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Apostila de Hermeneutica Juridica - parte 5

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Direito 1 
Hermenêutica Jurídica 
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira. 
 
 
 
 
 
 
 
Apostila 
 
 
de 
 
 
Hermenêutica Jurídica 
 
 
 
 
 elaborada pela professora 
Dra. Eliane Iunes Vieira 
 
 
 
 
Direito 2 
Hermenêutica Jurídica 
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
1. Hermenêutica: Aspecto Histórico. 
1.1. Hermenêutica na Antiguidade Clássica. 
1.2. Hermenêutica na Idade Média. 
1.3. Hermenêutica na Idade Moderna. 
1.4. Escolas de Interpretação. 
2. Hermenêutica: Aspecto Técnico. 
2.1. Funções da Interpretação. 
2.2. Critérios da Interpretação. 
2.3. Espécies de Interpretação. 
2.4. Integração das Leis. 
3. Hermenêutica: Aspecto Filosófico. 
3.1. A Hermenêutica em Schleiermacher. 
3.2. A Hermenêutica em Dilthey. 
3.3. A Hermenêutica em Heidegger. 
3.4. A Hermenêutica em Gadamer. 
3.5. A Hermenêutica Pós-Positivista. 
3.6. Hermenêutica Constitucional. 
4. Ciência da Hermenêutica 0Jurídica, Teoria Geral da Hermenêutica e Sistema Jurídico. 
4.1. Noções de Ordem Propedêutica, de Definibilidade, Terminológica e Objectual. 
4.2. O Processo de Produção do Conhecimento Jurídico-Científico e a Hermenêutica 
Jurídica. 
5. Análise Teórico-Conceptual e Historiográfico-Descritiva da Hermenêutica Jurídica. 
5.1. O Direito Romano. 
5.2. Os Glosadores e Pós-Glosadores. 
5.3. A Escola da Exegese. 
5.4. A Escola Histórica. 
5.5. A Escola da Livre Investigação Científica. 
5.6. A Escola do Direito Livre. 
5.7. Jurisprudência dos Conceitos Versus Jurisprudência dos Interesses Versus 
Jurisprudência dos Valores. 
6. Metodologia da Ciência da Hermenêutica Jurídica. 
6.1. A Problemática da Indiscernibilidade Conceitual: Hermenêutica/ Interpretação/ 
Integração/ Aplicação do Fenômeno Jurídico. 
6.2. Principiologia da Hermenêutica Jurídica. 
6.3. Metodologia Dogmática da Hermenêutica Jurídica. 
6.4. Metodologia Zetética da Hermenêutica Jurídica. 
7. A Ciência da Hermenêutica Jurídica e o seu Estatuto Teórico Contemporâneo. 
7.1. As Teorias da Retórica. 
7.2. As Teorias da Tópica. 
7.3. As Teorias da Lógica. 
7.4. As Teorias da Argumentação. 
7.5. As Perspectivas da Racionalidade Jurídica Contemporânea: O Exemplo da 
Hermenêutica Constitucional. 
8. A Hermenêutica e a Interpretação do Direito. 
9. Modos de Integração do Direito. 
9.1. Analogia. 
9.2. Costumes. 
9.3. Princípios Gerais de Direito. 
Direito 3 
Hermenêutica Jurídica 
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9.4. Equidade. 
10. Antinomias Jurídicas. 
11. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 
12. Interpretação e Aplicabilidade das Normas Constitucionais e dos Tratados 
Internacionais. 
 
 
 
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Hermenêutica Jurídica 
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira. 
 
Hermenêutica Jurídica 
 
Introdução 
 
Conceito: 
• A Hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar. 
• Assim, Hermenêutica Jurídica é a teoria científica da arte de interpretar as normas 
jurídicas. 
 
Por exemplo: no Brasil, não há uma lei específica que regulamente a adoção de criança por 
um “casal” homossexual. 
 
Mas com base: 
➢ na Constituição Federal (que estabelece que todos são iguais perante a lei e não pode 
haver discriminação por raça, religião, opção sexual, etc); 
 
➢ no Código Civil (que permite a adoção); e 
 
➢ no Estatuto da Criança e do Adolescente (que estabelece que deve haver proteção 
integral à criança); 
 
o Poder Judiciário (a Justiça) decidiu que a sociedade mudou desde que a CF/1988 e essas leis 
foram criadas e que, mesmo não havendo uma lei específica sobre esses casos, é possível 
aplicar a adoção aos casos que em os pais formam um casal homossexual. 
 
Nesses casos, adotou-se uma interpretação das leis para adaptá-las a essa nova realidade que a 
sociedade está vivendo. 
 
Se o objetivo das leis, ao regular a adoção, é buscar a proteção da criança e a garantia de que a 
nova família proporcione boas condições para o seu desenvolvimento (físico, 
emocional/afetivo e cultural), esse deve ser o sentido que deve orientar o operador do Direito 
(juiz/advogado/Ministério Público) na interpretação da lei. 
 
Dessa forma, esse deve ser o fundamento da decisão judicial para aceitar ou negar o pedido de 
adoção. 
 
A interpretação jurídica deve levar em conta os objetivos preconizados pela lei, levando em 
conta, também, a evolução da sociedade, o desenvolvimento cultural e as exigências e atuais 
necessidades sociais. 
 
Esses são os temas que estudaremos na nossa disciplina. Ou seja, o objetivo é aprender a 
interpretar a lei para aplicá-la a casos concretos. 
 
As leis quando são criadas não tem condição de prever a evolução do mundo e da sociedade. 
Ou seja, a lei visa os casos gerais que são conhecidos quando da sua criação. Mas o mundo 
evolui e é necessário conhecer a hermenêutica (ciência da interpretação) para que seja 
possível aplicar as leis aos novos casos que vão surgindo com o tempo. Caso contrário, em 
pouco tempo seria preciso alterar quase todas as leis. 
Direito 5 
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Tendo em vista que a sociedade muda com o tempo, o Direito tem que acompanhar essa 
evolução. Então, o estudo da hermenêutica é fundamental para a aplicação do Direito. 
 
Nosso curso vai abordar a teoria e as técnicas da interpretação voltadas para o Direito. 
 
Unidade 1 
1. Hermenêutica: Aspecto Histórico. 
1.1. Hermenêutica na Antiguidade Clássica. 
1.2. Hermenêutica na Idade Média. 
1.3. Hermenêutica na Idade Moderna. 
1.4. Escolas de Interpretação. 
 
• Conceito: A Hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar. 
 
- Assim, Hermenêutica Jurídica é a teoria científica da arte de interpretar as normas jurídicas. 
 
• Origem do termo "hermenêutica": provém do grego hermeneuein. Tem o significado 
de declarar, anunciar, interpretar, esclarecer, traduzir. 
 
- Ou seja, hermenêutica tem o sentido de tornar algo compreensível ou levar à compreensão 
de alguma coisa. 
 
- A mitologia grega atribuía ao deus Hermes o papel de mensageiro dos deuses. 
 
- De acordo com a mitologia grega, o deus Hermes, além de mensageiro, era o intérprete das 
mensagens dos deuses dirigida aos homens. 
 
- Observa-se, então, que a tarefa de interpretar as mensagens dos deuses era considerada uma 
função muito importante. Tanto que cabia, segundo a mitologia, a uma divindade (ao deus 
Hermes). 
 
- Com a evolução da civilização, essas atividades passaram a se exercidas por algumas 
pessoas de alta hierarquia na sociedade. 
 
- Na Grécia antiga, havia os oráculos dos deuses, que eram locais onde os deuses transmitiam 
mensagens às pessoas, por intermédio de sacerdotes/sacerdotisas. 
 
- Portanto, desde os primórdios da civilização, a função de interpretar as mensagens divinas 
era considerada de alta relevância, uma vez que, no início (na Era Mitológica), era exercida 
por uma divindade (o deus Hermes). Em razão disso, os sacerdotes (que interpretavam as 
mensagens – a palavra – das divindades) sempre ocuparam alta posição na hierarquia social. 
 
- A Hermenêutica, porém, não ficou restrita à interpretação de textos religiosos. No âmbito do 
Direito, também, passou a ter grande relevância. 
 
 
 
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- No Direito Romano, na tarefa de interpretar leis e normas, surgiram grandes personalidades 
do Direito. Em Roma, esses estudiosos do Direito eram conhecidos como Prudentes. Eram 
juristas, profundos conhecedores do Direito, que interpretavam, analisavam e explicavam 
cada parágrafo dos textos jurídicos, buscando o seu significado e os efeitos práticos nas vidas 
das pessoas. Esse trabalho dos Prudentes1 era chamado de juris prudentia - originária do 
latim jus (direito) + prudentia (sabedoria). 
- No Direito Romano, o trabalho dos prudentes eram de extrema relevância para o direito e 
para a sociedade da época e para a ciência do Direito2. 
 
- A importânciada Hermenêutica é evidente, considerando que 
 
• A linguagem (falada ou escrita) pode ser mal interpretada, causando incerteza e 
insegurança. Portanto, dependendo do intérprete, pode não refletir a real intenção da 
mensagem; 
• Então, é importante, para a correta interpretação, o uso de diversos métodos e técnicas 
de interpretação. 
• Assim, tanto a linguagem, os textos religiosos, filosóficos, quanto os jurídicos 
(principalmente as normas jurídicas) dependem de uma correta interpretação; 
• A linguagem humana (falada ou escrita) é a base das relações sociais, por isso, a 
correta interpretação das mensagens contribui para minimizar os conflitos sociais; 
• A correta interpretação das normas jurídicas também contribui para a estabilidade do 
ordenamento jurídico. 
 
- Modernamente, com o advento do racionalismo3, o estudo da Hermenêutica evoluiu 
bastante. Destacam-se a contribuição dos seguintes autores: Gadamer (com a obra: Verdade e 
Método), Heiddeger, Dilthey e Schleiermacher (criaram ama teoria normativa da 
interpretação), Ferrara, Savigny, Ihering, Jhellinek, Kelsen e Carlos Maximiliano. 
 
 
 
 
1 No Direito Romano houve importantes juristas. Os mais famosos são: Ulpiano, Papiniano, Modestino, Paulo 
e Gaio. Seus trabalhos integram grande parte do Digesto (formado por 50 volumes). O Digesto é parte da 
grande obra codificada do Direito Romano – Corpus Juris Civilis -, proAs normas jurídicas são criadas para 
o controle e organização das relações sociais.duzida por ordem do Imperador Justiniano e publicada em 533 
d. C. 
 É atribuído a Ulpiano o célebre princípio de Direito: “Juris Praecepta Sunt haec: Honeste Vivere, Alterum 
Non Laedere, Suum Cuique Tribuere”. Ou seja, são os preceitos do direito: viver honestamente, não ofender 
ninguém, dar a cada um o que lhe pertence. 
 Segundo o Imperador Justiniano, quando a maioria dos juristas romanos estiverem em desacordo, deveriam 
prevalecer os pontos de vista de Papiniano. 
 Gaio, além dos seus trabalhos jurídicos, criou um Manual didático de direito, chamado Institutas de Gaio. 
 
2 O Direito Romano foi a base do direito de diversas nações, inclusive do Brasil. Nosso direito privado (Direito 
Civil) tem por o Direito Romano (ex.: direito de família, sucessão, coisas, obrigações ….). 
 
3 O racionalismo é uma teoria filosófica que dá a prioridade à razão, como faculdade de conhecimento 
relativamente aos sentidos. Ou seja, todos os fenômenos existentes podem ser explicados pela razão. O 
racionalismo é a base da ciência. 
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2) Diferença entre hermenêutica e interpretação 
 
⚫ A interpretação tem caráter concreto. 
 
⚫ A hermenêutica tem caráter abstrato. 
 
⚫ A interpretação é a aplicação prática da hermenêutica. 
 
⚫ A hermenêutica é a ciência que fixa os princípios e os métodos que regem a interpretação. 
 
⚫ Assim a hermenêutica deve ser geral e abstrada e a interpretação, específica e concreta 
(ligada a um determinado caso concreto) 
 
⚫ Carlos Maximiliano afirmava que a hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo e a 
sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das 
expressões do direito. 
 
 
3) A evolução cultural e a interpretação das normas jurídicas. 
 
⚫ A norma jurídica sempre necessita de interpretação. 
 
A clareza de um texto legal é relativa. 
 
Uma mesma disposição pode ser clara em sua aplicação aos casos mais imediatos e pode 
ser duvidosa quando se aplica a outros casos não previstos. 
 
Por exemplo: o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de uma criança por um 
casal homossexual. 
 
⚫ Com o tempo e a evolução da sociedade, podem surgir casos que não se enquadrem nas 
normas. 
 
⚫ Assim a hermêutica jurídica fornece os métodos e princípios que devem ser adotados 
para que o operador do Direito busque a solução que atenda aos interesses da sociedade. 
 
⚫ O direito deve acompanhar a evolução cultural. Necessariamente, o ordenamento jurídico 
deve interagir com os acontecimentos sociais, visando a buscar a realização das reais 
necessidades humanas. 
 
⚫ No estudo do Direito, as doutrinas e teorias jurídicas só têm sentido se estiverem 
vinculadas às condicionantes sociais e políticas de determinada época. 
 
⚫ Não há como cultivar o Direito, isolando-o da vida. Principalmente em nossa época, visto 
que a sociedade atual se caracteriza pela rápida mobilidade, determinada pelo progresso 
científico e tecnológico, pelo crescimento econômico e industrial, pelas novas concepções 
sociais e políticas e por modificações culturais. 
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Hermenêutica Jurídica 
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⚫ A interpretação das normas jurídicas deve levar em conta os fins para os quais foram 
criadas, os precedentes históricos que levaram a sociedade a exigir a sua criação, bem 
como a harmonização com as novas necessidades que as mudanças da sociedade passem a 
exigir. 
 
 
4) Integração e aplicação do Direito 
 
Conceito de lacuna da lei: A lacuna da lei é a inexistência de uma norma jurídica 
aplicável a um caso concreto. Ou seja, é um vazio legal sobre determinado evento. Ex: 
casamento homossexual. 
 
A lacuna caracteriza-se quando a lei é omissa ou falha em relação a determinado caso. 
Ou seja, essa lacuna ou falha revela que o sistema normativo não se aplica a todos os fatos 
da vida social (logicamente, no momento da criação da lei, é impossível prever todos os 
fatos e a evolução da sociedade). 
 
A constatação da existência da lacuna ocorre no momento em que o aplicador do direito 
vai exercer a sua atividade e não encontra no corpo das leis um preceito que solucione o 
caso concreto (ou seja, não há um dispositivo legal que se aplique a determinado caso 
concreto). Neste instante, constata-se a existência de uma lacuna. 
 
Assim, quando o juiz não consegue descobrir uma norma jurídica para decidir determinado 
caso, deve servir-se de outros meios para a solucioná-lo, uma vez que todo caso concreto 
posto à apreciação do Judiciário não pode deixar de ser apreciado e resolvido. 
 
O procedimento para preenchimento de lacunas da lei é conhecido como Integração. 
 
Porém, a própria lei põe à disposição do aplicador do direito, os meios dos quais pode se 
utilizar para o preenchimento da lacuna existente. 
 
Conforme disposição constante do artigo 4º da Lei de Introdução às normas do Direito 
Brasileiro – Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (ainda em vigor)4: 
 
 
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com 
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
Assim, vamos esclarecer, 
 
- Analogia: 
• é aplicar a um caso não previsto em lei uma disposição legal prevista para um 
caso semelhante, ou ainda 
 
• consiste em aplicar a um caso não previsto de modo direto ou específico, uma 
 
4 Originalmente, chamava-se Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, mas a partir da Lei nº 12.376/2010, 
passou a se chamar Lei de Introdução à normas do Direito Brasileiro. 
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norma jurídica prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não 
contemplado. 
 
- Costume: 
• é uma norma social que deriva da longa prática uniforme, geral, constante e 
repetida de dado comportamento sob a convicção de que corresponde a uma 
necessidade de determinada sociedade. 
 
• São regras não escritas que a sociedade entende como aplicáveis. 
Por exemplo: A lei do cheque (Lei nº 7.357/1985) não prevê a existência de cheque pré-
datado, mas o cheque pré-datado é um costume da nossa sociedade. Então, como resolver 
juridicamente problemas envolvendo cheque pré-datado? 
Atualmente, a jurisprudência entende, com base no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 
8.078/1990), que o comerciante que recebe o cheque pré-datado tem o dever de respeitar o 
prazo acordado. 
Se o cheque fordepositado antes do prazo e, disso, resultar em prejuízo para o consumidor, o 
comerciante terá o dever de indenizá-lo5. 
 
- Princípios Gerais de Direito 
• são normas (escritas ou não) de cunho genérico, que condicionam e norteiam a 
compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação, quer para a 
elaboração de novas normas. 
 
 Exemplos de princípios gerais do direito: 
➢ “a lei deve dar a cada um o que é seu”; 
➢ “a lei não pode permitir o enriquecimento ilícito”; 
➢ “todos devem ser tratados como iguais perante a lei; 
➢ “aos acusados em geral devem ser assegurados o contraditório e a ampla 
defesa”; 
➢ “quem exercitar o próprio direito não estará prejudicando ninguém”; 
➢ “a pessoa deve responder pelos próprios atos e não pelos atos alheios”; 
➢ “deve ser mais favorecido aquele que procura evitar um dano do que 
aquele que busca realizar um ganho”; 
➢ “ninguém deve ser responsabilizado mais de uma vez pelo mesmo fato”; 
➢ “nas relações sociais se deve tutelar a boa-fé e reprimir a má-fé”; etc... 
 
• Miguel Reale destaca que toda a experiência jurídica, e a legislação que a integra, 
tem por base os princípios gerais de direito. Portanto, os princípios gerais de 
direito são considerados como o alicerce do ordenamento jurídico. 
 
 
5 No mesmo sentido, se o cheque pré-datado for depositado pelo comerciante antes do prazo e acabar 
devolvido por falta de fundos, isso não caracteriza crime. 
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• Clóvis Beviláqua considera os princípios gerais de direito como tendo caráter 
universal, ditados pela ciência e pela filosofia do direito. 
 
- Então, o juiz, quando se depara com uma lacuna legal (ou seja, verifica que 
determinado caso concreto não está previsto na legislação), deve decidir com base na 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
 Deve-se esclarecer que é necessário realizar a integração nesta ordem: 
 
➢ Analogia - primeiro verifica se há alguma disposição análoga; 
 
➢ se não houver casos análogos, é necessário pesquisar os costumes; 
 
➢ caso não encontre nos costumes a solução, é necessário pesquisar os 
princípios gerais de direito, utilizando um dos princípios para solucionar o 
caso. 
 
Concluindo, 
- A função do Estado é promover o bem comum de toda a sociedade. A finalidade do Direito 
é alcançar a paz social. 
 
- Ao Estado cabe o exercício da função jurisdicional, exercida pelo Poder Judiciário. 
 
- Ao juiz compete aplicar o direito a casos concretos que lhe são apresentados, para realizar e 
manter a paz e harmonia social. 
 
- A aplicação do direito não se resume a um método simples. O juiz deve estar em sintonia 
não somente com o direito, mas também com a evolução da sociedade. Deve, antes de tudo, 
ter o julgador um profundo conhecimento da natureza humana. 
 
A propósito, de acordo com o Decreto-Lei nº 4657/42 – Lei de Introdução às normas do 
Direito Brasileiro, 
 
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela 
se dirige e às exigências do bem comum. 
 
- Ou seja, deverá pesquisar quais são as finalidades sociais da lei e as exigências da sociedade 
(o bem comum)6. 
 
- Acrescente-se que o juiz não pode se recusar a aplicar o direito sob a alegação de inexistir 
norma jurídica cabível para o caso. 
 
- Todos têm o direito de procurar o Poder Judiciário para defender seus interesses e o Estado 
tem o dever de prestar a tutela jurisdicional adequada, seja ela favorável ou desfavorável ao 
postulante (ou seja, dar uma sentença favorável ou desfavorável). 
 
 
6 Por exemplo, o ECA tem a finalidade de proteger a criança e o adolescente, assim toda decisão que envolva 
a aplicação do ECA não pode contrariar essa finalidade. 
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- Diante disso, ainda que não exista norma jurídica aplicável ao caso concreto, o juiz deve 
servir-se de outros meios para manter a paz social, valendo-se, então, dos métodos de 
integração da norma jurídica, tais como a analogia, o costume e os princípios gerais do 
direito. 
ANEXO 1 
 
Principais Escolas de Interpretação Jurídica [1] 
 
INTRODUÇÃO 
 
 A tarefa de interpretar o Direito revela o alcance que determinada norma possui e em 
que sentido deve ser aplicada. Muitas vezes esta atividade pode ser mais complicada do que 
parece, e por isso ao longo da história surgem diversos modelos hermenêuticos que estudam 
as formas de interpretação. 
 Dessa forma, o estudo da hermenêutica jurídica é de fundamental importância, pois, 
os operadores do Direito precisam antes de tudo aprender a interpretar e entender o processo 
de construção de sentido da norma jurídica. 
 Vamos, então, analisar brevemente as teorias jurídicas que se preocuparam com o 
pensamento jurídico enquanto ciência. 
 
1.1 Escola Jusnaturalista: 
 Na idade média a teoria Jusnaturalista apresentava conteúdo teológico, pois os 
fundamentos do direito e da sociedade eram baseados na vontade divina e no credo religioso. 
Para Norberto Bobbio, o Jusnaturalismo como corrente do Direito tem a convicção de que 
"uma lei para ser lei deve ser conforme a justiça" e ainda a teoria do direito natural é aquela 
que considera poder estabelecer o que é justo de modo universalmente válido.[2] 
 Na obra de Paulo Nader ele aponta que jusnaturalismo é a corrente de pensamento 
que reúne todas as ideias que surgiram, no decorrer da história, em torno do Direito Natural e 
conceitua: 
O raciocínio que nos conduz à ideia do Direito Natural parte do pressuposto de que 
todo o ser é dotado de uma natureza e de um fim. A natureza, ou seja, as 
propriedades que compõem o ser define o fim a que este tende a realizar. Para que as 
potências ativas do homem se transformem em ato e com isto ele desenvolva. Com 
inteligência, o seu papel na ordem geral das coisas, é indispensável que a sociedade 
se organize com mecanismos de proteção à natureza.[3] 
 Esta Escola tem como ideia principal a existência de uma lei natural, eterna e 
imutável. E segundo a obra de Bobbio esta corrente se divide em três fases: jusnaturalismo 
clássico, jusnaturalismo no pensamento medieval e jusnaturalismo moderno, vejamos: 
 O clássico é aquele desenvolvido a partir das ideias dos filósofos Gregos (Platão e 
Aristóteles) e que buscam uma justiça universal baseada na razão natural, eles afirmam que o 
direito natural está em toda a parte e trata-se de um direito justo e universal. [4] 
 No pensamento medieval é desenvolvido um jusnaturalismo fundado nas questões 
religiosas e que pregava o Direito universal e a busca por uma justiça dentro dos ditames da 
Igreja. 
 Já o jusnaturalismo moderno ou racional é aquele que busca através de uma razão 
(justa) atingir ideais de moral e justiça respeitando a natureza racional do homem.[5] 
 Apresentam as seguintes características: Racionalista no método, subjetivista no 
critério, anti-histórica nas exigências e humanitária no conteúdo e a grande virtude da escola 
foi a de considerar a natureza humana como a grande fonte do direito.[6] 
 Esta última fase mais racionalista, vigente entre os séculos XVI e XVIII, teve como 
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principais pensadores Hugo Grócio, Hobbes, Spinoza, Puffendorf, Wolf, Rousseau e Kant. 
 Ressalta-se que para esta Escola não é necessário um sistema codificado de leis para 
regrar as condutas da sociedade, pois a ideia central é a existência de uma lei natural baseada 
em uma ordem pré-existente e de origem divina. 
 
1.2 Escola da Exegese 
 A palavra exegese vem do grego ex gestain e significa "conduzir para fora". Para esta 
escola o papel de intérprete se reduz a aplicar precisamente a regra dita pelo legislador, 
independente do decurso do tempo.[7] 
 Esta Escola surge no século XIX e é seguida na França por diversos juristas como 
Proudhon, Melville, Blondeau, Bugnet, Delvincourt, Huc, Aubry e Rau,Laurent, Marcadé, 
Demolombe, Troplong, Pothier, etc. 
 A ideia central é um sistema normativo codificado de leis que visam garantir os 
direitos subjetivos do homem. Ou seja, é o inverso do jusnaturalismo, pois estabelece regras 
para cada situação e se defende a aplicação da lei para disciplinar as relações de modo geral. 
 Para esta Escola o papel do jurista era ater-se com rigor absoluto ao texto da lei e 
revelar seu sentido. Ressalta-se que o exegetismo não negou o direito natural, pois chegou a 
admitir que os códigos eram elaborados de modo racional e portanto uma expressão humana 
do direito natural e por isso a ciência do direito deveria ater-se a mera exegese dos códigos. 
[8] 
 De acordo com Maria Helena Diniz: 
Para o exegetismo, se a lei continha todo o direito, se o processo de aplicação era um 
mero silogismo, e se podia ser superada, segundo alguns de seus sequazes, a 
ausência de premissa maior pelo procedimento integrativo da analogia, o direito 
seria certo e completo.[9] 
 Em suma, a Escola da Exegese possui as seguintes características: possuir uma 
concepção estritamente estatal do direito; o fato de focar-se exclusivamente na lei; e 
interpretar a lei baseando-se na intenção do legislador. 
 
1.3.Escola Histórica 
 O conceito da Escola Histórica de Direito surge no século XIX e o seu maior 
representante foi Friedrich Carl Savigny (1779-1861). 
 A revolução industrial transformou a sociedade e criou movimentos inovadores na 
ciência jurídica para fazer frente à nova realidade e diante deste novo cenário surge a Escola 
Histórica. 
 Segundo Norbert Horn esta Escola se caracteriza por afirmar que o Direito é parte da 
cultura de uma sociedade e está submetida a uma evolução devendo corresponder às 
necessidades que surjam, vejamos: 
A Escola Histórica do Direito pode ser caracterizada com as seguintes palavras-
chave: O Direito é parte da cultura geral de um Estado e de uma sociedade. Como 
essa cultura geral, ele se coloca numa continuidade histórica. Somente pode ser 
entendido a partir de um desenvolvimento histórico. Ao mesmo tempo está 
submetido a uma contínua evolução, e como esta também vale para a cultura geral. 
A evolução contínua ocorre conforme as concepções válidas numa cultura, que se 
desenvolvem continuamente, como condições vitais. O Direito deve corresponder a 
necessidades que dalí surjam. Os juristas especialistas (ciência jurídica e tribunais) 
têm o papel principal nessa cautelosa evolução contínua.[10] 
 Diante da lei, o intérprete deve observar não só o que o legislador 'quis', mas também 
o que ele 'quereria', se vivesse no meio atual. Deve 'adaptar-se a velha lei aos tempos novos'. 
E não abandoná-la. E, assim 'dar vida aos códigos'." [11] 
 Ainda, Miguel Reale faz uma explicativa comparação: "Há no fundo da concepção 
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histórica do Direito a ideia fundamental de que o Direito cresce e se desenvolve lentamente 
como uma árvore, como atualização de forças internas de crescimento espontâneo".[12] 
 De forma resumida, podemos afirmar que para Savigny a lei nasce obedecendo 
certos ditames e determinadas aspirações sociais mas não pode ficar engessada e restrita às 
suas fontes originárias, devem se modificar conforme a sociedade. E o jurista deve descobrir a 
mens legislatoris estudando as fontes de que emanam a lei. 
 
1.4.Escola Teleológica 
 Esta escola teve como precursor Rudolph Von Ihering, que partiu do pressuposto que 
o direito se forma sob a determinação de fins precisos e objetivos. 
 Nas palavras da professora Dra. Maria Helena Diniz: 
Em sua obra, há uma crítica à jurisprudência conceitual, rechaçando o 
abstracionismo dos conceitos jurídicos e o emprego do método dedutivo silogístico 
na aplicação do direito, salientando o caráter finalístico das normas jurídicas. A 
concepção do direito é prática, resulta da vida social e da luta contínua que é o meio 
de realização do direito; sua finalidade é a paz. Tem uma concepção essencialmente 
teleológica do mundo jurídico. Logo, para ele, a ciência jurídica deve interpretar 
normas de acordo com os fins por elas visados. A letra da lei é importante, porém 
não tem o condão de fundamentar interpretação contrária aos fins visados pela 
norma. [13] 
 Para Ihering deve-se interpretar a norma levando em conta seus fins. A lei só atinge 
sua destinação quando está a serviço de objetivos sociais e políticos. Ou seja, esta Escola 
possui um caráter político, e o intérprete deve ajustar suas necessidades, desejos e interesses. 
 Ressalta-se que a norma não é um fim em si mesma, mas sim um meio a serviço de 
uma finalidade, que é a existência da sociedade. Sendo que as leis de determinada época ou de 
certo local devem ser interpretadas com o conhecimento efetivo das condições sociais de tal 
povo e de tal época, afinal o real sentido da norma depende destas circunstâncias sociais 
dentro das quais foi elaborada.[14] 
 
2. Sistemas modernos de investigação 
 Insere-se neste sistema duas principais escolas que são: a Escola da Livre 
Investigação e a Escola do Direito Livre. E por serem o enfoque principal desta pesquisa, será 
analisada neste tópico em separado. 
 Como dito anteriormente este sistema surge contra o legalismo dos sistemas 
tradicionais que consideravam a lei como única fonte do direito. 
 
2.1. Escola da Livre Investigação 
 François Geny foi o grande representante da Escola da Livre Iniciação Científica, 
suas grandes obras são: Méthode d'interprétation et sources en droit privé positif e Science et 
technique em droit privé positif. 
 O autor afirma que a lei não é obrigatoriamente a expressão de um princípio lógico-
racional imposto pela força da razão e sim uma manifestação da vontade do legislador, que 
nem sempre expressa o que racionalmente deveria exprimir. 
 Importante ressaltar que já havia se passado mais de cem anos da Revolução 
Francesa, diversas gerações de juristas já haviam passado e a França necessitava atualizar 
suas instituições jurídicas. 
 Os juízes que estavam distante da capital começaram a proferir decisões fora do 
padrão da interpretação restrita do Código, e entre os renomados juristas que clamavam por 
reforma estava Gény. Para esta Escola nenhuma lei será suficiente para alcançar todo o campo 
das relações sociais jurídicas, e isto deve ser feito por um magistrado. [15] 
Direito 14 
Hermenêutica Jurídica 
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira. 
 
 Assim como a Escola da Exegese, acredita-se que a lei é a fonte principal do Direito, 
mas quando esta for omissa, obscura, insuficiente o intérprete terá que recorrer para as fontes 
suplementares. A s fontes suplementares serias: o costume, a tradição, a autoridade e a livre 
investigação. 
 A livre investigação significa que o magistrado não fica vinculado ao texto da lei, ele 
deve tentar compreender a vontade do legislador. Percebe-se que Gény não incluí a 
jurisprudência como fonte, pois naquela época os julgados não tinham ampla divulgação. 
 Sobre a livre investigação científica ensina Maria Helena Diniz: 
Essa investigação é livre porque não se submete a uma autoridade positiva e é 
científica, porque pode dar bases sólidas aos elementos objetivos descobertos pela 
ciência jurídica. A livre investigação científica deve basear-se em três princípios: a) 
o da autonomia da vontade; b) o da ordem e do interesse público; c) o do justo 
equilíbrio ou harmonização dos interesses privados opostos, pois o aplicador deve 
considerar a respectiva força desses interesses, pesando-se na balança da justiça, 
para saber a qual deles deve dar preponderância, levando em conta as convicções 
sociais vigentes, resolvendo de modo que se produza o devido equilíbrio. [16] 
 Para esta Escola a norma jurídica possui dois ingredientes, e a atividade do jurista se 
realiza em um duplo campo de ação, são eles: o dado e o do construído. O dado é o conjunto 
de elementos que antecedem a norma jurídica, são a realidade social,moral, econômica, etc. 
 São realidades existentes em toda sociedade humana por serem norteadoras do 
comportamento humano.[17] 
 Já o construído é um conjunto de normas criadas para atender as condições de 
segurança social de uma sociedade. A técnica jurídica visa construir meios para que se 
realizem os fins de direito e esses meios e artifícios é o que François Geny designa de 
construído. Lembrando que para este autor o direito não está nas leis promulgadas, mas na 
própria sociedade, ou seja, nos dados normativos existentes na sociedade. [18] 
 A função social do Direito realiza-se além da lei (praeter legem) para suprir-lhe as 
lacunas, mas sem ser contrário à lei (contra legem). Seria uma justiça regida pelo equilíbrio 
das relações sociais. 
 Nas palavras de Paulo Dourado de Gusmão: "O método de Gény só admite 
interpretação criadora no caso de lacuna (§139), deixando nos demais casos intocável a lei, 
aplicável na forma prescrita pelo legislador, mesmo quando injusta a sua aplicação [...]."[19] 
 Ou seja, a Livre Investigação é possível quando há ausência de lei (lacunas). Quando 
se trata de casos de obscuridade o jurista deve fazer o uso do costume, da autoridade, tradição, 
etc. A livre interpretação é o último recurso de que pode se valer o intérprete. 
 
2.2. Escola do Direito Livre 
 Outra escola que integra o Sistema Moderno de Investigação é a Escola do Direito 
Livre, da Alemanha, cujo seu defensor mais conhecido era Hermann Kantorowicz, que em 
1906 edita um manifesto intitulado "A luta pela ciência do direito". 
Para esta Escola o principal para o direito são as normas jurídicas que surgem dos grupos 
sociais de forma espontânea. Vejamos o que diz a doutrina: 
O direito livre não é o direito estatal, contido nas leis, mas aquele que está 
constituído pelas convicções predominantes que regulam o comportamento, em um 
certo lugar e tempo, sobre aquilo que é justo. Para ele é inaceitável a construção do 
direito por meio de conceitos abstratos, porque não se funda em realidades 
concretas, sendo incompatível com a simples necessidade da existência. Logo, 
condena a elaboração do direito positivo por meio de uma jurisprudência de 
conceitos. O juiz deve ouvir o sentimento da comunidade, não podendo decidir, 
exclusivamente, no direito estatal ou com base em lei.[20] 
 Toda a técnica jurídica gira em torno da vontade do juiz ou do intérprete da lei, para 
Kantorowicz a sentença é uma lex specialis. Se difere da Livre investigação científica de 
Direito 15 
Hermenêutica Jurídica 
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira. 
 
Gény, pois aqui se prega o afastamento do legalismo proposto por aquela escola. 
 O magistrado busca a justiça e este é o seu compromisso frente à sociedade, ainda 
que para isso a lei seja ignorada. O juiz deve analisar cada caso concreto e levando em 
consideração o seu próprio senso de justiça tomar uma decisão, pois, o direito da sociedade 
deve prevalecer frente ao direito legislado. 
 A interpretação jurídica segundo Kantorowicz deve seguir as seguintes 
diretrizes[21]: 
a) Se o texto da lei é homogêneo e não fere os sentimentos do povo, deve aplicá-lo; 
b) Se o texto legal conduz a uma decisão injusta o juiz deve ignorar e sentenciar segundo sua 
convicção e pensando como o legislador ditaria se tivesse pensado no caso; 
c) Se o magistrado não conseguir formar uma convicção sobre como o legislador resolveria o 
caso, deve então aplicar o direito livre de acordo com o sentimento da coletividade; 
d) E por último, caso não consiga encontrar este sentimento, deverá decidir de forma 
discricionária. 
 Pode-se dizer que esta Escola admite o julgamento contra a lei se o magistrado 
entender que vislumbrando o caso concreto o legislador também agiria de outra forma. Além 
disso, defende que o Direito é lacunoso desde sua criação e para suprir este problema o juiz 
deve decidir com liberdade. 
 Entre os diversos seguidores, um famoso exemplo histórico deste pensamento foi o 
juiz Magnaud (1889-1904), de Chateau-Thierry, que ficou conhecido como o "bom juiz", pois 
contrariava muitas vezes os textos legais, amparava mulheres, menores e desculpava 
pequenos furtos, vejamos as palavras de Carlos Maximiliano sobre o referido magistrado: 
imbuído de ideias humanitárias avançadas, o magistrado francês redigiu sentenças 
em estilo escorreito, lapidar, porém afastadas dos moldes comuns. Mostrava-se 
clemente e atencioso com os fracos e humildes, enérgico e severo com opulentos e 
poderosos. Nas suas mãos a lei variava segundo a classe, a mentalidade religiosa ou 
inclinações políticas das pessoas submetidas à sua jurisdição[22] 
 Outra característica marcante desta Escola é a importância do fato social, pois a 
verdade jurídica está na sociedade e não nos códigos. O entendimento jurisdicional não deve 
se vincular ao Estado, precisa ser legitimado pela comunidade numa relação associação de 
tempo e espaço. 
 Em suma, Kantorowicz cria uma forma de interpretação voluntarista onde a direito é 
a vontade do juiz e este deve buscar o sentido de justiça e não apenas aplicar a letra fria da lei. 
 O magistrado deve adir não apenas através da Ciência Jurídica, mas também pela sua 
convicção pessoal, com liberdade. 
 
Conclusão 
 A Escola Jusnaturalista encontra seu fundamento na divindade, sendo que o Direito é 
um conjunto de ideias eternas, imutáveis e outorgados ao homem pela divindade. Os 
pensadores desta Escola entendem que um sistema codificado de leis é desnecessário afinal a 
ideia central é a existência de uma lei natural baseada em uma ordem pré-existente e de 
origem divina. 
 Na Escola Exegética a ideia central é um sistema normativo codificado de leis e aqui 
entende-se que o ordenamento jurídico é perfeito e não existem lacunas. O interprete não 
possui liberdade, está submisso à letra da lei. Verifica-se uma limitação na interpretação à 
indagação da "vontade do legislador", o interprete deve ser fiel ao texto da lei. 
 Savigny representa a Escola Histórica que surge no século XIX e caracteriza-se por 
dizer que o Direito faz parte da cultura do povo e assim como a sociedade deve evoluir e 
acompanhar as transformações sociais. A forma de interpretar deve estar atenda a atualidade, 
ou seja, não se abanda a lei mas deve-se adaptá-la aos novos tempos. 
Direito 16 
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 Verifica-se na escola Teleológica, cujo seu maior representante foi Ihering, que as 
leis devem ser interpretadas de acordo com o fim que se destinam e esse fim representa uma 
forma de preservar um valor. Sendo assim, o intérprete pode dar um significado diferente à lei 
em virtude da sua compreensão à luz de novas valorações que se modificam ao longo do 
tempo. 
 Quanto à Escola da Livre Iniciação Científica, representada por François Gény, 
pode-se afirmar que era contra o exagerado normativismo que considerava apenas a lei como 
fonte do direito. Admite-se a existência de fontes suplementares de investigação, sendo elas: o 
costume, a autoridade, a tradição e a livre investigação (busca pelas fontes do direito vivo). 
 Para Gény o verdadeiro Direito é encontrado fora do ambiente forense, ou seja, nas 
academias, debates e estudos sobre os julgados.A livre interpretação é a constante adaptação 
da ordem jurídica às circunstâncias de cada momento histórico e a função social do Direito 
realizava-se indo além da lei para superar as lacunas existente mas não contra a lei. 
 Já para a Escola do Direito Livre (seu criador foi Hermann Kantorowicz), a técnica 
jurídica depende da vontade do juiz e se este entender que para obtenção da justiça a lei 
precisa ser ignorada, assim deve ser feito. 
 Como bem explicou no seu livro Paulo Dourado Gusmão, o juiz primeiro formula a 
norma segundo a justiça e depois procura na legislação o texto para fundamentá-la. 
 A Escola defende que o Direito por si só possui lacunas desde que a sua criação e a 
forma de superar este problema é dando maior liberdade para o juiz na hora dedecidir. 
 Por fim analisou-se dois casos da Justiça do Trabalho que se verifica que os 
magistrados "ignoram" a lei e decidem de maneira diferente, conforme suas próprias 
concepções de justiça o que nos leva a concluir que tal sistema encontra-se vigente e é 
bastante utilizado na atualidade e principalmente no Tribunal de Justiça da 4ª Região. 
 Conclui-se afirmando a Ciência Jurídica oferece diversas formas de interpretação do 
Direito e que inclusive vão mudando ao longo do tempo e cabe aos operadores do Direito a 
compreensão de cada uma dela. 
 O objetivo não é dizer qual está certa ou errada, mas sim conhecer para que se possa 
fundamentar e desenvolver um raciocínio de forma mais humana e contribuindo para que a 
sociedade se beneficie destes conhecimentos. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005. 
ENGISCH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. Tradução de J. Baptista Machado. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, 2001. 
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GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 36. ed. São Paulo: Forense, 2003. 
HORN, Norbert. Introdução à ciência do direito e à filosofia jurídica. Tradução de Elisete Antoniuk. Porto Alegre: Frabis, 
2005. 
LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. 
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação ao Direito. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980. 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 30. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 23.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. 
POLETTI, Ronaldo. Introdução ao direito. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
REALE, Miguel. Fundamentos do Direito. 3.ed. São Paulo: RT, 1997. 
Notas: 
[1] Baseado no artigo de SILVA, Paula Jaeger da. Principais escolas da interpretação jurídica com enfoque no sistema 
moderno de investigação e sua utilização na justiça do trabalho. Disponível em: 
https://www.paginasdedireito.com.br/index.php/artigos/341-artigos-set-2016/7760-principais-escolas-da-interpretacao-
juridica-com-enfoque-no-sistema-moderno-de-investigacao-e-sua-utilizacao-na-justica-do-trabalho. Acesso em: 2. jul. 2019. 
[2] BOBBIO, Norberto. Teoria Geral do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 35. 
Direito 17 
Hermenêutica Jurídica 
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira. 
 
[3] NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 23.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 368. 
[4] BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico. Lições de Filosofia do Direito. São Paulo: Icone, 1999, p. 17. 
[5] BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico. Lições de Filosofia do Direito. São Paulo: Icone, 1999, p. 20. 
[6] NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 23.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 369. 
[7] MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 30. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 322. 
[8] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 51. 
[9] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 52. 
[10] HORN, Norbert. Introdução à ciência do direito e à filosofia jurídica. Tradução de Elisete Antoniuk. Porto Alegre: 
Frabis, 2005. p.160. 
[11] MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 30. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 429. 
[12] REALE, Miguel. Fundamentos do Direito. 3.ed. São Paulo: RT, 1997. p. 49. 
[13] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 59. 
[14] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 59. 
[15] _____________. Escola da Livre Investigação. Disponível em: <http://www.acmachado.net/unifor/Livre-Investigacao-
slides.pdf>. Acesso em: 22/07/16. 
[16] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 63. 
[17] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 64. 
[18] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 65. 
[19] GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 36. ed. São Paulo: Forense, 2003, p. 229. 
[20] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 68. 
[21] DINIZ, Maria helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 68. 
[22] MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação ao Direito. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 83. 
 
 
Após a leitura do texto, respondam as seguintes questões: 
 
1) Explique quais os fundamentos da Escola Jusnaturalista. 
 
2) Explique quais os fundamentos da Escola Exegética. 
 
3) Explique quais os fundamentos da Escola Histórica 
 
4) Explique quais os fundamentos da Escola Teleológica 
 
5) Explique quais os fundamentos da Escola da Livre Iniciação Científica 
 
6) Explique quais os fundamentos da Escola do Direito Livre. 
 
 
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UNIDADE 2 
 
2. Hermenêutica: Aspecto Técnico. 
2.1. Funções da Interpretação. 
2.2. Critérios da Interpretação. 
2.3. Espécies de Interpretação. 
2.4. Integração das Leis. 
 
2. Hermenêutica: Aspecto Técnico. 
 
2.1. Funções da Interpretação. 
 
- Como já visto, a importância da Hermenêutica é evidente, uma vez que: 
 
• A linguagem (falada ou escrita) pode ser mal interpretada, causando incerteza e 
insegurança. Portanto, dependendo do intérprete, pode não refletir a real intenção da 
mensagem; 
• Então, é importante, para a correta interpretação, o uso de diversos métodos e técnicas 
de interpretação. 
• Assim, tanto a linguagem, os textos religiosos, filosóficos, quanto os jurídicos 
(principalmente as normas jurídicas) dependem de uma correta interpretação; 
• A linguagem humana (falada ou escrita) é a base das relações sociais, por isso, a 
correta interpretação das mensagens contribui para minimizar os conflitos sociais; 
• A correta interpretação das normas jurídicas também contribui para a estabilidade do 
ordenamento jurídico. 
 
2.2. Critérios da Interpretação. 
 
- Há vários critérios de interpretação das leis. 
- Contudo, de forma didática, podemos dividi-los da seguinte forma: 
 
I. Quanto ao agente ou origem de interpretação 
(ou seja: quem está interpretando a lei) – nesse caso, pode ser subdividida: 
 
◆ Pública: é a interpretação realizada pelos órgãos do Poder Público (Poder 
Executivo, Legislativo e Judiciário). Divide-se em: 
 
⚫ Autêntica: oriunda do próprio órgão elaborador da norma. Ou seja, no 
caso de lei, a interpretação autêntica é a do Poder Legislativo que votou 
e aprovou a lei. 
Ex: o art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.906/1994 (Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a OAB), 
que foi votado e aprovado pelo Congresso Nacional (Câmara e Senado – portanto, pelo Poder 
Legislativo), contém o seguinte: 
Art. 1º São atividades privativas de advocacia: 
I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados 
especiais; 
[…] 
Direito 19 
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Contudo, o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional parte do inciso I, retirando 
o termo “qualquer”, reduzindo a redação a: 
Art. 1º São atividades privativas de advocacia: 
I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados 
especiais; 
[…] 
Ou seja, a interpretação autêntica (do Poder Legislativo) indicava que 
era atividade privativa do advogado a postulação(capacidade de 
atuar/requerer/propor ações e defender-se de ações) em QUALQUER 
órgão do Poder Judiciário. 
Mas o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional a palavra “qualquer”, por ser muito 
ampla, uma vez que há casos em que, para atuar no Poder Judiciário, não é necessário 
advogado, como por exemplo: Juizado Especial Civil em causas no valor até 20 salários 
mínimos. 
Então, em conclusão: 
Embora a interpretação autêntica do Poder Legislativo fosse no sentido que era atividade 
privativa de advogado atuar em qualquer órgão do Poder Judiciário, isso foi modificado pelo 
STF – pois há exceções, conforme demonstrado. 
 
⚫ Judicial: realizada pelos órgãos do Poder Judiciário, quando aplicada a 
lei ao caso concreto. 
Ex: caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo e adoção por casal homossexual. 
 
⚫ Administrativa: realizada por órgão do Poder Público que não são 
detentores do Poder Legislativo nem do Judiciário. Pode ser: 
 
⚫ Regulamentar: é a interpretação dada pela administração 
Pública a normas gerais, como: decretos, portarias, 
regulamentos, etc. 
Ou seja, é a interpretação dos órgãos públicos para as suas normas específicas de seus setores 
(ou seja, normas internas). 
 
⚫ Casuística: esclarece dúvidas especiais que surgem quando 
da aplicação de decretos, portarias, regulamentos, por parte 
dos órgãos da administração pública nos casos concretos. 
 
⚫ Usual: é a interpretação consolidada pelo costume ao longo do 
tempo. 
Ex: cabe ao comprador do imóvel pagar as despesas de escritura e registro de imóveis e ao 
vendedor do imóvel cabe arcar com o pagamento ao corretor de imóveis. 
 
⚫ Privada (doutrinal ou doutrinária): levada a efeito por particulares, 
especialmente pelos técnicos da matéria de que a lei trata. Está 
diretamente ligada à questão do direito científico com forma de 
expressão do direito. Realizada em livros, pelos autores 
(juristas/doutrinadores), pelos professores ao estudar a lei em 
classe, em comentários à lei, ou ainda por meio de pareceres de 
juristas. 
 
Direito 20 
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II - Quanto à natureza ou elementos: fundamentado em diversos tipos de elementos contidos 
nas leis e que servem como ponto de partida para a sua compreensão. São as seguintes: 
 
◆ Interpretação Gramatical ou Literal: é a que utiliza o exame do significado e 
alcance de cada uma das palavras da norma. 
Ou seja, é realizada a análise morfológica e sintática do texto, na verificação do significado 
das palavras e na sua colocação na frase, segundo as regras gramaticais, para finalmente 
extrair o pensamento do legislador. 
Atualmente, entende-se que isoladamente esse critério de interpretação é insuficiente para 
conduzir o intérprete a um resultado conclusivo. 
Ex: se a interpretação gramatical ou literal prevalecesse não seria possível ocorrer casamento 
entre pessoas do mesmo sexo e a adoção por casal homossexual. 
 
◆ Interpretação Lógica ou Racional: exige que se pesquise todos elementos 
internos da lei para ter a correta interpretação de um artigo, inciso ou parágrafo. 
Deve-se fazer uma análise completa de todos os elementos da lei, com critérios 
racionais e lógicos. 
Ex: A Lei de falências e recuperação judicial (Lei nº 11.101/2005) estabelece no art. 2º, II: 
Art. 2º Esta Lei não se aplica a: 
[...] 
II – instituição financeira pública ou privada […] 
Ou seja, com a análise somente do inciso II do art. 2º poderíamos ter a falsa impressão que a 
lei de falências não é aplicável a instituições financeiras. 
 
Mas isso não é verdade! 
 
De acordo com o art. 197: 
Art. 197. Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis 
específicas, esta Lei aplica-se subsidiariamente, no que couber, aos 
regimes previstos no Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, 
na Lei nº 6.024, de 13 de março de 1974, no Decreto-Lei nº 2.321, de 
25 de fevereiro de 1987, e na Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 
1997. 
 
Assim, tendo em vista que a Lei nº 6.024/1974, citada no art. 197, autoriza a 
falência de instituições financeiras, enquanto essa lei não for alterada, a lei de 
falências, na verdade, pode ser aplicada a instituições financeiras. 
 
Ou seja, a análise racional e lógica de todos os dispositivos da lei de falências 
indica que, atualmente, o art. 2º, II, ainda não pode ser considerado aplicável. 
Dessa forma, é possível a falência de instituição financeira – exatamente o 
contrário do que consta no inciso II do art. 2º. 
◆ Interpretação Histórica: indaga das condições de meio e momento da elaboração 
da norma legal, bem como assim causas pretéritas da solução dada pelo legislador. 
Há subespécies: 
 
• Remota: procura a razão de ser a lei pela origem da mesma. 
Ex: O Código de Defesa do Consumidor - CDC foi criado para proteger o consumidor dos 
abusos dos fornecedores de produtos e serviços. 
Direito 21 
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Antes do CDC era muito difícil para os consumidores fazerem valer seus direitos. 
 
• Próxima: procura a razão de ser a lei como resultado do concurso da 
sociologia, da economia, da política e de outras ciências afins, para 
consecução do respectivo escopo. 
Ex.: os debates do Legislativo em torno de leis que alteraram partes do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, como por exemplo a criação dos artigos 190-A, 190-B, 190-C, 190-D e 190-
E que tratam da possibilidade de atuação de agentes da polícia infiltrados em organizações 
que praticam a pedofilia. 
Ou seja, com o aumento desse tipo de crime, inclusive com a utilização da internet, foi 
necessário alterar a lei para permitir que a polícia pudesse investigar e colher provas para 
coibir essa prática criminosa. 
 
◆ Interpretação Sistemática: ou seja, para 
interpretar um dispositivo legal é necessário pesquisar outras leis que compõem o 
ordenamento jurídico. 
O método sistemático é método de interpretação que visa entender a norma jurídica 
dentro do sistema jurídico. 
O conjunto das normas jurídicas forma um sistema jurídico. Esse sistema deve ser 
harmônico. 
Ou seja, para entender o que estamos falando, vamos fazer uma analogia com o corpo 
humano. O corpo humano tem vários órgãos e vários sistemas (circulatório, 
respiratório, digestivo, etc.). 
Os diversos órgãos trabalham, individualmente, para o funcionamento do conjunto de 
cada um desses sistemas e do corpo humano. 
Da mesma maneira (analogamente), as normas jurídicas, de forma individual, 
contribuem para a manutenção de um sistema jurídico. 
Assim, a interpretação das normas jurídicas deve levar em conta o sistema jurídico (o 
funcionamento harmônico do conjunto). 
A interpretação das normas isoladamente não é tão completa quanto a análise ocorre 
levando em conta o sistema jurídico como um todo. Aí sim, poderemos ter o 
verdadeiro sentido e alcance de determinada norma. 
Por exemplo: 
Todos sabemos que os pais têm o direito de criar os filhos menores. 
De fato, o art. 1.630 do Código Civil – Lei nº 10.406/2002- estabelece que os filhos 
estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores (ou seja, ao poder do pai e da 
mãe). 
Mas este dispositivo interpretado isoladamente pode levar a equívocos, como por 
exemplo, levar a entender que esse poder dos pais é absoluto. 
Analisando o nosso sistema jurídico, vemos que o Estado deve garantir a proteção 
integral da criança e do adolescente. 
Então, de acordo com o ECA – Lei nº 8.069/1990, verificamos que, segundo o art. 24 
do ECA, o juiz pode decretar a perda ou a suspensão do poder familiar, por 
exemplo, em casos de maus tratos e a colocação em família substituta. 
Pelo método sistemático, notamos que todos dispositivos legais são interdependentes e 
inter-relacionados. 
 
Portanto, todo dispositivo legal não deve ser interpretado isoladamente, mas sim 
levando em conta o conjunto de normas jurídicas (ou seja, o sistema jurídico). 
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Na prática, devemos tomar cuidado para não nos apegarmos a determinada disposição 
de algum artigo de lei e acharmos que nada pode contrariar o que ali está 
estabelecido. 
 
 
III - Quanto ao fim (à finalidade da lei), a interpretação é chamada de teleológica: procura-se 
investigar qual é o fim previsto pela lei, para descobrir o sentido e o alcance da mesma7. 
 
Por exemplo: vejamos o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) 
Art. 1º - Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. 
 
Aqui está declarada a finalidade do ECA: a proteção integral à criança e o adolescente. 
Assim, utilizando a interpretação teleológica, qualquer dispositivo do ECA que gere 
alguma dúvida deve ser interpretado no sentido de favorecer a proteção integral da 
criança ou adolescente. 
 
 
Finalmente, devemos esclarecer que, como vimos, há diversos critérios de interpretação. 
Mas, devemos utilizá-los de forma conjunta, já que o uso de um método não elimina a 
aplicação do outro. 
 
Por exemplo, devemos: 
• começar pelo o método gramatical (ou literal); 
• passar ao método lógico; 
• em seguida, ao método sistemático; 
• depois, ao método histórico; e 
• finalmente, ao método teleológico. 
 
Dessa forma, descobriremos o real sentido e alcance da norma. 
 
É sempre conveniente ter em mente que, na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a 
que ela se dirige e às exigências do bem comum (de acordo com o art. 5º da Lei de introdução 
às normas do direito brasileiro – Decreto-Lei nº 4.657/1942). 
Por exemplo: quanto à política de proteção ao consumidor a lei determina que “as cláusulas 
contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor” (Lei 8.078/90, art. 
47). 
 
 
2.4 . INTEGRAÇÃO OU APLICAÇÃO DO DIREITO 
 
Com auxílio da hermenêutica, procura-se alcançar o sentido preciso do sentido jurídico da 
norma e depois aplicá-la ao caso concreto. 
 
Para Alice Monteiro de Barros 
 
 
7 Em muitos aspectos, a interpretação teleológica se aproxima da interpretação lógica (que busca a descobrir a 
razão da existência da lei). 
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integração é um aspecto da hermenêutica por meio do qual o Juiz 
preenche as lacunas do sistema jurídico. Nesse processo 
hermenêutico, o intérprete exerce ‘uma atividade supletiva’ conferida 
pelo próprio legislador. 
 
Como já visto, 
 
A lacuna da lei é a inexistência de uma norma jurídica aplicável a um caso concreto. Ou 
seja, é um vazio legal sobre determinado evento. Ex: casamento homossexual. 
 
A lacuna caracteriza-se quando a lei é omissa ou falha em relação a determinado caso. 
Ou seja, essa lacuna ou falha revela que o sistema normativo não se aplica a todos os fatos 
da vida social (logicamente, no momento da criação da lei, é impossível prever todos os 
fatos e a evolução da sociedade). 
 
A constatação da existência da lacuna ocorre no momento em que o aplicador do direito 
vai exercer a sua atividade e não encontra no corpo das leis um preceito que solucione o 
caso concreto (ou seja, não há um dispositivo legal que se aplique a determinado caso 
concreto). Neste instante, constata-se a existência de uma lacuna. 
 
Assim, quando o juiz não consegue descobrir uma norma jurídica para decidir determinado 
caso, deve servir-se de outros meios para a solucioná-lo, uma vez que todo caso concreto 
posto à apreciação do Judiciário não pode deixar de ser apreciado e resolvido. 
 
O procedimento para preenchimento de lacunas da lei é conhecido como Integração. 
 
Porém, a própria lei põe à disposição do aplicador do direito, os meios dos quais pode se 
utilizar para o preenchimento da lacuna existente. 
 
Conforme disposição constante do artigo 4º da Lei de Introdução às normas do Direito 
Brasileiro – Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942: 
 
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com 
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
- Analogia: 
• é aplicar a um caso não previsto em lei uma disposição legal prevista para um 
caso semelhante, ou ainda 
• consiste em aplicar a um caso não previsto de modo direto ou específico, uma 
norma jurídica prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não 
contemplado. 
 
- Costume: 
• é uma norma social que deriva da longa prática uniforme, geral, constante e 
repetida de dado comportamento sob a convicção de que corresponde a uma 
necessidade de determinada sociedade. 
 
- Princípios Gerais de Direito 
• são normas (escritas ou não) de cunho genérico, que condicionam e norteiam a 
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compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação, quer para a 
elaboração de novas normas. 
 
 Exemplos de princípios gerais do direito: 
➢ “a lei deve dar a cada um o que é seu”; 
➢ “a lei não pode permitir o enriquecimento ilícito”; 
➢ “todos devem ser tratados como iguais perante a lei; 
➢ “aos acusados em geral devem ser assegurados o contraditório e a ampla 
defesa”; 
➢ “quem exercitar o próprio direito não estará prejudicando ninguém”; 
➢ “a pessoa deve responder pelos próprios atos e não pelos atos alheios”; 
➢ “deve ser mais favorecido aquele que procura evitar um dano do que 
aquele que busca realizar um ganho”; 
➢ “ninguém deve ser responsabilizado mais de uma vez pelo mesmo fato”; 
➢ “nas relações sociais se deve tutelar a boa-fé e reprimir a má-fé”; etc... 
 
- Então, o juiz, quando se depara com uma lacuna legal (ou seja, verifica que 
determinado caso concreto não está previsto na legislação), deve decidir com base na 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
 Deve-se esclarecer que é necessário realizar a integração nesta ordem: 
 
➢ Analogia - primeiro verifica se há alguma disposição análoga; 
 
➢ se não houver casos análogos, é necessário pesquisar os costumes; 
 
➢ caso não encontre nos costumes a solução, é necessário pesquisar os 
princípios gerais de direito, utilizando um dos princípios para solucionar o 
caso. 
 
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3. Hermenêutica: Aspecto Filosófico. 
3.1. A Hermenêutica em Schleiermacher. 
3.2. A Hermenêutica em Dilthey. 
3.3. A Hermenêutica em Heidegger. 
3.4. A Hermenêutica em Gadamer. 
3.5. A Hermenêutica Pós-Positivista. 
3.6. Hermenêutica Constitucional. 
 
 
 
Anexo 2 - 
 
Texto: Hermenêutica – aspectos filosóficos, pós-positivismo e hermenêutica constitucional. 
 
Introdução 
 
Hermenêutica é o campo da filosofia que estuda a interpretação. Envolve a interpretação de 
textos escritos ou da própria linguagem falada. Tendo em vista que a linguagem é a base das 
relações sociais, a sua correta interpretação contribui para a evolução e a estabilidade da 
própria sociedade. Nesse sentido, envolve também a interpretação de normas, leis e da 
Constituição. 
 
No campo jurídico, a Hermenêutica é usada para buscar a interpretação fidedigna que permita 
adequar a norma aos fatos concretos. Com isso, é possível proporcionar uma responsável 
aplicação do Direito. Em suma, a Hermenêutica Jurídica, latu sensu, divide-se em 
interpretação, integração e aplicação do Direito. 
 
A Hermenêutica no campo jurídico é empregada para interpretar o sentido da linguagem que 
consta em normas jurídicas, para que, dessa forma, se obtenha o exato sentido ou o fiel 
pensamento do legislador. Assim, busca-se a exata compreensão da regra jurídica a ser 
aplicada aos fatos concretos, ou seja, é responsável pelo estudo e sistematização dos processos 
aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito. 
 
 
1) Hermenêutica Filosófica – Schleiermacher 
 
A partir de Friedrich Schleiermacher (1768-1834), a hermenêutica passou por uma 
reformulação, entrando para o âmbito da filosofia. 
Para ele, a hermenêutica deveria ser capaz de estabeleceros princípios gerais de toda e 
qualquer compreensão e interpretação de manifestações linguísticas. Onde houvesse 
linguagem, sempre seria aplicável a interpretação. Ou seja, tudo o que é objeto da 
compreensão, é linguagem. 
Para Schleiermacher “a linguagem é o modo do pensamento se tornar efetivo. Pois, não há 
pensamento sem discurso. (...) Ninguém pode pensar sem palavras.” 
Dessa forma, a tarefa da hermenêutica se torna universal, uma vez que lança luz ao discurso, 
revelando o pensamento. 
A hermenêutica, então, é uma análise da compreensão “a partir da natureza da linguagem e 
das condições basilares da relação entre o falante e o ouvinte”. 
Quatro distinções básicas foram estabelecidas por Scheleiermacher: 
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a) a distinção entre compreensão gramatical, a partir do conhecimento da totalidade da língua 
do texto ou discurso, e a compreensão técnica ou psicológica, a partir do conhecimento da 
totalidade da intenção e dos objetivos do autor. 
b) a distinção entre compreensão divinatória e comparativa: 
c) Compreensão comparativa: Se apoia em uma multiplicidade de conhecimentos objetivos, 
gramaticais e históricos, deduzindo o sentido a partir do enunciado. 
d) Compreensão divinatória: Significa uma adivinhação imediata ou apreensão imediata do 
sentido de um texto. 
 
Dessa forma, Schleiermacher: 
• Deu início a um novo modelo de hermenêutica, utilizando o método histórico-crítico e 
o conceito de razão histórica. 
• Trouxe para a hermenêutica o caráter científico, não só técnico. 
• Deu ênfase aos processos mentais do intérprete e do autor, uma vez que é impossível 
separar o escrito do seu escritor. Ou seja, hermenêutica deve compreender o texto e o 
autor. 
• Elaborou uma teoria geral da hermenêutica (não apenas regras), visto que 
Hermenêutica não é determinada pelas condições do objeto, mas do sujeito. Ou seja, 
em vez de “como” interpretar, “o que é”, visto que interpretar, falar ou escrever 
representam o lado externo do pensamento, por isso a hermenêutica tem dois 
momentos: 1º) interpretar texto e conteúdo e 2º) compreender - repetir na mente do 
intérprete os processos mentais do autor. 
 
 
2) Hermenêutica Filosófica – Dilthey 
 
 
Wilhelm Christian Ludwig Dilthey (1833, 1911) foi um filósofo hermenêutico, psicólogo, 
historiador, sociólogo e pedagogo alemão. Seus principais conceitos procuram fundamentar as 
"ciências do espírito" (ciências humanas) como forma de conhecimento, em oposição às 
"ciências da natureza". 
 
Dilthey adota como ponto de partida o método de Schleiermacher. Mas tem como objetivo 
reconhecimento científico da história (historicismo). Com isso, abre o plano da compreensão 
para o contexto sócio temporal (cultura). Ou seja, entende que é necessário conhecer o 
contexto histórico e cultural para uma correta interpretação, uma vez que entende que todas as 
experiências humanas se dão no meio de uma comunidade. 
 
Chama a atenção para a existência de dois mundos: dado e construído. 
O mundo dado é o campo da ciência natural (ciência da natureza); e o mundo construído é 
baseado na história. 
Dessa forma há dois planos: razão científica x razão histórica. 
Propõe a divisão da ciência em dois grupos: ciências da natureza e do espírito 
A ciência natural deve ser investigada por um método analítico-esclarecedor (baseado na 
causalidade). 
A ciência do espírito deve adotar um método compreensivo-descritivo (baseado na 
compreensão). 
Assim o mundo dado seria distante do homem e o mundo construído seria próximo a ele 
(porque tem contato direto. 
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O objetivo das ciências do espírito é compreender o desenvolvimento histórico da consciência 
humana. 
Portanto, em sua concepção de hermenêutica deve-se analisar o contexto histórico em a 
linguagem foi produzida e qual a sua finalidade - no caso da hermenêutica jurídica, deveria 
ser analisado o contexto histórico em que a norma jurídica foi produzida e qual a finalidade 
pretendida pelo legislador. Ou seja, em qual contexto histórico ela surgiu e qual a finalidade 
pretendida. 
 
3 Hermenêutica Filosófica – Heidegger 
 
Martin Heidegger (1889, 1976) foi um filósofo alemão reconhecido como um dos mais 
originais e importantes do século XX. É mais conhecido por suas contribuições para a 
fenomenologia, existencialismo e hermenêutica filosófica. 
Discordou de Scheleiermache e Dilthey, uma vez que, para ele, o objetivo da hermenêutica é 
a própria compreensão. 
Entendia que o ato de compreensão faz parte da essência do ser humano. 
 
Para ele a Hermenêutica é um esforço de auto compreensão (estudo ontológico8). 
Para estudar a compreensão, é necessário o esclarecimento das condições prévias para que ela 
se realize, o que ele chama de pré-compreensão. As pré-opiniões ou pré-conceitos provêm das 
percepções culturais na vida em comunidade e formam o ponto de partida de toda 
compreensão posterior. 
Cada intérprete, de acordo com essa pré-compreensão, tem uma percepção diferenciada das 
coisas do mundo e com isso elabora a sua compreensão. Por exemplo: ao ler um texto, o leitor 
traça algumas expectativas, de acordo com o seu conhecimento prévio do assunto (projeto de 
leitura). A tarefa principal da compreensão da leitura é a confirmação desse projeto. Cada 
pessoa humana tem dentro de si uma parcela da racionalidade geral. Isso torna possível a 
aquisição de novos conhecimentos e a relação com os conhecimentos passados. 
 
 
3) Hermenêutica Filosófica – Gadamer 
 
Hans-Georg Gadamer (1900, 2002) foi um filósofo alemão considerado como um dos maiores 
expoentes da hermenêutica (interpretação de textos escritos, formas verbais e não verbais). 
Sua obra de maior impacto foi Verdade e Método (Wahrheit und Methode), de 1960, onde 
elabora uma filosofia propriamente hermenêutica, que trata da natureza do fenômeno da 
compreensão. 
 
8 Ontologia é o ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da própria realidade. A palavra 
ontologia é formada do grego pontos (ser) e loggia (estudos), e engloba as questões gerais relacionadas ao 
significado do ser e da existência. Este termo foi popularizado graças ao filósofo alemão Christian Wolff, que 
definiu a ontologia como filosofia prima (filosofia primeira) ou ciência do ser enquanto ser. 
 No século XIX, a ontologia foi transformada por neoescolásticos na primeira ciência racional que abordava 
os gêneros supremos do ser. A corrente filosófica conhecida como idealismo alemão, de Hegel, partiu da 
ideia de autoconsciência para recuperar a ontologia como "lógica do ser". 
 No século XX, a ligação entre ontologia e metafísica geral deu lugar a novos conceitos, como o de Husserl, 
que vê a ontologia como ciência formal e material das essências. Para Heidegger, a ontologia fundamental é 
o primeiro passo para a metafísica da existência. 
 
 
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É considerado um dos mais importantes pensadores do século XX, tendo tido um enorme 
impacto em diversas áreas, da estética ao direito, e tendo adquirido respeito e reputação na 
Alemanha e em outros lugares da Europa que foi muito além dos limites costumeiros da 
academia. Os muitos ensaios, palestras e entrevistas de Gadamer sobre ética, arte, poesia, 
ciência, medicina e amizade, bem como referências ao seu trabalho por pensadores nesses 
campos, atestam a onipresença e relevância prática do pensamento hermenêutico hoje. 
 
Gadamer foi discípulo de Heidegger. 
Gadamer entende a compreensão como um diálogo entre o intérprete e o texto - não interessa 
muito o autor, mas o texto em si mesmo 
O intérprete interpela o texto, que responde, e isso suscita novas perguntas, que se incorporam 
à mente do intérprete – criando um movimento circular interminável. 
 
Dessa forma, cria o conceito de “círculo da compreensão”: pré-compreensão+compreensão.Ou seja, um texto sempre é lido e compreendido por muitas pessoas, em épocas distintas, 
formando uma fusão de compreensões que se incorporam a ele. Cada vez que lemos um texto 
e o compreendemos, estamos colaborando para a continuação desse círculo hermenêutico 
interminável – assim o texto é inesgotável. 
 
Entende que a atividade própria da compreensão não é apenas teórica, mas teórico-prática. 
 
 
Para um melhor entendimento acerca da fusão entre interpretação e compreensão, para que se 
possa melhor entender o que Gadamer e os demais teóricos da hermenêutica filosófica 
queriam demonstrar com o círculo hermenêutico: O processo de compreensão, envolto em um 
diálogo constante de ida e volta entre análises e sínteses voltadas a compreender o todo e as 
partes. Não se pode evitar o fato de que uma pessoa sempre tem consigo concepções e possui 
um entendimento sobre o todo e sobre as partes. No entanto, o ser necessita refletir sobre seus 
pré-conceitos enquanto analisa o objeto a ser investigado. Compreender algo novo é uma 
dialética contínua que muda de direção constantemente entre o mais local dos detalhes locais 
e a mais global da estrutura global de modo a induzir que ambos sejam entendidos 
simultaneamente. Graficamente, o círculo hermenêutico, está demonstrado abaixo: 
 
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4) A Hermenêutica Pós-Positivista e Hermenêutica Constitucional 
 
5.1) Positivismo Jurídico ou juspositivismo (do latim jus: direito; positus (particípio passado 
do verbo ponere): colocar, por, botar; tivus: que designa uma relação ativa ou passiva) é uma 
corrente da filosofia do direito que procura reduzir o Direito apenas àquilo que está posto, 
colocado, dado, positivado e utilizar um método científico (empírico) para estudá-lo. 
Ao definir o direito, o positivismo identifica, portanto, o conceito de direito com o direito 
efetivamente posto pelas autoridades que possuem o poder político de impor as normas 
jurídicas. 
 
O juspositivismo nega as teorias dualistas que admitem a existência de um direito natural ao 
lado do direito positivo. Dessa forma, uma regra pertencerá ao sistema jurídico, criando 
direitos e obrigações para os seus destinatários, desde que emane de uma autoridade 
competente para a criação de normas e desde que seja criada de acordo com o procedimento 
previsto legalmente para a edição de novas normas, respeitados os limites temporais e 
espaciais de validade, assim como as regras do ordenamento que resolvem possíveis 
incompatibilidades de conteúdo. 
 
O positivista entende que o juiz ao aplicar o direito deve seguir rigorosamente a lei. 
Caso o juiz, ao julgar, adote convicções pessoais, poderia comprometer a segurança jurídica, 
uma vez que juízes, com posições diferentes, poderiam decidir de forma distinta casos 
similares. 
Dessa forma, o jus positivismo entende que ao judiciário não seria atribuída legitimidade 
democrática para criar um novo direito, ainda que “melhor” e mais conexo à realidade social. 
 
 
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5.2) Pós-positivismo: 
 
Em contrapondo à posição dos juspositivistas, que foi dominante no século XX, surgiu uma 
nova maneira de se conceber a ciência jurídica, vale dizer, a pós-positivista. 
 
A teria pós-positivista entende que a atividade jurídica não deva restringir-se à lei e aplicação 
de leis, havendo de se almejar uma razão prática, imbuída de incessante busca da decisão 
justa. 
 
Entende que há outros instrumentos jurídicos, além da lei, tais como: proporcionalidade, 
ponderação de valores e razoabilidade, fazendo-se prevalecer a efetiva operabilidade de um 
sistema garanta efetivamente a Justiça. 
 
Assim, uma nova concepção da Constituição e de seu papel na interpretação jurídica 
evidencia-se. 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, almejando assim a satisfação dos 
direitos e garantias dos cidadãos nela compreendidos, impõe uma interpretação do 
ordenamento jurídico que ultrapassa a fria letra da lei. 
 
Com esta mudança de paradigma, abandonando-se aquela sistemática lógico-dedutiva, e 
sendo adotada uma nova forma de interpretação, de enxergar o direito, situou-se o mesmo 
numa busca a efetividade de suas normas. Ou seja, passou a ser premissa do estudo da 
Constituição o reconhecimento de sua força normativa, do caráter vinculativo e obrigatório de 
suas disposições, sendo superada a fase em que era tratada como um conjunto de aspirações 
políticas e uma convocação à atuação dos Poderes Públicos. Embora se insira no âmbito da 
interpretação jurídica, as especificidades das normas constitucionais, com seu conteúdo 
próprio, sua abertura e superioridade jurídica, exigiram o desenvolvimento de novos métodos 
hermenêuticos de princípios específicos de interpretação constitucional. 
 
As teorias pós-positivistas argumentam que a regra não deva ser considerada como 
inquestionável e superior aos valores que a inspiram. Essas teorias chamam a atenção do 
aplicador do direito para os fundamentos do direito, ou seja, que as regras devam ser 
interpretadas à luz do alicerce de todo e qualquer ordenamento, os princípios 
 
Os princípios constitucionais encarnam juridicamente os ideais de justiça de uma 
comunidade, escancarando a Constituição para uma “leitura moral”, pois é sobretudo através 
deles que se dará uma espécie de positivação constitucional dos valores do antigo direito 
natural. Os princípios impõem, de modo definitivo, a retomada da racionalidade prática no 
Direito. O positivismo, tanto na sua vertente mais tradicional da Escola da Exegese, como na 
mais sofisticada versão Norm ativista de Hans Kelsen e Herbert Hart, rejeitava esta 
racionalidade, desprezando a possibilidade de argumentação sobre os valores e a justiça. 
 
Os princípios constitucionais encarnam juridicamente os ideais de justiça de uma 
comunidade, escancarando a Constituição para uma “leitura moral”, pois é sobretudo através 
deles que se dará uma espécie de positivação constitucional dos valores do antigo direito 
natural, tornando impossível uma interpretação axiologicamente asséptica da Constituição. 
 
Os princípios impõem, de modo definitivo, a retomada da racionalidade prática no Direito. O 
positivismo, tanto na sua vertente mais tradicional da Escola da Exegese, como na mais 
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sofisticada versão Norm ativista de Hans Kelsen e Herbert Hart, rejeitava esta 
racionalidade, desprezando a possibilidade de argumentação sobre os valores e a justiça. 
 
Dessa forma, o aplicador do direito deve analisar o caso concreto à luz dos princípios e da 
abertura axiológica que este lhe concede. Sua atividade não deve restringir-se a simples 
subsunção do fato a norma, mas sim, corroborada de todas as nuanças que o fato envolve, 
refletindo-o humanística, técnica e socialmente, com vistas à prolação judicial justa. Não há 
uma ciência jurídica autônoma, tendo em vista que o direito, além do método tradicional, deve 
empregar métodos atinentes às ciências sociais. 
 
A teoria positivista do direito o classifica como uma ciência dogmática, de definições e 
preceitos próprios, sujeitando a atividade do jurista à aplicação e relação entre leis. Excluindo 
do campo do direito, demais ciências sociais como psicologia, sociologia, história e filosofia 
do direito. O formalismo exacerbado sustentado pela referida teoria, por meio da suposta 
neutralidade bem como objetividade do direito, contemplou o magistrado como um 
burocrático aplicador de leis, que encarava o ordenamento jurídico como “catálogo”, dotado 
da previsão de todos os fatos ocorridos e que viriam a ocorrer na sociedade, que com sua 
consecução subsumir-se-iam a ele. 
 
A teoria pós-positivista, consubstanciada no constitucionalismo, promoveu uma mudança de 
paradigma, evidenciando

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