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Fundamentos da Nutrologia Princípios da Nutrição do Indivíduo Normal INTRODUÇÃO Desde a antigüidade, o homem sabe que a saúde e o bem-estar físico dependem da alimentação saudável, e que nutrientes específicos apresentam o mérito de prevenir e curar doenças I. A alimentação saudável é aquela planejada com alimentos de diferentes grupos, de procedência conhe- cida, de preferência, naturais e preparados de forma a pre- servar o valor nutritivo e os aspectos sensoriais. Os alimen- tos devem ser qualitativa e quantitativamente adequados e escolhidos de acordo com a forma de vida e os hábitos dos indivíduos ou da população, de maneira a satisfazer as ne- cessidades nutricionais, emocionais e sociais e a promover a qualidade de vida saudável" Os guias alimentares foram elaborados buscando-se obter uma boa interpretação da informação fornecida sobre alimen- tação adequada'. Eles são instrumentos metodológicos feitos a partir de conhecimento científico em nutrição, com objetivos educativos, de orientação alimentar e nutricional e de informa- ção à população. São baseados nas recomendações nutri- cionais, nos hábitos e comportamentos alimentares-'. Informam aos indivíduos a seleção, a forma e a quantidade adequada de alimentos a serem consumidos, visando à promoção de saúde global do indivíduo e à prevenção de doenças". Para uma alimentação equilibrada e saudável, é necessá- ria a ingestão diária de alimentos contendo água, fibra, macro e micronutrientes de maneira a atender às necessidades or- gânicas individuais. Os macronutrientes (carboidratos, pro- teína e lipídios) são encontrados nos alimentos geralmente na forma de polímeros que precisam ser hidrolisados ao lon- go do trato gastrointestinal pela ação de enzimas produzi- das na boca, estômago, intestino e pâncreas, liberando seus respectivos constituintes monoméricos, como glicose, frutose, galactose, aminoácidos e ácidos graxos (Fig. 1.1). Após a absorção, os nutrientes digeridos tomam-se dis- poníveis para ser utilizados pelas células corpóreas, como substratos energéticos (glicose e ácidos graxas) ou como CAPiTULO 1 Rosângela Passos de Jesus Mônica Leila Portela de Santana Maria Ester da Conceição Claudia Cristina Alves constituintes plásticos (aminoácidos) para síntese de novos tecidos corporais. Este capítulo discorre sobre as principais características, funções e deficiências dos macros e micronutrientes, além das novas recomendações nutricionais e guias alimentares dispo- níveis para orientação dietética individual ou para grupos de indivíduos saudáveis. MACRONUTRIENTES CARBOIDRATOS Carboidratos são substâncias formadas por átomos de carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), dispostos gene- ricamente na forma C (RP) .Os carboidratos são considera- dos simples quando snãofor~ados por monômeros (glicose, frutose e galactose) ou dímeros (sacarose, maltose, lactose). Os polissacarídios são considerados carboidratos complexos, porque são polímeros formados por grande quantidade de monossacarídios unidos por ligações alfa-glicosídicas, que precisam ser hidrolisadas para utilização celular'>. Na nutrição humana, os polissacarídios mais importan- tes são o amido totalmente hidrolisado, a glicose, a fibra e o glicogênio. A fibra é composta por substratos não-dige- ríveis ou parcialmente digeríveis (pectina, goma e celulose), mas que sofrem fermentação bacteriana no intestino gros- so. °glicogênio é armazenado nos músculos e no fígado e funciona como reserva energética dos animais superiores para manutenção dos níveis plasmáticos de glicose>", Outros carboidratos incluem trioses (glicerose, C3H603), tetroses (eritrose, C4HP4) e pentoses (ribose, CSH100S)e desoxirribose, principais constituintes dos ácidos nucléicos que compõem o ácido desoxirribonucléico (DNA) e o ácido ribonucléico (RNA). De modo geral, oligossacarídios contêm 2 a 10 monossacarídios, enquanto os polissacarídios, após hidrólise, liberam mais de 10 monossacarídios". Na Fig. 1.2, encontram-se esquematizados os principais carboidratos da 3 A Ácido graxo saturado H H H H H H H H H O~ 1 1 1 1 1 1 1 , , C-C-C-C-C-C-C-C-C-C-H 0/ 1 1 1 1 , 1 1 , 1 1 H H H H H H H H H H Ácido graxo insaturado B H H H H H H O~ 1 1 1 1 1 1 0' "C-C-C-C-C-C-C~ / 0' 0/ 1 1 1 1 1 O" 0/ 0' 1 H H H H H / "O H 0' ')" 0' D Colesterol CH3 CH3 1 1 CHCH2CH2CH2CH CH, 1 CH3 CH, HO c Aminoácido Grupo carboxílico o OH ~ / __ C-H Grupo amina I R* alfa-D-glicose E 1 H-C 2 H-C-OH 3 1 OH- C-H 4 I H- C-OH 5 I H-C-OH 6 I H2-C-OH 6 CHpH 1 C-O-HHj 5 O 14 11/ C H C ,\OH / \H HO 1 ~ C--C 1 5 I H OH Fig. 1.1 - Estrutura química de alguns macronutrientes. A: ácido graxo saturado. B: ácido graxo insaturado. C: aminoácido. O: colesterol. E: alfa-D-glicose. *R é o radical que representa os grupos variáveis ligados à molécula básica para formar os 20 aminoácidos mais comuns. dieta de acordo com a classificação bioquímica em álcoois, mono, di, oligo ou polissacarídios. Carboidratos da Dieta Os carboidratos têm grande importância metabólica, pois geram energia facilmente utilizável pelas células. Represen- tam a principal fonte energética na alimentação ocidental, sendo cerca de 60% na forma de polissacarídios, 30% como sacarose e 10% como lactose. Apenas uma pequena parte dos carboidratos presentes na natureza possui valor comer- cial, sendo utilizada amplamente na indústria alimentícia, como O amido e a sacarose". Amido é o mais importante polissacarídio presente na dieta. É constituído por várias unidades de combinação glicídica, denominadas homopolímero de glicosano ou glicano. Existem dois tipos de homopolímeros: amilose, de cadeia linear, com ligações alfa-D-glicose 1-4 (Fig. 1.3), e amilopectina, com cadeia altamente ramificada, contendo tanto ligações alfal-4 como ligações alfal-6. A proporção de amilopectina e amilose depende da fonte alimentar, mas ge- ralmente o amido possui 80 a 85% de arnilopectina e 15 a 20% de amilose nos principais alimentos fontes-é. Após a cocção, os grãos de amido ficam gelatinosos e mais susceptíveis à ação da enzima digestiva alfa-arnilase. No 4 entanto, urna pequena proporção do amido permanece resis- tente à ação enzimática e, ao chegar ao cólon, sofre ação das bactérias colônicas, com produção de ácidos graxos de cadeira curta (ácidos acético, butírico e propiônico). A pro- porção de amido resistente presente nos alimentos não é significativa e, portanto, não interfere na biodisponibilidade deste nutriente. Os cereais possuem cerca de 0,4 a 2% do peso seco de amido resistente, as batatas, de 1 a 3% e os legumes, de 3,5 a 5,7%, o que representa cerca de 2 a 5% de amido resistente ingerido na dieta ocidental e menos de 10 g de carboidratos não-ingeridos por dia". Glicose ou dextrose é encontrada naturalmente nas fru- tas, vegetais, açúcar e xarope de milho, feito comercialmen- te a partir da hidrólise do amido de milho. O fígado conver- te metabolicamente frutose e galactose em glicose, partici- pando ativamente da manutenção da glicemia. A frutose ou açúcar das frutas ocorre naturalmente nas frutas, mel e açú- car. É adicionada a produtos industrializados, a bebidas le- ves e a sucos de frutas para realçar o sabor já adocicado. Após ser absorvida, a frutose é transportada até o fígado e metabolisada em glicose". A galactose não ocorre livre nos alimentos, mas sim associada à glicose, formando a lactose, dissacarídio presente amplamente no leite e nos laticínios'". Sacarose é formada por glicose e frutose. Conhecida normalmente como "açúcar de mesa", é sintetizada comer- CAPiTULO 1 Fonte Trigo, arroz, batata, milho, aveia Cana-de-açúcar, beterraba Leite Polissacaridios Amido Oligossacaridios Xarope de glicose Dextrina Sacarose LactoseDissacaridios Maltose MonossacaridiosGlicose Frutose + Glicose Galactose + Glicose Álcool Sorbitol Maltitol Manitol Sorbitol Galactitol Sorbitol Lectitol Fig. 1.2 - Classificação dos principais carboidratos da dieta de acordo com sua composição glicídica. o CH2H --o~()6Jo H~bH Fig. 1.3 - Estrutura da amilose, um polissacarideo não-ramificado, de configuração helicoidal. O destaque mostra a conformação de duas moléculas de alta-D-glicose unidas por uma ligação alta (1-4). CAPíTULO 1 5 cialmente a partir da cana-de-açúcar e da beterraba. Ocorre naturalmente em pequenas quantidades em algumas frutas, vegetais e no mep·6. A maltose é formada pela combinação de duas molécu- las de glicose. Não é encontrada naturalmente nos alimen- tos, mas está presente nos grãos em germinação, como a cevada, e também nos produtos intermediários da digestão do amido. Tem pequena participação como componente da dieta normal do ser humano>". Alguns oligossacarídios, como a rafinose e a estaquiose, presentes em alguns legumes, sofrem ação de enzimas bacterianas no cólon, contribuindo com uma pequena par- cela de energia utilizável pelos colonócitos-". As fibras são formadas por várias unidades de carboi- dratos denominados polissacarídios, geralmente associados a um componente estrutural, como a lignina. São classifica- dos normalmente em solúveis ou insolúveis a depender da composição dos polissacarídios da estrutura molecular", As fibras insolúveis incluem celulose, hemicelulose e lignina, ele- mentos estruturais dos alimentos vegetais". As fibras são encontradas na película protetora das fru- tas, na casca de grãos, como milho e feijão, em legumes, ce- reais integrais, farelo de trigo e em outros grãos. As fibras solúveis são constituídas por goma, pectina, alguma hemicelulose e mucilagem. Estão presentes em algumas fru- tas, aveia, cevada e legumes, conferindo aos alimentos tex- tura viscosa quando aquecidos. Reduzem o esvaziamento gástrico e liberação do quimo para o intestino, dificultam a absorção da glicose e diminuem a concentração plasmática do colesterol". Nas Tabelas 1.1 e 1.2 podemos verificar a classificação e as propriedades das fibras alimentares habi- tualmente presentes na dieta humanaê". Funções dos Carboídratos A principal função da glicose é fornecer energia facil- mente u.tilizável para células corpóreas, por meio da oxida- ção completa da cadeia de carbono. Inicialmente, por meio da glicólise, ocorre a quebra da glicose em duas moléculas de piruvato, gerando uma pequena fração de energia. Na presença de oxigênio, o catabolismo continua por uma se- qüência complexa de reações com perda de carbono até a completa oxidação no ciclo do ácido cítrico, com geração de adenosina trifosfato (ATP), dióxido de carbono e água6.J3• A glicose é a fonte de energia mais eficientemente utili- zável, com relação a lipídios e proteínas, porque é comple- tamente oxidada e não gera catabólitos tóxicos que precisam ser eliminados pelo organismo ao final do processo de oxi- dação. Por ser substrato energético utilizado preferencial- mente pelas células do sistema nervoso, cérebro e células vermelhas em desenvolvimento, o nível plasmático de glicose deve ser constantemente mantido pela ingestão diá- ria de carboidratos e por mecanismos reguladores que en- volvem o pâncreas, o fígado e hormônios, como glucagon, insulina e adrenocorticóides-!'. Quando a oferta de carboidratos na alimentação é ade- quada, o organismo não utiliza proteína como combustível energético e poupa este nutriente para uso em atividades anabólicas, como reposição de enzimas, hormônios, síntese celular e reconstrução de tecidos". Portanto, uma das fun- ções dos carboidratos é justamente a de promover a pou- pança de proteínas. Adequada oferta de carboidratos é es- pecialmente importante nas condições patológicas que au- mentem as necessidades energéticas, como o câncer, pois evita a mobilização das reservas protéicas e lipídicas do or- ganismo, favorecendo a manutenção do peso corpóreo". Para completa oxidação da gordura e liberação eficiente de energia, o organismo necessita de fragmentos de glicose dis- poníveis, para evitar a formação de corpos cetônicos. Ape- sar de os músculos e outros tecidos utilizarem corpos cetônicos como fonte de energia, normalmente eles são pro- duzidos em pequenas quantidades, quando ácidos graxos são utilizados como combu tíveis energéticos. Quando ocorre aumento na oxidação lipídica com pouca glicose disponível, verifica-se elevação nos níveis plasmáticos de cetonas, com conseqüente náusea, fadiga, perda de apetite e cetoacidose que pode levar ao coma. Portanto, a ingestão adequada de carboidratos previne a formação excessiva de cetonas'>. As moléculas de glicose que não são necessárias para produção de energia podem ser utilizadas na síntese de glicogênio e de aminoácidos não-essenciais ou estocadas no tecido adiposo na forma de triglicerídios. O organismo também pode converter glicose em ribose para síntese de DNA e RNA, para síntese de ácido hialurônico (necessário Tabela 1.1 Classificação das Fibras Alimentares de Acordo com suas Fontes Celulose Hemicelulose Farelo de trigo Feijão branco, feijão carioca, mulatinho, roxinho Soja Ervilha Milho de canjica Milho-verde Verduras Amendoim Farelo de bigo Genne de trigo Milho-verde Abóbora Beterraba Couve-de-bruxelas Mandioca Amendoim Lignina Peclina Farelo de trigo Verduras Brócolis Pimentão Amendoim Farelo de trigo Feijão branco, feijão carioca Soja Lentilha Ervilha Aveia Genne de trigo Cenoura Amendoim Maçã, morango 6 CAPiTULO 1 Tabela 1.2 Classificação e Propriedades das Fibras Alimentares 1. Com relação á solubilidade em água Fibras solúveis Pectina, gomas, betaglicanos, mueilagens e hemicelulose Fontes Frutas, verduras, farelo de aveia, cevada e leguminosas (feijão, grão-de-bico, lentilha, ervilha ete.) Propriedades e ações fisiológicas Retardam o esvaziamento gástrico e trânsito intestinal; retardam a absorção de glicose e colesterol; alteram o metabolismo colônico por aumentarem a síntese de TCe (acético, butírico e propiônico). São altamente fermentáveis e têm alta viscosidade Fibras insolúveis Celulose, lignina, e determinados tipos de hemicelulose Farelo de trigo, grãos integrais e verduras Apresentam efeito mecânico no TGI; aceleram o trânsito intestinal; aumentam o bolo fecal; retêm água; são pouco fermentáveis; não são viscosas 2. Capacidade hidrofilica: poder de absorção ou de fixação de substâncias orgânicas e inorgânicas em sua estrutura Capacidade de fixação Capacidade de absorção lipo Pectina, gomas e mucilagens (++++); hemicelulose (+++); amido resistente (++) e celulose (+) Características Maior pela água, formando material gelatinoso no ID, fixando ácidos biliares, reduzindo absorção do colesterol 3. Grau de fermentação: decomposição por ação da flora bacteriana anaeróbica do cólon Muito fermentável (? 60%) Pouco fermentável Caracteristicas Fibras solúveis Porcentagem de fermentação Pectinas (90 a 95%); mueilagens (85 a 95%); hemicelulose (56 a 87%) Pectina, gomas e mucilagens (++); hemicelulose (++); amido resistente (++) A absorção de água contribui para aumentar o volume fecal e acelerar o trânsito intestinal Fibras insolúveis Hemieelulose (56 a 87%); celulose (15 a 16%); lignina (0%) Principais produtos Ácidos graxos de cadeia curta: acético, butírico e propiônico Gases: hidrogênio, metano e dióxido de carbono. rCG = trigliceridios de cadeia curta; 10 = intestino delgado; TGI = trato gastrintestínal para lubrificação das articulações), para compor o humor ví- treo e para síntese da queratina que forma o cabelo e as unhas". PROTEÍNAS Estrutura Protéica Proteínas são polímeros constituídos por vários aminoá- cidos unidos por ligações peptídicas. Diferem dos carboi- dratos e lipídios porque, além dosátomos de carbono, hidro- gênio e oxigênio, possuem nitrogênio na sua estrutura'":". São compostos complexos, de elevado peso molecular. Formados por aminoácidos dispostos em seqüências especí- ficas, que conferem características individuais às inúmeras proteínas do organismo", Os 20 arninoácidos que participam da estrutura protéica (Fig. 1.4) possuem pelo menos uma mo- lécula de nitrogênio (N2)' denominado grupo amino, e um gru- po carboxilico (COaR). Quando o cetoácido (aminoácido sem N2) é oxidado para geração de energia, dióxido de carbono e água, o grupo amino precisa ser reutilizado ou eliminado". O corpo humano pode conter mais de 100.000 diferentes tipos de proteínas de variadas proporções, peso molecular e seqüência arninoacídica. A molécula protéica pode ser estruturada em quatro diferentes níveis'v'": primário, secun- dário, terciário e quartenário. A estrutura primária é uma seqüência única de aminoácidos da cadeia protéica que pode variar de dezenas a centenas de repetições dos 20 CAPíTULO 1 aminoácidos (Fig.1.5A). A estrutura protéica secundária é longitudinal, porém ainda apresentando-se em dimensão única, em cadeia reta, dobrada ou espiralada (Fig.1.5B). Na estrutura terciária, a proteína assume forma tridimensional, quando os polipeptídios se entrelaçam neles mesmos, ad- quirindo forma esférica ou globular (Fig.1.5C). Por fim, na estrutura quatemária, ocorre junção de duas ou mais estru- turas tridimensionais, formando uma grande e complexa mo- lécula protéica (Fig. 1.5D). A forma estrutural que a proteína adquire está relaciona- da com a sua função: proteínas globulares são altamente hidrossolúveis e circulam facilmente na corrente sangüínea devido à sua forma esférica. Exemplos de proteínas globulares são as imunoglobulinas, os horrnônios, a hemoglobina e várias enzirnas. As proteínas fibrosas são longas, com várias camadas de cadeias polipeptídicas sobrepostas sobre si, conferindo força e suporte para diversos tecidos. A elastina e o colágeno são exemplos de proteínas fibrosas que formam o tecido conectivo de tendões, cartilagens, ossos e ligamen- tos. A actina e a miosina são exemplos de proteínas fibro- sas tubulares, que compõem as células musculares'<". Aminoácidos Os aminoácidos são considerado essenciais quando o organismo não consegue sintetizá-Ios a partir de outros 7 NH, - CH, - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH I I I I CH3 CH H - C-CH3 CH,/" I I CH3 CH3 CH, CH I /" CH3 CH3 CH3 Glicina Alanina Valina Isoleucina Leucina NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH H I I I I I CH, CH, CH, CH, H - N - C- COOH I I I I / \ CH, CH, SH CH, H,C CH, I I I ~/ CH2 CH2 S C I I I /" CH, N-H CH3 H H I I NH, C=NH Prolina I NH, Lisina Arginina Cisteína Metionina NH, - CH - COOH I CH, H I / C=C I \ NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH I I I I / CH2 CH, CH, CH, C=C I I I I / \ COOH CH, C=O CH, HC CH I I I ~ I; COOH NH, C=O HC-CH I NH, Triptofano Ácido aspártico Ácido glutâmico Asparagina Glutamina (aspartato) (glutamato) NH, - CH - COOH I CH, I NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH NH, - CH - COOH C=C-H I II I I • I N NH CH, H -C-OH CH, CH, ~/I I I I C OH CH3 C C I/~ /~ H-C C-H HC C-H H 11 I 11 I H-C C-H HC C-H "-f' "-f' Histidina C C I I H OH Serina Treonina Fenilalanina Tirosina Fig. 1.4 - Os 20 aminoácidos que são componentes de proteínas na natureza. 8 CAPiTULO 1 A Estrutura primária Estrutura secundária - Ala - Glu - Vai - Thr - Asp - Pro - Gly - c Estrutura terciária Dominio B a-hélice D Estrutura quaternária Fig. 1.5 - Estrutura mo/ecu/ar da proteína. A: estrutura primária; B: estrutura secundária; C: estrutura terciária; O: estrutura quartenária. substratos. Portanto, devem ser ingeridos na alimentação. Os aminoácidos essenciais ou indispensáveis são a valina, leucina, isoleucina, lisina, metionina, treonina, fenilalanina, triptofano (Fig. 1.4). Aminoácidos não-essenciais ou dispen- sáveis são aqueles que o organismo é capaz de sintetizar a partir de outros compostos, como glicose, cetoácidos e áci- dos graxos. São eles: alanina, asparagina, glutamato e aspartato (Fig. l.4)15,16. Esta classificação depende da fase fisiológica do estado nutricional e da condição fisiopatoló- gica de cada indivíduo considerado". No entanto, em condições especiais, alguns arninoácidos são considerados condicionalmente essenciais ou indispen- sáveis, porque não são sintetizados de forma eficiente para suprir a demanda metabólica e devem ser ingeridos na ali- mentação adequadamente. A histidina é considerada essen- cial para crianças, a arginina é necessária em períodos de intenso crescimento celular (infância e algumas condições patológicas) e a glutamina é considerada essencial no cân- cer, na sepse e em algumas outras condições patológicas". Funções das Proteínas Corpóreas As proteínas exercem diversas funções no organismo: desde a composição de estruturas ou tecidos até as ativida- des funcionais. A principal função das proteínas é estrutu- ral: fornecer substratos necessários para crescimento, reparo e manutenção dos tecidos corpóreos (músculos, ossos, ten- dões, vasos sangüíneos, pele, órgãos intemos)":". CAPíTULO 1 As proteínas também compõem secreções (como leite, muco, esperma, saliva, histamina e anticorpos":") e fluidos corpóreos: hormônios (insulina, glucagon, tiroxina, epinefrina etc.), neurotransrnissores (serotonina, acetilcolina, adrenalina) e enzimas (lipase, tripsina, dissacaridases etc.I4-16). A opsina, por exemplo, porção protéica da rodopsina, é um pigmento visual sensível a alterações na luminosidade". Aminoácidos específicos também formam substâncias importantes: a tirosina é o principal precursor da catecolamina e o triptofano é amplamente utilizado na síntese de serotonina'":". As proteínas regulam o equilíbrio hidroeletrolítico, man- tendo a pressão osmótica. Proteínas plasmáticas, como alburnina, mantêm o equilíbrio e a distribuição dos fluidos entre os espaços intravascular, intracelular e intersticial dos compartimentos corpóreos. A hipoalburninernia promove acúmulo de líquido no espaço intersticial com conseqüen- te formação de edema":". Na regulação do equilíbrio ácido-básico, os aminoácidos podem atuar como doadores de prótons e elétrons, porque contêm tanto o grupamento ácido (COOH) como básico (~) e, dependendo do pH do meio, atuam como ácido ou base. Esta capacidade tampão neutraliza o excesso de áci- do ou base do organismo, mantendo o pH sangüíneo nor- mal e prevenindo a desnaturação das proteínas orgânicas":". Proteínas de conformação globular transportam substân- cias pela corrente sangüínea. As lipoproteínas transportam triglicerídios, ácidos graxos, colesterol e vitaminas liposso- 9 lúveis. A hemoglobina transporta oxigênio e a albumina trans- porta ácidos graxas livres, bilirrubina e vários medicamentos":". Proteínas também atuam no metabolismo das bases nitrogenadas. As bases nitrogenadas purínicas (adenina e guanina) e pirimidínicas (uracila, citosina e timina) compõem as moléculas de DNA e RNA. São sintetizadas a partir de aminoácidos, corno glutarnina e glicina, e de açúcares, corno ribose e desoxirribose. A adenina associada à amina da glutamina são utilizadas na síntese de adenosina mono- fosfato (AMP), enquanto a guanina associada à amina do aspartato são precursoras da guanosina monofosfato (GMP). Estas podem ser fosforiladas, gerando compostos difosfatados altamente energéticos corno adenosina difosfato (ADP) e guanosina difosfato (GDP) ou ainda com- postos trifosfatados, como adenosina trifosfato (ATP) e guanosina trifosfato (GTP)16. Apesar de as proteínas não serem consideradas as prin- cipais fontes de energia do organismo humano, também po- dem participarda síntese de energia em algumas circunstân- cias. Quando são ingeri das em excesso ou quando a inges- tão de nutrientes energéticos não satisfaz totalmente as necessidades orgânicas, elas podem ser degradadas em arni- noácidos e oxidadas nas mitocôndrias, gerando 4 kcal/g". Turnover Protéico As proteínas corpóreas não permanecem estáticas, mas são constantemente sintetizadas e degradadas para garantir a renovação dos constituintes celulares. A taxa de turnover protéico (renovação protéica) varia amplamente com a fun- ção específica de cada proteína. Proteínas que atuam como enzimas, as quais precisam ter a concentração bem regula- da, ou que atuam como hormônios, geralmente possuem alta taxa de renovação. No entanto, proteínas estruturais, como colágeno, fibras musculares e proteínas plasmáticas, possuem meia-vida relativamente longa, sendo renovadas menos freqüentemente que as demais". No organismo, não dispomos de reserva de proteína, mas o conjunto de proteínas e arninoácidos livres disponíveis no interior das células constitui o pool celular, e pode ser mo- bilizado para outros tecidos a depender da necessidade or- gânica. No fígado, as proteínas tissulares podem ser degra- dadas, liberando aminoácidos livres para o pool. Estes aminoácidos podem ser convertidos em novos compostos nitrogenados, utilizados para síntese de outras proteínas, ou sofrer desarninação para gerar energia e amônia, que é con- vertida a uréia e excretada pelos rins". Necessidades Protéicas Em adultos saudáveis que não estão ganhando nem per- dendo peso, a quantidade de nitrogênio eliminada nas fezes e urina geralmente é igual à de nitrogênio ingerido na alimen- tação. Esta situação constitui o balanço nitrogenado neu- tro". Para garantir o balanço nitrogenado positivo, é neces- sário que a proteína ingerida contenha, além do teor adequa- do de nitrogênio, todos os aminoácidos essenciais em sua composição, para permitir síntese protéica. Aminoácidos não-essenciais podem ser sintetizados a partir da proteína dietética, mas, se a ingestão dos aminoácidos essenciais for limitada, a síntese protéica pode ser prejudicada". A determinação das necessidades protéicas deve con- siderar a fase fisiológica ou as condições fisiopatológicas 10 individuais, a quantidade de nitrogênio e a qualidade da proteína: a biodisponibilidade e o teor de arninoácidos es- senciais presentes na composição'v". LIPÍDIOS Lipídios ou gorduras são compostos orgânicos insolú- veis em água e solúveis em sol ventes orgânicos (acetona, éter e clorofórmio). Triglicerídios (TG), fosfolipídios (lecitina), esteróis (como o colesterol) e ésteres de vitaminas lipossolúveis são lipídios":". Assim como os carboidratos, os lipídios são formados por átomos de carbono, hidrogê- nio e oxigênio, mas, quando oxidados, produzem o dobro de calorias com relação aos carboidratos porque têm proporcio- nalmente menos oxigênio". . Funçõesdoslipídlos Os lipídios desempenham diversas funções no organis- mo, desde a importante contribuição com o aporte energético da dieta, até a de servirem corno componente tecidual e de participarem de diversas funções orgânicas. Ácidos graxos es- senciais são necessários para promover o crescimento corpóreo, a manutenção da pele, crescimento do cabelo, regulação do metabolismo do colesterol, atividade lipotrófica, regulação da atividade reprodutiva e outras funções fisioló- gicas". Lipídios contribuem com mais do dobro das calorias forneci das pela mesma quantidade de carboidratos ou pro- teínas. Um grama de lipídios fornece 9 kcal. No entanto, a gordura não é o substrato energético preferencial do orga- nismo porque é metabolicamente mais complexa e, ao mes- mo tempo, requer pequena quantidade de glicose para ser completamente oxidada". Os ácidos graxos essenciais podem ser utilizados como lipídios estruturais ou direcionados para compor os TG do tecido adiposo, os quais são utilizados como reserva energética'". Lipídios representam aproximadamente 55% de todo o componente energético do organismo. São amplamente utili- zados pelas células musculares e constituem o reservatório de energia mais eficientemente utilizável nos períodos de jejum. Enquanto o glicogênio possibilita reserva energética para metade do dia em pessoas que desempenham atividade mo- derada, o tecido adiposo pode promover reserva energética para dois meses de jejum em indivíduos com peso normal". O tecido adiposo isola e amortece os órgãos internos, protegendo-os contra lesões mecânicas e evitando conse- qüências negativas para seu funcionamento". Esse isola- mento tem também propriedades térmicas: o tecido adiposo sob a pele atua como camada de isolamento contra perda de calor, protegendo o indivíduo contra o frio". Os lipídios também têm relação com o aproveitamento de micronutrientes da dieta. A ingestão de lipídios facilita a absorção de vitaminas lipossolúveis A, D, E e K. Os lipídios dietéticos contribuem para melhorar a aparência e o sabor dos alimentos por absorver sabor e aroma dos ingredientes, melhorando o paladar do prato final. Promovem cremo- sidade e maciez aos alimentos, favorecendo a percepção do paladar. A gordura suaviza a mistura a que foi adicionada, melhorando a palatabilidade de alimentos assados, como biscoitos, tortas e bolos". CAPíTULO 1 Os ácidos graxos essenciais que compõem os fosfo- lipídios são importantes para manutenção da integridade das membranas celulares. Os fosfolipídios incorporados às mem- branas plasmáticas possuem altas concentrações de ácidos graxos poliinsaturados contendo 20 a 22 carbonos, principal- mente o ácido araquidônico (C20:4) da série ômega-ô, ácidos eicosapentaenóico (C20:5) e docosaexaenóico (C22:6) da sé- rie ômega-3. A fluidez e outras propriedades físicas das mem- branas são determinadas pelo tamanho e grau de insaturação dos ácidos graxos incorporados aos fosfolipídios que influ- enciam diretamente na função estrutural das membranas, como manutenção da atividade normal enzimática. A compo- sição dos ácidos graxos dietéticos determina a composição dos lipídios de reserva e estruturais, altera a atividade e afi- nidade dos receptores, permeabilidade e o transporte intermernbranas". Ácidos Graxos Ácidos graxos são formados por uma cadeia linear de átomos de carbono ligada a átomos de hidrogênio, com uma extremidade contendo final ácido (COOR) e outra contendo um grupo metil (C~). Eles variam de acordo com o tamanho da cadeia hidrocarbonada e grau de saturação, ou seja, quantidade de duplas ligações na cadeia (Fig. 1.VI. OS ácidos graxos monoinsaturados contêm uma única dupla ligação e possuem geralmente até 12 átomos de car- bono. Quando o AG possui mais de uma dupla ligação é de- nominado poliinsaturado, as duplas ligações subseqüentes ocorrem três carbonos após a última dupla ligação. Um áci- do graxo insaturado com 18 átomos de carbono ou mais pode possuir a primeira dupla ligação da sua série nos car- bonos ômega-9, ômega-6 ou ômega-S". A posição da primeira dupla ligação presente na cadeia do ácido graxo é utilizada para identificar o tipo de gordu- ra. Conta-se a primeira dupla ligação, a partir do final metil, codificando-a com "n" ou "ômega" e, logo após, com o nú- mero correspondente ao carbono da primeira dupla ligação. O ácido graxo (AG) descrito como n-6 ou ômega-6 apresenta a primeira de suas duplas ligações após o sexto carbono contado a partir da extremidade final metif". Esse ácido graxo é conhecido como ácido graxo linoléico e é o princi- pal ácido graxo essencial encontrado nos alimentos. Con- tém 28 átomos de carbono e duas duplas ligações e é sim- bolizado por ômega-6 ou n-621. Os ácidos graxos poliinsaturados alfa-linolênico e eis- linoléico não podem ser sintetizados pelo organismo devido à ausência de enzimas necessárias para incorporação de du- pla ligações nos carbonos 3 e 6, respectivamente". Essesácidos graxos são considerados essenciais para os seres hu- manos, desempenhando importantes funções e devendo ser ingeridos na alimentação para garantir o bom funcionamen- to orgânico. Em relação aos primeiros ácidos graxos insaturados, apenas o ácido oléico (com dupla ligação no carbono 9) pode ser sintetizado pelo organismo=". Trí, Di e Monoglícerídíos Triglicerídios ou triacilgliceróis (TG) constituem aproxima- damente 95% da gordura presente nos alimento e ão a prin- cipal forma de estocagem de energia do organismo para utili- zação nos períodos pós-prandial ou jejum prolongado":". Triglicerídios são formados por três moléculas de ácidos graxos esterificados em uma molécula de glicerol. A CAPITULO 1 beterogeneidade do TG deve-se à variação dos ácidos graxos ligados ao glicerol. Cerca de 90% da massa dos TG é formada por ácidos graxos, geralmente contendo cadeia li- near com 4 a 26 átomos de carbono". Diglicerídios e monoglicerídios consistem em uma molé- cula de glicerol contendo dois ou apenas um ácido graxo li- gados às extremidades reativas do glicerol, respectivamente". Classí1Jcação dos Tríglícerídíos Os triglicerídios também podem ser classificados de acor- do com o tamanho de sua cadeia carbônica. De acordo com o número de carbonos dos ácidos graxos que os formam, os triglicerídeos são classificados em: triglicerídeos de cadeia curta (TCC) com 4 a 6 carbonos; triglicerídeos de cadeia média (TCM) com 8 a 12 carbonos; triglicerídeos de cadeia longa (TCL) com mais de 12 carbonos=". Os triglicerídios de cadeia longa (TCL) podem conter áci- dos graxos poliinsaturados essenciais ômega-6 e ômega-3. Possuem alto valor energético e desempenham funções farmacológicas importantes no organismo, participando de reações inflaI?atórias e em mecanismos de defesa do siste- ma imune". Acidos graxos essenciais (AGE) são importan- tes para manutenção do tecido epitelial saudável e para pro- mover crescimento adequado das crianças (ômega-ô)". Os ácidos graxos ômega-3 reduzem os níveis plasmá- ticos de triglicerídios, a pressão sangüínea e a formação de trombos. Desempenham ação antiinflamatória, produzindo efeito benéfico no tratamento de doenças, como colite u1cerativa, artrite reumatóide e asma. Trabalhos experimen- tais demonstram ação preventiva dos ácidos graxos ômega- 3 contra alguns tipos cânceres". No organismo o ácido graxo linoléico (18:2 ômega-6) ori- gina o gama-linolênico (18:3 ômega-6) que é posteriormen- te convertido em ácido araquidônico (20:4 ômega-ô) pela ação da enzirna delta ô-desaturase, a qual sofre influência dos AGE, do cálcio e de hormônios. O ácido araquidônico é precursor de eicosanóides da série pró-inflamatória, prostaglandinas (pG,), tromboxano A e leucotrienos 4, os quais participam ativamente dos processos de inflamação, infecção, lesão tecidual, modulação do sistema imune e agre- gação plaquetária". Por outro lado, o ácido graxo alfa-linolênico (18:3 ômega- 3) origina o ácido eicosapentaenóico (EPA) e docosaexae- nóico (DHA), precursores de mediadores antiinflamatórios, como as prostaglandinas da série 3, tromboxanos A e leucotrienos da série 5, os quais participam do mecanismo de defesa do sistema imune". Os AGE compõem as membranas celulares, conferin- do fluidez e viscosidade características, favorecendo a di- fusão de substâncias importantes para o metabolismo ce- lular, como Na", K+, enzimas, receptores hormonais, antígenos etc. A composição das membranas plasmáticas sofre influência do tipo de ácido graxo ingerido na dieta alimentar, que pode interferir na fluidez da membrana. Quando os fosfolipídios são formados basicamente por ácidos graxos saturados, observa-se redução na fluidez da membrana plasmática; o oposto é verificado quando há disponibilidade de ácidos graxos poliinsaturados para serem incorporados nos fosfolipídio que compõem as membranas": Na Tabela 1.3, podemos identificar resumi- damente as características e funções dos AGE. 11 Tabela 1.3 Principais Características e Funções dos Acidos Graxos Essenciais (AGE) Características dos ácidos graxas essenciais Ácido linoléico (18:2 ômega-6) Ácidolinolênico (18:3 ômega-3)---------- ----------------------------~ Participam de componentes celulares e da composição de fosfolipídios; conferem fluidez e manutenção da integridade das membranas plasmáticas; são precursores de eicosanóides; atuam como co-fatores enzimáticos; participam da regulação do sistema imune Funções Deficiência Lesões de pele; anemia; aumento da agregação plaquetária; trombocitopenia; esteatose hepática; retardo da cicatrização; redução da imunidade e maior predisposição a infecções, retardo do crescimento e diarréia na criança Sintomas neurológicos; redução da acuidade visual com anonnalidades no eletrorretinograma; lesões de pele; retardo do crescimento, redução da capacidade de aprendizado Toxicidade: ingestão superior a 15% doVET Alteram metabolismo dos trigliceridios; aumentando a síntese de prostaglandinas e leucotrienos; induzem estresse oxidativo e peroxidação lipídica, de acordo com o grau de saturação do triglicéride; excesso de ômega-6 induz a imunossupressão Recomendação oral AGE = 5 a 6% do VET 0,5 a 1,5%3 a 10% VET = valor energético total; AGE = ácidos graxas essenciais. Os triglicerídios de cadeia longa podem também conter ácidos graxos monoinsaturados. Os ácidos graxos monoinsa- turados possuem uma única dupla ligação, sendo extraídos de óleos vegetais à base de oliva, canola, açafrão e amendo- im. O azeite de oliva, principal fonte alimentar de ácido graxo monoinsaturado, contém basicamente o ácido oléico (ômega- 9) associado ao isômero da vitamina E, o alfa-tocoferol, con- ferindo maior proteção contra a peroxidação lipídica". O maior consumo de ácidos graxos monoinsaturados na dieta alimentar está associado a menor risco para desenvol- vimento de doenças coronarianas e de hiperlipidernia, redu- ção dos níveis séricos de lipoproteínas de baixa densi- dade (low density lipoprotein, LDL, e very low density lipoprotein, VLDL) e aumento de lipoproteínas de alta den- sidade (high density lipoprotein, HDL). Já foi demonstrado efeito benéfico destes ácidos graxos na redução da incidên- cia de certos tipos de cânceres, produzindo menor efeito in- flamatório com redução de radicais livres, sugerindo vanta- gens do uso de fórmulas ricas em ácidos graxos monoin- saturados na terapia nutricional do câncer-', No entanto, o uso excessivo de óleos à base de monoinsaturados deve ser visto de forma criteriosa porque eles não possuem ácidos graxos essenciais na sua compo- sição. Recomenda-se ingestão diária de lipídios em tomo de 25 a 30% do valor energético total (VET), na seguinte pro- porção: 10% de ácidos graxos poliinsaturados, 10% de saturados e 5 a 10% de monoinsaturados". As principais fontes de triglicerídios de cadeia longa contendo ácidos graxos saturados são os alimentos de ori- gem animal: carnes, vísceras, ovos, leite e laticínios etc. No entanto, alguns alimentos de origem vegetal também contêm triglicerídios saturados de cadeia média (coco, amêndoa, babaçu) e de cadeia longa (cacau, COCO)22. O consumo excessivo de Iipídios ricos em ácidos graxos saturados, comum nas dietas hiperprotéicas com alto teor de produtos animais, está associado a maior risco para eleva- ção dos níveis plasmáticos de colesterol e LDL, para o de- senvolvimento de aterosclerose e de doenças coronarianas 12 em geral. Portanto, recomenda-se que o consumo de gordu- ra saturada deve ser inferior a 10% do VET, para evitar anor- malidades no metabolismo lipídico". Os alimentos ricos em lipídios normalmente são compos- tos por uma mistura de ácidos graxos saturados, mo- noinsaturados e poliinsaturados. No entanto, geralmente exis- te predominância de um determinado tipo de ácido graxo, o que confere características próprias ao lipídi021•22. Na Tabela1.4, podemos identificar as principais características dos ali- mentos ricos em ácidos graxos saturados e insaturados. Triglicerídios de cadeia média (TCM) caracterizam-se como gordura saturada contendo ácidos graxos com 8 a 12 átomos de carbono: são os ácidos capróico, caprílico, cáprico e láurico. Possuem menor valor calórico que outros lipídios: cada grama de TCM fornece 8,3 kcal. São absorvidos mais facilmente sem necessitar da presença da lipase pancreática nem sais biliares e, após absorção, são transportados rapida- mente dos enterócitos para o fígado pela veia porta". O metabolismo dos TCM também é mais simplificado: o c1areamento (clearance) plasmático ocorre mais rapidamen- te. Os ácidos graxos livres não necessitam da albumina para serem transportados no plasma e prescindem da carnitina para penetrarem nas mitocôndrias e serem utilizados para beta-oxidação. Não são armazenados no fígado e no tecido adiposo e formam corpos cetônicos para serem oxidados nos tecidos periféricosv-". Os TCM desempenham funções orgânicas importantes, sendo indicados para o tratamento de má digestão e da má absorção de lipídios, comum em condições patológicas, como a insuficiência pancreática e hepática, as doenças in- flamatórias intestinais e a obstrução biliar. Desempenham função energética preferencialmente aos TCL e favorecem a manutenção do balanço nitrogenado positi V022. OS triglicerídios de cadeia curta (TCC) são formados pe- . los ácidos graxos acético (C2:0), propiônico (C3:0) e butírico (C4:0) e encontrados livremente na manteiga. Eles são sin- tetizados endogenamente por bactérias colônicas que atu- am na fermentação de fibras não-digeríveis, carboidratos e CAPíTULO 1 Tabela 1.4 Características Gerais dos Ácidos Graxos Saturados e Insaturados Ácidos graxas salurados Estado São sólidos à temperatura ambiente, exceto óleo de coco, dendê, palma e semente de palma (óleos tropicais) Ligações Configuração linear sem duplas ligações Fusão Têm alto ponto de fusão Degradação Mais estáveis à degradação, como rancificação e peroxidação Fonte Origem animal, exceto nos óleos tropicais, que contêm grandes quantidades de ácidos graxos saturados polissacarídios que não sofreram hidrólise enzimática no in- testino delgado=". Após rápida absorção, os TCC são utilizados pelos colonócitos como fonte de energia", além de serem encami- nhados para o fígado pela veia porta para participar do me- tabolismo dos carboidratos e lipídios. O butirato é intensa- mente metabolizado no epitélio colônico, constituindo-se no principal substrato energético dos colonócitos. O propionato é utilizado com eficiência pelo fígado para gliconeogênese, com pouco consumo de energia, enquanto o acetato compe- te com a glicose na ligação com os receptores de insulina e reduz os níveis plasmáticos de ácidos graxos livres". FosfoJipídios Fosfolipídios estão presentes em pequena quantidade nos alimentos, e são formados por uma molécula de glicerol ligada a um grupo fosfato e uma cabeça polar, hidrofílica, formada por um composto nitrogenado que pode ser inositol, colina, serina ou etanolamina. Na molécula do glicerol, os outros dois carbonos reativos formam ligação éster com ácidos graxos essenciais de cadeia longa, com- pondo o grupo hidrofóbico dos fosfolipídios". Dessa forma, os fosfolipídios contêm componentes lipos- solúveis, os triglicerídios, e componentes hidrossolúveis, o radical fosfato e a cabeça polar, o que determina maior fluidez às membranas plasmáticas e lipoproteínas. Eles mantêm a in- tegridade das membranas plasmáticas celulares, conferem solubilidade às lipoproteínas e são precursores dos eicosanóides (prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos), substâncias que atuam como hormônios em várias reações, envolvendo inflamação e coagulação sanguínea":". Em razão dessas pro- priedades, os fosfolipídios são usados na indústria alimentí- cia como agentes emulsificantes, presentes naturalmente em boa quantidade no fígado, ovos, germe de trigo e amendoim". Esteróis Esteróis são moléculas anfipáticas contendo um núcleo esteróide e uma ramificação hidrocarbonada'". São encon- trados na dieta tanto na forma livre como na forma esterificada com ácidos graxos, principalmente o ácido linoléico (CI8:2 ômega-ô). Colesterol, ácidos biliares, ésteres CAPiTULO 1 Ácidos graxas insaluradas Geralmente líquidos à temperatura ambiente Apresentam uma ou mais duplas ligações Têm baixo ponto de fusão, Quanto maior o número de duplas ligações, mais baixo o ponto de fusão Mais sensíveis à degradação quando expostos à luz e ao oxigênio por periodos prolongados Encontrados principalmente nos óleos de origem vegetal de vitamina D, E, hormônios sexuais e adrenocorticais são exemplos de esteróis", O colesterol, principal representante esterol da dieta, é encontrado apenas em alimentos de origem animal, como carne de boi, frango, peixe, marisco , ví ceras, leite, mantei- ga, queijos, frios, ovos etc,20,2I,O colesterol não é conside- rado nutriente essencial, porque pode ser sintetizado no fí- gado, a partir da acetil coenzima-A (acetil-Coà), proveniente de carboidratos, proteína , lipídios ou álcool. Quando a ingestão oral de colesterol se reduz, verifica-se aumento da produção endógena de colesterol para manter a cota diária adequada de substrato necessário para síntese de ácidos biliares, hormônios esteróides e síntese de vitamina D2I, Alimentos de origem vegetal contêm um componente si- milar ao colesterol, denominado fitosterol. Os fitosteróis di- ferem do colesterol na configuração química de suas cadei- as e no padrão de ligação esteróide. Por isso, são pobremen- te absorvidos no organismo, Estão presentes na forma de beta-sitosterol, campesterol e estigmasterol, em alimentos como tomate, uva, morango, soja etc. Fitosteróis saturados podem ser sintetizados comercialmente por hidrogenação da cadeia hidrocarbonada (campestanol e sitostanol) e após incorporação a alimentos industrializados, como margarina, reduzem significativamente a absorção do colesterof". MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Vitaminas e minerais são importantes componentes da dieta. São necessários para o normal funcionamento de todo o corpo humano, Deficiência ou excesso destes nutrientes podem alterar o sistema imunolõgico". As vitaminas são classificadas de acordo com sua solu- bilidade, Podem ser divididas em lipossolúveis (solúveis em sol ventes não-polares) e hidrossolúveis (solúveis em solventes polares), Vitaminas lipossolúveis são A, D, E e K, armazenadas nos compartimentos gordurosos do organismo. As hidrossolúveis são as vitaminas do complexo B (BI2' tiamina, riboflavina e piridoxina), vitamina C, ácido panto- tênico, biotina, niacina, ácido fólico e colina", Os minerais são classificados como microminerais e macrominerais. Os microminerais estão presentes em baixas quantidades no organismo, e incluem o ferro, zinco, cobre, 13 magnésio, iodo e selênio, Macrominerais estão presentes em maiores concentrações, como cálcio, fósforo, magnésio, potássio, sódio e cloro. Ocorrem interações entre minerais, porém a deficiência ou o aumento na suplementação de um determinado mineral pode resultar em alterado metabolismo de outro mineral". Mais recentemente, o termo "ultratraço" tem sido utilizado para definir aqueles elementos que são consumidos em quantidades de microgramas (mg) por dia". As Figs. 1.6 e 1.7 demonstram onde podemos encontrar algumas vitaminas, minerais e suas respectivas fontes no es- quema conhecido como "pirâmide alimentar". A pirâmide ali- mentar é um guia para a escolha de uma alimentação saudá- vel. O consumo de alimentos que compõem os diversos gru- pos nas quantidades indicadas na pirâmide proporciona ofer- ta de todos os micronutrientes necessários para o funciona- mento normal do organismc". As Tabelas 1.5 e 1.6 mostram as funções desempenhadaspelas vitaminas lipossolúveis, hidrossolúveis e minerais. Os sinais e sintomas clínicos rela- cionados com a deficiência e com a toxicidade das vitaminas e minerais estão apresentados nas Tabelas 1.7 e 1.8. BASES PARA A ELABORAÇÃO DE GUIAS ALIMENTARES Os guias alimentares fazem parte de projetos nacionais realizados por grupos interdisciplinares para elaboração de programas de educação nutricional". Os grupos para elabo- ração dos guias devem ser constituídos por um comitê de especialistas, sendo este reunido por um departamento go- vernamental e uma academia nacional de ciência ou uma as- sociação profissional.". Esse comitê deve ser constituído por educadores em nutrição, nutricionistas que trabalhem em saúde pública, além de especialistas em enfermidades ori- ginadas por consumo de dietas inadequadas". Para o desenvolvimento desses guias, é necessário um processo de pesquisa, contendo o diagnóstico da situação nutricional, dados epidemiológicos que fundamentam as die- tas, os objetivos e as metas nutricionais e um banco de da- dos contendo a composição dos alimentos seleciona- dos2,3!,32. Os guias alimentares devem considerar uma série de fatores econômicos, sociais e culturais, trabalhar com o referencial da família, ter visão global da dieta, promover e manter a saúde global do indivíduo, ser práticos, dinâmicos, sugerir modificações que melhorem o valor nutritivo dos ali- mentos e permitir o máximo de flexibilidade para a escolha dos alimentos a fim de suprir as necessidades nutricionais do indivíduo e prevenir doenças2,29,33.3s. Além dessas con- siderações, devem ser abordados os assuntos conflitantes ou que causem apreensão à população, como, por exemplo, o consumo de álcool". Entretanto, os guias alimentares devem ser fáceis, atra- tivos, conter mensagens claras e objetivas para serem enten- Gorduras, óleos e doces Vitamina E: ólec de soja, de milho e de girassol Leite, iogurte e queijos Vitamina A: leite fortificado Vitamina 82: leite e queijo Vitamina 812: leite e derivados Vitamina O: leite fortificado Vegetais Vitamina A: cenoura, batata-doce, espinafre, abóbora, brócolis Vitamina 82: brócolis, tomate, batata, batata-doce Folato: vegetais folhosos verdes-escuros, aspargos, brócolis Vitamina K: chá verde, grão-de-bico, repolho Carnes vermelhas, aves, peixes, legumes Vitamina A: figado de boi, ovos, peixes Vitamina 81: legumes, figado e came de porco Vitamina 82: aves, vísceras e porco Vitamina 812: carne, ovos, peixes e figado Vitamina E: frutas secas Folato: legumes, figado e peixes Frutas Vitamina A: melão, pêssego, laranja, manga Vitamina 86: banana, figo, melão Vitamina C: morangos, laranja, kiwi, acerola Folato: laranja, abacate Cereais Vitamina 81: germe de trigo, grãos integrais, levedura.de cerveja, semente de girassol, macarrão Vitamina 82: levedura de cerveja, germe de trigo Vitamina 86: grãos integrais Vitamina E: germe de trigo Folato: grãos fortificados, grãos integrais Vitamina K: cereais, cereais integrais Niacina: pão de centeio Fig. 1.6 - Fontes de vitaminas na pirâmide alimentar Adaptado de Mason et aF8. 14 CAPiTULO 1 Gorduras, óleos e doces Magnésio: chocolale Leite, iogurte e queijos Cálcio: leite, queijo, iogurtes lodo: leile, queijo Potássio: leile e derivados Vegetais Cálcio: couve, folhas de nabo, folhas de mostarda, brócolis lodo: batatas Ferro: hortaliças verdes-escuras Potássio: tomate, batata, batata-doce, espinafre Manganês: folhas de beterraba Carnes vermelhas, aves, peixes, legumes Cálcio: tofu, ostras Cromo: cames vermelhas Cobre: ligado, mariscos, aves, ostras lodo: frutos do mar, ovos, cames vermelhas Magnésio: tofu, nozes Selênio: came vermelha, frutos do mar, visceras de boi Frutas Ferro: frutas secas Potássio: banana, maçã, abacate, frutas secas Magnésio: figo, maçã Cereais Cromo: grãos integrais, germe de trigo Cobre: grãos integrais lodo: cereais Ferro: cereais integrais, germe de trigo Magnésio: cereais integrais Selênio: germe de trigo, grãos integrais Zinco: germe de trigo, grãos integrais, farelo de trigo Fig. 1.7 - Fontes de minerais na pirâmide alimentar. Adaptado de Mason et aFB, didas pelo público (leigo e científico) sem a necessidade de entendimento especialv-". HISTÓRICO DOS GUIAS ALIMENTARES Os guias alimentares destinados à população tiveram início nos países desenvolvidos, especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial. Atwater foi o pioneiro na inves- tigação nutricional e, em 1894, publicou tabelas de compo- sição de alimentos e padrões dietéticos para a população norte-americana, fundamentando as bases científicas para estabelecer relação entre a composição dos alimentos, con- sumo e saúde dos indivíduos". A partir daí, vários guias fo- ram propostos para diversos grupos populacionais, com di- ferentes formas de apresentação" (Fig. 1.8). Após várias pesquisas para testar a forma gráfica mais aceita pela população norte-americana para representar a ali- mentação, a pirâmide alimentar foi adotada em 1992, pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), como o guia alimentar oficial":". Ela foi desenvolvida para substi- tuir a roda alimentar e os quatro grupos básicos como for- ma representativa da distribuição dos alimentos+". Esse novo formato veio ilustrar os conceitos da tercei- ra edição do Guia de Dietas (para norte-americanos) desti- nadas a indivíduos acima de 2 anos de idade", A quarta edi- ção desse guia foi publicada no final de 199540 e a quinta, CAPiTULO 1 em 200041,42, Em 1999, o USDA publicou uma adaptação da pirâmide para crianças de 2 a 6 anos de idade, com o obje- tivo de simplificar as mensagens educacionais e o foco prioriza preferências alimentares e de necessidades nu- tricionais de crianças mais jovens". A pirâmide alimentar é um instrumento gráfico que re- flete, rapidamente, conceitos alimentares importantes como variedade, proporção e moderação. A variedade é iden- tificada pelo consumo de uma grande diversidade de ali- mentos dentro e entre os grupos maiores, ou seja, nenhum grupo de alimentos é mais importante do que qualquer outro grupo, A moderação é definida por dois componen- tes: a) consumir alimentos em porções no tamanho reco- mendado, especialmente aqueles ricos em gordura ou que contenham açúcares adicionados; b) consumir gorduras, óleos e doces esporadicamente, A proporcionalidade é definida como consumo relativamente maior de grupos ali- mentares maiores, e consumo menor de alimentos de gru- pos menoresv". Os níveis específicos de nutrientes indicados estão de acordo com as recomendações nutricionais preconizadas pelo Nationàl Research Council (1989) para proteínas, vita- minas, minerais, bem como para gordura total, gordura saturada, colesterol, sódio e fibras alimentares, Apesar de ser abrangente, a pirâmide alimentar proposta pelo USDA não incluiu as recomendações sobre manter o peso saudá- 15 Tabela 1.5 Funções das Vitaminas lipossolúveis e Hidrossolúveis24,25 Manutenção da visão; reprodução normal; crescimento e desenvolvimento ósseo; manutenção do tecido epttelial; resistência a infecções; diferenciação celular; regulação genética Homeostase do cálcio; crescimento e manutenção de ossos e dentes Antioxidante biológico; previne peroxidação lipidica nos alimentos; acentua atividade da vitamina A no intestino; ação complementar ao selênio; protege hemácias contra hemólise Vitamina K Coagulação sangüinea; metabolismo do cálcio ------ Funções Vitaminas /ipossolúveis Vitamina A Vitamina O Vitamina E Vitaminas hidrossolúveis Vitamina B, (tiamina) Vitamina B2 (riboflavina) Vitamina B3 (niacina) Vitamina B5 (ácido pantotênico) Vitamina B6 (piridoxina) VITamina B7 (biotina) Vitamina 89 (folato) Vitamina 8'2 (cobalamina) Vitamina C (ácido ascórbico) FunçõesDNA = ácido desoxirribonucléico Funcionamento normal do sistema nervoso; coenzima de sistemas enzimáticos Manutenção de pele e olhos; metabolismo energético; coenzima em reações redox de ácidos graxos e no ciclo tricarboxílico Manutenção da pele; manutenção do sistema nervoso; metabolismo energético Essencial para o metabolismo de ácidos graxos, aminoácidos e carboidratos Produção de células sangüíneas; coenzima no metabolismo de aminoácidos, carboidratos e lipídios; mantém integridade funcional do cérebro Envolvida no metabolismo do ácido fólico, do ácido pantotênico e vitamina 8'2 Participa na síntese de ácidos nucléicos; necessária para formação e maturação de células sangüíneas; atua em associação com VITamina B'2 na sintese de DNA Produção de células sangüíneas; funcionamento do sistema nervoso; reutilização do folato; coenzima no metabolismo do propionato, aminoácidos e carbono simples Biossíntese de colágeno e camitina; importante ação antioxidante; envolvida no processo cicatricial; necessária para a função leucocitária e melhora do sistema imunológico; aumenta absorção de ferro dietético. Permite a transformação de ferro férrico em ferroso vel, usar sal em pequenas quantidades e, em caso do con- sumo de álcool, que seja feito com moderação ". Uma reavaliação da pirâmide alimentar está sendo feita, para as- segurar que o guia alimentar continue a alcançar seus ob- jetivos nutricionais. tão bem como provê orientações para os consumidores ". GUIAS ALIMENTARES BASEADOS NA PIRÂMIDE ALIMENTAR DO USDA Desde a sua publicação, a pirâmide alimentar americana tem sido largamente distribuída, usada e imitada. O número de países que têm desenvolvido ou revisado o seu próprio guia alimentar vem aumentando". Assim, outros guias ali- mentares foram adotados, incorporando o mesmo formato gráfico e conceitos básicos da pirâmide alimentar america- na, a saber: a pirâmide de Porto Ric045, pirâmide das Filipi- nas", a Pirâmide Alimentar Adaptada" (Fig. 1.6), a pirâmide para indivíduos com idade superior a 70 anos", a pirâmide para atletas". Também, foram editados guias alimentares que só utili- zaram a representação gráfica da pirârrúde alimentar america- na, mas adotaram princípios diferentes. Como exemplo, têm- se: a pirâmide da dieta mediterrânea", a pirâmide vegetaria- na", a pirâmide saudável" e a pirâmide modificada para vegans e ovolactovegetarianos". 16 PIRÂMIDE MEDITERRÂNEA Em janeiro de 1993, especialistas internacionais sobre dieta, nutrição e saúde se reuniram para revisar a composi- ção da dieta mediterrânea consumida durante a metade do século passado e suas implicações para a saúde do homem. Essa conferência foi a primeira em uma série de ações orga- nizadas pela Oldways Preservation & Exchange Trust, da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) e o Departamento de Epidemiologia Nutricional da Escola de Saúde Pública de Harvard, na qual os especialis- tas elaboraram urna nova proposta de pirâmide alimentar que ficou intitulada como pirâmide do Mediterrâneo (Fig. 1.7). Ela foi elaborada como um guia dietético para a popula- ção adulta em geral e deverá ser modificada para alcan- çar as necessidades das crianças, gestantes e outros gru- pos populacionais especiais". Os novos princípios agregados foram: 1. o consumo de qualquer alimento é considerado risco para a saúde; 2. im- portante avaliar a qualidade, quantidade e proporcionali- dade; 3. as carnes vermelhas são consideradas os alimentos de maior risco, devendo ser consumidas apenas poucas ve- zes por mês ou mais freqüentemente, porém em pequena quantidade; 4. os doces, ovos, aves e peixes também são considerados como alimentos que oferecem risco, porém em menor proporção que as carnes vermelhas, devendo ser CAPiTULO 1 Tabela 1.6 Funções Desempenhadas pelos Minerais26,27 Minerais Funções Cálcio Essencial no transporte de ferro; formação e manutenção dos ossos e dentes; manutenção dos sistemas nervoso, cardíaco e muscular; importante no processo de coagulação sangüínea; responsável pelo transporte de vitamina 812 no trato gastrintestinal Regulação do pH; formação e manutenção de ossos e dentesFósforo Enxofre Essencial no metabolismo protéico e de carboidratos; elemento presente na molécula de glutationa Potássio Participa na regulação do pH e osmolaridade; manutenção dos fluidos corpóreos; contrações do músculo cardíaco; metabolismo dos macronutrientes Cloro Atua em combinação com o sódio; manutenção da água corpórea; tampão e ativador enzimático; componente do ácido clorídrico gástrico Sódio Regulação da osmolalidade, volume e pH dos fluídos corpóreos Magnésio Ativador de processos enzimáticos; envolvido na síntese protéica e no metabolismo energético; manutenção das contrações nervosas e musculares Ferra Formação de células sangüíneas; transporte de oxigênio Flúor Previne anemia; essencial para dentes e ossos; fundamental para crescimento normal Zinco Metabolismo dos ácidos nucléicos; envolvido no processo cicatricial; integridade do sistema imunológico; constituinte de enzimas e insulina Cobre Transporte de ferra; formação de células sangüíneas; manutenção do tecido conectivo lodo Funcionamento normal das glândulas da tireóide Cromo Participa no metabolismo de lipídios, carboidratos e ácidos nucléicos Cobalto Presente na vitamina 812; papel no crescimento e hematopoiese; aumenta ação de peptidases Exerce papel no arranjo e função do tecido conjuntivo; necessário para a biossíntese e calcificação óssea e formação de cartilagem Silício Vanádio Apresenta função bioquímica e fisiológica: aumenta tolerância à glicose; inibe biossíntese do colesterol; diminui concentração plasmática do colesterol e fosfolípides Estanho Não conhecida Selênio Envolvido no metabolismo de gorduras, vitamina E; ação antioxidante Manganês Abundante nas mitocôndrias; constitui sistemas enzimáticos essenciais Níquel Atua como co-fator ou componente estrutural de metaloenzimas específicas Molibdênio Co-fator essencial de enzimas envolvidas em reações de oxidação e redução; catalisa a conversão de ferro férrico em ferra ferraso Chumbo Não conhecida Mercúrio Não conhecida Boro Ação indireta no metabolismo do cálcio, fósforo, magnésio e colecalciferol LíOO Interfere no metabolismo mineral e de catecolaminas Estrôncio Importante na formação e manutenção dos ossos e dentes Cádmio Não conhecida Arsênio Papel na integridade das células vermelhas; envolvido no metabolismo protéico CAPiTULO 1 17 Tabela 1.7 Sinais e Sintomas Clínicos Relacionados quanto a Deficíência e Toxicidade das Vitaminas Lipossolúveis e Hidrossolúveis24,25 Upossolúveis Vitaminas Deficiência Vitamina A Vitamina D Vitamina E Vitamina K Comprometimento visual; lesões cutâneas; perda de apetite; diferenciação celular comprometida; crescimento anormal dos ossos; inibição do crescimento; perda de paladar Má formação óssea (raquitismo e osteomalacia); encurvamento das pemas e engrossamento das juntas; osteoporose; distúrbios gastrintestinais; maior incidência de fraturas; fraqueza muscular; diminuição de cálcio e fósforo plasmático; aumento da fosfatase alcalina Má absorção ou anormalidades no transporte de fluidos; alterações hepáticas; dores musculares; anemia hemolítica em prematuros Má absorção de lipídios; epistaxes; hipoprotrombinemia plasmática; presença de hemorragia; doença hemorrágica do recém-nascido Toxicidade Remodelamento anormal dos ossos; náuseas e vômitos; fadiga; cefaléia; anorexia; alopecia; edema periférico; gengivite; unhas frágeis; irritabilidade; hepatomegalia; crianças e laclentes: hidrocefalia e vômitos Calcificação óssea; anormalidade dentária; depósito ósseo em cartilagens, músculos e partes moles; anorexia; perda de peso; cefaléia; náuseas; hipercalcemia; hipertensão, arritmias cardíacas; poliúria;lactenles: distúrbios gastrintestinais, fragilidade óssea, retardo mental e no crescimento Náuseas; cefaléia; fadiga; hipoglicemia Doses de 5 a 10 vezes maiores que a recomendação causam hiperbilirrubinemia em recém-nascidos; doença hepática; anemia hemolítica Deficiência Toxicidade DNA = ácido desoxirribonucJéico; RNA = ácido ribonucléico Anorexia, perda de peso; sinais cardíacos e neurológicos; fraqueza; cardiomegalia; paralisia periférica; irritabilidade, depressão; beribéri (alterações cardíacas, musculares e neurológicas, edema de face e extremidades, anorexia, oftalmoplegia e ataxia) Fotofobia; lacrimejamento; queimação e prurido dos olhos; pele seca; fraqueza; anemia normocítica e normocrômica; perda da acuidade visual; dor e queimação dos lábios, boca e língua; neuropatia Pelagra; alterações mentais; fraqueza muscular; diarréia; glossite, estomatite; vaginite; anorexia; lesões cutâneas Prejuizo na síntese de lipídios e produção de energia; fraqueza muscular; cefaléia, astenia; constipação, vômitos, náusea; irritabilidade; anorexia; formigamento (mãos e pés); insônia Anemia; convulsões; fraqueza; insônia; neuropatias periféricas; queilose; glossite; estomatite; diminuição da imunidade Descamação da pele; queda de cabelo; diarréia; anorexia; náuseas; vômitos; glossite; hipercolesterolemia Biossintese prejudicada de DNA e RNA; anemia megaloblástica; anorexia, perda de peso; cefaléia; glossite; diarréia, má absorção; lesões dermatológicas; dermatite. acne, eczema; neuropatia periférica Alteração divisão celular; anemia megaloblástica; anormalidades neurológicas (estágio tardio); constipação; palpitação; glossite; atteraçães neurológicas; aumento no tempo de coagulação sangüinea Escorbuto; distúrbios psicológicos; manifestações hemorrágicas; prejudica a cicatrização de feridas; suscetibilidade a infecções; atteraçães dermatológicas; dores musculares e de juntas; letargia, fadiga; atrofia muscular Hidrossolúveis Vitaminas Vitamina B1 (tiamina) Vitamina B2 (riboflavina) Vitamina B3 (niacina) Vitamina B5 (ácido pantotênico) Doses acima de 400 mg: dores de cabeça; convulsões; arritmia cardíaca; reações alérgicas; náuseas; hemorragia digestiva; edema pulmonar Até o momento, não há relatos sobre seus efeitos tóxicos Liberação de histamina, prejudicial em pessoas com asma; úlcera péptica; hiperuricemia Doses acima 10 g: desconforto; diarréia Neuropatia sensorial Não há relatos sobre toxicidade Doses acima de 15mg tomam o zinco indisponível pela formação de complexos não-absorvíveis no intestino Não há relatos sobre efeito tóxico da cobalamina Diarréia; doses endovenosas de 1 a 1,5 gJdia podem causar hiperoxalúria Vitamina B6 (piridoxina) Vitamina B7 (biotina) Vitamina B9 (ácido fólico) Vitamina B12 (cobalamina) Vitamina C (ácido ascórbico) 18 CAPiTULO 1 Tabela 1.8 Sinais e Sintomas Clínicos Relacionados à Deficiência e Toxicidade dos Minerais26.21 Minerais Cálcio Fósforo Potássio Cloro Sódio Magnésio Ferro Flúor Zinoo Cobre lodo Cromo Cobalto Silicio Vanádio Estanho Selênio Manganês Níquel Molibdênio Chumbo Boro Lítio Estrôncio Cádmio Arsênio Deficiência Sinais de fraqueza; dores ósseas, desmineralização óssea; aumento de fraturas, osteoporose; osteomalacia, raquitismo; diarréia; edema papilar Diminuição do apetite; alteração na função hepática; desorientação, perda de memória; taquicardia; hipoparatireoidismo, hipoglicemia; resistência à insulina; dores ósseas, osteomalacia; hipocalciúria, acidose metabólica Anorexia, vômitos; fraqueza, dores musculares; descoordenação, oonfusão mental; hipotensão, arritrnia cardíaca; dispnéia Vômitos prolongados; doença renal; alcalose metabólica Perda de apetite, diarréia, oligúria; diminuição de peso e crescimento oorpóreo; fraqueza, oonvulsões e morte Anorexia; fraqueza; taquicardia, anitrnia; oonvulsão mental, tremores Anemia hipocrômica, microcitica; alterada função leucocitária; fadiga, taquicardia, cefaléia; glossite, sensação de queimação na língua Cárie dental Alteração do paladar, anorexia; lesões de pele, alopecia; diarréia; retardo no crescimento e na maturação sexual Hiperoolesterolemia, hioperurecemia; anemia, leucopenia e neutropenia; deterioração mental; retardo no crescimento; despigmentação dos cabelos Alterações na glândula tireóide; bócio endêmioo; sonolência; retardo neurofísioo Intolerância à glioose; neuropatia periférica; encefalopatia metabólica; perda de peso; resistência à insulina, hiperglicemia de jejum; hiperlipidemia; glioosúria Anemia pemiciosa com perda vitamina 812 Experimentalmente: alterações ósseas e de cartilagem Não relatada Não relatada Alterações esqueléticas; fraqueza; doença cardíaca; degeneração pancreática; diminuição na resistência Diminuição da reprodução; aborto; anormalidades ósseas Alterações de enzimas hepáticas Taquicardia; taquipnéia; náuseas, vômitos; letargia, cefaléia Diminuição do crescimento; diminuição de ferro sérico, glioose, triglicérides e fosfolípides hepátioos Retardo no crescimento Não relatada Osteoporose senil Não relatada Não relatada em humanos Toxicidade Perda de apetite, náuseas e vômitos; fraqueza muscular, letargia, sonolência, descoordenação motora; retardo no crescimento; anormalidades ósseas; diminuição na função renal Diminuição da imunidade; dano renal; cirrose hepática; diabetes; hipertensão, anitrnia, parada cardíaca; oonfusão mental Falência renal quando o potássio não é excretado; problemas neurológioos; dores musculares Vômitos prolongados; doença renal; diarréia persistente; acidose metabólica; arritrnias cardíacas Oligúria; sede intensa; hipertensão, parada respiratória; cefaléia Diarréia; hipocalcemia transitória Anorexia, paladar metálioo; diminuição de peso; alterações hepáticas; diminuição imunidade Corrosão da mucosa gástrica; dose fatal: 5-10 9 de fluoreto desódio Náuseas, vômitos, dores abdominais; paladar metálioo; deficiência de cálcio e cobre; anemia Anemia hemolitica; doença de Wilson; alteração hepática; náusea, vômitos e hemorragias gastrintestinais; dor abdominal, diarréía Alterações na glândula tireóide; initabilidade; agressividade Não relatada Não relatada Não relatada Diminuição no crescimento; anorexia, diarréia Não relatada Dose superior a 1.500 mg/dia: vômitos; fraqueza muscular; edema pulmonar; alopecia; unhas fracas, dermatite Anemia; desordens psiquiátricas Alterações cardíacas; reações alérgicas; náuseas, vômitos; doi de dente Gota hiperuricêmica (alto oonsumo dietético); hipercuprúria (acúmulo orgânioo) Cansaço, fraqueza, letargia e insônia Náuseas, vômitos; diarréia; dermatite; letargia Não relatada Não relatada Dose fatal: 350 mg; retardo no crescimento; hipertensão; disfunção renal e pulmonar Dose fatal: 0,76-1,95 mglkg peso CAPiTULO 1 19 B~====~~~======~ c "====~ ~~=========~ F Fig. 1.8 - Guias alimentares para orientação alimentar: A: EUA, B: Mediterrâneo, C.· Brasil, O: Pirâmide Alimentar Saudável (Harvard), E: Porto Rico, F: Filipinas 20 CAPíTULO 1 G Fig.1.8 (cont.l- Guias alimentares para orientação alimentar. G: Canadá; H.' Coréia; I: China; J: Suécia; K: Alemanha; L: Reino Unido. CAPiTULO 1 21 Fig. 1.8 (cont.) - Guias alimentares para orientação alimentar. M: Méxi- co; N: Austrália; O: Portugal. 22 consumidos apenas poucas vezes por semana; 5. em ordem decrescente de prioridade, devem ser consumidos diaria- mente: leite e laticínios, azeite de oliva, feijões, nozes e ou- tras oleaginosas, frutas, hortaliças, grãos, batatas, cereais e derivados; 6. a atividade física deve ser realizada regularmen- te; 7. o consumo de vinho deve ser realizado com modera- ção e durante as refeições":".PIRÂMIDE ALIMENTAR SAUDÁVEL Um livro publicado em 2001 sobre orientações para ali- mentação saudável, intitulado "Coma, beba e seja saudá- vel", inclui a Pirâmide Alimentar Saudável, que foi elabora- da pela Universidade de Havard, nos EUA, a partir de exten- sas pesquisas científicas, que visam auxiliar uma melhor qualidade de vida. Segundo estes estudiosos, a Pirâmide Alimentar do USDA (1992) está errada porque ignora as evi- dências que vêm sendo cuidadosamente reunidas durante os últimos 40 anos". O objetivo da Pirâmide é chamar atenção para os alimen- tos conhecidos que comprovadamente melhoram a saúde e reduzem o risco de doenças crônicas não-transmissíveis. A ênfase nas frutas e hortaliças é praticamente o único ponto em comum entre a Pirâmide Alimentar Saudável e a Pirâmide Alimentar do USDA. O novo guia sugere sete mudanças que, segundo os autores, contribuirão para uma vida mais saudá- vel: controle seu peso, coma menos as gorduras saturadas e mais as insaturadas, coma menos carboidratos refinados e mais grãos integrais, escolha fontes de proteínas mais saudá- veis (peixe, ovos, aves, feijão etc.), coma muitas frutas e hor- taliças, controlando a ingestão de batata, use o álcool mode- radamente e tome multivitarnínicos por segurança". GUIA ALIMENTAR PARAA POPULAçÃO BRASILEIRA No início de 1988, em Ribeirão Preto (Brasil), foi propo ta a criação de Normas da Boa Alimentação para a População Brasileira". Após 10 anos, o Instituto Danone retomou a discus- são do assunto, promovendo o workshop Alimentação Equi- librada para a População Brasileira % Pirâmide Alimentar". Em 1999, foi publicado um trabalho que avaliou e adap- tou a pirâmide alimentar elaborada em 1992 nos EUA à rea- lidade profissional brasileira dos grupos de pesquisa em ali- mentação'", Optou-se pela figura da pirâmide para o guia ali- mentar, considerando-se a experiência positiva de outros países que a adotaram e por melhor representar os alimen- tos para alcançar os objetivos propostos pelas orientações nutricionais". Quando sç compara a pirâmide alimentar adaptada (Fig. 1.7) com a norte-americana, verifica-se que as legurninosas foram separadas do grupo das carnes e ovos por não pos- suírem o mesmo valor nutritivo e serem comuns na alimen- tação básica brasileira, indicando-se o consumo de uma por- ção. O número de porções das frutas e hortaliças foi aumen- tado, enquanto a porção de cereais foi reduzida. É importan- te ressaltar que os alimentos de um grupo não podem ser substituídos pelos de outros grupOS32.36. Na pirâmide adaptada, os alimentos estão distribuídos em oito níveis, sugerindo maior quantidade consurnida e importância dos alimentos nos grupos, da base para o topo da pirâmide. Cereais, pães, farinhas, massas, bolos, biscoi- tos, cereais matinais, arroz, féculas e tubérculos (fontes de carboidratos) encontram-se na base da pirâmide e devem CAPiTULO 1 'l compor a refeição em maior quantidade, uma vez que são as principais fontes de energia. Após os cereais, estão as hor- taliças (com exceção das citadas no grupo de pães e cere- ais) e as frutas (cítricas e não-cítricas), que são fontes de vitaminas e minerais. A seguir, têm-se os grupos de alimen- tos ricos em proteínas, ferro, cálcio e vitaminas (legu- minosas, carne e ovos, leite e derivados). Os grupos dos óleos e gorduras (margarina, manteiga, óleo) e dos açúcares e doces (doces, mel e açúcares) encontram-se no topo da pirâmide, mas também estão presentes na composição e na preparação dos alimentos; por isso, eles estão em todos os níveis da pirãrnide'ê". Para cada grupo de alimentos, foi de- terminado um número mínimo e máximo de porções que va- riam de acordo com as calorias das dietas-padrão calculadas para elaboração desse guia alimentar (Tabela 1.9)32. OUTRAS FORMAS GRÁFICAS DE GUIAS ALIMENTARES Em alguns países, a representação gráfica do guia ali- mentar apresenta forma variada, como ocorre no Canadá, no Reino Unido, na Alemanha, no México, na Coréia, na Chi- na, na Suécia e em Portugal. Veja na Fig. 1.7 alguns exem- plos desta variação gráfica30,32,34,44,54. Tabela 1.9 Exemplo de Padrões Alimentares para um Dia em Três Níveis de Calorias Grupos de alimentos Calorias Dieta de 1.600 kcaJa Dieta de 2.200 kcaP Dieta de 2.800 kcaf Porções Porções Porções Grupo de pães e cereais 5 7 9 Grupo de hortaliças 4 4 5 r Grupo de frutas 3 4 5 Grupo de carnes e ovos 1 e 1/2 2 Grupo de leite e derivados 3 3 3 Grupo de legurninosas Grupo de óleos e gorduras 1 e 1/2 2 Grupo de doces e açúcar 1 e 1/2 2 aMulheres sedentárias e idosos; b a maioria das crianças (a partir de 2 anos de idade), adolescentes do sexo feminino, mulheres ativas e muitos homens sedentários. Gestantes ou nu/rizes podem necessitar mais de calorias; c adolescente do sexo masculino, homens ativos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Beaton G. Ingestão dietética recomendada: indivíduos e popu- lações. In: Shils ME, Olson JA, Shike M, Ross AC, eds. Tra- tado de nutrição moderna na saúde e na doença. 9' ed. São Pau- lo: Manole; 2002. p. 1829-30. 2. Philippi ST, Guia alimentar para o ano 2000. ln: De Angelis RC, ed. Fome Oculta - Impacto para a população brasileira. São Paulo: Atheneu; 1999. p. 43-50. 3. Instituto Danone. Alimentação equilibrada para a população brasileira (workshop); 1998, rnai 15-16; Florianópolis, Brasil. Disponível na URL: http://www.institutodanone.org.br/ al.irnentacao_br.pdf. Acessado em 25/07/03. 4. Achterberg C, McDonnell E, Bagby R. How to put the Food Guide Pyramid into practice. J Arn Diet Assoe 1994; 94(9): 1030-5. 5. Waitzberg DL, Galizia MS. Carboidratos. ln: Waitzberg DL, ed. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 3' ed. 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