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1 CAUSALIDADE EM EPIDEMIOLOGIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE FARMÁCIA DISCIPLINA FAR 602 - EPIDEMIOLOGIA NOVEMBRO, 2017. •A principal finalidade da epidemiologia é orientar na prevenção e no controle de doenças e na promoção da saúde, identificando as causas e as formas de evitar a doença. •Identificar as causas é importante também para o diagnóstico e o tratamento. INTRODUÇÃO HISTÓRICO DAS TEORIAS SOBRE CAUSAS DE DOENÇAS Explicações para as causas das doenças variam conforme cultura e momento histórico Antiguidade Idade média Final séc. XVIII Metade do séc. XIX concepção religiosa desequilíbrio entre 4 elementos corporais (Fleuma, sangue, bile amarela e negra) teoria dos miasmas causação social bacteriologia Hipócrates TEORIA DOS QUATRO HUMORES Segundo a doutrina dos quatro humores, o sangue é armazenado no fígado e levado ao coração, onde se aquece, sendo considerado quente e úmido; a fleuma, que compreende todas as secreções mucosas, provém do cérebro e é fria e úmida por natureza; a bile amarela é secretada pelo fígado e é quente e seca, enquanto a bile negra é produzida no baço e no estômago e é de natureza fria e seca. Inicialmente, a epidemiologia foi influenciada por conceitos UNICAUSAIS da determinação das doenças, derivados principalmente do desenvolvimento da microbiologia http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/08_01.html A cada doença infecciosa deveria corresponder um agente etiológico específico. Malária Tuberculose Doença de Chagas Essa concepção da UNICAUSALIDADE das doenças tinha, entre seus principais referenciais teóricos, os chamados Postulados de Koch, originalmente formulados por Henle (1840) e adaptados por Robert Koch, em 1877. 2 Década de 1880 - fruto da revolução microbiológica: - Predomínio de doenças infecciosas - Estabelecia os seguintes critérios para o microrganismo ser considerado patogênico: 1- O agente deve estar presente em todos os casos da doença em questão (causa necessária) 2- O agente não deve ocorrer de forma casual em outra doença (especificidade do efeito) 3- Isolado do corpo, cultivado em meio de cultura pura e inoculado em susceptíveis deve causar doença (causa suficiente) POSTULADOS DE HENLE-KOCH Críticas: • Existe o estado de portador • Certos fatores podem ter múltiplos efeitos • Certos agentes podem ser difíceis de crescer em cultura • Evidências empíricas da multicausalidade • Inadequado para doenças crônicas POSTULADOS DE HENLE-KOCH MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO É através da mensuração da diferença do risco entre expostos e não expostos a determinado fator que é possível medir a associação entre a exposição a esse fator e um determinado efeito. http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/08_02.html ASSOCIAÇÃO E CAUSALIDADE • Os únicos estudos epidemiológicos que podem definitivamente estabelecer causalidade são os estudos experimentais. • Isso se deve basicamente a alocação aleatória, que resulta em grupos provavelmente comparáveis em todos os sentidos, menos na exposição em estudo. • Os estudos experimentais permitem fazer uma inferência probabilística. A maioria das associações encontradas na análise de qualquer estudo epidemiológico não são causais. ASSOCIAÇÃO • Quando um fator e um desfecho tem uma relação entre si pode-se afirmar que há uma ASSOCIAÇÃO entre eles. • Por associação subentende-se a existência de uma dependência estatística entre dois eventos, características ou outras variáveis. • O tamanho da associação é medido pela epidemiologia através da mensuração de razões. 3 EFEITO • Diz-se que há um efeito quando determinado fator CAUSA um desfecho. • Para isto é preciso que sejam preenchidos uma série de critérios de causalidade dos quais o mais importante é a temporalidade dos fatos. TIPOS DE ASSOCIAÇÃO • Espúria ou real não causal - uma associação estatística pode ser forte e, ainda assim, não ser causal. Ex. Síndrome de Down Síndrome de Down Ordem de nascimento Idade da mãe Exposição/ suposta causa Doença/ suposto efeito Variável de confundimento Relação não-causal ou espúria • Mancha nos dedos do fumante e bronquite crônica • Consumo de café e câncer de Pulmão TIPOS DE ASSOCIAÇÃO • Causal direta - direta ocorre quando o fator em consideração exerce seu efeito sem fatores intermediários. Ex: Tabagismo e o câncer de pulmão Câncer de pulmão Tabagismo Exposição/ suposta causa Doença/ suposto efeito Relação Causal • Cigarro e bronquite crônica • Rubéola na gravidez e anomalia congênita • Úlcera péptica e estresse • Anticoncepcional oral e tromboembolismo TIPOS DE ASSOCIAÇÃO • Causal Indireta - ocorre quando um fator influencia um ou mais fatores, que são por sua vez, causas diretas. Ex: doença periodontal e cardiovascular Exposição/ suposta causa Doença/ suposto efeito Causa intermediária/ interveniente Inflamação crônica Doença periodontal Doenças do aparelho cardiovascular 4 CAUSALIDADE Definição de causa Qualquer evento, condição ou característica que desempenhe uma função essencial na ocorrência da doença. FATORES NA CAUSALIDADE Fatores Predisponentes: (podem aumentar a susceptibilidade ao agente da doença) •Idade, gênero, história familiar, ambiente de trabalho Fatores Facilitadores: (podem favorecer o desenvolvimento da doença) •Baixa renda, desnutrição, má habitação Fatores Precipitantes: (podem associar-se ao início da doença) •Exposição a um agente específico ou um agente nocivo Fatores Reforçadores: (podem agravar a doença) •Exposição a um fator específico da doença, stress, acidente 4 fatores desempenham um papel na ocorrência das doenças: todos podem ser necessários, mas raramente são suficientes para causar uma doença em particular NÍVEIS HIERÁRQUICOS DE CAUSALIDADE Determinantes Distais: • Renda, escolaridade... Determinantes Intermediários: • Moradia, Serviços de saúde, meio ambiente... Determinantes Proximais: • Estado nutricional, estilo de vida As múltiplas causas e fatores de risco podem ser apresentados de uma maneira hierárquica, onde alguns são: Como saber se um fator de risco é realmente um fator causal? Fator de Risco Desfecho Clínico Fator Causal Doença CRITÉRIOS DE CAUSALIDADE DE HILL Critérios que procuram distinguir uma associação causal de uma não causal São eles: • Temporalidade • Plausibilidade • Consistência • Força de associação • Gradiente biológico ou relação dose-resposta • Evidência experimental • Especificidade • Coerência • Analogia 5 ORDEM DECRESCENTE DE IMPORTÂNCIA • Temporalidade • Evidências experimentais • Gradiente biológico • Força da associação • Plausibilidade biológica • Consistência • Coerência • Analogia • Especificidade FORTES MÉDIOS FRACOS CRITÉRIOS DE HILL Temporalidade: A causa antecede o efeito? •No dia-a-dia, a causa deve estar presente antes de seus efeitos, pelo menos por um instante. •Estados subclínicos(das doenças) podem estar presentes por muito tempo antes da detecção do(s) efeito(s). Plausibilidade Se o efeito hipotético é plausível diante do conhecimento biológico vigente Consistência ou Replicação Se o mesmo resultado é obtido em diferentes circunstâncias. Repetição dos achados em diferentes estudos em populações distintas Ex.: A maioria, senão a totalidade dos estudos sobre câncer de pulmão, detectou o fumo como um dos principais fatores associados a esta doença. CRITÉRIOS DE HILL Força de Associação • Qual a força de associação entre a causa e o efeito? Fator Frequência de doença Medidas de risco: Risco Absoluto, Risco Relativo, Odds ratio, Risco Atribuível Populacional Ex. Estudo de Malcolm sobre fumo em adolescentes mostrou que a força da associação entre o fumo do adolescente e a presença do fumo no grupo de amigos foi da magnitude de 17,5 vezes. CRITÉRIOS DE HILL Relação Dose-resposta – Gradiente biológico • O aumento da exposição para uma possível causa está associado com o aumento do efeito? Ex: Os estudos prospectivos de Doll e Hill (Doll, 1994) sobre a mortalidade por câncer de pulmão e fumo, entre médicos ingleses, tiveram um seguimento de 40 anos (1951- 1991). Evidência Experimental • Pesquisas em laboratórios (animais). • É conhecido poder da experimentação na avaliação da causalidade. Cigarro por dia RR 1 a 14 8 15 a 24 20 25 ou + 32 Especificidade – quase inútil... • Uma causa é específica para um determinado efeito se a introdução de um suposto fator causal é seguida da ocorrência do efeito e sua remoção implica a não ocorrência do efeito. • Um fator uma causa (muito difícil) Ex.: Poeira da sílica e formação de múltiplos nódulos fibrosos no pulmão (silicose). Coerência – conservador... • O critério é satisfeito quando a associação encontrada não entra em conflito com o que é conhecido da história natural e biologia da doença. Analogia – serve mais para quebrar a resistência a um novo conhecimento ... • Uma droga utilizada causa mal-formação congênita, portanto, por analogia, uma droga semelhante poderia apresentar o mesmo efeito - Isto realmente existe? CRITÉRIOS DE HILL CAUSALIDADE CAUSA SUFICIENTE • Quando inevitavelmente produz ou inicia uma doença (geralmente não é um fator isolado) Ex.: Fumar é um componente da causa suficiente para câncer de pulmão CAUSA NECESSÁRIA • Fator tem que estar presente para ocorrência da doença. Ex.: Bacilo de Koch e tuberculose. CAUSA CONTRIBUINTE ou COMPONENTE • Colabora para o aparecimento da doença, mas não é necessária nem suficiente. Ex.: Sedentarismo e doença cardiovascular 6 MODELO DE ROTHMAN http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/08_01.html ESPECTRO DAS DOENÇAS Formas Clínicas • Grave • Moderada • Leve Forma Assintomática TIPOS DE ASSOCIAÇÕES E APLICAÇÕES Causal e não causal • Prevenção • Diagnóstico • Tratamento • Novas intervenções MEDIDAS DE CONTROLE • Educação em saúde • Quimioprofilaxia • Tratamento do paciente • Fonte de infecção • Vacinação 7 BIBLIOGRAFIA - Bensenor, Isabela M. e Lotufo, Paulo A. (2005), Epidemiologia: abordagem prática. São Paulo, SARVIER. - Franco, Laércio Joel e Passos, Afonso D.C. (2005), Fundamentos de Epidemiologia. São Paulo, Manole. - Gordis, Leon (2000) Epidemiologia. Rio de Janeiro, Revinter. - Medronho, Roberto A. (2009), Epidemiologia. São Paulo, Atheneu. - Pereira, Mauricio Gomes (1995), Epidemiologia Teoria e Prática. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.
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