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Resenha Hermenêutica Jurídica e(m) Crise

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Universidade Estadual do Piauí – UESPI 
Campus Poeta Torquato Neto 
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas – CCSA 
Coordenação do Curso de Direito – CCD 
Disciplina: Hermenêutica Jurídica 
Professora: Esther Maria Sá Castelo Branco 
 
 
 
 
 
 
RESENHA CRÍTICA 
Hermenêutica Jurídica e(m) Crise 
Uma exploração hermenêutica da construção do Direito 
 
 
 
 
 
 
 
Alinne Pereira Jorge 
 
 
 
 
 
Teresina, PI 
18/12/17 
RESENHA CRÍTICA 
 
INFORMAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise: uma exploração hermenêutica da 
construção do Direito. 11 ed. rev., atual. e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 
2014. 
DADOS SOBRE O AUTOR 
Nascido aos 21 dias do mês de novembro de 1955 no município gaúcho de Agudos, Lenio 
Luiz Streck é um renomado jurista brasileiro, mormente reconhecido por suas realizações nas 
áreas da filosofia do direito e do direito constitucional, bem como da hermenêutica jurídica. 
Procurador de Justiça aposentado, foi membro do Ministério Público do Estado do Rio 
Grande do Sul no período compreendido entre 2 de setembro de 1986 e 31 de maio de 2014. 
Tendo-se formado bacharel em direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) 
no ano de 1980, tornou-se mestre em direito do Estado pela Universidade Federal de Santa 
Catarina (UFSC) em 1988. Também nessa universidade recebeu o título de doutor em 1995, 
tornando-se, logo em seguida, professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos-RS), 
onde auxiliou a elaboração do Programa de Pós-Graduação em Direito, lugar em que atua até os 
dias atuais como coordenador das linhas de pesquisa do programa. No ano de 2001, concluiu o pós-
doutorado pela Universidade de Lisboa. 
Streck figura como Membro Catedrático da Academia Brasileira de Direito Constitucional 
(ABDConst) desde 2003, sendo também Presidente de Honra do Instituto de Hermenêutica 
Jurídica. Colabora como professor visitante em algumas instituições, como a Universidade Estácio 
de Sá (UNESA-RJ), a Facultad de Ciencias Jurídicas da Pontifícia Universidad Javeriana de 
Bogotá e a Universidade de Coimbra, em Portugal. 
Focando nas áreas do direito constitucional, administrativo, eleitoral e penal, fundou o 
escritório de advocacia Streck, Trindade & Rosenfield no ano de 2015. 
Coordenou, junto a José Joaquim Gomes Canotilho, Gilmar Ferreira Mendes, Ingo 
Wolfgang Sarlet e Léo Ferreira Leoncy, a produção do livro Comentários à Constituição do 
Brasil, obra que venceu o Prêmio Jabuti 2014, segundo lugar na categoria direito. Concorreu como 
finalista na mesma edição da premiação com o livro Compreender Direito. Em 2016, concorreu 
novamente ao Prêmio Jabuti com o livro Os Modelos de Juiz: Ensaios de Direito e Literatura, 
escrito em coautoria com André Karam Trindade, tendo ficado como um dos finalistas. 
Publicou dezenas de livros como autor e/ou coautor versando sobre hermenêutica 
jurídica, direito constitucional, direito processual e direito penal. Sua obra “O que é isto - decido 
conforme minha consciência? ” é o primeiro volume da Coleção "O que é isto?" – lançada pelo 
autor – cuja problematização constitui verdadeira “acusação” contra o decisionismo judicial. 
Presentemente, leciona nos cursos de pós-graduação em direito da Universidade do Vale 
do Rio dos Sinos e atua como advogado, além de apresentar semanalmente o programa Direito & 
Literatura, levado ao ar pela TV Justiça, bem como pela TV Unisinos. Faz parte do Conselho 
Editorial do Observatório da Jurisdição Constitucional do Instituto Brasiliense de Direito Público 
e lidera, na Unisinos, o grupo de pesquisa "Hermenêutica Jurídica", vinculado ao Conselho 
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/BR), atuando também como 
coordenador do DASEIN - Núcleo de Estudos Hermenêuticos. 
Tanto por sua postura investigativa, questionamentos pertinentes e caráter perscrutador 
quanto pela sua capacidade de elaborar respostas significativas às problematizações, é 
frequentemente convidado para proferir palestras, participar de Simpósios e ministrar cursos no 
Brasil e no exterior, tendo sido recorrentemente cotado para o cargo de ministro do Supremo 
Tribunal Federal. 
 
DADOS SOBRE A OBRA 
O livro de quatrocentas e cinquenta e cinco páginas prefaciado pelo filósofo, professor e 
escritor brasileiro Ernildo Stein traz, em doze capítulos, uma ruptura paradigmática visando “des-
velar” o que vem sendo encoberto pelo imaginário dos juristas, trazendo um enfrentamento a esse 
fato, bem como respostas oportunas e congruentes com o contexto apontado. 
No primeiro capítulo, o autor evidencia a realidade brasileira, onde a modernidade chega 
tardiamente. A realidade na qual há um esforço, inclusive do próprio Estado, de manter as 
desigualdades entre os cidadãos, por meio de situações esdrúxulas observadas na política nacional 
na tentativa de manter o estamento que configura o patrimonialismo estatal, bem como do 
empenho da mídia em reforçar a imagem de normalidade e consequente aceitação da exclusão 
social. Traz ainda à tona a intenção de institucionalização do crime de colarinho branco, o que 
denota claramente que, no Brasil, “o crime compensa”. Encerra este capítulo com o dizer de 
Jurandir Freire Costa: “hoje aposentamos os Rousseau. Em vez de utopias, (existem os) manuais 
de autoajuda, psicofármacos, cocaína e terapêuticas diversas para os que têm dinheiro; banditismo, 
vagabundagem, mendicância ou religiosismo fanático para os que apenas sobrevivem”. 
O segundo capítulo divide-se em quatro tópicos. No primeiro, o autor coloca a transição 
da interindividualidade à transindividualidade, anunciando uma disfuncionalidade do Direito 
brasileiro enquanto instrumento de transformação social, no sentido de estar preso ao modo de 
produção do Direito engendrado para a resolução de disputas interindividuais, não obstante estar 
a sociedade contemporânea permeada de conflitos transindividuais, o que o leva a questionar “qual 
é o papel do Direito e da dogmática jurídica neste contexto? ”. Já no segundo tópico, afirma que 
“por vezes, cumprir a letra da lei é um avanço considerável”, tendo em conta que o texto da lei, 
desde que democraticamente elaborado e com a moral funcionando como cooriginária do Direito, 
não equivale à hermenêutica exegética do positivismo primitivo. Fala ainda sobre o 
pamprincipiologismo que se apoderou do cenário jurídico nacional, defendendo que o elemento 
interpretativo deve ser explorado fenomenologicamente e finaliza afirmando que embora obtendo 
poder econômico e construindo estruturas sociais, mantemos os problemas inerentes à qualidade 
de vida, bem como propagamos e reproduzimos a injustiça. No tópico seguinte, aborda o papel do 
Direito e dos Tribunais no Estado Democrático de Direito, cujo conceito pressupõe uma 
valorização do jurídico, exigindo um reposicionamento teórico acerca do papel destinado ao 
judiciário no quadro instituído a partir do constitucionalismo surgido após a Segunda Grande 
Guerra. Segundo Streck, a noção de Estado Democrático de Direito está intrinsecamente associada 
à consumação dos direitos fundamentais, donde adviria seu “plus normativo” (nas palavras do 
autor) na direção da construção de uma sociedade na qual possam ser inaugurados “níveis reais de 
igualdades e liberdades”. Principia a exposição das divergências existentes entre a postura 
procedimentalista – a qual não reconheceria o caráter concretizador da jurisdição constitucional - 
em contraposição à postura substancialista – cujo raciocínio vê o judiciário como modo de garantir 
o fortalecimento da democracia, além de reconhecer o aspecto concretizador da jurisdição 
constitucional.Expõe os pensamentos inerentes às duas correntes teóricas, citando seus principais 
idealistas. Ainda dentro desta discussão, questiona a relação entre Direito e Política e até que ponto 
pode o Direito instaurar a edificação da sociedade, expondo novamente o dilema brasileiro de um 
judiciário ainda não preparado para lidar com as questões transindividuais que se colocam. O 
quarto e último tópico colocado neste capítulo denuncia o não cumprimento da Constituição pelos 
poderes Executivo e Legislativo. Os direcionamentos colocados no texto constitucional não vêm 
sendo implementados, todavia, não poderá o Judiciário ser o detentor da “fórmula milagrosa” que 
solucionará os fracassos das políticas públicas. Segundo o autor, a presente situação poderia 
ocasionar “o risco de ‘criar’ cidadãos de segunda classe, que, em vez de reivindicarem seus direitos 
no campo da política, apostam no paternalismo juridicista”. De acordo com Streck, o Judiciário 
poderá atuar como via de resistência às tentativas dos Poderes Executivo e Legislativo de 
implementar políticas que tragam retrocesso social ou ineficácia dos direitos individuais ou 
sociais, muito embora não se possa pretender que o Judiciário passe a exercer funções Executivas, 
devendo funcionar o Direito como instrumento de “reforma” da sociedade. Declara ainda o 
posicionamento preponderante na história do Direito de funcionar mais como forma de sonegar 
aos cidadãos os seus direitos que de salvaguardá-los. Menciona estar o senso comum dos teóricos 
ainda presos à Filosofia da Consciência, utilizando-se da linguagem do sujeito isolado, apontando 
– por fim – a necessidade de não apenas sabermos o que as coisas são em si, mas principalmente 
sabermos o que dizemos quando delas falamos. 
 O terceiro capítulo é voltado à discussão da não recepção da viragem ontológico-
linguística pelos juristas, os quais ainda não se deram conta de que o Direito é linguagem, devendo 
ser considerado como tal. O autor afirma estar a atuação da dogmática jurídica brasileira vinculada 
a uma associação da metafísica clássica com o solipsismo, asseverando que essa visão é oriunda 
de uma má interpretação das ideias kelsenianas, o que acaba por levá-los a crer no uso da 
discricionariedade – que figurava como fatalidade em Kelsen – como uma salvação para as lacunas 
da Lei. Streck indica Alexy como aquele que teria realizado um maior avanço, por buscar 
harmonizar o método analítico da jurisprudência dos conceitos com o axiologismo da 
jurisprudência dos valores – no entanto – por ater-se ainda ao paradigma sujeito-objeto, a 
ponderação de Alexy não escapa ao subjetivismo. Ademais, a versão do pensamento de Alexy 
difundida no Brasil acabou por fazer que a ponderação funcionasse como álibi teórico para 
“autorizar” qualquer resolução. Lenio sustenta que a maioria dos juristas defensores do 
neoconstitucionalismo aposta na discricionariedade, acreditando, com isso, ser pós-positivistas – 
como se apenas isso lhes conferisse a ruptura que se faz necessária a essa mudança de paradigma. 
A partir daí, problematiza acerca do conhecimento acrítico que os juristas acabam por obter das 
palavras e atividades proferidas e realizadas habitualmente, sabendo o que dizem e fazem, mas 
não alcançando por que o dizem e o fazem, mantendo-se alheios à criticidade em relação ao 
panorama jurídico. Em vez disso, importam-se com a sua reputação e o seu prestígio, trabalhando 
mecanicamente sem questionar ou buscar compreender o cunho ideológico por trás de cada ato 
ligado ao Direito. O autor ainda faz duras críticas a várias leis e reformas realizadas, as quais 
intentariam a institucionalização de alguns crimes, bem como ao Código Penal, o qual – por vezes 
– puniria com mais rigor os crimes contra a propriedade do que os contra a vida. Busca-se apenas 
uma argumentação loquaz tencionando perpetuar a ideologia defendida, através da abstrativização 
de conflitos reais vivenciados por pessoas reais, as quais passam a ser tratadas também como 
abstrações, o que caracterizaria uma “coisificação” das relações jurídicas. Lenio conclui o presente 
capítulo contextualizando suas colocações ao citar acontecimentos jurídicos que exemplificam tal 
fenômeno, o qual teria ocasionado interpretações inteiramente afastadas das relações sociais, posto 
que o mais significante para os juristas atualmente é conceber uma “boa hermenêutica”, elucidando 
as antinomias do ordenamento jurídico. 
No quarto capítulo, Lenio expõe a “cegueira” dos juristas, envolvidos no interior do senso 
comum teórico, a ponto de não se darem conta do enorme paradoxo existente que ocasiona a 
impunidade de crimes mais danosos para a sociedade e punições relativamente severas para um 
“ladrão de galinha”. Essa cegueira se reproduz no ensino jurídico, formando gerações cada vez 
mais apegadas a manuais que levam à mera racionalidade instrumental. Tal crise no ensino jurídico 
traduz uma crise do Direito propriamente dito, pois o ensino da doutrina “mecânica” resulta em 
um Direito alienado da sociedade. O autor chama a atenção para o fato de haver uma busca pela 
“uniformização de sentido”, a qual impõe determinadas significações como legítimas, 
condicionando todos à aceitação daquilo que é convencionado como o Direito e a Lei. Conclui 
com a assertiva: “ou se acaba com a estandardização do Direito, ou ela acaba com o que resta da 
ciência jurídica”, ao tempo que aponta as mudanças que precisam ser implementadas para lograr 
a ruptura paradigmática que propõe. 
 O quinto capítulo é iniciado pelo autor trazendo toda a trajetória histórica do 
positivismo, desde o período pré-codificação, passando por suas diversas fases e trazendo os 
conceitos e ideias de grandes nomes do Direito nos diversos momentos da existência do paradigma 
positivista. O autor perpassa sucintamente as ideias trazidas por todos os mais célebres expoentes 
da ciência jurídica até chegar ao neoconstitucionalismo, o qual compreende como mera “superação 
parcial do paleo-juspositivismo (Ferrajoli) ”. Levanta diversas questões acerca dos equívocos 
cometidos em torno do positivismo, pois segundo o autor, apegar-se à letra da lei pode ou não ser 
uma atitude positivista, a depender da compreensão que se faz da linguagem; não se apegar à letra 
da lei pode caracterizar ou não uma postura anti-positivista; o abuso no uso dos princípios pode 
findar por configurar atitude positivista e o uso dos princípios para driblar o texto constitucional 
acaba por remeter ao positivismo discricionário de Hart. O autor declara ultrapassada a abordagem 
Vontade da Lei X Vontade do Legislador, descrevendo – em seguida – os confrontos ideológicos 
entre Subjetivismo e Objetivismo e a forma como esses paradigmas filosóficos podem condicionar 
a interpretação nas mais diversas áreas e abordagens, bem como a influência que possui sobre o 
senso comum teórico dos juristas e finaliza por denunciar o crescimento exacerbado do número de 
desculpas teóricas “disfarçadas” de princípios e a necessidade de superar esse momento, a que 
chama pamprincipiologismo. 
O sexto capítulo remete ao Crátilo em seu Convencionalismo X Naturalismo, donde se 
extrai que a linguagem é apenas instrumento posto que através dela não se alcança a realidade 
verdadeira, apenas sendo possível o conhecimento desta sem a mediação linguística. São 
abordados os conceitos desde os sofistas, passando por Sócrates e Platão até chegar à metafísica 
aristotélica, a qual influenciou Heidegger, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, entre outros. 
Explicita o autor o fato de, na metafísica clássica, estar o sentido nas coisas, as quais teriam uma 
essência e - consequentemente - um sentido. O sujeito sujeitava-se ao objeto, posto que a 
subjetividade apenas surge com oadvento da modernidade. Lenio aborda ainda a importância da 
linguagem em Hobbes para a instituição do pacto formador do Estado, já que a má compreensão 
do pacto acarretaria a má formação do Estado. Já a partir do nominalismo e do conceitualismo 
versa-se de forma diversa no tocante à linguagem, dando a esta última um maior enfoque, o qual 
teria aberto caminho à viragem linguística que viria a seguir. O autor afirma ter sido a metafísica 
moderna iniciada por Descartes, a partir da “descoberta” da subjetividade, o que teria configurado 
uma ruptura em direção a uma iniciação filosófica da era moderna. 
O autor “esquematiza” no sétimo capítulo as fontes gadamerianas (nas palavras do autor). 
A crítica de Hamman a Kant teria influenciado a mudança paradigmática da filosofia da 
consciência para filosofia da linguagem. No entender de Herder, a linguagem é vista como abertura 
do mundo e o homem como criatura da língua. Em Herder, a linguagem seria fundamentada no 
sentimento. A partir do discurso de Humboldt receberia, a linguagem, evidência majorada, posto 
que, para ele a linguagem seria a condição que possibilitaria uma visão do mundo em sua 
totalidade, ultrapassando mesmo a importância da linguagem em Kant. A tese da linguagem 
humboldtiana teria, dessarte, sido utilizada como ponto de partida para as ideias de Gadamer. 
Inicia o capítulo oitavo discorrendo acerca da semiologia de Saussure (semiótica para 
Peirce). Em Saussure, a semiologia seria a ciência que estudaria a vida dos signos no seio da 
sociedade. Para ele, o signo seria composto de quatro características: arbitrariedade, imutabilidade, 
mutabilidade (no decurso do tempo) e linearidade. Lenio destaca a crítica realizada por Barthes, 
para quem a apresentação da semiologia seria como metalinguagem que toma outras linguagens 
como seu objeto. Já na semiótica de Peirce ocorrem as negativas ao cartesianismo, bem como a 
crítica às doze categorias fundamentais do pensamento de Kant. Para Peirce, existem apenas três 
formas elementares de significação: a primeiridade, a secundidade e a terceiridade, as quais 
corresponderiam, respectivamente, às noções de imaginário, real e simbólico de Lacan, na analogia 
realizada por Santaella. Conclui explanando a importância que teve a semiótica no campo jurídico, 
posto que proveu regras metodológicas para considerar a natureza do discurso, obter critérios 
seguros de interpretação deste e referir-se ao problema do significado como fenômeno do discurso. 
Ocorre no nono capítulo a exposição de como se deu efetivamente a viragem linguística, 
ocasionando a ruptura com a metafísica, a partir das posturas adotadas por diversos teóricos, 
inicialmente com o neopositivismo lógico, seguido pela filosofia de Wittgenstein, e desembocando 
no desenvolvimento da Filosofia da Linguagem Ordinária, a qual romperia com o positivismo 
exatamente na valoração da trinca sintaxe-semântica-pragmática, dando ênfase a esta última. 
Seguidamente a isto, o autor traça as linhas gerais da fundamentação do pensamento de Kelsen, 
Hart e Ross. Para Lenio, a viragem ontológico-linguística configura a superação do elemento 
apofântico, representando o alvorecer de uma nova perspectiva de constituição de sentido. 
O décimo capítulo é dedicado a demonstrar o modo como a viragem linguística 
influenciou a interpretação do Direito. O autor afirma que o rompimento com essa tradição é 
deveras difícil e não se faz sem fissuras. Realiza inicialmente uma preparação no sentido de 
demarcar a trajetória da hermenêutica até chegar a uma radicalização do giro hermenêutico-
ontológico, iniciado com a superação dos paradigmas metafísico, objetivista, aristotélico-tomista 
e subjetivista. Enumera os três estágios da hermenêutica, discorrendo acerca de cada um deles, 
quais sejam: técnica especial para interpretação, teoria geral da interpretação e hermenêutica 
fundamental. Segundo Lenio, a partir de Heidegger a hermenêutica dirige-se para a compreensão 
do ser-dos-entes, o que lhe teria conferido raízes existenciais. E é por todo o exposto que declara 
o século XX como a verdadeira “era da hermenêutica”, a qual teria recepcionado a revolução da 
linguagem, do fundamento e da ontologia. Tal recepção pode ser percebida nas obras de Josef 
Esser, Friedrich Müller, Arthur Kaufmann e Ronald Dworkin, na quais nota-se a presença de 
fundamental importância das ideias de Heidegger e Gadamer. A nova hermenêutica pretendida por 
este último questionará a totalidade do existente humano, bem como a forma em que este se 
encontra inserido no mundo. Já em Heidegger, deixaria a hermenêutica de possuir viés normativo, 
passando a assumir postura filosófica. De acordo com Gadamer, tanto historiador quanto jurista 
encontram a situação hermenêutica de forma similar, posto que - quando frente a um texto - 
colocamo-nos todos em expectativa de sentido imediata. Para Hesse, somente complementa-se o 
teor da norma no ato interpretativo. Lenio aborda, ainda neste capítulo, a necessidade de romper 
com a tradição metafísica da dogmática jurídica, promovendo assim o combate ao solipsismo. Para 
Lenio, “ fazer hermenêutica jurídica é realizar um processo de compreensão do Direito. Fazer 
hermenêutica é desconfiar do mundo e de suas certezas, é olhar o texto de soslaio. ” 
Trata o capítulo onze da crise da hermenêutica jurídica pela qual passa o Brasil, onde estão 
longe de ser realizados os legados da modernidade, mormente pelo fato de haver, grande dívida 
social a ser compensada. Esta é uma das razões pelas quais há a necessidade de repensar a 
dogmática jurídica. O autor faz uma analogia do momento atual vivenciado pelos operadores do 
Direito com a metáfora do contrato social hobbesiano, reforçando novamente a crítica de como o 
Direito está sendo ensinado nas Faculdades de Direito. Para Streck, não pode o Direito ser visto 
como mera instrumentalidade formal, e não se pode confundir direito positivo com positivismo 
jurídico. Conclui o capítulo enumerando dezenas de pontos que necessitam ser revisados, bem 
como as circunstâncias passíveis de mudança no meio jurídico no Brasil, fundamentando tais 
críticas nos conceitos dos teóricos, ao passo que apresenta proposições para a resolução das 
problematizações colocadas, o que continua por todo o capítulo doze, denominado pelo autor 
como um (necessário) posfácio, sugerindo “o abrir de uma clareira”, referindo-se às ideias 
colocadas e possíveis resoluções apontadas no decorrer de todo o capítulo. 
O autor conclui a obra com um pós-posfácio, no qual alerta para a problemática da 
discricionariedade interpretativa advinda de uma resistência do positivismo no meio jurídico. 
Adverte ainda para a necessidade de preservação da Constituição, abordando ainda o paradigma 
que envolve as discricionariedades interpretativas, suas decorrências e seus efeitos. Perpassa pelo 
fenômeno atual e crescente da edição de súmulas, não o indicando como um “mal em si”, mas 
alertando para a possibilidade da formação de um círculo vicioso no interior da dogmática jurídica, 
onde, perante o predomínio do positivismo, são admitidas interpretações discricionárias e 
arbitrárias que posteriormente seriam “congeladas” sob a forma de súmulas. Curiosamente, 
encerra a obra convidando a uma leitura de Dworkin e Gadamer “a partir e do interior do giro 
linguístico-ontológico e, portanto, da superação do esquema sujeito-objeto”. 
 
POSICIONAMENTO CRÍTICO 
Trata-se de um texto que incorpora novos conteúdos ao campo teórico do qual é mister, 
produzindo um espaço que permite um reposicionamento do modo como, costumeiramente, os 
problemas da hermenêutica jurídica são demonstrados. Produz no leitor a capacidade de se 
apropriar dos conteúdos da hermenêutica jurídica, ao tempo que conduzum “olhar” para a direção 
das problemáticas capitais da teoria jurídica contemporânea. 
A obra apresenta, claramente, uma natureza denunciadora. O autor tem um talento inegável 
em romper os sentidos consolidados na linguagem ordinária dos operadores do Direito. Desta 
forma, a tese que constitui o texto é a de que o campo jurídico sofre de uma crise que possui dois 
aspectos: de um lado, a reprodução de um modelo de Estado que resiste às transformações que o 
paradigma do Estado Democrático de Direito operou nas relações entre Estado e sociedade. Do 
outro, a crise epistemológica perante as posturas teóricas que se mantêm aferradas ao esquema 
sujeito-objeto, oriundo da teoria do conhecimento idealizada por Kant. 
O autor nos chama a atenção para a importância do fator interpretativo na experiência 
jurídica, já que não existe nenhuma área do Direito que não a leve em consideração. Considera 
ainda que, muito embora toda apreciação voltada para a compreensão esteja vinculada à 
autocompreensão do intérprete, este não possui meios de lograr uma aproximação das questões 
jurídicas sem que realize um “bloqueio” de tais pré-conceitos no momento da busca interpretativa 
a fim de captar o sentido objetivo do texto, sob pena de “contaminar” todo o seu trabalho com as 
suas preconcepções. 
Entretanto, além das denúncias e do chamamento à ruptura paradigmática, o livro encerra 
uma proposta substancial no que se refere a uma nova forma de olhar a crise da hermenêutica 
jurídica. A proposição é a de oferecer a devida importância à hermenêutica, visto não ser uma 
disciplina coadjuvante na interpretação de textos de leis, doutrinas ou jurisprudências, mas tem um 
papel estruturante. É por tudo isso que o compêndio retrata uma guinada atinente à correta 
orientação da visão para a problemática enfrentada pela hermenêutica jurídica nos dias atuais.

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