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Direito Constitucional: Mandado de Injunção Professor: Sylvio Motta * Conceito * A Constituição, em seu art. 5o, LXXI, instituiu um remédio constitucional inédito, não contemplado em nossos diplomas constitucionais anteriores. Trata-se do mandado de injunção, instrumento que, ao lado da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, destina-se a combater a denominada “síndrome de inefetividade das normas constitucionais.” * O STF já teve oportunidade de declarar, por unanimidade, que o mandado de injunção é autoaplicável, por força do art. 5o, § 1o, da Constituição Federal, que determina que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. * Até que seja editada sua legislação específica, ao mandado de injunção aplicam-se ao remédio as normas legais pertinentes ao mandado de segurança, como dispõe o art. 24, § 1o, da Lei no 8.038/1990. Ademais, ao contrário do habeas corpus, o mandado de injunção não é gratuito e só pode ser interposto por advogado. * Trata-se, pois, o mandado de injunção, de uma ação constitucional de natureza civil e de rito especial, destinada ao combate da inércia do Poder Público no cumprimento de seu dever constitucional de legislar, quando tal omissão inviabilizar ao interessado o pleno exercício dos direitos e liberdades contemplados na Constituição, e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Mandado de Injunção * Requisitos de Admissibilidade * a) que haja certo direito, liberdade ou prerrogativa inerente à soberania, à nacionalidade e à cidadania previstos na Constituição (e não em lei ou em qualquer outro ato normativo); * b) que este direito, liberdade ou prerrogativa esteja previsto em norma constitucional não autoaplicável, ou seja, uma norma constitucional de eficácia limitada, de modo que seu exercício esteja condicionado à edição da legislação ordinária requerida na norma; * c) que não tenha sido elaborada tal legislação ordinária, e com isso não se tenha viabilizado o exercício do direito, liberdade ou prerrogativa constitucional. Mandado de Injunção * Requisitos de Admissibilidade * Sobre a matéria, é válida a transcrição das considerações do Ministro Celso de Mello (MI no 542): * O direito à legislação só pode ser invocado pelo interessado quando também existir simultaneamente imposta pelo próprio texto constitucional a previsão do dever estatal de emanar normas legais. Isso significa que o direito individual à atividade legislativa do Estado apenas se evidenciará naquelas estritas hipóteses em que o desempenho da função de legislar refletir, por efeito de exclusiva determinação constitucional, uma obrigação jurídica indeclinável imposta ao Poder Público. Para que possa atuar a norma pertinente ao instituto do mandado de injunção, revela-se essencial que se estabeleça a necessária correlação entre a imposição constitucional de legislar, de um lado, e o consequente reconhecimento do direito público subjetivo à legislação, de outro, de tal forma que, ausente a obrigação jurídico- constitucional de emanar provimentos legislativos, não se tornará possível imputar comportamento moroso ao Estado, nem pretender acesso legítimo à via injuncional. Mandado de Injunção * Requisitos de Admissibilidade * Em síntese, podemos concluir que só é cabível mandado de injunção quando há uma relação de causalidade entre a inviabilidade do exercício do direito ou liberdade constitucional e a ausência de legislação reguladora, ou seja, a inviabilização daquele deve-se justamente à ausência da legislação infraconstitucional, e isso só se verifica com relação aos direitos e liberdades contemplados em normas constitucionais de eficácia limitada. Portanto, é apenas a inércia legislativa em relação a tais normas que, para fins de mandado de injunção, entende-se como descumprimento do dever constitucional de legislar, a ser combatido mediante a utilização deste remédio constitucional. Mandado de Injunção * Espécies * Ao contrário do que faz relativamente ao mandado de segurança, a Constituição não prevê o mandado de injunção coletivo. O STF, todavia, há tempos assentou que cabe a interposição de mandado de injunção coletivo, sendo para tanto legitimadas, em favor de seus membros ou associados, as mesmas entidades que podem ajuizar mandado de segurança coletivo. Mandado de Injunção * Legitimação Ativa * Ao contrário da ADI por omissão, cuja legitimação ativa é restrita, já que pode ser proposta apenas pelos órgãos, entidades e autoridades listados no art. 103, I a IX, da CR, o mandado de injunção é remédio de legitimação ampla, passível de exercício por todo aquele que teve o exercício do direito constitucional obstado. * Enfim, o próprio titular do direito cujo exercício está sendo inviabilizado pela inércia do legislador: é este o sujeito ativo do mandado de injunção. Mandado de Injunção * Legitimação Passiva * O mandado de injunção deve ser interposto contra os órgãos ou autoridades públicas responsáveis pela não edição da legislação ordinária regulamentadora da norma constitucional de eficácia limitada. São esses os legitimados passivos em se tratando de mandado de injunção. * Assim, na esfera federal, o mandado de injunção deverá ser interposto contra o Congresso Nacional, salvo nas hipóteses de iniciativa legislativa privativa, quando então o remédio deve ser ajuizado contra a autoridade detentora da iniciativa privativa, já que a ela e apenas a ela compete dar início ao processo legislativo do qual poderá regular a norma viabilizadora do exercício do direito. É o que ocorre, exemplificativamente, com o Presidente da República, nas matérias listadas no art. 61, § 1o, da Constituição. * O STF já pacificou no entendimento de que particulares não possuem legitimidade ad causam para responder em mandado de injunção, pois compete exclusivamente ao Poder Público editar a legislação complementadora da Constituição. Sendo assim, impossível a formação de litisconsórcio passivo entre órgãos ou autoridades públicas e entes privados. Necessariamente, a ação será interposta apenas contra o poder público. Mandado de Injunção * Competência * A competência para o julgamento e o processamento do mandado de injunção é sempre definida a partir da legitimação passiva, ou seja, a partir da autoridade ou órgão responsáveis pela ausência da legislação reguladora do direito ou liberdade constitucional. * A Constituição é lacunosa na matéria, tratando expressamente da competência apenas do STF, do STJ e do TSE. Com relação aos demais órgãos jurisdicionais federais, a matéria deverá ser tratada a nível de legislação ordinária, respeitadas, evidentemente, as disposições prescritas na Constituição. Quanto aos órgãos judiciários estaduais, a matéria deverá ser tratada nas respectivas constituições estaduais, a teor do art. 125 da Carta. Mandado de Injunção * Competência * As competências descritas na própria Constituição podem ser assim sintetizadas: * a) ao STF cabe, originariamente, o julgamento do mandado de injunção quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores ou do próprio Supremo Tribunal Federal (CR, art. 102, I, q). Ainda, julga o STF, em sede de recurso ordinário, os mandados de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se for denegatória a decisão (CR, art. 102, II, a); * b) ao STJ, por sua vez, compete, originariamente, o julgamento do mandado de injunção quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão ou entidade federal, da Administração Direta ou Indireta, excetuados os casos de competênciado STF e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal (CR, art. 105, I, h); * c) por fim, é competência do TSE, em grau recursal, o julgamento dos mandados de injunção denegados pelos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais (CR, art. 121, § 4o, V). Mandado de Injunção * Eficácia da Decisão * Inegavelmente, a questão mais debatida em tema de mandado de injunção refere-se aos efeitos jurídicos da decisão nele proferida. Inúmeras foram as posições doutrinárias e jurisprudenciais a respeito, a maioria das quais foi considerada pelo STF nas suas discussões sobre a matéria. * No âmbito da Corte os debates resultaram em diversos posicionamentos, os quais podem ser assim sintetizados: * 1a) Posição concretista: defende que, verificados os pressupostos constitucionais do mandado de injunção, deve o Poder Judiciário, numa decisão constitutiva, após reconhecer a omissão legislativa, elaborar a norma faltante, implementando o exercício do direito ou da liberdade prescritos na Constituição, ou da prerrogativa inerente à nacionalidade, à soberania ou à cidadania. * Esta corrente divide-se em duas, a concretista geral, pela qual a decisão judiciária teria efeitos erga omnes, estabelecendo uma norma geral, válida para todos, até que o órgão responsável pela edição da lei ou do ato normativo exercesse sua competência; e a concretista individual, que entende também caber ao Judiciário o estabelecimento da norma aplicável, mas limitados seus efeitos ao autor da ação. Assim, o Judiciário implementaria o exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa constitucional, mas apenas para o autor da ação. Mandado de Injunção * Eficácia da Decisão * Essa posição – concretista individual –, desmembra-se em duas: a concretista individual direta, pela qual o Judiciário, após reconhecer a omissão legislativa, imediatamente estabelece a norma aplicável para o caso concreto, implementando desde já o exercício do direito para o autor da ação; e a concretista individual intermediária, segundo a qual o Judiciário, uma vez reconhecida a omissão, num primeiro momento deve fixar um prazo de 120 dias para que o órgão ou autoridade competente elabore a norma; permanecendo a inércia, o Judiciário fixa a regulamentação para o caso em concreto. * 2a) Posição não concretista: considera caber ao Judiciário tão somente o reconhecimento formal da omissão legislativa, comunicando a falta ao órgão ou autoridade responsável pela sua edição. Apesar de podermos perceber na doutrina uma preferência pela posição concretista individual intermediária, foi esta posição, a não concretista, que veio a ser adotada majoritariamente no STF. Apesar das veementes críticas doutrinárias ao posicionamento do STF na matéria, que acaba por tornar os efeitos no mandado de injunção idênticos ao da ADI por omissão, é esta posição que devemos entender prevalente. * Por tal posição, pode-se concluir, que a decisão proferida em mandado de injunção tem eficácia declaratória – reconhecendo a inconstitucionalidade da omissão – e mandamental – cientificando o órgão ou a autoridade competente sobre sua mora na edição da norma regulamentadora. Mandado de Injunção * Eficácia da Decisão * Ilustrando o ponto, trazemos um dos acórdãos proferidos pelo STF: * O mandado de injunção não é o sucedâneo constitucional das funções político-jurídicas atribuídas aos órgãos estatais inadimplentes. Não legitima, por isso mesmo, a veiculação de provimentos normativos que se destinem a substituir a faltante norma regulamentadora sujeita à competência, não exercida, dos órgãos públicos. O Supremo Tribunal Federal não se substitui ao legislador ou administrador que se hajam abstido de exercer a sua competência normatizadora. A própria excepcionalidade desse novo instrumento jurídico impõe ao Judiciário o dever de estrita observância do princípio constitucional da divisão funcional do Poder (MI no 107, Ministro Celso de Mello) * Excepcionalmente, tem a Corte adotado, em algumas de suas decisões, uma posição mais próxima da corrente concretista. * Podemos citar dois casos concretos em que o STF conferiu maior amplitude à sua decisão em sede de mandado de injunção. * No primeiro, o STF estava analisando a inércia do Congresso Nacional em editar a legislação requerida no art. 8o, § 3o, do ADCT, que fixa prazo para a atuação do Poder Legislativo. Mandado de Injunção * Eficácia da Decisão * Reza o referido dispositivo: * Art. 8o, § 3o. Aos cidadãos que foram impedidos de exercer, na vida civil, atividade profissional específica, em decorrência das Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica no S50-GM5, de 19/6/1964, e no S-285-GM5 será concedida reparação de natureza econômica, na forma que dispuser lei de iniciativa do Congresso Nacional e a entrar em vigor no prazo de doze meses a contar da promulgação da constituição. * O STF, tendo em vista do prazo prescrito no próprio dispositivo constitucional, solenemente descumprido pelo Congresso Nacional, a evidenciar sua inércia, decidiu que os beneficiários da norma poderiam desde já exercer o direito nela prescrito, mediante o ajuizamento da ação de reparação econômica cabível, com base no direito comum em vigor. * O segundo caso teve por objeto o art. 195, § 7o, da CR, segundo o qual “são isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei”. Mandado de Injunção * Eficácia da Decisão * Face à omissão estatal na elaboração da lei requerida no dispositivo, a análise da questão resultou no seguinte pronunciamento da Corte: * O Tribunal, por maioria, conheceu em parte o mandado de injunção e nessa parte o deferiu para declarar o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, no prazo de seis meses, adote as providências legislativas, decorrentes do art. 195, § 7o, da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo, sem legislar, passe a requerente a gozar a imunidade requerida. * Não obstante, existe hipótese na qual o STF abandona a posição não concretista, conferindo maior eficácia às suas decisões em mandado de injunção. Entende a Corte que é cabível a fixação de prazo para a edição da norma regulamentadora quando o Estado tiver dupla sujeição passiva no caso, o que se configura, nesse contexto, quando o Estado, além de ser o responsável pela elaboração da norma, também ocupar o polo passivo nas relações jurídicas que resultariam do exercício do direito, o que se encontra inviabilizado pela inexistência da norma. Mandado de Injunção * Eficácia da Decisão * Exemplificativamente, no MI no 283-5/DF a Corte adotou esse posicionamento, asseverando: * Se o sujeito passivo do direito constitucional obstado é a entidade estatal à qual igualmente se deva imputar a mora legislativa que obsta ao seu exercício, é dado ao Judiciário, ao deferir a injunção, somar, aos seus efeitos mandamentais típicos, o provimento necessário a acautelar o interessado contra a eventualidade de não se ultimar o processo legislativo, no prazo razoável que fixar, de modo a facultar-lhe, quando possível, a satisfação provisória do seu direito. Mandado de Injunção * Descabimento de Medida Liminar * Não cabe medida liminar em sede de mandado de injunção, por ser inadequada ao remédio constitucional em questão. Esse é o entendimento absolutamente pacífico do STF na matéria. * Na posição que veio a predominar no Tribunal, o mandado de injunção resulta, quando provido, no reconhecimento formal da inércia do Poder Público no cumprimento de seu dever constitucional de legislar, não admitindo a Corte declaração provisória desta omissão, em decisão liminar. O reconhecimento da mora legislativa, se for o caso, só pode ser proclamado na decisão final do mandado de injunção.Mandado de Injunção Art. 5º, LXXIArt. 5º, LXXI Mandado de InjunçãoMandado de Injunção Natureza Jurídica: Ação constitucional declaratória constitutiva Base Legal: Dispositivo constitucional de eficácia absoluta. Objeto: Impedir que a ausência de norma regulamentadora impeça o exercício de uma garantia fundamental. A injunção pode ser definida como a ordem com a qual o juiz impõe uma obrigação de fazer ou de não cumprir um ato determinado.Legitimidade Ativa: É writ personalíssimo, ou seja, apenas o titular do direito “bruto e incerto” pode impetrá-lo. Legitimidade Passiva: A entidade ou autoridade responsável pela edição da norma regulamentadora. Na verdade é um remédio natimorto. A jurisprudência do STF praticamente o sepultou, admitindo-o apenas em situações episódicas. Art. 5º, LXXIArt. 5º, LXXI Mandado de Injunção Mandado de Injunção (continuação)(continuação) Competência: Sistema difuso limitado (ver artigos, 102, I q; 105, I, h; 121, § 4°, V) Medida Cautelar: Inadmissível segundo a jurisprudência do STF. Espécies: Individual e coletivo. Sendo que o coletivo foi admitido pela jurisprudência do STF Observação: 20 MANDADO DE INJUNÇÃOMANDADO DE INJUNÇÃO Efeitos da DecisãoEfeitos da Decisão Posição Posição ConcretistaConcretista IndividualIndividual GeralGeral DiretaDireta ((estabeleceestabelece normanorma parapara o o casocaso concretoconcreto)) Indireta (fixa prazo de 120 dias)Indireta (fixa prazo de 120 dias) Art. 59 Posição Não-concretista (reconhecimento formal da omissão legislativa) 21 Mandado de Injunção Remédio constitucional voltado para a defesa de direito fundamental que ainda esteja carente de regulamentação (art. 5º, LXXI). Normas constitucionais de eficácia limitada institutiva que tratem de direitos e garantias fundamentais. Apenas o titular do direito fundamental carente de regulamentação. Trata-se de um “sistema difuso limitado”, estabelecido de acordo com a legitimação passiva, ex.: art. 102, I, q; art. 105, I, h. É um procedimento judicial típico de rito sumário. Conceito - Instrumento de controle abstrato, voltado para a regulamentação integral do texto constitucional (art. 103, § 2º). Objeto - Qualquer norma constitucional, originária ou derivada, de eficácia limitada institutiva. Legitimidade ativa - 103, I a IX da CR. Competência: Sistema Concentrado (STF / TJ). Concessão de medidas liminares – Admissível nos termos da Lei n° 9868/99. Natureza jurídica do procedimento - processo objetivo de controle de constitucionalidade. Ação de Inconstitucionalidade por Omissão Efeitos da Decisão: Omissão Total - Ausência de lei - “dará ciência ao Poder competente...” Omissão Parcial - Ausência de ato regulamentar - ”para fazê-lo em 30 dias”. Inter Partes. Segundo a jurisprudência do STF é inadmissível. . Idem. Legitimação passiva: A pessoa responsável pela elaboração da norma regulamentadora ausente.
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