido como a proporção de gametas contendo mutações, em relação ao total de gametas em uma geração. A frequência de mutação varia bastante de um gene para outro, e varia ainda para o mesmo gene em diferentes populações. As diferenças nas frequências de mutação são devidas à própria natureza do gene e também ao resto do genótipo. Nem todos os genes têm o mesmo tamanho. É de se esperar que um gene grande formado por muitos pares de purinas e pirimidinas, tenha maior probabilidade de mutar do que um gene pequeno com poucos pares. Igualmente, um mesmo organismo, tem certo limite para a variação das mutações possíveis. Por exemplo, no homem, já foram observadas inúmeras mutações que afetam a cor do cabelo. Todavia, as cores básicas são sempre branca, preta, castanha e vermelha. Nunca apareceu a cor verde, por exemplo. Evidentemente, alguma coisa de natureza química põe limite à variação das cores do cabelo. 36 UNIDADE 02 Quer saber mais sobre mutações? Não deixe de visitar o site: http:// www.virtual.epm.br/ cursos/genetica/ genetica.htm Mutação reversa As mutações são às vezes reversíveis. O gene mutado pode reverter aparentemente ao normal ou selvagem. A frequência da mutação reversa varia de um gene para outro e também varia para mutações diferentes do mesmo gene. A situação pode ser esquematizada: u ←-------------- A a → v Onde A e a são alelos, e u e v são frequências da mutação. Em Neurospora se conhecem vários mutantes nutricionais, em que o fungo não pode mais efetuar um determinado passo metabólico. Suponhamos um mutante incapaz de sintetizar um dos aminoácidos essenciais, como arginina (Ag), cuja ausência sabe ser controlada por um único par de genes. Se semearmos, em uma placa de Petri contendo um meio nutritivo sem arginina, um número muito grande de conídios desse mutante, às vezes notaremos aparecimento de algumas colônias. Essas colônias são certamente originárias dos indivíduos capazes de sintetizar arginina e, portanto normais (+). Neste caso, o alelo Ag mutou novamente “para trás”, isto é, houve a mutação reversa do Ag +. SAIBA MAIS http://pt.wikipedia.org/wiki/DNA http://pt.wikipedia.org/wiki/Prote%C3%ADna http://www.ufv.br/dbg/gbolhtm/gbol0.htm#parte1 37GENÉTICA Ácido ribonucléico (RNA): Colabora na execução das informações genéticas codificadas no DNA ou, em raras espécies como os retrovírus, é a molécula que guarda a informação genética. Há três tipos de RNA: mensageiro, ribossômico e transportador. Adenina: uma das bases nitrogenadas, abreviada como A, presente nos nucleotídeos que se unem para formar o DNA e RNA. Pareia com a timina (T) no DNA e com a uracila (U) no RNA. Alelo: uma das formas diferentes de um gene que pode existir em um determinado lócus. Alelo dominante: um alelo que expressa seu efeito fenotípico mesmo quando em heterozigose com um alelo recessivo. Assim, se A é dominante em relação a a , então A/A e a/a têm o mesmo fenótipo. Alelo mutante: um alelo que difere do alelo encontrado no tipo padrão ou selvagem. Alelo recessivo: um alelo cujo efeito fenotípico não é expresso em um heterozigoto. Aminoácido: a unidade química básica das proteínas; nos organismos vivos encontram-se vinte tipos de aminoácidos. Bacteriófago (fago): um vírus que infecta a bactérias Base nitrogenada: Pode ser de quatro tipos no DNA: adenina, guanina, citosina e timina. O RNA possui os mesmos três primeiros tipos, mas a timina é substituída por uracila. Célula somática: uma célula que não é destinada a se tornar um gameta; uma célula do corpo cujos genes não serão passados para as gerações futuras. Citosina: uma das bases nitrogenadas, abreviada como C, presente nos nucleotídeos que se unem para formar o DNA e o RNA. Pareia com a guanina (G) tanto no DNA como no RNA. Código genético: o código pelo qual a informação genética, contida na sequência de nucleotídeos do DNA, relaciona-se com a sequência de aminoácidos da proteína. Cada três bases do DNA (tríplex) especificam um dos vinte aminoácidos na proteína. Códon: uma sequência de três bases de DNA ou RNA que codifica um aminoácido na proteína. Códon sem sentido: um códon para o qual não existe uma molécula de 38 UNIDADE 02 tRNA. Desoxirribose: molécula de açúcar que compõe os nucleotídeos do DNA. DNA: (veja ácido desoxirribonucléico). Guanina: uma das bases nitrogenadas, abreviada como G, presente nos nucleotídeos que se unem para formar o DNA e o RNA. Pareia com a citosina (C) tanto no DNA como no RNA. Heterozigose: uma medida de variação genética em uma população; com relação a um lócus, tida como a frequência de heterozigotos para esse lócus. Heterozigoto: um indivíduo que tem um par de genes heterozigoto. Homozigoto: um indivíduo que tem um par de genes homozigoto. Mutação: mudança brusca na informação genética; normalmente refere- se à alteração de um simples par de bases no DNA, mas o termo também inclui alterações maiores, visíveis ao microscópio, como as aberrações cromossômicas. Oligonucleotídeo: um fragmento sintético de DNA composto de somente alguns poucos nucleotídeos (normalmente de 8 a 50pb). Pontes de hidrogênio: em uma ponte de hidrogênio, o átomo de hidrogênio está ligado a dois outros átomos, que em sistemas biológicos podem ser nitrogênio ou oxigênio. As pontes de hidrogênio mantêm as duas fitas de DNA unidas na dupla hélice e estabilizam a estrutura de proteínas. Ribose: molécula de açúcar que compõe os nucleotídeos do RNA. RNA: (veja ácidoribonucléico). Timina: uma das bases nitrogenadas, abreviada como T, presente nos nucleotídeos que se unem para formar o DNA e pareia com a adenina. Uracila: uma das bases nitrogenadas, abreviada com U, presente nos nudeotídeos que se unem para formar o RNA e pareia com a adenina. 1. O que são mutações? Quais seus efeitos fenotípicos? 2. Em quais níveis pode ocorrer uma mutação?Descreva-os. 39GENÉTICA O objetivo básico desta unidade foi fornecer aos alunos conhecimentos teóricos sobre a base molecular da herança. Foi abordado como o material genético consegue armazenar e transmitir a informação genética em todos os organismos conhecidos. Para tanto, fez-se uma abordagem histórica sobre a natureza química do material genético e os mecanismos de alteração do DNA (mutações gênicas). 3. Comente as diferenças das seguintes mutações: a) Dominante; recessiva; letal b) Germinais; somáticas c) Espontâneas; induzidas 4. Como uma mutação pode ser induzida? Comente. 5. Quais os tipos principais de mutações de ponto (base química)? Defina-os. 6. O que é uma mutação reversa e como ela pode ocorrer? 7. Qual a importância da mutação para a evolução? 8. Por que nem toda mutação acarreta uma alteração fenotípica no indivíduo mutante? 40 UNIDADE 02 UNIDADE 03 Meiose e Gametogênese GENÉTICA 43 A MEIOSE Meiose é a divisão nuclear pela qual uma célula reprodutiva com dois conjuntos equivalentes de cromossomos duas vezes para produzir quatro produtos meióticos, cada um dos quais tem apenas um conjunto de cromossomos. A genética deu um grande passo adiante com a noção que os genes são partes de estruturas celulares específicas, os cromossomos. Este simples conceito ficou conhecido como a teoria cromossômica da herança. Embora simples, a idéia tem tido enormes implicações, fornecendo um meio para correlacionar os resultados dos experimentos de cruzamento com o comportamento de estruturas que podem ser vistas ao microscópio. Essa função entre genética e citologia ainda é uma parte essencial da análise genética hoje em dia e tem aplicações importantes em genética médica, genética na agricultura e genética evolutiva. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA TEORIA CROMOSSÔMICA Como a teoria cromossômica tomou forma? As evidências se acumularam de variedade de fontes. Uma das primeiras linhas de evidência veio de observações de como os cromossomos se comportaram durante a divisão de um núcleo celular. Nos intervalos entre as pesquisas de Mendel e sua redescoberta, muitos biólogos se interessaram em hereditariedade, muito embora não tivessem conhecimento dos resultados de Mendel enfocaram o problema de um modo totalmente diferente. Estes pesquisadores queriam situar o material genético na célula. Um lugar óbvio para procurar foi nos gametas, pois eles são o MEIOSE E GAMETOGÊNESE UNIDADE 0344 único elo entre as gerações. Os ovócitos e espermatozoides foram tidos como contribuindo igualmente para a constituição genética da prole, embora difiram em tamanho. Os núcleos de ovócitos e espermatozoides eram conhecidos como sendo de tamanhos aproximadamente iguais, de modo que os núcleos foram os candidatos para abrigar as estruturas hereditárias. Meiose Muito embora os primeiros pesquisadores não conhecessem o DNA ou que ele se replicava durante a interfase, ainda era evidente que a mitose (ver apostila de Biologia Celular) é o modo pelo qual o número de cromossomos é mantido durante a divisão celular. Assim, os cromossomos pareciam ser os candidatos naturais para serem portadores dos genes. Eles sabiam que, neste processo, dois núcleos se fundem, mas o número de cromossomos, entretanto, permanece constante. O que impedia a duplicação do número de cromossomos em cada geração? Esta dúvida foi resolvida pela previsão de um tipo especial de divisão nuclear que reduzia à metade o número de cromossomos. Esta divisão especial, que foi afinal descoberta nos tecidos produtores de gametas de plantas e animais, é chamada de meiose. Meiose é o nome dado a duas divisões nucleares sucessivas chamadas de meiose I (reducional) e meiose II (equacional) em células especiais chamadas meiócitos. As duas divisões meióticas e suas divisões celulares originam um grupo de quatro células que são chamados de produtos da meiose. Em animais e plantas, os produtos da meiose tornam-se gametas haploides. Nos humanos e outros animais, a meiose ocorre nas gônadas e produtos da meiose são os gametas, espermatozoides e ovócitos. Nas plantas com flores, a meiose ocorre nas anteras e ovários e os produtos da meiose são os meiósporos dos quais se originam os gametas. Antes da meiose, uma fase S (ver apostila Biologia Celular) duplica o DNA de cada cromossomo para formar as cromátides irmãs, como na mitose. As cromátides irmãs tornam-se visíveis na prófase I. Os cromossomos homólogos então se pareiam para formar grupos de quatro cromátides. As cromátides não-irmãs participam de um processo de quebra e reunião chamado crossing-over, esse processo é fonte de variabilidade genética em genes situados em um mesmo cromossomo. Reducional: primeira parte da meiose que reduz o número de cromossomos pela metade. Equacional: o número de cromossomos das células se dividem e mantém-se o mesmo nas células que se formam. SAIBA MAIS GENÉTICA 45 Na anáfase I, cada um dos pares de cromátides irmãs é levado para núcleos-filhos diferentes. Na anáfase II, as próprias cromátides-irmãs são levadas para núcleos-filhos resultantes desta divisão. Vemos então que os eventos fundamentais da meiose são a replicação do DNA, seguida do pareamento dos homólogos, da segregação, e então, por outra segregação. Por meio da figura é possível vermos todas as subfases da Meiose I e Meiose II. A meiose I é subdivida em prófase I (leptóteno, zigóteno, paquíteno, diplóteno e diacinese), metáfase I, anáfase I e telófase I. A meiose II é subdivida em metáfase II, anáfase II e telófase II. Crossing-over: representa a troca recíproca entre segmentos correspondentes de cromossomos homólogos, a qual ocorre na primeira divisão da meiose. Figura 3.1. Esquema do mecanismo da meiose. Fonte: http://www.esec-odivelas.rcts.pt/BioGeo/Fichas%20unidade%206/001.JPG. Acesso em .... SAIBA MAIS UNIDADE 0346 A prófase I é uma fase bem longa e consta de eventos importantes para a variabilidade genética. Na subfase de leptóteno os cromossomos tornam-se visíveis como filamentos únicos finos, semelhantes a um aspecto de colar de contas. A subfase de zigóteno é destacada pelo pareamento ativo dos filamentos, chamado de sinapse, mediante a formação do complexo sinaptonêmico, que se dá pela existência de proteínas especiais de adesão. Embora a existência desse complexo seja conhecida há algum tempo, o funcionamento exato desta estrutura ainda é objeto de pesquisas. No paquíteno, temos cromossomos grossos e totalmente pareados. Nesta fase ocorre troca de segmentos entre as cromátides não-homólogas (crossing-over), primeiro evento importante para a variabilidade genética. O diplóteno se caracteriza pela visualização do crossing-over, também chamado de quiasmas. Na diacinese temos uma maior concentração dos cromossomos e a terminalização dos quiasmas. Na Metáfase I cada par de homólogos ocupa uma posição na placa equatorial da célula. Nessa etapa, a membrana nuclear e os nucléolos desaparecem. Esse direcionamento dos pares de cromossomos para o plano equatorial da célula se dá de forma aleatória e representa outra fonte de variabilidade, quando consideramos genes distintos situados em cromossomos separados. Nessa fase, as cromátides ainda se encontram ligadas nos pontos de contato, estabelecidos pelo evento do crossing- over. A Anáfase I inicia-se quando as cromátidesmovem-se em direção aos polos opostos, nesse momento as cromátides que trocaram segmentos são desligadas dos pontos de contato. A Telófase I e a Interfase, ou também chamada de Intercinese, não são universais. Em muitos organismos, estes estágios não existem e não reconstitui a membrana nuclear, onde as células vão para a meiose II. Em outros organismos, a telófase I e a intercinese são de duração curta, os cromossomos se alongam e se tornam difusos e a membrana nuclear se reconstitui. Em qualquer caso, nunca há síntese de DNA neste período e o estado genético dos cromossomos não muda. Na Prófase II, os cromossomos se apresentam em número haploide. Na Metáfase II, os cromossomos se dispõem na placa equatorial. Nesta fase, as cromátides se dissociam uma da outra em vez do modo como estão na meiose (ver apostila de Biologia Celular). Na Anáfase II, os centrômeros se dividem e as cromátides irmãs são levadas para os polos Complexo sinaptonêmico: uma estrutura complexa que une homólogos durante a prófase da meiose. SAIBA MAIS GENÉTICA 47 opostos pelas fibras do fuso. Na Telófase II, os núcleos se reconstituem ao redor dos cromossomos nos polos. Nas anteras de uma flor, os quatro produtos da meiose desenvolvem- se em grãos de pólen. Em outros organismos, a diferenciação produz outros tipos de estruturas a partir dos produtos da meiose, tais como espermatozoides nos animais. O crédito pela teoria cromossômica da hereditariedade, o conceito de que os genes são partes dos cromossomos é dado a Walter Suton e Theodor Boveri. Em 1902, eles reconheceram independentemente que o comportamento dos genes durante a produção dos gametas era paralelo ao comportamento dos cromossomos na meiose: os genes estão aos pares, bem como os cromossomos. Os alelos de um gene se segregam igualmente em gametas (e assim os membros de um par de cromossomos homólogos); diferentes genes atuam independentemente (e assim os diferentes pares de cromossomos). Após reconhecer este comportamento paralelo, ambos chegaram à mesma conclusão de que o comportamento paralelo dos genes e cromossomos sugere que os genes estão situados nos cromossomos. Figura 3.2. Paralelismo entre o comportamento dos genes de Mendel e os cromossomos durante a meiose. Fonte: GRIFFITHS et al. (2001). UNIDADE 0348 GAMETOGÊNESE A grande maioria dos organismos superiores se reproduz por via sexuada, que engloba dois grandes acontecimentos: gametogênese e fertilização. Em animais a gametogênese é chamada de espermatogênese, no sexo masculino, e ovogênese, para o sexo feminino, no qual são gerados os espermatozoides e os óvulos, respectivamente. A espermatogênese se origina no epitélio germinal dos túbulos seminíferos dos testículos. Dentro destes túbulos, ocorrem células que sofrem sucessivas divisões mitóticas até formarem o espermatogônio. As células do espermatogônio crescem e se diferenciam nos espermatócitos primários, os quais podem sofrer meiose. Após a primeira divisão meiótica, são produzidos espermatócitos secundários que sofrem a segunda meiose originando os espermatídeos, que passam por um processo de maturação, formam cauda e dão origem aos espermatozoides. A ovogênese ocorre no epitélio germinal do ovário. Por crescimento e armazenamento do citoplasma, o ovogônio origina o ovócito primário que sofre uma divisão meiótica, produzindo duas células de tamanhos diferentes, o ovócito secundário e o corpúsculo polar primário. Em algumas situações, o corpúsculo polar primário pode sofrer a segunda divisão meiótica, produzindo dois corpúsculos polares secundários. A segunda divisão meiótica do ovócito secundário produz um corpúsculo polar secundário e uma ovótide, a qual passa por fases de crescimento, diferenciação e maturação para originar o óvulo. Todos os três corpúsculos polares se degeneram e não tomam parte na fertilização. A gametogênese em vegetais descritas nesse livro é aquela típica das angiospermas. A microsporogênese ocorre nos sacos polínicos dentro das anteras das flores, resultando na formação dos grãos de pólen - microsporócito primário – sofre meiose produzindo dois microsporócitos secundários que, após a segunda meiose, originam quatro micrósporos. Estes passam por uma mitose, sem citocinese, produzindo uma célula com dois núcleos. Um desses núcleos passa por uma segunda mitose resultando em um grão de pólen com três núcleos (um vegetativo e dois reprodutivos). Gametogênese: mecanismos que promovem a formação dos gametas. Fertilização: união dos núcleos dos gametas masculinos e femininos. SAIBA MAIS GENÉTICA 49 A megasporogênese ocorre no ovário, resultando num órgão reprodutivo com oito núcleos chamado saco embrionário. A formação do saco embrionário se inicia quando um megasporócito sofre meiose, formando duas células haploides. Na segunda divisão meiótica tem-se uma estrutura com quatro células (megásporos). Após a meiose, três se degeneram e somente uma sofrerá três mitoses sucessivas, sem citocinese, resultando em uma célula com oito núcleos denominados saco embrionário, que é envolvido pelo núcleo e duas camadas de tecido materno – integumento. Esse órgão recebe o nome de óvulo. Figura 3.3 Gametogênese em animal. Fonte: RAMALHO et al. (2008). UNIDADE 0350 Figura 3.4. Gametogênese em vegetais. Fonte: RAMALHO et al. (2008). Em uma das extremidades do saco embrionário, há uma abertura chamada micrópila, na qual penetra o tubo polínico. Três dos oito núcleos do saco embrionário se localizam próximos à micrópila, dois são as sinérgides que se degeneram e o terceiro é a oosfera, os outros três são chamados de antípodas e também se degeneram. Os dois últimos localizados na região mediana fundem-se originando o núcleo polar (Figura 3.5). GENÉTICA 51 A fertilização é um fenômeno que ocorre com a penetração no óvulo por um gameta masculino, originando o zigoto, onde acontece a fusão de dois gametas. Em animais, o espermatozoide atravessa duas camadas que recobre o óvulo, tais camadas são digeridas por enzimas, produzidas pelo espermatozoide e tão logo ocorra a penetração, acontece a fusão dos dois núcleos haploides, gerando um diploide, completando a fertilização. Em vegetais, ocorre à fusão de dois núcleos reprodutivos do grão de pólen, sendo um com a oosfera, gerando o zigoto, e o outro com os dois núcleos polares, formando uma célula triploide, que se divide por mitose para gerar o endosperma da semente. Esse processo é chamado de dupla fertilização. Figura 3.5: Dupla fertilização em vegetais. Fonte: RAMALHO et al. (2008). Quer conhecer um pouco mais sobre meiose? Não deixe de visitar o site: http:// www.ufmt.br/bionet/ conteudos/01.03. 05/divisao.htm Pesquise também os sites abaixo: http://www.cynara.com.br/citologia.htm http://www.icb.ufmg.br/biq/prodabi6/homepages/patricia/biopaty/ paginas/mitose_meiose.ppt SAIBA MAIS UNIDADE 0352 Células germinativas: células reprodutivas que nos organismos com reprodução sexuada se unem para formar um novo organismo. Na espécie humana e em animais essas células são o ovócito, nas fêmeas, e o espermatozoide, nos machos. (Veja também gametas e haploide). Centrômero: região do cromossomo que mantém as cromátides-irmãs unidas até a divisão celular. Cromátides-irmãs: as duas moléculas de DNA paralelas que se unem pelo centrômero e formam um cromossomo, após a duplicação do DNA. http://www.coladaweb.com/biologia/meiose.htm http://www.vestibular1.com.br/revisao/ciclo_mitose.doc http://www.icb.ufmg.br/biq/prodabi6/homepages/patricia/biopaty/ paginas/mitose_meiose.ppt http://pt.wikipedia.org/wiki/Meiose http://www.brasilescola.com/biologia/meiose.htm http://www.todabiologia.com/citologia/meiose.htm http://www.ofelia.com.br/vestibular/site/dicas/bio01.htmhttp://www.universitario.com.br/celo/topicos/subtopicos/citologia/meiose/ meiose.html http://www.consulteme.com.br/media/index.php/Citologia GENÉTICA 53 Cromossomos homólogos: os dois elementos que formam um par de cromossomos, um de origem materna e o outro, paterna. Cromossomos homólogos têm os mesmos locos gênicos e na mesma ordem. Crossing-over: a troca entre pares de homólogos correspondentes por troca e reunião de segmentos. Complexo sinaptonêmico: uma estrutura complexa que une homólogos durante a prófase da meiose. Diploide: simbolizado por 2n, refere-se ao número cromossômico quando dois conjuntos completos de cromossomos estão presentes (pares de cromossomos). A maioria das células somáticas é diploide e na espécie humana o número 2n é igual a 46. Gametas: as células reprodutivas, óvulo e espermatozoide, que possuem um número haploide de cromossomos. Haploide: simbolizado por n, refere-se ao número cromossômico quando está presente um único conjunto de cromossomos, metade do número diploide. Óvulos e espermatozoides são células haploides e na espécie humana o número n é igual a 23. Mitose: o processo de divisão celular que origina duas células-filhas geneticamente idênticas à célula parental. Ocorre nas células somáticas para o crescimento do organismo e a reposição celular. Meiose: um tipo especial de divisão celular que consiste em duas divisões sucessivas do núcleo com uma única duplicação dos cromossomos, resultando em quatro células-filhas e na redução do número diploide para haploide. Ocorre na produção dos gametas. Meiócito: Célula na qual ocorre meiose. Meiósporos: célula que é um dos produtos da meiose nas plantas. Segregação: a separação de estruturas homólogas; a produção de dois fenótipos separados, correspondentes a dois alelos de um gene, seja em indivíduos diferentes (segregação meiótica) ou em tecidos diferentes (segregação mitótica). Teoria cromossômica da herança: a teoria unificadora que diz que os padrões de herança em geral podem ser explicados pela suposição que os genes estão situados em locais específicos dos cromossomos. Tétrade: Quatro cromátides homólogas em um feixe na primeira prófase meiótica e metáfase. As quatro células haploides produzidas por uma única meiose. UNIDADE 0354 1. Cite as duas principais funções da meiose. 2. De que modo a segunda divisão da meiose difere da mitose? 3. A meiose normal ocorre em uma célula diploide com o genótipo A\a; B\b. Quais dos seguintes genótipos representam possíveis células filhas? A; B, a; b, A; b, a; B, A\A, B\B, A\a, B\b; a\a; b\b. 4. Se os filhos herdam metade de seus genes de um genitor e metade do outro genitor, por que os irmãos não são idênticos? 5. Quando uma célula com o genótipo A\a; B\b; C\c tendo com todos os genes em pares separados de cromossomos se divide mitoticamente, quais são os genótipos das células filhas? 6. As células humanas normalmente têm 46 cromossomos. Para cada um dos seguintes estágios, diga o número de cromossomos presentes em uma célula humana. a) metáfase da mitose b) metáfase I da meiose c) telófase da mitose d) telófase I da meiose e) telófase II da meiose (Em sua resposta conte cromátides como cromossomos) 7. Quais dos seguintes eventos é parte tanto da meiose quanto da mitose, mas um é só meiótico. Qual? (1) Formação de cromátides, (2) Formação do fuso, (3) condensação dos cromossomos, (4) movimento dos cromossomos para os polos, (5) pareamento cromossômico. 8. Organize os seguintes processos de meiose na ordem em que eles ocorrem. (I) os centrômeros se dividem; (II) as células tornam- se haploides; (III) os cromossomos homólogos se segregam; (IV) os GENÉTICA 55 cromossomos se pareiam; (V) são formados os núcleos dos gametas; (VI) o DNA se replica; (VII) ocorre o crossing-over. 9. Uma célula tem quatro pares de cromossomos homólogos designados Aa, Bb, Cc e Dd, onde A e a representam um par de homólogos. Quantos tipos de gametas diferentes essas células podem produzir? Considerando que as informações sobre o núcleo da célula e seus componentes, informações sobre o material genético e sua organização no núcleo das células, além dos mecanismos envolvidos na divisão celular e como esses mecanismos estão envolvidos no aparecimento de doenças, foram abordados no livro de Biologia Celular. Houve complemento do assunto abordando um pouco mais sobre a meiose, sua importância para a genética e encerrou o tema com a gametogênese. UNIDADE 0356 UNIDADE 04 Genética Mendelina GENÉTICA 59 INTRODUÇÃO O conceito de gene, não a palavra, foi apresentado pela primeira vez por Gregor Mendel em 1865. Até então, pouco progresso tinha sido feito na compreensão dos mecanismos de hereditariedade. A ideia predominante da época era que os gametas masculinos e femininos continham uma amostra das essências de várias partes do corpo dos pais. Estas essências de algum modo se misturavam para influenciar o desenvolvimento da nova descendência. Esta idéia de herança por mistura evoluiu para contribuir para o fato de que a descendência tipicamente apresenta características que são similares às de ambos os genitores. Entretanto, alguns problemas estão associados a esta idéia, um dos quais é que a prole nem sempre é uma mistura intermediária das características de seus genitores. Como resultado de sua pesquisa com ervilhas, Mendel propôs a herança particulada. De acordo com a teoria de Mendel, as características são Figura 4.1. Capa do manuscrito de Mendel. Fonte: SNUSTAD & SIMMONS (2001). GENÉTICA MENDELINA UNIDADE 0460 determinadas por unidades discretas, que hoje chamamos de genes, herdadas intactas ao longo de gerações. Este modelo explica muitas observações que não podiam ser explicadas pela idéia de herança por mistura. Também serviu como um arcabouço para compreensão posterior mais detalhada do mecanismo de hereditariedade. A importância das idéias de Mendel só foi reconhecida por volta de 1900 (após sua morte). Sua publicação foi então redescoberta por três cientistas, após cada um, de maneira independente, ter obtido o mesmo tipo de resultado. O trabalho de Mendel constituiu o protótipo de uma análise genética. Ele inseriu um enfoque lógico e experimental para a hereditariedade, ainda utilizado nos dias de hoje. OS EXPERIMENTOS DE MENDEL Gregor Mendel nasceu na região da Morávia, na época parte do império austro-húngaro. Ao terminar o colegial ele entrou para o mosteiro agostiniano de St. Thomaz na cidade de Brünn, hoje Brünn na República Tcheca. Nesse mosteiro priorizava-se o ensino de ciências e a pesquisa científica, e Mendel foi enviado a uma universidade em Vienna para obter seus créditos de professor. Entretanto, foi reprovado nos exames e voltou para o mosteiro em Brünn. Lá, desenvolveu um programa de pesquisa sobre hibridização de plantas que lhe rendeu o título de fundador da genética. Os estudos de Mendel constituem um exemplo marcante de excelente técnica científica. Ele escolheu um material de pesquisa bem adequado ao estudo do problema, planejou cuidadosamente seus experimentos, coletou uma grande quantidade de dados e usou a análise matemática para mostrar que seus resultados eram consistentes com sua hipótese explicativa. As previsões das hipóteses foram então testadas em uma nova rodada de experimentos. Escolha do material Mendel estudou a ervilha de jardim (Pisum sativum) por duas razões principais. Primeiro, as ervilhas estão amplamente disponíveis nas revendas de sementes em uma ampla variedade de formas e cores diferentes que podem ser facilmente identificadas e analisadas. Segundo, as ervilhas podem ser autofecundadas ou ter polinização cruzada GENÉTICA 61 artificial. O pesquisador pode cruzar (polinização cruzada) quaisquer duas plantasà vontade. As anteras são emasculadas, que é feita para evitar a autofecundação. O pólen de outra planta é então transferido com as próprias anteras para o estigma receptivo (Figura 4.2). Outros motivos práticos para a escolha das ervilhas foram o preço, de fácil obtenção, ocupam pouco espaço, tem curto tempo de geração e produzem uma grande descendência. Monoibridismo Mendel escolheu sete características diferentes para estudo. Para cada uma das características que escolheu, Mendel obteve linhagens de plantas, o qual cultivou por dois anos para ter certeza de que eram puras. Duas das linhagens de ervilhas estudadas por Mendel eram puras para a característica cor da flor. Uma linhagem era pura para flores púrpuras; a outra, para flores brancas. Qualquer linhagem pura com a cor de flor púrpura, quando autofecundada com outras da mesma Figura 4.2 Uma flor de ervilha com a carena cortada e aberta para expor as partes reprodutivas. Fonte: GRIFFITHS et al. (2001). Autofecundação: modo de reprodução sexuada em que os gametas masculinos e femininos são oriundos do mesmo indivíduo. Ocorre predominantemente em vegetais. Característica ou caráter: Conjunto de informações biológicas que identificam os indivíduos. Linhagem: indivíduo ou grupo de indivíduos com um único genótipo homozigótico em todos os locos. SAIBA MAIS SAIBA MAIS UNIDADE 0462 linhagem, produzia plantas com flores púrpuras e assim por diante. A linhagem de flores brancas similarmente produziu flores brancas em todas as gerações. Mendel obteve vários pares de linhagens puras para várias características, com cada par diferindo em apenas uma característica (Figura 4.3). Cada par das linhagens de plantas de Mendel apresentavam uma diferença contrastante em uma determinada característica. Os fenótipos contratantes para uma determinada característica representam o ponto de partida para qualquer análise genética. As linhagens (ou indivíduos) diferentes representam formas diferentes que a característica pode ter, elas podem ser chamadas de fenótipos. O termo fenótipo (derivado do grego) significa literalmente “a forma que é apresentada”. Ressalta-se que muitas palavras tais como gene e fenótipo não tenham sido usados ou criados por Mendel, onde devemos usá-las para descrever os resultados e hipóteses de Mendel. A Figura 4.4 mostra as sete características da ervilha representada por dois fenótipos contrastantes. Figura 4.3 Técnica de polinização cruzada artificial. Fonte: GRIFFITHS et al. (2001). Fenótipo: formas alternativas de expressão de uma característica. Essa expressão depende do genótipo e do ambiente. Figura 4.4 As sete diferenças de características estudadas por Mendel. Fonte: GRIFFITHS et al. (2001). SAIBA MAIS GENÉTICA 63 Veremos agora a análise de Mendel sobre as linhagens puras para cor de flores. Em um de seus primeiros experimentos, Mendel polinizou uma planta de flor púrpura com o pólen de uma planta de flor branca. Chamamos as plantas da linhagem pura de geração parental (P). Todas as plantas resultantes deste cruzamento tinham flores púrpuras (Figura 4.5). Esta geração de descendentes é chamada de primeira geração filial (F1). As gerações subsequentes produzidas por autofecundação são simbolizadas por F2, F3, e assim por diante. Mendel fez cruzamentos recíprocos, nos quais ele polinizou uma flor branca com pólen de uma planta de flor púrpura produziram os mesmos resultados (todas as flores púrpuras) na F1 (Figura 4.5). Neste caso, a herança não é uma simples mistura das cores branca e púrpura para produzir alguma cor intermediária. Para manter uma teoria de herança por mistura, teríamos que supor que a cor púrpura era de algum modo “mais forte” que a cor branca e superar qualquer traço do fenótipo branco na mistura. Em seguida, Mendel autofecundou as plantas de F1, permitindo que o pólen de cada flor caísse em seu próprio estigma. Ele obteve 929 sementes de ervilha desta autofecundação (os indivíduos da F2) e as plantou. Interessantemente, algumas das plantas resultantes eram de Cruzamento recíproco: É aquele em que o genitor é usado ora como macho ora como fêmea. O cruzamento AA x aa é recíproco do cruzamento aa x AA. Figura 4.5. Cruzamento de Mendel entre flor púrpura x branca e o recíproco. Fonte: GRIFITTHS et al. (2001). SAIBA MAIS UNIDADE 0464 flor branca; o fenótipo branco tinha reaparecido. Mendel então fez algo que marcou o nascimento da genética moderna: ele contou o número de plantas com cada fenótipo. Este procedimento raramente, ou nunca, tinha sido usado em estudos de herança antes do trabalho de Mendel. De fato, outros tinham obtido resultados similares em estudos de cruzamentos, mas tinham falhado em contar os números em cada classe. Mendel contou 705 plantas de flor púrpura e 224 plantas de flor branca. Ele notou que a proporção de 705:224 é quase exatamente uma proporção de 3:1 (de fato é 3,1:1). Mendel repetiu os procedimentos de cruzamentos para seis outros pares de diferenças de características em ervilha. Ele encontrou a mesma proporção de 3:1 na geração F2 de cada par (Quadro 4.1). Nesta época, ele sem dúvida começou a acreditar no significado da proporção 3:1, e procurou uma explicação para ele. Em todos os casos, um fenótipo parental desaparecia na F1 e reaparecia em um quarto da F2. O fenótipo branco, por exemplo, estava totalmente ausente da geração F1, mas reapareceu (em sua forma original total) em um quarto das plantas de F2. Quadro 4.1 Resultado dos cruzamentos Mendelianos É muito difícil aplicar a teoria da herança por mistura para obter uma explicação deste resultado. Muito embora as flores de F1 fossem púrpuras, as plantas evidentemente tinham o potencial de produzir uma prole com flores brancas. Mendel deduziu que as plantas de F1 recebem GENÉTICA 65 de seus genitores as habilidades de produzir tanto o fenótipo púrpura quanto o fenótipo branco, e estas habilidades são mantidas e passadas adiante para as futuras gerações em vez de serem misturadas. Por que o fenótipo branco não se expressou nas plantas de F1? Mendel usou o termo dominante e recessivo para descrever este fenômeno sem explicar o mecanismo. O fenótipo púrpura é dominante em relação ao fenótipo branco, e o fenótipo branco é recessivo em relação à púrpura. Assim, a definição operacional de dominância é dada pelo fenótipo de uma F1 estabelecido pelo intercruzamento de duas linhagens puras. O fenótipo parental que é expresso em tais indivíduos da F1 é por definição o fenótipo dominante. Mendel continuou e demonstrou que, na classe dos indivíduos F2 que apresentavam o fenótipo dominante, havia de fato duas subclasses geneticamente distintas. Neste caso, ele estava trabalhando com a cor das sementes. Em ervilhas, a cor da semente é determinada pela constituição genética da própria semente, e não pelo genitor materno como em algumas espécies de plantas. Esta autonomia é conveniente porque os pesquisadores podem tratar cada ervilha como um indivíduo, e podem observar seu fenótipo diretamente sem ter que cultivar uma planta a partir dela, como tem que ser feito para a cor da flor. Também significa que números muito maiores podem ser examinados, e os estudos podem ser ampliados para as gerações subsequentes. As cores das sementes que Mendel usou eram amarelas e verdes. Ele cruzou uma linhagem pura amarela com uma linhagem pura verde e observou que as ervilhas de F1 que tinham surgido eram todas amarelas. Simbolicamente, P amarela X verde ↓ F1 todas amarelas Portanto, por definição, amarelo é o fenótipo dominante e verde o recessivo. Mendel cultivou plantas a partir de F1 e então as autofecundou. As ervilhas que se desenvolveram das plantas de F1 constituíram
Compartilhar