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A APROPRIAÇÃO PELO CAPITAL DO TRABALHO INFORMAL FEMININO NA VENDA DIRETA DA EMPRESA AVON
Maria da Conceição Silva Felix – UFCG – conceicaofelix@oi.com.br. 
Ana Cristina Brito Arcoverde – UFPE – ana.arcoverde@gmail.com. 
RESUMO
O presente artigo, parte da pesquisa de doutoramento em Serviço Social, ainda em curso, da Universidade Federal de Pernambuco, tem por objetivo analisar o trabalho das mulheres, revendedoras, na atividade de venda direta da Avon. Procura-se, assim, compreender, a partir das discussões de Lobo (2011), Bruschini (1990), Nogueira (2004), entre outros, como e por que estas se submetem a uma atividade altamente precarizada, desprotegida quanto aos seus direitos trabalhistas e que não lhes garante uma perspectiva de futuro. A metodologia utilizada até aqui foi o levantamento bibliográfico e aproximações com alguns sujeitos da pesquisa para conhecermos mais de perto esta atividade. Para o capital, a venda direta é uma das modalidades do trabalho informal utilizada para subsumir as atividades que ainda estavam fora de seu processo de acumulação, assim como para camuflar o desemprego. Para as mulheres, a venda direta tem sido uma forma de “driblar” a falta de emprego para suprimento de suas necessidades que são negligenciadas pelos seus maridos/companheiros, reforçada pelo fato de o trabalho doméstico da mulher não ter uma retribuição em dinheiro. Como resultados parciais, pode-se afirmar que a facilidade de inserção nesta atividade é um dos pontos fundamentais para o crescimento desse mercado e é nesse segmento que muitas mulheres vêm se engajando, pois o trabalho é desenvolvido em horários flexíveis, o que facilita muito para as donas de casa, mães, etc., já que têm que dividir seu tempo com as atividades domésticas, atividades que, historicamente ficam sob sua responsabilidade.
Palavras – chave: Trabalho informal. Venda direta. Mulheres. Avon.
1 Introdução
	Neste trabalho intitulado “a apropriação pelo capital do trabalho informal feminino na venda direta da empresa Avon” propomo-nos a analisar o trabalho das mulheres, revendedoras, na atividade de venda direta da Avon.
O interesse pela temática surgiu diante da observação no cotidiano do grande número de mulheres que estão inseridas no mercado de trabalho informal, na cidade de João Pessoa-PB, através da venda direta, como revendedoras dos produtos de beleza da empresa Avon, cuja distribuição desses produtos é feita diretamente ao consumidor.
A pertinência em analisar o trabalho desenvolvido por mulheres como revendedoras das empresas de venda direta, em especial a Avon na fase atual de globalização foi a comprovação de que esse setor tem demonstrado um crescimento incessante nos últimos vinte anos e vem se apresentando como um promissor mercado de trabalho e de consumo, tendo quadruplicado de tamanho, segundo levantamento da Associação Brasileira de Venda Direta – ABEVD. O faturamento deste setor segundo esta associação, no Brasil, ultrapassou R$ 5,3 bilhões em 2000 e passou para R$ 21,9 bilhões em 2009. 
	A Avon é uma empresa americana de capital aberto fundada em 1886, e no Brasil, o trabalho de venda direta da empresa teve início em 1958. Desde sua fundação, cerca de 40 milhões de mulheres já revenderam os produtos da marca. Só em 2010 a empresa alcançou um faturamento líquido de aproximadamente US$ 10.9 bilhões, tendo os Estados Unidos, Brasil, México, Rússia e Inglaterra como principais mercados no mundo. Um dado apresentado pela Associação de Venda Direta – ABEV demonstra o poder de venda da Avon: a cada três segundos um batom da marca é vendido em algum lugar no mundo. A empresa possui mais de vinte fábricas espalhadas em quinze países e além de produtos de beleza, a Avon vende roupas, livros, bijuterias, produtos para casa, produtos infantis entre outros.
A venda direta, um sistema de comercialização de bens de consumo e serviços diferenciados, baseado no contato pessoal, entre vendedores e compradores, fora de um estabelecimento comercial fixo, hoje atinge dimensões globais envolvendo os mais diversos setores da economia e de modalidade de produtos. 
Trata-se de uma forma de atividade majoritariamente realizada por mulheres, que almejam um rendimento financeiro para satisfazer as necessidades materiais de seu cotidiano. 
Neste estudo concebemos a venda direta como um caso de trabalho informal, porque não existe um vínculo empregatício, em que se utiliza de catálogos ou outros meios, para a realização das vendas. A relação ocorre mediante um contrato comercial de compra e venda de produtos, que se estabelece entre a indústria e o revendedor autônomo.
A autonomia, para muitas delas, é assegurada pelo trabalho, e este visto como meio de liberação da mulher. Daí a importância que adquiria a atividade da venda direta.
Mas é possível perceber então que essas “novas” modalidades de trabalho, ao invés de significarem alguma autonomia ou liberdade mediante os ditames do capital, na verdade elas se devem em grande parte ao aumento do número de trabalhadores desprotegidos socialmente, que devido às elevadas taxas de desemprego, têm sido obrigados a aceitar formas de trabalhos precarizado que estão sendo recriados constantemente pelo capital com o principal objetivo de obter maiores taxas de lucros para o conjunto da classe capitalista.
Na atual etapa de acumulação o capital para dar respostas a sua crise, apresenta algumas características, como a flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões de consumo; surgimento de serviços financeiros e novos mercados; manutenção de taxas altamente intensivas de inovação comercial, tecnológica e organizacional e valorização do trabalho no setor de serviços, são exemplos de algumas dessas características.
Nossa pesquisa trata de uma “nova-velha” modalidade de trabalho em atividades de serviços no setor do comercio, o das revendedoras de produtos das empresas Avon, conhecida como venda direta. Após as primeiras aproximações com a temática a partir da revisão da literatura ligada a temática de gênero (Elisabeth Lobo, Helena Hirata, Claudia Mazzei, Heleieth Saffiotti, Alexandra Kolantai), entendemos que o trabalho nestas atividades de serviço está interligada com as mudanças ocorridas no mundo da produção e do trabalho a partir da Reestruturação Produtiva, desencadeada a partir da crise global do capitalismo desde meados da década de 70 do século XX e cujas consequências são distintas para homens e mulheres.
Uma das mudanças significativas no mundo do trabalho diz respeito ao aumento da informalidade do mercado de trabalho tendo em vista que como as atividades ligadas ao setor informal são mais flexíveis, as mulheres tendem a adaptar-se melhor, principalmente por possibilitarem a conciliação entre as funções domésticas e as profissionais, já que estas atividades permitem horários flexíveis e a possibilidade de serem executadas em casa. E essa polivalência própria do trabalho feminino que as mulheres trazem tanto no trabalho produtivo como no reprodutivo, e do sentido de empreendedor a elas atribuído, o capital tem se apropriado. 
Esse cenário, apoiado a divisão sexual do trabalho, continuará sendo explorado pelo capital, desde que essas habilidades e diferenciação forem fonte de lucros e diante de um mundo de serviços, os consumidores atuais prezam pelo atendimento personalizado, relacionamento individual e empatia, características que são identificadas como genuinamente femininas e que são reforçadas pelas empresas de venda direta, no momento do treinamento de seus revendedores.
Este fenômeno conhecido como divisão sexual do trabalho, é considerado como a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais de sexo, adaptada historicamente e a cada sociedade, tendo como características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva.
Essas empresas cresceram em virtude de sua capacidade de resolver dois problemas: permitir aos empresários capitalistas o acesso a um grande númerode trabalhadores sem custos substanciais de manutenção de uma relação empregatícia, e permite a esses trabalhadores, uma oportunidade de trabalho e de renda. 
O capital, por sua vez, se utiliza da venda direta para reduzir seus custos, podendo desta forma, ser considerada uma forma mais sofisticada de subordinação do trabalho ao capital, e hoje a subordinação é mais sutil e refinada.
2 A importância do trabalho informal feminino para o capital
A adaptação das empresas aos novos tempos se tornou um caminho sem volta, uma questão de sobrevivência. Os novos tempos exigiram delas o desenvolvimento de ideias inovadoras e eficazes para enfrentarem a concorrência, pois com a recessão deflagrada na década de 1970 (1973) houve uma ruptura com o fordismo, levando-as a adotarem um sistema produtivo mais racional (principalmente a necessidade de corte de pessoal) e a introduzirem novas formas de gestão do trabalho, o que comumente é chamado de modelo flexível, que veio para confrontar a rigidez do fordismo e se baseia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo.
A busca por mão-de-obra barata, junto com a flexibilização da legislação trabalhista, encontrou um terreno fértil em vários países e regiões incentivada pelas desigualdades sociais (classe, raça e gênero), para atrair investimentos diretos, sendo funcional para a produção globalizada.
Em meados dos anos de 1970, a economia mundial passou por uma fase de profundas transformações, entre outros fatores, - na esfera econômica, no plano macroeconômico -, devido à queda da lucratividade do capitalismo nos países centrais, o choque do petróleo gerado pelo súbito aumento nos preços pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em 1973 e 1979, a recessão cíclica de 1972-1975, a crise fiscal do Estado de Bem-Estar que, segundo Pereira (2004, p.113) “foi causada não só pelo aumento das medidas de compensação ao desemprego – que se tornou elevado –, mas também pelo fato de que o desemprego tinha um impacto multiplicador sobre uma ampla gama de gastos sociais”.[1: O ciclo econômico consiste na aceleração e desaceleração sucessivas de acumulação (MANDEL, 1985, p. 75).]
	Trata-se, segundo Antunes (2003), de uma crise mundial que vai além do âmbito do processo de trabalho para se inserir em todas as esferas da produção, colocando em xeque as formas de regulação baseadas no modelo fordista/keynesiano, e que se configura como uma crise estrutural do capital e da produção de mais-valia, principal objetivo do modo de produção capitalista.
Diante da crise, o modelo fordista de organização do processo de trabalho tornou-se ineficiente como mecanismo de aumento de lucratividade do capital, sendo viável a introdução de algumas medidas que fossem capazes de recuperar suas taxas de produtividade, sem aumentar o volume de produção, baseado na introdução de novas tecnologias, tendo como desafio aumentar a produtividade do trabalho num quadro econômico recessivo, marcado pela necessidade de redução da produção de mercadorias e de estoques.
Para responder à crise, inicia-se, pelo capital, um processo profundo de reestruturação da nova forma de organização do processo de produção de mercadorias.
Desta forma todas essas mudanças só puderam ser efetivadas graças a um conjunto de políticas estatais que flexibilizaram os obstáculos ao livre mercado, tendo como base os ajustes nos gastos públicos, afetando as políticas sociais e a classe trabalhadora, eliminando sistematicamente as regulamentações protetoras de direitos básicos. 
Isso gera novos tipos de relação (no mercado de trabalho) entre capital e trabalho, criando novas modalidades de “relações trabalhistas”, como: trabalho autônomo, de tempo parcial, temporário, a domicílio e o trabalho informal.
Embora os operários formem um grupo mais atingido pela redução e precarização dos empregos e que este movimento atinge o conjunto de trabalhadores assalariados, as mulheres constituem a categoria que majoritariamente permanece mais vulnerável a esse fenômeno. 
	Para as mulheres, esta conjuntura, aliada a sua condição de desigualdade nas sociedades, sobretudo as de capitalismo tardio, enfrentam com mais dificuldades os processos de globalização e de liberalização da economia, pois quando se inserem no mercado de trabalho são contratadas com salários inferiores aos dos homens, e em condições precárias. 
Para a classe trabalhadora feminina, a adoção de novas formas de trabalho, dentre elas o trabalho informal, teve o efeito de acentuar a precarização das relações e condições de trabalho, com a ampliação do trabalho assalariado sem carteira assinada, e do trabalho independente (por conta própria), bem como a ausência de contribuição à Previdência Social e, portanto, sem direito à aposentadoria, além da perda dos benefícios sociais legalmente assegurados.
O crescimento da informalidade deve ser compreendido no contexto do mercado de trabalho, onde prevalecem altas taxas de desemprego e baixa geração de postos formais de trabalho.
O trabalho informal sendo fruto das mudanças macroeconômicas, sendo as mais importantes: a abertura comercial, a integração regional, as privatizações, a desregulamentação financeira e a estabilização monetária, em que estas últimas levaram à redução de empregos e salários, muitas empresas buscaram a redução de custos pela precarização dos vínculos informais de trabalho o que piora as condições dos empregos remanescentes debilitando os mecanismos legais e sindicais de regulação do uso do trabalho (RODRIGUES, 2005, p. 30). 
Concentrando-se cada vez mais na racionalização dos custos, o capital vai construindo um padrão de reestruturação em que a desregulamentação do trabalho é ponto fundamental para que as empresas se adaptem à nova ordem mundial de competitividade, utilizando-se do trabalho informal, por ser um instrumento que predomina nas relações de trabalho precárias (sem proteção social). 
Nogueira (2004) constata que dentre todas as metamorfoses que vêm ocorrendo no mundo do trabalho nos últimos tempos, talvez seja a sua "feminização", uma das mais importantes. Ao analisar o processo dialético da crescente inserção da mulher no setor produtivo, a autora observa tratar-se de mais um movimento contraditório dentro da lógica da relação capital-trabalho, pois, se permite avançar no difícil processo de emancipação feminina e, desse modo, minimizar as formas de dominação patriarcal no espaço doméstico. Essas transformações também vêm agravando significativamente a precarização da mulher trabalhadora. 
Para Oliveira (2007), tratar da temática do trabalho, segundo uma perspectiva de gênero, implica em utilizar a terminologia "trabalho da mulher" e não "trabalho feminino". Tal distinção é crucial para o entendimento das características do trabalho da mulher que engloba, tanto a participação na produção social como o trabalho reprodutivo exercido no espaço privado da família.
Apesar de o número de mulheres chefes de família vir aumentando, na sociedade brasileira essa demanda ainda gera conflitos e cobranças. O sucesso profissional e financeiro do homem é culturalmente associado a virilidade e à masculinidade (questão de ser o provedor), e embora as mulheres ocupem e disputem com competência o mercado de trabalho, ainda é cobrada delas a eficiência na gestão do espaço doméstico, de cuidado com a família e de realização da vida amorosa a partir do casamento.
O IBGE (2005) mostra que a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho não reduziu a jornada delas com os afazeres domésticos. Pelo contrário, na faixa etária de 25 a 49 anos de idade, onde a inserção das mulheres nas atividades remuneradas é maior, e que coincide com a presença de filhos menores, o trabalho doméstico ocupa 94,0% das mulheres. 
Segnini (1998, p.178) revela que os espaços privados e as tarefas domésticas passam a ser um elemento qualificador, pois possibilitam à mulher desenvolver habilidades requeridas e valorizadas para arealização do trabalho flexível, como destreza, tarefas repetitivas, paciência e atenção. 
Para Lobo (2001), no caso da divisão sexual de funções e tarefas incidem tanto estratégias de utilização (apropriação) do corpo, através de suas “qualidades” naturais ou sociais, como representações de qualidades. Assim, a paciência, os dedos ágeis e a resistência à monotonia, são considerados próprios da força de trabalho feminina. Segundo a autora, vários autores observam que a própria qualificação é sexuada, e reflete critérios diferentes para o trabalho realizado por homens e mulheres, ocorrendo frequentemente uma desqualificação do trabalho feminino, assimilado a dons naturais, desconsiderando-se o treinamento informal. 
Algumas atividades requerem qualidades femininas, como é o caso da venda direta. Dentre essas qualidades encontram-se, o sentido prático, a empatia, conhecimento do produto (pois geralmente são também consumidoras) e eficiência no uso do tempo, pois são acostumadas com a dupla jornada de trabalho.
O capital tem tirado proveito do acirramento da polivalência e das características próprias do trabalho feminino; das experiências que as mulheres adquirem tanto no trabalho produtivo como no doméstico (reprodutivo), e do sentido empreendedor a elas atribuído. Isto está relacionado à divisão sexual no âmbito da própria família.
A forma como o capital incorpora o trabalho feminino, cujas características, como a polivalência e a multiatividade, são decorrentes das suas atividades no espaço reprodutivo, o que as torna mais apropriadas às novas formas de exploração pelo capital produtivo (NOGUEIRA, 2004, p. 88).
A maior parte destas atividades no âmbito doméstico é realizada por mulheres de forma gratuita e, ainda que também sejam necessárias para atender as necessidades humanas, quando não pela valorização do mercado não são remuneradas. Assim, enquanto as tarefas do cuidado se efetuam geralmente no âmbito doméstico, de forma predominante os homens se especializam nas chamadas atividades “produtivas” pelas quais recebem um salário no mercado de trabalho, o que é reforçado pela ideia de que “sempre coube aos homens prover as necessidades materiais da família” (SAFFIOTI, 2004, p.35). 
Este trabalho reprodutivo não remunerado assumido pelas mulheres, as sobrecarrega com a responsabilidade familiar impedindo sua participação no mercado formal ou provocando a dupla jornada de trabalho, levando-as a se inserirem no mercado informal, como por exemplo, o de revendedoras de empresas que trabalham com a venda direta.
Esta atividade tem progredido porque as empresas oferecem um ambiente alternativo e atraente de trabalho, que permite a inserção de grande número de pessoas, majoritariamente mulheres que para elas, é uma maneira de adentrar no mercado de trabalho sem as regras que o trabalho formal impõe, com horário de trabalho flexível e com possibilidades de ganhar de acordo com a dedicação.
Sob o ângulo da flexibilização, moderno hoje, é o que é flexível. Nenhuma forma de trabalho pode ser mais flexível que o trabalho informal, portanto, na hipótese de persistência do atual padrão de acumulação, os empregos informais poderão vir a ser modernos (TAVARES, 2004, p. 52).
	No trabalho contemporâneo, a flexibilização é uma de suas principais características e a precarização um de seus efeitos mais marcantes. Envolvem uma série de estratégias implementadas a partir da reestruturação produtiva que visam a desregulamentação do mercado de trabalho e das relações de trabalho.
Dentre as empresas de vendas diretas, a Avon é uma das que mais valoriza a propaganda, com o objetivo de realçar as vantagens de seu modelo de vendas. As mensagens sempre primam pela elevação da condição da mulher e a promoção de sua beleza, de forma a criar uma imagem e uma condição diferenciada para as suas revendedoras.
Somos uma empresa que tem a ver com a realização dos sonhos das mulheres por meio da essência de uma das maiores marcas de consumidor dos últimos tempos. A Avon é uma marca emocional e da comunidade. Nós de fato temos um relacionamento e nosso próprio conjunto de valores. Queremos ser parte da comunidade e realmente criamos orgulho na comunidade Avon (KLEPACKI, 2006, p. 181).
Destarte, o trabalho na atualidade além de algumas características já exigidas desde a época do taylorismo/fordismo, requer o envolvimento emocional no exercício das tarefas cotidianas. Na concepção de Freitas (2005), enquanto a empresa do passado queria ser obedecida, a empresa moderna quer ser amada:
[...] pode-se perceber na empresa moderna a necessidade de despertar a paixão por si mesma, traduzida em paixão pelo trabalho. Creio que está ocorrendo uma transição do carisma associado a uma empresa líder (FREITAS, 2005, p. 143).
	As empresas exploram a sensibilidade feminina construída socialmente para reforçar este apego a elas, como nos apresenta Perrot, (1988), quando diz que “aos homens, o cérebro, a inteligência, a razão lúcida, a capacidade de decisão. Às mulheres, o coração, a sensibilidade, os sentimentos” (p. 177).
Já Marx no lembrava que na
Relação com a mulher como presa e criada da luxúria comunitária está exprimida a degradação infinita em que o ser humano existe para si mesmo, pois o segredo desta relação tem a sua expressão inequívoca, decidida, manifesta, desvelada, na relação do homem com a mulher e no modo como é tomada a relação natural, imediata do gênero (1985, p. 166 – 167).
Na sociedade de mercado, ser mulher é ser flexível e ter paciência para aceitar condições de trabalho cada vez piores e com salários cada vez menores. É sacrificar-se na informalidade sem nenhuma garantia de direitos e se sentir responsável por cuidar sozinha da casa e dos filhos e mesmo com toda luta por melhores condições salariais e sociais, as mulheres estão atreladas ao sistema capitalista que às impõe historicamente a estarem num ciclo de subordinação e exploração perante a figura dos homens.
3 Conclusão
Diante do exposto elucidamos algumas considerações finais. Em primeiro lugar, chama atenção a capacidade das grandes empresas de responderem às mudanças desencadeadas no Brasil a partir dos anos 90 do século XX, devido a crescente internacionalização da economia e a concentração do capital e que mesmo numa economia cada vez mais globalizada, ainda persistem modalidades de trabalho que estão se aperfeiçoando com um modo obsoleto de exploração do trabalho.
O trabalho contemporâneo mantém interconexões que se estabelecem em virtude das metamorfoses do mundo do trabalho frente à economia neoliberal, levando à mudanças na produção sob a forma da flexibilização tanto do processo produtivo como das relações de trabalho para o enfrentamento da competição no período atual.
As empresas de venda direta cresceram em virtude de sua capacidade de resolver dois problemas: permitir aos empresários capitalistas o acesso a um grande número de trabalhadores sem custos substanciais de manutenção de uma relação empregatícia, e permite a esses trabalhadores, uma oportunidade de trabalho e de renda.
Na estrutura de nossa sociedade ainda há resistência em aceitar o direito das mulheres ao emprego, revelando o peso da divisão sexual do trabalho, que é a base material da opressão das mulheres.
As empresas de venda direta, sem exceção, sabem que o êxito desse negócio depende do sucesso das revendedoras e por isso trabalham fortemente o relacionamento e o espírito empreendedor feminino. A venda direta realiza seus lucros através do trabalho dessas mulheres que se desmotivadas, comprometem a sua sobrevivência. Para mantê-las motivadas, a empresa disponibiliza programas de recompensas (premiações), seja través de viagens, jantares, etc. 
Percebemos ainda, diante de nossas conversas com algumas dessas mulheres (revendedoras), não de formam sistematizada, mas para irmos conhecendo este universo da venda direta, que apesar de alguns avanços quanto a emancipação feminina, ainda há uma percepção tradicional machista e conservadora em relaçãoao trabalho das mulheres. A família é considerada como parte indispensável da organização da sociedade, onde qualquer alteração a sua estrutura seria considerada prejudicial à estrutura vigente. 
Isto porque o capital se opõe claramente ao processo de emancipação da mulher, uma vez que precisa, para sua a preservação do seu sistema de dominação, do trabalho feminino, tanto no espaço produtivo como no reprodutivo, preservando nos dois casos, os mecanismos estruturais que geram a subordinação da mulher, como assevera Nogueira (2004).
Diante desse contexto acreditamos que mesmo com as mudanças no mundo do trabalho e a crescente inserção das mulheres na vida pública, não foram suficientes para alterarem substancialmente as características da divisão sexual do trabalho reprodutivo ou doméstico, tão importante para o capital mediante a necessidade de reprodução da força de trabalho.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 9. ed. São Paulo: Cortez/UNICAMP, 2003.
FREITAS, M. E. de. Cultura organizacional: identidade, sedução e carisma? 4 ed. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 2005.
INSITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Economia informal urbana: Ecinf, 2003. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em 30.06.2012.
KLEPACKI, Laura. Avon: a história da primeira empresa do mundo voltada para a mulher. Rio de Janeiro: Best Seller, 2005.
LOBO, Elisabeth Souza. A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência. 2 ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2011.
MANDEL, E. O capitalismo tardio. 2 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
MARX, Karl. A produção capitalista como produção de mais-valia. Capítulo VI (inédito) de O capital. São Paulo: Moraes, 1985.
NOGUEIRA, Claudia Mazzei. A feminização do trabalho. Campinas: Autores Associados, 2004.
OLIVEIRA, Z. L. C. Mulher e trabalho. Disponível em:
http://www4.prossiga.br/bvmulher/cedim/trabalho/conceito.htm. Acesso em 07/07/2012.
PEREIRA, Jacqueline da Silva Figueiredo. O modelo de competências e as implicações para a divisão sexual do trabalho no processo da reestruturação produtiva. FAE/UFMG, 2004. Dissertação de Mestrado em Educação.
PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Tradução Denise Bottmann. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1988.
RODRIGUES, Ivanildo D. A camelotagem em Presidente Prudente. FCT/UNESP: Presidente Prudente, 2005 (Monografia apresentada no curso de Bacharelado em Geografia).
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado e violência. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004 (Coleção Brasil Urgente).
SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Mulheres no trabalho bancário: difusão tecnológica, qualificação e Relações de gênero. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1998.
TAVARES, Maria Augusta. Os fios (in)visíveis da produção capitalista. São Paulo: Cortez, 2004.

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