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Imigração cortes e descontinuidades

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IMIGRAÇÃO: CORTES E DESCONTINUIDADES.
BORIS FAUSTO.
Indagação:
Em que medida, em razão de sua condição específica, os grupos de imigrantes tiveram uma vida privada com traços distintivos que permitam recortá-la do quadro mais amplo da população componente do receptor?
O autor toma como ponto de partida a mencionada condição específica de imigrante, destacando algumas de suas características mais abrangentes que, de algum modo, possam relacionar-se com o universo privado.
A imigração representa profundos cortes com vários desdobramentos, no plano material e no plano imaginário. Corte que não é sinônimo de apagamento de uma fase passada, na vida individual, familiar ou de grupo, mas pelo contrário integrando-se ao presente com muita força.
Na época das grandes migrações, a viagem transatlântica era o veículo por excelência dos deslocamentos, um momento que marca a vida do imigrante. A partida que assinala o encerramento de uma parte da existência ou quase sempre o abandono da pátria à qual muitas vezes se deseja retornar, sem que se tenha certeza da possibilidade de retorno. No outro polo, a expectativa da chegada encerra esperanças, temores, incertezas.
Entre essas duas sensações contrastantes, a viagem marítima representa uma transição lenta até certo ponto, quando comparada com outros meios. Mas sem dúvida é a viagem marca a vida dos imigrantes, de modo que não é ocasional o fato de os mesmos lembrarem com detalhes da viagem. 
Um traço genérico comum de ansiedade, estranheza, expectativa sublinha a chegada do imigrante, no período da imigração em massa, situado entre 1870 e 1930. Um panorama geral dos traços marcantes do destino de chegada e seus elementos ao redor.
Mas se o olhar do imigrante na chegada prende-se a este caleidoscópio, qual seria o olhar da população do país receptor?
Da visão jornalística do Correio Paulistano referente à chegada dos primeiros imigrantes japoneses ao porto de Santos, em 1908, temos uma pequena amostra:
O repórter revela sua expectativa prévia quanto às figuras que espera encontrar, derivada de imagens de figuras japonesas, mostrando no texto certa decepção causada pela não identificação dessas figuras. Ele vê gente vestida à ocidental, com trajes muito simples, porém a decepção se reduz ao ver nas mulheres "os penteados vistos em pinturas japonesas, mas sem os grampos colossais que aparecem nessa pintura", fala da impressão agradável que lhe causam a limpeza da roupa e o cuidado das mulheres, calçadas com luvas brancas de algodão.
Alguns que descem se distinguem por trazer no peito medalhas por atos de heroísmo, conquistadas no curso da recente guerra russo-japonesa, em que os japoneses saíram vencedores. E se todos não podiam se comunicar podiam ao menos dar esperanças de um bom acolhimento, ao portarem duas pequenas bandeiras de seda- uma do Brasil e outra do Japão.
Assentado no Brasil é comum que o imigrante busque amenizar o corte materializando de várias formas, a lembrança da terra que deixou. Desse modo o arranjo de sua casa tem características próprias, evidenciadas nos chamados objetos biográficos: um retrato emoldurado de toda a família, tirado geralmente um pouco antes da partida, uma imagem religiosa, baixelas, tapetes, uma caixa de madrepérola, ou simples talheres, são expostos como fragmentos de um mundo em que se deseja voltar, mas que se suspeita jamais ser possível rever, ou pior se revê-lo talvez não reconhecer mais seus traços originais.
 Aparecem por vezes, nas casas, referências explícitas a paixões coletivas e a figuras simbólicas do país de origem. O deslocamento no espaço tem um forte componente de compulsão, determinado por várias razões, entre as quais predominam as de natureza econômica, mas encerra também uma escolha cujo acerto o imigrante avaliará ao longo de sua vida. A ideia de retorno, com exceção dos judeus aparece como uma possibilidade, ou mais como um desejo. Não o retorno como um fracasso, e sim o retorno vitorioso, muitas vezes convertido em viagens de poucas semanas para rever parentes, entender as origens, exibir os traços invejáveis de êxito. Desejo que, sobretudo, nos que saíram moços de sua terra de origem e envelheceram no país de recepção, sem possibilidade de retorno, mostra-se particularmente forte. Há exceções, porém em que o imigrante faz um esforço não para reter o passado, mas para apaga-lo como é o caso dos judeus.
2. Outra característica específica do imigrante, que o autor ressalta diz respeito à sua condição de outro, a uma alteridade composta de olhares cruzados: do imigrante para o nacional, do nacional para o imigrante.
A visão do estrangeiro como outro objeto de curiosidade algumas vezes objeto de temor e desprezo quase sempre tem fundas raízes na história do mundo ocidental. Em um estudo clássico Jean Delumeau lembra que durante a Idade Média e o Renascimento grande parte da população tinha relativamente ao estrangeiro uma atitude muito restritiva. Daí a hostilidade com os de fora; a cólera nas aldeias, expressa por meio dos charivaris, se uma jovem casava com um homem vindo de fora, o silêncio dos habitantes diante das autoridades se um dos seus maltratava um forasteiro, as rixas entre camponeses de localidade vizinhas, a propensão a atribuir a culpa aos judeus pelas epidemias. Delumeau cita um livro escrito em torno de 1450 no qual a maior parte dos europeus é apresentada de forma pejorativa: ingleses cruéis e sanguinários; poloneses gente terrível e furiosa; suíços cruéis e rudes, napolitanos grosseiros e maus católicos e muito pecadores, sicilianos muito ciumentos, castelhanos gente de maus bofes, mal vestidos, mal calçados, maus católicos.
Em que medida essa condição de outro, estampada no estrangeiro valeria no quadro específico da imigração em massa para o Brasil?
É dito que a grande aventura imigratória, tomada no seu sentido mais amplo, teve um desfecho satisfatório, tanto no plano da ascensão social como no da integração na sociedade. Contudo, esta constatação não pode apagar o roteiro de dificuldades, o fracasso na realização de sonhos, a sensação de estranheza que o imigrante teve de enfrentar e tentar superar, muitas vezes penosamente na nova terra.
O autor para melhor observar estas questões opta por se concentrar quase totalmente no meio urbano, tomando como foco a cidade de São Paulo.
A visão corrente da São Paulo dos primeiros decênios do século XX como “cidade dos italianos” ressalta a presença dos peninsulares, no entanto, acaba por obscurecer o impacto contraditório que produziu a instalação de imigrantes desta ou daquela origem na cidade.
Os jornais da época sugerem a esse respeito à viabilidade de se fazer um recorte de classe:
De um lado reconhecem-se os méritos de um “impositiva” classe média estrangeira, na qual toda fala sobre a carestia da vida em São Paulo a associava diretamente a um deslocamento social, no qual o estrangeiro estaria compondo a classe média tomando conta da pequena indústria, de todo o pequeno comércio, de toda a pequena propriedade e que enriquecia porque trabalha e gasta pouco, tem amplo e incontestável direito de fazer imposições, em seu exclusivo proveito.
De outro lado os hábitos dos habitantes dos cortiços são censurados sem ressalva. Abundam nos jornais as queixas contra a troca de tiros, obscenidades, algazarras, pelas quais são responsabilizados estrangeiros moradores dos cortiços, quebrando o estilo de vida recolhido da cidade, cuja população se amplia enormemente.
Até mesmo as visões dos autores sobre os imigrantes são permeadas de distintos enfoques: por exemplo, Guilherme de Almeida demonstra em suas obras a estranheza que a figura do imigrante lhe causa, mesclando a esta estranheza certa dose de simpatia, este que afinal de contas estava construindo “a grandeza de São Paulo”. Em contrapartida Alfredo Ellis Jr, outro historiador lança sobre o imigrante um olhar preconceituoso, com base em pressupostos científicos hoje ultrapassados.
Certas cerimonias que demarcam a existência ou o fim da existência, demarcam sensíveisdiferenças entre nacionais e certos grupos de imigrantes.
No caso do casamento: comparecendo a um casamento israelita o nacional bem como os imigrantes de outra origem teriam a sensação de distância revelada por um ritual que lhe é estranho, seja pelas orações, pelos gestos. 
No caso dos funerais: tomando como exemplo novamente o caso dos judeus, o ritual da morte e os discretos cemitérios onde não existem mausoléus seriam elementos de nítida a diferenciação. Predominando alguns princípios básicos como a concepção de finitude do corpo e da alma, e a igualdade gerada pela morte, o que resulta de procedimentos destinados a perpetuar a imagem do morto apenas enquanto pessoa viva, daí o desejo de afastar parentes da presença do falecido, o esforço por apressar o enterro.
Se os estrangeiros despertavam sentimentos contraditórios nos nacionais, a mesma contradição surgia em sentido inverso, embora com traços diversos: de um lado inveja da forma como os nacionais se apresentavam como donos da terra, de outro desprezo por sua suposta condição física doentia, pela aversão ao trabalho. (mesmo com as diferenças entre as etnias, uma coisa era comum a elas, a convicção de se considerarem gente devota ao trabalho, os verdadeiros construtores de uma cidade que ia se converter em metrópole).
Se os nacionais a partir de um recorte da classe média para cima conviviam bem com o poder público instrumentalizando-o de acordo com suas possibilidades e interesses, de modo que o Estado será um campo de apropriação para as camadas mais altas e uma fonte de pequenas benesses para as menos desfavorecidas. 
Ao contrário, ao imigrante enquanto não enraizado no país de recepção, mesmo passou a encarar o Estado, corporificando em seus funcionários, como um aparelho temível de extorsão, de modo que diante de um fiscal em seu negócio, de uma intimação para comparecer a um órgão público, o imigrante pobre ou de classe média adotava muitas vezes uma atitude de humildade que não deixava de ser instrumental. Se não sofria nenhum vexame, nenhuma arbitrariedade se poupava de reivindicar possíveis direitos.
No confronto entre nacionais e estrangeiros estão fatores materiais e institucionais, levando-se em conta que os cargos públicos e os de representação política são proibidos aos estrangeiros. A entrada destes por via indireta na política, e a de seus descendentes tanto nessa esfera como na dos cargos públicos de prestígio constituiu um processo longo que teve suas peculiaridades conforme a região do país, a trajetória de ascensão social do imigrante e outros fatores.
A auto percepção do imigrante como outro e a visão etnocêntrica do nacional sobre ele contribuíram para reforçar os laços familiares, pelo menos em uma primeira fase. 
A referência aos laços de grupos diz respeito à organização das microssociedades, situadas a meio caminho entre a esfera pública e privada, como é o caso dos clubes comunitários, teatros, associaçãos de socorros mútuos formados por pessoas de uma determinada etnia ou de uma determinada região do país de origem, sindicatos, templos religiosos etc. 
-Por exemplo, o Círculo Italiano, fundado em São Paulo em 1911, onde se realizava festas, comemorações, mas também confrontos políticos;
- O Círculo Educativo Libertário Germinal, inspirado pelos anarquistas de origem transitória. 
Em um país carente de assistência pública, as sociedades de socorros mútuos desempenharam um importante papel, proporcionando aos sócios auxílios em caso de enfermidade, de invalidez, assim como para a realização de um funeral decente. Por exemplo, a pioneira Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, organizada em 1859. Contudo, em sua origem tais sociedades tinham uma vinculação destinada à determinada nacionalidade, ou mesmo, sobretudo, nos casos de italianos, a uma determinada região de origem, de modo que apenas uma ou outra se dispunha a atender todos os imigrantes em geral.
No que diz respeito aos templos religiosos, ao lado das igrejas destinadas à veneração dos “santos de imigrantes”, o autor ressalta o papel das sinagogas como local de celebração religiosa, de festividades, propiciando estreitar relações e encaminhar negócios. 
Na constituição das microssociedades os bairros étnicos constituíram um elemento importante. A tendência à concentração nesses espaços foi mais frequente à medida que era maior a diferença entre uma determinada etnia e população nacional. No caso de São Paulo muitos judeus e japoneses se concentraram nos bairros do Bom Retiro e na Liberdade respectivamente, onde era possível de uma forma livre de estranhamentos alimentar-se de uma comida tida como exótica, abrir açougues onde os fregueses encontravam carnes próprias de sua nacionalidade, realizar festas religiosas com a possibilidade de ocupar as ruas como em bairros do Bexiga e da Mooca. De modo que os bairros étnicos representavam um fator de intimidade e segurança, em meio à vida na cidade. 
Contudo, convém ressaltar que a vivência no bairro étnico não era sinônimo de vida privada, a tal ponto que a mudança do bairro significou maior privatização das relações interpessoais. Implicando que a mudança do bairro étnico para outro bairro significava estabelecer limites mais claros entre a vida comunitária e a vida familiar. Embora não abandonem a vida comunitária, construindo clubes e sinagogas à sua volta, já não terá um contato cotidiano com a comunidade e poderá encara o bairro étnico como um bairro aonde o mesmo aparece para manter algumas de suas relações.
As condições específicas dos imigrantes levaram sua vida privada, na dimensão familiar, a ter uma carga emotiva e funcional muito forte. A família não era só ponto de apoio básico e por vezes único na terra de recepção, mas também representava um extenso elo abrangendo os que emigraram e os que ficaram na terra de origem. 
Permeando relações efetivas e emocionais, as alianças familiares desempenhavam também um papel estratégico, na busca de ascensão social e prestígio. Famílias anônimas, aos milhares ampliaram seus negócios, seus ganhos mediante a absorção de parentes distantes, mas confiáveis, de genros bem escolhidos e mesmo de conterrâneos assumidos como parentes. A transposição da família do país de origem para o Brasil deu lugar a certos casos a estruturação de novos arranjos familiares em decorrência das necessidades geradas na nova terra. Por exemplo, ao se observar núcleos japoneses e seus descendentes na zona rural de São Paulo, são nítidos que muitas vezes as famílias abrigam genros ou parentes jovens da esposa para aumentar seu potencial de produtividade, Arranjo familiar que seria impossível no Japão mediante sua proibição de convivência entre duas linhas familiares de descendência- masculina e feminina- na mesma casa. No que diz respeito aos filhos de imigrantes enriquecidos, as alianças matrimoniais representaram um elemento importante de fusão com a elite paulista.
No entanto, seria um equívoco associar família apenas a um signo positivo, como suporte afetivo e material, porém não considerar que em contrapartida no seu interior ocorrem fortes e explosivas tensões. Sob esse aspecto membros da família imigrante descarregam em certas situações, no âmbito privado, problemas e frustações reprimidos na vida social. Para, além disso, tem destaque certos elementos específicos que integram toda complexidade do relacionamento no âmbito familiar do imigrante e de seus descendentes.
Conflito geracional: decorrente de fatores como a educação, resultando na apreensão de dimensões diferentes da vida, o aprendizado da norma culta da língua do país, os contatos com gente de outras etnias, os quais conduzem a amizades e ligações efetivas incontroláveis. Em caso de grupos que tem como princípio de sobrevivência o casamento intraétnico (judeus e japoneses), a escola, a universidade serão elementos importantes na quebra, por vezes dramática e dolorosa da regra endogâmica. Daí o esforço de muitas famílias manterem seus filhos no círculo da educação das escolas étnicas, oque não significa recusar a educação nacional vista como um instrumento de ascensão social e prestígio, mas de prepará-los na tentativa de imunizá-los contra a tendência de assimilar essas várias culturas.
DIMENSÕES DA VIDA FAMILIAR
A CASA
O autor procurando abordar algumas dimensões da familiar as aborda por meio da casa lidando três fatores essenciais da convivência doméstica dos grupos imigrantes: a celebração religiosa, a língua e a comida. O mundo da casa não é desligado do mundo da rua. Um dos aspectos mais significativos da convivência doméstica é o que se dá a confluência dos dois mundos no interior do lar. De modo que o rádio, a televisão e o jornal constituem veículos por meio dos quais as mensagens de um amplo e variado universo penetram na esfera privada, impondo determinados hábitos e uma nova organização do espaço e do tempo.
Alguns jornais da própria comunidade, escritos na língua do imigrante continham notícias do país de origem e matérias a respeito da inserção do agrupamento étnico, sendo um instrumento valioso no esforço da primeira geração para manter-se fiel as raízes e buscar transmiti-las aos seus descendentes.
A forma de organização da casa é em si mesmo índice da concepção e da própria possibilidade de existência de uma vida privada.
A vinda dos imigrantes gerou impacto na arquitetura das casas no país. Anteriormente à sua vinda as casas nos tempos coloniais tanto as senhoriais quanto as das camadas mais pobres ensejavam poucas condições de uma vida privada. Por volta de 1860, surgiram às primeiras novidades nas construções e nos critérios de planejamento das casas, imigrantes alemães foram pioneiros no uso de tijolos nas construções em geral, começando assim superar a taipa de pilão. 
No entanto, a forma inicial de moradia do imigrante pobre, no período da imigração em massa nas grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo era extremamente precária. A pobreza permitia apenas viver no cortiço, este que permitiu utilizar terrenos de pouco valor, geralmente situados nas várzeas, adensou a população trabalhadora perto de seus locais de trabalho e foi um bom negócio para empreendedores capitalistas que começaram a se expandir. A promiscuidade reinante no cortiço impedia que o imigrante pobre e recém-chegado, estabelecesse uma esfera de vida privada (divisão de cômodos com outras famílias, espaços comuns de uso, péssimas condições de higiene, atividades realizadas em grupo, falta de lugar para os recém-chegados dormirem). (Inclusive os processos criminais da época representam a inexistência de privacidade nessas habitações: quando fazem referências a gritos, discussões, ameaças, crimes sexuais, sussurros).
A casa com características de espaço privado tem sido associada à ascensão da burguesia e a sedimentação de seus valores ao longo do século XX. No entanto, o anseio de alcançar a casa própria se tornou um objetivo generalizado nas camadas pobres. No cenário brasileiro por meio da compra, o imigrante visava escapar de uma vida promíscua combinado em seu esforço uma estratégia de segurança e de ascensão social. Os pobres ou a gente de classe média que em alguma medida se acomodaram não deixaram de valorizar o contato com a vizinhança.
De lado oposto ao cortiço encontra-se o palacete mandado construir pelo imigrante enriquecido. Palacete que é um indicador de que o imigrante deseja imitar o estilo de vida da elite, mas procura também recriar as formas arquitetônicas que relembram a sua origem. O mesmo combinava a vida interior do círculo familiar com outra dimensão consistindo em um círculo de prestígio e de proveitosos contatos. Caso típico de mansões que famílias sírias e libanesas mandaram construir junto a suas fábricas. Nestes o imigrante que enriquecera ia refinando sua etiqueta ao observar o paulista que imitava os modos do francês.
Festividades e rituais religiosos 
A religião constitui um fator que tende a demarcar fronteiras. Por causa da crença estabelece-se em alguns casos um calendário que não segue o do país receptor. Os rituais familiares se associam aos momentos decisivos da vida dos membros de uma família, conforme sua etnia- nascimento, iniciação, casamento e morte. Como é o caso da divisão judaica entre a sinagoga espaço de sociabilidade mais amplo diante das festas e o da casa espaço mais familiar, bem como aos seus diversos rituais que os diferenciam de outras etnias como o Shabat, rituais como a cerimônia de circuncisão, bar mitzva para celebrar a passagem para a fase adulta, celebrações religiosas como a de Pessach, alimentos próprios como o seder.
Assim como também os japoneses que ainda quando católicos mantém o culto doméstico dos antepassados, de acordo com a tradição xintoísta. O cerimonial de morte possui um caráter particular sendo realizado em casa na presença de um monge budista e englobando uma série de atividades antes e depois. E outros cultos como o culto a São Vito padroeiro dos imigrantes bareses oriundos de Polignano a Mare.
A língua
A língua representou na vida do imigrante e de seus descendentes tanto um poderoso veículo de comunicação como um obstáculo aos contatos pessoais. A mesma facilitou ou dificultou enormemente a integração do imigrante no país receptor.
A língua funciona também como forma consciente ou inconsciente de resistência a integração. É o caso, por exemplo, dos japoneses que se recusam a aprender o português. A fim de preservar que seus filhos aprendessem o japonês e não serem considerados como estrangeiros pelos japoneses quando retornassem ao Japão. No entanto, ao longo dos anos os japoneses foram reconhecendo a dificuldade se não a impossibilidade de retornar ao país de origem. Dessa percepção decorreu a tendência de aculturar-se por meio da conversão muitas vezes formal ao catolicismo, da escolha de nomes cristãos para os filhos, da preferência por padrinhos japoneses.
Como é o caso da bilinguidade dos italianos na tentativa de ascender socialmente aprendendo a língua nacional, mas em seu âmbito privado guardar a língua de origem para suas relações particulares.
A comida
Em São Paulo, a cozinha étnica surgiu em contraste com um regime alimentar prévio e pouco variado. A transformação dos itens da cozinha brasileira é a junção não só da ação dos imigrantes, mas também da acumulação de riqueza derivada da expansão cafeeira, permitindo a multiplicação de viagens a Europa, contratação de cozinheiros especializados que mudou os padrões alimentares da burguesia paulista, ela mesma em processo de constituição ao longo dessa mudança.
Os pratos italianos como as massas levaram algumas décadas para serem socializados, até se transformarem em itens triviais nos menus das casas de família de qualquer etnia e dos restaurantes. De modo que ainda na década de 40 era necessário ir a um bairro de imigrantes para saborear a comida italiana.
Nos lares dos imigrantes outros pratos foram se integrando a cozinha étnica, por influência genérica do meio ou das aptidões das cozinheiras em particular. De qualquer forma a comida étnica representou, sobretudo, nos primeiros tempos de imigração, uma ponte para a terra de origem, a manutenção de um paladar, assim como a afirmação de uma identidade. Manter hábitos alimentares na cidade de São Paulo era muito mais fácil que mantê-los nas cidades do interior. 
Um dos significados mais importantes da comida étnica é o de ser a materialização de um elo afetivo poderoso para a gerações de imigrantes, representando um elo com o passado e com o presente.
Tentar contornar os traços de uma vida privada específica nos dias atuais foram sendo borrados embora não completamente eliminados isto pela integração de correntes imigratórias por diferentes vias que vão da ascensão social à socialização da comida e dos rituais.