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Vibrações em Rede CF086 - Introdução a Física do Estado Sólido 1 Ideias Iniciais • A hipótese de rede estática não permite obter várias propriedades importantes de sólidos. Assim, é preciso relaxar esse vínculo. • Considerações: 1. A posição média de equilíbrio dos átomos/íons coincide com as posições de equilíbrio definidas pelos pontos 𝑅 da rede de Bravais. 2 rede estática rede oscilante Ideias Iniciais 2. Os átomos/íons oscilam em torno dos pontos 𝑅 executando pequenas oscilações, descritas por vetores 𝑢(𝑅). • A suposição 1 é bem pouco restritiva, falhando, essencialmente, perto da fusão do sólido, pois ela não contempla difusão das partículas pelo sólido. • A suposição 2 também tem ampla validade, falhando na prática apenas para o He sólido, que é um “sólido quântico”. Ela dá origem à aproximação harmônica, que veremos em seguida. 3 Ideias Iniciais • Os pontos de rede estáticos são descritos pelas posições 𝑅. A posição de um átomo/íon, num dado instante, é dada por • De forma geral, a energia potencial pode ser escrita como 4 Ԧ𝑟 𝑅 = 𝑅 + 𝑢(𝑅) 𝑈 = 1 2 𝑅≠𝑅′ 𝜙 Ԧ𝑟 𝑅 − Ԧ𝑟 𝑅′ = 1 2 𝑅≠𝑅′ 𝜙 𝑅 − 𝑅′ + 𝑢 𝑅 − 𝑢 𝑅′ Ideias Iniciais • A função escalar 𝜙 depende das posições relativas dos pares de partículas. A hamiltoniana do sistema é • onde 𝑀 é a massa do átomo/íon e Ԧ𝑝(𝑅) é o seu momento linear. Vamos usar 𝑢(𝑅) como coordenadas generalizadas, ao invés de Ԧ𝑟(𝑅). • Para uma função genérica 𝜙, não é possível obter resultados quantitativos úteis. Aqui entra a consideração 2. 5 𝐻 = 𝑅 𝑝2 𝑅 2𝑀 + 𝑈 Ideias Iniciais • A hipótese é supor que 𝜙 𝑢 𝑅 − 𝑢 𝑅′ é apreciável apenas quando 𝑢 𝑅 − 𝑢 𝑅′ é pequeno. Com isso, fazemos uma expansão de 𝑈 em série de Taylor, resultando em • O termo linear é nulo por causa da expansão em torno do ponto de equilíbrio. 6 𝑈 = 𝑁 2 𝑅 𝜙(𝑅) + 1 2 𝑅≠𝑅′ 𝑢 𝑅 − 𝑢 𝑅′ ⋅ 𝛻𝜙 ቚ 𝑅−𝑅′ + 1 4 𝑅 𝑢 𝑅 − 𝑢 𝑅′ ⋅ 𝛻 2 𝜙 ቚ 𝑅−𝑅′ + 𝑂 𝑢 𝑅 − 𝑢 𝑅′ 3 Ideias Iniciais • A primeira correção é quadrática em 𝑢 𝑅 − 𝑢 𝑅′ . O primeiro termo é a energia da configuração de equilíbrio, ou seja, a energia coesiva vista anteriormente. Na aproximação harmônica, temos • onde • 𝑈𝑒𝑞 é importante no cálculo de propriedades de equilíbrio (compressibilidade, densidade). 7 𝑈𝑒𝑞 = 𝑁 2 𝑅 𝜙(𝑅) 𝑈 = 𝑈𝑒𝑞 + 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 Ideias Iniciais • e • onde • 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 é importante para determinar propriedades dinâmicas, como os modos normais, calores específicos, etc. 8 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 = 1 4 𝑅 𝜇𝜈 𝑢𝜇 𝑅 − 𝑢𝜇 𝑅′ 𝜙𝜇𝜈 𝑅 − 𝑅 𝑢𝜈 𝑅 − 𝑢𝜈 𝑅 ′ 𝜙𝜇𝜈 = 𝜕2𝜙 Ԧ𝑟 𝜕𝑥𝜇𝜕𝑥𝜈 Ideias Iniciais • Outra forma de escrever • 𝐷𝜇𝜈: constantes de força, obtidas experimentalmente (espalhamento de nêutrons). • Na aproximação harmônica, a força é linear em 𝑢(𝑅), dando origem a osciladores harmônicos simples (OHS). 9 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 = 1 2 𝑅 𝜇𝜈 𝑢𝜇 𝑅 𝐷𝜇𝜈 𝑅 − 𝑅 𝑢𝜇 𝑅 ′ Modelo OHS 1D • Para desenvolver ideias, vamos considerar uma rede de Bravais 1D, monoatômica, com espaçamento 𝑎 entre os pontos, e 𝑁 átomos com massas 𝑀 conectados por “molas” de constante 𝛽. • 𝑢𝑛: deslocamento do equilíbro do átomo 𝑛. • 𝑅𝑛 = 𝑛𝑎 10 Modelo OHS 1D • Considerando interações apenas entre primeiros-vizinhos, a energia potencial harmônica é • De ሶ𝑝 = − 𝜕𝐻 𝜕𝑞 , temos • Estas equações são acopladas. 11 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 = 1 2 𝛽 𝑛 𝑢𝑛 − 𝑢𝑛+1 2 𝑀 ሷ𝑢𝑛 = −𝛽 2𝑢𝑛 − 𝑢𝑛+1 − 𝑢𝑛−1 Modelo OHS 1D • Condições de contorno periódicas (condições de Born – von Karmann) • Soluções: • Desenvolvendo (quadro) • Há 𝑁 valores distintos de 𝑘, definidos dentro da 1ª ZB. 12 𝑢𝑛 = 𝐴𝑒 𝑖(𝑘𝑛𝑎−𝜔𝑡) 𝑢𝑁 = 𝑢0 , 𝑢−1 = 𝑢𝑁−1 𝑘 = 2𝜋 𝑎 𝑚 𝑁 , 𝑘 ∈ − 𝜋 𝑎 , 𝜋 𝑎 Modelo OHS 1D • Relação de dispersão 𝜔 = 𝜔(𝑘): 13 𝜔 = 2 𝛽 𝑀 sen 𝑘𝑎 2 Modelo OHS 1D • Limites importantes: • |𝑘| ≪ 𝜋 𝑎 ou 𝜆 ≫ 2𝑎: limite de longos comprimentos de onda, ou de centro da ZB. • Relação de dispersão: linear • Velocidade de fase: independe de 𝑘 • Essa é a velocidade do som 𝑣𝑠 no meio • Velocidade grupo: 14 𝜔 = 𝑎 𝛽 𝑀 𝑘 𝑣 = 𝜔 𝑘 = 𝑎 𝛽 𝑀 𝑣𝑔 = 𝜕𝜔 𝜕𝑘 , Ԧ𝑣𝑔 = 𝛻𝑘𝜔(𝑘) Modelo OHS 1D • Outro limite: 𝑘 ∼ 𝜋 𝑎 : borda da ZB. • Frequência máxima • 𝜔𝑚𝑎𝑥 ∼ 10 13 rad/s (IR) • Relação de dispersão: parabólica em 𝑘 (quadro). • Velocidade grupo: 𝑣𝑔 → 0 para 𝑘 → 𝜋 𝑎 : ondas estacionárias na borda da 1ª ZB. 15 𝜔𝑚𝑎𝑥 = 2 𝛽 𝑀 = 2𝑣𝑠 𝑎 Modelo OHS 1D • Vamos considerar agora uma rede 1D com uma base com dois elementos: átomos com massas iguais mas interações diferentes – duas “molas”. • “mola” 𝛽1 (serrilhada): interação entre átomos na mesma célula. • “mola” 𝛽2 (espiral): interação entre células vizinhas. 16 Modelo OHS 1D • Considerando 𝑑 ≤ 𝑎 2 , a energia de interação para primeiros-vizinhos é • onde 𝑢1,𝑛 = 𝑛𝑎, e 𝑢2,𝑛 = 𝑛𝑎 + 𝑑. 𝑑 é a separação entre átomos na mesma célula, 𝑎 − 𝑑 entre células vizinhas. • Hipótese: 𝛽1 ≥ 𝛽2 17 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 = 1 2 𝛽1 𝑛 𝑢1,𝑛 − 𝑢2,𝑛 2 + 1 2 𝛽2 𝑛 𝑢2,𝑛 − 𝑢1,𝑛+1 2 Modelo OHS 1D • Equações de movimento: • Soluções (condições de contorno de B – vK): • Novamente, 18 𝑀 ሷ𝑢1,𝑛 = −𝛽1 𝑢1,𝑛 − 𝑢2,𝑛 − 𝛽2 𝑢1,𝑛 − 𝑢2,𝑛−1 𝑀 ሷ𝑢2,𝑛 = −𝛽1 𝑢2,𝑛 − 𝑢1,𝑛 − 𝛽2 𝑢2,𝑛 − 𝑢1,𝑛+1 𝑢1,𝑛 = 𝐴1𝑒 𝑖(𝑘𝑛𝑎−𝜔𝑡) , 𝑢2,𝑛 = 𝐴2𝑒 𝑖(𝑘𝑛𝑎−𝜔𝑡) 𝑘 = 2𝜋 𝑎 𝑚 𝑁 , 𝑘 ∈ − 𝜋 𝑎 , 𝜋 𝑎 Modelo OHS 1D • Relação de dispersão (quadro): • Para um dado 𝑘 há dois valores possíveis para 𝜔: • dois ramos de relação de dispersão, acústico (𝜔 menor, sinal (-)) e óptico (𝜔 maior, sinal (+)) • há 𝑁 valores de 𝑘 → 2𝑁 valores de 𝜔 → 2𝑁 graus de liberdade: 2𝑁 modos normais. 19 𝜔2 = 𝛽1 + 𝛽2 𝑀 ± 1 𝑀 𝛽1 2 + 𝛽2 2 + 2𝛽1𝛽2 cos 𝑘𝑎 Modelo OHS 1D • Relação entre amplitudes • Sinal (-): ramo óptico, sinal (+): ramo acústico. • Relação entre amplitudes e fases de 𝐴1 e 𝐴2 estabelece como é o movimento executado pelos átomos/íons na rede. 20 𝐴2 𝐴1 = ∓ 𝛽1 + 𝛽2𝑒 𝑖𝑘𝑎 𝛽1 + 𝛽2𝑒𝑖𝑘𝑎 Modelo OHS 1D • Limite 𝑘 ≪ 𝜋 𝑎 (quadro): • Em 𝑘 = 0 (centro da 1ª ZB): 21 𝜔 = 2 𝛽1 + 𝛽2 𝑀 − 𝑂 𝑘𝑎 2 , ramo óptico 1 2𝑀 𝛽1𝛽2 𝛽1 + 𝛽2 𝑘𝑎 , ramo acústico 𝜔 = 2 𝛽1 + 𝛽2 𝑀 , ramo óptico 0 , ramo acústico Modelo OHS 1D • Relação de amplitudes (𝑘 = 0): • sinal (+): acústico: em fase. • sinal (-): óptico: diferença de fase de 𝜋 rad. • movimento numa célula igual ao nas vizinhas. 22 𝐴2 = ∓𝐴1 acústico óptico Modelo OHS 1D • Limite 𝑘 = ± 𝜋 𝑎 (borda da 1ª ZB): 23 𝜔 = 2𝛽1 𝑀 , ramo óptico 2𝛽2 𝑀 , ramo acústico Modelo OHS 1D • Relação de amplitudes (𝑘 = ± 𝜋 𝑎 ): • sinal (+): acústico: em fase. • sinal (-): óptico: diferença de fase de 𝜋 rad. • movimento numa célula oposto ao nas vizinhas. 24 𝐴2 = ∓𝐴1 acústico óptico Modelo OHS 1D • Modos acústicos: a relação de dispersão é linear para 𝑘 → 0, de modo que há uma relação do tipo 𝜔 = 𝑣𝑘, similar à relação para som. Além disso, envolve modos coletivos com os comprimentos de onda mais longos, do tamanho da amostra. • Modos ópticos: podem ser excitados por radiação eletromagnética quando a rede é formada por íons (+) e (-). 25 Modelo OHS 3D • Em 3D, a ideia é similar,e 𝑢(𝑅) tem a forma • Ԧ𝐴 tem direção, e assim temos direções de polarização: • Ԧ𝐴 ∥ 𝑘: modos longitudinais (L) • Ԧ𝐴 ⊥ 𝑘: modos transversais (T - dois para cada L) • Célula com 𝑝 átomos na base: • 3 ramos acústicos: um LA, dois TA • 3𝑝 − 3 ramos ópticos: 𝑝 − 1 LO, 2𝑝 − 2 TO • Os modos podem ser degenerados. 26 𝑢 𝑅 = Ԧ𝐴𝑒𝑖 𝑘⋅𝑅−𝜔𝑡 Modelo OHS 3D • O desenvolvimento feito até agora foi clássico, mas a relação com mecânica quântica (MQ) é direta, sendo que 𝑢𝑛 e Ԧ𝑝𝑛 devem ser entendidos como operadores (2ª quantização). • Relação de dispersão: idêntica às anteriores. • Energia total: 27 𝐸 = 𝑘,𝑠 𝑛𝑘,𝑠 + 1 2 ℏ𝜔𝑠(𝑘) Modelo OHS 3D • Energia de um modo com vetor de onda 𝑘 do ramo s no estado descrito por 𝑛𝑘,𝑠: • Nesse estado, há 𝑛𝑘,𝑠 fônons de energia ℏ𝜔𝑠(𝑘), e momento linear ℏ𝑘 (não é momento mecânico). • Fônons são quanta de oscilações mecânicas, similares aos fótons, que são quanta de radiação eletromagnética. Estas partículas podem interagir: obtenção das curvas de dispersão. 28 𝐸𝑘,𝑠 = 𝑛𝑘,𝑠 + 1 2 ℏ𝜔𝑠(𝑘) Curvas de Dispersão • Os fônons podem participar de interações com outras partículas, como fótons, elétrons e nêutrons. Isso permite obter as curvas de dispersão. • Ao incidir nêutrons sobre uma amostra, eles interagem fracamente via dipolo magnético com a mesma, e ocorre produção ou absorção de fônons. • Estado inicial dos nêutrons: energia E e momento Ԧ𝑝. • Estado final dos nêutrons: energia 𝐸′ e momento Ԧ𝑝′. 29 Curvas de Dispersão • Conservação de energia • Se 𝑛 𝑘,𝑠 ′ > 𝑛𝑘,𝑠, fônons de vetor de onda 𝑘 foram criados no ramo s, e a energia do nêutron diminui. • Note que 30 𝐸′ = 𝐸 − 𝑘,𝑠 Δ𝑛𝑘,𝑠ℏ𝜔𝑠 𝑘 , Δ𝑛𝑘,𝑠 = 𝑛𝑘,𝑠 ′ − 𝑛𝑘,𝑠 𝐸 = 𝑝2 2𝑀𝑛 , 𝐸′= 𝑝′2 2𝑀𝑛 Curvas de Dispersão • Conservação de momento • Aqui, 𝐾 é um vetor da rede recíproca. Assim, a rede pode participar da interação. Note que ℏ𝐾 não é momento mecânico usual. • Há dois processos principais de interação. 31 Ԧ𝑝′ = Ԧ𝑝 − 𝑘,𝑠 Δ𝑛𝑘,𝑠ℏ𝑘 + ℏ𝐾 Curvas de Dispersão • Espalhamento elástico de nêutrons: esse processo não envolve nenhum fônon, e Δ𝑛𝑘,𝑠 = 0. Com isso, temos • ou • Note que a condição é a mesma que se obtém para a ocorrência de espalhamento elástico por raios x. A informação estrutural é a mesma. 32 Ԧ𝑝′ − Ԧ𝑝 = ℏ𝐾 Ԧ𝑞′ − Ԧ𝑞 = 𝐾 , Ԧ𝑝 = ℏԦ𝑞 , Ԧ𝑝′ = ℏԦ𝑞′ Curvas de Dispersão • Espalhamento inelástico de nêutrons, envolvendo um fônon. Com isso, temos • e 33 𝐸′ = ቐ 𝐸 + ℏ𝜔𝑠 𝑘 , absorção 𝐸 − ℏ𝜔𝑠 𝑘 , emissão Ԧ𝑝′ = ቐ Ԧ𝑝 + ℏ𝑘 + ℏ𝐾 , absorção Ԧ𝑝 − ℏ𝑘 + ℏ𝐾 , emissão Curvas de Dispersão • Como 𝜔𝑠 𝑘 ± 𝐾 = 𝜔𝑠(𝑘), podemos escrever • onde (+): absorção; (-): emissão. • 𝐸 e Ԧ𝑝 são conhecidos. Fixar uma direção fixa ො𝑝′, e medir 𝐸′ para esta direção fixa Ԧ𝑝′. Com isso, acha-se 𝜔𝑠(𝑘). 34 𝑝′2 2𝑀𝑛 = 𝑝2 2𝑀𝑛 ± ℏ𝜔𝑠 Ԧ𝑝′ − Ԧ𝑝 ℏ Curvas de Dispersão • Existem processos que envolvem mais do que um fônon, mas a intensidade espalhada é muito mais baixa, e aparece como “background” na medida. 35 Os picos são alargados, pois os fônons têm um tempo de vida finito, o que gera uma incerteza na energia dos mesmos. Isso está ligado à anarmonicidade do sólido. Curvas de Dispersão • Exemplos obtidos com espalhamento de nêutrons. 36 cobre germânio Curvas de Dispersão • Exemplos obtidos com espalhamento de nêutrons. 37 alumínio Curvas de Dispersão • Exemplos obtidos com espalhamento de nêutrons. 38 cobre Curvas de Dispersão • Outro modo de obter 𝜔𝑠(𝑘) envolve interação com fótons. • Fótons de raios x têm energia muito maior que a dos fônons (∼ 10−3 eV), e não são apropriados. Todos os espalhamentos por múltiplos fônons se superpõem, e não é possível separar os que envolvem apenas um fônon. • Fótons da região visível ou infravermelho (IR) são mais apropriados, permitindo a separação dos processos de um fônon dos outros, por processos de interferometria. 39 Curvas de Dispersão • Problema: vetor de onda do fóton muito pequeno (𝑞 ∼ 105 cm-1) quando comparado ao do fônon (𝑘 ∼ 108 cm-1). • Informação apenas em torno de 𝑘 = 0. • Dependendo do ramo em que o fônon foi criado ou destruído, temos • ramo acústico: espalhamento Brillouin. • ramo óptico: espalhamento Raman. 40 Curvas de Dispersão • É preciso considerar o índice de refração 𝓃 do sólido nas equações de conservação • onde (+): absorção (anti-Stokes); (-): emissão (Stokes). • Se 𝑘 ∈ 1ª ZB, 𝐾 = 0 pois 𝑞, 𝑞′ ≪ 𝑘. Os processos são: 41 ℏ𝜔′ = ℏ𝜔 ± ℏ𝜔𝑠 𝑘 , ℏ𝓃 Ԧ𝑞 ′ = ℏ𝓃 Ԧ𝑞 ± ℏ𝑘 + ℏ𝐾 absorção (anti-Stokes) emissão (Stokes) Curvas de Dispersão • Num processo anti-Stokes, a relação entre os vetores fica • Da equação acima sai o valor de k, e da conservação de energia o de 𝜔, permitindo obter 𝜔(𝑘). 42 𝑘 = 2𝓃𝑞 sen 𝜃 2 = 2𝓃𝜔 𝑐 sen 𝜃 2 Curvas de Dispersão • Exemplos: 43 espalhamento Brillouin Curvas de Dispersão • Exemplos: 44 espalhamento Raman Propriedades térmicas • Nosso objetivo agora é investigar como as vibrações estão relacionadas com as propriedades térmicas, como calor específico. • Estamos interessados na contribuição da rede para as propriedades. Em sólidos isolantes essa é a contribuição importante. Em condutores, os elétrons devem ser considerados (posteriormente). • Recordando: • 𝑘𝐵 = 1,38 × 10 −23 J/K: constante de Boltzmann • 𝛽 = 1/𝑘𝐵𝑇 45 Propriedades térmicas • Vamos iniciar com um sólido clássico harmônico. Neste caso, a energia média clássica é dada por • onde usamos a distribuição clássica de Boltzmann, e 46 𝑈 = ℋ = ∫ℋ𝑒−𝛽ℋ 𝑑Γ ∫ 𝑒−𝛽ℋ 𝑑Γ 𝑑Γ = 𝑑𝑢 𝑅1 𝑑 Ԧ𝑝 𝑅1 𝑑𝑢 𝑅2 𝑑 Ԧ𝑝 𝑅2 ×⋯ =ෑ 𝑅 𝑑𝑢 𝑅 𝑑 Ԧ𝑝 𝑅 𝑑Γ =ෑ 𝑅,𝜇 𝑑𝑢𝜇 𝑅 𝑑𝑝𝜇(𝑅) Propriedades térmicas • Podemos escrever • Definindo • obtemos (quadro) 47 𝑈 = − 𝜕 𝜕𝛽 ln න𝑒−𝛽ℋ 𝑑Γ 𝑢 𝑅 = 𝛽− 1 2 Ԧ𝑣 𝑅 , Ԧ𝑝 𝑅 = 𝛽− 1 2 𝑃 𝑅 𝑈 = 𝑈𝑒𝑞 + 3𝑁𝑘𝐵𝑇 Propriedades térmicas • Recordando: capacidade térmica a volume constante: • Para sólido clássico harmônico, • 𝐶𝑣 independe de T: lei de Dulong-Petit. Problemas: • baixas temperaturas: efeitos quânticos são importantes, e 𝐶𝑣 ∼ 𝑇 3. 48 𝐶𝑣 = 𝑑𝑈 𝑑𝑇 𝑣 𝐶𝑣 = 3𝑁𝑘𝐵 Propriedades térmicas • altas temperaturas: não segue exatamente lei de Dulong-Petit, por causa da anarmonicidade do sólido. 49 Propriedades térmicas • Para considerar o comportamento quântico, devemos ter em mente que a energia dos modos é dada por • Para achar U, precisamos considerar mecânica estatística (MecEst). Calculamos inicialmente a função de partição 50 𝐸𝑘,𝑠 = 𝑛𝑘,𝑠 + 1 2 ℏ𝜔𝑠(𝑘) 𝑍 = 𝑖 𝑒−𝛽𝐸𝑖 = 𝑛 𝑘,𝑠 𝑒 −𝛽 σ 𝑘,𝑠 𝑛 𝑘,𝑠 + 1 2 ℏ𝜔𝑠 𝑘 =ෑ 𝑘,𝑠 𝑒− 𝛽ℏ𝜔𝑠 𝑘 2 1 − 𝑒−𝛽ℏ𝜔𝑠 𝑘 Propriedades térmicas • Recordando, da Termodinâmica: • Com isso, achamos (quadro) • onde o número médio de fônons no modo (𝑘, 𝑠) a uma temperatura T é 51 𝑈 = − 𝜕 𝜕𝛽 ln𝑍 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 = 𝑘,𝑠 𝑛𝑠 𝑘 + 1 2 ℏ𝜔𝑠 𝑘 𝑛𝑠 𝑘 = 1 𝑒𝛽ℏ𝜔𝑠 𝑘 − 1 Propriedades térmicas • Energia total • Capacidade térmica • Vejamos dois limites importantes. 52 𝑈 = 𝑈𝑒𝑞 + 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 = 𝑈𝑒𝑞 + 𝑘,𝑠 ℏ𝜔𝑠 𝑘 2 + 𝑘,𝑠 ℏ𝜔𝑠 𝑘 𝑒𝛽ℏ𝜔𝑠 𝑘 − 1 𝐶𝑣 = 𝜕𝑈 𝜕𝑇 𝑣 = 𝜕 𝜕𝑇 𝑘,𝑠 ℏ𝜔𝑠 𝑘 𝑒𝛽ℏ𝜔𝑠 𝑘 − 1 = −𝑘𝐵𝛽 2 𝜕 𝜕𝛽 𝑘,𝑠 ℏ𝜔𝑠 𝑘 𝑒𝛽ℏ𝜔𝑠 𝑘 − 1Propriedades térmicas • T alta (ℏ𝜔 ≪ 𝑘𝐵𝑇): modos normais estão em estados excitados altos. Nesse caso • onde 𝐶𝑉 0 vem de Dulong-Petit e • é a correção quântica (harmônica). Pode ser mascarada por efeitos anarmônicos. 53 𝐶𝑣 = 3𝑁𝑘𝐵 − 𝑘𝐵 12 ℏ 𝐾𝐵𝑇 2 𝑘,𝑠 𝜔𝑠 2 𝑘 = 𝐶𝑉 0 + Δ𝐶𝑉 Δ𝐶𝑣 = − 𝑘𝐵 12 ℏ 𝐾𝐵𝑇 2 𝑘,𝑠 𝜔𝑠 2 𝑘 Propriedades térmicas • T baixa: nesse caso, apenas modos onde 𝜔 → 0 são importantes, por causa do termo exponencial. • ramo acústico: 𝑘 → 0. • ramo óptico: 𝜔 nunca tende a zero. • Considerações para simplificação da somatória: • Desconsiderar modos ópticos. • Supor relação de dispersão 𝜔 = 𝑣𝑠 𝑘 𝑘. • Estender a soma para toda a rede recíproca, além da 1ª ZB. • Introduzir densidade de estados (número de estados por unidade de volume do espaço definido por estes estados). 54 Propriedades térmicas • Em 1D, há N estados possíveis, numa rede de tamanho 𝐿 = 𝑁𝑎, dados por • O “volume” ocupado por um estado em 1D vale 2𝜋 𝐿 . Em 3D, tal volume será 2𝜋 𝐿 3 = 2𝜋 3 𝑉 . Logo, num volume 𝑉𝑘 do espaço recíproco há 𝑉𝑘 2𝜋 3/𝑉 pontos, ou seja, a densidade de estados é 55 𝑘 = 2𝜋 𝑎 𝑚 𝑁 = 2𝜋 𝐿 𝑚 𝒟 𝑘 = 𝑉 2𝜋 3 Propriedades térmicas • Com o uso de 𝒟(𝑘) e 𝜔𝑠(𝑘) = 𝑣𝑠 𝑘 𝑘, obtemos (quadro) • Definindo 𝑥 = 𝛽ℏ𝑣𝑠 𝑘 𝑘, e • onde 𝑑Ω𝑘 = sen 𝜃𝑘 𝑑𝜃𝑘𝑑𝜙𝑘, e sabendo que 56 𝐶𝑣 = 𝜕 𝜕𝑇 𝑠 න ℏ𝑣𝑠 𝑘 𝑘 𝑒𝛽ℏ𝑣𝑠 𝑘 𝑘 − 1 𝑉 2𝜋 3 𝑑3𝑘 1 𝑣3 = 1 3 𝑠 න 𝑑Ω𝑘 4𝜋𝑣𝑠 3(𝑘) න 𝑥3𝑑𝑥 𝑒𝑥 − 1 = 𝜋4 15 Propriedades térmicas • chegamos a • Portanto, 𝐶𝑣 ∼ 𝑇 3 em baixa temperatura (𝑇 → 0). Na região intermediária de temperaturas, é preciso considerar algum modelo para obter resultados. Dois modelos são bem conhecidos: • Modelo de Debye. • Modelo de Einstein. 57 𝐶𝑣 = 𝑉 𝜕 𝜕𝑇 𝑘𝐵𝑇 4 ℏ𝑣 3 3 2𝜋2 𝜋4 15 = 2𝜋2 5 𝑉𝑘𝐵 𝑘𝐵𝑇 ℏ𝑣 3 Propriedades térmicas • Hipóteses no modelo de Debye: • Os ramos do espectro vibracional são substituídos por 3 ramos onde 𝜔 = 𝑣𝑘. • 1ª ZB é substituída por uma esfera de mesmo volume (em valores de 𝑘). Há N valores de 𝑘 na 1ª ZB. Então, • ou seja, • onde 𝑘𝐷 é o momento de Debye. 58 4𝜋𝑘𝐷 3 3 = 𝑁 2𝜋 3 𝑉 𝑘𝐷 3 = 6𝜋2 𝑁 𝑉 , 𝑘𝐷 = 6𝜋 2 𝑁 𝑉 1 3 Propriedades térmicas • Com isso, 𝐶𝑣 fica • Definimos • frequência de Debye: 𝜔𝐷 = 𝑣𝑘𝐷 (maior frequência dos fônons) • temperatura de Debye: • Θ𝐷 separa o regime clássico (𝑇 > Θ𝐷), onde os modos estão todos excitados, do regime quântico (𝑇 < Θ𝐷), onde os modos ficam “congelados”. 59 Θ𝐷 = ℏ𝜔𝐷 𝑘𝐵 = ℏ𝑣𝑘𝐷 𝑘𝐵 𝐶𝑣 = 𝜕 𝜕𝑇 3ℏ𝑣 2𝜋2 න 0 𝑘𝐷 𝑘3𝑑𝑘 𝑒𝛽ℏ𝑣𝑘 − 1 Propriedades térmicas • Definindo 𝑥 = 𝛽ℏ𝑣𝑘, e desenvolvendo (quadro), obtemos • Para 𝑇 ≪ Θ𝐷, faz-se Θ𝐷 → ∞ na integral, e acha-se 𝐶𝑣 ∼ 𝑇 3. • Para 𝑇 ≫ Θ𝐷, 𝑥 ≪ 1, expande-se o integrando e acha-se a lei de Dulong-Petit. 60 𝐶𝑣 = 9𝑁𝑘𝐵 𝑇 Θ𝐷 3 න 0 Θ𝐷/𝑇 𝑥4𝑒𝑥 𝑒𝑥 − 1 2 𝑑𝑥 Propriedades térmicas • Exemplos: Ge e Si. 61 Propriedades térmicas • O outro modelo é o modelo de Einstein: • os 𝑝𝑜 ramos ópticos têm todos a mesma frequência 𝜔𝐸, independente de 𝑘. • Contribuição para 𝐶𝑣: 62 𝐶𝑣,opt = 𝜕 𝜕𝑇 3𝑁𝑝𝑜 ℏ𝜔𝐸 𝑒𝛽ℏ𝜔𝐸 − 1 = 3𝑁𝑝𝑜𝑘𝐵 ℏ𝜔𝐸 𝑘𝐵𝑇 2 𝑒𝛽ℏ𝜔𝐸 (𝑒𝛽ℏ𝜔𝐸 −1)2 Propriedades térmicas • Para 𝛽ℏ𝜔𝐸 ≫ 1 (T baixa), o comportamento é do tipo • e 𝐶𝑣 → 0 de forma exponencial (mais rápido que Debye). 63 𝐶𝑣,opt = 3𝑁𝑝𝑜𝑘𝐵 ℏ𝜔𝐸 𝑘𝐵𝑇 2 𝑒−𝛽ℏ𝜔𝐸 diamante Propriedades térmicas • É importante notar que em sólidos condutores é preciso levar em conta a contribuição dos elétrons (será feito posteriormente). • Complementando, vamos mostrar a forma geral para escrever a densidade de estados 𝒟(𝑘) ou 𝒟 𝜔 . Em geral, precisamos fazer a troca 64 𝑘,𝑠 𝑄 𝜔𝑠 𝑘 = 𝑠 න 𝑉 2𝜋 3 𝑄 𝜔𝑠 𝑘 𝑑 3𝑘 Propriedades térmicas • 𝒟(𝜔): número de modos por unidade de frequência na faixa [𝜔, 𝜔 + 𝑑𝜔]. • 𝑔 𝜔 = 𝒟(𝜔)/𝑉 • Queremos resolver integrais do tipo • Escrevendo • vemos que reobtemos a equação desejada. 65 𝑉න𝑑𝜔 𝑔 𝜔 𝑄(𝜔) = න𝑑𝜔 𝒟(𝜔)𝑄(𝜔) 𝑔 𝜔 = 𝑠 න 1 2𝜋 3 𝛿 𝜔 − 𝜔𝑠 𝑘 𝑑 3𝑘 Propriedades térmicas • Outro modo de escrever envolve a consideração de que • Então 66 𝒟 𝜔 𝑑𝜔 = volume ocupado pelos modos na faixa [𝜔, 𝜔 + 𝑑𝜔] volume ocupado por um modo 𝒟 𝜔 𝑑𝜔 = σ𝑠 ∫𝒱 𝑑 3𝑘 2𝜋 3 𝑉 = 𝑉 2𝜋 3 𝑠 න 𝒱 𝑑3𝑘 onde 𝒱 é o volume delimitado entre as superfícies 𝜔 = 𝜔 𝑘 e 𝜔′ = 𝜔 + 𝑑𝜔, como na figura ao lado. Propriedades térmicas • Temos que • Então, • e obtemos 67 𝒟 𝜔 = 𝑉 2𝜋 3 𝑠 න 𝑆𝜔 𝑑𝑆𝜔 𝑣𝑔 𝑑3𝑘 = 𝑑𝑆𝜔 𝑑𝑘⊥ 𝑑𝜔 = 𝛻𝑘𝜔 ⋅ 𝑑ℓ𝑘 = 𝛻𝑘𝜔 𝑑𝑘⊥ 𝑑3𝑘 = 𝑑𝑆𝜔 𝑑𝜔 𝛻𝑘𝜔 = 𝑑𝑆𝜔 𝑑𝜔 𝑣𝑔 Propriedades térmicas • e • Outra relação: 68 𝑔 𝜔 = 1 2𝜋 3 𝑠 න 𝑆𝜔 𝑑𝑆𝜔 𝑣𝑔 Em alguns locais ocorre 𝑣𝑔 = 𝛻𝑘𝜔𝑠 𝑘 = 0, de modo que 𝑔(𝜔) e 𝒟(𝜔) têm singularidades, chamadas singularidades de van Hove. 𝒟 𝜔 = 𝑉 2𝜋 3 4𝜋 𝑘 𝜔 2 𝑑𝑘 𝑑𝜔 Efeitos Anarmônicos • Até o momento, temos considerado duas hipóteses para o estudo de vibrações 1. Pequenas oscilações. 2. Aproximação harmônica. • O ponto (1) falha próximo ao ponto de fusão, ou para He sólido. Sem ele, a descrição teórica torna-se realmente muito complexa. 69 Efeitos Anarmônicos • O ponto (2), apesar de simplificar o tratamento, tem consequências desagradáveis. Num sólido perfeitamente harmônico temos as seguintes propriedades: 1. Dois modos vibracionais não interagem, pois são estados estacionários da hamiltoniana. Assim, não há interação entre dois fônons. 2. Não há expansão térmica. 3. As constantes elásticas isotérmica e adiabática são iguais, e independem de T ou P. 4. 𝐶𝑣 tende ao valor de Dulong-Petit para T alta. 5. Condutividade térmica 𝒦𝑇 infinita (sólido sem impurezas, defeitos, nem superfície) 70 Efeitos Anarmônicos • Todas as consequências acima são refutadas para sólidos reais, indicando a necessidade de termos anarmônicos na expansão da energia. • Qualitativamente, é possível entender a influência dos termos anarmônicos na expansão térmica. Considere a figura abaixo. 71 Efeitos Anarmônicos • Para a energia potencial 𝑈1 = 𝛽𝑥2 2 , para um dado valor da energia total E, o sistema oscila entre pontos 𝑥ℎ,1 e 𝑥ℎ,2, que são simétricos em torno de 𝑥 = 0. • Aumentar E faz com que 𝑥ℎ,1,2 mudem, mas de forma simétrica. Assim, 𝑥 = 0 para qualquer E. Não há expansão térmica. • Se 𝑈2 = 𝑈1 + 𝛾𝑥 3, 𝛾 < 0, a energia potencial é assimétrica. Para 𝑇 = 0, temos a energia E mínima, e 𝑥 = 0. Porém, aumentando T, o que aumenta E, a oscilação ocorre entre 𝑥1,𝑎 e 𝑥2,𝑎, que não são simétricos. Com isso, 𝑥 > 0, e ocorre expansão térmica. 72 Efeitos Anarmônicos • Quais termos manter na expansão de U, além do termo quadrático? • Considerar o termo cúbico apenas gera uma hamiltoniana instável, sem estado fundamental. • Considera-se também o termo quártico na expansão. • Termo cúbico é assimétrico e gera processos envolvendo três fônons: dois geram um ou um gera dois. • Termo quártico é simétrico. Gera processos envolvendo quatro fônons. 73 Efeitos Anarmônicos • Para obter equação de estado, recordamos que • e que • e, além disso,74 𝐹 = 𝑈 − 𝑇𝑆 𝑃 = − 𝜕𝐹 𝜕𝑉 𝑇 𝑇 𝜕𝑆 𝜕𝑇 𝑉 = 𝜕𝑈 𝜕𝑇 𝑉 Efeitos Anarmônicos • Então (quadro) • Aproximação harmônica: 75 𝑃 = − 𝜕 𝜕𝑉 𝑈 𝑇, 𝑉 − 𝑇න 0 𝑇 1 𝑇′ 𝜕𝑈 𝜕𝑇′ 𝜕𝑇′ 𝑈 = 𝑈𝑒𝑞 + 1 2 𝑘,𝑠 ℏ𝜔𝑠 𝑘 + 𝑘,𝑠 ℏ𝜔𝑠 𝑘 𝑒𝛽ℏ𝜔𝑠 𝑘 − 1 Efeitos Anarmônicos • Nessa aproximação, a pressão fica (demonstrar) • A dependência de P com T aparece apenas no segundo termo do lado direito acima! • Para sólido harmônico: 76 𝑃 = − 𝜕 𝜕𝑉 𝑈𝑒𝑞 − 1 2 𝑘 ℏ𝜔𝑠 𝑘 + 𝑘,𝑠 − 𝜕 𝜕𝑉 ℏ𝜔𝑠 𝑘 1 1 − 𝑒−𝛽ℏ𝜔𝑠 𝑘 𝑈ℎ𝑎𝑟𝑚 = 1 2 𝑅≠𝑅′ 𝑢 𝑅 ⋅ 𝐷 𝑅 − 𝑅 ⋅ 𝑢 𝑅′ Efeitos Anarmônicos • Se a rede expande ou contrai, temos novas posições de equilíbrio, dadas por 𝑅2 = 1 + 𝜖 𝑅. • As posições instantâneas ficam • Com isso, é possível escrever a energia em termos de 𝑢2(𝑅): 77 𝑈 = 𝑈𝑒𝑞 + 1 2 𝜖2 𝑅≠𝑅′ 𝑢 𝑅 ⋅ 𝐷 𝑅 − 𝑅 ⋅ 𝑢 𝑅′ + 1 2 𝑅≠𝑅′ 𝑢2 𝑅 ⋅ 𝐷 𝑅 − 𝑅 ′ ⋅ 𝑢2 𝑅 Ԧ𝑟 = 𝑅2 + 𝑢2 𝑅2 = 𝑅 + 𝜖𝑅 + 𝑢2 𝑅2 = 𝑅 + 𝑢 𝑅 Efeitos Anarmônicos • Dois primeiros termos: nova energia de equilíbrio da configuração. • Último termo: mesmas constantes de força 𝐷𝜇𝜈: mesmas relações de dispersão. • Frequências dos modos não mudam com alteração de volume. Logo, 78 𝜕 𝜕𝑉 ℏ𝜔𝑠 𝑘 = 0 Efeitos Anarmônicos • Como consequência, P não depende de T, e 𝑃 = 𝑃(𝑉) apenas. • Com isso, • Da relação termodinâmica • vemos que, para sólido harmônico, • Assim, V não é função de T. 79 𝜕𝑉 𝜕𝑇 𝑃 = − 𝜕𝑃 𝜕𝑇 𝑉 𝜕𝑃 𝜕𝑉 𝑇 𝜕𝑃 𝜕𝑇 𝑉 = 0 𝜕𝑉 𝜕𝑇 𝑃 = 0 Efeitos Anarmônicos • Recordando: coeficiente de expansão térmica 𝛼: • 𝛼 = 0 para sólido perfeitamente harmônico. • Outra relação termodinâmica: • Com 𝛼 = 0, 𝑐𝑃 = 𝑐𝑉. 80 𝛼 = 1 𝑉 𝜕𝑉 𝜕𝑇 𝑃 𝑐𝑃 = 𝑐𝑉 − 𝑇𝑉𝛼2 𝑁𝜅𝑇 Efeitos Anarmônicos • Como exemplo de efeito anarmônico, considere um sistema clássico com energia potencial dada por • onde 𝑐2, 𝑐3, 𝑐4 > 0. Em 𝑇 = 0 o sistema executa pequenas oscilações em torno de 𝑥 = 0. Vamos calcular 81 𝑈 = 𝑐2𝑥 2 − 𝑐3𝑥 3 − 𝑐4𝑥 4 𝑥 = ∫−∞ ∞ 𝑥𝑒−𝛽𝑈(𝑥) 𝑑𝑥 ∫−∞ ∞ 𝑒−𝛽𝑈(𝑥)𝑑𝑥 Efeitos Anarmônicos • Supondo pequenas oscilações, e tratando os termos anarmônicos como perturbações, obtemos (quadro) • de modo que ocorre expansão térmica em função da temperatura, e depende do coeficiente 𝑐3 do termo cúbico. 82 𝑥 = 3 4 𝑐3 𝑐2 2 𝑘𝐵𝑇 Efeitos Anarmônicos • Vejamos agora o efeito da anarmonicidade na condutividade térmica do sólido. • Fônons são ondas elásticas, e contém energia. Para ondas propagantes, a energia pode ser transportada. • Num sólido perfeitamente harmônico, os estados dos fônons são estacionários. Assim, uma vez estabelecido um fluxo de fônons numa dada direção, este fluxo se mantém indefinidamente ⇒ condutividade térmica infinita para sólido perfeitamente harmônico. 83 Efeitos Anarmônicos • Um sólido real não tem condutividade térmica infinita por alguns motivos: 1. Há imperfeições inevitáveis, como impurezas, defeitos na rede, variação isotópica, que agem como centros espalhadores e perturbam a corrente térmica. 2. Se não houver imperfeições, ainda assim haveria espalhamento na superfície do sólido. 3. Ainda que o sólido fosse sem imperfeições e infinito, os termos anarmônicos introduzem interações entre os fônons, e os estados deixam de ser estacionários. • O ponto 3 é inerente a qualquer sólido real. Vamos focar nele. 84 Efeitos Anarmônicos • Resultado importante: termo anarmônico de grau 𝑛 em 𝑢(𝑅) gera interações envolvendo 𝑛 fônons. 85 𝑛 = 3 𝑛 = 4 Efeitos Anarmônicos • Leis de conservação para processos envolvendo fônons: • Energia: • Momento linear: • onde 𝐾 é um vetor da rede recíproca. 86 ℏ𝜔𝑠 𝑘 𝑛𝑘,𝑠 =ℏ𝜔𝑠 𝑘 𝑛𝑘,𝑠 ′ ℏ𝑘 𝑛𝑘,𝑠 =ℏ𝑘 𝑛𝑘,𝑠 ′ + ℏ𝐾 Efeitos Anarmônicos • Hipóteses • rede monoatômica (apenas modos acústicos). • aproximação de Debye: 𝜔 = 𝑣𝑘. • gradiente de temperatura na direção x, como na figura abaixo: 87 l x P x0 v TQ TF Efeitos Anarmônicos • Parâmetros e grandezas importantes: • ℓ: livre caminho médio. • Ԧ𝑣: velocidade do fônon. • ℓ = 𝑣𝜏, 𝜏: tempo médio entre colisões. • 1 𝜏 : frequência média de colisões. • 𝑥0: ponto onde ocorre a colisão de um fônon vindo de P. • 𝑇 = 𝑇(𝑥) pois 𝛻𝑇 é na direção x. • 𝜚𝑈(𝑇): densidade de energia transportada pelos fônons. • Ԧ𝑗 = 𝜚𝑈 Ԧ𝑣: densidade de corrente térmica transportada pelos fônons. 88 Efeitos Anarmônicos • Para determinar 𝑗𝑥, precisamos de 𝑣𝑥 = 𝑣 cos 𝜃. • Fônons que saem de P transportam 𝜚𝑈(𝑥0 − ℓ cos 𝜃) para 𝑥0. • Em média, o transporte é dado por • Desenvolvendo (quadro), obtemos • 𝐶𝑉: capacidade térmica. 89 𝑗𝑥 = 〈𝑣𝑥𝜚𝑈 𝑥0 − ℓ cos 𝜃 𝜃,𝜙 = ∫0 𝜋 ∫0 2𝜋 𝑣𝑥𝜚𝑈 𝑥0 − ℓ cos 𝜃 sen 𝜃 𝑑𝜃𝑑𝜙 ∫0 𝜋 ∫0 2𝜋 sen 𝜃 𝑑𝜃𝑑𝜙 𝑗 = − 1 3 𝐶𝑉ℓ𝑣 𝑉 𝜕𝑇 𝜕𝑥 Efeitos Anarmônicos • Relação entre Ԧ𝑗 e 𝛻𝑇: • Nosso modelo fornece uma condutividade térmica dada por • 𝐶𝑉 e 𝜏 influenciam no comportamento de 𝒦𝑇 com a temperatura. • 𝐶𝑉 ∼ 𝑇 3, para 𝑇 → 0, 𝐶𝑉 → 3𝑁𝑘𝐵, 𝑇 ≫ Θ𝐷 (Dulong-Petit) 90 𝒦𝑇 = 1 3 𝐶𝑉𝑣ℓ 𝑉 = 1 3 𝐶𝑉𝑣 2 𝑉 𝜏 Ԧ𝑗 = −𝒦𝑇𝛻𝑇 Efeitos Anarmônicos • Dependência de 𝜏−1 não é simples. Quatitativamente: 1. 𝑇 ≫ Θ𝐷: todos os modos excitados, com números de ocupação dados por 2. com isso, 𝑛𝑠 𝑘 ∝ 𝑇. Quanto mais fônons, mais colisões, e 𝜏 −1 cresce com T. Logo, 𝜏 decresce com T. Com 𝐶𝑉 → 3𝑁𝑘𝐵, temos 91 𝒦𝑇 ∼ 1 𝑇𝑥 , 1 ≤ 𝑥 ≤ 2 𝑛𝑠 𝑘 = 1 𝑒𝛽ℏ𝜔𝑠(𝑘) − 1 ∼ 𝑘𝐵𝑇 ℏ𝜔𝑠 Efeitos Anarmônicos 2. 𝑇 ≪ Θ𝐷: neste caso, devemos ter em mente que, em qualquer T, apenas fônons com energias da ordem ou menores que 𝑘𝐵𝑇 estão presentes em números apreciável. • Se 𝑇 ≪ Θ𝐷, os fônons tem 𝜔𝑠 𝑘 ≪ 𝜔𝐷 e 𝑘 ≪ 𝑘𝐷. • Processos envolvendo três ou quatro fônons, todos com energias muito pequenas, resultam numa energia total também pequena quando comparada com ℏ𝜔𝐷. • Momento total também é pequeno quando comparado com 𝑘𝐷. 92 Efeitos Anarmônicos • Com isso, 𝐾 = 0 na lei de conservação de momento ⇒ processos chamados normais. • Processos normais não alteram fluxo de corrente térmica, pois, se 𝐾 = 0, temos 93 ℏ𝑘 𝑛𝑘,𝑠 =ℏ𝑘 𝑛𝑘,𝑠 ′ Efeitos Anarmônicos • Se inicialmente a soma é diferente de zero, ela continua diferente de zero. A condutividade térmica seria infinita. • Ela não é infinita porque existem processos onde 𝐾 ≠ 0. São chamados processos umklapp. 94 Efeitos Anarmônicos • Num processo umklapp, algum fônon tem 𝑘 ∼ 𝑘𝐷, e 𝐸 ∼ ℏ𝜔𝐷. • Número médio desses fônons para 𝑇 ≪ Θ𝐷: • Como o número de fônons comporta-se de forma exponencial, a frequência de colisões 𝜏−1 tem mesmo comportamento, e 𝜏 fica 95 𝑛𝑠 𝑘 = 1 𝑒𝛽ℏ𝜔𝑠(𝑘) − 1 ∼ 𝑒−Θ𝐷/𝑇 𝜏 ∼ 𝑒𝑇0/𝑇 , 𝑇0 ∼ Θ𝐷 Efeitos Anarmônicos • Lembrando que ℓ = 𝑣𝜏, temos que, para 𝑇 → 0, ℓ > 𝐿, onde 𝐿 é o tamanho da amostra. A condutividade é limitada por L, e a dependência de 𝒦𝑇 segue a de 𝐶𝑉 ∼ 𝑇 3. • Quando T aumenta, em algum ponto ℓ fica menor que L, e 𝒦𝑇 atinge um máximo e começa a cair de forma exponencial. • Em seguida, aumentando T mais, 𝒦𝑇 começa a seguir a lei de potência 𝒦𝑇 ∼ 1/𝑇𝑥. • Num condutor os elétrons também contribuem para 𝒦𝑇. 96 Efeitos Anarmônicos • Ex.: 97 Ge – influência da isotopia LiF – influênciado tamanho do sólido
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