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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática EDUCAÇÃO EM ENERGIA ELÉTRICA – UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA EJA Augusto Rodrigues Torres Belo Horizonte 2013 Augusto Rodrigues Torres EDUCAÇÃO EM ENERGIA ELÉTRICA – UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA EJA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ensino Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Área de concentração: Ensino de Física Orientadora: Profª. Dra. Yassuko Hosoume Belo Horizonte 2013 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Torres, Augusto Rodrigues T693e Educação em energia elétrica: uma proposta didática para EJA / Augusto Rodrigues Torres. Belo Horizonte, 2013. 98f.: il. Orientadora: Yassuko Hosoume Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. 1. Energia elétrica – Estudo e ensino. 2. Educação de adultos. 3. Jovens - Educação. 4. Ensino médio. 5. Física – Estudo e ensino. I. Hosoume, Yassuko. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título. CDU: 53:373 Augusto Rodrigues Torres EDUCAÇÃO EM ENERGIA ELÉTRICA – UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA EJA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ensino Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. ______________________________________________________ Profª. Dra. Yassuko Hosoume Orientadora - PUC Minas ______________________________________________________ Profª. Dra. Adriana Gomes Dickman - PUC Minas ____________________________________________ Prof. Dr. Nilson Marcos Dias Garcia – UTFPR Belo Horizonte, 15 de abril de 2013. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por tudo. À minha orientadora Yassuko, por ter me dado o privilégio de ser seu orientado, e por ter tido muita paciência comigo, sei que não sou fácil. À minha esposa, Júnia, pelo amor, dedicação e por ter ficado no mínimo seis meses longe de mim para que eu pudesse me dedicar exclusivamente a essa dissertação. Ao meu filho peço desculpas por ter ficado também seis meses longe, já que seus vídeos infantis como Patati Patatá não me deixavam concentrar para escrever. Aos meus pais por todo amor e apoio financeiro, sem vocês esse momento não teria chegado. Ao corpo docente do curso de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da PUC Minas, pelos conhecimentos possibilitados. Aos alunos do PROEJA do IFAC que me ajudaram em muito na produção desse material. Enfim, a todos, MUITO OBRIGADO!!! RESUMO Nesta dissertação é elaborada uma proposta de ensino de eletricidade para adultos do programa PROEJA do Ensino médio. A proposta se apoia na pedagogia freireana, e as discussões priorizam temas relacionados à vivência dos estudantes, tais como falta de energia elétrica, tipos de fontes de energia elétrica na região, impactos ambientais e possibilidade de novas fontes de energia para suprir suas necessidades. As atividades didáticas consistem em discutir assuntos relacionados publicados nos jornais locais, compreender a conta de energia elétrica e uma visita a uma usina elétrica. A proposta foi aplicada a estudantes do curso técnico em Controle Ambiental do Instituto Federal do Acre (IFAC). Cada atividade foi planejada, realizada com os estudantes, avaliada e reelaborada com base nas observações feitas durante a aplicação. Uma avaliação final, contendo questões de física e meio ambiente, mostrou a viabilidade desta proposta, não apenas para programas PROEJA, mas para qualquer programa de ciências do Ensino médio que tem como perspectiva desenvolver habilidades críticas no estudante. Palavras-chaves: Educação de Jovens e Adultos - Ensino Médio; PROEJA; Energia Elétrica; Ensino de Física. ABSTRACT In this dissertation we elaborate a proposal for teaching electricity to adults at high school level (PROEJA program). With the theory of Paulo Freire as a reference, the discussion priorities were themes related to the students´ experience, such as blackouts, types of electrical energy sources in the region, environmental impacts and possibilities of new sources to supply their necessities. The didactic activities involve discussing related issues published in local newspapers, understanding an electricity bill, and visiting a power plant. The proposal was applied to students of the Environment control technical course offered by the Federal Institute at Acre (IFAC). Each activity was planned, realized with students, evaluated and re-elaborated based on the observations made during the application. The final exam, containing physics and environmental questions, proved the viability of this proposal, not only for PROEJA programs, but for any High School science program intended to develop students´ critical skills. Keywords: Physics Education, Electricity, Adult Education, High School, PROEJA. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Usina Maré Motriz de Shihwa localizada na Coréia do Sul.................. 40 FIGURA 2 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Maré Motriz............. 40 FIGURA 3 – Usina Hidrelétrica de Itaipú Localizada entre Brasil e Paraguai.......... 41 FIGURA 4 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Hidrelétrica......... 41 FIGURA 5 – Usina Termelétrica de Santa Cruz no Rio de Janeiro....................... 42 FIGURA 6 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Termelétrica........... 42 FIGURA 7 – Usina Termonuclear de Angra dos Reis no Rio de Janeiro.................. 43 FIGURA 8 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Termonuclear.......... 43 FIGURA 9 – Usina Eólica de Osório no Rio Grande do Sul................................. 44 FIGURA 10 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Eóloica................. 44 FIGURA 11 – Usina Solar da Califórnia nos Estados Unidos................................ 45 FIGURA 12 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Solar...................... 45 FIGURA 13 – Centrais Termelétricas a Diesel em Operação no Acre...................... 48 FIGURA 14 – Distribuição de energia elétrica no estado de Rondônia.................. 49 FIGURA 15 – Distribuição de energia elétrica noestado do Acre......................... 49 FIGURA 16 – Desenho apresentado por um dos alunos....................................... 51 FIGURA 17 – Esquema de uma Usina Termelétrica............................................... 52 FIGURA 18 – Emissão de poluentes da Usina termelétrica Presidente Médici, em Candiota-RS...................................................................................................... 56 FIGURA 19 – Efeito Estufa................................................................................ 58 FIGURA 20 – Chuva Ácida................................................................................ 59 FIGURA 21 – Animação em Flash de uma Usina Termelétrica............................ 67 FIGURA 22 – Transformações de Energia........................................................... 68 FIGURA 23 – Usina Hidrelétrica de Itaipu.......................................................... 69 FIGURA 24 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Maré Motriz...... 71 FIGURA 25 – Usina Hidrelétrica........................................................................ 72 FIGURA 26 – Usina Termelétrica....................................................................... 73 FIGURA 27 – Usina Nuclear.............................................................................. 74 FIGURA 28 – Usina Eólica................................................................................. 75 FIGURA 29 – Usina Solar................................................................................... 77 FIGURA 30 – Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul............................. 97 FIGURA 31 – Visita Técnica à Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul..... 97 FIGURA 32 – Visita Técnica à Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul..... 98 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – Matriz Curricular Curso Técnico em Controle Ambiental – PROEJA...32 QUADRO 2 – Cronograma do Curso ............................................................................ 33 QUADRO 3 – Usinas de Energia .................................................................................. 38 QUADRO 4 – Usinas que podem ser exploradas .......................................................... 39 QUADRO 5 – Usinas que não podem ser exploradas ................................................... 39 QUADRO 6 – Estimativa entre os alunos sobre as usinas citadas ............................... 46 QUADRO 7 –Lista de aparelhos eletrônicos em uma residência ...........................78 LISTA DE SIGLAS CES - Centro de Ensino Supletivo CETEB - Centro Técnico de Brasília DCN - Diretrizes Curriculares Nacionais DCNEM - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio DESU - Departamento de Ensino Supletivo EM – Ensino Médio ER - Escolas-Referência EJA - Educação de Jovens e Adultos FNDE - Fundação Nacional de Desenvolvimento da Educação GDP - Grupo de Desenvolvimento Profissional HAPRONT - Habilitação para professores não titulados IFAC - Instituto Federal do Acre LD – Livro Didático LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC - Ministério da Educação e Cultura MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização MOVA - Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos NPCEM - Novo Plano Curricular Ensino Médio OSD - Orientadores e Supervisores Docentes PAJA - Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos PEB - Programa de Educação Básica PEI - Programa de Educação Integrada PCNEM - Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio PCN+ - Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais PDP - Programa de Desenvolvimento Profissional PNLD - Programa Nacional do Livro Didático PNLEM - Programa Nacional do Livro Didático Ensino Médio PROGER - Projeto Escola-Referência PUC - Pontifícia Universidade Católica SEE - Secretaria Estadual de Educação SPG - Supletivo de 1º Grau SSG - Supletivo de 2º Grau SUDHÉVEA - Superintendência de Desenvolvimento da Borracha TC 2000 - Tele Curso 2000 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 13 2 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .............................................................................. 18 2.1 Conhecimentos (O Saber Socializado Pela Escola) ..................................... 22 2.2 Perfil do Aluno Jovem e Adulto da EJA ..................................................... 25 2.3 O Processo de Ensino-Aprendizagem.......................................................... 27 2.4 O Perfil do Educador da EJA..................................................................... 28 3 A PROPOSTA DIDÁTICA E SUA AVALIAÇÃO ........................................ 31 3.1 A PROPOSTA DIDÁTICA ......................................................................... 34 Atividade 1: Falta energia elétrica em sua casa? .................................................. 34 Atividade 2: Tipos de Usinas Elétricas. ................................................................38 Atividade 3: De onde vem a energia elétrica de sua cidade? ................................... 46 Atividade 4: Como funciona a Usina Elétrica de sua região? .................................. 50 Atividade 5: Quais os impactos ambientais de uma Usina Termelétrica? ................. 54 Atividade 6: Como entender sua conta de luz? ..................................................... 60 Atividade 7: Visita técnica a uma Usina Termelétrica. .......................................... 63 Atividade 8: Existe a necessidade de novas Usinas Elétricas? ................................. 65 Atividade 9: Como a energia elétrica é gerada nas usinas? .................................... 70 Atividade 10: Avaliação. .................................................................................. 77 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 79 REFERÊNCIAS................................................................................................ 81 ANEXOS ......................................................................................................... 84 I - A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO ACRE ........ 84 II - FOTOS DA VISITA TÉCNICA ......................................................................... 96 13 1 INTRODUÇÃO A física é o campo da ciência que investiga os fenômenos e as estruturas mais fundamentais da natureza. Em dia de chuva quando relâmpagos cortam o céu e ofuscam nossas vistas por alguns segundos e logo após ouvimos o som estrondoso do trovão sabemos que se tratam de fenômenos associados à uma grande descarga elétrica, onde a informação luminosa se propaga com a velocidade da luz que é cerca de 880 000 vezes maior que a da onda mecânica do som provocada pelo aquecimento e expansão do ar. Da mesma forma, é o conhecimento físico que nos possibilita compreender o fenômeno do dia e da noite, as hipóteses sobre o aquecimento ou não do planeta Terra ou as novas formas de obtenção de energia elétricacomo as usinas eólicas. Também é no campo da física que se procura compreender a realidade física pela criação de modelos sobre o universo (por ex. o Big Bang) ou sobre partículas que compõem a matéria do universo (modelo Padrão). O conhecimento acumulado neste campo da física tem possibilitado à humanidade compreender aspectos cada vez mais complexos da natureza e, através dele, criar sistemas, dispositivos e materiais artificiais que têm contribuído decisivamente para o progresso tecnológico. O mundo em que vivemos está em contínua transformação, e as soluções encontradas hoje podem rapidamente perder atualidade ou coerência com seu tempo. É preciso saber qual física ensinar para esses novos tempos, para possibilitar uma melhor compreensão do mundo e uma formação para a cidadania mais adequada, ou seja, ser capaz de atuar na sociedade e tomar decisões frente aos problemas sociais enfrentados. Passam-se anos ensinando física em quadros-negros, transmitindo conhecimento apenas no papel, sejam fórmulas, números, tabelas ou expressões matemáticas, mecanizando o aprendizado, tentando fazer o aluno memorizar e não o deixando pensar. Desta forma, esquecemo-nos, por vezes, da nossa responsabilidade na construção da cidadania dos alunos, ao priorizar os valores internos e complexos desta ciência. O ensino dessa disciplina, na maioria das vezes, realiza-se, mediante a apresentação desarticulada e descontextualizada de conceitos, leis e fórmulas, distanciados da vida do professor e do aluno e, portanto, desprovidos de significado. Priorizando a teoria e a abstração, e insistindo na solução de exercícios repetitivos, sendo seu aprendizado baseado na automatização ou memorização, e não na construção 14 do conhecimento. De forma consistente, o conhecimento físico apresenta-se ao aluno como um produto acabado, fruto da genialidade dos grandes cientistas. O maior problema da escola é acreditar que a Física é feita de fórmulas. A matemática é apenas a linguagem com a qual falamos com o mundo e com a natureza, mas de forma alguma é o mundo e a natureza. Reduzir a Física às fórmulas matemáticas é como reduzir um idioma às suas palavras. Um dicionário – que teoricamente contém todas as palavras de uma língua – não é o idioma. (CHERMAN, 1997). A aprendizagem é outro aspecto do processo de educação em física também problemática. Geralmente, concebe-se a idéia de que o aluno não conhece nada sobre os assuntos explorados e que suas interpretações são “distorcidas”, o que impediria a aprendizagem de um novo conteúdo. Os alunos conhecem fenômenos físicos e os constroem de suas observações e ações cotidianas e modelos explicativos, diferentes da ciência. Para Paulo Freire a construção do conhecimento pelo sujeito tem por base as dimensões políticas, econômicas, sociais e culturais do espaço onde ele vive. Para o autor a construção do conhecimento deve se basear num diálogo multipolar permanente entre todos os intervenientes no processo de ensino e aprendizagem, quer eles estejam dentro ou fora do espaço físico escolar. Freire reforça que a construção do conhecimento acontece a todo o momento no seio do mundo e envolve variáveis que vão além do cognitivo, envolvendo o sensitivo, o motor, o estético, o intuitivo e o emocional, etc. O sujeito, a comunidade e o "mundo" têm um papel fundamental na construção do conhecimento individual e coletivo. (FREIRE, 1995) O ensino de física terá um significado real quando a aprendizagem partir de ideias e fenômenos que façam parte do contexto do aluno, possibilitando analisar o senso comum e fortalecer os conceitos científicos na sua experiência de vida. Nesse sentido, os fenômenos físicos devem ser apresentados de modo prático e vivencial, privilegiando a interdisciplinaridade e a visão não fragmentada da ciência, a fim de que o ensino possa ser articulado e dinâmico. Assim, retidas de um contexto mais amplo (e belo), “a física de nossa infância (ou de nossa adolescência) torna-se algo árido e penoso, uma sucessão de regras pouco claras e bem distantes do nosso dia-a-dia. Uma sucessão de planos inclinados, pêndulos, 15 giroscópios, circuitos elétricos, transformações adiabáticas e o que mais houver nos livros didáticos, tudo isso vai afastando as pessoas da beleza de que trata a física”. (CHERMAN, 1997). Nesse contexto, deve-se, então, dar ao ensino de física novas dimensões. Apresentar uma física que explique não só a queda dos corpos, o movimento da Lua ou das estrelas no céu, o arco-íris, mas também os raios laser, as imagens de televisão e as formas de comunicação. Uma física que trate da geladeira ou dos motores a combustão, das células fotoelétricas, das radiações presentes no dia-a-dia, mas também dos princípios gerais que permitem generalizar todas essas compreensões. Uma física que explique os gastos da conta de luz ou o consumo diário de combustível, e ainda, as questões referentes ao uso das diferentes formas de energia em escala social, com seus riscos e benefícios, incluída a energia nuclear. Uma física que consiga estar presente na resolução dos problemas enfrentados na escola e na comunidade inserida. (BRASIL, 2002) Ensinar física no Ensino Médio para a EJA é um desafio ainda maior, pois os alunos são adultos que na sua maioria trabalham e que chegam às vezes tarde na escola, cansados e com sono e querem sair mais cedo, isso quando eles vêm para a aula. Eles acham que não são capazes de acompanhar os conteúdos ou que o programa não traz a realidade para o seu cotidiano, são vários os motivos para evadirem. E como quase não existe um material didático voltado para este público, os professores em sua grande maioria adotam livros de ensino médio, onde seguem até as páginas intermediárias, acreditando dar pouca matéria, mas com “substância” e outros que “pincelam” os conteúdos de cada tópico, na idéia de proporcionarem um “pouco de tudo”. Por isso, toda critica ao ensino regular, nesse sentido, se estabelece em proporções agravantes à EJA nos moldes atuais que, ao negligenciar o seu propósito original, estabelece grandes distanciamentos entre o conhecimento dos alunos e os conteúdos propostos. Vencer o medo dos alunos com relação à Física é o maior desafio dos professores dessa disciplina no Ensino Médio para a EJA. É necessário discutir o papel da Física no ambiente escolar, procurando possibilitar uma melhor compreensão do mundo e uma formação mais adequada, voltada à construção da cidadania. Na Educação de Jovens e Adultos, como parte da educação básica, faz-se necessário uma visão diferenciada do 16 mundo atual, problematizando e desenvolvendo propostas educacionais que tenham relação com a vida cotidiana dos nossos alunos, formando-os para o exercício de sua cidadania. É nesse aspecto que se baseia esse trabalho, que é uma proposta de um material didático voltado para a EJA e enfatizando assuntos que os alunos do curso Técnico de Controle ambiental do IFAC irão vivenciar no futuro em seus trabalhos profissionais. Isso pode ser verificado em algumas das competências do Projeto Pedagógico do Curso, tais como: Identificar as atividades de exploração dos recursos naturais, bem como a amplitude da influência das mesmas sobre meio ambiente; Identificar situações de risco ambiental; Com isso o nosso produto foi dividido em 10 atividades onde começamos, na atividade 1, com o tema: Falta energia elétrica em sua casa? Onde os alunos tiveram um primeiro contato com artigos tirados de jornais eletrônicos locais, discutindo sobre a falta de energia elétrica na cidade e suas consequências. Na atividade 2, o tema proposto foi: Tipos de UsinasElétricas. Foi exposto para eles todos os tipos de usinas elétricas e explicado, superficialmente, como funciona cada uma delas. Já na atividade 3: De onde vem a energia elétrica de sua cidade? Teve como objetivo mostrar aos alunos de onde vem a energia elétrica que eles consomem na sua cidade, e também no estado do Acre como um todo. A atividade 4, com o tema: Como funciona a Usina Elétrica de sua região? Foi pedido inicialmente para eles que desenhassem como achavam que funcionava a usina elétrica de Cruzeiro do Sul, logo em seguida explicamos como ela realmente funciona, atividade esta que teve uma grande participação dos alunos. Na atividade 5: Quais os impactos ambientais de uma Usina Termelétrica? Seguindo as competências do PPC do Curso Técnico em Controle Ambiental – PROEJA, esta atividade teve como objetivo identificar os impactos ambientais que a usina termelétrica de sua região gera. Já na atividade 6: Como entender sua conta de luz? Foi a atividade mais participativa, já que explicamos o quanto que se gasta de energia elétrica em cada equipamento elétrico de uma residência, também como entender a sua conta de energia, para quem sabe evitar gastos desnecessários. Na atividade 7: Visita técnica a uma Usina Termelétrica. Levamos os alunos para uma visita técnica à usina termelétrica de Cruzeiro do Sul. A atividade 8: Existe a necessidade de novas Usinas Elétricas? Teve 17 como objetivo conhecer outro tipo de Usina Elétrica que pode ser construída na sua cidade, a usina hidrelétrica. Na atividade 9: Como a energia elétrica é gerada nas usinas? Fechamos os conteúdos mostrando que na geração de energia elétrica tem um princípio físico parecido em todas as Usinas Elétricas existentes. Na última atividade: Avaliação. Voltamos aos assuntos que chamaram mais a atenção dos alunos e fizemos duas questões, uma voltada a explicação do funcionamento da usina hidrelétrica e os impactos ambientais causados e a outra na “confecção” e cálculo de uma conta de energia supostamente da residência dos alunos. Portanto, com uma proposta totalmente voltada para o curso Técnico em Controle Ambiental do IFAC, os alunos poderão ter um contato maior com problemas que serão vivenciados no seu dia-a-dia como profissionais, o que a torna uma proposta de grande relevância. 18 2 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Exige-se, hoje, uma educação que questione uma ação homogeneizadora que tem ignorado ou calado, com frequência, as diferenças e as desigualdades dos seus alunos. É preciso abolir essas práticas, valorizando a pluralidade cultural como possibilidade de superar estereótipos, preconceitos e a hierarquização cultural. Numa perspectiva crítica, questionam-se relações de poder estabelecidas no processo educativo que legitimam valores, conhecimentos e práticas de certas culturas, em detrimento de outras. A organização do trabalho pedagógico na Educação de Jovens e Adultos fundamenta-se na concepção de Educação enquanto processo que representa a própria história individual e coletiva dos seres humanos, estando vinculada à fase vivida pela sociedade em sua contínua evolução, num processo constitutivo dos sujeitos históricos que dela fazem parte. (PROJETO, 2011) Nesse sentido, as ações da EJA no Instituto Federal do Acre se pautam na perspectiva crítica e progressista de Educação, fundamentadas no universo de princípios filosóficos e pedagógicos desenvolvidos por Paulo Freire. Essa concepção progressista aqui referida pressupõe uma concepção de pessoa humana, de sociedade e da relação que se estabelece com o mundo em que vivemos. (FREIRE, 1997) Segundo a Declaração de Hamburgo realizada em 1997, a educação de adultos engloba todo o processo de aprendizagem formal ou informal, onde as pessoas consideradas “adultas” pela sociedade desenvolvem suas habilidades, enriquecem seu conhecimento e aperfeiçoam suas qualificações técnicas e profissionais, direcionando-as para a satisfação de suas necessidades e as de sua sociedade. (PADILHA, 2001) Para tanto, as práticas educativas propostas no IFAC devem valorizar e relacionar os conteúdos escolares às experiências vivenciadas pelos educandos na família e na comunidade, com o objetivo de fortalecer a identidade cultural do grupo e, assim, propiciar condições para o exercício pleno da cidadania dentro de suas diversas realidades, sem deixar de considerar a complexidade das relações sociais, econômicas, políticas e culturais que interferem na vida da sociedade. A Educação de Jovens e Adultos do IFAC possui grande contribuição do pensamento pedagógico de Paulo Freire, sendo entendida como conscientização, isto é, como desenvolvimento da capacidade crítica sobre a realidade e a elaboração de uma 19 identidade própria e aquisição de conhecimentos necessários a uma intervenção transformadora. (PROJETO, 2011) Freire falava da necessidade do aluno, além de se conhecer, conhecer também os problemas sociais que o aflige. Ele não via a educação simplesmente como meio para escolarização, mas falava da necessidade de estimular o educando a engajar-se no todo social. (FREIRE, 1997) Na proposta pedagógica freireana, o educando não é apenas um receptor de conteúdos prontos e acabados, “educação bancária”, termo a que se referia para conceituar esse tipo de educação, mas é um sujeito capaz de refletir sobre os conhecimentos, ter uma visão crítica e entender-se como sujeito histórico, construtor e transformador da realidade. Padilha, citando Freire, observa que, enquanto seres da cultura que somos, “transformamos o mundo ao mesmo tempo em que somos por ele transformados”. (PADILHA, 2001-) A educação de jovens e adultos possui um caráter popular, por sua origem, por seu fim e por seu conteúdo. Todavia para ser popular, ela deve ser uma possibilidade de inclusão para todos, já que por seu intermédio o homem adquire o conhecimento sistematizado pela escola, passa a ver o mundo e a si mesmo de outro ponto de vista. A educação popular já conta com uma história muito rica, na qual estão envolvidos numerosos educadores, movimentos sociais e populares e o próprio Estado. Ela está ligada a todo um movimento, de um lado, pela extensão da educação formal para todos e, de outro, pela formação social, política e profissional, sobretudo de jovens e de adultos. (ROMÃO, 2008-) Nesse sentido, a EJA dessa dissertação aqui proposta, deve levar em consideração as exigências de um mundo de relações complexas e diversificadas, proporcionando ao aluno, não só um conjunto de experiências que lhe assegurem a compreensão de sua realidade, mas também, uma fundamentação sólida em termos de formação básica que o instrumentalize para atuar sobre a realidade de forma crítica, sem restringir a ação que exerce sobre a sua cultura de origem. O educador de adultos não pode deixar de perceber que os indivíduos com os quais atua são cidadãos, seres pensantes, portadores e produtores de idéias, dotados de capacidade intelectual que se revela em suas interações. O educando é, por sua vez, um sujeito atuante na sociedade, não apenas por ser trabalhador, mas também pelo conjunto de ações que executa sobre um círculo de existência. Sendo assim, compete ao educador 20 desenvolver uma prática pedagógica que possibilite ao aluno a oportunidade de alcançar através de saberes adquiridos na escola, a consciência crítica instruída de si e do mundo. Para isso, a EJA como modalidade da educação básica, e por atender a um público jovem e adulto que por algum motivo se encontrafora do sistema de ensino regular, deve ter um tratamento que atenda às suas especificidades, que considere as vivências, os conhecimentos e a cultura que esses alunos trazem para a sala de aula. Assim, a escola, em sua proposta pedagógica deve preocupar-se em como fazer para atender seu alunado, de modo que seja assegurada a realização de atividades que oportunizem uma ação dialógica, construtiva e transformadora. Desta forma, o fazer pedagógico transforma-se em projeto de vida e deixa de ser, simplesmente, o projeto da escola. A educação de jovens e adultos possui três funções importantes no sentido de garantir uma educação de qualidade: a função reparadora, a função equalizadora e a função qualificadora. Ao criar situações pedagógicas que atendam as necessidades de aprendizagens específicas de seus alunos, a EJA está assegurando não só a entrada desses jovens e adultos no âmbito escolar, mas também a sua permanência, desempenhando, assim, uma função reparadora. Além de facilitar o ingresso à escola, a EJA tem buscado desenvolver uma prática pedagógica voltada para a promoção das pessoas, priorizando a articulação dos conhecimentos estudados com as experiências anteriores, a atualização dos conhecimentos, o acesso a novas formas de trabalho e cultura, enfim, em proporcionar possibilidades de novas inserções ao educando, seja na vida social ou no mundo de trabalho. Assim, ao criar tais possibilidades, a EJA está cumprindo com sua função equalizadora. A terceira função desempenhada pela EJA é qualificadora, referindo-se ao caráter incompleto do ser humano quando se trata de educação permanente, voltada para a solidariedade, a igualdade e a diversidade, envolvendo todos os aspectos da ação educativa. A função qualificadora é mais que uma função, é o próprio sentido da educação de jovens e adultos. Para Paulo Freire (1996), educar é construir, é libertar o homem do determinismo. Essa apreensão da realidade da educação é o primeiro passo para a mudança das desigualdades, proporcionando ao educando oportunidade para se assumirem como sujeitos sócio-históricos capazes de intervir no mundo a partir de suas ações. Essa 21 concepção é construída numa relação dialógica entre educador/educando, superando uma relação vertical. Desse processo, advém um conhecimento crítico, porque foi obtido de forma autenticamente reflexiva que implica num ato constante de desvelar a realidade posicionando-se nela. Do “saber” construído dessa forma, surge a necessidade de transformar o mundo, porque assim, os homens se descobrem como seres históricos, compreendendo e transformando a realidade que os cercam. (FREIRE, 1997) Portanto, a concepção de educação que norteia a EJA do IFAC é de uma educação que ofereça acolhimento àqueles que não tiveram escolarização na idade própria, respeitando suas singularidades, diferenças e reconhecendo toda a diversidade de saberes trazidos por eles, oportunizando um processo que gere a promoção do “ser” enquanto sujeito histórico, desafiando-o a buscar respostas para desafios propostos, construindo nesse processo o conhecimento problematizado a partir de questões ligadas ao seu cotidiano, oportunizando, assim, a reflexão e a ação sobre o ato de aprender. Por último, o ideal da EJA se faz presente na luta por oferecer um ensino de qualidade, baseado numa educação libertadora e cidadã, rompendo com toda forma de exclusão, contribuindo para a promoção do educando em sua totalidade, compreendendo que a educação é uma forma de intervenção no mundo. 22 2.1 CONHECIMENTOS (O SABER SOCIALIZADO PELA ESCOLA) Na concepção epistemológica interacionista/construtivista, o conhecimento é entendido como uma relação de interdependência entre o sujeito e seu meio. Tem um sentido de organização, estruturação e explicação a partir do experienciado. É construído a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento, interagindo com ele, sendo as trocas sociais condições necessárias para o desenvolvimento do pensamento. (GROTTO; TERRAZZAN; FRANCO, 2000-) O ensino de física propicia uma imensa riqueza no processo de criatividade, e tem como papel principal o de construtor do conhecimento. A educação deve conter elementos enriquecedores do pensamento na formação intelectual do aluno, tais como pensamento lógico-demonstrativo, exercício criativo da intuição, da imaginação e dos raciocínios por indução. Ao ingressar em um curso da Educação de Jovens e Adultos, o aluno não estará apenas sendo alfabetizado. Além da alfabetização, etapa propedêutica, o aluno deve ter acesso aos conhecimentos que todo indivíduo que frequenta a escola na idade convencional está recebendo (BRASIL, 2002, p.307). São crescentes as exigências educativas, impondo às pessoas a necessidade de dominar instrumentos da cultura letrada, acompanhar o desenvolvimento tecnológico, compreender os meios de comunicação e atualizar-se diante da complexidade do mundo do trabalho. A importância dos saberes não se restringe somente à sua aplicação em problemas práticos do cotidiano ou àqueles que tomam parte das atividades predominantes no mundo do jovem e do adulto. São também instrumentos para produzir e comunicar conhecimentos de diversas áreas. Os desafios da Educação de Jovens e Adultos exigem do professor um olhar cuidadoso sobre as questões que norteiam a relação entre professor, aluno e conhecimento, e podem interferir no sucesso escolar dos alunos. Ao apontar as relações entre o aluno e o conhecimento, Calmon, citando Freire, coloca o aluno como sujeito, e não como objeto do processo educativo, afirmando sua capacidade de organizar a própria aprendizagem em situações didáticas planejadas pelo professor, num processo interativo, partindo da realidade desse aluno. (CALMON, 2008) 23 Na proposta freireana, o processo educativo não se caracteriza pelo recebimento, por parte dos alunos, de conhecimentos prontos e acabados, mas pela reflexão sobre os conhecimentos que circulam e que estão em constante transformação; professores e alunos são produtores de cultura; todos aprendem e todos ensinam, são sujeitos da educação e estão permanentemente em processo de aprendizagem. Quando o homem é levado a refletir sobre sua ação e buscar respostas aos desafios propostos, ele constrói conhecimentos. Assim, o conhecimento nasce da ação, e é agindo que o educando se confronta com a necessidade de aprender. Os alunos da EJA, quando chegam à escola, trazem consigo muitos conhecimentos, que podem não ser aqueles sistematizados, mas são “saberes nascidos dos fazeres”. Esses saberes devem ser respeitados como ponto de partida para a aquisição de outros. Com isso, o aluno irá compreender que os conhecimentos construídos na escola têm relação com os já construídos em sua vida cotidiana, inferindo, a partir dessa relação, a importância de ampliá-los. Para isso, é necessário romper a preconceituosa barreira que separa “saberes populares” de “saberes científicos”, pondo em discussão a própria concepção de conhecimento. O conhecimento, portanto, é resultado de um complexo e intrincado processo de construção, modificação e reorganização, utilizado pelos alunos para internalizar e interpretar os novos conteúdos, estabelecendo relações entre seus conhecimentos prévios sobre um assunto e o que está aprendendo sobre ele. Isso nem sempre é aceitável para os alunos, pois, muitas vezes, não acreditam que seus conhecimentos sejam válidos. Logo, a disponibilidade para a aprendizagem exige ousadia para se colocar problemas, buscar soluções e experimentarnovos caminhos. Entretanto, os alunos, muitas vezes, não acreditam que dessa forma possamos adquirir conhecimentos, pois consideram que a aprendizagem passa necessariamente pela transmissão de informações prontas e acabadas. Na educação de jovens e adultos retomar conhecimentos e construir pré-requisitos não significa revê-los do mesmo jeito que em etapas anteriores, mas sim iniciar com os alunos um novo processo de aprendizagem efetiva e significativa das idéias fundamentais envolvidas nos assuntos abordados. Comporta um amplo campo de relações, regularidades e coerências que despertam e instigam a curiosidade. Dessa forma, a aprendizagem, sendo desenvolvida de acordo com as orientações anteriores, 24 favorece conquista de ferramentas que ampliam a capacidade de raciocinar, prever, generalizar, projetar e abstrair. As considerações centrais nas definições das aprendizagens mostram a presença das ciências em situações do cotidiano e em situações relacionadas com outras áreas do conhecimento. Sendo assim, o aprendizado dessas ciências na EJA cumpre um papel fundamental: favorecer e fortalecer a participação dos educandos na sala de aula, através do desenvolvimento de atividades contextualizadas e significativas. Em outras palavras, partir de situações contextualizadas para garantir a aprendizagem significativa dos educandos e evidenciar os vínculos da Matemática, da Língua Portuguesa, das Ciências Naturais e Sociais com o cotidiano da maioria dos jovens e adultos, significa promover situações nas quais professor e aluno estarão sendo motivados a desenvolver atitudes, tais como: Respeitar e valorizar os conhecimentos prévios, visando favorecer o estabelecimento de relações entre conhecimentos já construídos e conhecimentos novos. Dar oportunidade para que os alunos expressem seus conhecimentos, identifiquem e apresentem suas dúvidas, formulem hipóteses e questões, antes da exposição do professor. Considerar a bagagem cultural dos alunos, estabelecendo diálogo e interação com eles, de modo que os professores atuem como mediadores, esclarecedores, incentivadores e avaliadores da aprendizagem. Levar em consideração que a avaliação deve ser realizada, observando as especificidades desta modalidade de educação, considerando ainda a quantidade de horas que os alunos estão expostos aos conteúdos. (MANSUTTI; VÓVIO; 2001) Diante deste contexto, reconhecendo que todos os brasileiros, de qualquer idade ou em qualquer situação social têm direito à educação e, por isso, não devem abrir mão dela, esse curso não pode ser reduzido a uma mera sistematização de disciplinas/conteúdos sem significação para o aluno, mas precisa habilitar o aluno a “ler o mundo”. Conforme o pensamento de Paulo Freire: “Trata-se de aprender a ler a realidade (conhecê-la) para, em seguida, poder reescrever essa realidade (transformá- la.)”. (FREIRE, 1987) 25 2.2 PERFIL DO ALUNO JOVEM E ADULTO DA EJA A formação do educando, entendida como a promoção de aprendizagem, reflexão sobre a própria prática e a busca de informações deve pautar-se em sua realidade, não subestimando os saberes de experiências anteriores que traz para a escola. Determinar a identidade desses alunos requer um olhar atento, voltado para as suas necessidades cognitivas, articulando os conhecimentos já assimilados, construídos no curso de suas relações sociais. Assim, torna-se essencial organizar a escola de modo que atenda as especificidades e perspectivas desses educandos, levando-se em conta também as transformações pelas quais vem passando o sistema de ensino. Segundo dados de levantamento realizado em 2004 pela Gerência Pedagógica da Educação de Jovens e Adultos, no Acre, o perfil dos alunos em muito se assemelha ao perfil nacional, cujo alunado trabalha, em sua grande maioria, tendo ingressado no trabalho antes dos 14 anos. A faixa etária predominante é de 15 a 27 anos; 61,64% são do sexo feminino e 36,58% do sexo masculino; 40,02% são trabalhadores que dedicam ao emprego seis a oito horas diárias. Outro dado que chama a atenção é que 35,75% deles começaram a trabalhar no período em que deveriam estar cursando as séries finais do ensino fundamental, ou seja, com menos de 14 anos, para ajudar na renda familiar. (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE CRUZEIRO DO SUL, 2012) Em geral, esses alunos buscam retomar seus estudos para superar as dificuldades encontradas em seu percurso de vida, satisfazendo, desta forma, uma aspiração pessoal e/ou profissional, uma vez que necessitam do estudo para alcançar melhores condições nas diferentes esferas da sociedade, tais como: moradia, saúde, alimentação, transporte, emprego e outras que estão na raiz do problema do analfabetismo. Diante desse quadro e considerando que os alunos que buscam a formação almejada na EJA estão submetidos à alternância de turnos de trabalho, cansaço, dentre outras circunstâncias, a escola deve estar voltada para o desenvolvimento do educando como ser social, sujeito ativo do processo histórico, comunicativo, transformador, criador, realizador de sonhos. Essas condições possibilitam ao aprendiz questionar o conhecimento já formado, (re) elaborar os saberes que possui e ampliá-los, na medida em que interage com educador e os outros educandos. 26 Nesse processo interativo, o educador tem um papel preponderante no sentido de adotar procedimentos que dinamizem sua prática educacional e estimulem os alunos a aprofundarem seus conhecimentos, percebendo a escola como espaço dialógico, onde as oportunidades se vislumbram. Desta forma, o professor precisa ter consciência de que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1997). Portanto, o aluno que se quer formar deve caracterizar-se como um ser crítico, capaz de agir conscientemente sobre a realidade, assumindo o papel de sujeito que faz e refaz o mundo, articulando saberes de sua prática com os conhecimentos sistematizados. 27 2.3 O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Para que a Educação de Jovens e Adultos possa cumprir sua principal função, preparar o jovem e o adulto para o mundo do trabalho e para o exercício da cidadania é necessário que seja pensada como um projeto pedagógico próprio, criando situações de ensino-aprendizagem adequadas que atendam às necessidades e características psicossociais dos educandos, que considerem a diversidade cultural e as diferentes situações a que estão submetidos, além das habilidades e conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Nessa perspectiva, a base teórica que fundamenta o processo de ensino e aprendizagem das ações educativas desenvolvidas na educação de jovens e adultos pressupõe: uma prática pedagógica que privilegie o ensino por resolução de problemas e o desenvolvimento de projetos; o uso de diferentes estratégias metodológicas para a aprendizagem de diferentes conteúdos; a aprendizagem partindo dos conhecimentos prévios dos alunos; a interação entre sujeitos ativos envolvidos no processo visando à troca de experiência e a construção de novos conhecimentos. Portanto, se a interação entre o sujeito e o objeto os modifica, então, cada interação entre sujeitos individuais irá modificar os sujeitos uns em relação aos outros. Assim, o conhecimento, com as relações interpessoais é algo vivo, estando em constante mudança. Para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem na educação de jovens e adultos é importante considerar que os alunos constroem conhecimentos nainteração com o contexto social, mesmo sem ter passado pelo processo de escolarização. Valorizar esses conhecimentos e relacioná-los com novos conteúdos é imprescindível para uma aprendizagem significativa e o planejamento de situações de aprendizagem em que possam ampliá-los e/ou transformá-los, pois quanto maior a profundidade e qualidade das relações melhor a aprendizagem se efetivará. A abordagem de novos conteúdos deve ser planejada com cautela, uma vez que os mesmos devem ser significativos, bem construídos e ter funcionalidade. Além disso, ao selecionar os conteúdos o professor deve considerar as capacidades dos alunos, suas possibilidades cognitivas e afetivas para que o processo de produção e resignificação possa permitir ao aluno o confronto com os conhecimentos construídos pelos mesmos em suas experiências de vida. 28 2.4 O PERFIL DO EDUCADOR DA EJA Na Educação de Jovens e Adultos, o professor deve estar permanentemente se atualizando, ter competência pedagógica para produzir e desenvolver o seu trabalho através da elaboração de um planejamento integrado, contextualizado e vivido, participando das formações continuadas. Segundo Janssen “o educador é aquele que está continuamente buscando de forma sistemática o aperfeiçoamento do seu trabalho e de si mesmo.” A busca dessas capacidades vai contribuir para o desenvolvimento do professor no que se refere às competências pedagógica, gerencial e política. (JASSEN, 2004) Na proposta curricular da EJA, tem-se a perspectiva de que o professor seja um agente capaz de promover o aprendizado e de estimular o aluno a refletir sobre o seu comportamento em relação à disciplina e ao mundo que o cerca, pois no sistema de educação para jovens e adultos, o relacionamento professor e aluno é um aspecto fundamental para a aquisição de novos saberes. Na concepção freireana, a missão do professor é possibilitar a criação e produção de conhecimentos. Paulo Freire não comungava com a idéia de que o aluno precisa apenas de que lhes fossem facilitadas as condições para o auto-aprendizado, de modo que o sentido e o significado da aprendizagem precisavam estar evidenciados durante todo o processo de escolaridade, estimulando nos alunos o compromisso e responsabilidade, cabendo ao professor criar situações de aprendizagem, que favorecessem, aos alunos, o acesso a materiais educativos, à formulação e resolução de questionamentos, a problematizações e desafios. (FERRARI, 2008) Para tanto, nesse processo de construção do conhecimento, é necessária a interação entre educador e educando, de modo que sejam agentes e não meros expectadores dessa construção. E isso só será possível no momento em que ambos tiverem clareza quanto aos objetivos a serem perseguidos, às opções metodológicas e às orientações didáticas que nortearão as atividades de ensino-aprendizagem. Na sala de aula, o educador deve propiciar um relacionamento amistoso, não paternalista, mas de respeito mútuo e atenção, sem distinção, porque o bom relacionamento na sala de aula é tão importante quanto a variedade de métodos e recursos instrumentais utilizados. Portanto, deve-se promover um ambiente onde haja 29 compreensão, possibilitando o aprendizado e o gosto para a permanência do aluno na escola. A disposição física da sala de aula é outro elemento importante na construção da aprendizagem, sendo fundamental ter um espaço onde se estimule a comunicação, a participação, a solidariedade e o trabalho cooperativo entre os alunos. O desafio do professor consiste, portanto, em dominar e aplicar metodologias e estratégias na organização e execução do seu trabalho, fazendo da sala de aula um laboratório que proporcione a construção e a utilização desses conhecimentos, sendo importante que o aluno compreenda que os saberes construídos na escola têm relação com os que já possuem. A formação da cidadania participativa, a ser desenvolvida pelo educador da EJA, deve transcender os muros da escola. Nesse sentido, as ações educativas trabalhadas no espaço escolar devem ser desenvolvidas de modo a possibilitar ao aluno assumir-se como elemento transformador dentro da comunidade em que está inserido, principalmente, através da re-elaboração e da aplicação do conhecimento apreendido na escola. É importante, também, ressaltar o papel desempenhado pela família dos alunos jovens e adultos no apoio a sua tomada de decisão em retornar à vida escolar, e na compreensão em se estabelecer a divisão do espaço família/escola. O conhecimento e a participação da família do aluno são indispensáveis para a eficácia do trabalho escolar. Normalmente, como são pais e mães de família, com o apoio e incentivo de seus familiares mais próximos ao estudo, essa retomada à sala de aula fica bem mais fácil e prazerosa, tanto para os alunos como para os professores. Nesse sentido, a prática pedagógica do professor pode levar em consideração o educando, seus códigos, suas necessidades específicas e suas relações sócio-culturais. Ao optar por trabalhar na educação de jovens e adultos, o professor poderá assumir com responsabilidade o seu trabalho e acreditar na transformação de seus alunos, pois é ele quem influencia também essa mudança. O aluno da EJA tem a necessidade de um incentivo constante que contribua para o resgate de sua autoestima, já que, normalmente, após um longo dia de trabalho regular ou de afazeres domésticos, se estes alunos não encontrarem algo que lhes prendam a atenção, que eles já saiam de casa esperando encontrar, desistem logo no início. 30 O bom relacionamento entre professor e aluno contribuirá para a formação e permanência desse aluno na escola. Portanto, é necessária a contínua atualização do educador, através de sua participação em cursos, treinamentos, capacitações, projetos de formação continuada, dentre outros, a fim de ampliar seus conhecimentos, aprimorar sua prática e proporcionar aos alunos um ensino de qualidade. 31 3 A PROPOSTA DIDÁTICA E SUA AVALIAÇÃO Neste capítulo será apresentado o produto dessa dissertação bem como a sequência adotada, estratégias, a carga horária, turma e colégio. Para o desenvolvimento e aplicação deste trabalho, foi escolhida a modalidade PROEJA - Técnico em Controle Ambiental do Instituto Federal do Acre. O ingresso ao curso se dá por meio de inscrição e processo seletivo de sorteio, para os cidadãos brasileiros ou estrangeiros que estejam residindo legalmente no País, que comprovem ter concluído, com aproveitamento, o Ensino Fundamental ou equivalente e não tenham concluído o Ensino Médio. O curso é gratuito e com um total de 40 vagas por semestre. A EJA do IFAC está em constante mudança, já que o Projeto Político Pedagógico do curso ainda está sendo construido. Quando este projeto começou e até a sua aplicação, ano de 2012, as aulas eram regulares de segunda-feira a sexta-feira e de 19:00 às 22:30 horas, e os conteúdos das disciplinas poderiam ser escolhidos como os professores achassem conveniente. Porém a partir de 2013 as aulas serão somente às terças, quartas e quintas-feiras, e os conteúdos abordados nas disciplinas básicas, como física, devem estar vinculados às disciplinas específicas da parte de Controle Ambiental. O Curso Técnico em Controle Ambiental na modalidade PROEJA tem como objetivo geral formar profissionais técnicos de nível médio para atuarem com eficiência e eficácia no controle do meio ambiente, planejando, executando, avaliando e gerenciando as questões ambientais, numaperspectiva de desenvolvimento socioeconômico sustentável, visando à melhoria da qualidade de vida. Esta proposta didática foi aplicada em duas turmas do curso Técnico de Controle Ambiental – PROEJA: Turma 01/2011 e 01/2012, onde a turma de 2011 era composta de 20 alunos com idades variando de 20 a 57 anos e a turma de 2012, uma turma mais de jovens, era composta de 27 alunos com idades variando de 21 a 42 anos. Quase que em sua totalidade os alunos das duas turmas trabalhavam em tempo integral durante o dia e alguns se ausentavam das aulas por também trabalharem alguns dias à noite. No IFAC as turmas de PROEJA, em 2012, eram tratadas absolutamente iguais às turmas de Ensino Médio Integrado, inclusive adotando o mesmo material didático. Esse foi um dos principais motivos à escolha desse público ao nosso produto final, já que a produção de um material diferenciado para esse público serial algo extremamente desafiador. A seguir no quadro 1 segue a matriz curricular desse curso: 32 Quadro 1 – Matriz Curricular do Curso Técnico em Controle Ambiental - PROEJA Fonte: Elaborado pelo autor Quando essa proposta começou a ser desenvolvida, buscamos assuntos de física voltados ao dia a dia desse profissional, foi feita uma pesquisa entre os professores e os alunos, em forma de um debate sobre o curso, para saber qual tema seria mais pertinente a ser abordado e Impactos Ambientais foi o escolhido por conter tantos assuntos de física como específicos para esses profissionais. Então esta proposta foi direcionada para a parte de geração e produção de energia elétrica, bem como os impactos ambientais causados pela criação de Usinas Elétricas. Essa proposta foi dividida em 10 atividades que foram aplicadas nas duas turmas com uma carga horária total de 22h dispostas de acordo com o quadro 2: 33 Quadro 2 – Cronograma do Curso ATIVIDADE CH OBJETIVOS 1 - Falta energia elétrica em sua casa? 2 h/a Reconhecer a presença e a importância da energia elétrica na vida cotidiana através da identificação das coisas que param de funcionar com a sua falta 2 - Tipos de Usinas Elétricas. 2 h/a Identificar os vários tipos de usinas elétricas, e uma breve e superficial explicação de seus funcionamentos. 3 - De onde vem a energia elétrica de sua cidade? 2 h/a Conhecer de onde vem a energia elétrica consumida na cidade de Cruzeiro de Sul e também no estado do Acre como um todo. 4 - Como funciona a Usina Elétrica de sua região? 2 h/a Saber como funciona a usina elétrica da sua cidade/região. 5 - Quais os impactos ambientais de uma Usina Termelétrica? 2 h/a Identificar os impactos ambientais que a usina elétrica de sua região gera. 6 - Como entender sua conta de luz? 2 h/a Saber o quanto que se gasta de energia elétrica em cada equipamento elétrico de uma residência, também como entender a sua conta de energia, para quem sabe evitar gastos desnecessários. 7 - Visita técnica a uma Usina Termelétrica. 4 h/a Saber na prática como funciona a Usina Elétrica da sua cidade. 8 - Existe a necessidade de novas Usinas Elétricas? 2 h/a Conhecer outro tipo de Usina Elétrica que pode ser construída na sua cidade. 9 - Como a energia elétrica é gerada nas usinas? 2 h/a Identificar que a geração de energia elétrica tem um princípio físico parecido em todas as Usinas Elétricas existentes. 10 – Avaliação 2 h/a Avaliação da proposta. Fonte: Elaborado pelo autor 34 3.1 A PROPOSTA DIDÁTICA Atividade 1: Falta energia elétrica em sua casa? Nesta primeira atividade temos como objetivo, através de uma simples conversa, a compreensão dos alunos sobre a presença da energia elétrica em nosso cotidiano: a sua importância através da identificação das coisas que param de funcionar com a falta de energia elétrica. Eles também devem entender que as redes de energia estão interligadas e que a fonte de produção de energia está longe do local de consumo. O professor em uma conversa com seus alunos deve, por exemplo, lhes perguntar se: Costuma faltar energia elétrica em sua casa? O que significa apagão e quais são as suas razões? Quando falta energia na cidade, que tipo de atividades ficam prejudicadas? O que para de funcionar? Neste ponto, após vários exemplos dados pelos alunos, o professor pode levar recortes de jornal, revistas ou até mesmo notícias de sites onde são abordados estes assuntos, tais como: Texto 1 – Notícias de Cruzeiro do Sul Fonte: MOURA, 2012 35 Texto 2 – Notícias de Cruzeiro do Sul Fonte: REDAÇÃO, 2012 OBS: Ramal é uma estrada de terra que dá acesso a um vilarejo, sendo de difícil acesso o trânsito por elas, já que nessa região chove quase todos os dias. Neste ponto, o objetivo é que os alunos aprendam a ler artigos de jornal, material de informação e divulgação para se situar no mundo e dele participar de forma ativa. Para tal, o professor deve montar grupos pequenos de no máximo cinco alunos, onde eles irão ler os textos e anotar suas dúvidas. Após a leitura dos textos, durante a explicação das dúvidas dos alunos, o professor deve verificar que termos eles desconhecem/ não sabem seus significados – pedir para eles 36 indicarem ou escreverem as palavras que eles desconhecem ou coisa semelhante. Tais como: O que é um alimentador? - Circuito que transporta energia elétrica das subestações de distribuição para os transformadores de distribuição. Parte de uma rede de distribuição que alimenta, diretamente ou por intermédio de seus ramais, os primários dos transformadores de distribuição do concessionário e/ou de consumidores. Eletrobrás – Centrais Elétricas Brasileiras S.A. é uma empresa de capital aberto sob controle acionário do Governo Federal e que atua na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Eletroacre – Eletrobrás Distribuição Acre é uma concessionária federal de serviço público responsável pela distribuição e comercialização de energia elétrica para todo o Acre, subsidiária da Eletrobrás. Programa Luz Para Todos – É um programa do Governo Federal que visa levar energia elétrica para a população do meio rural, seja ela com ou sem recursos financeiros, de forma gratuita. Com isso o professor deve, além de esclarecer as dúvidas dos alunos, voltar nas perguntas feitas no começo dessa atividade, associando-as aos textos lidos. Comentários: Abrindo essa discussão o professor traz para a sala de aula fatos do cotidiano, da realidade dos alunos, tais como: Falta de energia elétrica (Apagões). Prejuízos que essa falta de energia acarreta. E são estes questionamentos que no futuro abrirão portas para novos pontos relacionados com o tema energia. A utilização de veículos de comunicação da própria cidade facilita a compreensão do que se pretende abordar em sala de aula, como: energia, fontes de energia, usinas elétricas, impactos ambientais causados pela construção e funcionamento dessas usinas elétricas, entre outros, que serão vistos nas próximas atividades. Também chama e prende a atenção dos alunos por serem fatos do seu cotidiano. Com a leitura destes textos e uma discussão em grupo na sala de aula vimos que é comum em Cruzeiro do Sul esse problema de falta de energia, principalmente em finais de semana. Durante a leitura verificamos,em alguns alunos, 37 um sério problema com a leitura, porém rapidamente contornado, onde outros alunos do grupo leram em voz alta para esses outros alunos. 38 Atividade 2: Tipos de Usinas Elétricas. O objetivo dessa segunda atividade é a apresentação dos vários tipos de usinas elétricas, e uma breve e superficial explicação de seus funcionamentos, já que aprofundaremos nessa explicação em vários outros momentos. Para tal, sugerimos que se faça um questionamento das possíveis fontes de energia elétrica da cidade, conforme a visão do aluno. Com isso poderemos identificar outras formas de geração de energia, citadas por eles, que serão abordadas em outra ocasião. Na apresentação de cada tipo de usina o professor pode utilizar um Data Show, Retro Projetor, ou até mesmo levar recortes de revistas ou jornais com fotos das usinas, bem como reproduzir este material, e se não possuir estes recursos pode também desenhar os esquemas físicos de funcionamento das usinas no quadro. Fontes de Energia Elétrica O professor iniciará esta atividade estabelecendo um diálogo com os alunos sobre possíveis usinas de energia existentes em sua região, ou no estado. Sugerimos que o professor faça um quadro com todos os tipos de usinas citadas. Por exemplo: Quadro 3 – Fontes de Energia Fonte: Elaborado pelo Autor De todas as fontes de energia levantadas no quadro, quais são realmente possíveis de existirem na região dos alunos? Nesse momento, o professor deve separar as usinas que podem ser construídas na região, fazendo uma breve explicação, ou seja, justificando o porquê da possível existência ou não destas usinas. Por exemplo: 39 Quadro 4 – Usinas que podem ser exploradas Fonte: Elaborado pelo Autor Quadro 5 – Usinas que não podem ser exploradas Fonte: Elaborado pelo Autor Neste momento o professor pode utilizar imagens de usinas vinculadas com esquemas físicos de seu funcionamento para facilitar a justificativa da existência de cada tipo de usina elétrica, por exemplo: Energia Maré Motriz é o modo de geração de energia através da utilização da movimentação da água dos oceanos usando as variações de nível entre as marés alta e baixa. Como o estado do Acre não é banhado por nenhum oceano e este efeito de maré nos rios, por conta do volume de águas, pode ser considerado desprezível, isso inviabiliza a construção desse tipo de usina. Em países como Japão, França e Inglaterra esse tipo de Usina é muito explorado. 40 Figura 1 – Usina Maré Motriz de Shihwa localizada na Coréia do Sul Fonte: EEUWENS, 2012 Figura 2 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Maré Motriz Fonte: MODERNA, 2010 Porém no Brasil, a universidade Federal do Maranhão possui um projeto, que atualmente está na primeira etapa. O projeto visa à construção de uma usina piloto destinada a estudos e aprimoramento dos conhecimentos de energia Maré Motriz. Uma usina hidrelétrica ou central hidroelétrica tem por finalidade produzir energia elétrica através do aproveitamento do potencial hidráulico existente em um rio. O potencial hidráulico é proporcionado pela vazão hidráulica e pela concentração dos desníveis existentes ao longo do curso de um rio. Isto pode se dar de uma forma natural, quando o desnível está concentrado numa cachoeira; através de uma barragem, quando pequenos desníveis são concentrados na altura da barragem ou através de desvio do rio 41 de seu leito natural, concentrando-se os pequenos desníveis nesses desvios. No entanto os rios do vale do Juruá diminuem muito seu volume de água na época de seca, além das cidades serem totalmente construídas às margens destes rios, o que pode inviabilizar sua construção, discussão que pode ser muito bem aproveitada, neste momento, pelo professor. Figura 3 – Usina Hidrelétrica de Itaipú Localizada entre Brasil e Paraguai Fonte: ENEM, 1998 Figura 4 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Hidrelétrica Fonte: MODERNA, 2010 42 Central termoelétrica ou usina termoelétrica é usada para geração de energia elétrica/eletricidade a partir da energia liberada por qualquer produto que possa gerar calor, como a queima de bagaço de diversos tipos de planta, restos de madeira, óleo combustível, óleo diesel, gás natural e carvão natural. Essa é a fonte de energia elétrica mais utilizada no Estado do Acre. Figura 5 –Usina Termelétrica de Santa Cruz no Rio de Janeiro Fonte: VILELA, 2005 Figura 6 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Termelétrica Fonte: NIEDERAUER, 2012 43 Central nuclear ou usina nuclear tem como objetivo produzir eletricidade a partir de energia nuclear, que se caracteriza pelo uso de materiais radioativos que através de uma reação nuclear produzem calor. As centrais nucleares usam este calor para gerar vapor, que é usado para girar turbinas e produzir energia elétrica. Figura 7 – Usina Termonuclear de Angra dos Reis no Rio de Janeiro Fonte: CRUZ, 2009 Figura 8 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Termonuclear Fonte: INB, 2007 44 A energia eólica é a energia produzida pelos ventos, ou seja, pelas correntes de ar que se formam na atmosfera. Essas correntes incidem sobre as pás das turbinas, movimentando-as. Essa forma de captar energia tem sido aproveitada desde a antiguidade para mover os barcos impulsionados por velas ou para fazer funcionar a engrenagem de moinhos, ao mover as suas pás. Nos moinhos de vento a energia eólica era utilizada na moagem de grãos ou para bombear água. Os moinhos foram usados para fabricação de farinhas e ainda para drenagem de canais, sobretudo nos Países Baixos. Figura 9 – Usina Eólica de Osório no Rio Grande do Sul Fonte: SERVICE, 2012. Figura 10 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Eóloica Fonte: FERREIRA, 2010 45 A Energia solar é a designação dada a todo tipo de captação de energia luminosa proveniente do Sol que é captada através de células fotovoltaicas. Quando a luz incide sobre uma célula fotovoltaica, os fótons que a integram chocam contra os elétrons presentes nas estruturas de silício, fornecendo-lhes energia. No interior de cada célula, gera-se assim um fluxo de elétrons, e como as células estão ligadas em série, produz-se corrente elétrica. Figura 11 – Usina Solar da Califórnia nos Estados Unidos Fonte: TULLOCH, 2012 Figura 12 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Solar Fonte: CRESESB, 2000 O professor após uma explicação superficial de cada uma dessas usinas deve mostrar para seus alunos que, excetuando a Maré Motriz, todas as outras usinas elétricas 46 podemser construídas, podendo umas serem mais viáveis que outras, comparado com seu poder energético. Porém a explicação mais aprofundada dessas viabilidades será abordada na Atividade 9. Nesta etapa o professor também deve pedir aos alunos, após o conhecimento prévio de todas as usinas, para citar dentre elas, as possíveis existentes em sua região, qual ou quais existem em sua cidade. Fazendo também um levantamento de quantos alunos citaram cada fonte de energia. Por exemplo: Quadro 6 – Estimativa entre os alunos sobre as usinas citadas Fonte: Elaborado pelo Autor Na região de Vale do Juruá, onde está localizada a cidade de Cruzeiro do Sul, a única usina elétrica existente é uma Termelétrica a Diesel, assim como em todo o estado, sendo quase totalmente abastecido com esse tipo de usina. Nesta parte o professor deve entrar na discussão: Porque todas as Usinas existentes no Estado do Acre são Termelétricas a Diesel? Como os alunos já conhecem todos os tipos de usinas elétricas seria mais fácil pra eles responderem essa pergunta. Comentários: Hidrelétrica, termelétrica, eólica, nuclear, solar, maré motriz, etc. Neste primeiro momento é importante que o professor somente faça esta distinção entre realidade e imaginário dos alunos com relação às possíveis fontes de energia existentes na região. 47 Estes exemplos de usinas devem surgir nos “pré-conceitos” formados pelos alunos, configurando uma existência ou não destas usinas de energia, que serve como uma explicação física do funcionamento de cada uma delas, enfatizando as que realmente são utilizadas na região onde moram. Nesta atividade por mais que o professor deva somente explicar superficialmente os esquemas físicos das usinas elétricas, provavelmente surgirão perguntas mais profundas sobre o assunto, e devem ser respondidas de forma mais simples possível. Na turma de Controle Ambiental 01/2011, tivemos um interesse muito grande na Usina Maré Motriz, principalmente porque todos os alunos nunca tinham ouvido falar de uma usina dessa e também o interesse pelo mar, já que ninguém na turma conhece uma praia. Também tivemos um grande interesse, com inúmeras perguntas, sobre a Usina Termonuclear. Mais já tivemos alunos indo ao quadro e mostrando para a turma, antes mesmo de o professor comentar, que todas as usinas tinham em comum: Girar as Turbinas do gerador, mudando apenas a forma. 48 Atividade 3: De onde vem a energia elétrica de sua cidade? O objetivo dessa atividade é mostrar aos alunos de onde vem a energia elétrica que eles consomem na sua cidade, e também no estado do Acre como um todo. O professor deve utilizar também um “Mapa Energético” contendo todas as usinas de energia do estado para dar uma visão concreta da realidade elétrica do Acre. Ainda para ajudar pode-se usar outras figuras para mostrar que parte da energia do estado vem de Rondônia. Energia Elétrica no Acre Como foi visto na Atividade 2, no estado do Acre só existem Usinas Termelétricas a Diesel, assim o professor deve então mostrar para os alunos, através de um “Mapa Energético”, onde estão localizadas estas usinas e também o seu poder de produção, enfatizando que próximo dos maiores centros urbanos estarão localizadas usinas de um poder de produção de energia elétrica maior. Como mostra a figura abaixo: Figura 13 – Centrais Termelétricas a Diesel em Operação no Acre Fonte: GUASCOR, 2009 A Eletrobrás Eletronorte produz 76% da energia elétrica gerada no Acre, distribuída por 302 quilômetros de linhas de transmissão. O sistema conta ainda com cinco subestações. Desde 2002, o estado, que faz parte do sistema isolado 49 Acre/Rondônia, também é abastecido por uma linha de transmissão em que liga Rio Branco à cidade de Abunã, em Rondônia, onde existe a hidrelétrica UHE Samuel, esquema observado na figura 14: Figura 14 - Distribuição de energia elétrica no estado de Rondônia Fonte: ELETRONORTE, 2009 Além de Rio Branco, a energia transmitida por este sistema isolado Acre/Rondônia, supre os mercados interligados de Senador Guiomard, Plácido de Castro, Bujari, Porto Acre, Acrelândia, Redenção e Vila Campinas, como mostra a figura 15: Figura 15 - Distribuição de energia elétrica no estado do Acre Fonte: ELETRONORTE, 2009 50 Comentários: Após apresentadas as usinas e seus respectivos esquemas físico de funcionamento para os alunos na atividade 2, o professor deve fazer questionamentos a fim de saber se eles já conheciam a usina de sua região? Como ela funciona? Como a energia produzida lá chega à suas casas, entre outros. Porém sem muito aprofundamento, já que isso será realizado em uma etapa futura. Com essa atividade o professor, após ter mostrado e comentado um pouco sobre o funcionamento de cada usina, mesmo que superficialmente, destacando somente os pontos principais, ele já dá um pequeno passo para o entendimento do aluno sobre o assunto e o leva agora ao próximo passo onde serão explicados como funciona a Usina existente na sua região, como exemplo utilizará a Usina Termelétrica a diesel, já que é a única existente em Cruzeiro do Sul. Também mostra aos alunos a realidade energética do Estado do Acre, onde atualmente só existem usinas Termelétricas, e parte da energia que abastece a capital Rio Branco e outras cidades próximas vem de outro estado, Rondônia. O mapa energético foi muito bem aceito pelos alunos onde alguns, mais experientes e vividos, podem explicar para outros, os aspectos das Usinas Termelétricas das cidades acreanas vizinhas à Cruzeiro do Sul. Ocorreu também um interesse enorme pela produção de energia vinda da Hidrelétrica de Samuel em Rondônia, e como na sala de aula há um aluno que trabalha neste ramo, houve uma discussão sobre a construção de uma linha de transmissão interligando a capital à Cruzeiro do sul, no interior, vinda desde essa Usina de Samuel, bem como o porquê de não criar uma hidrelétrica no estado do Acre. 51 Atividade 4 : Como funciona a Usina Elétrica de sua região? Para melhor direcionamento, dividimos esta atividade em duas partes. Na primeira queremos saber se algum aluno conhece a usina elétrica da sua cidade/região, com isso o professor motiva um interesse nos alunos sobre as indústrias da cidade. Retomando a atividade 2 peça para eles desenharem o esquema físico dessa usina, o aluno que quiser pode ir ao quadro fazer esse desenho que deve ser comparado com o da atividade 2, sendo assim uma forma do professor observar se o conteúdo estudado está realmente sendo “absorvido” pelos alunos. Neste presente caso estamos nos referindo a uma Termelétrica a Diesel, única Usina Elétrica presente em Cruzeiro do Sul. Na segunda parte, encaminhamos uma abordagem física mais aprofundada sobre o funcionamento dessa usina, onde o professor deve interagir com os alunos na explicação de cada parte do ciclo de transformação de energia utilizando figuras tornando assim o conhecimento adquirido pelos alunos algo crescente. Parte 1 – Você conhece a Usina Elétrica da sua Cidade? O professor deve, primeiramente, continuar perguntando se os alunos sabem ou têm idéia de como se obtém a energia elétrica nesta usina que abastece a sua casa com energia elétrica. Peça para algum aluno desenhar a usina como ele imagina que