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Fundamentos Teóricos de Inteligência Estratégica Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 9 História da Inteligência Unidade I Capítulo 1 – Aplicabilidade ao Ambiente de Negócios Mãos-Dadas Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considere a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homem presentes, a vida presente. Carlos Drummond de Andrade Neste capítulo falaremos de uma história; não de uma história caduca, mas de uma história que exemplifica o quanto o homem, nos mais diversos momentos, trabalha com estratégias utilizando a Inteligência ao seu favor. Não sabemos ao certo quando ou onde o homem perguntou pela primeira vez por quê? Mas constatamos que sempre buscou respostas. Em seu enfrentamento diário, o homem buscou compreender os fenômenos a sua volta, no relacionamento com a natureza e com os outros homens. E sua ação individual ou social exige um conhecimento do mundo. Estratégia é a arte de coordenar a ação das forças militares, políticas, econômicas e morais implicadas na condução de um conflito ou na preparação da defesa de uma nação; arte de aplicar com eficácia os recursos de que se dispõem ou de explorar as condições favoráveis de que porventura se desfrute, visando ao alcance de determinados objetivos (HOUAISS, 2001). História da Inteligência Unidade I Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 10 História da Inteligência Unidade I Inteligência é uma atividade milenar; é um processo sistêmico de geração de informações destinadas ao assessoramento do processo decisório das organizações, bem como de seus planejadores estratégicos, e que deve pautar-se, precipuamente, pelo princípio da oportunidade e ter caráter proativo. O mundo não espera muito por “estrategistas retardatários”. Para o Coronel Walther Nicolai, Chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck, “A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona”. Como podemos ver, esse conceito de Inteligência a restringe a poucos capazes de dominá-la. De toda feita, ao usar a inteligência, o homem procura atender às suas necessidades básicas, quais sejam: segurança, saúde, educação, habitação e trabalho. Periodização Histórica Antiguidade oriental Antiguidade Clássica Greco-Romana (2000 aC. até a queda do Império Romano, em 476 dC.) Idade Média (até 1453, com a queda de Constantinopla) Idade Moderna (até o início da Revolução Francesa, em 1789) Idade Contemporânea (até os dias de hoje) Registros Iniciais de Uso de “Inteligência” O homem primitivo se vincula à vida por meio de uma percepção sensorial. Extremamente dependente da Natureza, simboliza seus sentidos e pensamentos. Essa representação da realidade se dá através de magias, totemismos ou mitos, frutos desse esforço de compreensão do mundo. Lembramos que a produção intelectual das sociedades primitivas se insere num contexto em que o regime de propriedade é coletivo. Assim, o resultado de todo o esforço para a compreensão do mundo é transmitido numa linguagem inteligível para todo o grupo. As Passagens Bíblicas no Antigo Testamento, trazem traços de uso específico de Inteligência, como análise de recursos disponíveis, situação de chegada e instruções para ação, em obediência a uma ordem respeitada hierarquicamente. Observe. Os exploradores de Canaã O Senhor disse a Moisés: “Envia homens para explorar a terra de Canaã, que hei de dar aos filhos de Israel. Enviarás um homem de cada tribo patriarcal, tomados todos entre os príncipes”. Doze homens – um de cada uma das tribos de Israel foram enviados para levantar dados (espiar) a terra de Canaã ... Assim lhes falou Moisés. (Números, 13) Necessidade de informações e esforço de coleta “Ide pelo deserto de Neguev e subi a montanha. Examinai que terra é essa e o povo que nela habita, se é forte ou fraco, pequeno ou numeroso. Vêde como é a terra onde habita, se é boa ou má, e como são as suas cidades, se muradas ou se sem muros; examinai igualmente se o terreno é fértil ou estéril, e se há árvores ou não. Coragem! E trazei-nos dos frutos da terra.” (Números, 13,17-20)) Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 11 História da Inteligência Unidade I Primeiro Relatório de Inteligência Fomos à terra aonde nos enviaste. É verdadeiramente uma terra onde jorra leite e mel, como se pode ver desses frutos que trouxemos. Mas seus habitantes são robustos e suas cidades são grandes e bem muradas. (Números, 13,27-29)) O aperfeiçoamento técnico, na comunidade primitiva, criou uma nova demanda: o excedente econômico. Este desencadeou a ampliação da divisão do trabalho: quem controlaria o excedente? Como registrá-lo, armazená-lo, distribuí-lo? Aqueles que passaram a administrar essa função se destacaram dentro do grupo. Apropriando-se da racionalização, esses elementos exercem poder no grupo, quando a linguagem não é inteligível a todos. Cria-se uma hierarquia entre os que sabem e os que não sabem. Com a evolução das comunidades primitivas, surge a sociedade com classes sociais e, também, o surgimento do Estado, que identifica a necessidade de reforçar e ampliar o seu poder, interna ou externamente, muitas vezes por meio da guerra. Sun Tzu, estrategista chinês do Séc VI a. C. em A Arte da Guerra, trata de uma atividade de assessoramento à decisão em tudo semelhante ao que se conhece hoje como Inteligência. “... Somente o governante mais sagaz é capaz de empregar espiões” O objetivo era obter informações a respeito do terreno, das lideranças do inimigo, das condições meteorológicas da situação econômica dos reinos potenciais adversários. Registros da Bíblia Dalila, que seduziu Sansão, facilitando que fossem cortados seus cabelos, fonte de sua força, é tida como a primeira espiã da História. (Juízes 16,4:6) Na Antiguidade, Júlio César, um dos primeiros grandes estadistas, criou o Sistema de Inteligência Romano. Mesmo com profunda influência da cultura grega, os romanos sempre imprimiram um caráter utilitário em sua produção intelectual. Seja no âmbito artístico, com o desejo de demonstrar por meio de suas obras a grandiosidade do império, seja, no Direito, com a regulamentação das relações jurídicas, sociais e a própria concepção de Estado, seja nos motivos patrióticos, com a criação de lendas e atribuições heróicas que enobrecem o passado histórico e que se impõe sobre o inimigo no momento da guerra. Podemos notar, ainda, a utilização dos conceitos relacionados ao uso da Inteligência em vários outros aspectos. Observe, no quadro abaixo, o sistema de Inteligência adotado: No Império Romano Procursatores – Inteligência Operacional (reconhecimento imediado – sobrevivência dos legionários). Exploratores – Inteligência Tática (suporte à decisão dos executivos). Speculatores – Inteligência Estratégica; Inteligência no interior do território a ser conquistado (indivíduos altamente treinados para operações clandestinas nas linhas inimigas para apoio aos estrategistas). Índices – Fontes não orgânicas das Legiões (prisioneiros, desertores e civis). Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 12 História da Inteligência Unidade I Na Antiguidade, Alexandre, o Grande,utilizava viajantes e emissários especiais para obter informações econômicas a respeito das terras a serem conquistadas (Inteligência Estratégica). Na Idade Média, Gêngis-Khan (1162-1227), Guerreiro e governante da Mongólia, utilizava-se de informações obtidas por mercadores e viajantes para levantar as defesas, os armamentos e os efetivos dos exércitos inimigos. A queda do Império Romano trouxe um contexto de crise e insegurança que deu origem ao sistema feudal na Europa. O Cristianismo assumiu o papel predominante na construção do pensamento e de visão de mundo nesse período. Mas a racionalização não se rompeu abruptamente, contudo, a historiografia tornou-se providencialista: os acontecimentos como decorrentes da Providência Divina. Na Idade Média, Marco Pólo, em a República de Veneza já utilizava de relatórios de diplomatos e viajantes, como parte de sua prática, o que, sem dúvida, caracteriza sua visão para a Inteligência. Na época Moderna, uma nova estrutura social emergiu. Os interesses burgueses em organizar o Estado Nacional e superar a crise vivida no século XIV impulsionaram a expansão marítima e a conquista do Novo Mundo. Primeiro, a América e mais tarde a África e a Ásia, satisfazendo aos interesses políticos e econômicos. O modo de produção capitalista ganhou reforço com a Revolução Industrial e tornou-se o modo de vida predominante no Mundo Ocidental. Este período foi extremamente profícuo no uso da Inteligência, o que determinava as grandes conquistas territoriais e o incremento tecnológico, como podemos ver nos fatos históricos a seguir: Portugal A Coroa Portuguesa adotava a chamada “Política dos Segredos”. Com esse instrumento, negava às potências contemporâneas os conhecimentos sobre suas descobertas ultramarinas. “Contraespionagem” Foi com base nessa política que a Coroa rejeitou proposta da Igreja de dividir o Mundo com a Espanha, no meridiano que passaria a 100 léguas de Cabo Verde, conforme rezava a Bula Intercoetera (1493). Os reis de Portugal tinham “conhecimento” da existência das terras da América e, por isso, buscaram a formalização do Tratado de Tordesilhas, em 1494, que previa a passagem do meridiano divisor não a 100, mas a 370 léguas a Oeste de Cabo Verde. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 13 História da Inteligência Unidade I Império Asteca (MÉXICO) América Hispânica Uma mulher asteca – como Dona Marina ou “La Malinche” – usou recursos similares aos de Inteligência, para que seu povo não fosse escravizado pelos espanhóis. “Agentes” do Império Asteca – os “pochtecas”, que eram pequenos comerciantes – viajantes, infiltravam-se entre os espanhóis, disfarçando-se de habitantes locais. Seus principais objetivos de informação eram os costumes, os poderes econômico e militar e as características de governo dos invasores. Na Inglaterra A Inteligência sempre foi considerada pelos ingleses como necessária à vida política, econômica, diplomática e social. Cabe a eles a primazia de, no século XVI, dispor de um “serviço secreto” organizado, instituído por Henrique VIII. Cromwell aperfeiçoou os mecanismos daquela organização, sendo considerado o criador do ‘Intelligence Service’. OLIVER CROMWELL (1598 – 1656) Lorde Protetor da Inglaterra Rússia No final do século XVII, o czar Pedro, o Grande (1672 – 1725), criou a primeira escola de espionagem a Casa de Ukraniev. Pedro foi o responsável por tornar a Rússia parte da Europa. Até hoje seu pensamento estratégico é usado pelos russos. Primeira Guerra Mundial A Inglaterra criou o MI 5, com atuação no campo interno (Contraespionagem) e o MI 6, para o campo externo (Espionagem). Ambos eram seções do Military Intelligence, agindo inicialmente na Europa. Em 1905, contava com 14 pessoas. Em 1918, eram 800 pessoas. Sir Robert BADEN POWELL, o pai do Movimento Escoteiro, foi um eficiente espião inglês nos anos que precederam a Primeira Guerra. Atuando, na Bósnia- Herzegovínia (1891), sob o disfarce de botânico, dissimulava esboços de fortificações inimigas em desenhos de asas de borboletas. Amplo emprego de espiões por todos os países tornando-se célebres os casos de: • MARGARIDA GERTRUDE GELLER (belga de nascimento, a serviço da Alemanha), que ficou conhecida como Mata Hari; e • ANNE MARIE LESSER alemã, que ficou conhecida como Fräulein Doktor. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 14 História da Inteligência Unidade I Desenho de uma borboleta elaborado pelo botânico BADEN POWELL, mostrando, dissimuladamente, a planta baixa de uma fortaleza. Período entre as Guerras Mundiais Apogeu do emprego de espiões e de maior desenvolvimento dos serviços de Inteligência. Nesse contexto, é impossível não se preparar, não usar de todos os recursos para vencer ou mesmo se defender... A esse respeito, Napoleão Bonaparte assim se pronunciava: “Ser vencido é aceitável. Ser surpreendido é imperdoável!” No Brasil, em 29 de novembro de 1927, é criado o Conselho de Defesa Nacional, cuja função era “Coordenar a produção de informações de ordem financeira, econômica, bélica e moral referentes à defesa da Pátria”. Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, resultados de pesquisas da Imprensa gaúcha davam conta da existência de redes de espionagem de apoio aos nazistas durante a guerra. RADAR A tecnologia “Stealth” – design antirradar O momento tecnológico é de grande avanço, servindo de apoio ao serviço de Inteligência nos mais diversos cantos do mundo ou constituindo, por outro lado, em alvo de busca de informações. Observe. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 15 História da Inteligência Unidade I ESPIONAGEM ATÔMICA Auge da Guerra Fria Efeitos da evolução tecnológica: miniaturização dos equipamentos. – dois estágios na miniaturização de um moderno equipamento de sigilo de voz, tecnologia de uso duas, espionagem atômica No Brasil, à semelhança do que ocorre no restante do mundo, cresce a preocupação com a Segurança Nacional e, por meio da legislação, o Estado responde à necessidade de conhecer para reagir a tempo. DECRETO nº 44.489-A, 15 de setembro de 1958 – regulamenta o Sfici – Serviço Federal à Informações a contrainformações com a competência “Superintender e coordenar as atividades de Informações que interessam à Segurança Nacional.” Decreto Nº 23.873 – CDN – 15 de fevereiro de 1934 CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 1934 Decreto Nº 7 – 03 de agosto de 1934 CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 1937 Decreto-Lei Nº 4 783 – 05 de outubro de 1942 Decreto-Lei Nº 5.163 – 11 de dezembro de 1942 Decreto-Lei Nº 9.975-A – 06 de setembro de 1946 Decreto-Lei Nº 27.583 – 14 de dezembro de 1949 DEFESA NACIONAL BRASIL O mundo contemporâneo, tomado por um assombroso desenvolvimento tecnológico, vislumbrou conflitos e guerras, que provêm principalmente de falhas do sistema político e econômico. As assimetrias do mundo globalizado e a complexidade das relações nacionais e internacionais tendem a se agravar, o que exige uma atuação baseada na Inteligência, que permita a antecipação dos conflitos ou que responda com rapidez diante de seu surgimento. O BRASIL, nesse contexto institui: • a JUNTA COORDENADORA DE INFORMAÇÕES, com objetivos de: – CAMPO INTERNO – conhecer as possibilidades e as limitações do poder nacional. – CAMPO EXTERNO – conhecer as possibilidades e as intenções de nações ou de grupos de nações, cujas práticas possam influir na consecução e na salvaguarda dos objetivos nacionais. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 16 História da Inteligência Unidade I – CAMPO DA SEGURANÇA INTERNA – conhecer os antagonismos existentes no territórionacional, de maneira manifesta ou em estado potencial, que representem ou possam vir a representar ameaça à Segurança Nacional. • sistema e órgãos: – SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES – SISNI – SNI – Serviço Nacional de Informações – Centros de Informações – Divisões de Segurança e Informações Nesse mesmo período, os Estados Unidos promovem um grande movimento de contraespionagem, cuja ação se centrava na “caça” aos espiões. As operações centravam-se no FBI e em seu polêmico chefe – J. Edgar Hoover. Na Alemanha Oriental, chama atenção, MARKUS WOLF, chefe do serviço de Inteligência durante toda a Guerra Fria, até a extinção da República Democrática Alemã, em 1989. Ele idealizou as “Operações Romeu”, que envolviam a conquista amorosa e o posterior comprometimento de pessoas de interesse para seu país. Faleceu em 09 de novembro de 2006. Ficou conhecido como “o espião sem rosto”por nunca ter sido reconhecido. Na França, o serviço de Inteligência nacional, DIRECTION GÉNÉRALE DE LA SÉCURITÉ EXTÉRIEURE (DGSE) sempre muito ativo e discreto, alcança sucesso na localização e captura do terrorista e sequestrador de aeronaves mais famoso dos anos 1970, Carlos Ilich Ramirez Sanchez, “Carlos, o Chacal”. Preso no Sudão, Carlos foi levado para a França onde se encontra preso. Fim da Guerra Fria A Tecnologia e o “fim da História” teriam “matado” a inteligência? Com o fim da Guerra Fria, muitos apostavam no fim da espionagem e, consequentemente, no fim da Inteligência. Como já o sabemos, não foi isso que aconteceu. Ao contrário, os movimentos da sociedade nas últimas décadas impulsionaram o uso da Inteligência. No Brasil, foi criada a Secretaria de Assuntos Estratégicos, a partir da Lei no 8.028, de 12 de abril de 1990, com a finalidade de: • exercer as atribuições de Secretaria Executiva do Conselho de Governo, • desenvolver estudos e projetos de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território e opinar sobre o seu efetivo uso, • fornecer os subsídios necessários às decisões do Presidente da República, • cooperar no planejamento, na execução e no acompanhamento da ação governamental com vistas à defesa das instituições nacionais, • coordenar a formulação da Política Nacional Nuclear e • supervisionar e controlar projetos e programas que lhe forem atribuídas pelo Presidente da República. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 17 História da Inteligência Unidade I Foram ainda definidas as funções da Subcretaria de Inteligência (SSI), quais sejam: • produzir informações e análises sobre a conjuntura de interesse para o processo decisório nacional em seu mais alto nível; • executar atividades de salvaguarda de assuntos sigilosos e de interesse do Estado e da sociedade; • formar e aperfeiçoar recursos humanos para suas atividades, através do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos (Cefarh). Os órgãos de Inteligência passam a ser organizados da seguinte maneira: Subsecretaria de Inteligência (1995) localizada na Secretaria-Geral da Presidência da República e Casa Militar da Presidência da República (1996). A Lei no 9.883/99, e o Decreto no 4.376/2002 criam a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), em substituição ao órgão existente, e passam a definir o Sistema Brasileiro de Inteligência. 11 de setembro de 2001 – As torres gêmeas O atentado de 11 de setembro de 2001 institui uma nova era para a Segurança e para a Inteligência, cujo enfoque se volta inicialmente para o combate ao terrorismo. A partir daí, a Inteligência passa a assumir a responsabilidade por enfrentar algumas “guerras”: contras as drogas, as armas, o dinheiro ilícito, o tráfico de pessoas, o crime estruturado e o terror. As discussões se voltam para a questão da incapacidade de os serviços de Inteligência prevenirem catástrofes desta monta. Nesse sentido, Seymour M. Hersh (Cadeia de Comando, 2004) afirma que, a partir da queda das Torres Gêmeas, ...um tema constante foi a falta de dados dos serviços de Inteligência que pudessem ser obtidos com rapidez e confiabilidade a respeito do outro lado... O problema era que a comunidade de Inteligência americana não possuía a informação essencial quando esta se fazia necessária – em tempo real. Havia, no entanto, um consenso em duas questões: os ataques foram planejados e executados de uma maneira brilhante e a comunidade de Inteligência não estava nem um pouco preparada para impedi-los. E acrescenta “A CIA, em 2001, não conseguia dar conta do trabalho. Desde uma década antes, o órgão vinha se tornando cada vez mais burocrático, pouco disposto a passar por riscos, e promovera funcionários que compartilhavam desses valores”, criando a cultura do que se chamou de a consciência da complacência. Dessa forma, interpõe “a agência contatava com relações de contatos, relatórios de SI amistosos e de departamentos de polícia do mundo e coleta técnica, contra um inimigo implacável...” A situação era tão grave que somente duas pessoas falavam árabe. O verdadeiro combate não era contra os terroristas, mas sim contra a inércia burocrática. Essa constatação levou à revisão do papel da Inteligência no mundo inteiro. Nesse sentido, respondem à tendência histórica de que as nações, as organizações e até mesmo os indivíduos, ao longo de suas existências, desenvolveram funções de Inteligência coerentes e compatíveis com as respectivas épocas e necessidades. A Inteligência é mais do que simplesmente uma atividade: trata-se de um processo, de uma maneira de pensar. “O Novo Mundo” é movido a informações, a crescimento sustentável, funcionando em redes e buscando a melhoria nos IDH . Nesse contexto, é preciso considerar que algumas características do mundo, em nova fase de globalização, interferem diretamente nos processos de Inteligência: • a hegemonia de uma hiperpotência tecnológica, econômica e militar; • a existência de três blocos econômicos (mercados) preponderantes; Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 18 História da Inteligência Unidade I • países extremamente dependentes de sistemas de alta tecnologia; • corporações desafiando estados nacionais; • disseminação acelerada das ameaças globais; • impacto dos grandes acontecimentos em tempo real; • diversidade de atores não governamentais; • disseminação de variadas formas de conflitos; • a tecnologia concedendo maior poder aos indivíduos. Além destes aspectos, há que se considerar que este é o mundo da competição, das ameaças transnacionais e das oportunidades globais. A esse respeito, Alvim e Heide Toffler, em “War and anti-War”, afirmam que “haverá muita espionagem, mas será espionagem econômica, financeira. As corporações serão verdadeiros ninhos de espiões”. Albert Einstein reflete que “o mundo é um lugar perigoso, não somente por aqueles que fazem o mal, mas também pelos que olham e nada fazem”. Por isso, deve-se também observar que há: • redução do papel dos Estados nacionais; • instabilidade e competitividade, aumento da competitividade em escala global, busca pela informação; • minimização das barreiras ao comércio e aos investimentos, mudanças no conceito de fronteira; • ampliação do leque de bens e serviços comercializados em escala mundial, expansão do comércio planetário em uma média de 6% ao ano; • grandes transações fechadas e distância por intermédio de meios eletrônicos de alta tecnologia; • descompasso entre a evolução do que é público e do que é privado; • maximização das questões jurisdicionais; • facilidades aos criminosos globais em suas transações pelo enfraquecimento das barreiras que antes os detinham; • estreitamento dos elos entre as organizações criminosas e terror. Assim, tal cenário de incessante internacionalização dos negócios e dedisputas por interesses, gerando ou não conflitos, indica que indivíduos, organizações e governos devem se empenhar, cada vez mais, na utilização de processos de Inteligência que lhes dêem melhores condições de enfrentar os novos desafios a partir de um novo paradigma no mundo atual, qual seja o de Inteligência Competitiva ou, como preferimos, Inteligência para Competir. A Inteligência Competitiva (IC) teve início na década de 1980 nos EUA, de origem institucional e militar, a partir da competição iniciada, no governo de Ronald Reagan, com a União Soviética (URSS), que visava o processo de ruína do “Império Soviético”. Foi marcada pela ampliação geométrica da quantidade de “informação” disponível. Nesse processo de Inteligência, devem ser observados os seguintes objetivos: • geração de produtos informacionais úteis; • assessoramento dos processos de tomada de decisão e de planejamento e suporte à comercialização e à melhoria da competitividade, nos níveis estratégico, tático e operacional; • desenvolvimento da capacidade de agir proativamente, com dimensão estratégica; • integração da inteligência nos processos de negócios de maneira a torná-lo eficaz, efetivo, proficiente e parte da cultura da organização. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 19 História da Inteligência Unidade I Eis conceitos importantes que nos ajudarão a compreender melhor a Inteligência Competitiva (KAHHANER, 1996 apud GOMES; BRAGA, 2002): “Programa institucional e sistemático para garimpar e analisar informação a respeito das atividades da concorrência e as tendências do setor específico e, também, pertinentes ao mercado em geral, com o propósito de levar a organização a atingir seus objetivos e metas.” “Processo sistemático de coleta e análise de informações sobre a atividade dos concorrentes, tendências gerais do ambiente econômico, social, tecnológico, científico, mercadológico e regulatório para ajudar no cumprimento dos objetivos institucionais na empresa pública ou privada.” (NIC/UnB, 1999) “Inteligência é o resultado de um processo sistêmico que envolve coleta, organização e transformação de dados em informação, cujo resultado é aplicado na solução de problemas, formulação de políticas, definição de estratégias e comportamentos, que geram vantagens competitivas para a organização” (NIC/UnB, 1999). A professora Ana Valéria Wanderley (Petrobras), acrescenta ainda que Inteligência competitiva envolve coleta, análise e validação de informações sobre concorrentes, clientes, fornecedores, candidatos potenciais à aquisição, candidatos a joint-ventures e alianças estratégicas. Nesse contexto de competitividade exacerbada, surge o Sistema de Inteligência de Negócios, que pressupõe a monitoração permanente do ambiente de atuação da empresa, coleta, análise e validação de informações sobre concorrentes, clientes, parceiros, fornecedores e demais atores, visando à diminuição de risco na tomada de decisão, a partir do desenvolvimento de uma base de conhecimento sobre o negócio. (WANDERLEY, 1999) Eis alguns conceitos importantes: “Sistema de Informação de Negócios é o processo organizacional pelo qual a informação é sistematicamente coletada, analisada e disseminada como Inteligência aos usuários que possam tomar ações a partir dela” (HERRING, 1997 apud WANDERLEY, 1999). “O processo de Inteligência de Negócio analisa e valida todas essas informações e as transforma em conhecimento estratégico – conhecimento sobre atividades históricas, performance no passado, ‘forças e fraquezas’ e tendências de atuação dos demais atores no mercado” (TYSON, 1997 apud WANDERLEY, 1999)) Desses conceitos se depreende que a Inteligência de Negócios implica: • grande interface com planejamento, decisão e ações correspondentes; • existência de um ciclo de geração de informação; • existência de processos sistêmicos; • necessidade de metodologia específica; • necessidade de cultura organizacional e estrutura adequada; • produção da “informação” que diferencia; • necessidade de validação dessa “informação”; • visão de futuro; • oportunidade; • necessidade de suporte em TI atualizada. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 20 História da Inteligência Unidade I A partir de nossas discussões, neste capítulo, é preciso reconhecer, depreendendo uma ampliação do uso da ferramenta Inteligência: o que uma organização não for capaz de defender por seus próprios meios, nenhum dispositivo institucional defenderá, No tocante ao caráter proativo da Inteligência, Washington Platt (1974) ratifica que Muitas pessoas passam a vida toda num setor de atividades, sem tentar compreender a filosofia básica dessa atividade, ou explorar suas possibilidades máximas, ou nem sequer pensar na solução dos problemas que lhes permitisse tornar os próprios pontos de vista mais claros. Quem deixa de pensar sobre o próprio setor de responsabilidade, e de pensar sobre o que o cerca, desperdiça, com certeza, o prazer de satisfações profundas e, provavelmente, realiza menos do que poderia realizar de outra forma. A Inteligência é vista, muitas vezes, como uma atividade essencial, porém capaz de impor danos a seus próprios patrocinadores. A esse respeito, é oportuno salientar seu caráter de elemento de produção da melhor informação para a decisão. O decisor resulta no único responsável pelo uso desse produto. A Inteligência pode ser revestida de sigilo, porém não de clandestinidade. A importância de tutela política apropriada para os serviços de Inteligência foi reforçada por Sir William Stephenson no prefácio do livro “Um homem chamado Intrépido” no qual afirma que a Inteligência é uma condição necessária para que as democracias possam evitar desastres e possivelmente a destruição total. Segundo ele: em meio a arsenais cada vez mais intrincados, os serviços de Inteligência são uma arma essencial, talvez a mais importante. Mas sendo secreta, é a mais perigosa. É preciso criar, rever, aplicar rigorosamente salvaguardas que impeçam abusos. Mas, como em qualquer empreendimento, serão decisivos o caráter e a sabedoria a quem for confiada. Na integridade dessa tutela se deposita a esperança dos povos livres na sobrevivência e crescimento. Como visto, retornamos aos príncipes de Israel e aos “espiões”de Sun Tzu. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 21 Planejamento Estratégico Unidade II Planejamento Estratégico Unidade II Capítulo 2 – Informações e Fundamentos O planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes. (Peter Drucker) Toda ação deve ser planejada para atingir finalidades específicas. Você pensa na organização de suas ações? Que importância o planejamento tem em seu trabalho? Agir intuitivamente sempre dá certo? Para iniciar nossos estudos sobre o planejamento estratégico, precisamos pensar nos paradigmas que norteiam a ação humana neste terceiro milênio. As mudanças são inúmeras e rapidíssimas, por isso não há tempo a perder... As informações se multiplicam em questão de segundos e não podemos ficar esperando para tomar decisões que podem estar obsoletas já em seu pronunciamento. Nesse sentido, devemos estar preparados para agir, simultaneamente, com dinamicidade e rapidez. Para tanto, devemos considerar como paradigmática a importância do conhecimento científico e tecnológico como necessidade fundamental. O Papa João Paulo II já afirmava tal questão, em sua encíclica Centesimus Annus de 1991: “Se antes a terra e depois o capital eram os fatores decisivos da produção (...) hoje o fator decisivo é, cada vez mais, o homem em si, ou seja, seu conhecimento”. A partir da evolução do conhecimento disponível, evidencia-se uma dinâmicaglobal assentada na evolução acelerada da tecnologia que determina, entre outros aspectos, novas formas de ocupação da força de trabalho, muito maior acesso à informação, à liberdade de expressão e a regimes democráticos. O mundo está interconectado nos mais diferentes níveis, cujos atores independentes se projetam de forma global. Há que se considerar, em um contexto assim delineado, que a ação humana individual, em sua essência, é também coletiva na medida em que a decisão de cada um impacta na vida do outro. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 22 Planejamento Estratégico Unidade II Peter Schwartz (2003) afirma que Nas próximas décadas, enfrentaremos surpresas inevitáveis nas esferas econômica, política e social. Cada uma delas modificará as regras do jogo tal qual praticado hoje. Todas estarão interligadas. Entender essas surpresas inevitáveis em nosso futuro é essencial para as decisões que devemos tomar no presente – não importando se somos líderes, executivos, governantes ou simplesmente indivíduos que se preocupam com suas famílias e sua comunidade. A sociedade está cada vez mais competitiva e exige a reflexão de forma integrada em todas as atividades das organizações. Dessa forma, torna-se fundamental estudar tecnologias inovadoras que possibilitam otimizar a gestão das instituições, que caminham para relacionamentos organizacionais baseados em parcerias. Criar redes de relacionamento e, portanto, de informação, constitui-se, atualmente, a maior demanda de um mundo multipolar, caracterizado pela internacionalização da economia e formação de blocos econômicos, cuja disputa pela hegemonia passa diretamente pela concorrência comercial, dando início a uma nova ordem mundial, em que o poder se verifica multipolar. Assim, passamos da bipolarização para a multipolarização. Nesse contexto, o poder bélico foi substituído pelo poder de negociação entre os megablocos econômicos. Em tal ordem multipolar, por exemplo, os países emergentes, como o Brasil, a Rússia, a China ou a Índia, têm expectativas de fazer parte da ordem que controla o mundo, à semelhança de países como EUA, Alemanha, França. Daí o caráter volátil dessa nova ordem, em que grandes empresas transnacionais condicionam o papel dos Estados e do indivíduo a incorporar mais poder. A segurança passa, dessa forma, a ser encarada como um dos fatores essenciais dos planejamentos das empresas e dos Estados, requerendo o uso de intensivo de tecnologias permanentemente atualizadas, o que gera uma corrida por informações nunca antes imaginada. O conhecimento é utilizado na agregação de valor a produtos e serviços, e as informações constituem-se no principal ativo, elemento vital para competitividade e sobrevivência. Mas não é útil “qualquer” informação ou uma informação tardia. As informações devem ser produzidas com qualidade e disseminadas de maneira rápida. As empresas precisam, enfim, ser reinventadas a todo instante, exigindo produtos informacionais precisos e oportunos. A Inteligência e as Relações Internacionais O texto a seguir, de Fábio Pereira Ribeiro, ilustra bem como ocorrem as relações entre os países, nessa perspectiva. A atividade de Inteligência sempre esteve intimamente ligada aos princípios básicos das relações internacionais principalmente da diplomacia. Nos estudos de relações internacionais, a atividade de Inteligência pode ser incorporada principalmente nas ações de segurança internacional, mas também nas práticas e funções da diplomacia. O teórico das relações internacionais Hedley Bull (1932-1985) considerava quatro funções básicas da diplomacia, sendo que uma delas é função de “coligir informações, inteligência a respeito dos países estrangeiros”, estas “inteligências” formam o conjunto de valores que o tomador de decisão, no caso o Chefe de Estado, possa desenvolver para que suas decisões estratégicas tenham o menor risco possível. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 23 Planejamento Estratégico Unidade II O princípio básico de formação e ação da atividade de inteligência dentro das relações internacionais é vincular o processo de produção de conhecimento aos atores internacionais, para que os mesmos possam formar o arcabouço da chamada Inteligência Estratégica. Na diplomacia, a inteligência fica vinculada a um processo mais simples e contínuo de produção de informações, mas no âmbito dos serviços de inteligência, a produção de conhecimento segue uma linha estratégica considerando todos os valores inseridos e intrínsecos aos atores. Dentro do período da Guerra Fria, a produção de inteligência estava voltada para uma visão bipolar e de conhecimento fácil sobre os atores, na maioria das vezes, integrados as duas grandes potencias. Os atores do sistema internacional eram plenamente conhecidos, os seus objetivos estratégicos, quais sejam as suas políticas, interesses e limitações. Com a nova perspectiva multipolar, os serviços de inteligência devem considerar novos modelos de produção e análise de informações, e para isto a atividade de inteligência pode utilizar como modelo os parâmetros indicados por Rosenau: • Macroparâmetros: distribuição de poder entre os diversos atores políticos e a forma de atuação; as relações de autoridade entre os diversos atores e a sociedade inserida; • Microparâmetros: capacidade analítica e emocional dos cidadãos para dar resposta aos acontecimentos que acontecem no momento histórico. Neste sentido, as relações internacionais apresentam o cenário para o desenvolvimento das análises e produções de Inteligência. O cenário estabelece alguns pontos importantes e básicos para a construção da Inteligência Estratégica, que ao mesmo tempo pode causar turbulência dentro do ambiente de inteligência e de relações internacionais, que de forma integrada envolvem as agências de inteligência com os serviços de política externa de cada Estado. Os fatores para tal situação são: • proliferação de atores, considerando associações, organizações, empresas transnacionais, facções étnicas e religiosas, e outros grupos de interesses, que envolvem ou se envolvem com a política de Estado, sem contar uma busca constante pelo protagonismo do ator. Esses novos atores buscam diversas formas de atuação política, incluindo ação psicológica, força armada, lobby, além de apelação à sensibilidade da comunidade internacional; • impacto das novas tecnologias da informação, quebra de fronteiras e barreiras com a internet, e sistemas de Inteligência que coletam e cruzam dados em tempo real, a qualquer distância; • avanço da globalização, da competitividade internacional, principalmente das empresas transnacionais que acabam sendo bases de interesses e jogos diplomáticos em função das necessidades e interesses particulares dos Estados, neste caso, a construção da chamada Inteligência Econômica; • a construção de subgrupos de atores, dentro do Estado, que tendem a criar laços sociais por motivações étnicas, religiosas ou ocupacionais, construindo intercomunicações contrárias ao Estado de Direito formado. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 24 Planejamento Estratégico Unidade II No mesmo passo dos indicadores de novos tempos crescem as organizações transnacionais de comércio ilícito, na proporção de 14% ao ano, as quais utilizam estruturas semelhantes e, às vezes, mais eficientes que as instituições socialmente legitimadas. Dentre as ações que tomaram para se adequar à nova realidade internacional, podemos citar: trocaram estruturas hierárquicas fixas por redes descentralizadas; substituíram líderes autoritários por agentes e células múltiplas, dispersos e tenuamente relacionados; migraram de linhas rígidas de controlee troca por transações em constante transformação, de acordo com as oportunidades e passaram a utilizar intensamente processos de “informação”. Além do crescimento da ação criminosa de diferentes organizações, são inúmeras as ameaças advindas dessa estrutura transnacional, dada a enorme fragilidade dos esquemas de controle, como o terrorismo; o colapso do sistema financeiro, cuja interdependência afetaria o mundo inteiro; o fluxo de capitais ilícitos; as migrações em massa; os conflitos armados; as doenças infecciosas; o esgotamento das fontes de energia e de água; a espionagem; os regimes instáveis; o colapso de sistemas de informação; a ampliação das assimetrias sociais e a cyberwar. Diante de um quadro tão negro como o apresentado, é preciso refletir sobre o que podemos fazer e criar as condições para que se possa agir, planejar e gerenciar tamanhas adversidades. Para alcançar tal intuito, é fundamental: • conhecer os ambientes em que se atua; • conhecer os paradigmas; A atividade de Inteligência tem uma ligação direta com os estudos de relações internacionais, pois os mesmos são os fatores e cenários práticos para a construção de posições e diagnósticos de ocorrências para a tomada de decisão. Os acontecimentos internacionais são balizadores para a construção de tendências, e ocorrências futuras, considerando uma perspectiva realista das relações internacionais, que cria um ambiente favorável de atuação dos serviços de inteligência, que tomam o interesse do Estado como fator chave de atuação. Neste mesmo sentido, a perspectiva anárquica pode ser considerada para entender e alimentar o processo de um sistema de segurança internacional. Na perspectiva brasileira, os agentes internacionais, atores não estatais, os condicionantes de política externa formam os parâmetros para a construção de Inteligência para a tomada de decisão, somados os parâmetros de conflitos e novas ameaças, como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, espionagem industrial, bioespionagem, contrabando de armas, a degradação do meio ambiente, violência urbana e vandalismo, indiferença social e cívica, sem considerar as falhas de educação e falta de perspectivas tecnológicas para a sociedade (inserção). A atividade de Inteligência ganha um novo campo de atuação com a integração dos estudos de relações internacionais, segurança e defesa, considerando uma nova perspectiva do ponto de vista econômico, para constituir ao Estado uma vigilância econômica internacional. _______________________ (*) Fábio Pereira Ribeiro é oficial do Exército R/2, Coordenador da Área de Ciências Sociais Aplicadas da UNIMONTE, Professor de pós-graduação em Inteligência da FECAP, Mestre em Administração, Especialista em Política Internacional e Inteligência Estratégica. Fonte: <http://www.inforel.org/logado.jsp?editoria=D5>. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 25 Planejamento Estratégico Unidade II • conhecer os adversários e os parceiros; • antecipar a evolução das situações; • decidir e agir com oportunidade. O esquema abaixo nos dá um quadro bastante claro da necessidade de se agir, considerando os princípios da Inteligência. INTELIGÊNCIA Contrainteligência (AMEAÇAS) (OPORTUNIDADES Ação D C S E M P R E S A P L J INFORMAÇÃO ÚTIL I N T E L I G Ê N C I A M O N I T O R A M E N T O Cabe nesse momento, reforçarmos o conceito de Inteligência como informação analisada que oferece compreensão profunda das várias situações conjunturais e vantagens competitivas. Segundo a Lei nº 9.883 de 07 de dezembro de 1999, § 2º, do art. 1º, Inteligência é “a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos, dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.” No entanto, não nos basta falar de Inteligência, é preciso falar de Inteligência Estratégia: aquela que auxilia na formulação de políticas, no planejamento, na execução ou no redirecionamento das opções estratégicas. Pressupõe, portanto, dimensões maiores de espaço e tempo, inferindo a seguinte aplicabilidade: • suporte aos processos decisório e de planejamento; • sustentação das ações nos níveis tático e operacional; • apoio ao gerenciamento de múltiplas situações críticas; • avaliação de ameaças; • identificação de oportunidades; • apoio a processos de gestão e de inovação; • estudo de áreas e temas estratégicos; • desenvolvimento de metodologias prospectivas; • proteção do conhecimento organizacional, das instalações, do pessoal, dos materiais, das comunicações e da TI; • salvaguarda dos elementos operacionais. Luís Gaj (2002), em O Estrategista afirma que “as organizações estão passando por um processo gradativo de transformação em que os funcionários são demandados a executar papéis cada vez mais inteligentes. Dessa maneira, buscam capacitar e desenvolver seus quadros”. Nesse sentido, salientamos a necessidade de se preparar para agir estrategicamente, pois segundo a Revista Amanhã (nº 189/ 2004), “no futuro, o bom planejamento estratégico será baseado em projeções de longo prazo e em ferramentas de Inteligência”. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 26 Planejamento Estratégico Unidade II O planejamento em empresas privadas é desejável. Em instituições públicas, por sua complexidade, é obrigatório. Veja no esquema delineado a seguir quantas variáveis estão envolvidas no ato de planejar: Marco Antônio dos Santos (2003) Como centro do esquema dado, aparece o decisor, na esfera de competências, cujas decisões implicam escolha entre as opções possíveis. Para decidir, é preciso levar em conta três momentos: • o momento da avaliação – aqui devem ser consideradas todas as variáveis envolvidas no contexto e possíveis consequências; • o momento da escolha – a partir de delineado o contexto, faz-se uma opção; • o momento da implementação da escolha – é preciso considerar qual a melhor forma para a operacionalização da escolha tomada. Tais momentos estão esquematizados a seguir: ELABORAÇÃO DO PROCESSO Não decidir não é uma forma de agir DIAGNÓSTICO OPÇÃO AÇÃO Na perspectiva do planejamento e das ações estratégicas, o processo de decisão pressupõe as seguintes etapas: • análise de situação; • definição dos objetivos; • análise das opções estratégicas; Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 27 Planejamento Estratégico Unidade II • determinação das estratégias; • execução e controle das ações. A racionalização do processo de planejamento e ações estratégicas pressupõe manutenção de uma coerência interna entre o que se planeja e a sua implantação (processo finalístico), observando a adequação entre meios e fins. Essa adequação pressupõe considerar como princípios, ou seja, como proposições diretoras gerais destinadas a orientar o desenvolvimento do planejamento: participação, coordenação, integração e permanência. Além destes, devemos ainda considerar os princípios finalísticos: todas as ações finais estruturadas em programas; cada programa um gerente; programas de acordo com as orientações estratégicas e a previsão de recursos; estímulos à descentralização; avaliação periódica; realimentação. PLANEJAMENTO MUITAS METODOLOGIAS PECULIAR AO NEGÓCIO ADEQUAÇÃO ENTRE MEIOS E FINS O planejamento estratégico implica pensar no futuro; controlar o futuro; tomar decisões de maneira integrada; proceder de maneira formal para produzir resultado articulado na forma de um sistema integrado de decisão. São três os níveis de planejamento: estratégico; tático e operacional. Sintetizamos,assim, alguns conceitos de planejamento estratégico: “É o processo contínuo de, sistematicamente e com maior conhecimento possível do futuro visualizável, tomar decisões atuais que envolvem riscos; organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução dessas decisões e, mediante a realimentação organizada e sistemática, medir os resultados dessas decisões em confronto com as expectativas alimentadas”. (Peter Drucker) “É o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa, visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando de forma inovadora e diferenciada”. (REBOUÇAS, 2004) São fases básicas do planejamento estratégico: • diagnóstico estratégico; • visão; • ambiente conjuntural; • variáveis; • missão da organização; • determinação da missão; Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 28 Planejamento Estratégico Unidade II • propósitos (segmentos de atuação); • cenários; • macroestratégias e macropolíticas; • instrumentos prescritivos e quantitativos; • prescritivos – objetivos; • objetivos fucionais; • desafios; • metas; • estratégias; • políticas; • diretrizes; • projetos, programas e planos de ação; • quantitativos – projetos econômicos; • projeções econômicas, financeiras e orçamentárias; • controle e avaliação; • avaliação de desempenho; • atendimento de objetivos, desafios e metas; • análise dos desvios; • decisões corretivas; • avaliação da eficácia das ações corretivas; • adição de informações com vistas a ciclos futuros; Djalma Rebouças Oliveira (2004b) afirma que o processo se inicia a partir da visão, algumas vezes irrealista quanto aos “destinos” da empresa. Para se evitar o amadorismo ou mesmo a tomadas de decisões ingênuas ou mal fundamentadas, o planejamento deve, portanto, ser submetido a uma avaliação racional e criteriosa de dois aspectos: das oportunidades em termos de mercado a explorar e recursos a aproveitar, considerando a realidade da empresa e de seus concorrentes com seus pontos fortes, fracos e neutros; e das ameaças que possam prejudicar a empresa e suas oportunidades. Tudo isso em convergência com o horizonte estabelecido para a missão que deve conduzir à escolha de propósitos a partir da definição de detalhes de cenários. O respeito às posturas estratégicas possibilita o estabelecimento de macroestratégias e macropolíticas que orientarão a formalização de objetivos gerais e objetivos funcionais mais realistas que as expectativas e os desejos, como base para a formulação de desafios e metas quantificados, que permitirão o estabelecimento, em nível funcional, de estratégias e políticas capazes de tirar proveito dos pontos fortes e oportunidades; e evitar ou eliminar os pontos fracos e ameaças da empresa e que devam ser traduzidas em projetos e planos de ação, destinados a orientar a operacionalização do plano estratégico por meio do orçamento econômico-financeiro. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 29 Planejamento Estratégico Unidade II O esquema a seguir resume essas informações: O PROCESSO INICIA-SE A PARTIR DA: VISÃO Algumas vezes irrealista quanto aos “destinos” da empresa e submetida a uma avaliação racional e criteriosa das OPORTUNIDADES considerando a realidade da empresa e de seus AMEAÇAS Em termos: • Mercado a explorar • Recursos aproveitar CONCORRENTES Que possam prejudicar a empresa e suas oportunidades com seus PONTOS FORTES PONTOS FRACOS PONTOS NEUTRO Tudo isso “dentro” do horizonte estabelecido para a MISSÃO E que deve conduzir à escolha de PROPÓSITOS A partir de detalhes de CENÁRIOS Respeitando a POSTURA ESTRATÉGICA (Djalma Rebouças Oliveira) Já o modelo proposto por Raul Grumbach (1997) prevê a ação de um decisor estratégico que em etapas atua organicamente na proposição de diretrizes gerais a partir da delimitação do estudo realizado pela avaliação da conjuntura que, como podemos ver no esquema a seguir, depende de maneira fundamental das informações levantadas, no contexto em que se insere a organização, de especialistas e de probabilidades. Após a análise das informações disponíveis e levantadas, elabora-se uma matriz inicial com simulações de cenários e redige-se o relatório final, com a apresentação de cenários e planejamento estratégico. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 30 Planejamento Estratégico Unidade II Método descrito por Grumbach No esquema a seguir, tal proposição vem mais bem detalhada: Definição do Problema Propósito, Amplitude, Horizonte Temporal Pesquisa Estudo do Passado e da Conjuntura Atual Compreensão Fatos Portadores de Futuro Concepção (Brainstorming) Lista Preliminar de Eventos Avaliação (1ª Consulta) Probabilidade, Pertinências, Autoavaliação Avaliação (1ª e 6ª Consulta) Convergência de Opiniões Avaliação (Seleção) Seleção de Eventos Definitivos Avaliação (7ª Consulta) Matriz de Impactos Cruzados Avaliação (Interpretação) Interpretação dos Cenários Manipulações Conclusões Indentificação dos Pontos Focais Sugestões Recomendação de Medidas Implementação das Medidas Elaboração do Planejamento Estratégico Legenda: DECISOR ESTRATÉGICO GRUPO DE CONTROLE GRUPO DE PERITOS Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 31 Planejamento Estratégico Unidade II Tendo em vista tudo o que estudamos, salientamos que no mundo mutável e competitivo atual, as empresas não podem se dar ao luxo de não ter planejamento estratégico. Planejar estrategicamente é, em resumo, ter um diagnóstico perfeito da situação; ter visão de futuro (fatos e eventos); estabelecer objetivos factíveis e metas correspondentes e as estratégias adequadas; adequar os meios necessários; monitorar as variáveis; avaliar e corrigir rotas; e realimentar o sistema. O que se depreende em qualquer metodologia de planejamento é a necessidade intrínseca de “informações”. Um processo sistemático de Inteligência supre essa demanda, permitindo a assimilação rápida das mudanças, tão frequentes na conjuntura atual. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 32 Planejamento Estratégico Unidade II Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 33 Ambiente de Negócios Unidade III Ambiente de Negócios Unidade III Capítulo 2 – Política e Estratégia Quais serão os modelos de negócios apropriados nesse novo ambiente competitivo? Para iniciar nossa conversa, vamos conceituar Política e Estratégia. Política: arte do estabelecimento de objetivos e de instrumentalização de estruturas organizacionais. Estratégia: arte de instrumentalizar decisões e objetivos. A partir desses conceitos, leia o texto a seguir: Reinventando o Seu Negócio Carlos José Pedrosa O mundo dos negócios é uma verdadeira guerra, e, como em todas as guerras, vence aquele que melhor sabe neutralizar a força e o movimento dos adversários (concorrentes), favorecer o movimento de suas forças (seus vendedores), bem utilizar o potencial de suas armas (sua tecnologia), ocupar os espaços estratégicos (de mercado) e minar a frente de batalha (sua área de abrangência) com seus projéteis (seus produtos). Em muitos casos, fica evidente a necessidade de repensar a empresa e levá-la a um outro posicionamento que leve em conta diferentes realidades. A ação de uma organização, em qualquer nível, ocorre em uma determinada área de abrangência, que pode ser um bairro, uma cidade, um Estado,uma região, ou mesmo um país ou muitos países de um ou de vários continentes. Nessas áreas deve-se levar em conta o ambiente de negócios, que muda constantemente. Esse ambiente envolve, sofre a influência e interfere em uma grande diversidade de aspectos, como pessoal, clientes, fornecedores, concorrentes, tecnologia, finanças, governo, legislação, meio ambiente, comunidades etc., cuja interação não pode ser ignorada. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 34 Ambiente de Negócios Unidade III Em tal cenário, com constantes oportunidades e ameaças, pequenas decisões poderão influir em grandes resultados. Mais que isto, tal como na guerra militar, ocupar ou não uma posição hoje poderá influir, de modo positivo ou negativo, no desempenho da organização em futuro próximo ou dentro de cinco, dez, quinze anos. Nesta época de globalização, de mudanças rápidas e de transformações inesperadas, chegar primeiro não é apenas uma estratégia de competição, mas , antes de tudo, uma questão de sobrevivência. As necessidades É aqui que o empresário tem necessidade da formulação e implantação do planejamento estratégico, com definição de objetivos, políticas e estratégias. Aqui serão fixados, por exemplo, o foco da organização, os objetivos de curto, médio e longo prazos, a política de pessoal, política de preços, política comercial, política de relações com a comunidade, política de investimentos, política de produtos, estratégia de competição, estratégia de crescimento, qual seu verdadeiro produto, qual a essência do negócio, e uma série de meios para atingir os objetivos da organização, como, por exemplo, os planos táticos. Por exemplo, uma empresa de aviação comercial poderá definir o seu negócio como sendo transporte aéreo de passageiros, ou transporte aéreo de carga, ou de passageiros e carga. Também poderá adotar uma visão estratégica mais abrangente e definir o seu negócio como transporte. Assim ela se situará em um leque mais amplo de oportunidades, que incluirão a conexão avião-caminhão, ou caminhão-navio, ou avião-caminhão-navio etc. As oportunidades são imensas em qualquer ramo de negócio, mas as organizações precisão estar preparadas. O Grande Conteúdo Segundo Philip Kotler, “o planejamento estratégico é uma metodologia gerencial que permite estabelecer a direção a ser seguiida pela organização, visando maior grau de interação com o ambiente”. Como direção, compreende-se o estabelecimento do âmbito de atuação, as macropolíticas, as políticas funcionais, a filosofia de atuação, a macroestratégia, as estratégias funcionais, os objetivos funcionais e os macro-objetivos. O grau de interação entre a organização e o ambiente – que pode ser positivo (favorece a organização), negativo (prejudica a organização) ou neutro (não favorece nem prejudica a organização) – é uma variável dependente do posicionamento e do comportamento estratégico assumido pela organização. A premissa do planejamento estratégico é de que as organizações desejam crescer e se desenvolver – física e economicamente – no sentido de uma evolução positiva e lucrativa para o futuro. O processo de crescimento e desenvolvimento, porém, não é tão simples, visto que a ambiência de mudanças contínuas exige da organização uma capacidade de inovação e adaptação constantes. A adoção do planejamento estratégico requer uma mudança bastante significativa na filosofia e na prática gerencial da maioria das organizações – públicas ou privadas. O planejamento estratégico não é passível de ser implantado por simples modificações técnicas nos processos e instrumentos decisórios da organização. É, antes de tudo, uma conquista organizacional que se inicia a nível de mudanças conceituais da gerência, resultando em novas formas de comportamento administrativo, além de novas técnicas e práticas de planejamento, controle e avaliação. O processo do planejamento estratégico é, para muitas empresas, o último caminho e a última porta para a sobrevivência. Estabelece-se, então, o plano estratégico, englobando toda a organização: os planos táticos, que se relacionam com as diversas áreas (marketing, financeiro, produção, recursos humanos etc.) e os planos operacionais (plano de vendas, plano de investimentos, plano de produção etc.), que se destinam a operacionalizar os planos táticos. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 35 Ambiente de Negócios Unidade III Uma das principais fontes de sucesso no mercado é o relacionamento da empresa com o mundo no qual está inserida. Uma visão clara dos riscos que cercam seu negócio e das oportunidades significativas que se lhe oferecem, tanto no curto como no longo prazo, constitui-se em fator primordial para a condução de qualquer organização. Isto se torna ainda mais verdadeiro nos momentos em que o ritmo de mudanças se acentua, exigindo constantes revisões de antigos posicionamentos, mesmo aqueles que foram os mais bem sucedidos no passado da organização e, bem por isso, mais difíceis de alterar. A época atual apresenta-se repleta de características que a tornam um singular momento histórico de transição entre antigos e novos paradigmas, cuja substituição vem provocando transformações profundas no ambiente operacional das instituições em geral. No atual ambiente de negócios, um dos principais desafios consiste em fornecer um valor superior e ajustado às necessidades dos clientes-alvo e comunicar de maneira clara a sua capacidade de entregar a eles esse valor superior ao oferecido pelos seus concorrentes. Além disso, a análise desse ambiente é uma atividade complexa e, geralmente, a mais importante de um planejamento, pois nela são indicadas oportunidades e ameaças, que serão a base para se chegar à eficácia da entidade. A POLÍTICA de Tancredo Neves era admirada por muitos. Alguns usam a POLÍTICA para se dar bem na vida. Precisamos estudar POLÍTICA. Precisamos estudar POLÍTICAS. Como vemos, há várias acepções para a palavra Política. Na última frase, a palavra usada no plural assume um caráter público, ou seja, de políticas públicas Com isto a empresa estará sendo dotada de um instrumento e uma visão de vanguarda que lhe permitam melhor se situar em um ambiente extremamente competitivo – muitas vezes agressivo. O posicionamento estratégico da organização poderá ser o grande diferencial e um passo decisivo para a liderança, seja qual for o seu porte, seu ramo de atividades, sua área de abrangência e o ambiente de negócios. Com o posicionamento e a visão estratégica, a empresa poderá fixar o rumo das suas ações, definir quais os seus projetos e como desenvolve-los. É este o procedimento das organizações vitoriosas. Com um adequado planejamento estratégico, a empresa posicionar-se-á bem melhor e aumentará seus resultados mais que o custo dos serviços que forem contratados. Isso também será uma questão de estratégia. Fonte: <www.consultores. com.br/artigos.asp?cod_artigo=368> Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 36 Ambiente de Negócios Unidade III Assim, podemos entender que: Política é a arte de organizar e governar um estado e de dirigir suas ações, internas e externas, em busca do bem comum, ideal de convivência que, transcendendo a busca do bem-estar, permite construir uma sociedade onde todos, e cada um, tenham condições de plena realização de suas potencialidades como pessoa, e de conscientização e prática de valores éticos, morais e espirituais. Nesse contexto, procuraremos definir poder, poder nacional e seus fundamentos, com o objetivo de compreender o contexto das organizações que buscam a melhor forma de lidar com essa competência. Poder é a síntese de vontades e meios para alcance de uma finalidade que temcomo fontes principais a tradição, a legalidade, a força, o consentimento da maioria, a riqueza, a inteligência e a organização e é regido por leis Estáticas (Leis da Neutralidade, da Universalidade, Lei da Integralidade e Lei da Pluralidade) e leis Dinâmicas (da Conservação, da Expansão, da Relatividade, da Eficiência e da Defrontação), caracterizando pelos Planos Organizacional (com os Fundamentos, Fatores, Órgãos e Funções) e da Natureza das Manifestações do Poder. Poder Nacional é a capacidade que tem o conjunto interagente dos homens e dos meios constituintes da Nação, atuando na conformidade da vontade nacional, de alcançar e manter os Objetivos Nacionais. O Poder Nacional tem como Fundamentos o Homem, a Terra e as Instituições. Complementando essas abordagens, o Poder Nacional é exercido sobre as variáveis Política, Econômica, Psicossocial, Militar, Científica, Tecnológica e de Inovação por meio de expressões que significam a manifestação de natureza predominante do conjunto interativo dos homens e dos meios que constituem o Poder Nacional, pelos quais se integra e expressa a vontade do povo, de modo a identificar e estabelecer os Objetivos Nacionais e orientar-lhes a conquista e a preservação. Fatores são meios capazes de produzir variáveis qualitativas e quantitativas nos Fundamentos do Poder e que por meio dos ÓRGÃOS emprega-se o Poder Nacional em suas funções normativa e administrativa. Nessa perspectiva, as organizações lançam mão do Planejamento como uma atividade coordenada e capaz de organizar suas diversas estruturas, entendendo que seja um processo desenvolvido para o alcance de uma situação desejada de um modo mais eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços e de recursos pela empresa. Para isso, o planejamento deve ser entendido como atividade: • permanente e continuada; • que se desenvolve de modo racional; • sistematizador de um processo de tomada de decisões. PLANEJAMENTO TECNOLOGIA SISTEMAS PROVOCA MODIFICAÇÕES Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 37 Ambiente de Negócios Unidade III Nesse enfoque, torna-se necessário entender algumas questões relativas ao Mundo Corporativo como, por exemplo, os seus principais objetivos: • Alterações nas Legislações – trabalhista, comercial, fiscal, cambial, financeira, ambiental de defesa do consumidor e propriedade intelectual – refletindo em menores custos ou maiores receitas; • Diminuição das taxas de juros (selic); manutenção de uma política cambial que garanta uma boa remuneração aos exportadores; da mesma forma, necessário se faz levar em conta o planejamento para a tomada de decisão política, a partir da escolha de um cenário desejado, o que pressupõe algumas variáveis, no “caso Brasil”, por exemplo: • reformas política e fiscal; • crescimento sustentável contínuo; • recuperação e ampliação da infraestrutura; • retomada da navegação de cabotagem; • revitalização da indústria naval; • redução das demandas sociais; • efetivação do Mercosul; • melhoramento das condições de defesa; • implementação do SIVAM/SIPAM; • redução do desemprego; • redução da violência e da criminalidade; • incremento do turismo como fonte de divisas; • aumento das vendas: novos produtos, novas propagandas, diversificação de mercados, inovações tecnológicas; • redução das desigualdades regionais; • perenização de políticas e negócios; • sustentabilidade. Diante disso, serão analisadas as políticas que representam parâmetros ou orientações facilitadoras da tomada de decisões do executivo. O termo provoca uma certa confusão e de acordo com Bethlem (1980 apud OLIVEIRA, 2004b, p.238), essa confusão deve-se à inexistência, na língua portuguesa, de vocábulos diferentes, como ocorre em outras línguas. Para estabelecer essa distinção, o termo política significaria a ciência, e a expressão diretriz administrativa faria referência à política inerente à administração de empresas. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 38 Ambiente de Negócios Unidade III POLÍTICAS são parâmetros ou orientações que devem ser respeitados por toda a empresa, pois facilitam a tomada de decisões pelo executivo (em qualquer nível dentro da empresa). Elas procuram refletir e interpretar objetivos e desafios, bem como estabelecer limites ao planejamento estratégico desenvolvido. Podem ser um guia útil para explicitar estratégias. DIRETRIZES: representam o conjunto das grandes orientações da empresa, ou seja, objetivos, estratégias e políticas. Vale ressaltar que, de acordo com suas fontes, as políticas empresariais podem ser classificadas em: • ESTABELECIDAS: provêm de objetivos e desafios da empresa e são estabelecidas pela alta administração, com a finalidade de orientar os subordinados no processo de decisões. Normalmente correspondem as questões estratégicas ou táticas. • SOLICITADAS: resultam das solicitações dos subordinados aos elementos da alta administração da empresa, para saberem como proceder em determinadas situações. Um exemplo é a política de concessão de créditos. • IMPOSTAS: provêm de fatores existentes no ambiente da empresa, tais como governo, sistema financeiro, sindicatos etc. Normalmente correspondem às questões estratégicas, como por exemplo, a imposição dos sindicatos com vistas a determinadas comissões. Quanto à forma de divulgação, essas políticas podem ser: • EXPLÍCITAS: constituem posições escritas ou orais quanto às informações básicas ao tomador de decisões. • IMPLÍCITAS: correspondem a uma situação em que a política não apresenta uma formalização, pois não é falada ou escrita. Outro modo de classificação dos empresários consiste na divisão em: • GERAIS: representam os princípios ou leis gerais fundamentadas na filosofia básica de atuação de empresa. Classificam- se em: dos negócios, de direção e de gestão. • ESPECÍFICAS: referem-se aosprincípios e às leis que devem ser respeitados por uma área específica da empresa. Exemplos: exigência mínima de nível universitário para os cargos de chefia (recursos humanos); rodízio dos vendedores nas região de vendas a cada ano (área comercial); premiação do pessoal da linha de produção por nível de qualidade de produção (área de produção); encaminhando dos títulos não pagos após o 15º dia ocorrido do vencimento a cartório de protesto (área financeira). As políticas são eficazes por apresentarem determinadas características como base de sustentação para o plano de planejamento estratégico, a saber; • Flexibilidade: a empresa não deve ficar presa à tradição, mas procurar constante interação. • Abrangência: os vários aspectos e dificuldades que se desenvolvem nas operações da empresa devem ser observados. • Coordenação: os esforços dos atores devem estar voltados a um mesmo objetivo. Caso não sejam observados, poderão ser dirigidos para tarefas pouco correlatas. • Ética: as ações devem estar de acordo com os padrões éticos de conduta da empresa. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 39 Ambiente de Negócios Unidade III Vale salientar, neste estudo, uma definição abrangente para a concepção política dos negócios como 1º passo para que a empresa alcance seus objetivos. – Quem não sabe para onde vai, normalmente, não chega a lugar algum! Nesse contexto e exemplificando o exposto, pode-se fazer o seguinte questionamento: – Qual o objetivo de uma empresa privada? LUCRO E para tanto, é preciso que sejam observados determinados aspectos, tais como: A equipe: • o conjunto de pessoas, que exercitam papéis de condução ou representação das necessidades, dos interesses e das aspirações das empresas. Decisores estratégicos: • grupo composto por membrosem posição de tomarem decisões que tenham consequências de importância. Eles controlam as hierarquias e as organizações mais importantes ou impedem que outras decisões sejam tomadas. Aspirações das pessoas: • possuir; • conhecer; • realizar mais; • ser feliz. As Nossas Necessidades e os Nossos Desejos É comum ouvirmos que o marketing cria desejos e necessidades nas pessoas. Mas isso será uma verdade, ou pelo menos teria um fundo de verdade? Maslow construiu uma teoria na qual as necessidades humanas podem ser hierarquizadas, mostrando inclusive, com essa hierarquia, no que somos diferentes dos animais, que não teriam uma hierarquia com tantos níveis como nós, os humanos. Segundo a Teoria de Maslow, as necessidades humanas podem ser agrupadas em cinco níveis: 1. Necessidades fisiológicas – as necessidades mais básicas, mais físicas (água, comida, ar, sexo etc.). Quando não temos estas necessidades satisfeitas ficamos mal, com desconforto, irritação, medo, doentes. Os sentimentos Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 40 Ambiente de Negócios Unidade III e as emoções nos conduzem à ação na tentativa de diminuí-las ou aliviá-las rapidamente para estabelecer o nosso equilíbrio interno. Uma vez satisfeitas essas necessidades, abandonamos essas preocupações e passamos a nos preocupar com outras coisas. 2. Necessidades de segurança – no mundo conturbado em que vivemos, procuramos fugir dos perigos, buscamos por abrigo, segurança, proteção, estabilidade e continuidade. A busca da religião, de uma crença deve ser colocada neste nível da hierarquia. 3. Necessidades sociais – O ser humano precisa amar e pertencer. Tem a necessidade de ser amado, querido e aceito por outros. Queremos nos sentir necessários a outras pessoas ou grupos de pessoas. Esse agrupamento de pessoas pode ser a antiga tribo, ou a tribo (grupo) atual, no seu local de trabalho, na sua igreja, na sua família, no seu clube ou na sua torcida. Todos esses agrupamentos fazem com que tenhamos a sensação de pertencer a um grupo, ou a uma “tribo”. Política, religião e torcida são as tribos modernas. 4. Necessidades de “status” ou de estima – o ser humano busca ser competente, alcançar objetivos, obter aprovação e ganhar reconhecimento. Há dois tipos de estima: a autoestima e a heteroestima. A autoestima é derivada da proficiência e competência em ser a pessoa que se é, gostar de si, acreditar em si e se dar valor. Já a heteroestima constitui o reconhecimento e a atenção que se recebe das outras pessoas. 5. Necessidade de autorrealização – o ser humano busca a sua realização como pessoa, a demonstração prática da realização permitida e alavancada pelo seu potencial único. O ser humano pode buscar conhecimento, experiências estéticas e metafísicas, ou mesmo buscar a Deus. Abaixo apresentamos a representação gráfica da Hierarquia das necessidades de Maslow: HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW NECESSIDADES ESPIRITUAIS? AUTORREALIZAÇÃO NECESSIDADES DE STATUS NECESSIDADES SOCIAIS NECESSIDADE DE SEGURANÇA NECESSIDADES DO CORPO M OT IV AÇ ÃO FA TO RE S HI GI ÊN IC OS DE SM OT IV AÇ ÃO Uma pergunta resta sem resposta: Acima das necessidades de autorrealização há ainda as necessidades espirituais? Podemos ainda afirmar dentro da teoria de Maslow que: a. As necessidades fisiológicas, as necessidades de segurança e algumas necessidades sociais são fatores de desmotivação. A Teoria de Maslow diz que a satisfação dessas necessidades é básica; já a ausência dessa satisfação não motiva ninguém, pelo contrário, desmotiva. b. As necessidades sociais, as necessidades de “status” ou de estima e as necessidades de autorrealização são fortes fatores motivacionais, ou seja, na ausência dessas necessidades satisfeitas, as pessoas são motivados a alcançar a satisfação delas. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 41 Ambiente de Negócios Unidade III As necessidades básicas, listadas no item “a”, são chamadas de fatores higiênicos, e as listadas no item “b”, de fatores motivacionais. Esse conjunto hierárquico de necessidades, também conhecido pelo nome de pirâmide de Maslow, ou ainda Pirâmide das Necessidades de Maslow, dividide-se em 5 partes, paralelamente à sua base. A necessidade fisiológica localiza-se na base e a necessidade de autorrealização no cume da pirâmide. Um detalhe muito importante da Teoria de Maslow é a hierarquia das necessidades, ou seja, a pessoa que não tem suas necessidades de segurança satisfeitas, total ou quase integralmente, não se sente motivada a buscar as necessidades sociais. E assim por diante. Nas palavras do próprio Maslow: “... à medida que os aspectos básicos que formam a qualidade de vida são preenchidos, podem deslocar seu desejo para aspirações cada vez mais elevadas.” Uma consequência desse fato para a administração de pessoas é que uma pessoa com necessidades prementes de segurança, por exemplo, não é motivada pela possibilidade de satisfação de suas necessidades de “status” ou estima. Mas, o que isto tem a ver com o marketing? Para o marketing, um exemplo da aplicação desse conceito é que não adianta querer vender canetas de luxo ou automóveis para pessoas que estão tentando satisfazer suas necessidades de segurança, ou seja, a hierarquia das necessidades de Maslow entrega, pronta, uma segmentação psicológica baseada nas necessidades e desejos das pessoas. O que não é pouco, não é mesmo? Outro exemplo da aplicação da Teoria de Maslow no marketing: não adianta tentar vender produtos orgânicos – só com adubação natural – para um segmento que está com fome, pois a necessidade de produtos orgânicos está no topo das necessidades de segurança. E para a sua empresa, você vê aplicações na sua administração que possam utilizar a hierarquia das necessidades de Maslow? E no marketing da sua empresa? Leia o texto a seguir e reflita sobre as suas necessidades e os seus desejos, onde eles estão situados na pirâmide de Maslow? “Um músico deve compor, um artista deve pintar, um poeta deve escrever, caso pretendam deixar seu coração em paz. O que um homem pode ser, ele deve ser. A essa necessidade podemos dar o nome de autorrealização.” Abraham Harold Maslow (1908 – 1970) Na compreensão de um contexto administrativo que busca estrategicamente o crescimento da empresa, não se poder furtar às reflexões de uma postura ética no trabalho. Entenda-se ética como o império do que é moral. É uma preocupação antiga da atividade de inteligência, a exemplo da ABIN, ABRAIC, Forças Armadas etc. Alguns autores preocupam-se, também, com os aspectos legais. Fu nd am en to s Te ór ic os d a In te lig ên ci a Es tr at ég ic a I 42 Ambiente de Negócios Unidade III Para melhor compreensão e entendimentos do conceito de ética, vale ressaltar alguns pressupostos, tais como: Licitude lícito – o poder como meio (instrumento social) ilícito – o poder como fim (objetivo pessoal) Legalidade política legítimo – o poder consentido (democrático) ilegítimo – o poder imposto (autocrático) Legalidade jurídica legal – via institucional (amparo nas leis, eleição, concurso, livre escolha, sorteio, hereditariedade etc.) ilegal – via não institucional (revolução, golpe de estado, usurpação etc.) Oportuno que se faça distinção entre o ético e o legal na prática da inteligência, pois nem sempre isso fica claro ao profissional dessa área, para enfrentar decisões num contexto operacional. Observe que: ILEGAL é a conduta que adquire configuração de violação da lei com consequências civis ou criminais para um indivíduo ou seu empregador. Na jurisdição, a conduta legal, portanto, é aquela que
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