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Questões de Teoria da Constituição 1) O que é Constituição? Resp.: é um fenômeno histórico e político, presente na cultura humana há muitos séculos e em constante transformação, sendo objeto de estudos por partes das mais diversas ciências (Filosofia política, ciência política, história, economia, sociologia etc.). 2) Como deve ser interpretada? Resp.: Uma ótima interpretação de seu sentido e alcance se dá através da multidisciplinaridade, sendo necessário buscar no universo do conhecimento e da experiência humana, em uma civilização culturalmente progressiva. 3) Qual a definição de José Afonso da Silva, para constituição? Resp.: “as constituições têm por objeto estabelecer a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins socioeconômicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais”. 4) Onde atua o direito constitucional? Resp.: Na fronteira entre o político e o jurídico. 5) Qual a origem do constitucionalismo? Resp.: Data da Grécia antiga (século V e IV a.C.), onde Aristóteles utiliza-se da expressão constituição para definir a forma peculiar que cada povo adotava para seu governo, partindo de suas respectivas tradições políticas, devendo ser por todos respeitadas. Surge daí o conceito de constituição material. 6) O que é constituição material? Resp.: é aquilo que cada comunidade considera como importante e valioso em um “bom” governo, sendo útil para a interpretação das normas jurídicas em geral, acarretando na limitação do exercício do poder político, imposto em razão ao respeito às tradições. 7) Até quando vigorou (permaneceu vigente) o sistema de constituição na antiguidade, e por que deixou de ser utilizado? Resp.: Até o final da Republica Romana, acabando no início do Império Romana (44 a.C.), permanecendo ao longo de toda Idade Média, em função do “Poder Divino” dos reis. 8) Quais foram os acontecimentos históricos que contribuíram para a reintrodução de uma constituição no mundo, servindo no impulso ao constitucionalismo moderno? Resp.: O primeiro fato histórico foi a “Carta Magna” (Inglaterra, 1215), onde foi adotado pela primeira vez a forma escrita, limitando a autoridade (Rei João “sem terra”) e definindo direitos que beneficiavam a nobreza e a igreja. O segundo foi a Declaração de direitos de 1689 (“Bill of Rights”), um documento elaborado pelo Parlamento de Inglaterra e imposto aos soberanos, Guilherme III e Maria II, num ato que declara os direitos e a liberdade dos súditos e define a sucessão da coroa. Ambos são de grande importância, mas o último teve papel fundamental no impulso ao constitucionalismo moderno, afirmando a forma escrita e agregando valores liberais da burguesia ascendente, junto as ideias dos pensadores Locke, Montesquieu e Rousseau. 9) Quais foram os marcos do constitucionalismo moderno? Resp.: Foram as constituições americanas (1787) e francesa (1791 e reformulada em 1793 com mudanças radicais e extinção da monarquia). Foram muito parecidas, destacando seus enunciados quanto aos direitos fundamentais e a organização do Estado com separações de poderes. 10) Qual das constituições modernas se destacou? Resp.: A francesa, que exerceu maior influência no mundo ao longo do século XIX. Eram apenas peça de retórica e de enunciados políticos, e não componentes integrantes dos ordenamentos jurídicos. 11) Qual fato relevante para as constituições ocorre no período entre guerras? Resp.: Ocorre um novo impulso com (1) a disseminação do “Estado Social”; (2) a inserção de diversos direitos sociais nas constituições (trabalho, emprego, educação, moradia, etc.), tendo como grande referência a Constituição de Weimar (Alemanha-1919) e (3) o início do controle de constitucionalidade na Europa (já ocorria nos EUA, recebendo grande impulso nesse período, com as decisões da Suprema Corte acerca do “New Deal”). 12) O que surge como resultado da Segunda Guerra Mundial, para o aprimoramento do sistema constitucional? Resp.: A supremacia constitucional em seu aspecto jurídico, se impondo lentamente com maior grau de efetividade de seus preceitos e vinculação (obrigatoriedade) de suas normas em face dos poderes públicos, em razão da maior exigência de controle da constitucionalidade. Ao mesmo tempo, a prevalência dos direitos fundamentais e dos valores democráticos enquanto objetivos universais ganharam outro patamar. Colaborou muito para a consolidação dessa fase a nova configuração da teoria dos princípios, ainda hoje em curso e denominada de Neoconstitucionalismo, demonstrando que o “fenômeno constitucional” continua em plena evolução neste início de século. 13) O que foi o “supertratado” não consolidado na Europa, no início do século XXI? Resp.: Foi o projeto de uma constituição europeia, ainda não consolidado, que não objetivava a substituição das constituições individuais, demonstrando a relevância à ordem internacional dos textos das constituições. 14) O que são os sentidos ou concepções de constituição? Resp.: São as ideias que buscam explicar o “fenômeno constitucional” em face das transformações e das necessidades da sociedade em cada momento histórico. 15) Quais são os mais relevantes sentidos de constituição, definições e autores? Resp.: Eles se somam para que possamos compreender e melhor interpretar a Constituição nos dias de hoje e são: A) Sentido sociológico: desenvolvido por Ferdinand Lassalle, onde a se destaca a constituição “Real”, sendo a soma ponderada de fatores reais de poder dentro de uma sociedade, que é a relação da constituição com o poder de fato de cada grupo na defesa de seus interesses, sendo só efetiva se agregar estes conceitos, mesmo que contraditórios; B) Sentido político: Defendido por Carl Schmitt, no período “entre guerras”, onde apenas as decisões políticas fundamentais (forma de Estado e de governo, regime político, competências estatais, etc.) de uma sociedade deveriam ser consideradas em nível constitucional, sendo que outras cláusulas, mesmo formais, não teriam a mesma relevância, consideradas meras “leis constitucionais”. Mesmo apropriada pelo nazismo, a relevância da teoria de Schmitt está na noção de “unidade política”, que a constituição propiciaria; C) Sentido jurídico: Hans Kelsen insere a constituição em sua “teoria pura”, a tornando o fundamento de validade de todo ordenamento jurídico-positivo, permitindo inferir uma eficácia e uma aplicabilidade das constituições como não havia até então, posto que essas qualidades seriam pressupostos lógicos e independentes de questões políticas ou ideológicas. O controle de constitucionalidade como imperativo da coerência do sistema é uma das consequências desse pensamento. 16) Por que surgiu, q que é e quem idealizou a constituição dirigente? Resp.: Surgiu devido as novas constituições ampliarem a oferta de direitos fundamentais em paralelo as responsabilidades dos Estados e sua estrutura, que por não ser tarefa fácil, nem de uma única geração, deve ser executada, sob pena de não legitimidade da constituição. Sua definição é dada como “projeto” ou “plano” a ser paulatinamente implantado, dentro das condições históricas que se mostrem viáveis, mas do qual a sociedade e o Estado não podem se afastar, concebida por J.J. Gomes Canotilho. 17) Qual o resultado prático do conceito idealizado por Canotilho? Resp.: Jurisprudência das cortes constitucionais, surgindo o equilíbrio do “plano constitucional”, dividido em duas necessidades: A) “Proibiçãodo retrocesso”, representada pela incorporação definitiva dos direitos já implementados e usufruídos pela sociedade como uma etapa cumprida do “plano”; B) “Reserva do possível”, ou a análise da possibilidade concreta de oferta de um dado direito em um também dado contexto histórico e econômico. 18) No que resultou o equilíbrio do “plano constitucional”? Resp.: Na garantia da legitimidade das constituições no mundo contemporâneo, sendo parecido com o Neoconstitucionalismo, abrindo as portas para o “ativismo judicial” em seu aspecto positivo e temerário. 19) Site as constituições brasileiras: A) Constituição de 1824: Outorgada, concentrava poderes nas mãos do imperador e estipulava a forma unitária de Estado, inspirada, de maneira geral no modelo francês; B) Constituição de 1891: Republicana e democrática (para os padrões da época, veja o item 1.2 abaixo), agregou elementos inspirados na Constituição norte-americana, como a federação e o presidencialismo; C) Constituição de 1934: Democrática, inspirada na Constituição de Weimar, instituía vários direitos sociais e políticos (voto feminino e dos maiores de 18 anos, por exemplo) e confirmava a Federação como forma de Estado; D) Constituição de 1937: Outorgada, extremamente centralizadora e autoritária, foi a única a admitir expressamente a pena de morte e a censura; E) Constituição de 1946: Democrática, extremamente avançada para a época no que tange aos direitos fundamentais e também ao controle do poder político (improbidade e CPIs são elementos de destaque); F) Constituição de 1967/69: É considerada como semi-outorgada, pois ao Congresso Nacional de então coube apenas referendá-la. Instituiu o regime de exceção da ditadura militar. Foi emendada em vários pontos em 1969, pelo que a doutrina se refere também à “Constituição de 1969”; G) Constituição de 1988: Texto atual, também considerada uma das mais avançadas do mundo, já foi objeto de 78 emendas (71 de reforma e 6 de revisão, ver módulo II), algumas de mero ajuste, mas outras, entretanto, (como a EC 19- reforma administrativa, 20-reforma da previdência, e 45- reforma do judiciário) dando perfil novo a aspectos importantes do Estado. 20) Quais são as classificações das constituições? A) “Escritas” ou “dogmáticas”: promulgadas como um texto único e num dado momento; ou “não-escritas” “históricas” ou “costumeiras”: se formaram no processo histórico, onde paulatinamente certas leis assumem um papel mais fundamental, e passam a ser aceitas como constitucionais (Inglaterra); B) “Sintéticas”: com poucos dispositivos, por vezes de extrema generalidade; ou “analíticas”: com um texto longo, abarcando detalhes de aspectos variados, como a economia, a cultura, os órgãos da administração pública, etc. Colocar determinado texto constitucional em um ou outro nicho depende do contexto de cada momento; 100 enunciados seriam muito no século XIX, mas no mundo contemporâneo poderiam caracterizar uma constituição como “sintética”; C) “Outorgadas”: impostas por um determinado grupo (militar, econômico, religioso etc.) à toda sociedade, devido ao poder de tal grupo em fazer valer seus interesses; ou “democráticas”: contam com a participação de toda sociedade em sua elaboração. É importante considerar o sentido de “democracia” em cada contexto, para classificar assim uma determinada constituição. Por exemplo, para o final do século XIX, no Brasil de então (agrário e desigual), a Constituição de 1891, com a participação apenas de homens com renda e alfabetizados, seria aceitável; no mundo ocidental do século XXI, apenas a eleição de uma assembleia constituinte exclusiva, mediante voto universal e somando-se outras formas de participação (referendo ou iniciativa popular) caracterizariam uma constituição como democrática; D) “Rígidas” ou “flexíveis”: leva em conta a menor (rígidas) ou maior (flexíveis) facilidade de alteração do texto constitucional, no aspecto formal, e de quão mais dificultosa é essa alteração em relação ao procedimento de aprovação das leis infraconstitucionais. Em verdade, e numa análise histórica, o que se encontram são graus variados de rigidez. A Constituição brasileira de 1988 é considerada rígida, pois tanto contém pontos inalteráveis (“cláusulas pétreas”) quanto um procedimento mais rigoroso para aprovação de emendas à constituição. 21) O que é o Poder Constituinte Originário? Resp.: É o ente que se encarrega de elaborar uma constituição e dar-lhe vigência e validade perante a sociedade. Pode ser “outorgada” (quando então o poder constituinte originário é um grupo com força suficiente para impor suas noções e valores) ou “democrática” (quando o poder constituinte originário é o próprio povo). Nesta última situação a constituição é redigida por uma “assembleia constituinte”, formada por representantes eleitos pelo povo. O povo também pode interferir em sua elaboração de outras formas. Quanto mais democrática a escolha do poder constituinte originário, mais legítima e estável será a constituição. No mundo contemporâneo as exigências para caracterização do processo constituinte como verdadeiramente democrático, vão além da instalação de uma assembleia constituinte eleita, e incorporando tantos instrumentos se fizerem necessários (vigência da liberdade de expressão e informação, pluralismo político e partidário) quanto os possíveis (emendas populares ao texto, referendos, etc.). 22) Qual é a característica do Poder Constituinte Originário? Resp.: A doutrina estabelece que é ilimitado e não-vinculado. Do ponto de vista jurídico não há qualquer norma acima dele que determine, de antemão, qual será o conteúdo da constituição que será elaborada, e nenhuma determinação de como deverá funcionar, mas numa análise política deve considerar que haverá dificuldades para elaborar uma constituição e para torna-la funcional e acatada pela sociedade política, caso contenha: A) Dispositivos que afrontem tradições políticas consolidadas, como examinado na “constituição material”; B) Dispositivos que rompam com tratados e convenções internacionais que o país seja signatário, em aspectos como segurança e direitos humanos, por força das consequências que isso terá no âmbito das relações com outros Estados. Se não impedem, ao menos colocam obstáculos para o chamado “caráter ilimitado” do poder constituinte originário. 23) É possível uma nova constituição recepcionar leis infraconstitucionais em vigor antes de sua concepção? Justifique: Resp.: Pode “recepcionar”, ou seja, manter a validade e eficácia, se tais leis forem compatíveis com a nova ordem jurídica estabelecida. A recepção não é uma disposição explícita da nova constituição, ao contrário, trata-se de um processo de análise quanto a compatibilidade, que às vezes demanda anos ou décadas, só levado a cabo quando percebido um prejuízo decorrente da lei anterior. A recepção deve se ater a aspectos materiais e não formais, não impedindo que os dispositivos do Código Tributário Nacional, aprovados em 1966 como lei ordinária, tenham sido recepcionados pela Constituição de 1988 como lei complementar, vez que esta exige que assim seja. É evidente que toda matéria, pertinente ao CTN, deve ser aprovada pelo rito da lei complementar. 24) O que é Poder Constituinte Derivado? Resp.: É o órgão a quem a própria Constituição atribui a função de introduzir modificações em seu texto, não tendo uma forma determinada de maneira universal, variando em cada ordenamento jurídico, sendo sempre um poder juridicamente limitado. 25) No Brasil, a quem é atribuído o Poder Constituinte Derivado? Resp.: Ao Congresso Nacional (Senado e Câmara dos Deputados),a quem cabe deliberar sobre as alterações. 26) Quais os critérios para apresentar uma PEC (proposta de emenda à constituição)? Resp.: Os critérios são: 1/3 dos deputados federais (171 assinaturas) ou dos senadores (27 assinaturas), por parte do Presidente da República e por mais da metade das assembleias legislativas dos estados federados (com maioria dos deputados de cada assembleia) 27) O presidente tem poder de veto numa PEC? Resp.: Pode vetar projetos de lei (ordinária ou complementar) após aprovação do Congresso, mas propostas de emenda à Constituição “não”. 28) O que são Reforma e Revisão constitucional? Resp.: Reforma é um procedimento que pode ter início a qualquer momento da vida política de um Estado, visando, normalmente, alterar pontos específicos do texto da constituição. Revisão é um “esforço concentrado”, com regras mais flexíveis, em períodos ou circunstâncias específicas e abrangendo a totalidade ou a maior parte dos elementos constitucionais. Ambos, se processam quando e nos formatos que a própria Constituição determinar. No Brasil, tivemos um único período de revisão, que ocorreu em 1993, cinco anos após a promulgação da Constituição (conforme previsto no artigo 3º dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias –ADCT), com um saldo de meras seis modificações. 29) Quais são os limites do Poder Constituinte Derivado? Resp.: Definidos pela própria constituição, são: A) Limites Temporais: Impossibilidade de uma PEC rejeitada ou prejudicada em ser reapresentada antes do início da próxima sessão legislativa ordinária. (02 de fevereiro do ano seguinte (art. 60, §5º, c/c art. 50, “caput”, da C.F.)); B) Limites Circunstanciais: Situações excepcionais, onde se pressupõe uma grave instabilidade social ou política, não recomendando a aprovação de mudanças constitucionais. Artigo 60, § 1º da CF determina os tais “momentos sensíveis”, que são: intervenção federal em qualquer estado federado (artigos 34 e 36), estado de defesa (art. 136) e o estado de sítio (art. 137). Nestas situações, fica impedido aprovar qualquer emenda; C) Limites Procedimentais: Procedimento de aprovação mais rigoroso do que os projetos de lei (ordinária ou complementar). Emenda à Constituição depende do voto favorável de 3/5 dos deputados (308), quando se iniciar na Câmara, em votação nominal, quórum que deverá se repetir em segundo turno, com intervalo mínimo de cinco sessões em relação ao primeiro. Se aprovada, a PEC é remetida ao Senado, onde as etapas se repetem, e quórum semelhante (3/5 = 49 senadores). A adesão dos parlamentares há de ser muito maior para a aprovação de uma PEC; D) Limites Materiais: Poder constituinte derivado não pode alterar alguns dispositivos esparsos. São as “cláusulas pétreas” ou “cláusulas sensíveis” (art. 60, § 4º), mais especificamente (I) a federação, (II) a separação dos poderes, (III) os direitos e garantias individuais e (IV) o voto direto, secreto, periódico e universal. Não podem ser suprimidos e sequer enfraquecidos ou restringidos em sua aplicabilidade, em virtude de mudança do seu enunciado. Uma emenda que modifique a redação de um direito ou garantia individual (inciso IV do citado §4º) tornando tal direito suscetível de violação ou de mais difícil aplicação, será abrangida por esse limite. Tais PECs não serão objeto de deliberação pelo Congresso, devendo sua tramitação ser descartada pela própria mesa diretora da Câmara ou do Senado. 30) O que é o Poder Constituinte Decorrente? Resp.: Capacidade de auto-organização dos entes federativos em competências definidas diretamente na constituição (Escolha dos governantes, finanças, administração, materiais ou legislativas). Respeitado limites constitucionais, cada estado elabora sua própria constituição. O município também o faz e denomina-se Lei Orgânica. Tais constituições estão acima das leis nos respectivos casos. 31) O que é Mutação Constitucional? Resp.: Por ser a constituição um dispositivo para longo prazo de vigência, seus valores devem ser atualizados de acordo com o tempo. A tecnologia, meio ambiente ou a forma em que a sociedade reage a determinados evento avançam de alguma forma, fazendo com que seja necessária uma nova interpretação dos dispositivos constitucionais por órgãos do judiciário (No Brasil STF), que adotam releituras divergentes as trazidas pelas constituições, a fim de adequá-las as novas realidades, não podendo ser fruto de atitude arbitrária, por se equiparar a uma Emenda à Constituição, no que tange a interpretação. 32) O que diz Luís Roberto Barroso, quanto a mutação constitucional? Resp.: “(...) uma alteração do significado de determinada norma da Constituição, sem observância do mecanismo constitucionalmente previsto para as emendas e, além disso, sem que tenha havido qualquer modificação de seu texto. Esse novo sentido ou alcance do mandamento constitucional pode decorrer de uma mudança na realidade fática ou de uma nova percepção do direito, uma releitura do que deve ser considerado ético ou justo. Para que seja legítima, a mutação precisa ter lastro democrático, isto é, deve corresponder a uma demanda social efetiva por parte da coletividade, estando respaldada, portanto, pela soberania popular” 33) O que se entende por interpretação das normas constitucionais? Resp.: Ponto mais relevante da ciência jurídica. É buscar o sentido e o alcance do texto de uma norma jurídica. Identificar pessoas e situações que estejam abrangidos pelo comando expresso através da linguagem utilizada por quem tem poder para tanto (constituinte ou legislador), a fim de determinar comportamentos (aplicação). É tarefa inafastável, constante, e até temerária, por vezes. O resultado é sempre uma interpretação possível e legítima perante a sociedade, e não uma interpretação certa e única. 34) O que Carlos Maximiliano diz sobre Interpretação? Resp.: “a interpretação colima a clareza; porém, não existe medida para determinar com precisão matemática o alcance de um texto; não se dispõe, sequer, de expressões absolutamente precisas e lúcidas, nem de definições infalíveis e completas” 35) Qual conceito de Friedrich Muller em relação a interpretação das normas constitucionais? Resp.: Afirma que a norma jurídica só surge após a interpretação, sendo o texto (que denominamos de “dispositivo”) uma mera plataforma para sua construção. 36) O que são métodos de interpretação da norma positiva (ou dispositivo)? Resp.: São formas técnicas de analisar a norma e derivam da abordagem hermenêutica clássica, que compreende algumas etapas obrigatórias, percorridas com maior ou menor extensão dependendo do problema, mas sempre em interação entre elas. 37) Quais são os aspectos para interpretação da norma jurídica? A) Aspectos Léxicos: sentido com que a palavra inscrita no texto é usualmente adotada (semântica); B) Aspectos Gramaticais: relação entre os elementos do texto (sujeito, objeto, concordância nominal e verbal, etc.); C) Aspectos Históricos: significa observar e considerar o contexto sócio-político-econômico, tanto na perspectiva horizontal (mudanças que perpassam toda a sociedade, como, por exemplo, as novas tecnologias) quanto na perspectiva vertical (diferenças culturais entre as diferentes comunidades que compõem a sociedade); D) Aspecto Finalístico: objetivo pretendido por aquele dispositivo, por outros com ele relacionados ou, até mesmo por todo ordenamento jurídico, seguidos pelas tradições jurídicas e políticas; E) Aspecto Sistemático: posicionar o dispositivo no contexto do ordenamento positivo, observando as normas que lhe antecedem ou sucedem no tempo (eventual revogação, por exemplo), o tratamento mais ou menos específico dado por ele a certa matéria em face de outros dispositivos, e também a relação vertical de validação (“pirâmide”). Importante atentar, nestaetapa, para as aparentes contradições, ou “antinomias”, especialmente a “colisão” entre os princípios, que, que analisaremos adiante. 38) Como podem ou devem ser aplicados os aspectos para interpretação da norma jurídica? Resp.: Devem sempre ser considerados na análise de qualquer dispositivo; podem interagir entre si; podem adquirir maior ou menor ênfase, de acordo com o método adotado ou mesmo o problema concreto. 39) Quais as peculiaridades da interpretação da norma constitucional? A norma constitucional tem caráteres de: A) Inicialidade, qual seja, ostenta uma posição diferenciada e mais elevada no ordenamento jurídico, por força de sua supremacia e caráter político de “fundação” do Estado, o que leva a jamais utilizarmos a norma infraconstitucional como elemento de interpretação da norma constitucional, mas sim o contrário; B) Conteúdo marcadamente político, dado que sua função principal é regular o exercício do poder e os direitos fundamentais de indivíduos e grupos, como demonstra a evolução do constitucionalismo; C) Síntese e coloquialidade, vez que seus dispositivos, em regra, são lacônicos e abstratos, e ao mesmo tempo devem ser considerados como palpáveis e compreensíveis ao cidadão de cultura mediana, pois a ele é que são dirigidas; D) Predominância das normas de estrutura, posto que a Constituição raramente esgota um tema, deixando à legislação infraconstitucional o papel de estruturar órgãos e instrumentalizar direitos que apenas enuncia, mesmo dando-lhes a moldura necessária e inafastável. 40) Quais são os mais relevantes princípios de interpretação da norma constitucional? Resp.: Por conta dessas caraterísticas, os métodos de interpretação nos conduzem a alguns princípios de interpretação da norma constitucional, dos quais os mais relevantes nos parecem ser: A) Interpretação Conforme: toda norma do direito interno deve estar em consonância com a Constituição, sendo possível que algo esteja em acordo com a norma que lhe dá fundamento (hierarquicamente superior, como uma lei complementar ou ordinária) e mesmo assim ser reconhecido como inconstitucional; B) Unidade da Constituição: não há hierarquia entre os dispositivos da Constituição, mesmo que, em cada caso concreto, um ou alguns deles prevaleçam em detrimento de outros, os quais, porém, poderão se sobrepor àqueles, também em casos diversos; C) Eficácia Máxima: À uma norma constitucional deve ser dado sempre um sentido e um alcance que busque efetivamente interferir em questões concretas, e dentro do maior grau possível, pois seus dispositivos expressam a vontade originária de instituição do Estado. D) Razoabilidade: Ainda que seja considerado um preceptivo aplicável à toda interpretação, como uma decorrência da finalidade, ganha maior relevância por conta do alcance da norma constitucional. Significa que deve aferir o resultado final do processo de compreensão, e que sejam afastadas soluções aparentemente lógicas, mas insuficientes ou absurdas. 41) Diferenças entre princípios e regras no ordenamento jurídico (características)? A) Modo de Aplicação: as regras são aplicadas a um caso concreto na forma do “tudo ou nada”, querendo dizer que uma, e apenas uma, será considerada, afastando todas as demais que eventualmente poderiam interferir na resolução. Já os princípios obedecem à ideia do “mais ou menos”, onde, ainda no caso concreto, certo princípio terá determinado “peso” para o deslinde do problema, mas outro(s) princípio(s) também aportarão elementos para a interpretação, inclusive variando ou havendo até inversão do “peso” em um caso concreto diferente. Por exemplo, “liberdade de informação” e “privacidade” devem ser ambos ponderados num problema concreto, mas dependendo de circunstâncias fundamentadas, um ou outro prevalecerá, num e noutro caso, e o resultado poderá ser ainda uma mescla dos dois; B) Conteúdo: as regras expressam comandos (dar, fazer ou não fazer), enquanto os princípios veiculam valores éticos, até mesmo contraditórios entre si, mas que não apontam para um comportamento imediato, e sim para uma finalidade, ou um estado ideal a ser atingido. Assim, as noções de “função social da propriedade”, ou de “livre inciativa” estão sujeitas à maior ou menor importância estratégica que adquirem na evolução social; C) Extensão: as regras são voltadas a situações, definidas ou pelo menos definíveis por uma sistematização. Já os princípios são dotados de grande generalidade, no sentido de ser impossível catalogar, de antemão, todos os fatos para os quais aportarão sua aplicabilidade. Imagine-se, por exemplo, que a ideia de “moralidade administrativa” abrange um número de ações dos agentes públicos tão amplo e ao mesmo tempo tão tênue que seja impossível encartá-los numa listagem previamente definida, ou mesmo numa conceituação funcional. As regras podem derivar dos princípios, para dar maior concretude e aplicabilidade. Os princípios são extraídos sempre do ordenamento jurídico positivo. Eventualmente serão expressos a partir da análise conjunta de vários dispositivos relacionados, que se somam para estabelecer seu perfil, e que certos princípios se impõem como exigência lógica da funcionalidade do direito (ex.: proibição do retrocesso), sendo remota sua ascendência em relação a um ou mais normas positivadas. 42) O que difere os princípios constitucionais e infraconstitucionais? A) Princípios político-constitucionais: são aqueles que, de um lado, estruturam o Estado brasileiro, dando-lhe as linhas mestras de organização e atuação (República, Federação, Democracia, Tripartição de Poderes, e aqueles outros de atuação diplomática estampados no artigo 4º) e também sustentando a efetividade da Constituição (supremacia e rigidez constitucionais, integração, finalidades como a dignidade da pessoa humana e o combate ás desigualdades, etc.); B) Princípios jurídico-constitucionais: são todos os outros do plano constitucional, estipulando os direitos fundamentais e também vinculando a ação do Estado em face da sociedade (por exemplo, a liberdade de manifestação e de opinião, a inviolabilidade da vida privada, a função social da propriedade, a proteção ao trabalhador, a universalidade da seguridade social, etc.) 43) Como se dá a aplicabilidade da norma constitucional? Resp.: Significa a capacidade de produzir efeitos, ou eficácia, podendo ser de eficácia social (a maior aceitação, ou a presença de condições objetivas-econômicas e sociais- que permitam a aplicação da norma) ou de eficácia jurídica (elementos intrínsecos ao texto e à sua interpretação). 44) Como são diferenciadas as normas constitucionais? Resp.: Por ser a base das leis, se diferenciam em função da dependência ou não que estabelecem em relação às normas infraconstitucionais, a fim de produzirem todos os efeitos pretendidos pelo constituinte. 45) Como são classificadas as normas constitucionais? A) Eficácia plena: não dependem de integração pelo legislador, sendo capazes de produzir efeitos nos casos concretos, mesmo que isso demande interpretação mais acurada de conceitos indeterminados. A legislação pode reproduzir seus ditames, mas sem destoar do sentido e do alcance que seriam naturalmente obtidos pelo intérprete. Não se confundi eficácia plena com princípios, pois pode se expressar mediante regras; B) Eficácia contida: por natureza são normas de eficácia plena, mas a Constituição autoriza a introdução pelo legislador, de complemento, ampliando ou restringindo situações, circunstâncias ou pessoas. Tais reduções não podem suprimir o direito constitucionalmente estabelecido, e estão limitadas também à observância de outras regras e princípios com elas conexas; C) Eficácia limitada: necessitam da promulgação de outras normas infraconstitucionais (leis ou atos do poder público) para produzirem seusefeitos. O legislador estabelecera todas as condições necessárias à implementação dos dispositivos constitucionais. Quase sempre, são identificadas pelas expressões “a lei estabelecerá”, “a lei disciplinará” (legalidade absoluta), etc., ou ainda “nos limites da lei”, “nos termos da lei”, etc. (legalidade relativa).
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