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UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE DIREITO MONOGRAFIA II – D9NA ROBERT DOS SANTOS MARIANO POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS EM VILA VELHA: O PERFIL DOS SUSPEITOS PELA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS VILA VELHA 2017 ROBERT DOS SANTOS MARIANO POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS EM VILA VELHA: O PERFIL DOS SUSPEITOS PELA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS Artigo científico apresentado ao Curso de Direito da Universidade Vila Velha – UVV/ES, como requisito parcial para aprovação na disciplina Monografia II e obtenção do Título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dr. Humberto Ribeiro Júnior. VILA VELHA 2017 ROBERT DOS SANTOS MARIANO POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS EM VILA VELHA: O PERFIL DOS SUSPEITOS PELA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS Artigo científico apresentado ao Curso de Direito da Universidade Vila Velha - UVV/ES, como requisito parcial para aprovação na disciplina Monografia II e obtenção do Título de Bacharel em Direito. COMISSÃO EXAMINADORA ___________________________ Prof. Dr. Humberto Ribeiro Júnior Orientador ___________________________ Prof. Dr. Pablo Ornelas Rosa Examinador AGRADECIMENTOS Agradeço imensamente a Deus, por ter chegado aonde cheguei hoje, cá aqui, neste curso de Direito, um dos cursos mais concorridos e mais difíceis, mais que pela fé consegui vencer todos os obstáculos e chegar ao 9° período. Tudo que sou eu devo a Deus. Agradeço a minha família, Fernando mariano campos e Raquel dos Santos Mariano, por todo apoio dado para que até aqui pudesse chegar, cada palavra de ânimo, de encorajamento e de motivação. Agradeço por não terem me desamparado em nenhum momento dessa jornada inicial, de minha longa carreira jurídica. Agradeço a minha esposa Mayra Santos Vieira Mariano, por tudo que passamos, e todos os momentos em que me ajudou, me encorajou e motivou. Sempre me auxiliando e comigo comemorando as conquistas. Agradeço pelos amigos, tanto os que possuo desde minha tenra idade, quanto os que conquistei na faculdade. O apoio de cada um foi fundamental nessa caminhada. Agradeço ao professor orientador, Doutor Humberto Ribeiro júnior, que com muita dedicação me orientou, dando o melhor de si, para que eu pudesse compreender da melhor forma possível, e o máximo possível do conteúdo que escolhi. Seja fornecendo conteúdo, seja na troca de conhecimento, seja nos ensinamentos. Todo conhecimento adquirido, foi fundamental para que eu pudesse dar o melhor de mim neste artigo. Agradeço ao nobre professor Augusto Salomão Mozine, pela dedicação, pela paciência, e pela rigidez com que conduz tão bem sua matéria. Matéria esta que por muito complexa, exige muito, entretanto com a excelente orientação que tive, sabia que seria possível vencer. Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar uma coisa diferente. Roger Von Oech 6 POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS EM VILA VELHA: O PERFIL DOS SUSPEITOS PELA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS Robert Dos Santos Mariano1 Humberto Ribeiro Júnior2 RESUMO O presente artigo identifica qual o perfil dos suspeitos pela prática do crime de tráfico de drogas em Vila Velha. O trabalho tem como base para a análise e pesquisa, dados extraídos dos boletins de ocorrência policial, visando por meio destes dados, observar quais os indivíduos são alvos de abordagens policiais e consequentemente do controle estatal e da seletividade que é orquestrada pelo Estado. O trabalho verificou se de fato existe ou não uma seletividade contra as classes menos favorecidas por parte dos órgãos de controle penal, através de exame minucioso de cada boletim de ocorrência, verificando raça, cor dos olhos, cor de cabelo, naturalidade, profissão, entre outras especificações que formam o perfil social dos indivíduos objeto da pesquisa. Primeiramente foi feito um escorço histórico, sobre a política criminal de drogas no Brasil, e a evolução das leis que reprimiram tal comércio, até chegar à atual lei 11.343/2006, analisando assim o tratamento relativo ao usuário e ao traficante, apontando por fim qual o perfil dos suspeitos pela prática do crime de tráfico de drogas em Vila Velha. Palavras-Chave: o perfil do suspeito pela prática do crime de tráfico de drogas; Seletividade e estereótipo; Polícia Militar. 1 Acadêmico do Curso de Direito da Universidade Vila Velha 2 Professor do Curso de Direito da Universidade Vila Velha. Doutor em Sociologia e Direito (PPGSD/UFF) 7 ABSTRACT The purpose of this article is to identify the profile of suspects in the practice of drug trafficking in Vila Velha. The work will have as base for the analysis and research, data extracted from the bulletins of police occurrence, aiming through these data to observe which individuals are mainly targets of police approaches and consequently of the state control and of the selectivity that is orchestrated by the State against the classes less favored. The work will verify whether or not there is such selectivity by the criminal control agencies, through careful examination of each bulletin of occurrence, verifying race, eye color, hair color, naturalness, profession, among other specifications that form the social profile of the individuals being investigated. Notwithstanding, first, a historical foreshortening will be made of the criminal policy of drugs in Brazil, and the evolution of the laws that repressed such commerce, until arriving at the current law 11.343 / 2006, thus analyzing if there was a substantial change in the treatment relative to the user and the trafficker, or whether the same treatment was maintained for both. Finally we will conclude the profile of the suspects in the Vila Velha region, if they follow the same general profile, or differ from other cities in Brazil. Keywords: the profile of the suspect for the crime of drug trafficking; Selectivity and stereotype; Military police. SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO; 2 POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS; 3 A POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS NO BRASIL; 4 A CRIMINALIZAÇÃO DO TRÁFICO DE DROGAS NA LEI 11.343/200; 5 O PERFIL DO SUSPEITO PELA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS: ESTEREÓTIPO E SELETIVIDADE PENAL; 6 O PERFIL DO SUSPEITO EM VILA VELHA SEGUNDO A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR; 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS; 8 REFERÊNCIAS. 8 1 INTRODUÇÃO Com o advento da política criminal “neopunitivista” (do direito penal máximo) percebeu-se um aumento substancial no aprisionamento de indivíduos presos pelo crime de tráfico de Drogas. Entretanto um fator relevante a se ressaltar é no que tange ao perfil desses indivíduos presos por praticar essas condutas. O Combate ao tráfico de drogas gera uma violência social desmedida, o famoso “Combate as Drogas” Slogan trazido pelos órgãos de controle estatal, pelo que se poderá perceber parece ter um “alvo”, que são pobres, moradores de áreas de risco, principalmente os de pele negra e parda. Há um estereótipo em torno desse “alvo” que acarreta em operações e abordagens de Rotina realizadas pelos órgãos de segurança e controle estatal, com foco estereotipado, Ignorando áreas e pessoas que também cometem a mesma conduta de traficar.É com base nessas reflexões é que se faz necessário, identificar quem são os verdadeiros traficantes de drogas, se atuam apenas em favelas e regiões marginalizadas ou se atuam também em áreas nobres. Tudo isso se faz interessante analisar, visto que se é de interesse do Estado atuar de forma preventiva, com vistas a prevenir a execução dessas condutas descritas como tráfico, indispensável é a correta identificação de quem são esses indivíduos. O objetivo primordial do trabalho é pesquisar dados estatísticos da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo, a fim de analisar as características dos presos pela prática do crime de tráfico de drogas, e identificar quem são os indivíduos suspeitos pela pratica de crimes de tráficos de drogas a partir das abordagens policiais nesta cidade, relacionando se existe ou não uma estereotipação daquele que vai ser identificado como traficante de drogas, especificando também quais regiões são precipuamente alvos de abordagens policiais mais intensas, demonstrando por fim se há ou não uma seletividade em relação aos indivíduos presos pela prática do crime de tráfico de drogas. 9 2 POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS As drogas sempre foram muito utilizadas desde muitos séculos atrás, entretanto somente a partir do século XX que as drogas começam a ser percebidas como algo ruim, e se inicia um processo proibicionista em diversas nações. A Liga das Nações, atual Organização das Nações Unidas (ONU), convocou uma reunião para a formação da comissão de Xangai (1909), para tratar da questão do ópio. Foi um dos primeiros passos para tentar desacelerar o crescente desenvolvimento comercial das drogas que começavam a ser consideradas ilícitas. (Zaccone, 2007) Apesar da resistência de muitos países, a convenção foi bem sucedida pela visão de alguns países, que viam o comércio internacional de drogas como prejudicial à economia interna de seus países, tais como Estados unidos da América e Inglaterra, surgindo daí um controle maior ao comércio internacional de drogas. Os Estados Unidos, um dos protagonistas do desenvolvimento do capitalismo moderno, eram o Estado mais interessado em frear o desenvolvimento inglês, liderando - através de um apelo moralista de resgate aos bons costumes - a convocação da Convenção de Haia, com o fim de ratificar a proibição realizada na Comissão de Xangai. (ZACCONE, 2007, p.79). Durante a primeira metade do século XX, a proibição ao comércio e uso de algumas substâncias que foram consideradas ilícitas na convenção de Haia não obteve êxito. A variedade de interesses de cada país fez com que cada um deles cumprisse as resoluções proibitivas de acordo com seus interesses e conveniências econômicas e políticas. Somente os Estados Unidos da América defenderam essa política proibicionista, defendendo o combate às drogas por razões de moralidade bons costumes e conservadorismo. A síntese do discurso pode ser visualizada no informe do Congresso dos EUA sobre O tráfico Mundial de Drogas e seu Impacto na Segurança dos Estados Unidos (1972), em que se percebe culpabilização dos países produtores pelo consumo interno, ou seja, a criminalização do estrangeiro reforça a vitimização doméstica. (CARVALHO, 2014, p.73). O EUA utilizou de forma perspicaz a assinatura do convênio de Haia para pressionar a criação de leis internas para reprimir o tráfico de entorpecentes, culminando na aprovação do Harrison Narcotic Act, lei mais complexa e rígida que os acordos internacionais já assinados e que visava à proibição do uso de qualquer substancia psicoativa. 10 Foi nesse contexto que o Senado, em 1914, considerou o projeto de lei de narcóticos de Harrison. O principal proponente da medida foi o secretário de Estado William Jennings Bryan, um homem de convicções e simpatias profundamente proibicionistas e missionárias. Ele pediu que a lei fosse prontamente aprovada para cumprir as obrigações dos Estados Unidos de acordo com o novo tratado internacional. (BRECHER Edward M. acesso em 10 de outubro de 2017) Com essas novas medidas, o EUA afirmava que seu interesse era controlar o comércio de entorpecente, fazendo também sua consequente arrecadação, entretanto, o que se pode ver, foi um controle extremamente rígido sobre as pessoas que utilizavam tais entorpecentes e dos que comercializavam, restringindo exponencialmente o comércio de entorpecentes em todo os EUA. 3 A POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS NO BRASIL A política criminal de drogas no Brasil não é algo novo, ainda dentro dessa perspectiva histórica, é possível notar que os primeiros passos para impugnar essa tendência no Brasil surgem da instituição das Ordenações Filipinas (Livro V, Título LXXXIX – “Que ninguém tenha em casa rosalgar, nem o venda, nem outro material venenoso”). Apesar de nessa época se ter se iniciado os primeiros passos para a política de controle de entorpecentes, o código penal Brasileiro do império, nada mencionou a respeito da proibição do comércio ou consumo de entorpecentes, vindo esse assunto a ser retomado posteriormente, na codificação da República. Com o Surgimento do código de 1890, houve a regulamentação dos crimes contra a saúde pública, previsto no título III da parte especial (Dos crimes contra a tranquilidade pública). Assim previa o Art. 159 do referido código: “Expor à venda, ou ministrar, substâncias venenosas sem legítima autorização e sem as formalidades prescritas nos regulamentos sanitários”, submetendo o infrator à pena de multa. “No Início do século XX percebe-se um aumento no consumo das substâncias ópio e haxixe, principalmente nos círculos sociais da classe intelectual, incentivando com isso a edição de novas leis sobre o consumo e venda de substâncias psicotrópicas”. (CARVALHO, 2014, p.61). Com a consolidação das Leis Penais de 1932 verifica-se uma mudança na disciplina da matéria, complexificando as condutas contra a saúde pública. São acrescidos 11 alguns parágrafos ao art. 159 do Código de1890, incluindo também à já existente pena de multa, a prisão cautelar. (CARVALHO, 2014, p.61). Com efeito, Surgem então os Decretos 780/36 e 2.953/38. Esses Decretos tiverem como intuito primário, o combate a essas substâncias entorpecentes que começaram a surgir no Brasil. Assim apesar dos resquícios de criminalização das drogas no Brasil, somente foi possível vislumbrar de forma mais sistêmica a repressão contra esses entorpecentes a partir da década de 40, através de uma política proibicionista sistematizada. (CARVALHO, 2014, p.61). Com a publicação do Código Penal de 1940, a matéria referente às substâncias entorpecentes é recodificada sob a epígrafe de “comércio clandestino ou facilitação de uso de entorpecentes”, onde sua previsão se encontra no Art. 281: “Importar ou exportar, vender ou expor à venda, fornecer, ainda que a título gratuito, transportar, trazer consigo, ter em depósito, guardar, ministrar ou, de qualquer maneira, entregar ao consumo substância entorpecente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. No ano de 1967 é editado no Brasil o Decreto-Lei 159, decreto que traz expressamente as substâncias que produziam dependência, alegando demasiada nocividade. Apesar do decreto lei, continuava vigorando, o que previa no art. 281 do CPB, artigo esse que não distinguia às condutas de traficante e usuário. Art. 281 Importar ou exportar, vender ou expor à venda, fornecer, ainda que a título gratuito, transportar, trazer consigo, ter em depósito, guardar, ministrar ou de qualquer maneira entregar ao consumo substância entorpecente. (BRASIL, 2017a). Somente após a decretação do AI- 5, pela ditadura é que houve algumasmodificações em relação aos entorpecentes, entretanto com a Lei 5.726/71 o Brasil de fato começou sua política repressiva em relação ao combate as drogas. O ingresso definitivo do Brasil neste cenário internacional de combate às drogas ocorre especialmente com a instauração da Ditadura Militar, onde o Brasil aprova e promulga a convenção única sobre Entorpecentes pelo Decreto 54.216/64, subscrito pelo então presidente Castelo Branco. A Convenção única sobre Entorpecentes, definia em seu preâmbulo a necessidade de manutenção da saúde física e mental da sociedade, sendo a toxicomania 12 considerada segundo Rosa del Olmo como um “perigo social e econômico para a humanidade”(Carvalho, 2014). Seguindo ainda as nuances do enfretamento das drogas no Brasil, substancial modificação, ocorre com a publicação do Decreto-Lei 385/68. Este Decreto modificou o que o Código Penal conquistou, no sentido de distinção punitiva ao usuário e ao traficante de entorpecentes. Se o Código Penal, em decorrência do principio da taxatividade e de interpretação dada pelo STF, não permitia o encarceramento do usuário, mas, apenas do traficante, descriminalizando judicialmente a conduta do uso, tal Decreto surgiu contrariando orientação internacional, e ignorando o discurso diferenciador entre usuário e comerciante. O Decreto-Lei 385/68 modifica o art. 281 do Código Penal, dando tratamento idêntico ao usuário e traficante, incorrendo ambos a partir daí nas mesmas penas: § 1º Nas mesmas penas incorre quem ilegalmente: (...) III - traz consigo, para uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. Matérias-primas ou plantas destinadas à preparação de entorpecentes ou de substâncias que determine dependência física ou psíquica. (BRASIL. Decreto n. 385, de26 de dez. de1968. Dá nova redação ao artigo 281 do código penal, Brasília,DF, dez 196). A Lei 5.726/71 traz algumas mudanças referentes à matéria, três anos depois da vigência do Decreto Lei 385/68. Tal Lei visou à redefinição das hipóteses de criminalização modificando também o rito processual. Apesar das mudanças pouco relevantes operadas pela Lei 5.726/71, esta avançara em relação ao Decreto-Lei 385/68, iniciando um processo de alterações no modelo repressivo que vigorava, se consolidando com a Lei 6.368/76. As condutas criminalizadas na Lei 6.368/76 ganham uma alteração no que tange à graduação das penas, o que segundo (CARVALHO 2014) alterações essas cujo reflexo será a definição do modelo político-criminal configurador do estereótipo do narcotraficante. 13 A Lei 6.368/76 inaugura no Brasil um modelo inédito de controle, lei esta que acompanhava orientações oriundas dos tratados e convenções internacionais, buscando adequar o seu novo modelo político-criminal, despindo-se do modelo médico-jurídico existente. Apesar da referida lei 6.368/76 haver rompido com a lógica das leis e decretos anteriores, dando tratamento punitivo diferenciado ao traficante e usuário, pode se dizer que em matéria de pena, houve um aprofundamento na repressão, com a criação de novos verbos nucleares que se agregaram ao já existente, como por exemplo, as condutas de remessa, preparo, produção, fornecimento e transporte, dando-lhes tratamento penal mais rígido. Outrossim, a legislação ainda autonomiza a “associação para o tráfico” incriminando o concurso de pessoas com o fim de praticar reiteradamente o comércio de drogas ilícitas, mudanças essas que revelam a preocupação do legislador em controlar ainda mais, condutas associadas com o comércio de entorpecentes. Não bastasse esses incrementos para o aumento do controle punitivo, bem observou Salo de Carvalho, que o legislador não se ateve a essas mudanças, buscando um controle ainda maior. As malhas da punibilidade para as hipóteses de tráfico ainda são ampliadas com a criação de causas especiais de aumento de pena (art.18), com especial destaque à aplicação obrigatória de Majorante em caso de trafico internacional ou extraterritorialidade da lei penal (art.18, I). Por fim são aumentadas as penas em face da prática de crime em razão do exercício da função pública destinada à repressão das drogas (art.18, II); quando o delito visa a menor de 21 anos (art. 18, III); e em caso de comércio ou porte de entorpecentes realizado em estabelecimentos de ensino, culturais, sociais ou de tratamento entre outros (art.18, IV). (CARVALHO, 2014, p.80). Nota-se algumas mudanças no tratamento, entretanto a base ideológica permanece inalterada, dando tratamento repressivo ao traficante e aplicando o discurso psiquiátrico-sanitarista ao usuário. Nesse sentido Saulo de Carvalho é categórico: Apesar de estabelecer formalmente a impossibilidade de aplicação de pena carcerária aos sujeitos envolvidos com drogas – situação consolidada na realidade jurídica nacional desde a inclusão do porte para uso pessoal na categoria de delito de menor potencial ofensivo -, conserva mecanismos penais de controle (penas restritivas e medidas de segurança inominadas), com similar efeito moralizador e normalizador, obstruindo a implementação de políticas publicas saudáveis. (CARVALHO, 2014, p.120). Observando o caminho que trilhou a legislação brasileira sobre as drogas chegamos a atual lei 11.343/2006. Embora tenha havido substanciais alterações no modelo legal de incriminação, principalmente pelo aumento da repressão ao comércio ilegal 14 em inúmeras hipóteses típicas, e pela descaracterização da conduta de porte para uso pessoal, pode-se perceber que a base ideológica da Lei 11.343 não se distancia em nada do sistema proibicionista inaugurado com a Lei 6.368/76, reforçando-o inclusive. 4 A CRIMINALIZAÇÃO DO TRÁFICO DE DROGAS NA LEI 11.343/2006 A abordagem nessa seção se dá em relação à conduta do crime de tráfico de drogas. Seus aspectos jurídicos legais e sociológicos, analisando como se configura a conduta de traficar, diferenciando-a da conduta de possuir entorpecente para consumo próprio. A lei 11.343/2006 qualifica a conduta do tráfico de drogas da seguinte forma: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.( BRASIL, 2017b) A conduta do tráfico de drogas é analisada pelo juiz de forma que sua incriminação e a configuração do enquadramento nesse tipo penal levam em conta informações completamente estereotipadas e estigmatizadas. Com base no § 2° do referido artigo, o juiz para determinar em qual crime se encaixa a conduta do indivíduo portando drogas, leva em conta os seguintes requisitos: natureza e quantidade da substância; local e condições em que se desenvolveu a ação; circunstâncias sociais e pessoais; conduta e antecedentes do agente. Analisemos esses requisitos detalhadamente sob uma ótica criminalista e sociológica. Inicialmente nos chama atenção o local e condições em que se desenvolveu a ação. Esse item remonta a uma ideia de que será enquadrado na conduta de tráfico de drogas, o indivíduo que praticava o ato em áreas periféricas, enquanto que do contrário poderia ser enquadrado no crime de posse e uso. Veja essa notícia do jornal Folha Vitória do dia 02/02/2016: 15 Funcionário da Prefeitura de Vila Velha é preso com drogas que seriam vendidas no carnaval. Somente de ecstasy foram 231 comprimidosapreendidos na casa de Tiago Pinto Carvalho. Também foram encontrados micropontos de LSD, lança-perfumes, haxixe, maconha e Skank. (REDAÇÃO FOLHA VITÓRIA, 2017). É possível notar que o tráfico não está concentrado apenas em locais periféricos, mas, sua dinamicidade tem mudado o local e forma de atuação dos criminosos praticantes dessa conduta, logo é desconexo levar em consideração o local de onde o criminoso foi detido com a droga, visto que local do crime não pode ser uma majorante do crime, mais sim sua conduta em si. Veja esse outro exemplo Sete jovens foram presos nesta quarta-feira (15) por traficar drogas em shoppings, escolas e faculdades da Grande Vitória. Na delegacia, os criminosos debocharam da situação, no momento em que foram apresentados aos jornalistas. As prisões ocorreram no município de Vila Velha pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (NUROC), após três meses de investigação. (GOMES; FIORELLA, 2017). Essa notícia orienta acerca do assunto, de forma que é inadmissível o magistrado, em sua análise do indivíduo suspeito pelo crime de tráfico de drogas, levar em conta informações tão subjetivas. O local do crime de forma alguma poderia ser algo que influenciasse no exame do delito de forma a determinar em qual delito se encaixa. Acreditar nisso é o mesmo que dizer que um indivíduo preso numa boca de fumo com uma quantidade considerável de drogas, jamais poderia ser um mero usuário, principalmente se o mesmo fosse reincidente. Veja um trecho do livro do Delegado Orlando Zaccone, neste trecho ele faz uma comparação entre bairros nobres e periféricos, no que tange a prisões pelo crime de tráfico de drogas. Outra grande constatação ocorreu quando da minha transferência como delegado adjunto da 41' DP (Jacarepaguá) para a 16' DP (Barra da Tijuca). Em Jacarepaguá, responsável pela circunscrição que inclui comunidades como a da Cidade de Deus e a do Morro do São José Operário, a cada plantão realizava, no mínimo, um flagrante de tráfico, com diversas apreensões de drogas e armas pelo Batalhão da Polícia Militar. Ao contrário, em quase um ano como delegado de plantão na Barra da Tijuca, só lavrei um flagrante de tráfico que resultou na prisão de uma senhora de quase 60 anos. A ‘delinqüente’ revendia pequenas quantidades de maconha para alguns consumidores em Vargem Grande, dentro da sua própria residência, um casebre simples da região. (ZACCONE, 2007, p.10). Veja que Zaccone, descreve que em sua experiência como delegado, quando trabalhou em uma área periférica como Jacarepaguá, a lavratura do auto de prisão em flagrante pelo crime de tráfico de drogas era rotineiro. Em seu turno de serviço, 16 girava em torno de pelo menos uma prisão por dia. Enquanto que quando assumiu a “16° DP” na Barra da Tijuca, em um ano só lavrou um auto de prisão em flagrante. Diante disso fica a reflexão: será que só existe o crime de tráfico em regiões periféricas? Ou a possibilidade de vendas em bairros nobres é quase nula? Dados estatísticos das polícias não servem como base para essa reflexão, já que como se pode perceber, as prisões feitas por esses órgãos de controle são absolutamente estereotipadas e estigmatizadas. O alvo de grandes operações de combate às drogas concentra-se sempre em regiões de favelas. Mas, somente na favela se comercializa entorpecentes? O próximo item a se analisar são as circunstâncias sociais e pessoais do agente. Elas dizem respeito ao meio onde vive o sujeito do crime, qual seu círculo social, se a área onde mora é periférica, se o local onde foi pego em flagrante era uma área de risco e etc. Todas essas circunstâncias estão “viciadas”. A forma de construção da tipicidade penal desses crimes claramente é uma forma estigmatizada. Ora, se ao condenar um indivíduo pelo crime de tráfico de drogas, por ele ser pobre, morador de favela, estar em área de risco, e cercado por pessoas em área de risco, como provar que sua condenação não foi arbitrária? Percebeu-se com o surgimento da nova lei de drogas, Lei 11.343/2006, que as condutas de traficante e usuário ganharam tipos penais diferenciados, essa nova lei tentou delinear o que é traficante e o que é usuário, e que a pena para um não pode ser a mesma pena de outro, visto o abismo que existe entre essas condutas. A Lei de 11.343/06 vem para tentar realinhar, ou reestruturar a antiga lei 6.368/76. Na nova lei, a expressão substância entorpecente é substituída pela expressão “drogas”. Mesmo a lei 11.343/06, ter sido esperada como uma lei que faria distinções a cerca da tipicidade das condutas e diferenciações substanciais a cerca das condutas criminalizadoras, o sistema proibicionista manteve-se inalterado. Com a nova lei de drogas, o juiz deve analisar muito bem, as circunstâncias do fato, pois um morador de áreas periféricas e de más “condições sociais e pessoais” poderá ser apenas um usuário, não devendo o magistrado, por conta do fundamento da norma incriminadora do crime de tráfico, penalizar o indivíduo que estiver portando uma pequena quantidade de drogas e dinheiro pelo crime de tráfico. A 17 análise de crime com base na subjetividade dessas circunstancias, é algo que pode ser inconstitucional, por ferir o principio do “in dubio pro reo” quando um individuo for penalizado por um crime quando na verdade tiver cometido um de menor potencial ofensivo que o outro. 5 O PERFIL DO SUSPEITO PELA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS: ESTEREÓTIPO E SELETIVIDADE PENAL As substâncias consideradas ilícitas, nem sempre foram alvo de política proibicionista. Pode-se se dizer que o interesse em criminalizar a conduta de uso de entorpecente, surgiu na revolução industrial. Antes desse período havia um comércio livre e lícito de determinadas substâncias tais como o ópio, que eram produzidas na Índia, sendo comercializados pela Inglaterra, tendo como principais consumidores os obreiros das fábricas e indústrias, que trabalhavam por diversas horas por dia. Entretanto o uso reiterado das substâncias entorpecentes começou a trazer efeitos indesejados em relação aos trabalhadores, uma vez que uma das consequências do uso dessas substâncias eram a sonolência e lentidão, o que não agradava os empregadores, trazendo com isso um desejo por parte dos burgueses de eliminar essas substâncias, e, inclusive, criando penalidades para quem as utilizasse. Nesse sentido afirma Orlando Zaccone: Com o início da revolução industrial, que necessitava de uma mão-de-obra produtiva, disposta a trabalhar por mais de 12 horas diárias, as drogas ‘entorpecentes’, como o ópio e seus derivados (morfina e heroína), eram substâncias indesejáveis em seus efeitos. A letargia, ‘estado de profunda e prolongada inconsciência’ como efeito do uso do ópio e seus derivados já não era mais interessante do ponto de vista econômico. A Liga das Nações - embrião da atual ONU (Organização das Nações Unidas) - convoca uma reunião para a formação da Comissão de Xangai para tratar da questão do ópio em 1909, sendo que as resoluções acordadas referiam-se, especialmente, ao ópio fumado, sendo que os alcaloides dele derivados, tais como a heroína, a morfina e a codeína, permaneciam fora das recomendações restritivas. A política de proibição, desde o início, já revelava as condicionantes socioeconômicas da reação ao uso e comércio de algumas drogas. (ZACCONE, 2014, p.78). Ao tentar identificar o perfil dos suspeitos pela prática do crime de tráfico de drogas, nos deparamos com um mecanismo utilizado no sistema penal, que controla e 18 manipula quem deve ser o indivíduo preso pela prática de tal crime. O sistema penal mostra-se extremamente seletivo desde suas bases, istoé, desde o processo legislativo, passando pelo momento em que a polícia seleciona aquele que é conduzido por estar praticando o comércio de entorpecentes, até seu “ápice”, que é quando o indivíduo é processado e julgado pelo Estado Juiz. A esse processo de seletividade sistémica, dá-se o nome de seletividade primária e secundária, sendo a seletividade primária, o momento em que se legisla, com o fito de proteger as classes dominantes, e a secundária, as demais fases, como a abordagem policial, a condução perante a autoridade policial, abertura de inquérito, e por fim o processo penal a que será submetido. A seletividade penal tem como função, escolher aquele indivíduo que deve ser o “cliente” do sistema carcerário, sendo assim, as malhas da punibilidade recairá sempre sobre os extratos sociais menos favorecidos. Nesse sentido, Raúl Zaffaroni afirma em seu livro manual de direito penal Brasileiro: Em geral, é bastante óbvio que quase todas as prisões do mundo estão povoadas por pobres. Isto indica que há um processo de seleção das pessoas às quais se qualifica por “delinquentes” e não, como se pretende, um mero processo de seleção das condutas ou ações qualificadas como tais. (ZAFFARONI, 2015, p.47) Baseado no que foi exposto no tópico sobre a conduta do tráfico de drogas, voltamos à questão da seletividade que, quando analisada no contexto do tráfico de drogas se mostra severamente desigual. Desigual no sentido de que a atual lei de tóxicos traz diferenciações entre as condutas de tráfico e posse e uso, pautados em análises estereotipadas. Os quatro requisitos diferenciadores das condutas, quais sejam: natureza e quantidade da substância; local e condições em que se desenvolveu a ação; circunstâncias sociais e pessoais; conduta e antecedentes do agente mostram claramente quem deve ser selecionado como o praticante da conduta de tráfico. Enquanto que o contrário, ou seja, em situações diversas da tipificada, deverá ser o individuo qualificado como usuário. As malhas punitivas recaem somente sobre as camadas menos favorecidas, sustentando assim a seletividade que vinga no atual sistema penal brasileiro. Sustentando o argumento acima veja Vera Regina Pereira Andrade: 19 A clientela do sistema penal é composta, ‘regularmente’, em todos os lugares do mundo, por pessoas pertencentes aos mais baixos estratos sociais e isso é resultado de um processo de criminalização altamente seletivo e desigual de ‘pessoas’ dentro da população total, às quais se qualifica como criminosos. (ANDRADE, 2003, p.52). Desse modo é possível perceber que ainda nos dias atuais existe uma seletividade intrincada no sistema penal brasileiro, o qual é mormente praticada pelas agências penais primárias. Essas condutas seletivas parecem estar longe de desaparecer, uma vez que é típico do sistema capitalista controlar as classes menos favorecidas, mantendo assim esse sistema que impera no Brasil. 6 O PERFIL DO SUSPEITO EM VILA VELHA SEGUNDO A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR O Perfil do suspeito pela prática do crime de tráfico drogas em Vila Velha é algo que é identificado nesse tópico, segundo Boletins de ocorrência feitos pela Polícia Militar do estado do Espírito Santo, concentrando-se especificamente na Área do 4°BPM, batalhão este que abrange todos os bairros da cidade de Vila Velha. Foram analisados 51 boletins confeccionados pela Polícia Militar, compreendidos entre o período do dia 01 de Agosto de 2017 a 29 de Setembro de 2017. Nesse período foram examinados através de cada boletim de ocorrência, a qualificação dos conduzidos, sendo em seguida, consultado através do Sistema Integrado de Segurança Pública do Espírito Santo, o SISPES, o perfil do suspeito pela prática do crime de tráfico de drogas em Vila Velha. Esta ferramenta possibilita visualizar através do sistema de Registro Geral, todas as descrições pessoais do indivíduo, inclusive sua qualificação. Entretanto a pesquisa se ateve a descrição das características pessoais, a fim de verificar o perfil desses indivíduos, se é negro, pardo, mulato, branco e etc. bem como faixa etária, grau de escolaridade, e área onde moram, tal como demonstrado nos gráficos e análises à seguir. 20 Tabela 1 – indivíduos presos segundo o sexo Sexo Porcentagem Masculino 82,4% Feminino 17,6% Com relação ao sexo, os indivíduos precipuamente alvos das abordagens e prisões pela prática do crime de tráfico de drogas são homens, representados por 82,4% do total. Isso demonstra que ou a participação feminina nessas práticas ainda se mostra bem tímida ou que a persecução penal às mulheres ainda seja menor, ainda que os crimes da Lei de Drogas sejam aqueles que mais aprisionam mulheres no Brasil atualmente (INFOPEN MULHERES, 2015). Tabela 2 – indivíduos presos segundo o critério de naturalidade Naturalidade Quantidade Porcentagem Vila Velha 32 62,7% Vitória 08 15,7% Cariacica 01 2% Cachoeiro de Itapemirim 01 2% Montanha 01 2% São Matheus 01 2% Buerarema-BA 01 2% Ilhéus-BA 01 2% Governador Valadares- MG 01 2% Itamaraju-BA 01 2% Rio Bananal 01 2% Rio de Janeiro 02 3,9% 21 Examinando a origem dos indivíduos que foram detidos, os gráficos apontam que são em sua maioria da cidade de Vila Velha, ou seja, pode-se afirmar que se trata de um delito cujos acusados são predominantemente oriundos do próprio município analisado, ainda que uma diversidade de naturalidades apareça em proporção reduzida. Tabela 3 – indivíduos presos segundo critério de cor/raça Cor/raça Quantidade Porcentagem Branca 03 5,9% Negra 02 3,9% Mestiça Clara 13 25,5% Mestiça Escura 08 15,7% Branca Morena 10 19,6% Parda 01 2% Pelo gráfico é possível observar uma predominância da cútis mestiça clara, branca morena, e mestiça escura respectivamente, não se olvidando que pelo critério de diferenciação do IBGE as cores mestiça clara e mestiça escura são variáveis da cor parda. Nesse sentido no que se refere à cor/raça o perfil predominante é o pardo. Tabela 4 – indivíduos presos segundo cor de cabelo Cor de cabelo Quantidade Porcentagem Preto Castanho Escuro 32 62,7% Preto 11 21,6% Castanho 05 9,8% Castanho claro 03 5,9% Reforçando o critério de seletividade racial, é possível perceber, a partir dos critérios de classificação da Polícia Civil que além de predominantemente pardos, os indivíduos abordados possuem cabelos pretos, castanhos escuros ou castanhos. 22 Indivíduos com cabelos claros dificilmente são alvos de abordagens ou prisões, valendo ressaltar que não houve nenhuma ocorrência com pessoas de cabelos louros. Tabela 5 – indivíduos presos segundo o tipo de cabelo Tipo de cabelo Quantidade Porcentagem Ondulados 18 35,3% Crespo 13 25,5% Anelados 09 17,6% Lisos 06 11,8% Carapinha 05 9,8% Vinculado à cor do cabelo estão os tipos de cabelos. Observando o gráfico 5, os tipos de cabelos que predominam são os ondulados, crespos Anelados. O que, assim como no gráfico anterior, serve para demonstrar o recorte racial existente nas abordagens. Tabela 6 - indivíduos presos segundo o critério de escolaridade Escolaridade Quantidade Porcentagem 1° grau incompleto 33 64,7% 1° grau completo 03 5,9% 2° grau incompleto 09 17,6% 2° grau completo 04 7,8% 3°grau completo 01 2% Não informado 01 2% A constatação aqui é que dos indivíduos presos, a maioria não chegou nem ao 2° grau. O que demonstra como há uma preferencia no aprisionamento de pessoas de baixa escolaridade a despeito docomércio e consumo de drogas estarem presente em várias classes sociais 23 Tabela 7 - indivíduos presos segundo critério profissão Profissão Quantidade Porcentagem Estudante 24 47,1% Ignorado 12 23,5 Desempregado 03 5,9% Ajudante de pedreiro 02 3,9% Comerciante 02 3,9% Mecânico 01 2% Autônomo 01 2% Pintor 01 2% Balconista 01 2% Açougue 01 2% Administrador 01 2% Auxiliar de serviços gerais 01 2% Da análise das profissões exercidas pelos indivíduos presos, constatou-se que 47,1% são estudantes, enquanto que 23,5 a profissão é ignorada. Sendo assim percebe-se que cerca de 75% dos indivíduos examinados não possuem profissão definida. Tabela 8 – indivíduos presos segundo critério do estado civil Estado civil Quantidade Porcentagem Solteiro 49 96,1% Casado 02 3,9% Visualizando o estado civil desses indivíduos, foi possível vislumbrar que surpreendentemente 96% deles são solteiros. Todavia, vale lembrar que sob esta classificação podem se encontrar pessoas vivendo em união estável, porém sem o registro civil desta união. 24 Tabela 9 – indivíduos presos e o critério do local do crime Local do crime Quantidade de apreensões Porcentagem Primeiro de maio 09 15,7% Aribiri 03 5,9% Barra do Jucú 03 5,9% Jardim Marilândia 03 5,9% Bairro garoto 03 5,9% Ilha da conceição 02 3,9% Rio mariano 02 3,9% Santa Rita 02 3,9% Ataíde 02 3,9% Dom João batista 01 2% Guaranhuns 01 2% Ibes 01 2% Ilha da conceição 01 2% Itapuã 01 2% Jaburuna 01 2% Marada da Barra 01 2% Normília da Cunha 01 2% Novo México 01 2% Pedra dos búzios 01 2% Ponta da Fruta 01 2% Praia da costa 01 2% Praia de Itaparica 01 2% Riviera da Barra 01 2% Vale encantado 01 2% Vila Garrido 01 2% Vila guaranhuns 01 2% Vista da Penha 01 2% Xury 01 2% Zumbi dos palmares 01 2% 25 23 de maio 01 2% Santa Paula 01 2% A pesquisa se preocupou também em tentar identificar onde se concentram as abordagens policiais, que resultam nas prisões pelo crime de tráfico de drogas. Sendo assim, com base no gráfico 9, percebemos que existem bairros específicos onde normalmente ocorre tais delitos, sendo que, em alguns bairros com muito maior frequência que em outros, ou quase que nenhuma frequência. É o caso do bairro Primeiro de Maio com 15,7% das prisões, bairro este, onde foi possível perceber uma maior concentração das prisões, seguido pelos bairros, Aribiri, Rio Marinho, Jardim Marilândia. Com base nesses dados o que se verifica é que os alvos das abordagens policiais concentram-se principalmente nos bairros pertencentes a região III e IV de Vila Velha, segundo definição do “Perfil Socioeconômico dos bairros, elaborado pela Prefeitura de Vila Velha, que é um documento elaborado por este Órgão, com o fito de apresentar alguns indicadores socioeconômicos dos bairros de Vila Velha. Estes bairros das Regiões III e IV são bairros onde toda a infraestrutura educacional, de saúde, econômica e etc. são mais deficientes tal como demonstrado pelos gráficos a seguir: 26 Gráfico 1 Gráfico 2 27 Gráfico 3 Examinados os gráficos relativos à renda nos bairros, e cruzando os dados, somente para reforçar o argumento acima quanto à diferença infraestrutural exemplifiquemos: o Bairro praia da costa pertencente a região I, possui mais que 60% dos moradores recebendo mais que 1 salário mínimo, já no bairro Primeiro de Maio, 29,6% recebem mais que um salário mínimo, e no bairro Rio marinho 45,8 recebem mais que um salário mínimo. Tabela 10 – indivíduos presos e o critério do tipo de droga apreendida Tipo de droga apreendida Quantidade de apreensões Porcentagem Maconha 38 apreensões 74,5% Crack 08 apreensões 15,3% Cocaína 05 apreensões 10,2% 28 Da pesquisa, observou-se também que há uma preponderância relativa ao tipo de entorpecente apreendido. Constatou-se que mais se apreende maconha do que o crack e a cocaína. Uma pesquisa feita pela universidade de Nova Gales do Sul apontou que a maconha é hoje o entorpecente mais comercializado no mundo. PARIS, 28 Ago 2013 (AFP) - A maconha é a droga mais usada no mundo; a heroína, a que causa mais mortes; e as anfetaminas, as que provocam maior dependência, revelou um estudo científico. Esta 'primeira análise da preponderância mundial' sobre as quatro grandes categorias de drogas ilegais, anfetaminas, maconha e opiáceos (heroína), confirma que a dependência em heroína é a que traz consequências mais sérias para a saúde em escala mundial. (france presse, acesso 10 de outubro de 2017.) Conforme apontou o gráfico 10, em Vila Velha o tipo de droga mais apreendida também é a maconha, acompanhando assim a tendência mundial de entorpecente mais comercializado no mundo. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Da conclusão desse trabalho o que se pode depreender é que ao se dedicar a identificar o perfil do suspeito pela prática do crime do tráfico de drogas, a conclusão a que se chega é de que, os indivíduos presos por esta conduta são normalmente pardos, ou mestiços de cabelos crespos, ondulados ou carapinha, com olhos escuros. Essa figura ou essa imagem remete a um tipo de individuo cujo perfil já por muito tempo é alvo de prisões relacionadas ao tráfico de drogas. Não obstante, o nível de alfabetização que se percebeu é de pessoas que não chegaram ao 2° grau de escolaridade, em sua maioria estudantes. Por outro lado uma boa parte também dos que praticam o crime em tela, são pessoas desempregadas ou com profissão ignorada, provavelmente por atuarem no comércio de entorpecentes em tempo integral. Outro ponto importante que foi analisado se refere ao local onde mais ocorre a prática de tal crime, conforme observado pela tabela 9, foram em bairros como Primeiro de Maio, Santa Rita, Ataíde, Jardim Marilândia entre outros, que pode se considerar como bairros situados nas regiões mais pobres da cidade, o que se denomina periferias. Observando-se ainda que o tipo de droga mais apreendida no 29 período estudado, foi a maconha, dos três tipos de entorpecentes objetos da pesquisa. O presente artigo identificou que o perfil do suspeito pela prática do crime de tráfico de drogas em Vila Velha, é predominantemente do sujeito pardo ou negro, morador de áreas menos favorecidas, com baixo nível de escolaridade, geralmente solteiros, desempregados ou estudantes. A lei 11.343/2006, analisada em conjunto com essa pesquisa, demonstrou que o direito penal é sem dúvidas extremamente seletivo, e que está longe de defender a todos com igualdade, punindo de maneira desigual aqueles que são submetidos ao sistema penal. Na verdade, quando se estuda a lei nº 11.343/2006 e se verifica quem está preso pelo crime de tráfico de drogas no Brasil, bem como onde está concentrada a força de repressão estatal e o modelo de segurança pública adotado no Brasil para a repressão do comércio de entorpecentes, o que se percebe na realidade é que o que interessa para o Estado, apoiado pela mídia e por grande parcela da sociedade brasileira, é manter segregadas as classes sociais menos favorecidas. 8 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n°2.848, de 7 de dezembro de 1940. Dispõe sobre o código penal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 7 de dez. 1940. GOMES, FIORELLA. CBN VITÓRIA: Presos por tráfico de drogas na porta de shoppings e faculdades, jovens debocham da situaçãoem delegacia. Vitória, ES, 2016. Disponível em: < http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2015/07/cbn_vitoria/reportagens/3902929- presos-por-trafico-de-drogas-na-porta-de-shoppings-e-faculdades-jovens-debocham- da-situacao-em-delegacia.html>. Acesso em 13 out.2017. ______, Lei nº 11.343, DE 23 de Agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependente de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de 30 drogas; define crime e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm >. Acesso em: 10 out. 2017. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Levantamento de informações penitenciárias, Infopen Mulheres. 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