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Ulcerações Traumáticas Drª Aline Cristina Senna Barbosa Lesões agudas e crônicas da mucosa oral são frequentemente observadas. Podem resultar de um dano mecânico como o contato com alimentos cortantes ou mordidas acidentais durante a mastigação, escovação excessiva, durante a fala, ou ate mesmo dormindo. Algumas são autoinduzidas e clinicamente obvias, enquanto outras são sutis e difíceis de serem diagnosticada. Os danos também podem resultar de queimaduras térmicas, elétricas ou químicas. O trauma agudo ou crônico na mucosa oral podem resultar em ulcerações superficiais. Tais ulcerações podem permanecer por longos período de tempo, mas geralmente cicatrizam em poucos dias. um tipo histopotologico único de ulceração traumática cronica da mucosa é a ulceração eosinofílica (granuloma traumático, granuloma com eosinofilia no estroma [GUTEE], granuloma eosinofílico da língua), que exibe uma profunda inflamação inflamatória pseudoinvasiva, que regride, caracteristicamente, de uma forma lenta. De forma interessante, muitos destes granulomas traumáticos são resolvidos apos uma biopsia incisional. Lesões microscopicamente semelhantes a ulceração eosinofílica foram reproduzidas nas línguas de rato após trauma compressivo repetido em lesões traumáticas notadas em pacientes com historia de disautonomia familiar, uma doença caracterizada pela indiferença a dor. Barbosa A.C.S. Além disso, ulcerações sublingual semelhantes podem ocorrer em bebes como resultado do traumatismo crônico da mucosa pelos dentes decíduos anteriores, muitas vezes associado à amamentação. Estas ulcerações distintas dos bebes são chamadas de doença de Riga-Fede e devem ser consideradas uma variação da ulceração eosinofílica. Em raras ocasiões de GUTEE, as lesões não parecem estar associadas a trauma, e cordões de células grandes atípicas são observadas histopatologicamente. A natureza destas células atípicas permanece controversa, embora se tenha sugerido que elas possam representar miofibroblastos racionais, histiócitos (granuloma histiocíto atípico) ou linfócitos T. Saber se estas ulcerações eosinofílicas atípicas representam uma entidade única ou uma variação das desordens que apresentam iosinofilia no estroma constitui uma área para investigações futuras. Sobre estas teorias, vários pesquisadores tem demonstrado que estas células atípicas são linfócitos T com forte reação de imunoperoxidase para o CD30. Nestes casos, acredita-se que este padrão de GUTEE possa representar a contraparte oral da desordem linfoproliferativa CD30+ cutânea primaria, a qual também apresenta ulceração com subsequente necrose ou autorregressão. Na maioria dos casos de ulceração traumática, há uma fonte adjacente de irritação, embora esta não esteja invariavelmente presente. Barbosa A.C.S. A apresentação clinica geralmente sugere a causa, porem em muitos casos assemelha-se à fase inicial do carcinoma de células escamosas ulcerado; a biópsia é realizada para excluir tal possibilidade. Ulceração traumatica Ulceração traumatica Doença de Riga-Fede Granuloma traumático Barbosa A.C.S. Características Clínicas A maioria das lesões não é intencional e surge a partir de diversas causas. como esperado, as ulcerações traumáticas ocorrem mais frequentemente na língua, lábios e mucosa jugal - sítios que podem ser lesionados pelos elementos dentários. as lesões da gengiva, palato e fundo de vestíbulo podem ocorrer por outras fontes de irritação. A escovação exagerada podem criar linhas de erosão ao longo das margens da gengiva livre. Embora essas áreas possam lembrar de alguma forma numerosos processos vesículoerosivos crônicos, a anamnese do paciente frequentemente leva ao diagnostico apropriado, As lesões individuais apresentam-se como áreas de irritam que circundam uma membrana central , destacável , fibrinopurulenta, amarelada. Em muitos casos, a lesão desenvolve uma margem endurecida branca de hiperceratose, imediatamente adjacente à área de ulceração. as ulcerações eosinofílicas são comuns, mas frequentemente não são relatadas. Tais lesões ocorrem em pessoas de todas as idades, com predominância significativa nos homens. A maioria é observada na língua, embora alguns casos tenham sido observados na gengiva, mucosa jugal, soalho oral, palato e lábio. A lesão pode permanecer de 1 semana a 8 meses. As ulcerações são muito semelhantes as ulcerações traumáticas simples; contudo, ocasionalmente, o tecido de granulação proliferativo subjacente pode resultar em uma lesão elevada parecida com um granuloma piogênico. Barbosa A.C.S. A doença de Riga-Fede aparece classicamente entre 1 semana e 1 ano de idade. A condição frequentemente desenvolve-se em associação a um dente neonatal ou natal. O sitio mais comumente envolvido é a superfície ventral anterior da língua, embora a superfície dorsal também possa afetada. As lesões vetrais tocam os incisivos inferiores, enquanto as lesões dorsais estão em contato com os incisivos superiores. Um quadro clinico semelhante à ulcera de Riga-Fede pode ser o achado inicial de varias condições neurológicas relacionadas a automutilação, como a disautonomia familiar (sindrome de Riley-Day), insensibilidade congênita à dor, síndrome de Lesch-Nyhan, doença de Gaucher, paralisia cerebral ou síndrome de Tourette. A ulceração eosinofílica atípica acorre em adultos mais velhos, com a maioria dos casos acometendo pacientes com mais de 40 anos. A ulceração superficial esta presente e uma tumefação subjacente também é observada. A língua é a região mais comumente afetada, embora a gengiva, mucosa alveolar, fundo de vestíbulo, mucosa jugal e lábio também possam ser acometidos. Granuloma histiocítico atípico Barbosa A.C.S. Características Histopatológicas As ulcerações traumáticas simples sao cobertas por uma membrana fibronopurulenta, que consiste em fibrina misturada com neutrófilos. A membrana tem espessura variável e o epitélio superficial adjacente pode ser normal ou pode exibir uma pequena hiperplasia com ou sem hiperceratose. o fundo da ulcera consiste em tecido de granulação que sustenta um infiltrato inflamatório misto de linfócitos, histiócitos, neutrófilos e, ocasionalmente, plasmócitos. Nos pacientes com ulcerações eosinofílicas, o padrão é muitosemelhante; entretanto, o infiltrato inflamatório estende-se para os tecidos mais profundos e exibe cordões de linfócitos e histiócitos misturados a eosinófilos. Além disso, o tecido conjuntivo vascular no fundo da ulceração pode tornar-se hiperplásico e causar elevação superficial. Ulcerações eosinófilicas atípicas exibem varios achados de ulceração eosinófilica traumática, porem os tecidos profundos são substituídos por tecidos por uma proliferação celular em alto grau de células linforreticulares grandes. O infiltrado é pleomórfico, e figuras mitóticas são um tanto quanto comuns. Linfócitos maduros e numerosos eosinófilos estão misturados a células grandes atípicas. Embora um perfil imuno- histoquímico tenha raramente sido relatado, muitos pesquisadores mostram que as células grandes são linfócitos, sendo a maioria positivoa para o CD30(ki-1). Barbosa A.C.S. Em varios casos, estudos moleculares para estudo de células T pela reação em cadeia da polimerase (PCR) foram realizados nas células CD30+ e demonstraram arranjo monoclonal. Ainda não se sabe se este infiltrado monoclonal representa um linfoma de baixo grau ou um processo linfoproliferativo reacional incomum. Tratamento e Prognóstico Para as ulcerações traumáticas que tenham uma fonte obvia de trauma, a causa da irritação deve ser removida. O cloridrato de diclonina ou películas de hidroxipropilcelulose podem ser aplicados para o alivio da dor. Quando a causa não é obvia ou quandoo paciente não responde ao tratamento, a biópsia é então indicada. a cicatrização rápida apos a biópsia é clássica, até mesmo nas ulcerações eosinófilicas grandes. Não é esperada a recidiva. O uso de corticoides no tratamento das ulcerações traumáticas é controverso. Alguns clínicos sugeriram que o uso de tais medicamentos pode retardar a cicatrização. Apesar disso, alguns outros pesquisadores relataram sucesso com o uso de corticoides no tratamento das ulcerações traumáticas crônicas. Embora a extração dos dentes decíduos anteriores não seja recomendada, este procedimento resolve as ulcerações na doença de Riga-Fede. Barbosa A.C.S. Os dentes devem ser mantidos se estiverem bem implantados. O desgaste das margens incisais, a cobertura dos dentes com compósito fotopolimerizável ou filmes de celulose, a construção de uma placa protetora, ou a descontinuidade da amamentação têm sido tentativas como forma de tratamento, com sucesso variável. Nos pacientes que há similaridades histopatológicas à desordem linfoproliferativa CD30+ cutânea, uma avaliação minuciosa para a pesquisa de linfoma sistêmico é obrigatória, alem do acompanhamento por toda vida. Embora a recidiva seja frequentemente observada, estas ulcerações tipicamente cicatrizam de forma espontânea, e a grande maioria dos pacientes não apresentam disseminação do processo. Estudos futuros são essenciais para uma maior compreensão deste processo pouco conhecido. Barbosa A.C.S. Fonte : Patologia Oral e Maxilofacial - Neville
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