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Sistema locomotor II

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MEDICINA DE GRANDES ANIMAIS I – EQÜINOS 
Prof. Dr. Neimar Roncati 1 
SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO II 
 
TENDÕES 
 
TENDINITE, TENOSINOVITE OU DESMITE – Esta talvez seja uma das afecções 
mais comuns na clínica médica eqüina, ligada ao sistema locomotor. Trata-se de uma 
inflamação no tecido que compõem os tendões, suas inserções musculares ou ainda nos 
ligamentos que compõem este aparelho. O termo tenossinovite refere-se à inflamação tanto 
do tendão como de sua bainha, diferente do acometimento do tendão e do paratendão, o 
qual se denomina tendinite. 
Na clínica de eqüinos, freqüentemente utiliza-se o termo tendinite para as afecções 
tendíneas relacionadas aos tendões digitais flexores, tanto por serem as estruturas mais 
acometidas como por serem as mais requeridas durante os esforços atléticos, portanto mais 
predispostas aos resultados dos requerimentos excessivos. Sem dúvida o tendão flexor 
digital superficial é o mais acometido, seguido do ligamento suspensor do boleto e por 
último do tendão flexor digital profundo. 
As tendinites podem ser classificadas segundo sua posição de apresentação, ou seja: 
• Alta = logo abaixo do carpo ou tarso; 
• Média = no terço médio do metacarpo ou metatarso; 
• Baixa = terço distal do metacarpo ou metatarso logo acima da articulação com as 
falanges. 
Certamente o aparecimento das tendinites esta intimamente relacionada ao estresse causado 
pela utilização física excessiva. Muitos podem ser os graus de acometimento dos tendões, 
podendo variar de uma injúria leve e sem sinais clínicos à ruptura total do tendão. 
Tipicamente, seguido ao trauma agudo dos tendões, pode-se notar hemorragia capilar, 
edema, acúmulo de fibrina e inchaço local. O acúmulo de transudato em meio ao tecido 
tendíneo pode agarretar num desarranjo das fibras. 
História – claudicação normalmente de leve à moderada; treinamentos ou provas 
excessivas, em terrenos irregulares, pesados, etc.; diminuição do desempenho atlético. 
Sinais clínicos – O aumento de volume na região posterior ao metacarpo ou metatarso 
seguido de claudicação podem ser os sinais mais evidentes. A inspeção direta revela 
aumento de volume e inchaço na região dos tendões, assim como a presença de claudicação 
(ou não) quando o animal movimenta-se em círculo sobre o membro afetado. Através da 
inspeção indireta, pelo exame de ultra-sonografia, pode-se visualizar desarranjo das fibras 
tendíneas, exame este importante na avaliação da extensão das lesões assim como no 
prognóstico do retorno às atividades. A avaliação por palpação da região afetada denota 
aumento de volume, aumento de temperatura e freqüentemente dor. A palpação dos tendões 
deve ser realizada tanto ao apoio como com a suspensão do membro afetado. 
Tratamento – existem dezenas de condutas terapêuticas diferentes para o tratamento das 
injúrias de tendão, mas obviamente a escolha em determinado tipo depende muitas vezes de 
fatores como: tipo de lesão, severidade do quadro, adequação ao repouso prolongado 
(difícil para animais em desempenho), fármacos disponíveis, etc. Os resultados de qualquer 
terapia limitam-se à substituição do tecido tendíneo lesionado, cuja constituição baseia-se 
em fibras colágenas do tipo I, por fibras do tipo III, que notoriamente são menos flexíveis e 
menos elásticas. Basicamente deve-se repousar evitando qualquer exercício físico (podendo 
realizar programas de fisioterapia para evitar aderências), aplicar bolsas de gelo no local – 
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inicialmente em períodos menores do que 20 minutos e após as 48 horas de evolução das 
lesões pode utilizar a mesma terapia em períodos maiores do que 30 minutos (vasodilatação 
reflexa), utilizar antiinflamatórios não esteroidais sistêmicos (fenilbutazona = 2,2mg/kg – 
BID por 7 a 14 dias ou Ketoprofeno = 2,2mg/kg – SID), pode-se utilizar pomadas 
antiinflamatórias seguidas de bandagem local. Recentemente tem-se utilizado a infiltração 
com Hyaluronato de sódio ao redor das lesões – o que resultaria em um menor número de 
aderências e recuperação mais rápida do arranjo de fibras tendíneas. 
 
 
SISTEMA MUSCULAR 
 
MIOPATIAS (MIOSITE) DOS CAVALOS ATLETAS – Esta é uma doença que pode 
afetar os eqüinos de qualquer idade, sexo e raça, sendo mais comum em animais em maior 
atividade física , portanto na fase de 2 a 15 anos, podendo se demonstrar etio e 
patogenicamente em diferentes e variadas maneiras. Para agruparmos de uma maneira 
didática e abrangente, podemos dividir os distúrbios musculares em miosites agudas ou 
tardias. 
As miosites agudas são aquelas que se iniciam antes da depleção total das reservas de 
glicogênio e portanto antes da falta de energia, que pode estar armazenada no próprio 
músculo, em contrapartida nas miosites tardias existe uma depleção das reservas de energia, 
substrato este importante tanto na contração como no relaxamento muscular. 
Em qualquer tipo de exercício, tanto de alta como de baixa intensidade, existe a 
necessidade de adequada perfusão tecidual para além de quebrar o glicogênio armazenado, 
haver uma utilização completa frente a oxigenação adequada; caso isto não ocorra existe 
um acúmulo inadequado de catabólitos e portanto um acúmulo de ácido lático, que pode 
causar vasoespasmo e irritação tecidual. 
Muitos podem ser os fatores predisponentes destas afecções como: predisposição genética, 
condicionamento atlético, trabalho inadequado, desidratação, fornecimento excessivo de 
dietas energéticas (grãos). 
História – trabalho excessivo ou inadequado, fadiga ou baixo desempenho. 
Sinais clínicos “face ansiosa”, comportamento de irritação, fasciculação muscular, 
claudicação, relutância para caminhar ou diminuição das fases de elevação dos andamentos, 
mioglobinúria e dor são os principais sintomas. A inspeção clínica demonstra um animal 
fatigado e com sinais de dor; frente à palpação muscular pode-se notar aumento do 
tônus/tensão muscular e dor muscular. Os sinais clínicos vitais normalmente estão 
alterados, como por exemplo – aumento da freqüência cardíaca e respiratória, aumento do 
tempo de preenchimento capilar, alteração da temperatura corpórea, etc. Como exames 
complementares pode-se requerer hemograma (atenção ao hematócrito), ionograma e perfil 
muscular através da dosagem das enzimas musculares (AST = aspartato aminotransferase e 
CK = creatina-kinase). 
Tratamento – vários tratamentos têm sido recomendados na dependência do quadro 
apresentado por cada paciente. Recomenda-se repouso de 2 a 8 semanas e retorno ao 
trabalho lenta e progressivamente. Basicamente os quadros severos de qualquer afecção 
muscular devem incluir Fluidoterapia através de soluções hidroeletrolíticas balanceadas 
(ex.: Ringer e Ringer Lactato) somadas a suplementação sistêmica de cálcio. 
Antiinflamatórios como a Fenilbutazona e o Flunixin Meglumine podem ser indicados nos 
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3 a 5 primeiros dias da afecção. Xylasina (0,2mg/kg) pode ser utilizada até diminuição dos 
sintomas de contratura muscular, assim como a Acepromazina (5-15mg/450kg) pode 
atenuar os espasmos musculares e promover a vasodilatação periférica, evitando até uma 
complicação secundária como a Laminite.

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